sexta-feira, 19 de julho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Eugênio Bucci: governo fraco

"Há uma fragilidade maior do que supúnhamos no centro político do País. A presidente vinha há dois anos tentando se alicerçar na aliança com o PMDB, no próprio PT e no ex-presidente Lula. Ela teve uma entrada artificial no poder, que agora cobrou o seu preço."

Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicações e Arte (ECA/USP. In “Dilma não entendeu o 'espírito de uma época', diz Marina”, O Estado de S. Paulo, 18/7/2013

Ibope/Estadão: Dilma cai e os outros sobem

Pesquisa aponta que presidente despenca 28 pontos e disputa de 2014 fica mais competitiva

José Roberto de Toledo

Pesquisa nacional Ibope feita em parceria com o Estado entre quinta-feira e domingo passados revela um cenário bem mais competitivo da sucessão presidencial de 2014. No cenário com quatro candidatos a presidente, Dilma tem 30% das intenções de voto estimuladas, contra 22% de Marina Silva (sem partido), 13% de Aécio Neves (PSDB) e 5% de Eduardo Campos (PSB). Contra os mesmos adversários, Lula chegaria a 41%, e os adversários ficariam, respectivamente, com 18%, 12% e 3%. Por comparação, a taxa de Lula é 37% maior que a de Dilma.

Num segundo cenário, com cinco candidatos a presidente, Dilma fica com 29% das intenções de voto, contra 21% de Marina e 12% de Aécio. Os três perdem um ponto porcentual com a entrada no páreo do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. O magistrado chega a 6%, contra 5% de Eduardo Campos.

Nesse segundo cenário, trocando-se Dilma por Lula, o candidato do PT cresce dez pontos e chega a 39%. Marina cai para 17%, Aécio permanece com 12%, Barbosa fica com 6%, e Campos cai a 3%.

No único cenário estimulado que é comparável ao da pesquisa Ibope/Estadão de março, Dilma despencou. Na simulação com quatro candidatos a presidente, ele caiu de 58% para 30% de intenção de voto estimulada. Ao mesmo tempo, Marina cresceu 10 pontos: de 12% em março, para 22% em julho. Aécio ganhou 4 pontos: de 9% para 13%. Campos oscilou de 3% para 5%.

Também foi notável a expansão do voto nulo e branco. Entre março e domingo passado, a taxa dos que não votariam em nenhum dos candidatos testados dobrou de 9% para 18% - mais um reflexo do descontentamento dos eleitores com os políticos.

O crescimento de Marina e a queda de Dilma na pesquisa estimulada se explica, em parte, pela inversão das preferências dos eleitores mais ricos. Entre os que ganham mais de 10 salários mínimos, a presidente caiu de 43% para 19% das intenções de voto, enquanto Marina pulou de 18% para 44%.

Espontânea. A primeira pergunta do Ibope sobre a sucessão pediu ao eleitor que dissesse em quem ele votaria se a eleição fosse hoje, mas não apresentou opções. Nessa resposta, dita espontânea, Dilma ficou com 16% das intenções de voto, contra 12% de Lula, 5% de Aécio, 4% de Marina, 3% de Joaquim Barbosa, 3% de José Serra (PSDB), 1% de Eduardo Campos e 1% de Geraldo Alckmin (PSDB).

Outros 40% dos brasileiros não souberam dizer espontaneamente o nome de um candidato a presidente, e 13% responderam que votariam em branco ou anulariam. Demais nomes somaram 1%.

Em comparação à pesquisa feita pelo Ibope em março, Dilma perdeu mais da metade sua intenção de voto espontânea. Ela tinha 35% de citações na pesquisa anterior, contra 16% agora. A perda de eleitores coincide com a queda abrupta da popularidade da presidente após as manifestações de rua ocorridas desde junho.

Metodologia. A pesquisa Ibope/Estado foi feita entre os dias 11 e 14 de julho. Foram entrevistados 2.002 brasileiros de 16 anos ou mais de idade em 140 municípios de todas as regiões do Brasil. A margem de erro máxima é de 2 pontos porcentuais, para mais ou para menos, em um intervalo de confiança de 95%. Isso significa que se a mesma pesquisa fosse feita simultaneamente 100 vezes, em 95 delas os resultados deveriam ficar dentro da margem.



Fonte: O Estado de S. Paulo

Presidente empata com Marina no segundo turno

José Roberto de Toledo

A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (sem partido) é a maior beneficiada pela perda de popularidade da presidente Dilma Rousseff (PT) após o início da onda de protestos de rua em junho. Na simulação de segundo turno entre as duas feita pelo instituto Ibope, elas aparecem tecnicamente empatadas: a petista tem 35% contra 34% de Marina Silva. A margem de erro máxima da pesquisa é de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos.

Outros 19% dizem que, nesse cenário de segundo turno, anulariam ou votariam em branco. E os 13% restantes não souberam ou não quiseram responder. A alta taxa de branco/nulo é mais um indicativo do descontentamento do eleitor com os políticos.

Aécio. Apenas Marina consegue empatar com Dilma nas simulações de segundo turno pesquisadas pelo Ibope. No confronto dois a dois contra Aécio Neves (PSDB), a presidente leva 12 pontos de vantagem: 38% a 26%. A taxa de branco/nulo, porém, sobe de 19% para 24% nesse cenário, mostrando que parte dos eleitores que votariam em Marina preferem anular a votar no tucano.

Contra Eduardo Campos (PSB) ou contra o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, Dilma teia uma vantagem mais folgada do que contra Aécio. A presidente bateria o governador de Pernambuco por 39% a 19%, e venceria Barbosa por 40% a 22%, se a eleição fosse hoje. Esses foram os únicos cenários testados pelo Ibope como simulações de segundo turno.

Potencial de voto. A pesquisa confirma, na sondagem que mede o potencial de voto de cada candidato, que Marina é, hoje, a principal adversária de Dilma na corrida sucessória. O Ibope perguntou aos eleitores qual sua atitude em relação a cada um dos presidenciáveis: se votaria com certeza, se poderia votar, se não votaria de jeito nenhum, se não sabe ou não conhece.

Desde março, o potencial de voto de Marina cresceu de 40% para 50%. Essa é a soma dos que votariam com certeza nela (16%) com aqueles que poderiam votar (34%). Ao mesmo tempo, o potencial de Dilma caiu de 76% para 49%. Eles se equivalem, mas o voto na petista ainda é mais firme: 26% votariam nela com certeza (eram 52%), enquanto outros 23% dizem que poderiam votar.

Rejeição* O principal problema de Dilma é que sua rejeição mais do que dobrou em quatro meses. Em março, apenas 20% dos eleitores diziam que não votariam nela de jeito nenhum.

Agora essa taxa subiu para 43% e, comparativamente, é a maior entre os cinco candidatos testados pelo Ibope.

Ao mesmo tempo, o porcentual dos que dizem que não votariam em Marina caiu de 40% para 29%. Foi a única entre os quatro presidenciáveis da oposição que viu sua taxa de rejeição cair além da margem de erro.

Mesmo assim, o potencial de voto dos outros três possíveis candidatos oposicionistas também cresceu. Em março, o de Aécio chegava a 25% (7% votariam com certeza e 18% poderiam. votar). Agora, ele é de 34% (11% +.23%) .A diferença, segundo os eleitores, é que o tucano tornou-se mais conhecido.

O fenômeno se repetiu com Eduardo Campos e com Joaquim Barbosa. O potencial de voto do governador de Pernambuco aumentou de 10% para 26% (5%+21%). E o do presidente do STF praticamente dobrou, de 17% para 32% (6% + 26%). /

Fonte; O Estado de S. Paulo

Pré-candidato à Presidência, Eduardo Campos diz que não fará ‘política da pegadinha’ com o governo Dilma

Segundo governador de Pernambuco, ele vai ajudar presidente em propostas para o país

Letícia Lins

RECIFE — O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), pré-candidato à Presidência em 2014, afirmou nesta quinta-feira que seu partido se recusa a fazer “política de pegadinha” com o governo federal. Segundo Campos, ele vai continuar ajudando a presidente Dilma Rousseff nas propostas que forem as melhores para o país. O governador fez a declaração ao encerrar uma reunião com 16 deputados federais e três senadores do PSB. O encontro foi em Recife, a portas fechadas, e durou mais de três horas.

De acordo com Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, a reunião teve por objetivo discutir as estratégias e a atuação da legenda para o segundo semestre, a formação das chapas proporcionais no estado e fazer uma avaliação da política brasileira. O governador confirmou que a Fundação João Mangabeira está orientada para elaborar um documento com propostas econômicas para o país. E, segundo os políticos que participaram da reunião, Campos não se posicionou como pré-candidato à sucessão presidencial. Mas também não disse que não era candidato, o que terminou deixando-os livres para amarrar apoios.

— Cutucaram, cutucaram, mas ele amarrou o bode — disse o Deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE), que é usou uma expressão da sua região para dizer que o socialista não cedeu à pressão para confirmar a candidatura.

Mesmo assim, Gonzaga Patriota e os correligionários disseram que saíram do encontro mais à vontade para trabalhar pela pré-candidatura de Eduardo Campos.

— O governador disse que não é hora de falar em candidatura, mas de organizar o partido para fortalecer as bases. Só temos mais três meses para novas filiações, e ele nos orientou para que só falemos em eleição presidencial em 2014. Mas não adianta ele dizer que não é candidato, porque todo mundo sabe que ele é. E a gente fecha com ele. Ele não disse que era, mas também não disse que não era. Então, vamos fazer o nosso trabalho, prospectar novos nomes, apoios, sairmos em busca de coligações. Antes, éramos eu e o Beto Albuquerque (PSB-RS) que fazíamos isso. Mas agora acho que são 31 deputados e cinco senadores trabalhando no mesmo ritmo —disse Gonzaga Patriota.

Mais comedido, o senador Rodrigo Rolemberg (PSB-DF) afirmou que o PSB é hoje o mais sintonizado com os anseios das ruas, e que isso já vinha sendo observado desde 2012, quando foi o que mais cresceu proporcionalmente. Ele disse que o partido pode repetir a mesma performance em 2014, e que o sentimento unânime é que o PSB tem condição de ter candidatura própria. Ele disse que o momento é o de mostrar compromisso com o país, construir uma agenda de acordo com os interesses da população, e fortalecer o projeto político da legenda.

Ao falar com a imprensa, o governador se negou a dizer que a pré-candidatura foi discutida na reunião. Voltou a dizer que “isso é assunto para 2014”. Afirmou que a posição do partido permanece de apoio ao governo, votando a favor de ações importantes para o país. E, ao ser indagado sobre a proposta do PMDB, que é partido da base do governo, em sugerir redução de ministérios da Presidente Dilma Rousseff, ele reclamou daqueles que fazem o velho modelo de política:

— O que queremos é que o Brasil retome o crescimento. Não queremos ver 2013 perdido. Nossa aposta é que o país possa melhorar. E se a gente quer dessa maneira, não vai fazer a velha política da pegadinha, do constrangimento. Vamos fazer política com conteúdo — disse Campos, reclamando daqueles que se aproveitam do momento delicado que o governo atravessa para expor mais ainda um governo do qual é aliado.

— E tem gente que prefere expor mais ainda a fragilidade quando tem oportunidade. Há um jeito de um fazer política e um outro jeito de fazer política. Nós não precisamos desse tipo de observação para nos aproximar do que preocupa as ruas — completou.

Fonte: O Globo

Para Serra, possibilidade de deixar o PSDB é ‘especulação’

Ex-governador diz que não sabe a origem das notícias de que deixará seu partido e ingressará ou no PPS ou no PSD

Chico Siqueira

BAURU (SP) - O ex-governador José Serra (PSDB) afirmou ontem que não pretende deixar o PSDB e se disse "surpreso com as especulações sobre suposta ida para o " PPS, do ex-senador Roberto Freire"7. "Não tenho lido jornais, mas fiquei surpreso com as notícias que chegaram a mim. Não sei quem falou que estou saindo do PSDB. Não sei de onde vieram essas especulações", declarou Serra, que proferiu a palestra o desenvolvimento do País ontem à noite no Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), em Bauru.

Serra inicialmente disse que não falaria sobre política partidária, mas no fim deixou escapar que não conversou com o ex-prefeito Gilberto Kassab sobre possível aliança com o PSD. "Não conversei", afirmou. "Ainda é cedo para essas especulações, deixa para o ano que vem", completou. O ex-governador disse que está havendo uma antecipação de campanha por parte do PT por causa do momento de convulsão da sociedade, da crise econômica e da queda de popularidade da presidente Dilma Rousseff, provável candidata à reeleição em 2014.

"Acho que a antecipação da campanha eleitoral é um equívoco grave para o Brasil. Ninguém na população está preocupado com eleição, O PT antecipou, a Dilma passou dois anos perplexa com a herança que recebeu do governo do Lula e dois anos agora fazendo campanha. E a oposição também entrou nessa já querendo definir tudo, o que é um equívoco", comentou. Serra se recusou a responder sobre se seria o maior o beneficiado pela situação. "É por isso que não quero entrar nessa."

Questionado sobre a possibilidade de, uma vez no PSDB, ele vir a disputar prévia com o senador Aécio Neves, Serra se esquivou, dizendo que ainda é cedo para pensar nisso. O ex-governador não tomou conhecimento das perguntas idade de disputar o Senado ou Câmara pelo PSDB.

Infraestrutura. Serra também criticou a atual gestão petista, que, segundo ele, deixou de investir em infraestrutura. "Tirando São Paulo, que tem uma rede de estradas muito avançada em comparação com o resto do País, não há investimento em estradas desde 1997. Isso está causando problemas para o crescimento do País", afirmou. "A verdade é que falta liderança de um lado e, por outro, sobram talento, desperdício, recursos e trabalho."

Fonte: O Estado de S. Paulo

Dividido, PSB afaga Dilma em Fortaleza e reúne parlamentares no Recife

Por Murillo Camarotto

FORTALEZA - O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), reuniu ontem, no Recife, a bancada federal do seu partido para pedir intensificação das atividades políticas nos Estados visando às eleições de 2014, ano em que pretende disputar a Presidência da República. No mesmo dia, em Fortaleza, dois dos principais representantes do PSB na esfera nacional fizeram juras de fidelidade à atual ocupante do Palácio do Planalto, Dilma Rousseff.

Durante a solenidade de inauguração de duas estações do metrô de Fortaleza, Dilma ouviu muitos afagos do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra (PSB), e do governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), ambos favoráveis à manutenção da aliança com o PT.

Cid, abertamente contrário às pretensões presidenciais de Campos, disse que o Ceará nunca teve tanta atenção de um governo como no da presidente petista. "Aprendi a conhecê-la. Sei que tem bom coração e está fazendo um país mais justo", disse o governador, que precisa de PT e PMDB para garantir a eleição do seu sucessor no ano que vem.

Já o ministro da Integração, contumaz defensor da presidente, voltou à carga, ao dizer que, baixada a poeira das manifestações, "o trabalho do governo federal vai aparecer". "E a primeira mulher presidenta do Brasil vai dar conta do recado", completou ele, que sonha em ser governador de Pernambuco, mas duvida que Campos o irá indicar para o posto. Assim, prefere se garantir na Esplanada dos Ministérios.

No Recife, Campos pediu a deputados e senadores do partido que fortaleçam o trabalho nos Estados, a fim de turbinar as chapas proporcionais para as eleições. Mesmo negando ter falado abertamente em candidatura presidencial, foi com essa mensagem que os parlamentares saíram do encontro.

"Não adianta ele dizer que não é [candidato a presidente], pois a gente sabe que ele é e vai fazer o trabalho", disse o deputado federal Gonzaga Patriota (PSB-PE). "Depois dessa reunião, saímos mais fortalecidos para buscar apoios para ele, coligações para ele, partidos para ele", completou o parlamentar.

Questionado, Campos voltou a dizer que só tratará de candidatura em 2014. O pernambucano, entretanto, aproveitou para alfinetar o PMDB, ao ser perguntado sobre a proposta do principal aliado do governo federal para a redução no número de ministérios. "Pra você ver como são as coisas. Tem gente que faz essas sugestões no fórum adequado, para num momento como esse não tentar se aproveitar de uma fragilidade e expor mais ainda um governo que você ajudou a construir", disparou. "Não vamos fazer a política da pegadinha e do constrangimento", completou o governador.

Recebida em Fortaleza com protestos de médicos, indígenas e outras categorias, Dilma voltou a defender o plebiscito para definição do que chamou de "norte" da reforma política. De acordo com ela, as transformações vividas pela sociedade brasileira nos últimos anos pedem que o sistema de representação seja reformado. "O Brasil precisa adequar, atualizar e modernizar o seu sistema político", disse.

Dilma afirmou que o referendo é a forma mais eficiente de fazer a reforma ir ao encontro dos anseios populares. "É importante que se consulte a população para ter as balizas dessa reforma. Eu diria o norte dessa reforma", completou.

O governo federal, segundo a presidente, tem o dever de "canalizar e resolver" os problemas apontados pela população durante as manifestações que tomaram as ruas do país no mês passado. De acordo com ela, as manifestações atestam que "democracia exige mais democracia e os direitos sociais conquistados também exigem mais direitos sociais".

Um dia após chamar para si a responsabilidade pelo controle da inflação, a presidente rechaçou o posto de comandante da economia nacional. "Eu comando o país. A economia quem comanda é o ministro [Guido] Mantega. Eu administro o Brasil", disse ela aos jornalistas.

Fonte: Valor Econômico

Campos organiza pré-campanha com bancada

Por Caio Junqueira

BRASÍLIA - O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, reuniu deputados e senadores de seu partido ontem em Recife e deu oficialmente a largada para sua campanha presidencial em 2014.

"Ninguém saiu com dúvida de que ele será candidato. O momento de lançamento é em 2014, mas o processo de construção começa agora", disse o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), um dos presentes ao encontro.

Segundo ele, foram traçados na reunião os próximos passos da construção da candidatura. "Vamos filiar pessoas no partido, montar chapas de deputado federal e estadual, construir os palanques estaduais e fazer formulações sobre a política e a economia", afirmou, lembrando que o partido vai preparar documentos com propostas para a economia.

Também foram acertados pontos sobre o discurso que o partido deve fazer a partir de agora. "Vamos falar sobre a vida das pessoas. O principal é saúde, educação, mobilidade urbana e segurança pública. Essa é a agenda que o povo quer. Vamos ampliar a interação com a população." Rollemberg declarou que Campos "só não falou vamos colocar a campanha na rua porque não é o momento ainda de colocar a campanha na rua."

A avaliação geral dos parlamentares no encontro era de que há um vazio político que precisa ser ocupado e que Campos tem as condições ideias para ocupá-lo pois representa "mudança, realização e capacidade de diálogo".

Rollemberg disse ainda que as divergências internas quanto à candidatura Campos, manifestadas por governadores do partido no primeiro semestre, não existem mais. "Essa é a novidade. Setores do partido tinham reticências quanto à candidatura. Mas o que percebemos agora é entusiasmo. Eu não tenho dúvida de que ele será candidato."

Colocou que mesmo o governador do Ceará, Cid Gomes, e o ex-governador, Ciro Gomes, já demonstram apoio à candidatura. Isso, de acordo com ele, foi manifestado na reunião da Executiva do PSB dia 1 de julho.

O senador mencionou a fala da deputada Luiza Erundina (PSB-SP), que comoveu Campos. "Ela falou da trajetória de Miguel Arraes (avô de Campos e ex-governador de Pernambuco). Que era o momento de renovação e que ele trazia a renovação de Arraes, à esquerda, identificada com o povo. E que acabou a hora de o PSB ser coadjuvante para ser protagonista."

Fonte: Valor Econômico

BC contraria Dilma e prevê inflação alta

Inflação resistente exige juros maiores

Ata do Comitê de Política Monetária contraria o discurso da presidente da República e reforça que o custo de vida está ge de dar alivio as famílias. Diz ainda que os gastos públicos incentivam a carestia Para analistas, a taxa Selic subirá a 9% em agosto

Deco Bancillon

Apenas um dia após a presidente Dilma Rousseff ter afirmado a empresários que "ainflação Vem caindo de maneira consistente nos últimos meses", o Banco Central (BC) rebateu o discurso oficial do Palácio do Planalto e recomendou prudência com a escalada dos preços. Nas palavras dos diretores que assinam a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, mas divulgada ontem, "o nível elevado" do custo de vida e a "dispersão de aumentos de preços" contribuem para que a carestia no país ainda mostre "resistência". O comunicado, que tem como objetivo explicar o porquê de o BC ter elevado os juros básicos de 8% para 8,5% ao ano, foi elogiado pelo mercado, que viu uma mudança importante na postura da instituição, até então apontada como leniente em relação à carestia que atormenta as famílias.

Dilma havia feito um discurso acalorado, em que, além de atacar o que chamou de pessimismo dos que criticam o governo, defendeu veementemente os resultados de sua equipe econômica, entre os quais o controle da inflação e o maior rigor fiscal. Para o Copom, em vez de prudência com os gastos públicos, "iniciativas recentes apontam o balanço do setor público em posição expansio-nista". Trocando em miúdos: o governo está gastando demais quando, na verdade, deveria poupar recursos para deixar de pressionar o custo de vida.

Para o BC, é importante que o Ministério da Fazenda ponha freio ao excesso de despesas, e justifica o alerta ao mencionar que "a geração de superavits primários, além de contribuir para arrefecer o descompasso entre as taxas de crescimento da demanda e da oferta, solidifica a tendência de redução da dívida pública e a percepção positiva sobre o ambiente macroeconômico no médio e no longo prazo" Muito do pessimismo que o Planalto critica vem dos truques fiscais que encobriram a má qualidade dos gastos públicos.

Com isso, o BC disse que o aumento de juros iniciado em abril não será suficiente para domar o dragão da inflação se a Fazenda não fizer a sua parte e estancar a gastança e cumprir plenamente a meta de economizar 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) para saldar juros da dívida. O Copom alega que já tem problemas demais diante da disparada dos preços do dólar, valorização que pode ser repassada aos consumidores. A subida e a volatilidade do dólar, no entender da autoridade monetária, constituem "fonte de pressão inflacionária em prazos mais curtos" e os efeitos prolongados desses movimentos "podem e devem ser limitados pela adequada condução da política monetária" Ou seja, mais juros.

A previsão dos especialistas é de que a Selic suba mais 0,5 ponto percentual no fim de agosto, para 9%. Diante da fragilidade da atividade, há um grupo, ainda pequeno, vendo nesse patamar o fim do ciclo do aperto monetário. Os mais radicais acreditam que a taxa pode ir a 10%, por causa da resistência da inflação em se manter próxima ao teto da meta, de 6,5%.

O tom duro do comunicado mostra que, apesar da euforia presidencial com números recentes que apontam a desaceleração da inflação a curto prazo, o comportamento dos preços ainda enseja cuidados. Neste ano, mesmo com todos os esforços do governo para reduzir impostos sobre a conta de luz e alimentos e segurar os reajustes dos transportes públicos, o índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve acumular alta de 6%, segundo o BC. Para 2014, quando Dilma tentará a reeleição pelo PT, o mercado projeta uma taxa de 5,90%.

Chamou a atenção dos economistas o fato de o BC ter retirado da ata do Copom a menção que fazia ao que chamava de "taxa neutra" de juros, o patamar de juros natural de uma economia. Para Ilan Gol-dfajn e Caio Megale, do Itaú Unibanco, isso pode revelar que a autoridade monetária já acredita que o tempo de juros baixos no Brasil ficou para trás. "Ao fazer isso, o Copom pode estar sinalizando que os juros devem se acomodar em níveis mais altos para frente", mencionaram, em análise a clientes.

Fonte: Correio Braziliense

Macunaíma em ação - Lula descarta concorrer em 2014 e diz ter candidata extraordinária

Em nova pesquisa, ex-presidente é mais competitivo que Dilma

Marcos Alves

SÃO PAULO - No momento em que as pesquisas apontam queda na aprovação ao atual governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva descartou ontem qualquer possibilidade de disputar as eleições presidenciais em 2014 no lugar da presidente Dilma Rousseff. Em palestra, o líder petista elogiou a sua sucessora e a considerou uma "extraordinária candidata". O mau desempenho da presidente nas intenções de voto tem fortalecido tanto no PT como no PMDB o clima de "volta, Lula". Ontem, pesquisa Ibope, divulgada pelo site do jornal "O Estado de S.Paulo", apontou queda de 28 pontos na popularidade da presidente e mostrou o seu antecessor como uma opção mais competitiva.

- As pessoas sabem que não adianta bater na porta. Eu acho que a companheira Dilma Rousseff é uma extraordinária presidenta, é uma extraordinária candidata. Eu dizia, quando era presidente, que tem de se julgar um governo pelos seus quatro anos de mandato. Eu tenho certeza de que ela tem feito tudo o que prometeu fazer e fará muito mais - afirmou, em palestra na Universidade Federal do ABC.

A pesquisa mostrou que as intenções de voto de Dilma caíram de 58% para 30%. No mesmo cenário de disputa, Lula alcançaria 41%. A presidente foi a única a perder intenção de voto: Marina Silva (Rede) passou de 12% para 22%, Aécio Neves (PSDB) foi de 9% para 13%, e Eduardo Campos (PSB) variou de 3% para 5%. Os votos brancos e nulos foram de 9% para 18%. Foram entrevistados 2.002 brasileiros, e a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais.

Em sua primeira aparição pública no Brasil após os protestos de rua, o líder petista defendeu a realização de um plebiscito para a reforma política. Lula pregou a permanência do mandato de quatro anos com direito a reeleição e ironizou proposta do senador Aécio Neves (PSDB-MG) de fim da reeleição:

- É muito engraçado, pois não tínhamos reeleição. Com medo de mim, até reduziram o mandato para quatro anos. Depois, ganharam e aprovaram a reeleição. Agora, eles querem acabar com medo de a Dilma se reeleger?

O petista admitiu que os protestos pegaram todos de surpresa pela capacidade de mobilização dos brasileiros. Ele criticou, contudo, o discurso de negação da participação de partidos políticos por parte de alguns manifestantes. Aos jovens que assistiam à palestra, recomendou que, em vez de negar os partidos, entrem na política para modificar o que criticam. Aos políticos, sugeriu que vivam os protestos, e defendeu que, de "protesto em protesto, a gente vai consertando o telhado".

- Mesmo quando vocês estiverem putos da vida, mas putos de verdade, "Não gosto do Lula", "Não gosto da Dilma", não neguem a política - afirmou.
Lula voltou a criticar os seus antecessores no Palácio do Planalto e negou que tenha sido beneficiado em sua gestão por uma "maré favorável" no âmbito internacional. Sem citar nomes, disse que os últimos governantes tinham "complexo de vira-lata". No decorrer da palestra, contudo, referiu-se ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

- Se você vir a imprensa em 1998, você vê muita coisa de disputa: quem era mais amigo do Bill Clinton, Fernando Henrique ou Carlos Menem? Quem era mais amigo do Banco Central Americano, o Domingo Cavallo ou o Pedro Malan? É aquela coisa de gente pobre de espírito. Ou seja, quem era o serviçal mais importante.

O ex-presidente chamou de "vandalismo na internet" os boatos de que o câncer na laringe teria voltado ou que seu filho tenha virado presidente de uma das maiores empresas brasileiras de carne. E justificou, com humor, suas viagens ao exterior.

- Eu viajar é um jeito de não encher o saco da presidenta Dilma Rousseff. É um jeito de não ficar dando palpite.

Fonte: O Globo

Manobra contábil fere a reputação da Petrobras - Roberto Freire

Em um cenário de estagnação econômica e desconfiança dos investidores quanto à retomada do crescimento, o governo brasileiro vem se esmerando na técnica da "contabilidade criativa" para fechar suas contas. Em 2012, a meta de superávit primário só foi alcançada porque as autoridades abateram da meta fiscal R$ 39,3 bilhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), além de antecipar o recebimento de dividendos de estatais e do BNDES e utilizar recursos do Fundo Soberano do Brasil (FSB) que deveriam servirpara emergências em épocas de crise.

Ao todo, foram mais de R$ 40 bilhões só em artifícios contábeis.

A mesma estratégia vem sendo adotada pela Petrobras, que promoveu alterações na forma de contabilizar sua dívida exposta à variação cambial para melhorar o resultado do segundo trimestre deste ano. A estatal tirou do balanço deste período os efeitos da variação do dólar, o que deve representar um ganho de R$ 7 bilhões, além de reduzir sua exposição ao câmbio em cerca de R$ 70 bilhões e aumentar a distribuição de dividendos aos acionistas, dos quais o principal é a União.

A contabilidade criativa compromete a reputação da Petrobras e afasta ainda mais os investidores, sobretudo em um ambiente de incertezas cada vez maiores sobre o desempenho da economia brasileira. Como se não bastasse tamanha irresponsabilidade, tal artifício desmoraliza as instituições da República e causa uma crise de confiança, além de representar um autoengano do governo que, na verdade, leva ao engano generalizado e prejudica toda a população brasileira.

A dilapidação da Petrobras se acentuou a partir da gestão temerária de seu ex-presidente, o petista José Sérgio Gabrielli, que contou com o apoio do governo Lula para transformar a empresa em um reduto dos interesses políticos mais rasteiros. A companhia perdeu 40% do valor de mercado entre 2010 e 2013, caindo da segunda para a quarta posição na lista das maiores empresas de gás e petróleo das Américas. O lucro líquido da Petrobras em 2012 caiu 36% em relação ao ano anterior, o pior resultado desde 2004. Na Bolsa de Valores, a estatal perdeu US$ 32 bilhões em valor de mercado.

O malabarismo fiscal, cujo mentor seria o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, também foi adotado em outras áreas do governo, como na transferência para instituições financeiras estatais de bilhões arrecadados no lançamento de títulos do Tesouro, que retornam na forma de pagamentos de "dividendos" para maquiar o superávit primário. No ano passado, o BNDES teve um lucro de R$ 8,1 bilhões e remeteu R$ 12,9 bilhões em dividendos. O mesmo aconteceu com a Caixa Econômica Federal, com R$6,4 bilhões lucrados para dividendos de R$ 7,7 bilhões. Mas o preço pago pelas instituições é elevado: segundo o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas, o BNDES perdeu 38% de seu patrimônio entre março de 2011 e março de 2012.

Acostumado à falácia da propaganda, que nos últimos dez anos vendeu uma realidade fantasiosa da economia brasileira, o governo distorce dados fiscais para sustentar seu castelo de areia. Se o PT não se preocupa mais com a própria reputação, que ao menos tenha dignidade para preservar a credibilidade das estatais e do país.

Roberto Freire, deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fonte: Brasil Econômico

Nosso não futuro comum - Fernando Gabeira

Quando os acontecimentos de junho sacudiram o Brasil, eu estava iniciando um texto com o objetivo de sintetizar três dias de um seminário realizado pelo PPS em Brasília: A Esquerda Democrática Pensa o Brasil. Suspendi momentaneamente esse texto. Era preciso examinar com calma quais ideias sobreviveram àqueles eventos no País.

Nesse ínterim, chegou às minhas mãos o pequeno livro de T. J. Clark Por uma Esquerda sem Futuro. É um texto voltado para a esquerda europeia. No prefácio para a edição brasileira, o ensaísta britânico menciona o governo Lula, mas elegantemente se esquiva de entrar em detalhes ou submeter nossa situação ao crivo de seus argumentos.

Uma de suas ideias, entre várias outras, me pareceu muito interessante para estimular o texto em preparação sintetizando o seminário. É precisamente a ideia central: uma esquerda sem futuro. T. J. Clark não se refere a ela como força em via de desaparecer. O "sem futuro" significa abrir mão de ter um script para a História, de prometer amanhãs que cantam paraísos na Terra e mergulhar no presente, aceitando até mesmo quem não tem pretensões de encarnar uma vanguarda.

O objetivo deveria ser apenas reunir material para uma sociedade, expressão que Clark utiliza para contrapor a uma frase de Friedrich Nietzsche em que o filósofo alemão afirma que perdemos as condições de matéria-prima para uma sociedade. Clark, certamente, não autorizaria algumas das relações de suas teses com o Brasil. Mas o que fazer? Leitores são imprevisíveis.

Quando reforça a ideia de um mergulho no presente, Clark afirma que a esquerda deve deixar de ser épica. Imediatamente me veio à cabeça o bordão "nunca antes nesse país...". Nada mais épico do que supor o início de uma nova fase histórica, o que, no fundo, significa afirmar que o futuro radiante já começou. Pelo menos essa dose de humildade deveria estar presente nas teses de uma esquerda democrática pensando o Brasil.

O mês de junho envelheceu rapidamente os partidos, co- ) mo se as câmeras os fotografassem usando o efeito sépia para transmitir a atmosfera de passado que os envolve. Mas esse é apenas um dos grandes problemas com que se defronta uma esquerda democrática, que defino, de forma super abreviada, como uma força que se recusa a aceitar a tese de que os fins justificam os meios.

O longo domínio do PT e seus aliados entrou em crise profunda quando a fantasia de um mundo quase perfeito caiu por terra. Abriu-se com a queda da grande ilusão a possibilidade de buscar uma alternativa de poder em 2014, e não mais em 2018, como sugeria o andar da carruagem.

Em 2014, possivelmente o País ainda viverá os efeitos de uma crise provocada, de um lado, pelas dificuldades internacionais e, de outro, pelas conclusões errôneas que o PT extraiu dela. Não me refiro apenas ao dínamo quase exclusivo do consumo, mas também à suposição de que os fracassos do mercado só seriam recompensados por uma revitalização da presença do Estado na economia.

Como consequência, um novo governo no Brasil teria de enfrentar simultaneamente políticas de austeridade, uma sociedade cada vez mais consciente de seus direitos e, é claro, o PT na oposição. A margem de manobra visível é enxugar a máquina estatal, racionalizá-la, liberando com isso recursos vitais para investir nos serviços públicos.

A entrada do governo no mundo digital poderia contribuir para o enxugamento da máquina. Mas ela oferece mais que isso: a possibilidade de se conectar com a sociedade, enriquecer com a inteligência coletiva.

Destaco ainda uma terceira dimensão, mais rigorosa, do mergulho no presente: lidar com sua volatilidade. Zigmunt Bauman usa uma imagem interessante em seu livro Sobre Educação e Juventude. Diz o sociólogo polonês que nos dias de hoje estão ultrapassados os mísseis que apontavam para um alvo, calculavam a trajetória, o volume de pólvora e seguiam o rumo preconcebido. Nos tempos atuais, os mísseis são inteligentes e capazes de mudar sua rota diante de alvos em constante movimento.

Para ficar nos exemplos bélicos, é difícil entrar nessa guerra com uma pesada armadura ideológica. A política externa do PT, por exemplo, foi equivocada não apenas por substituir a visão nacional pela partidária, mas também porque a visão partidária era mais estreita.

Foi correto investir na integração latino-americana. Compreensível, pelo viés ideológico, um entusiasmo inicial com a o bolivarianismo. No entanto, atrelar o Brasil a esse pedaço do mundo e perder inúmeras oportunidades de acordos e intercâmbio com grandes centros científicos e tecnológicos não foi inteligente, no sentido de que o míssil seguiu apontando para um alvo que não estava mais ali.

O Brasil assinou somente três acordos bilaterais: com a Palestina, Israel e o Egito. Enquanto isso, o mundo fervilhava de novos acordos, mais de 500, segundo o embaixador Rubens Barbosa.

Um novo governo terá, portanto, de lidar com a crise econômica e com o atraso na política externa, num universo político em desintegração. Eleições costumam ser uma dose de legitimidade. Mas até que ponto a distância que se criou entre o mundo político e sociedade pode ser reduzida em tão pouco tempo?

Na Espanha, o movimento dos "indignados" ampliou o número de votos em branco e nulos. Nesse caso, as eleições aprofundaram a crise de legitimidade.

Voltarei muitas vezes ao tema. É que tinha escrito um artigo sobre Sérgio Cabral. O artigo começava assim: Não deveria escrever sobre Sérgio Cabral. Meu caro editor me ligou e disse: "Gostei muito da primeira frase de seu artigo". Respondi: eu também, pode deixar que envio outro ainda hoje.

Junho envelheceu os partidos, mas esse é só um dos problemas da esquerda democrática.

Jornalista

Fonte: O Estado de S. Paulo

O fascismo no Rio de Janeiro e a visita do Papa – Alberto Goldman

Minha absoluta solidariedade com o povo do Rio de Janeiro face à violência que vem sofrendo por parte de alguns grupos de marginais encapuzados que se infiltram e se aproveitam das justas manifestações populares que vêm abalando o país. Esses bandidos, organizados, orientados e agindo conscientemente, ainda não se sabe, com certeza, por quê e por quem, nesta última madrugada exibiram na cidade do Rio de Janeiro o seu caráter fascista atacando os pol
iciais sem terem sido provocados e destruindo o patrimônio público e privado.

O governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, vem sendo o alvo preferido dos transgressores da lei. Nesse sentido, como figura institucional, democraticamente eleito, ele merece o nosso respeito. Não há nada que justifique ações criminosas que não se submetam ao estado de direito democrático.

Ao mesmo tempo não podemos deixar de ressaltar a incapacidade do governo do Estado para enfrentar a situação. Até se compreende que é um fato novo a dimensão e a força das manifestações, em particular no Rio de Janeiro. Mas não se justifica não ter ainda o aparelho policial um trabalho de investigação que pudesse identificar e prender os responsáveis, que são minoria, pelas ações violentas. Muito menos é aceitável a justificativa pela inação policial a recente declaração dos governantes de que a necessária ação repressiva está limitada pelo acerto, um acordo, que o governo estadual fez com ONGs, em especial com instituições de defesa dos direitos humanos. Não é justificável que o Estado, representado pelo governo eleito pelo voto popular, abra mão de sua responsabilidade na manutenção da segurança de pessoas e de coisas. Ouvir tais entidades, sim, mas fazer acordos com elas como se tivessem delegação do povo para tanto, isso não!

Os episódios do Rio de Janeiro são graves e podem se reproduzir durante a visita do Papa. Aliás, em relação à essa, é risível a declaração do Secretário Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que o Papa não precisava de proteção, estava protegido por todo povo brasileiro... Olhem só o risco, se a segurança do Papa estiver dependendo dessa gente.

Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB, foi governador de S. Paulo

Causas e causos - Marina Silva

Gosto de conversar com pensadores do Brasil e do mundo contemporâneo, como na roda de conversa desta semana, promovida pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade, ou no contato com o filósofo Renato Janine Ribeiro, que ele relatou esses dias. Alguém pode supor um mero objetivo eleitoral. É muito mais: o diálogo sempre será tão essencial quanto o ar e o alimento.

Ora, direis, ouvir filósofos, por certo não queres capitalizar o clamor das ruas, os resultados das pesquisas, as possibilidades do marketing. Mas insisto na ideia de que a política não deve ser reduzida ao cálculo de perdas e ganhos.

Senão, vejamos. Na pressa de escapar à rejeição das ruas, o governo anunciou pactos, constituinte e plebiscito, em nervosa gesticulação que o Congresso já tratou de acalmar. Tudo resulta numa minirreforma feita para garantir o monopólio dos partidos, a manutenção de antigos esquemas e um "centrão" dominante há décadas, seja qual for o governo.

O que sobra em pragmatismo, falta em compreensão das causas profundas, da necessidade de democratizar a democracia com a participação direta e os aplicativos das novas tecnologias. Despreza-se boas propostas, como as listas independentes, por falta de reflexão sobre o sentido da ação política na civilização em crise.

Tivessem ouvido os pensadores, suportariam o rumor das ruas sem a ansiedade de abafar um possível grito das urnas.

Que ouvissem, então, o povo, que é filosófico por natureza e tem sabedoria no humor. A minirreforma me lembra um saboroso causo nordestino que meu pai costumava contar.

Havia um pregador que disfarçava seu despreparo teológico com o que chamaremos de exageros para evitar a palavra mentira, que o povo do vilarejo usava para justificar seu afastamento da congregação. Vendo a perda de fiéis, o pregador achou um meio de se controlar: amarrou-se num barbante que um auxiliar, oculto, puxaria quando ele se excedesse.

Assim preparado, foi pregar na Sexta-Feira Santa e narrou o episódio da prisão de Jesus, em que Pedro corta a orelha do soldado romano. Disse que o apóstolo usou uma espada de doze metros. Sentindo a sacudida do ajudante, reduziu: digamos, irmãos, que a espada tivesse seis metros. E eis que longe da vista de todos, o ajudante é atacado por um credor, exigindo a quitação de uma dívida. Discutem e trocam socos. Quando consegue livrar-se, o ajudante vê que mantivera o barbante na mão durante a refrega. Corre para o salão, onde o pregador, ajoelhado, jurava pelos cravos da Paixão que a tal espada não passava de um canivetezinho.

Se os chefes da República ouvissem a sabedoria popular, fariam uma reforma do tamanho do Brasil. Ou, pelo menos, entregariam o barbante de seu comando político a auxiliares menos endividados.

Marina Silva, ex-senadora, foi ministra do meio ambiente

Fonte: Folha de S. Paulo

Baderna não é democracia - Merval Pereira

Se o governador do Rio, Sérgio Cabral, leva até seu cachorrinho de helicóptero para o fim de semana em Mangaratiba e pretende continuar agindo assim, sem noção de que sua ostentação é ofensiva aos cidadãos do estado que governa, merece ser duramente criticado.

Os protestos podem até mesmo sitiá-lo no palácio onde despacha, e é discutível se sua residência privada deve ser ponto de protestos, perturbando a paz da vizinhança. O melhor mesmo talvez fosse que se mudasse para o Palácio das Laranjeiras, mas essa é outra discussão.

Mesmo que infiltrados nas manifestações existam agentes de seus concorrentes oposicionistas, como ele acusa, os protestos só encontram eco porque o governador tornou-se, por seus hábitos e gestos, um mau exemplo de homem público, mesmo que seja um bom administrador. Os inegáveis avanços na política de segurança pública, a melhoria econômica do estado, tudo é louvável, mas nada disso dá permissão ao governador de abusar de seus poderes transitórios.

Mas o que aconteceu ontem nas ruas do Leblon e de Ipanema é inaceitável em uma democracia, e não porque sejam os bairros mais ricos da cidade, mas porque vandalismo e depredação não são métodos de quem luta pela melhoria de vida das populações, mas de bandidos que devem ser repudiados pela sociedade e presos.

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, revelou que fizera um acordo com a Ordem dos Advogados do Brasil e algumas instituições ligadas aos direitos humanos, como a Anistia Internacional, para não usar gás lacrimogêneo nem bombas de efeito moral, e o que se viu foram horas e horas de vandalismo nas principais ruas do bairro, mostradas tanto pela Globo News quanto pela Mídia Ninja, sem que nenhum policial aparecesse.

Só os arredores da residência do governador estavam fortemente policiados. Isso não acontece em parte alguma do mundo civilizado. O que a OAB tem a dizer, ela que se propôs a intermediar uma trégua? A impressão é que não se tem nem governo nem polícia nem lideranças capazes de combater a ação dos grupos de vândalos, perfeitamente identificáveis pelo Facebook.

Se os policiais não têm treinamento suficiente para enfrentar essas turbas sem cometer excessos, estamos mal parados. Se, por outro lado, ficam paralisados diante das acusações de abuso de força, estamos, nós os cidadãos, também em maus lençóis. Se, como adeptos de teorias da conspiração divulgam pela internet, a polícia do Rio de Janeiro deixou de atuar para justificar atitudes mais violentas em futuras manifestações, contando com a rejeição da população à baderna que tomou conta das ruas, estamos no pior dos mundos.

O desolamento que causava ontem ver o asfalto queimado, as lojas arrebentadas, bancas de jornal depredadas pelas ruas do Leblon só é comparável à revolta que dá ler as trocas de mensagens de pessoas que defendem abertamente no Facebook a depredação de bancos e prédios públicos como método de ação política.

Houve até quem tentasse pateticamente justificar os saques à loja da Toulon no Leblon dizendo que se tratava de uma loja para ricos, que tinha lucros com o trabalho escravo. Outro garantia que o produto dos saques foi distribuído entre moradores de rua das redondezas, querendo dar uma pátina de justiça social ao ato de puro banditismo.

O que aconteceu no Rio ontem já havia acontecido, em menor escala, na semana anterior e nas manifestações de junho em diversas cidades do país.

O ataque ao prédio do Itamaraty em Brasília, com coquetéis molotov provocando incêndios em seu interior, deveria ter representado uma linha simbólica da transgressão, a partir da qual as manifestações deixam de ser legítimas expressões de uma democracia vigorosa para passarem a ser sintomas de um país desgovernado, sem capacidade de distinguir a diferença entre Estado de Direito e baderna.

Fonte: O Globo

Joio do trigo - Dora Kramer

O resultado da reunião da cúpula da segurança pública do Rio de Janeiro, com as autoridades praticamente dizendo que não sabem como lidar com multidões em estado de insatisfação, retratou o despreparo dos governos em geral diante de uma situação que não pode ser considerada nova mais de um mês depois de iniciada,

O do Rio em particular, pois o governador Sérgio Cabral Filho sustentou-se durante muito tempo no êxito das ações do secretário José Mariano Beltrame na retomada de territórios ocupados pelo tráfico de drogas e algum alívio no clima de insegurança.

Trincado esse pilar, afloraram os problemas acumulados no lado B da administração Cabral (guardanapos na cabeça, voo das babás, brigas com bombeiros, médicos e professores, relações estreitas com a construtora Delta) que, assim, entrou em modo de agonia.

Ele é, de longe, o chefe de executivo estadual que perdeu e continua perdendo mais. Não quer dizer que algum outro esteja ganhando esse jogo. Muito menos o federal No lugar de perder tempo falando em plebiscito que ninguém pediu, poderia chamar os governadores para discutir a sério o problema.

Fato é que não dá mais para se olhar com condescendência o vandalismo que toma conta das manifestações de rua e criminalizar a ação da polícia. Ressalte-se a natureza pacífica dos protestos contra o descaso do poder público, mas não se ignore o caráter belicoso das arruaças que já não podem ser atribuídas a um "pequeno grupo de vândalos".

Uma termina desqualificando a outra. As depredações geram repulsa e medo na população que vê a expressão de suas demandas degenerarem em arrastões de violência. Isso é crime comum e como tal precisa ser combatido. O uso legítimo da força é prerrogativa do Estado e, quando dirigido dentro da lei a quem promove a desordem, não pode ser visto com desaprovação.

Já passou da hora de governantes federais, estaduais e municipais encontrarem uma maneira eficaz de conter a ação da bandidagem sem ferir o direito do público que expressa seu descontentamento dentro das balizas da ordem.

É complicado lidar com o inusitado misturado ao imponderável, mas cabe ao Estado distinguir as coisas e atuar para reprimir os bandidos a fim de assegurar o sagrado direito ao protesto dos manifestantes.

De outro modo, a continuar assim, o cidadão que exige tratamento decente acabará acuado e temeroso. O risco é de as manifestações perderem respaldo da sociedade. Por muito menos, o uso de métodos violentos levou o MST a perder o apoio social de que dispunha nos idos dos anos 90.

O dado concreto é que o arrefecimento da energia positiva que emergiu no Brasil em junho interessa primordialmente aos que são os alvos das demandas. Para eles, quanto mais cedo as mas voltarem para casa melhor, menos respostas precisarão dar.

Mal contado. A presidente Dilma Rousseff voltou a insistir na tese de que os protestos de rua são consequência do sucesso dos projetos de governo no PT. "Quando promovemos a ascensão social, sabíamos que isso era só o começo das exigências", disse ela na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, outra estrutura que só tem tamanho e eficácia zero.

Tal raciocínio não para em pé. Se o governo sabia que as demandas viriam e tem perfeita noção de quais são, por que não agiu antes de modo a atendê-las? Portanto, ou não é verdade que percebeu que o País estava despreparado para absorver as mudanças na sociedade ou percebeu, mas achou mais confortável confiar na passividade coletiva e na mítica da popularidade sustentada em propaganda enganosa.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Não descobriu o Brasil - Eliane Cantanhêde

Sérgio Cabral era uma estrela. Jovem, bonachão, do PMDB, governador de um dos três principais Estados, irmão camarada de Serra, amigo de Lula, aliado de Dilma. Benquisto no Congresso, bem relacionado no mundo empresarial.

Saudado como possível candidato a vice-presidente de petistas, tucanos, gregos e troianos, sonhava com o dia em que o PMDB cansasse de ficar a reboque e decidisse ter candidato próprio à Presidência.

A implosão começou em junho de 2011, quando um helicóptero caiu a caminho de Trancoso, na Bahia, matando a namorada do filho de Cabral e a mulher do badalado Fernando Cavendish, da Delta. Da tragédia pessoal, emergiu a tragédia política.

A prisão de Carlinhos Cachoeira expôs ligações perigosas dele com a Delta e as relações de Cabral-Cavendish coincidiam com as relações Delta-governo do Rio. Tudo ficou embolado, ou mal explicado.

Com a crueldade dos adversários políticos, Anthony Garotinho lançou a logomarca das agruras do governador: a foto de Cabral, Cavendish e secretários do Rio com guardanapos brancos na cabeça, na maior farra em Paris. Pegou Cabral de jeito, já bambo no meio do escândalo Delta.

Vieram os protestos e o Datafolha captou o estrago: a popularidade do governador despencou 30 pontos. Pior: os manifestantes voltaram para casa no resto do país, mas acamparam no prédio de Cabral no Leblon.

Jogado na vala comum dos políticos e alvo direto das manifestações, Cabral já não consegue entrar e sair da própria casa, está à beira de ser enxotado pelos vizinhos e se debate para sobreviver na política e fazer do vice Pezão seu sucessor.

Por paradoxal que seja, a violência dos vândalos contra o governador, contra lojas e contra tudo pode servir como tábua de salvação de Sérgio Cabral. Nada melhor para políticos em apuros do que sair da condição de "réu" e passar à de vítima.

Quem quis aniquilar Cabral de vez pode estar conseguindo o contrário.

Fonte: Folha de S. Paulo

Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo

Manifestações// A Secretaria Extraordmária de Grandes Eventos, do Ministério da Justiça, está monitorando as redes sociais para identificar manifestações durante a Jornada Mundial da Juventude f Mil entre os dias 23 e 28 de julho. Usará as informações para garantir a segurança do papa Francisco e impedir a ação de vândalos.

Confronto aberto
Com o Congresso em recesso, o Palácio do Planalto resolveu confrontar o seu aliado principal, o PMDB, cuja rebelião não intimidou a presidente Dilma Rousseff. Ontem, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, cuja substituição é pedida por nove entre 10 integrantes da base, foi para cima do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que vem defendendo o "enxugamento" da equipe governamental, com a redução de 39 para 25 ministérios.
» » »
Ideli criticou o recesso branco decretado pelo peemedebista, sem que o Congresso tenha aprovado a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO): "É uma pena que o Congresso não tenha votado, como a Constituição estabelece, antes de tirar recesso", disse. Enquanto a LDO não for avalisada, o Orçamento é executado com base nas diretrizes do ano passado.
» » »
Ideli deu as declarações de mando e está prestigiada pela presidente Dilma. Esse tipo de queda de braços com o presidente da Câmara, terceiro na linha de sucessão presidencial, não tem a menor chance de render uma coisa boa.

Ministros
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (foto), do PMDB-RN, joga com a experiência de velha raposa política. De 12 a 15 ministros devem deixar os cargos para disputar as eleições de 2014. Em circunstâncias normais, seriam substituídos por secretários executivos, em meados de fevereiro. Com a antecipação da reforma ministerial para setembro, como propõe o PMDB, não há como excluir os partidos da base da recomposição política do governo. O PMDB queixa-se de que tem ministros, mas quem controla os respectivos ministérios é o PT.

Tribunais
A Associação dos Juizes Federais do Brasil — Ajufe, entidade de classe em âmbito nacional da magistratura federal, criticou a decisão liminar do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa (foto), concedida na Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 5017, que suspendeu os efeitos da Emenda Constitucional (EC) n° 73, de 2013, que prevê a criação de quatro tribunais regionais federais.

Orçamento
Para forçar a reforma ministerial, o PMDB está disposto a mudar as regras para apreciação dos vetos presidenciais e aprovar o orçamento impositivo (que obrigaria o governo a executar as emendas parlçamentares ao Orçamento da União). A não aprovação da LDO antes do recesso foi um recado para o Palácio do Planalto de que o caldo pode entornar, mas parece que a presidente Dilma Rousseff resolveu pagar para ver. Esse é o sentido das declarações de Ideli Salvatti.

Sem surpresa
O vice-presidente do Congresso, deputado André Vargas (PT-PR), classificou de "absolutista" e "um grande equívoco" a suspensão da criação dos quatro tribunais federais regionais pelo presidente do STF. O parlamentar revelou, porém, que não ficou surpreso. O ministro Joaquim Barbosa sempre mostrou-se contrário à medida "Espero que o plenário revogue essa decisão", disse Vargas, um dos principais defensores da emenda. Um dos tribunais é previsto para ser em Curtiba, no Paraná.

Segurança
A segurança dos jovens que participarão da Jornada Mundial da Juventude durante o encontro com o papa Francisco será garantida pelo Exército, a Marinha e a Aeronáutica. Dos 10,2 mil homens das Forças Armadas que participarão do esquema, atuarão no Campus Fidei em Santa Cruz, 7 mil soldados e oficiais.

Palmares
O governador Jaques Wagner e a ministra da Cultura, Marta Suplicy, assinaram ontem, com a Fundação Cultural Palmares e a Universidade Federal do Recôncavo Baiano, um convênio que permitirá todo o mapeamento de manifestações artísticas e culturais afrobrasileiras da região Nordeste. Marta visitou ainda o Museu Nacional de Cultura Afrobrasileira—Muncab, que poderá passar para a i administração do Ministério da Cultura.

Candidata/ A deputada Fátima Bezerra (PT- RN) rebateu as críticas do senador José Agripino (DEM-RN), que disse precisar a presidente Dilma Rousseff "despir-se da postura de candidata à reeleição". Segundo ela, o presidente do DEM "expõe um desejo de ver Dilma fora da disputa de 2014".

Recesso/ Em "recesso branco", ou seja, sem votações em plenário, a Câmara e o Senado somente voltarão a funcionar no dia 6 de agosto. O recomeço do período legislativo seria no dia Io agosto, mas cairá em uma quinta-feira, quando normalmente os parlamentares se mandam de Brasília.

Vai pro sal/ Por causa do recesso do Congresso, a medida provisória que desonera a cesta básica e reduz as tarifas de energia perderá a sua validade.

Fonte: Correio Braziliense

A política sem teleprompter - Maria Cristina Fernandes

Barra do Choça, município de 35 mil habitantes no sul da Bahia (BA), entrou no radar das revoltas de junho. Rota alternativa aos protestos que bloquearam a BR 116, a cidade não escapou de seus próprios manifestantes que saíram às ruas com cartolinas pedindo tudo, até hospitais e escolas decentes.

Na semana passada, o prefeito da cidade, Oberdam Dias (PP), estava na plateia que ouviu Dilma encerrar a marcha da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) em Brasília. Ao final do encontro, o prefeito pinçou, numa frase, o que muita tinta e papel não têm sido capazes de resumir: "A presidente tinha um presente e não soube entregar".

A marcha pedia o aumento no repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) em um ponto percentual. O fundo é formado por 23,5% de toda a receita de IR e IPI.

Cabos eleitorais de 2014, prefeitos aderem aos protestos

Ao discursar, Dilma anunciou seu pacote de bondades que, somadas, ultrapassam o valor demandado pelos prefeitos. A presidente ainda não tinha concluído sua fala quando ouviu um grito no fundo da plateia: "FPM". Continuou a falar e o prefeito do fundão, a gritar e ganhar adeptos.

Foi nessa hora que Dilma, com o cenho, além da cintura, imóvel, disse que não havia milagres na gestão pública. A vaia só aumentou.

O evento é um retrato do momento em que vive a presidente. Dilma passou os últimos meses anunciando agrados no varejo e não foi capaz de angariar simpatia entre os agraciados, do plantador de soja ao fabricante de tanquinhos. Pelas multidões que foram às ruas, tampouco conseguiu agradar quem teve o consumo barateado pelas medidas.

Em benefício de produtores e consumidores desonerou impostos que compõem os repasses municipais e enfureceu os prefeitos.

Agora a farra das desonerações parece ter chegado ao fim. Mas, ao concluir que não há mais como abrir mão de receita, é a outra ponta, dos que perderam com as desonerações, que custa a se satisfazer. Daí que tenha chegado a hora da política. O encontro dos prefeitos foi uma aula. Faltam 15 meses para os exames finais.

Tivesse cedido no ponto percentual a mais que a marcha pedia, Dilma precisaria mandar emenda constitucional. O dinheiro só pingaria no outro governo que, a esta altura, não se sabe se será dela.

Os R$ 3 bilhões que anunciou é dinheiro no caixa das prefeituras, sem as retenções que normalmente incidem sobre o FPM. Tivesse explicado tudo isso, talvez revertesse a plateia em seu favor. Paulo Ziulkoski, presidente da CNM, tentou fazê-lo, mas, àquela altura, o ambiente já estava contaminado. Como quem dá bronca em filho, Dilma disse que gestor público não podia fazer milagres. Talvez tenha esquecido das atribuições de Arno Augustin no Tesouro.

Seu santo milagreiro das contas públicas tem atraído descrédito da gestão econômica no mercado sem o reconhecimento daqueles para quem a torneira está sendo aberta, como os prefeitos.

Na época do antecessor de Dilma, muitos que iam ao Planalto saíam de mãos abanando mas satisfeitos em terem sido enredados, pela proverbial lábia do anfitrião, na busca de uma solução para seus problema. Pois agora todos arrancam mundos e alguns fundos do orçamento e quase ninguém sai feliz com isso.

Guardadas as proporções, repete-se o cenário da redução da tarifa de energia. Demanda de 100% da indústria, Dilma arrumou briga em todos os quadrantes da federação com a medida mas custou a arrancar declarações públicas de apoio de Fiesp e congêneres.

No pacote de bondades municipais, que enfrentará 567 emendas com a MP no Congresso, tem mais dinheiro para a assistencia básica da saúde, para o programa da saúde da família e para equipamentos hospitalares.

No calor dos acontecimentos, depois de anúncios mais aquinhoados do que esperava, Ziulkoski chegou a chamar seus confederados de "manada irracional". Ex-prefeito de Mariana Pimentel, cidade de quatro mil habitantes na região metropolitana de Porto Alegre, às margens da mesma BR 116 que corta Barra do Choça, Ziulkoski é do PMDB de Pedro Simon há mais de quatro décadas.

Sempre leva sua manada a Brasília. De tanto incomodar, levou o governo petista a inflar uma entidade paralela, a Frente Nacional dos Prefeitos, que não faz sombra às marchas.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nunca pisou lá. Luiz Inácio Lula da Silva foi a todas, à exceção daquela feita no ano de sua reeleição. As duas já havidas desde a posse tiveram a presença de Dilma e, em ambas, a presidente foi vaiada.

Na primeira delas a reação presidencial, estampada em todos os jornais da época, foi de descer do palanque e reclamar, dedo em riste, com o presidente da CNM pela leviandade de seus meninos.

Desta vez, num sinal de que a vaia também pode ser pedagógica, Dilma mandou chamar o Ziulkoski no Planalto no dia seguinte. Na audiência o presidente da CNM defendeu que a renúncia fiscal de impostos federais não diminua os repasses a Estados e municípios. Mas as esperanças do presidente da CNM duraram pouco. Ontem Dilma vetou esta emenda e renovou os motivos à revolta dos prefeitos.

Ziulkoski tem o discurso que se espera de um presidente de entidade municipal. Prefeito não tem polícia, tribunal de contas nem judiciário. Por isso, ao contrário de outros governantes, é punido às pencas. Dos cargos executivos é o de mais baixa taxa de reeleição. Apenas metade dos que se recandidatam elegem-se.

No dia em que tentou salvar a presidente das vaias, foi menos corporativo. Disse que os prefeitos tinham que abrir as contas à população e dar 100% de transparência à sua gestão para conquistar o apoio das ruas.

Em Barra do Choça (BA), o prefeito é acossado pela falta de agilidade. As casas do Minha Casa Minha Vida que Oberdam Dias contratou em 2009 tiveram uma liberação tão morosa que apenas agora estão sendo concluídas.

Eleitor de Dilma em 2010, Oberdam diz que ainda não se definiu para 2014. É parte do time de 5.565 cabos eleitorais acirradamente disputados pelos candidatos a presidente. Pelo desempenho na marcha, a concorrer com a moçada, os prefeitos preferiram se unir aos protestos.

Fonte: Valor Econômico

Para não ficarmos imobilizados nas ruas - Washington Novaes

Já não era sem tempo.

A mobilização social, dezenas de grandes manifestações nas cidades com reivindicações em muitas áreas, afinal trouxe para as ruas um tema - a chamada "mobilidade urbana" - até então quase limitado às notícias de prejuízos financeiros ou de tempo perdido pelos usuários. Por isso mesmo, a discussão mais ampla ficava bastante confinada a editoriais de jornais ou artigos de especialistas.

Os números e outras informações sobre transporte urbano nesses dias foram impressionantes. A começar pelo cálculo (Mobilize, 12/7) de que as isenções de impostos para veículos de transporte individual e gasolina desde 2003 já somam R$ 32,5 bilhões, com os quais seria possível implantar 1.500 km de corredores de ônibus ou 150 km de metrô. Pode-se comparar essa cifra também com aplicações do Ministério das Cidades para financiar 95,6 km de metrô, trens, estações: R$ 15,4 bilhões. Só a redução da Cide.no preço da gasolina significou R$ 22 bilhões; as reduções de IPI sobre veículos chegarão no fim deste ano a R$ 10,5 bilhões. Mas o ministro da Fazenda tem dito que esses subsídios são importantes porque a indústria automobilística significa 25% da produção industrial - ainda que, pode-se acrescentar, signifique prejuízos imensos para os usuários de transportes coletivos.

Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), já há três anos São Paulo perdia R$ 33 bilhões anuais com congestionamentos de trânsito - R$ 27 bilhões só com o que deixava de produzir no tempo perdido (Estado, 19/9/2010). O tempo médio que os paulistanos perdiam no transporte já chegava a quase três horas por dia, nesse mundo de 3,8 milhões de veículos. Hoje, conforme a FGV, são R$ 50 bilhões anuais, mais que o orçamento da Prefeitura paulistana, de R$ 42 bilhões. E não por acaso, em 12 anos as tarifas subiram (192%) mais que a inflação - dados do Ipea (Estado, 5/7). Para o cidadão o prejuízo anual é de R$ 7.662,33, de acordo com a Fundação Dom Cabral. Sem falar nos problemas e custos da poluição do ar, para as pessoas e o poder público.

Mas como se vai enfrentar tudo isso se a questão da mobilidade urbana não chega a inspirar macropolíticas que conjuguem não apenas todas as áreas e municípios das regiões metropolitanas e grandes cidades, como enfrentem os problemas centrais - como diz a estudiosa Raquel Rolnik (24/6)? Fazê-lo implicaria romper com o modelo rodoviarista, rever custos e contratos de concessão (trombando com a cartelização), abrir as contas públicas do setor de transportes. Como avançar sem questionar, por exemplo, o projeto do trem-bala Rio-São Paulo, que, só ele, já é orçado em R$ 33 bilhões (começou em R$ 10 bilhões, hoje se diz que poderia chegar a R$ 60 bilhões, e ainda com financiamento público de 90%). Seu orçamento já daria para triplicar o metrô em São Paulo e no Rio, diz a jornalista Miriam Leitão. E ainda se pode comparar com o que a União, segundo o site Contas Abertas, investiu no setor em 11 anos: apenas R$ 1,1 bilhão dos R$ 5,8 bilhões previstos em orçamentos. O sétimo balanço do PAC mostra que das 50 obras para a mobilidade urbana apenas duas foram concluídas, 63 projetos para cidades médias estão "em preparativos".

E os danos com acidentes? O Brasil já é o país em quinto lugar nos acidentes de trânsito, com 21,5 mortes por 100 mil habitantes (4 na Alemanha, 2,5 na Suécia). Já devemos estar acima de 40 mil mortes por ano (eram 37,6 mil em 2009), das quais 8,79 mil de pedestres. Não por acaso, quase 50% dos carros testados no País (15 de 26 modelos) eram inseguros, segundo o Programa de Avaliação de Carros Novos na América Latina (Estado, 10/6). A rede pública de saúde investiu em 2011 mais de R$ 200 milhões no tratamento de 157 mil vítimas do trânsito; em cada 10 leitos de UTIs, 4 são ocupados por elas.

Mas a frota de veículos só cresce. São mais de 300 mil automóveis e outros veículos novos por mês. Em dez anos, a frota cresceu 122%, enquanto a população aumentava 12% (O Globo, 30/1). A indústria do setor prevê que até o final da década dobrará o número de carros nas ruas - para circular onde?

Não haverá soluções? Em muitos lugares elas estão sendo buscadas, por vários caminhos. Buenos Aires, por exemplo, avançou muito com a expansão das vias exclusivas para ônibus, implantação do BRT (Bus Rapid Transit) em 200 km de corredores exclusivos, ampliação de vias para bicicletas (Instituto do Meio Ambiente, 12/7). Na Cidade do México, três linhas de trens foram instaladas com subsídios, assim como 25 corredores para BRT (que incluem mais 15 cidades). Os EUA multiplicaram seus trens de alta velocidade para cobrir 6.800km - e a um número próximo pretendem os chineses chegar até 2015. Na Inglaterra, em Pointon, estão sendo retirados os semáforos das ruas e promovido o compartilhamento dos espaços entre veículos e pessoas, sem confinamentos - o mesmo conceito | que a Coreia do Sul está adotando na cidade de Songdo. Viena tem 1.700 km de ciclovias, além do metrô, do bonde, dos VLTs (veículos leves sobre trilhos), dos ônibus elétricos.

Afirma a Associação Nacional de Empresas de Transporte Urbano (EC021, junho de 2013) que há 113 projetos de BRT em 25 cidades brasileiras e que até 2016 eles estarão implantados em 1270 km de corredores exclusivos - o que significaria forte avanço, já que um ônibus transporta tantos passageiros quanto 120 automóveis.

Com passeatas nas ruas ou não (graças à redução de tarifas) , o tema não pode ir de novo para segundo plano ou o esquecimento - ou, então, estaremos todos condenados à imobilidade e ao impensável.

P. S.: No artigo da semana passada neste espaço cometi um engano: onde se lê que com "cada metro cúbico" de radiação solar se pode gerar muito mais energia que em outros formatos, o correto é "em cada metro quadrado Peço desculpas pelo descuido.

Não haverá soluções? Em muitos lugares elas estão sendo buscadas, por vários caminhos.

Jornalista

Fonte: O Estado de S. Paulo

Desacertos do BNDES - Rogério Furquim Werneck

Com o governo ainda aturdido com os protestos de junho, voltaram a ganhar destaque na mídia más notícias sobre o BNDES. Tendo em conta o teor das insatisfações que afloraram nas ruas e o retumbante fracasso da "nova matriz de política econômica", o mais provável é que a atuação do BNDES seja objeto de críticas cada vez mais contundentes nos próximos meses. É preciso ter em mente que a instituição se converteu em ponto de confluência de vários dos piores desacertos da política econômica.

Para entender como se chegou a isso, vale a pena relembrar a paradoxal estratégia de financiamento do crescimento proposta pelo ministro Guido Mantega, em entrevista ao "Financial Times", quando assumiu a pasta da Fazenda em 2006: como o governo não contava com recursos para investir, a solução seria recorrer ao investimento privado financiado com recursos do governo. Dito assim, parecia ser apenas uma contradição em termos. Mas a verdade é que, com a operosa ajuda do BNDES, essa ideia despropositada seria afinal posta em prática, dando lugar a um enorme programa de financiamento de investimentos bancado com dinheiro público, não obstante a inegável carência de recursos do governo.

Se o Tesouro não dispunha de recursos, que então se endividasse para fazer empréstimos subsidiados de longo prazo ao Banco. Estabeleceu-se, por fora do Orçamento, uma ligação direta entre o Tesouro e o BNDES, através da qual recursos provenientes da emissão de dívida pública passaram a ser transferidos ao Banco, sem contabilização no resultado primário e sem que a dívida líquida do setor público fosse afetada.

Desde 2007, cerca de R$ 370 bilhões foram transferidos do Tesouro ao BNDES. E isso permitiu a montagem de gigantesco orçamento paralelo no BNDES. Embora todos os recursos proviessem do Tesouro, passaram a conviver no Governo Federal dois mundos completamente distintos. De um lado, a dura realidade do Orçamento da União, em que se contavam centavos. De outro, a Ilha da Fantasia do BNDES, nutrida com emissões de dívida pública, em que parecia haver dinheiro para tudo.

Não chegou a ser uma surpresa que tanta fartura tenha dado lugar a um clima de megalomania e dissipação no Banco, propício ao surgimento de agendas próprias, missões inadiáveis e projetos de investimento grandiosos e voluntaristas. Que têm abarcado desde programas de cerceamento deliberado da concorrência para a formação de "campeões nacionais" ao desajuizado projeto do trem-bala. Como era de se esperar, as contas de muitas decisões impensadas já começaram a chegar. E o Banco vem tendo de se desdobrar para explicar o inexplicável. O maior desgaste político, contudo, ainda está por vir.

A decodificação dos protestos que tomaram as ruas do País, em junho, continuará a ser, por muito tempo, matéria altamente controvertida. Mas, em meio às insatisfações difusas que parecem ter inspirado as manifestações, foi possível distinguir clara irritação com as deficiências dos serviços públicos e a carência de investimentos em infraestrutura urbana, especialmente em transporte de massa.

Vistos dessa perspectiva, os vultosos investimentos que vêm recebendo financiamento subsidiado do BNDES, com dinheiro público advindo da emissão de dívida pelo Tesouro, mostram notável descompasso com as prioridades populares. Pouco ou nada dos 370 bilhões mobilizados desde 2007 foi efetivamente canalizado para a redução das carências de investimento denunciadas nos protestos de junho.

Boa parte foi destinada ao financiamento de investimentos no setor elétrico e no setor petróleo. Em grande medida, a projetos da própria Petrobras. Apesar das carências vergonhosas que o País continua exibindo em saneamento básico, transporte de massa, saúde, segurança e educação, o governo, por capricho ideológico, vem concentrando os financiamentos do BNDES, bancados com recursos do Tesouro, em projetos de investimento estatal em áreas nas quais o setor privado está interessado em investir. Um desacerto lamentável que, agora, pode lhe custar caro.

Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio

Fonte: O Globo