Wilson Figueiredo
Jornalista
DEU EM OPINIÃO E NOTICIAS
O equacionamento político da candidatura Dilma Roussef à sucessão presidencial em 2010 passou a emitir sinais de que encaixou como luva a oportunidade de fazer mais do que percorrer o mapa do Brasil, ao lado do presidente Lula, em inauguração de obras que nem começaram. Não ocorreu toque sobrenatural diferenciado – era só o que faltava – quando Dilma Rousseff passou à segunda etapa da candidatura e congelou o debate sobre uma nova reeleição.Lula até fez a sua parte, mas o terceiro mandato dá sinais de não ter desistido. O fato n ovo foi que a pré-candidata resolveu o problema de um diagnóstico médico para o qual não há tratamento político adequado. Pelo menos não havia.
Com voz regulada pela gravidade da situação, dona Dilma Rousseff trancou a possibilidade de exploração política de um câncer linfático ao torná-lo público, junto com a solução cirúrgica e o tratamento programado. Tirou o toque de fatalidade e anulou seu efeito imediato nas pesquisas. A pré-candidata foi direta ao ponto e encurtou a distância entre ela e o eleitor. Passou por cima da doença e se beneficiou da vantagem de explicar a ocorrência de modo mais convincente do que o próprio linfoma. Politicamente falando, a melhor receita para doenças mal afamadas passou a ser o paciente dispensar intermediários.
Dificuldades políticas eram previsíveis quando o presidente Lula adiantou a hora eleitoral e contrabalançou a precipitação áulica de falar em terceiro mandato quando mal começava o segundo. Não houve saldo político na comparação entre o primeiro e o segundo mandato. Faltaram obras para encher os olhos dos cidadãos. Em vez de desancar a miopia cívica nacional, no seu feitio mais agreste, Lula incumbiu o PAC de inserir obras públicas, de efeito visual favorável, na paisagem dos benefícios sociais que sacudiram por dentro a sociedade brasileira e, por fora, o próprio governo. A exagerada antecedência quase levou o presidente ao caminho mais curto para sair da História, com a qual se dá muito bem. Cada qual na sua. O presidente se adiantou à hora eleitoral por falta de melhor assunto para ocupar as cabeças. Foi por intuição, e não por dar ouvido a pesquisas (exceto em causa própria), que identificou cedo a própria candidata ao seu lado, em quem podia confiar em caso de necessidade de retirar-se de cena.Uma candidatura que ele esculpiu sozinho para se sentir um Miguel Ângelo.
Vê-se agora que Dilma Rousseff tinha identidade política suficiente para preencher o vazio deixado pelo terceiro mandato e lidar com a oposição encolhida.A social-democracia percebe certa nostalgia presidencial (ainda controlável) pelo terceiro mandato, dada a maneira rude com que Lula corta o assunto, mas com cautela para não deixá-lo cair na vala comum em que jazem as famosas reformas que já se prestam a situações menos dignas.
O terceiro mandato, que bate à porta com a mão da reforma política, é mais que uma questão pessoal. Lula padece de tentação alternativa que acena com o ponto fora da curvas das urnas (embora contrastando com o receio de ver com os próprios olhos o que foi o seu governo em relação ao que poderia ter sido). É sinal de que já se preocupa com a própria biografia, e a democracia lhe será grata pelo zelo. Antes, porém, terá que cuidar de um companheiro de chapa para a candidata, e da campanha eleitoral, na qual se reserva o papel principal. Faz questão de testar se votos são ou não transferíveis.
O problema agora é mais embaixo. Vem por aí, já em outras circunstâncias, a seleção de candidatos a vice que, embora dispensem votos, precisam ornamentar o perfil. Não é difícil atender à exigência, depois que o currículo político foi eticamente virado pelo avesso. A hora decisiva está a caminho. Depois que Dilma se firmou, os aspirantes a vices sairão de trás da cortina.Vem por aí o PMDB, cuja voracidade volta ao nível presidencial à medida que a eleição se aproxima e o jejum de governar se prolonga. Mas tanto faz como desfaz acordos.Quando Lula, com dois mandatos, tirou o pão da boca do PT com o nome de Dilma Rousseff, o escaldado PMDB acordou de sua letargia conformista. Nem para a vice-presidência tem sido lembrado. Aí, com a ajuda das circunstâncias, sacudiu a lombeira cívica e começou a operar. O estilo, depois de ter sido o homem, é o partido. O PMDB age catastroficamente até por omissão. A vice-presidência não lhe aplaca a fome de poder. Será que o Brasil se encaminha para a encruzilhada onde o demo perdeu as botas?
Mudam os personagens mas o enredo permanece. Logo, toda a atenção se volta para a hipótese Dilma Roussef, com a qual o presidente Lula engavetou a reforma política encarregada agora de fazer, no Congresso, o papel da fêmea do cavalo de Tróia. Quando senadores e deputados cochilarem, o terceiro mandato estará no plenário antes que o PMDB tenha resolvido suas contradições. O episódio vivido agora pela pré-candidata não alivia as pressões na escolha de um vice à altura do precipício. O perigo é inquilino do PMDB, que está com a corda na mão e o olho no pescoço dos concorrentes. Dele cuidará certamente o próprio Lula, que sabe torear essa gente que não elege presidente mas fica de olho em chegar lá, por dentro ou por fora. A boa expectativa é de que, no próximo governo, já deverá começar o saneamento ético da vida política.
Jornalista
DEU EM OPINIÃO E NOTICIAS
O equacionamento político da candidatura Dilma Roussef à sucessão presidencial em 2010 passou a emitir sinais de que encaixou como luva a oportunidade de fazer mais do que percorrer o mapa do Brasil, ao lado do presidente Lula, em inauguração de obras que nem começaram. Não ocorreu toque sobrenatural diferenciado – era só o que faltava – quando Dilma Rousseff passou à segunda etapa da candidatura e congelou o debate sobre uma nova reeleição.Lula até fez a sua parte, mas o terceiro mandato dá sinais de não ter desistido. O fato n ovo foi que a pré-candidata resolveu o problema de um diagnóstico médico para o qual não há tratamento político adequado. Pelo menos não havia.
Com voz regulada pela gravidade da situação, dona Dilma Rousseff trancou a possibilidade de exploração política de um câncer linfático ao torná-lo público, junto com a solução cirúrgica e o tratamento programado. Tirou o toque de fatalidade e anulou seu efeito imediato nas pesquisas. A pré-candidata foi direta ao ponto e encurtou a distância entre ela e o eleitor. Passou por cima da doença e se beneficiou da vantagem de explicar a ocorrência de modo mais convincente do que o próprio linfoma. Politicamente falando, a melhor receita para doenças mal afamadas passou a ser o paciente dispensar intermediários.
Dificuldades políticas eram previsíveis quando o presidente Lula adiantou a hora eleitoral e contrabalançou a precipitação áulica de falar em terceiro mandato quando mal começava o segundo. Não houve saldo político na comparação entre o primeiro e o segundo mandato. Faltaram obras para encher os olhos dos cidadãos. Em vez de desancar a miopia cívica nacional, no seu feitio mais agreste, Lula incumbiu o PAC de inserir obras públicas, de efeito visual favorável, na paisagem dos benefícios sociais que sacudiram por dentro a sociedade brasileira e, por fora, o próprio governo. A exagerada antecedência quase levou o presidente ao caminho mais curto para sair da História, com a qual se dá muito bem. Cada qual na sua. O presidente se adiantou à hora eleitoral por falta de melhor assunto para ocupar as cabeças. Foi por intuição, e não por dar ouvido a pesquisas (exceto em causa própria), que identificou cedo a própria candidata ao seu lado, em quem podia confiar em caso de necessidade de retirar-se de cena.Uma candidatura que ele esculpiu sozinho para se sentir um Miguel Ângelo.
Vê-se agora que Dilma Rousseff tinha identidade política suficiente para preencher o vazio deixado pelo terceiro mandato e lidar com a oposição encolhida.A social-democracia percebe certa nostalgia presidencial (ainda controlável) pelo terceiro mandato, dada a maneira rude com que Lula corta o assunto, mas com cautela para não deixá-lo cair na vala comum em que jazem as famosas reformas que já se prestam a situações menos dignas.
O terceiro mandato, que bate à porta com a mão da reforma política, é mais que uma questão pessoal. Lula padece de tentação alternativa que acena com o ponto fora da curvas das urnas (embora contrastando com o receio de ver com os próprios olhos o que foi o seu governo em relação ao que poderia ter sido). É sinal de que já se preocupa com a própria biografia, e a democracia lhe será grata pelo zelo. Antes, porém, terá que cuidar de um companheiro de chapa para a candidata, e da campanha eleitoral, na qual se reserva o papel principal. Faz questão de testar se votos são ou não transferíveis.
O problema agora é mais embaixo. Vem por aí, já em outras circunstâncias, a seleção de candidatos a vice que, embora dispensem votos, precisam ornamentar o perfil. Não é difícil atender à exigência, depois que o currículo político foi eticamente virado pelo avesso. A hora decisiva está a caminho. Depois que Dilma se firmou, os aspirantes a vices sairão de trás da cortina.Vem por aí o PMDB, cuja voracidade volta ao nível presidencial à medida que a eleição se aproxima e o jejum de governar se prolonga. Mas tanto faz como desfaz acordos.Quando Lula, com dois mandatos, tirou o pão da boca do PT com o nome de Dilma Rousseff, o escaldado PMDB acordou de sua letargia conformista. Nem para a vice-presidência tem sido lembrado. Aí, com a ajuda das circunstâncias, sacudiu a lombeira cívica e começou a operar. O estilo, depois de ter sido o homem, é o partido. O PMDB age catastroficamente até por omissão. A vice-presidência não lhe aplaca a fome de poder. Será que o Brasil se encaminha para a encruzilhada onde o demo perdeu as botas?
Mudam os personagens mas o enredo permanece. Logo, toda a atenção se volta para a hipótese Dilma Roussef, com a qual o presidente Lula engavetou a reforma política encarregada agora de fazer, no Congresso, o papel da fêmea do cavalo de Tróia. Quando senadores e deputados cochilarem, o terceiro mandato estará no plenário antes que o PMDB tenha resolvido suas contradições. O episódio vivido agora pela pré-candidata não alivia as pressões na escolha de um vice à altura do precipício. O perigo é inquilino do PMDB, que está com a corda na mão e o olho no pescoço dos concorrentes. Dele cuidará certamente o próprio Lula, que sabe torear essa gente que não elege presidente mas fica de olho em chegar lá, por dentro ou por fora. A boa expectativa é de que, no próximo governo, já deverá começar o saneamento ético da vida política.