A FAP (Fundação Astrojildo Pereira) participará de 18 a 20 de maio do Seminário Hegemonia e Modernidade, em Roma, na Itália, evento que marca os 80 anos da morte de Antonio Gramsci, uma das referências essenciais do pensamento de esquerda no século 20, co-fundador do Partido Comunista Italiano. A fundação será representada no seminário pelos dirigentes especialistas em Gramsci no Brasil, Alberto Aggio e Luiz Sérgio Henriques, que também é tradutor do filósofo.
Organizado pela Fundazione Gramsci, um dos objetivos do evento é “realizar uma discussão envolvendo os estudiosos do pensamento de Gramsci em diversas partes do mundo”. O convite dos organizadores do seminário à FAP mostra o papel da fundação como instituição de propagação da cultura da esquerda democrática brasileira que tem, no filósofo marxista, uma de suas referências.
Alberto Aggio classificou o convite de participação da FAP no evento como “reconhecimento das atividades de publicação e tradução do pensamento de Gramsci” realizado pela FAP e de seus comentadores no Brasil. “Um reconhecimento que deve ir além da Itália”, disse o dirigente.
Veja abaixo entrevista em que Aggio e Luiz Sérgio ressaltaram a importância do evento.
Qual a importância do convite à FAP para participar deste seminário sobre Gramasci?
Alberto Aggio: A FAP se coloca internacionalmente como uma instituição da cultura da esquerda democrática que tem em Gramsci uma de suas referências. O convite dos italianos significa um reconhecimento das nossas atividades de publicação e tradução do pensamento de Gramsci e de seus comentadores aqui no Brasil. É um reconhecimento que deve ir além da Itália.
Luiz Sergio Henriques: A FAP é uma fundação ligada ao Partido Popular Socialista (PPS), que por sua vez, vem do Partido Comunista Brasileiro (PCB). O PCB sempre teve relações muito fortes com os comunistas italianos, sendo Gramsci um deles. Portanto, o intercâmbio de ideias entre italianos e brasileiros, mantendo essa corrente de pensamento viva entre Brasil e Itália, é bom para nós, bom para os marxistas brasileiros, bom até para os não marxistas. E é bom, também, para os italianos quando levamos a tamanha complexidade da vida social brasileira.
Por que relembrar os 80 anos da morte de Gramsci?
Alberto Aggio: Gramsci é hoje o pensador que, vindo do marxismo, demonstrou uma vitalidade impressionante ao se voltar para temas que até então o marxismo não havia se embrenhado. Ele enfrentou o momento de uma passagem ou “mudança epocal”, relativamente similar à que estamos vivendo hoje, com o aumento da importância da visão global do mundo e também da complexidade da vida social. Isso repercutiu num pensamento que, a nós hoje, aparece com grande atualidade para se pensar os impasses da vida, da cultura e da política democrática atual.
Luiz Sergio Henriques: Os marxistas, em geral, possuem uma concepção pobre da política e do estado, eles tendem a raciocinar muito dicotomicamente, como se houvesse duas classes, operária e burguesa, em conflito direto sem mediações, sem instituições políticas, sem a cultura, sem a história de cada país, etc. Com Gramsci é diferente, pois ele leva esses fatores em conta, ele dá explicações metodológicas para mostrar que a luta política não é um confronto apenas econômico e uma luta direta entre classes, e sim, algo mais complexo, com mais atores políticos, na qual a cultura tem papel fundamental, pois não se muda a realidade sem estar plenamente consciente da dimensão cultural, do modo como as pessoas pensam e agem. Essa é a riqueza do pensamento de Gramsci e por isso a importância de se relembrar os 80 anos de sua morte. (Assessoria FAP/Germano Souza Martiniano)
Veja aqui a programação completa do Seminário Hegemonia e Modernidade.