terça-feira, 24 de junho de 2014

Opinião do dia José de Souza Martins

Uma das grandes anomalias do processo político pós-ditatorial tem sido a transformação das religiões em avalistas de políticos e de partidos que não confiam no discernimento do povo e o temem. É o que subtrai do eleitor o direito de decidir conscientemente em quem votar e em que partido político confiar. A política brasileira tem sido cada vez mais política de usufrutuários de currais eleitorais de uma nova política de cabresto que mutila a concepção de cidadania, viola os princípios do regime republicano e coloca a sociedade inteira de joelhos. Igrejas e religiões têm sido cúmplices dessa usurpação. Os danos à democracia e ao regime republicano são imensos. Fala-se muito em corrupção, mas não se fala no envolvimento partidário das religiões como outra e perversa forma de corrupção, enquanto roubo da consciência política dos votantes. A fé deveria ser para iluminar e não para enganar.

José de Souza Martins é sociólogo. Professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Entre outros livros, autor de 'A política do Brasil Lúmpen' no artigo “Fé no poder”, O Estado de S. Paulo, Aliás, 22 de junho de 2014.

Petrobras manteve custos da refinaria Abreu Lima em segredo

• Apesar de reiterados pedidos, TCU só recebeu estudos de viabilidade da estatal após anos de obras

José Casado, Danielle Nogueira e Vinicius Sassine

RIO E BRASÍLIA — A Petrobras trabalhou com um orçamento sigiloso de contratação de serviços e equipamentos para a Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. Várias vezes o Tribunal de Contas da União (TCU) pediu as estimativas de custos, mas só começou a receber a documentação anos depois do início das obras.

A empresa ocultou, também, os estudos de viabilidade econômica, técnica e ambiental do empreendimento, cujos gastos foram multiplicados por nove nos últimos onze anos: o orçamento inicial de US$ 2,3 bilhões passou a US$ 18,5 bilhões e poderá chegar a US$ 20,1 bilhões até a inauguração, marcada para novembro, conforme projeções da estatal.

O tribunal começou a fazer auditorias rotineiras em Abreu e Lima em 2008. Quando localizava indícios de erros ou sobrepreços, solicitava à Petrobras documentação complementar, sobretudo as estimativas de custos (“referências de precificação”) nas quais ela teria se baseado para realizar as contrações.

“Sigilo” foi a alegação mais frequente da estatal para não entregar documentos, principalmente quando o TCU passou a cobrar os estudos de viabilidade. Eles contêm os cálculos de custos e projeções de receita do empreendimento. No caso de Abreu e Lima, isso inclui previsões de despesas com a construção e montagem dos dutos que ligam a refinaria ao Porto de Suape, por onde vai escoar a produção de derivados do petróleo.

Petrobras alega ‘divergências’
A Petrobras evitou repassar até análises de impacto ambiental da refinaria, localizada a 35 quilômetros de Recife, em área próxima do litoral e recortada por cinco rios. As negativas não se limitaram à obra em Pernambuco. Estenderam-se a empreendimentos no Rio de Janeiro (Comperj), no Ceará e no Maranhão.

Em 2011, houve uma crise nas relações da estatal com seus fiscais. Auditores entenderam que havia uma deliberada obstrução ao trabalho do tribunal.

Listaram indícios de sobrepreços, relataram a existência de “metodologias inadequadas para definição de viabilidade”, alinharam deficiências no projeto básico e citaram “contratações diretas e antieconômicas”. Sugeriram que o então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, fosse autuado por “sonegação de documento”.

A situação foi contornada com diplomacia pelo TCU. Gabrielli aceitou acordo para entrega dos documentos ocultados por anos. Não cumpriu, segundo o tribunal. Na época, o ministro Ubiratan Aguiar escreveu: “Não há evidência de que orçamento sigiloso aumenta a competitividade”. Acrescentou: “A opção da Petrobras em manter o absoluto sigilo de suas estimativas de custo (referências de precificação), antes do lançamento das licitações e após o seu encerramento, não tem amparo no ordenamento jurídico vigente.”

Um ano depois, em 2012, quando Graça Foster já estava no comando da empresa, fez-se novo acordo. Gabrielli se livrou das sanções, e a documentação chegou ao tribunal.

Em nota, a Petrobras explicou que até 2012 “havia uma divergência de entendimento” com o TCU “sobre o que exatamente deveria ser entregue e como deveriam ser entregues as estimativas de custos e os estudos de viabilidade técnica e econômica, bem como uma divergência sobre os aspectos de confidencialidade”. As divergências acabaram, completou, “e foi definido, por consenso, um termo de confidencialidade e um procedimento (o que e como) de encaminhamento destas informações. A partir daí, sempre que solicitado pelo TCU, a Petrobras passou a entregar os documentos dentro dos prazos requeridos por aquele órgão de controle”.

No tribunal, os ministros fizeram questão de deixar registrado em ata: “Apesar do decurso de pouco mais de dois anos entre a primeira requisição dos EVTEs (estudos de viabilidade) das obras da refinaria e a efetiva entrega da documentação, em 14 de junho de 2012, há que se constatar o cumprimento do determinado. A estatal considerava que não deveria submeter a esta Corte documentos, sob a alegação de sigilo”.

Abreu e Lima se tornou um dos mais caros projetos da indústria mundial de petróleo: vai gastar US$ 87 mil por cada barril de petróleo que refinar, mais que o dobro da média internacional. A escalada de aumento nos seus custos (mais de 770% em dólares) motiva múltiplas investigações. Um delas se desenvolve no Congresso, onde se prevê para amanhã um depoimento de Gabrielli, ex-presidente da empresa. Outras duas ocorrem em Pernambuco e no Paraná. Foram iniciadas por procuradores federais, que se reuniram na última quarta-feira, em Brasília, com auditores do TCU numa tentativa de união de esforços.

Mais funcionários sob suspeita
O inquérito pernambucano se concentra em contratos feitos pela Petrobras para obras e equipamentos da refinaria, sobre os quais paira a suspeita de superfaturamento de até US$ 478 milhões. No Paraná, o foco é a lavagem do dinheiro supostamente obtido na cobrança de “comissões”, sob intermediação político-partidária, entre a estatal e fornecedores. Não se conhecem detalhes sobre a nova etapa dessa investigação. Na denúncia aceita pela Justiça em abril, que motivou a prisão do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras e ex-presidente do Conselho de Administração da Refinaria Abreu e Lima, Paulo Roberto Costa, procuradores escreveram: “eventual participação de outros funcionários do escalão superior dessa empresa estatal será investigada oportunamente”.

No Rio, PMDB terá palanque para três candidatos, diz Pezão

• Após conseguir apoio do DEM, governador carioca admite que diretório abrirá espaço para campanha de Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Pastor Everaldo (PSC)

Luciana Nunes Leal - O Estado de S. Paulo

RIO - Depois de anunciar que faria campanha pela reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), admitiu pela primeira vez nesta segunda-feira, 23, que seu palanque "vai ser com os três candidatos à presidência da República", deixando claro que também haverá espaço para o senador Aécio Neves (PSDB) e para o candidato do PSC, Pastor Everaldo.

Pezão disse que sua relação com Dilma está "acima das questões partidárias" e que tem "muito carinho" por ela, mas abriu a possibilidade de adversários da presidente também participarem de sua campanha. Na disputa nacional, o PMDB é aliado do PT, que repetirá a chapa de 2010, com Michel Temer na vice.

"Tenho falado com ela: não fomos nós que rompemos a aliança com o PT no Rio depois de sete anos e três meses. Continuo tendo meu relacionamento com a presidente Dilma acima das questões partidárias, a aliança não prescreve. Tenho muito carinho pela presidente, mas a política tem esse dinamismo", afirmou Pezão em entrevista conjunta na qual recebeu apoio do DEM, do PSDB e do PPS. O PSC já havia declarado apoio ao PMDB no Estado.

Nos últimos dias, com articulação de Aécio, o DEM aceitou ingressar na chapa de Pezão, o que fortalece o movimento "Aezão" no Rio. O acordo foi uma resposta à aliança do PSB com o PT local, avalizada pelo pré-candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos.

Na mesma ocasião, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM) foi lançado candidato ao Senado na chapa de Pezão. Aliado de Aécio Neves, Maia fortaleceu a campanha do tucano no Rio, já que fará campanha na chapa majoritária pelo tucano.

"Vou fazer campanha para o senhor, estufar a veia do pescoço. O mesmo trabalho que vou fazer para a minha campanha farei para o senhor em todos os municípios", disse a Cesar Maia, também presente na entrevista.

Pezão abre palanque para Aécio no Rio

• Cesar Maia responde à crítica de Eduardo Paes, que classificou a aliança com o DEM de ‘bacanal’: ‘É natural. Ele saiu do meu útero’

Cássio Bruno – O Globo

RIO — Candidato do PMDB ao governo do Rio, o governador Luiz Fernando Pezão admitiu pela primeira vez nesta segunda-feira que abrirá seu palanque no estado para o senador Aécio Neves, que concorrerá à Presidência da República pelo PSDB. Até então, Pezão sustentava que iria pedir votos exclusivamente para a reeleição da presidente Dilma Rousseff, do PT. O peemedebista oficializou a chapa para as eleições majoritárias do estado com o apoio de DEM, PPS e PSDB. Ele apresentou ainda o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) como indicado a disputar a vaga no Senado em sua chapa nas eleições de outubro. O ato fortalece o movimento “Aezão”, criado por peemedebistas fluminenses para pedir votos a Aécio e Pezão.

— Não fomos nós que rompemos a aliança. O PT participou do governo durante sete anos e três meses. Antes, tinha duas prefeituras. Agora, tem onze. Tem o vice-prefeito da cidade do Rio. Tem um senador eleito na nossa aliança (Lindbergh), e rompeu essa aliança depois de sete anos e três meses e abriu essa possibilidade ter outros palanques em nossa coligação — afirmou Pezão para, em seguida, reforçar:

— Tenho o maior carinho pela presidente Dilma. Nós sabemos que na política há esse dinamismo. Meu palanque no Rio de Janeiro vai ser com os três candidatos — disse ele, referindo-se a Aécio, Dilma e pastor Everaldo (PSC), outro candidato à Presidência.

Pezão, apesar de admitir abrir o palanque para Aécio, disse que ainda vai estudar uma forma de aparecer com os três candidatos. O governador confirmou que estará ao lado da presidente Dilma no próximo dia 30 e 1º de julho no Rio, para inaugurar obras em parceria com o governo federal. Ele ressaltou que a presidente "está acima das questões partidárias".

Presente ao evento, o ex-prefeito Cesar Maia revelou que o início das conversas entre o PMDB e o DEM foram iniciadas pelo prefeito Eduardo Paes, que, por sua vez, acusou a aliança de ser um "bacanal eleitoral". Segundo Cesar, Paes procurou o seu filho, deputado federal Rodrigo Maia, para propor uma aliança entre os partidos nas eleições proporcionais. Cesar Maia, no entanto, lembrou que o apoio a Pezão foi consequência de conversas lideradas por Aécio Neves. Perguntado sobre a declaração polêmica de Eduardo Paes, o ex-prefeito ironizou:

— É natural. Ele saiu do meu útero — disse, em uma referência ao fato de ser o padrinho político de Eduardo Paes.

O ex-prefeito explicou que o objetivo de aceitar ser candidato ao Senado foi, em primeiro lugar, fazer uma coligação que reforce, no Rio, a candidatura de Aécio Neves.

— A minha decisão não demorou mais de 10 segundos — disse Cesar sobre o pedido que recebeu no último final de semana em uma reunião com Aécio Neves na casa do senador em Ipanema, na Zona Sul do Rio.

A apresentação da coligação majoritária do PMDB foi feita pelo presidente regional do PMDB, Jorge Picciani. Na coletiva aos jornalistas, Picciani fez ataques ao senador Lindbergh Farias, candidato ao governo do Rio pelo PT, e ao deputado federal Anthony Garotinho, que também concorrerá ao Palácio Guanabara pelo PR. Picciani também elogiou Cesar Maia e fez um balanço da gestão de Sérgio Cabral. O peemedebista minimizou as declarações de Eduardo Paes.

— É o nosso companheiro. Tem direito de dar opinião e de divergir. Mas saberá seguir a linha partidária.

O governador Sérgio Cabral não compareceu ao evento de oficialização da aliança. Estavam presentes o presidente regional do PSDB, Luiz Paulo Corrêa da Rocha, o presidente regional do PPS, Comte Bittencourt, e ainda os deputados federais Rodrigo Maia (DEM) e Leonardo Picciani (PMDB).

Aliado de Dilma, Pezão abre palanque do PMDB do Rio para Aécio

Adriano Barcelos – Folha de S. Paulo

RIO - O PMDB do Rio confirmou a adesão de PSDB, PPS e DEM na coligação em prol da reeleição do governador Luiz Fernando Pezão, permitindo abertura do espaço para que o ex-prefeito da capital e atual vereador Cesar Maia (DEM) seja o candidato ao Senado na chapa. Com o rearranjo, o ex-governador Sérgio Cabral desistiu de disputar o Senado.

A coletiva de imprensa que formalizou o anúncio contou com a presença de Pezão, além dos líderes dos partidos envolvidos e de Maia.

No âmbito nacional, o PMDB apoia a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), mas no Estado do Rio o partido já vinha se distanciando dos petistas desde quando o senador Lindbergh Farias anunciou que abandonaria a coligação e disputaria o governo do Estado.

A partir de então, o presidente regional do PMDB, Jorge Picciani, veio impulsionando uma parceria local com os adversários do Planalto – personalizada na chapa "Aezão", uma forma de pregar o voto combinado em Pezão e Aécio Neves, que disputa a Presidência.

O governador Pezão tinha como conduta o distanciamento da candidatura de Aécio, evitava aparecer nos atos do "Aezão" e era apontado como o sustentáculo de Dilma no PMDB do Rio. Mas isso mudou, ele disse que com a inclusão de DEM, PPS e PMDB na coligação, não há mais nenhuma deferência especial a Dilma.

"Meu palanque no Rio de Janeiro vai ser com os três candidatos", destacou Pezão, mencionando também o pastor Everaldo, que disputará a Presidência pelo PSC, que compõe a chapa.

"Não fomos nós que rompemos a aliança. O PT participou do governo durante sete anos e três meses. Antes, tinha duas prefeituras. Agora, tem onze. Tem o vice-prefeito da cidade do Rio. Tem um senador eleito na nossa aliança (Lindbergh), rompeu a aliança e abriu essa possibilidade ter outros palanques", afirmou Pezão, reproduzindo o discurso adotado por Picciani.

Cesar Maia
O ingresso de Cesar Maia na chapa foi costurado por Aécio Neves. O ex-prefeito disse que foi convencido pelo mineiro, a quem comparou ao avô Tancredo Neves pelo talento para mediação. Maia relatou o bastidor da decisão e afirmou que o convite, formalizado no apartamento de Aécio no Rio, foi aceito em "10 segundos".

À imprensa, Maia distribuiu uma nota em que enumera cinco fatores que o levaram a desistir de disputar o governo do Estado com Pezão e aliar-se a ele, como postulante ao Senado. Entre os fatores, estão a questão nacional (apoiar Aécio), o quadro local (coligação entre PSB e PT para a eleição de Lindbergh Farias) e projetos enviados pelo governador Pezão para reajuste de várias categorias de servidores públicos - base eleitoral importante para Maia.

'Teremos o mais forte palanque do Rio’, diz Aécio ’

• Candidato tucano afirmou que novas coligações trazem ‘conforto’ na disputa pelo terceiro maior colégio eleitoral do país

Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO — Candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves declarou nesta segunda ter o palanque ‘mais sólido e forte’ no estado do Rio. A declaração foi uma resposta ao apoio formalizado na manhã de hoje entre o PSDB e DEM no Rio, em que o governador do PMDB Luiz Fernando Pezão admitiu, pela primeira vez, abrir palanque para o senador mineiro. Para Aécio, a aliança com o PMDB no terceiro maior colégio eleitoral do país traz “conforto” e faz dele o presidenciável com o “palanque mais forte do Rio de Janeiro”.

— Dá conforto às forças políticas que já haviam manifestado apoio à nossa candidatura e, sem dúvida, teremos o mais sólido e forte palanque do Rio de Janeiro — disse o candidato, que assistiu ao jogo entre Brasil e Camarões na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, ao lado do coordenador da campanha tucana no estado, Alberto Goldman, e do deputado Paulo Pereira da Silva.

O tucano explicou a aliança fluminense como uma reação aos movimentos feitos pelo PT no Rio, referindo-se ao apoio do PSB à candidatura do senador petista Lindbergh Farias na sucessão estadual. Com a patrocínio de Aécio, o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), adversário político do PMDB, retirou sua candidatura ao governo e será candidato ao Senado na chapa de Pezão.

— Houve uma movimentação no outro campo político. Então houve uma reação natural de fortalecimento dos partidos que nos apoiam. Há sim uma naturalidade grande (nesta aliança). Temos hoje mais de dez partidos, mil candidatos a deputados e 70% dos prefeitos apoiando a nossa candidatura — reforçou.

Aécio, entretanto, evitou polemizar o comentário do prefeito Eduardo Paes (PMDB) feita nesta domingo, que classificou a coligação como “bacanal eleitoral”.

— Essa adjetivação eu não entro nela — restringiu-se a dizer.

Assim que chegou ao sindicato, o tucano fez um comentário sobre a proposta do governo de criação do Sistema Único de Trabalho. Ele considerou uma decisão autoritária e afirmou que faltou discussão sobre o tema. O PSDB nacional divulgou nota à imprensa para criticar a medida.

— Essa proposta tira a participação dos trabalhadores e até dos empresários na definição da destinação dos recursos do FAT (Fundo de Apoio ao Trabalhador). É mais uma decisão autoritária do governo sem consulta aos trabalhadores que retira uma de suas mais importantes conquistas.

O tucano destacou a sua trajetória como deputado Constituinte, quando da criação do FAT, e afirmou que o PSDB foi orientado a fazer oposição ao projeto na Câmara e no Senado.

Ex-ministra do Supremo é um dos nomes cotados para vice, diz Aécio

• O tucano disse o nome da ex-ministra do Supremo nesta segunda-feira

- Estado de Minas

O candidato a presidente Aécio Neves (PSDB) afirmou nesta segunda-feira, no intervalo do jogo entre Brasil e Camarões, pela primeira fase da Copa do Mundo, que a jurista e ex-ministra do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie Northfleet é um dos nomes cotados para a candidatura a vice-presidente na chapa.

No PSDB, os nomes do senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) e do empresário e ex-governador do Ceará Tasso Jereissati também são citados para compor a chapa. Antes de começar o segundo tempo da partida, Aécio afirmou que a seleção brasileira está com moral no jogo, mas que a dificuldade está no meio de campo.

Na semana passada, o tucano afirmou durante visita a São João del-Rey, Região Central de Minas, que pretendia usar o prazo máximo para fazer a escolha. O limite para oficialização do nome do vice na chapa para concorrer à Presidência termina no dia 30 deste mês. Na oportunidade, Aécio afirmou que a demora ocorria porque a variedade de nomes "qualificados" era muito grande, o que justificaria a possível dúvida.

PMDB diz ver dissidência no Rio com ‘naturalidade’ e culpa PT pela rebelião

• Cúpula do partido disse ter sido pega de surpresa por decisão de aliados fluminenses

Cristiane Jungblut – O Globo

BRASÍLIA — O PMDB nacional culpa o PT pelo rumo adotado pelo partido na disputa pelo governo do Rio de Janeiro. A cúpula nacional foi surpreendida pelo anúncio do acordo com o DEM, embora soubesse que havia negociações em andamento. Nem o vice-presidente Michel Temer, nem o presidente da sigla, senador Valdir Raupp (RO), disseram saber com antecedência que o acerto havia sido fechado, mas a avaliação na cúpula do partido é que o partido precisa fechar estratégias que levem a sigla à vitória nos estados.

- Encaramos isso com naturalidade (o acordo com o DEM). O partido, na base, tem que se virar, se salvar. Não tem como ficar fechado, sendo que o outro aliado tem candidato, que é o senador Lindbergh. Lamentamos que o PT do Rio não tenha continuado com a aliança estadual - disse Raupp.

Na mesma linha, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), considerou que o partido ficou sem alterativa, diante da postura do PT e de Lindbergh.

- O esfacelamento do palanque da Dilma no Rio é culpa única e exclusiva do PT, que acabou com uma aliança vitoriosa e que elegeu o próprio Lindbergh. O PT deixou o PMDB sem alternativa no Rio - disse Eduardo Cunha.

Nesta segunda-feira, tanto o governador Pezão como o ex-governador Sérgio Cabral dispararam telefonemas para os integrantes da direção nacional do partido, prometendo a manutenção de seu apoio à presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição.

Apesar dessa promessa, integrantes do PMDB do Rio consideram que a situação se complicou demais no estado e que, no decorrer da campanha, o palanque de Pezão ficará mesmo com o candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG).

O próximo rompimento deve ocorrer no Ceará. O líder do PMDB no Senado e candidato do governo, Eunício Oliveira (CE), deve formalizar aliança com DEM e PSDB. Todos confirmaram que continuarão apoiando Dilma.

PT estranha aliança de peemedebistas com DEM e vê riscos para palanque de Dilma no Rio

• Presidente e comando da campanha não foram avisados sobre articulação do PMDB

Fernanda Krakovics e Germano Oliveira

BRASÍLIA E SÃO PAULO — Apesar de mais um revés no Rio, com a perda de espaço para a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff, o Palácio do Planalto e a direção nacional do PT tentaram minimizar o problema, dando um caráter regional à aliança formal do PMDB com os tucanos no estado. A presidente Dilma Rousseff e o comando de sua campanha à reeleição não foram comunicados previamente da entrada do vereador Cesar Maia (DEM) na chapa do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).

Embora o entorno de Dilma ainda se escore na promessa de Pezão, do ex-governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes de que farão campanha para ela, há quem ache que, na prática, isso não vai acontecer:

- Eu duvido. Depois dessa aí, já era. É um casamento em que os dois moram juntos, mas não têm mais nada a ver. Acabou o clima - disse o deputado federal Edson Santos (PT-RJ).

O vice-prefeito do Rio, Adilson Pires (PT), disse que parte do PMDB fluminense está com Dilma.
- A começar pelo prefeito Eduardo Paes, temos do nosso lado muitos prefeitos do PMDB do Estado do Rio, como o prefeito de Caxias, Alexandre Cardoso - disse Adilson Pires, que preferiu não "bater" na aliança anunciada pelo governador Pezão com Cesar Maia.

Para Alberto Cantalice, vice-presidente nacional do PT e ex-presidente do partido no Rio, o fato de o governador Pezão viabilizar palanque de Aécio no Rio, "faz parte do pragmatismo da política", mas lembrou que Dilma vai contar com o apoio de vários prefeitos peemedebistas, independentemente da orientação de Pezão.

- É no mínimo estranha essa aliança de adversários históricos no Rio, mas o importante disso tudo é que o prefeito do Rio, Eduardo Paes, continuará apoiando Dilma - disse Cantalice.

Planalto tenta conter novas dissidências de partidos aliados

• PR quer trocar ministro dos Transportes, que é da sigla; presidente Dilma resiste, mas petistas já admitem ceder

• Empresários têm avaliação positiva de César Borges, mas PR reclama que ele não recebe parlamentares

Valdo Cruz, Natuza Nery, Andréia Sadi – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Depois da defecção de última hora do PTB, o governo Dilma Rousseff lida com as pressões do PR, que quer a troca do ministro dos Transportes. A presidente, segundo interlocutores, pretende por ora manter o atual titular da pasta, César Borges, apesar de integrantes do PT já cogitarem ceder ao aliado.

Dilma avalia que Borges fez um bom trabalho na pasta, em especial na formatação das concessões de rodovias.

A Folha ouviu empresários preocupados com a eventual troca do ministro, como defende o PR. O nome que circula no partido é o de Paulo Sérgio Passos.

Na cúpula petista, porém, há também quem defenda ceder ao PR sob o argumento de que, depois do desembarque do PTB, a campanha pela reeleição da presidente Dilma não pode perder o apoio de mais um partido político.

Na sexta-feira passada, véspera da convenção que sacramentou o nome de Dilma à reeleição pelo PT, o PTB desembarcou da órbita petista e levou seus 1min15s diários de tempo de TV na propaganda eleitoral para a candidatura de Aécio Neves, do PSDB, à Presidência.

Por isso, a orientação do Palácio do Planalto é negociar com o PR para evitar um novo desembarque, mas preservando o auxiliar da presidente Dilma. A bancada do PR na Câmara dos Deputados não se entende com César Borges e reclama que ele tem má vontade em receber parlamentares da legenda.

Reviravolta
A hipótese de ocorrer uma troca no comando dos Transportes significaria uma reviravolta na decisão de Dilma, que vinha dizendo a seu núcleo político que se recusava a tirar Borges da pasta.

Depois do PR, o Planalto evita cravar o apoio de outros aliados, apesar de contabilizá-los como confirmados, casos de PP e PSD. No fim de semana, Gilberto Kassab afirmou a interlocutores que a aliança do seu PSD com o PT nacional está garantida.

Além da defecção do PTB, o Palácio do Planalto também não gostou nem um pouco da decisão do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) de engrossar o grupo do partido no Rio que irá apoiar o candidato a presidente do PSDB.

O cenário no Rio, que ficou totalmente adverso para Dilma, levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a conversar no sábado (21), antes do início da convenção do PT, com o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) sobre as alianças regionais.

Indefinições
Temer está preocupado com indefinições e queixas no PMDB em relação ao PT. Em conversas reservadas, ele diz que "conversa-se muito, mas resolve-se pouco".

No PMDB, a avaliação é que o movimento de Sérgio Cabral foi uma surpresa apenas para o Planalto.

Todos os sinais de Cabral, que desistiu de disputar o Senado, deixavam claro que o PMDB do Rio poderia fazer isso, fechando aliança favorável a Aécio.

O candidato do PT no Rio é o senador Lindbergh Farias, que no Estado se aliou ao PSB. Isso abriu o palanque dele a outro adversário de Dilma, o pernambucano Eduardo Campos (PSB).

'Bacanal eleitoral' no Rio pode beneficiar Cabral

• Dissolução de fronteiras entre apoiadores e opositores ao governo federal no Estado evitará possível derrota de ex-governador que desistiu de disputar o Senado

Wilson Tosta – O Estado de S. Paulo

Ao deixar a disputa pelo Senado no Rio e promover a "bacanal eleitoral" repudiada por Eduardo Paes, o ex-governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) complica o cenário para a presidente Dilma Rousseff no Estado. Também impõe uma derrota a um parceiro de sete anos, o prefeito do Rio, e evita o risco de um fracasso nas urnas que poderia atingir projetos futuros.

Quando foi anunciada a entrada do ex-prefeito Cesar Maia (DEM) na coligação com o PMDB, Dilma ainda assimilava a aliança do PT fluminense com o PSB. A coligação, com o ex-craque Romário como candidato a senador, deu a Eduardo Campos um palanque no Estado. Agora, com a troca de Cabral por Maia na briga pelo Senado, a presidente vê outro presidenciável de oposição, Aécio Neves, ganhar espaço no Rio.

Paes foi atropelado pela decisão do PMDB de dar a um adversário, o ex-prefeito e seu ex-padrinho político, um posto de destaque na chapa majoritária. Também sofreu no episódio um duro golpe desferido pelo ex-governador e aliado próximo, em aliança com o presidente do PMDB local, Jorge Picciani, o que pode se refletir em sua sucessão no Palácio da Cidade.

A oposição, porém, terá também problemas a enfrentar. A chapa do PMDB, comandada por Luiz Fernando Pezão, vai encarar na opinião pública o passivo deixado para o governo do Estado pelas manifestações de junho de 2013 e pelo movimento "Fora, Cabral". O próprio Cesar Maia tem rejeição alta, sobretudo no eleitorado da capital. Não é possível determinar se e até onde esses problemas contaminarão Pezão e Aécio; mas o risco existe.

Já Campos tem no Rio um PSB pequeno e desidratado por defecções. Arrisca-se a ver seu partido ofuscado pelo PT e a perder mais do que ganhará com a coligação formada a partir da desistência de Miro Teixeira (PROS).

Feitas as contas, o grande beneficiário da "bacanal" política será seu principal promotor. Com a dissolução, no Rio, de fronteiras entre apoiadores e opositores do governo federal, Cabral evitará uma possível derrota. E, se Pezão vencer, o ex-governador poderá se apresentar como vitorioso e até falar em disputar a sucessão de Paes em 2016.

PSB em Minas faz primeira reunião sobre eleições

• Segundo o presidente do diretório local, encontro servirá para 'fechar alianças'; definição sobre posição da sigla no Estado deve sair só na sexta

Suzana Inhesta - Agência Estado

O PSB de Minas Gerais realiza nesta terça-feira, 24, sua primeira reunião para discutir o rumo do partido nas eleições deste ano. O presidente do PSB-MG, Julio Delgado, em sua página na rede social Facebook, afirmou que a comissão definida na convenção realizada no último sábado, 21, irá se reunir nesta terça para "fechar as alianças".

O grupo inclui sete membros da executiva estadual e mais nove integrantes da legenda, incluindo representantes setoriais e lideranças como o presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil, que está entre os cotados para disputar uma vaga de deputado federal, e o presidente do diretório municipal de Belo Horizonte, João Marcos.

No encontro a ser realizado no final da tarde, ainda sem horário definido, porém, ainda não sairá uma decisão sobre qual posição o PSB vai ter nas eleições estaduais, conforme disse ao Broadcast Político, serviço em tempo real da Agência Estado, o secretário-geral do PSB-MG, Laudo Natel. Segundo ele, as diversas situações serão discutidas, inclusive alianças majoritárias, proporcionais e a tese de candidatura própria, mas que a decisão pode sair na sexta, 27, véspera da realização da convenção nacional do partido, em Brasília (DF).

Na convenção mineira, apenas o nome do presidente de Julio foi apresentado como pré-candidato, após a desistência do ambientalista Apolo Heringer, porta-voz do Rede no Estado, de disputar a pré-candidatura. Na ocasião, Delgado comentou que está "ganhando tempo" porque "existem possibilidades outras" de aliança em Minas e outros estados que seriam afetadas caso o PSB mineiro já houvesse definição pela cabeça de chapa.

Ele não quis revelar quais são as "possibilidades" porque outras legendas ainda podem ser "aliciadas" por adversários. Há ainda uma vertente do partido que quer que o PSB volte o seu apoio ao PSDB no Estado, tirando mais um palanque estadual para o presidenciável Eduardo Campos e sua vice, Marina Silva.

Ainda na sua postagem no Facebook, Delgado comentou que a convenção de sábado "foi muito boa". "Mais de 400 militantes, de todas as regiões do estado de Minas Gerais participaram. Isso mostra que o PSB é um partido forte para as eleições deste ano e com isso, nosso candidato Eduardo Campos, vem mostrando, cada vez mais, seu trabalho".

Acordos nos Estados decepcionam e prejudicam, diz aliado de Marina

Cristiane Agostine – Valor Econômico

SÃO PAULO - Derrotado nas articulações eleitorais em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, o grupo ligado à ex-senadora Marina Silva intensificou os ataques às alianças estaduais do PSB e reforçou a divergência com a cúpula do partido. Para João Paulo Capobianco, um dos principais interlocutores de Marina, os acordos estaduais são "decepcionantes" e prejudicam a pré-candidatura à Presidência de Eduardo Campos (PSB).

"É decepcionante que isso esteja acontecendo. Tínhamos expectativa de um cenário diferente, com candidaturas fortes nos Estados, identificadas com o nosso projeto", disse Capobianco. "É uma pena que o PSB não perceba que é prejudicial para a campanha [nacional]", reclamou o aliado de Marina. "Falta palanque identificado com o nosso projeto nacional nos Estados".

Os aliados da ex-senadora, articulados dentro do grupo Rede Sustentabilidade, reclamam da aliança do PSB com o PSDB em São Paulo e com o PT no Rio de Janeiro. Em Minas, o diretório estadual impediu a candidatura de Apolo Heringer, apoiado por Marina, e estuda o apoio ao PSDB ou o lançamento do presidente do diretório, deputado Julio Delgado.

O grupo de Marina, no entanto, procurou minimizar o impacto das alianças estaduais sobre o projeto nacional do PSB e afirmou que essas derrotas não representam o enfraquecimento da ex-senadora nos rumos da futura chapa presidencial, da qual Marina participa como vice. A pré-candidatura à Presidência do PSB será oficializada no fim desta semana.

"Não pode haver confusão entre os descaminhos do PSB nos Estados e a candidatura nacional", declarou Capobianco. "Não temos o controle do partido. Não somos da Executiva. Acabamos de chegar. [As alianças estaduais] São uma opção equivocada que prejudica a campanha, a eleição, mas que não prejudica nossas propostas de modernização do país", afirmou.

Capobianco disse que desde a filiação do Rede ao PSB, no ano passado, a influência dos "marineiros" sempre foi vinculada aos rumos do projeto nacional do partido. "Isso está absolutamente preservado. O nosso programa de governo está sendo construído a quatro mãos", afirmou, referindo-se a Campos e Marina.

Porta-voz do Rede, Walter Feldman também procurou minimizar a perda de controle de Marina sobre as alianças feitas pelo PSB. "A campanha nacional não está vinculada às negociações estaduais", disse.

Amanhã, o grupo de Marina se reúne em São Paulo para articular uma candidatura própria ao Senado no Estado, desvinculada da chapa de apoio ao governador do Estado e pré-candidato à reeleição, Geraldo Alckmin (PSDB). O Rede estuda lançar Walter Feldman, tendo como suplente João Paulo Capobianco.

Seria uma forma de o Rede marcar posição em São Paulo, maior colégio eleitoral do país. Apesar de os marineiros desaprovarem a aliança com os tucanos, o diretório paulista aprovou por unanimidade o apoio ao governador, que tentará seu quarto mandato.

Comando da campanha à reeleição provoca fissuras entre petistas

César Felício e Vandson Lima – Valor Econômico

BRASÍLIA - A composição do comando das campanhas eleitorais da presidente Dilma Rousseff à reeleição e do ex-ministro Alexandre Padilha ao governo de São Paulo provoca fissuras dentro do PT. "É necessário abrir mais as direções das campanhas. Sem uma abertura maior, corremos o risco de errar", disse o deputado paulista Carlos Zarattini (SP), um dos poucos a falar abertamente sobre o tema.


A disputa interna ganhou velocidade depois das críticas feitas ao próprio partido pelo secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, em um evento com militantes e em entrevista ao jornal "Folha de São Paulo" publicada ontem. As declarações produziram mal estar. Para petistas afinados com o ministro, ao explicitar por meio da imprensa o diagnóstico de que não apenas a "elite branca" tem restrições ao PT, Gilberto Carvalho estaria buscando espaço na articulação das campanhas.

Hoje o núcleo do comando da reeleição é formado por Falcão, o tesoureiro da campanha, o deputado estadual Edinho Silva (SP), o ex-presidente do PT Marco Aurélio Garcia, o ex-ministro da Comunicação Social Franklin Martins, o marqueteiro João Santana, o ex-presidente do PT Marco Aurélio Garcia, o ex-chefe de gabinete de Dilma Giles Azevedo e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Este núcleo deve crescer nos próximos dias com a entrada de outras alas do petismo, de maneira a isolar Carvalho, segundo um dirigente aliado de Falcão. No novo formato, devem ganhar lugar na condução não apenas as correntes minoritárias do PT, como o grupo "Mensagem" ou a "Articulação de Esquerda", mas também dirigentes dos partidos aliados da candidatura presidencial, além de coordenadores regionais, como o ex-ministro e empresário Walfrido Mares Guia, de Minas Gerais.

De acordo com este dirigente aliado a Falcão, Carvalho vocaliza também o grupo que chamou de "viúvas do 'Volta Lula'": o dos defensores de uma nova candidatura de Lula ainda este ano, em lugar de Dilma. Debilitado pela recusa de Lula em entrar no processo, este grupo estaria interessado em criar o clima para que o assunto voltasse a ser discutido, de acordo com esta visão. Com a exclusão de diversas alas petistas da condução da campanha, o grupo ganhou aliados mesmo entre os que defendem a candidatura de Dilma desde o início.

Dentro da direção petista, há quem defenda a volta de um modelo como o do "triunvirato" que comandou a eleição de Dilma em 2010. O "triunvirato" era formado pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que foi chefe da Casa Civil de Dilma nos primeiros seis meses do governo; o atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo; e o então presidente petista José Eduardo Dutra, antecessor de Falcão, que renunciou ao cargo por motivos de saúde em 2011.

Gilberto Carvalho vem de uma matriz política dentro do PT oposta a de Rui Falcão. O ministro tem sua trajetória política ligada às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Igreja Católica. Entende que toda avaliação precisa ser construída a partir do que é colhido junto aos setores organizados. É historicamente o ministro de Dilma mais identificado com Lula. Disse em uma entrevista, no segundo dia do governo de Dilma, que o PT "tinha o Pelé no banco" em caso de dificuldades políticas de Dilma para se reeleger, em uma alusão ao ex-presidente.

Falcão é adepto da tese do partido forte e afeito à disputa interna, com as ações pensadas de dentro para fora. Deputado estadual em São Paulo em seu quarto mandato, chegou ao primeiro plano quando foi presidente do diretório municipal do PT paulistano em 1989, durante o governo de Luiza Erundina. Cinco anos depois, seria presidente do partido. Procurado pelo Valor , Falcão não foi localizado ontem para comentar o tema.

Nas palavras de um petista paulista próximo a Carvalho, o ministro estaria tentando, nas declarações públicas, mostrar que as críticas ao governo não são fruto apenas de um clima maniqueísta que contrapõe o PT contra "as elites".

O aumento da rejeição à presidente em São Paulo tornou mais carregado o clima dentro do petismo. "Existe um ambiente de unidade na militância, mas quando descemos ao eleitorado que tradicionalmente vota no PT, começamos a perceber um clima crescente de dúvida. Isso não se resolve apenas com leitura de pesquisas e discussões dentro de um pequeno grupo", comentou Zarattini.

Aécio acusa governo de querer acabar com FAT

Fernando Taquari – Valor Econômico

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG), acusou ontem o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) de querer acabar com o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), instituído na Constituinte de 1988.

O tucano criticou um suposto projeto de lei do governo federal para substituir o FAT, que seria renomeado de Fundo Nacional do Trabalho (FNT). De acordo com reportagem do jornal "O Estado de S.Paulo", a mudança tem como objetivo estancar o déficit bilionário registrado pelo fundo com a queda de arrecadação e o aumento das despesas.

"Há um movimento do governo, uma preparação avançado para que se acabe com o FAT. Eu fui constituinte em 1988 e essa foi uma das grandes conquistas da Constituinte", afirmou o tucano na chegada à sede da Força Sindical, na capital paulista, onde acompanhou o jogo entre a seleção brasileira e Camarões.

O governo, conforme a reportagem, pretende criar o Sistema Único de Trabalho (SUT) para fiscalizar práticas de trabalho e elaborar políticas públicas de emprego. O FNT seria o braço financeiro do SUT. "Essa proposta do governo de criação de um sistema único de trabalho tira a participação dos trabalhadores e até dos empresários na definição da destinação desses recursos do FAT", afirmou Aécio, classificando a medida de autoritária.

"Não houve a devida discussão. Grave. Já orientei minha bancada para ser opor a mais esse ato autoritário do governo".

Antes do início do jogo, o tucano foi questionado sobre qual seria o resultado da partida. Cauteloso, evitou dar um palpite, lembrando que no jogo anterior da seleção contra o México errou o placar. Mas manifestou confiança na vitória. "Vamos ganhar, sair em primeiro [do grupo]." Acertou. A vitória por 4 a 1 garantiu ao Brasil o primeiro lugar na chave A.

Dilma e PT agem para evitar novas defecções

• Após PTB mudar de lado e declarar apoio ao tucano Aécio Neves, campanha petista faz acenos a 5 siglas aliadas que farão convenções nos próximos dias

João Domingos - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Depois de ver o PTB debandar para a coligação do tucano Aécio Neves, o comando da campanha da presidente Dilma Rousseff quer evitar novas surpresas e fez um aceno aos cinco partidos da base que vão fazer convenções nos próximos dias. Eles receberam o recado de que, se reeleita, Dilma dará mais voz a essas legendas ressuscitando o Conselho Político, órgão formado pelas siglas aliadas criado por Luiz Inácio Lula da Silva e desativado pela sucessora.

Um primeiro sinal da presidente é que ela decidiu participar das convenções dos aliados nesta semana. O comando petista avalia que todos vão continuar com Dilma, mas alguns casos demandam mais atenção, em especial o PSD do ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab. Embora ele tenha reiterado apoio à reeleição, nos Estados a legenda tem se aproximado dos partidos de oposição, e esses diretórios gostariam que o PSD ficasse neutro na disputa nacional.

Aécio chegou a oferecer a vaga de vice para o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, aliado de Kassab, mas a proposta foi rejeitada. O PSD marcou para amanhã sua convenção nacional.

Na segunda-feira, será realizada a do PP. O presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PI), disse que a aliança com Dilma está garantida, apesar das pressões do grupo comandado pelo governador de Minas, Alberto Pinto Coelho, aliado de Aécio. "Nossa decisão já está tomada. Vamos juntos com a presidente Dilma", afirmou Nogueira.

Na sexta-feira, será a convenção do PC do B. Embora seja aliado tradicional do PT, o partido se queixa de não ter recebido apoio dos petistas na disputa pelo governo do Maranhão, onde lançou o ex-deputado Flávio Dino, e de ter perdido a legenda para o Senado no Ceará. Apesar disso, o PC do B continuará com Dilma.

Por fim, o PR, que também participa da base aliada do governo, deve confirmar na segunda a participação na coligação de Dilma. O partido realizou convenção no sábado e rejeitou a candidatura própria do senador Magno Malta (ES). No entanto, caberá à Executiva do partido a decisão final sobre manter a parceria com o PT ou não.

A situação mais tranquila é a do PROS, que hoje vai aprovar o apoio à reeleição de Dilma. Dos principais partidos, o PT já recebeu apoio do PMDB, mas foi surpreendido na semana passada pela mudança de lado do PTB.

Dissidência. A perda do PTB para Aécio deixou os petistas incomodados, mas eles não são os únicos. Parlamentares do próprio partido - comandado à distância pelo ex-deputado Roberto Jefferson, delator do esquema do mensalão e condenado pelo Supremo Tribunal Federal -, se queixam de não terem sido ouvidos pelo atual presidente da sigla, Benito Gama.

"Recebemos a mulher na nossa casa, declaramos apoio e, de repente, essa mudança sem a gente ser consultado? Isso é muito ruim", disse o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO). No dia 21, Dilma almoçou com a cúpula do PTB e ouviu dos dirigentes que o partido apoiaria sua reeleição. No sábado, Benito Gama declarou a adesão a Aécio, alegando divergências nas alianças estaduais com o PT.

Falta fechar

PR - Convenção delegou à cúpula a decisão sobre apoio a Dilma. Martelo será batido na segunda.

PROS - Convenção é hoje e deve confirmar apoio a Dilma, mas tem nós a desatar, em especial no Ceará.

PSD - Convenção é amanhã e a tendência é confirmar apoio a Dilma. Na maioria dos Estados, porém, partido ficará com a oposição.

PC do B - O tradicional aliado deve confirmar apoio a Dilma em convenção marcada para sexta.

PP - Convenção é na segunda. Há resistência quanto à aliança com Dilma, principalmente em Minas e no Rio Grande do Sul, mas cúpula diz que manterá o apoio.

Serra lança autobiografia sobre o golpe de 64 e a vida no exílio

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Autobiografia que tem como pano de fundo o golpe de 64 e a ditadura que se instalou no Brasil, o livro "Cinquenta Anos Esta Noite" (Record, R$ 35, 266 págs.), de José Serra, será lançado nesta terça-feira (24), às 18h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo (SP).

A obra abrange o período de 1963 a 1977 e descreve os acontecimentos do ponto de vista do então presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) que, em 1964, convocou o povo à resistência contra o golpe.

Numa época em que a entidade tinha um peso político muito maior, seu líder, um estudante de engenharia e agitador da socialista cristã AP (Ação Popular), escapou da repressão exilando-se no Chile --e depois, com o golpe do ditador Augusto Pinochet, nos EUA. Foram 13 anos vivendo fora do Brasil.

Ex-ministro da Saúde do governo FHC, Serra já foi prefeito de São Paulo (2004-2006), governador de São Paulo (2007-2010) e disputou a Presidência da República em 2002 e 2010 pelo PSDB.

*José de Souza Martins: Fé no poder

• Religiões se tornaram avalistas de políticos e partidos que não confiam no discernimento dos brasileiros

- O Estado de S. Paulo / Aliás

Recomeça entre nós o ciclo do aliciamento eleitoral das religiões tendo em vista as próximas eleições. Os religiosos que barganham politicamente a fé de membros de suas igrejas abusam da fé e fingem que se trata de trabalho missionário. No Getsêmani da política brasileira o galo não canta apenas três vezes, nem o mentiroso é um só. Satanás mobiliza cúmplices e banaliza a fé. Está na informalidade do calendário eleitoral paralelo.

Uma das grandes anomalias do processo político pós-ditatorial tem sido a transformação das religiões em avalistas de políticos e de partidos que não confiam no discernimento do povo e o temem. É o que subtrai do eleitor o direito de decidir conscientemente em quem votar e em que partido político confiar. A política brasileira tem sido cada vez mais política de usufrutuários de currais eleitorais de uma nova política de cabresto que mutila a concepção de cidadania, viola os princípios do regime republicano e coloca a sociedade inteira de joelhos. Igrejas e religiões têm sido cúmplices dessa usurpação. Os danos à democracia e ao regime republicano são imensos. Fala-se muito em corrupção, mas não se fala no envolvimento partidário das religiões como outra e perversa forma de corrupção, enquanto roubo da consciência política dos votantes. A fé deveria ser para iluminar e não para enganar.

Reflexos dessa deturpação já são visíveis na apelação de baixo nível em que partidos difamam os adversários para se acobertarem. Fazem-se de santos. É o retorno ao maniqueísmo deturpante que preside a política brasileira desde os pródromos das eleições presidenciais de 2002. Desde então somos dominados pelo autoritarismo de um pensamento político binário: uma cara para o diabo e outra para o povo. O País foi engolido pela farsa ideológica de que o que somos e o que expressa nosso querer político está nas polarizações, amor e ódio, pobres e ricos, negros e brancos, incultos e cultos. Isso é falso. Ninguém diz que o objetivo desse binarismo não é combater o ódio, mas disseminá-lo como motor do processo político.

Sem dúvida, este é um país que tem ricos muito ricos e pobres muito pobres. Mas tem também uma multidão distribuída por diferentes graus da classe média. Este ainda é o país da ascensão social. Basta que cada um compare o que é com o que seus avós foram. É um país de mestiços, mais do que um país de brancos e negros. Um país singular em que muito negro é branco e muito branco é negro. É também inútil teimar na tese reacionária de que há mérito em não ter estudado. É evidente que não há demérito em não ter tido acesso à escola: há injustiça. Ser culto, em qualquer lugar do mundo, é mérito e virtude, não defeito. Ironizar o diploma e a formação universitária é expressão de ignorância.

Essa mentalidade de botequim também se imiscui nas religiões para nelas infiltrar o binarismo diabólico. Para fazer supor que o incréu que na missa copia gestos dos vizinhos, ou no culto fecha os olhos, é pessoa de Deus. Pessoas de Deus não precisam fingir nem mentir. Igreja de comício é mero instrumento da mesma lógica da polarização: para os políticos que se locupletam do púlpito, fingir é mais importante do que ser. A difamação do adversário completa esse quadro. Estamos sendo empurrados para o falso confronto dos defeitos e não para o verdadeiro confronto dos méritos. Uma cultura intolerante e fascista se apossa de nossos direitos políticos e nos transforma no rebanho carneiril que decidirá não decidindo. Se isso não é ditadura, francamente, já não sei o que o é.

Uma das grandes conquistas do regime republicano brasileiro foi ter introduzido na Constituição de 1891 o princípio, que se repetiu nas Constituições subsequentes, da separação entre o Estado e as religiões. A medida foi altamente benéfica para as igrejas, que puderam devotar-se estritamente à prática religiosa, os devotos exercitando plenamente a liberdade de crença. Foi particularmente benéfica para a Igreja Católica Apostólica Romana. Até então, bispos e padres eram praticamente funcionários públicos, recebiam a côngrua, pagos pelo governo. De vários modos tinham que pedir a bênção às oligarquias, aos grandes senhores de terra e de escravos. Era o governo que nomeava os bispos. O Estado crucificava Cristo todos os dias em nome das conveniências dos poderosos. A República libertou a Igreja Católica dessa servidão e Deus mesmo ficou livre das manhas da dominação prepotente e interesseira.

Agora, com a transformação do púlpito de diferentes igrejas e religiões em palanque de comício eleitoral ou de encabrestamento do voto, a política coloca de novo o cabresto das disputas eleitorais e do poder no Cristo crucificado para que, em vez do sangue da redenção, verta votos para quem, por fazê-lo, certamente, não merece semelhante sacrifício. Mérito político só existe na decisão racional e soberana do eleitor na hora de votar, sem cabresto, livre da dominação daqueles que, fingindo religiosidade, só têm fé no poder.

*José de Souza Martins é sociólogo. Professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Entre outros livros, autor de 'A política do Brasil Lúmpen'

Merval Pereira: Administrar o tempo

- O Globo

A uma semana do prazo final para a definição das candidaturas para a eleição deste ano, quem soube administrar melhor o tempo de decisões, uma arte da política, levou vantagem na armação das coligações. No lado da oposição, o PSDB saiu na frente do PSB nesta primeira etapa da disputa, muito porque o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos perdeu tempo administrando sua relação com a Rede de Marina Silva.

A união com a ex-senadora pareceu, no primeiro momento, uma jogada de mestre de Campos para fortalecer a oposição, mas, com o passar do tempo, Marina mostrou-se mais isolacionista do que Campos se dispunha a ser. Marina levou o PSB a se colocar como oposição tanto ao PT quanto ao PSDB, na tentativa de marcar uma diferenciação entre as candidaturas de Campos e Aécio e quebrar a polarização dos dois principais concorrentes à Presidência.

A estratégia não funcionou, muito também porque Campos escolheu a posição dúbia de centrar suas críticas à presidente Dilma e preservar o ex-presidente Lula, o que retirou de sua candidatura a marca de oposicionista, deixando o PSDB de Aécio livre nessa raia.

A união implícita do PSB com o PSDB caracterizava a candidatura de Campos na área oposicionista, e o potencial apoio recíproco no segundo turno fortalecia ambas as candidaturas. Na análise dos tucanos, Campos “piscou” muito cedo ao se colocar também como oposição ao PSDB, e deixou crescer a impressão de que poderia ser um aliado em potencial do PT no segundo turno, devido à sua ligação com Lula.

O ex-presidente também ajudou a colocar Campos na defensiva ao dizer que ele não podia exagerar nas críticas, porque, até pouco tempo, estava no campo governista. Lula, como já fizera anteriormente com José Serra, deixou sempre claro que sua candidata era Dilma, retirando a chance de que petistas descontentes encontrassem na candidatura de Campos uma alternativa na área de influência petista.

O receio de ficar sem identidade diante do eleitor confirmou-se com a queda nas pesquisas. Por isso, nas últimas semanas, Campos voltou ao ponto de partida para fazer alianças pragmáticas, como as que fechou em SP, apoiando o governador Geraldo Alckmin, e no Rio, em apoio à candidatura de Lindbergh Farias, do PT, ao governo do estado, contra a opinião de Marina.

O que perdeu em coerência ganhou em apoio político em dois dos principais colégios eleitorais do país. Em Minas, é possível que acabe mesmo apoiando a candidatura tucana de Pimenta da Veiga, como era o plano original. Já Aécio Neves conseguiu o que era considerado impossível: unir o PSDB.

Por incrível que pareça, o PSDB hoje é o único partido na disputa unido em torno da candidatura do senador mineiro, inclusive a regional paulista do partido. A administração inteligente do tempo partidário deu frutos, com a adesão do PTB à candidatura nacional e o acordo com o DEM no Rio para apoiar a candidatura de Pezão, do PMDB, ao governo do estado.

Deixando as convenções para o último dia do prazo oficial, Aécio ganhou tempo para negociar apoios e ainda espera duas novas defecções no bloco governista. A adesão do PSD, que seria a cereja no bolo com a indicação de Henrique Meirelles para a vice-presidência na sua chapa, parece difícil de se concretizar, mas é possível que o PP se decida pela neutralidade, o que tiraria alguns minutos da propaganda de Dilma.

A presidente, por sua vez, tem como seu grande apoio Lula, que traz com ele a expectativa de poder que mantém unida a maioria dos partidos da base aliada. Mas, se não reverter a situação de declínio em que se encontra nas pesquisas, mesmo estando à frente da disputa, pode ser simplesmente abandonada por seus aliados durante a campanha eleitoral.

A maioria deles entra dividido na campanha, mesmo os que oficialmente apoiam sua reeleição, até o PT, que tem em Lula seu candidato natural. O PMDB já tem dissidências abertas em vários estados. A maioria do PSD está em coligação com o PSDB nos estados, e somente a garantia pessoal do criador do partido, o ex-prefeito Gilberto Kassab, mantém o apoio oficial à reeleição de Dilma. O PP, mesmo que dê o tempo de propaganda ao PT, continuará dividido.

O que os une é a expectativa de vitória, que, mais que nunca, Lula mantém viva no banco de reservas, como principal cabo eleitoral de Dilma, ou, em último caso, como muitos ainda sonham, esperança de gol nos minutos finais do jogo, como Messi fez com a Argentina.

Dora Kramer: Tiroteio a esmo

- O Estado de S. Paulo

A julgar pelos discursos dos três oradores que importavam na convenção nacional do PT - considerando que Michel Temer estava ali por honra da firma -, Rui Falcão, Luiz Inácio da Silva e Dilma Rousseff, por ordem de entrada em cena, o partido ainda não chegou a um acordo sobre qual a abordagem mais eficaz junto ao eleitor de 2014.

Cada qual foi numa direção diferente, não raro dizendo uma coisa em oposição a outra. Um exemplo: Falcão, o presidente do partido, avaliou que essa será a eleição mais difícil que o PT já enfrentou e pregou a guerra contra a oposição "homofóbica, odienta e fundamentalista".

Lula, o presidente de honra, afirmou que é preciso parar de dizer que a eleição será difícil; Dilma, presidente da República, pregou uma campanha "da paz", sem rancor. Eram três personagens encarnando três papéis diversos no palco. Sim, são pessoas diferentes, mas do roteiro de um partido que procura um mesmo objetivo espera-se ao menos unidade de pensamento. Não foi o que se viu no último sábado.

Rui Falcão entrou para, como se dizia antigamente, botar fogo na roupa, fazer do ressentimento um motor do entusiasmo genuinamente inexistente pela candidata. O que faltava de ardor por Dilma sobrava no clamor do grito "mídia fascista, sensacionalista", quando Falcão apontou os meios de comunicação como "arautos do mau humor que levam o negativismo para dentro da casa do povo".

Pode-se argumentar que o objetivo era mobilizar a militância. Dois problemas nesse argumento. Primeiro, o pequeno número de militantes ali presentes, devido à opção de fazer uma convenção em recinto acanhado, com a finalidade principal de produzir cenas para o programa de TV. Não seria dali que sairiam hordas de guerreiros.

Segundo problema: as propostas apresentadas como palavras de ordem para a militância são de fato palavras ao vento - por inexequíveis -, e a direção partidária sabe disso. Falou-se no plebiscito para a reforma política por meio de Constituinte exclusiva, marcando até data, 7 de setembro próximo - sugestão já devidamente morta e enterrada.

Voltou-se a falar na "democratização dos meios de comunicação", sabendo-se que tal proposta não tem aceitação entre nenhum dos partidos com representação no Congresso além do PT. Ou seja, convidou-se a militância a enxugar gelo.

Em seguida, falou Lula. Uma apoteose. Ali se viu quem o partido queria realmente como candidato, a quem o PT segue e venera. Foi o Lula de sempre, das metáforas, da quase lógica, da mistura de alhos com bugalhos, das mistificações, mas um exímio animador de auditórios.

Ao fim e ao cabo ficou a impressão de que vai jogar na tese de que inventou o Brasil Maravilha e que a ele os brasileiros devem toda sua gratidão. Além de dizer que a eleição não será assim tão difícil, mas "sui generis", avisou aos adversários "que se preparem", pois o PT se elegeu primeiro por quatro anos, depois por mais quatro e mais quatro, "e pode ficar no poder até a metade do século 21". Deve ter um plano e, pelo jeito, passa pela máquina do Estado.

Para encerrar a convenção, a presidente Dilma. Em ritmo de anticlímax, com um discurso cansativo que provocou dispersão na plateia e visível tédio em petistas sentados às duas mesas montadas no palco. Contrariando o tom dos antecessores e a própria personalidade, acenou com a "paz". Por uma hora enumerou seus feitos naquele conhecido tom maçante. "Produção de conteúdo para o horário eleitoral", justificava a assessoria. Mas, se aborreceu os correligionários ao ponto de enrolarem suas bandeiras, deixarem o recinto para lanchar ou comprar na lojinha do PT nas salas ao lado e os que ficaram preferirem conversar, esse conteúdo é capaz de não entusiasmar muito o eleitorado.

Ao contrário, porém, do "jingle" da campanha, "Coração valente", um forrozinho bom que só.

Eliane Cantanhêde: Abre o olho, Dilma!

- Folha de S. Paulo

Em plena Copa, Dilma toma uma bola nas costas atrás da outra. A convenção do PT foi driblada pela deserção do PTB e depois por uma jogada bem ensaiada de Aécio com Cabral e Pezão no Rio. O "Aezão" agora é orgânico.

Assim, Dilma divide seus palanques no Rio com Aécio, que lhe roubou o PMDB, e com Eduardo Campos, que lhe subtraiu uma fatia da campanha do petista Lindbergh Farias.

Ela não vai repetir o passeio de 2010 no Rio e em Minas e vai ter de suar a camisa em São Paulo. Confirmam-se as dificuldades da petista no "Triângulo das Bermudas", ou "grupo da morte", com cerca de 40% dos votos nacionais.

Isso reforça a sensação de fragilidade que vai se generalizando ou, como disse o lulista Gilberto Carvalho, "a coisa desceu, vai gotejando". Na dúvida, basta olhar os aliados do PT e ver para onde eles vão.

O PTB escancarou sua posição e o PMDB se mexe sorrateiramente rumo à oposição. Garantiu a Vice-Presidência para Michel Temer, mas liberou os pemedebistas para fazer o que bem entenderem nos Estados. Muitos deles estão entendendo que o mais conveniente é partir para outra.

Além do Rio, isso se reflete em outros Estados chaves, como Bahia e Rio Grande do Sul. E quer dizer muita coisa, principalmente a irritação com a vocação hegemônica do PT e a falta de confiança nas chances de vitória de Dilma.

Com esses dois argumentos, líderes do PSD pressionam Gilberto Kassab para que o partido opte pela neutralidade. Ele parece irredutível, mas perdeu o rumo sem a vaga de vice de Alckmin e foi à convenção do PT rapidinho, só a tempo de ser vaiado.

À Folha Gilberto Carvalho fez um diagnóstico realista sobre o clima negativo, que Lula quer enfrentar com a "adrenalina" da militância. Tempo de TV ajuda, mas não resolve, e marketing é científico, não faz milagres. Aliás, o slogan é reconhecimento das dificuldades: Dilma candidata das "mudanças"? Não cola.

Luiz Carlos Azevedo: Salve-se quem puder

- Correio Braziliense

A reta final das articulações eleitorais, em meio aos jogos da Copa do Mundo, virou um salve-se quem puder. Quem mais sofre com a situação é a presidente Dilma Rousseff, com defecções na sua base de governo por causa dos crescentes conflitos nos estados entre o PT e seus aliados, principalmente o PMDB. O caso mais espetacular é o do Rio de Janeiro, onde instalou-se um verdadeiro vale-tudo entre dois dos principais partidos da coligação governista.

O senador Lindbergh Farias (PT), candidato ao governo fluminense, cedeu a vaga ao Senado para o deputado Romário (PSB), que apoia Eduardo Campos, o candidato de seu partido à Presidência. Em resposta, o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) desistiu da candidatura ao Senado e entregou sua vaga ao ex-prefeito carioca Cesar Maia (DEM), embarcando na candidatura de Aécio Neves (PSDB), embora o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) ainda diga que o seu palanque é de Dilma Rousseff (PT).

A reviravolta na política fluminense ocorreu depois de o deputado Miro Teixeira (Pros), apoiado por Eduardo Campos, desistir de sua candidatura a governador. Sem alternativa no estado, os socialistas decidiram dividir o palanque com os petistas. O PPS, que deveria apoiar Campos no estado, já estava aliado ao PSDB de Aécio e, com a decisão, deve embarcar de vez na candidatura de Pezão.

Nem o cronista carioca Stanislaw Ponte Preta, autor do fabuloso Febeapá (Festival de Besteira que Assola o País) e do Samba do Crioulo Doido, seria capaz de prever a repentina aliança de Cabral com o desafeto Cesar Maia, que dias antes havia espinafrado sua administração no programa de tevê do DEM. Quem mais está esperneando é o prefeito Eduardo Paes (PMDB) — criatura lançada por Maia na política, mas hoje rompida com o criador. Soltou nota criticando a aliança espúria e já está com um pé fora do PMDB, que é a quinta legenda à qual se filiou.

No Rio de Janeiro, o protagonismo do PMDB e do PT contrasta com a situação eleitoral desfavorável de seus candidatos. Segundo o Ibope, em pesquisa encomendada pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro e realizada entre 7 e 11 de junho, o pré-candidato do PR, o ex-governador Anthony Garotinho, lidera a disputa com 18% das intenções de voto. O senador e ex-ministro Marcelo Crivella (PRB) é seu principal concorrente, com 16%. Ambos são aliados de Dilma. Pezão tem 13% e Lindbergh, 11%. Em quinto, aparecia Cesar Maia (DEM), com 8%. Miro Teixeira (Pros), que desistiu da candidatura, e Tarcísio Motta (PSol) tinham 1% cada.

Esse vale-tudo eleitoral parece incomodar uma parcela expressiva dos eleitores do Rio de Janeiro. É alta a proporção dos que, a três meses e meio da eleição, pretendem votar em branco ou nulo: 27%. Não é à toa também que, à exceção de Crivella, todos os candidatos têm rejeição maior do que a intenção de voto. Garotinho está em primeiro, com 32% de entrevistados que não votariam nele em nenhuma hipótese. Cesar Maia é rejeitado por 24%; Pezão por 18%; e Lindbergh por 14%. Essa tendência também se reproduz em outros estados.

Sonháticos e pragmáticos
Com dificuldades para viabilizar palanques próprios no chamado Triângulo das Bermudas — Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais —, o candidato do PSB, Eduardo Campos, liberou a legenda para fazer o que quiser nos estados, desde que garanta espaço para sua campanha. O objetivo é não atrapalhar a eleição de senadores e deputados. Com isso, a construção de uma "terceira via" a partir de "alianças programáticas", como exigiam os "sonháticos" de Marina Silva, foi para o beleléu.

A guinada começou com a indicação do vice do governador tucano Geraldo Alckmin, em São Paulo, como queria o deputado federal Márcio França (PSB), candidato a vice na chapa tucana. O próximo passo será o apoio à candidatura de Pimenta da Veiga, do PSDB, em Minas, com a retirada do nome do deputado Júlio Delgado (PSB), em troca da manutenção do apoio do PSDB ao candidato a governador de Eduardo Campos em Pernambuco, o ex-secretário de Fazenda do estado Paulo Câmara. Os tucanos ameaçam lançar um candidato próprio, o deputado Daniel Coelho, se o PSB apresentar candidato em Minas.

Os conflitos entre "sonháticos" da Rede e os quadros históricos do PSB acabaram inviabilizando palanques alternativos para a dupla Eduardo Campos e Marina Silva. É o caso do Tocantins, onde Marina Silva apoia o procurador licenciado Mario Lúcio Avelar (PPS), mas o PSB fechou com o grupo do ex-governador Siqueira Campos, que renunciou ao mandato e apoia o governador biônico Sandoval Cardoso (SDD), eleito pela Assembléia Legislativa, que concorrerá a reeleição. Às vésperas de completar 86 anos, Siqueira controla o estado desde sua fundação, há 25 anos, e tem conexões em todos os partidos, a ponto de o PMDB intervir na seção regional para garantir a candidatura da senadora Kátia Abreu ao governo.

Raymundo Costa: São Paulo é o campo de batalha decisivo

• PT tenta recuperar terreno onde sua rejeição é maior

- Valor Econômico

No fim do ciclo das convenções, o PT identifica no Estado de São Paulo a maior ameaça a dois de seus principais projetos eleitorais neste ano: reeleger a presidente Dilma Rousseff e interromper a sequência de quase 20 anos de governos do PSDB no Palácio dos Bandeirantes.

É um dos piores momentos do PT em São Paulo, onde se concentram 22% dos eleitores do país. Quase um quarto do total. A rejeição da presidente, no Estado, é recorde, segundo as pesquisas. Nas simulações de segundo turno, ela perderia até de Eduardo Campos (PSB), o terceiro colocado na corrida presidencial. O candidato ao governo, o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, mal chega aos 5% das intenções de voto.

Dirigentes petistas tentam decifrar o fenômeno e descobrir como enfrentá-lo. O problema seria a falta de investimentos federais em São Paulo? Não, a contabilidade do governo federal indicaria que eles são defensáveis. Foi o mensalão? Também não porque, em meio a quase um semestre inteiro de julgamento da Ação Penal 470, em 2012, o partido venceu as eleições para as principais cidades.

Não foi o mensalão, só. Mas a questão ético-moral é preponderante no estado de espírito dos paulistas em relação ao PT, conforme registram as pesquisas feitas para o uso partidário.

Pesou muito mais a prisão de vistosos dirigentes do PT, como o ex-ministro José Dirceu e o ex-deputado José Genoino. Os dois já comandaram o partido; foram presidentes do PT e candidatos ao governo de São Paulo. Somem-se a isso os escândalos na Petrobras, o doleiro Alberto Youssef e relações perigosas com a facção criminosa PCC.

Na conta do desgaste do PT em São Paulo entra também Fernando Haddad, um prefeito que não chegou a se firmar.

Depois de um fim de semana de reuniões, após a convenção que sacramentou o nome de Dilma à reeleição, dirigentes petistas concordaram que é necessário estabelecer um diálogo entre as campanhas da presidente e do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha. Uma agenda comum será elaborada, e Dilma reforçará sua presença em São Paulo - sem candidato a presidente da República pela primeira vez desde a redemocratização, o Estado virou território da disputa de PT, PSDB e PSB.

O discurso para São Paulo não é o de mais investimentos federais, segundo as campanhas, mas moral e ético. Estuda-se a apresentação de um projeto de desenvolvimento econômico-social para o Estado.

Trata-se de uma agenda a ser cumprida já agora, no que o PT chama de "travessia do deserto", o período que vai do início de julho até o início da propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Não se espera que Padilha cresça nas pesquisas durante esse intervalo; acredita-se que Dilma pelo menos se estabilize, conforme sugerem pesquisas internas.

Devido às circunstâncias, uma nova data foi acrescentada ao calendário eleitoral: 13 de julho, o dia seguinte ao jogo final da Copa do Mundo. O partido reagirá à ação dos adversários, mas prepara-se para o que já é chamado de "a ressaca da Copa".

No núcleo duro das duas campanhas espera-se por uma reversão de expectativa em relação à Copa do Mundo. O raciocínio: nos últimos meses foi disseminada a impressão de que a organização da Copa seria um desastre, nada daria certo. E isso contaminou o humor da opinião pública, especialmente a de São Paulo, que já não era das melhores em relação à presidente, ao prefeito da capital e ao PT.

A pergunta a ser respondida é: se a Copa for um sucesso, o mau humor da opinião pública em relação ao PT, à presidente da República e a seu candidato em São Paulo vai mudar? E se a seleção brasileira não for campeã? As campanhas preparam-se para as duas hipóteses, embora a torcida seja para que a eventual mudança de humor se reflita na avaliação que o eleitor no momento faz do partido.

Se a conjuntura evoluir de acordo com o panorama visto da ponte petista, há um vasto espaço a ser preenchido por seus candidatos em São Paulo.

O patrimônio do PT é de 25% entre os eleitores que declaram preferência partidária no Estado. Na capital esse percentual é maior, estimado em um terço dos eleitores. Pelo menos 45% dos paulistas moram em cidades governadas pelo PT, prefeitos escolhidos nas eleições de 2012.

O PT levou São Paulo, São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá, Guarulhos, Osasco, São José dos Campos, entre outras - cidades que representam cerca 60% do PIB de São Paulo. Não é pouca coisa. Sobretudo quando se leva em conta que Padilha é um desconhecido, não chega a 25% o índice de paulistas que já ouviram falar dele, segundo as pesquisas do PT.

O PT também levou seus candidatos para o segundo turno nas três últimas eleições para o governo de São Paulo. Na última delas, em 2010, o hoje ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, teve mais de 35% dos votos e por pouco não vai ao segundo turno com o PSDB.

Na campanha de Padilha já não há dúvida: Dilma precisa de uma candidatura forte do PT em São Paulo. O empresário Paulo Skaf (PMDB) é um fenômeno passageiro porque disputou a última eleição para governador e passou os últimos quatro anos em evidência com o uso do Sistema S, trincheira que usou para combater o governo federal na batalha pela a prorrogação do imposto do cheque - e na cidade de São Paulo, contra a proposta de aumento do IPTU.

A equação da presidente em São Paulo é complexa: ter um candidato forte do PT ao governo do Estado e cuidar de Paulo Skaf, candidato do vice Michel Temer e nome que pode apoiar no segundo turno, e de Geraldo Alckmin. Não são poucos os palanques Dilma-Alckmin que se formaram no interior.

As candidaturas da presidente Dilma Rousseff e Alexandre Padilha são indissociáveis, além de suas afinidades eletivas. A presidente precisa virar o jogo e ter um bom desempenho em São Paulo. Do contrário, não bastará uma boa vitória no Nordeste, uma vez que ela deve perder em Minas Gerais (o segundo maior colégio eleitoral) e no Rio de Janeiro, como demonstram as alianças locais de última hora, não é confiável.

Soberba e populismo: O Estado de S. Paulo- Editorial

Há uma característica peculiar no DNA do PT que tem dificultado a articulação de alianças em torno da candidatura de Dilma Rousseff à reeleição: a soberba. A arrogância do comando lulopetista, que posa de monopolista da virtude e despreza os aliados porque age por puro fisiologismo, tem sido responsável por importantes reveses nesta pré-campanha eleitoral. O mais recente é a decisão do PMDB fluminense de apoiar a candidatura de Aécio Neves à Presidência em dobradinha com a do governador Luis Fernando Pezão à reeleição.

A dissidência do PMDB fluminense não se enquadra exatamente na galeria dos episódios louváveis que honram a política brasileira. É pura e simplesmente o desdobramento do toma lá dá cá que o PT não inventou, mas empenhou-se diligentemente em aperfeiçoar ao longo de quase 12 anos no poder.

Desde a eleição ao governo estadual do peemedebista Sérgio Cabral em 2006, coerente com a orientação da direção nacional do partido, o PMDB fluminense e o governador em particular posicionaram-se com armas e bagagens no séquito de Luiz Inácio Lula da Silva. A ligação entre Lula e Cabral parecia tão sólida que este chegou a sonhar, em 2010, em ser o vice de Dilma Rousseff. Teve de se contentar com a candidatura à reeleição.

Mas a decepção definitiva de Cabral veio quando, em vez de honrar a aliança apoiando o candidato dele à própria sucessão, o PT optou por aceitar o fato consumado da candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo do Estado, até porque a popularidade de Cabral caíra vertiginosamente, contaminando a de Pezão. Agora, Cabral e o PMDB fluminense dão o troco. Oficialmente, Pezão e Cabral continuarão apoiando Dilma. Mas a poderosa máquina política do PMDB fluminense vai trabalhar por Aécio Neves.

Às más notícias no plano das alianças eleitorais a soberba lulopetista parece disposta a responder com mais do mesmo, a julgar por tudo que foi proclamado na convenção nacional que confirmou a candidatura de Dilma à reeleição. A começar pelo fato de que a presidente está agora oficialmente enquadrada, pela proverbial imodéstia de Lula, na condição subalterna de "criatura" do Grande Chefe.

A insatisfação generalizada dos brasileiros com a qualidade dos serviços públicos se manifesta vigorosamente nas ruas. Mas Lula, Dilma e o PT se gabam de terem inventado um novo país, criando uma nova realidade nacional de desenvolvimento econômico e conquistas sociais. Estariam plenamente credenciados, portanto, a se lançarem à campanha eleitoral com o apelo à continuidade das fantásticas realizações com que mudaram para melhor a face do País. Mas como não podem ignorar que os brasileiros não estão lá muito satisfeitos com o que veem e, principalmente, sentem, é melhor ir de "mudança". Aliás, "mais mudança", porque, afinal, o estoque de promessas não cumpridas está longe de se esgotar.

O pior é que as principais novidades das "mudanças" apontam na direção do retrocesso. Apesar de terem repudiado o "ódio" revelado pela "elite branca" contra Dilma no lamentável episódio da abertura da Copa do Mundo, o discurso petista continuará focado no estímulo à cizânia nacional, à divisão dos brasileiros entre "nós" e "eles", agora com uma pegada mais "esquerdista" que procurará dar destaque à necessidade do "controle social da mídia" e de uma reforma política destinada não a aperfeiçoar o sistema democrático a serviço de uma sociedade pluralista, mas a consolidar a hegemonia da nomenklatura petista. Não é outro o objetivo do decreto que, a pretexto de "regulamentar o texto constitucional", pretende aparelhar a estrutura do Poder Central com "conselhos populares" manipulados pelo Planalto.

E todo esse conteúdo "popular" se derramará na campanha petista, embalado pela demagogia dos chavões populistas que durante a convenção de sábado Dilma leu no teleponto: "Recolhamos as pedras que atiram contra nós e vamos transformá-las em tijolos para fazer mais casas do Minha Casa, Minha Vida. Vamos recolher os xingamentos, os impropérios e as grosserias e transformá-los em versos de canções de esperança no futuro do Brasil".

A soberba afasta aliados. A demagogia populista nem sempre atrai eleitores.