segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Reflexão do dia – Alberto Aggio

“Nossa hipótese parte do seguinte pressuposto: se a democracia parece-nos inconclusa e incompleta — talvez porque, de alguma forma, ela sempre o será —, especialmente na sua dimensão social, a nossa república, a despeito de todas as nossas incertezas, parece viver um momento de vigorosa ampliação, dando sinais de que acompanhará, ainda que não no mesmo ritmo, os passos do exitoso movimento de estabelecimento das bases materiais proporcionada pela dinâmica do capitalismo que aqui vem se estabelecendo. Conscientemente ou não, nós brasileiros avançamos para uma situação na qual, repito, somos livres como nunca, ainda que desiguais como sempre, porém mais fraternos. Esses são os termos na nossa hipótese”.


(Alberto Aggio, no ensaio “Livres, desiguais, porém fraternos”)

Fernando Rodrigues:: Por enquanto, polarizou

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Brasília - A profecia se autocumpriu. Deu-se a polarização na disputa presidencial. José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) são os protagonistas, segundo a pesquisa Datafolha -de longe a mais completa sobre a sucessão presidencial de 2010, com 11.429 entrevistas, de 14 a 18 deste mês.

O tucano Serra venceria qualquer concorrente se a eleição fosse hoje. A petista Dilma consolidou-se em segundo lugar. A escolhida de Lula também ganha de todos na ausência de sua nêmesis paulista.

Definiu-se a eleição, então, entre PSDB e PT? Longe disso. O primeiro turno ocorre apenas em 3 de outubro. É impossível fazer previsões com tanta antecedência. Fatores imponderáveis -imprevisíveis, portanto- podem mudar tudo.

Em novembro, poucos previam o mensalão do DEM. Varreu-se do mapa em instantes a hipótese de esse partido continuar a sustentar sua tática neoudenista. Hoje, "mensalão" como discurso é um jogo zerado. PT, PSDB, DEM e tantos outros já têm o seu. Anulam-se.

Na sucessão presidencial, a longevidade da polarização tucano-petista dependerá da resiliência de seus atores principais. José Serra confrontará seu destino na última semana de março. É quando vence o prazo para se decidir se renuncia ao cargo de governador de São Paulo para disputar o Planalto.

Terá de optar entre uma reeleição quase garantida para o Palácio dos Bandeirantes e uma batalha dura pela Presidência da República.
Dilma Rousseff é a maior incógnita. Sua pontuação na pesquisa hoje deriva exclusivamente da inoculação da popularidade de Lula.
A ministra da Casa Civil nunca disputou uma eleição na vida. Acaba de enfrentar um câncer no sistema linfático. Ninguém sabe como reagirá à pressão diária da campanha.

Tudo considerado, Serra e Dilma polarizam hoje. Mas é impossível saber se vão se manter protagonistas até outubro de 2010.

Fernando de Barros e Silva:: A força de Lula

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O dado mais relevante do processo pré-eleitoral, nem sempre devidamente considerado, tamanha é a sua obviedade, é a força política do presidente da República. Sua face mais visível e mensurável está traduzida nos 72% de aprovação obtidos por Lula, recorde histórico registrado pelo Datafolha e divulgado por este jornal.

Mas a força de Lula se reflete também no protagonismo incomum que ele vem exercendo no arranjo do jogo da sua própria sucessão. É uma influência sem paralelo desde a redemocratização do país.

Lula determinou e comunicou ao PT que a candidata seria Dilma Rousseff, cristã-nova no partido, uma descoberta política recente, obra do segundo mandato, além de virgem em matéria eleitoral -nunca disputou um voto na vida.

Lula reorientou a trajetória de Ciro Gomes (PSB), aliado bom mas incômodo, cujas pretensões pareciam ameaçar o roteiro -da polarização com o PSDB- escolhido pelo presidente. Com o título eleitoral transferido para São Paulo, Ciro tornou-se um curinga a ser usado, no Estado ou no país, contra a candidatura (agora mais do que provável) de José Serra.

Mais recentemente, Lula cortou as asas do PMDB, lançando um ponto de interrogação sobre os apetites de Michel Temer e sua turma. Como disse ontem Janio de Freitas, o vice de Dilma "não é assunto dela nem do PT, é de Lula". E foi por obra dele, Lula, que o presidente do BC, Henrique Meirelles, agora uma opção a mais, se filiou ao PMDB.

A despeito das indefinições do quadro eleitoral, com a subida de Dilma (que foi a 23% e descolou de Ciro, com 13%), fixou-se desde já, até segunda ordem, a polarização anunciada entre PT e PSDB.

Serra é sabidamente um candidato forte, com currículo e experiência na bagagem. Ele não teme Dilma, mas a popularidade de Lula. A força do presidente é a grande esperança de sua candidata, mas também o seu limite. Dilma irá até onde Lula conseguir carregá-la.

Ricardo Noblat :: Vai, minha filha, ajuda!

DEU EM O GLOBO

— Se o clima fosse um banco eles já o teriam salvo.
(Hugo Chávez, presidente da Venezuela, sobre a reunião de Copenhague)

Tudo bem que a eleição de Dilma Rousseff para presidente da República dependa acima de tudo da capacidade de Lula de transferir votos para ela. Haverá transferência. O que ninguém sabe é se será suficiente.

Mas convenhamos: Dilma tem de fazer sua parte.

Foi um fiasco, por exemplo, seu desempenho na conferência sobre o clima em Copenhague.

Que melhor cenário poderia ter sido montado para Dilma desfilar como apóstola da preservação do meio ambiente? Apóstola seria um exagero. A senadora Marina Silva (PV-AC) é quem tem jeito de apóstola.

Desafetos apontam Dilma como adepta do desenvolvimento a qualquer preço — o que é um exagero.

Copenhague foi uma oportunidade desperdiçada por ela.

Primeiro trombou com o ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente. Desautorizou uma declaração dele que em nada criaria embaraços para a posição do Brasil na conferência.

Em seguida trombou com Marina e o governador José Serra (PSDB).

Os dois propuseram que o Brasil doasse um bilhão de dólares para a criação de um fundo internacional de financiamento de medidas de adaptação e redução de emissões de gases nos países pobres.

Dilma rebateu a proposta sem pensar que ficaria mal na foto: “Um bilhão de dólares não faz nem cosquinha”.

Mais tarde provou o remédio amargo que empurrara goela abaixo de Minc — acabou desautorizada por Lula.

Ao pedir aos países desenvolvidos que se comprometessem com metas concretas de defesa do meio ambiente, Lula disse que o Brasil estava disposto, sim, a doar dinheiro para o tal fundo.

E ainda houve o que muitos atribuíram a um ato falho de Dilma. Em uma de suas intervenções antes que Lula chegasse a Copenhague, Dilma afirmou em discurso por escrito: “O meio ambiente é, sem dúvida nenhuma, uma ameaça ao desenvolvimento sustentável”.

Pobre redator do discurso.

Da forma como a frase foi construída é improvável que ele tenha escrito: “O meio ambiente não é, sem dúvida nenhuma, uma ameaça ao desenvolvimento sustentável”. Nesse caso, o “sem dúvida nenhuma” teria sido extirpado em favor da clareza. Dilma leu o que foi escrito.

Culpa não lhe cabe.

Coube-lhe o desgaste pela trapalhada. Sorte dela que não tenham vazado durante o encontro inconfidências cometidas por seus próprios assessores. O desgaste teria sido ainda maior. Dilma cobrou do governo da Dinamarca tratamento conferido apenas a chefes de Estado.

Não obteve.

Ao desembarcar, pretendia entrar direto em um carro e se mandar do aeroporto. Não conseguiu. Estava disposta a driblar detectores de metal.

Não conseguiu. Exigiu que lhe servissem comida especial — conseguiu. Requisitou para uso exclusivo uma copiadora capaz de imprimir a cor — conseguiu também.

Distante dos marqueteiros, por sua própria conta e risco, Dilma foi Dilma em estado puro.

Talvez tenha sido mais feliz assim. Recentemente, ela admitiu que cansou de ouvir conselhos para mudar determinados traços do seu temperamento.

Decidira não tentar mais parecer com o que não é.

A simpatia não é o seu forte.

Por que penar para ser simpática? Quem convive com ela a reconhece como uma executiva eficiente e talentosa, embora centralizadora.

E na maioria das vezes ríspida com seus subordinados.

Gosta de mandar — um ponto positivo para quem aspira ao cargo mais importante do país. E não gosta de ser contrariada.

Ora bolas! Por que fazer de conta que a dama de ferro esconde uma espécie de Dilminha paz e amor? Lula é quem domina a requintada arte de se comportar como um camaleão.

É grosseiro em particular com os que o cercam.

Em público é doce com eles.

Em particular diz muitos palavrões.

Só falou merda uma vez em público.

Políticos são atores — Dilma sabe. Falam em campanha o que a distinta plateia quer ouvir — Dilma sabe. E não dão um passo sem pesquisar antes seus efeitos — Dilma sabe. Portanto, ou ela segue as regras ou perde de véspera.

Lula ainda não chegou ao ponto de operar milagres.

O QUE PENSA A MÍDIA

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Marco Antonio Villa :: O poder e a glória

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Inegavelmente, Lula é, até agora, o maior mito da nossa história. O fenômeno nasceu nos anos 70, gerado por um conjunto de fatores

O culto ao presidente Lula chegou a tal ponto que não causará estranheza se alguma edição popular da Bíblia iniciar com: "No princípio, Lula criou...". Inegavelmente, ele é, até este instante, o maior mito da nossa história.

Esse fenômeno nasceu nos anos 70, ainda durante o regime militar. Foi produzido por um conjunto de fatores. De um lado, pela ausência de novas lideranças sindicais, produto da supressão das liberdades pelo regime militar. Por outro, devido à repressão que atingiu o Partido Comunista Brasileiro, além das cisões do final da década de 60. O PCB acabou perdendo espaço no movimento operário. E a pequena influência que manteve foi por meio de alianças com os sindicalistas conhecidos como pelegos.

Foi nesse campo aberto que apareceu Luiz Inácio Lula da Silva, em 1977. Tinha sido eleito, dois anos antes, presidente do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo.

Após a divulgação por esta Folha do relatório do Banco Mundial, em que ficou demonstrado que o índice de inflação de 1973 tinha sido manipulado por Delfim Netto, então ministro da Fazenda, Lula iniciou uma campanha pela reposição salarial. Não obteve resultado, mas chamou a atenção da imprensa nacional.

O novo líder operário foi imediatamente adotado por alguns intelectuais de São Paulo. Eles criticavam Vargas, o PCB e o populismo. Ambicionavam participar da grande política, mas não tinham voto.

A eles se somaram os derrotados da luta armada, também sem influência popular, e os membros das comunidades eclesiais de base, da Igreja Católica. Estes últimos obtiveram ampla inserção nos movimentos sociais, que surgiram nos anos 70, mas careciam de formação política sólida.

Sustentado por essas três vertentes, Lula foi incensado como líder popular: antipopulista, anticomunista e católico. Em pouco tempo, transformou-se na maior referência do sindicalismo. As greves de 1978-1980, dirigidas de forma atabalhoada, fizeram a transição de líder sindical para dirigente partidário.

Em 1980, foi um dos fundadores do PT e seu primeiro presidente. Outra vez Lula foi usado como referência de ruptura. O PT seria o primeiro partido de trabalhadores do Brasil, apagando a história de mais de 60 anos dos partidos operários.

Anos antes, os mesmos intelectuais haviam transformaram Lula no primeiro sindicalista "autêntico" do ABC, mas a região teve movimentos grevistas desde a década de 20.

Tudo o que falava era considerado original, sábio. Quando exagerava na dose -como numa entrevista, em 1979, em que elogiou a "determinação" de Adolf Hitler-, era perdoado.

Durante 20 anos participou de cinco eleições. Ganhou uma, em 1986, eleito deputado constituinte. Mesmo assim, o mito não foi abalado. Pelo contrário, os intelectuais do partido transformaram as derrotas em vitórias políticas, sempre encontrando alguma razão para os fracassos.

O processo de construção mítica foi ampliado depois da eleição de 2002. Todos os êxitos do governo foram creditados a ele, e as dificuldades e problemas de difícil resolução a curto prazo foram imputados a uma herança maldita dos governos anteriores, especialmente da presidência FHC. Continuou contando com a colaboração entusiástica de intelectuais. Tudo o que falava ou fazia era considerado extraordinário. Era uma espécie de Espinosa de São Bernardo do Campo.

Na crise do mensalão, o encanto não foi quebrado. Tudo teria sido tramado pela imprensa golpista. Mais uma vez, a figura de Lula era o divisor de águas. O caixa dois teria sido colocado de ponta-cabeça. Os destinatários dos recursos não contabilizados seriam o partido e a campanha. Era a corrupção positiva, companheira.

Com a reeleição, o mito chegou ao auge. Ultrapassou as fronteiras nacionais. O ufanismo entrou na ordem do dia. O delírio do presidente que foi ungido em Caetés para libertar o Brasil tomou conta do noticiário. Como nas ditaduras do "socialismo real", o presidente foi considerado infalível. Se Stálin, pouco antes de morrer, dissertava sobre linguística, Lula passou a explicar até as variações climáticas.

Porém, como o mito foi construído em vida, corre o risco de o próprio Lula ajudar a destruí-lo. Se perder a eleição de 2010, terá de descer do Olimpo. As críticas à sua liderança irão crescer, inclusive dentro do PT.

Há muito deixou de ouvir contestações e negativas dos que o cercam. Os áulicos só dizem sim. O todo-poderoso voltará ao mundo real. O mito vai resistir?

Marco Antonio Villa, 54, é professor de história da UFScar (Universidade Federal de São Carlos) e autor, entre outros livros, de "Jango, um Perfil".

"Governador depende da derrota de Serra para viabilizar seu projeto nacional"

DEU NO VALOR ECONÔMICO

De Belo Horizonte

A seguir, a entrevista com o diretor do Instituto Cultiva, Rudá Ricci:

Valor: A candidatura de José Serra à Presidência sofrerá um abalo com a desistência de Aécio Neves em concorrer?

Rudá Ricci :Sem dúvida, em razão da forma como Aécio preparou sua saída. Ele a fez causando um profundo desgaste na imagem de Serra, ao menos em Minas Gerais. Procurou-se transmitir a sensação de que Serra é um homem que empurrou Aécio para fora da disputa de forma maquiavélica, sem tomar uma decisão. O Aécio poderia esperar até janeiro, conforme as lideranças tucanas pediram, mas preferiu fazer na semana passada, na sequência das definições locais e do fortalecimento da candidatura de Ciro Gomes no PSB.

Valor: Como isso se traduzirá em termos eleitorais em Minas? Até que ponto o sentimento de frustração regional pesa para o eleitor?

Ricci :Em Minas Gerais pesa muito. Ao contrário de São Paulo e Rio, aqui não é um Estado fundamentalmente de migrantes. Serra poderá ser visto como mais um paulista que veio tirar o espaço dos mineiros.

Valor: Mas uma recente pesquisa mostrou Serra com 40% dos votos em Minas. Como isso se dissiparia de uma outra para outra?

Ricci : Por mais que Aécio tenha negado, sempre se partia da perspectiva de que poderia haver uma chapa Serra/Aécio para a Presidência da República. Na medida em que ficar claro que isso não vai ocorrer, Serra tende a cair aqui e Dilma (Rousseff, ministra da Casa Civil) a subir. Ou Ciro (Gomes, deputado federal do PSB), se tiver o apoio de Aécio nos bastidores.

Valor: Por que Aécio não vai sair de vice de Serra?

Ricci : Aécio já anunciou a possibilidade de se colocar como uma espécie de conciliador nacional. Ele tentará ser senador para forjar uma nova aliança, diferente do alinhamento partidário atual, com o PT de um lado e o PSDB do outro. Ele não depende da vitória do candidato a governador dele aqui para isso e duvido que se empenhe muito para eleger (Antonio) Anastasia (vice governador). Mas ele depende da derrota de Serra para tal. Com Serra na Presidência, Aécio não tem como propor uma nova aliança.

Valor: Por que então ele não procurou fazer isso saindo do PSDB ao perceber que não tinha como concorrer com Serra?

Ricci: Porque ele tinha que recompor suas bases no interior de Minas. Diferente do que a vitória dele em Belo Horizonte pode indicar, Aécio fragilizou-se no Estado como um todo. Precisava refazer sua liderança, abalada em 2008. Além disso, o PSDB é parte essencial do projeto de Aécio. O problema dele são os tucanos paulistas.

Valor: Ou seja, na visão do senhor, se o Serra tornar-se presidente, nascerá aqui em Minas um foco de oposição..

Ricci: Na verdade, Aécio hoje talvez seja um obstáculo para Serra chegar à Presidência. Como Ciro Gomes é um obstáculo para a Dilma nesse mesmo sentido.

Valor: E porque a vitória de Anastasia não seria importante para o projeto conciliador de Aécio?

Ricci: Evidentemente que a vitória de Anastasia fortaleceria Aécio, mas ele joga com mais de um cenário. Ele sabe que seu projeto não estará comprometido caso o PT ganhe em Minas, se o candidato petista for Fernando Pimentel, e o ex-prefeito ganhou as eleições internas do PT uma semana antes de Aécio retirar a candidatura. Ele sabe que o projeto também sobrevive com Hélio Costa, e o ministro das Comunicações ganhou as eleições internas do PMDB dois dias antes da retirada. Observe que trata-se de uma sequência. Houve um método. Mesmo se o próximo governador de São Paulo for (Geraldo) Alckmin, o projeto da conciliação nacional sobrevive. Ele só não sobrevive com Serra na Presidência.

Valor: Um dos propósitos de Aécio é tornar-se uma figura nacional, como era o avô Tancredo Neves pouco antes de eleger-se presidente no Colégio Eleitoral em 1985. O senhor acha que Aécio conseguiu?

Ricci: Tancredo cresceu politicamente e tornou-se o que se tornou em seus dois últimos anos de vida. Mas antes disso ele era uma figura sem tanto impacto nacional, sem tanta presença no imaginário como a que Ulysses Guimarães tinha dentro do PMDB. Ulysses era paulista, controlava o partido e parecia vocacionado para chegar à Presidência. Tancredo era uma figura do conchavo político, estava em Minas Gerais, fora do palco. Há semelhanças entre a estaturas dos personagens do passado e dos de hoje. (C.F.)

CHARGE

Diário do Nordeste (CE)

Estratégia tucana inclui caravana com Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

PSDB quer governador de SP e pré-candidato a presidente viajando o País a partir de janeiro

Carol Pires

Com a decisão do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, de sair da disputa pela Presidência da República, a cúpula do PSDB trabalhará durante as últimas semanas do ano para "reorganizar o partido", nas palavras do secretário-geral da legenda, deputado Rodrigo de Castro (MG). Castro e o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), trabalharão, nos próximos dias, um calendário de viagens que farão juntos, de janeiro a março.

Apesar da agenda complicada do governador de São Paulo, José Serra, a ideia é levar o paulista a todas essas viagens, para expor a imagem do pré-candidato do partido. Como Aécio Neves ocupou, nos últimos meses, a função de articulador nos Estados do Norte e Nordeste, onde o presidente Lula tem mais força, os tucanos avaliam que será indispensável a presença de Serra nesses locais. "É claro que vai crescer a exposição de José Serra porque ele é o nome que o partido apresenta, diferente de antes, quando tínhamos duas opções", resume Sérgio Guerra.

Em contrapartida, para afagar o governador mineiro, o PSDB realizará uma reunião da Executiva em Belo Horizonte e, assim, deslocará as lideranças tucanas até o ninho de Aécio Neves. Segundo interlocutores da legenda, o propósito é mostrar que, mesmo sem o governador como postulante à Presidência, os mineiros são importantes para o projeto do PSDB.

Nos meses em que ficará enclausurado em Minas Gerais, Aécio Neves deve trabalhar para fazer do vice Antonio Anastasia seu sucessor no governo.

Só voltará a se mobilizar nacionalmente em favor da legenda quando o candidato for anunciado formalmente, o que deve ocorrer apenas em março. No Estado, Aécio Neves também deve pavimentar sua vaga ao Senado. Segundo um aliado do governador mineiro, ele sequer aceita discutir entre amigos a hipótese de ser vice numa chapa com Serra. "Este assunto só está em discussão na imprensa. Vice é um assunto para o segundo capítulo", endossa Guerra.

VIAGENS E PROBLEMAS

Nas viagens que ainda serão programadas, os tucanos tentarão resolver os problemas regionais. No Ceará, diz um tucano, o senador Tasso Jereissati resiste em ser o candidato ao governo. O PSDB também está sem palanque no Rio de Janeiro, uma vez que Fernando Gabeira, do PV, trabalhará pela candidatura de Marina Silva. Sem um postulante natural, Gabeira era a alternativa dos tucanos.

Sem o apoio do PV, os tucanos trabalham com duas alternativas, de acordo com o deputado Rodrigo de Castro.

Uma seria lançar o ex-prefeito César Maia, do DEM, ao governo do Estado.

Outra possibilidade em debate seria "construir um candidato" a partir de um deputado federal de expressão.

Os nomes em discussão na cúpula do partido são os da deputada Andreia Zito, e dos deputados Otávio Leite e Marcelo Itagiba, que recentemente saiu do PMDB e ingressou no PSDB.
COMENTÁRIO
Outra alternativa seria convencer o ator e vereador do PPS, Stepan Nercessian a colocar seu nome a disposição do bloco PSDB/PPS/DEM.

Minas terá romaria de tucanos

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ivana Moreira

A decisão do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), de desistir da pré-candidatura à Presidência vai continuar rendendo visitas ao Palácio da Liberdade durante muitas semanas. Na agenda de hoje estão confirmados os deputados tucanos Eduardo Gomes, do Tocantins, e Rodrigo de Castro, de Minas. Segundo fontes ligadas a Aécio, foi isso que ele planejou. Quanto mais os tucanos o pressionarem a mudar de posição, melhor para ele.

Embora já tivesse desistido da candidatura há vários meses, ele esperou o momento certo para fazer o anúncio e assegurar seus reais objetivos. "Há tempos o cenário não era tão positivo para Aécio", comenta o sociólogo Rudá Ricci. "Ele estava jogando para a plateia, tornou-se de fato um Neves, com toda a habilidade para a arte da política, não é mais o neto do Tancredo."

"No caso de José Serra perder a eleição de 2010, o que não é um cenário improvável, o PSDB cairá no colo de Aécio em 2014", aposta o cientista político Fábio Wanderley Reis. Nem Ricci nem Reis acham que o mineiro está blefando ao dizer que nem cogita fazer parte de uma chapa com Serra.

José Goldemberg :: Dilma e Serra em Copenhague

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Os dois principais candidatos à sucessão do presidente Lula participaram da Conferência do Clima que se reuniu durante as duas últimas semanas em Copenhague. O que isso significa é que preocupações com o clima deixaram de ser privilégio dos especialistas e amantes da natureza para entrar na agenda política. Os candidatos prepararam seus discursos não só para impressionar os participantes da conferência, mas, principalmente, os eleitores brasileiros, sobretudo aquela parte do eleitorado que não se preocupa apenas com Bolsa-Família.

A ministra Dilma Rousseff apresentou no caderno Aliás de 13 de dezembro suas visões sobre o problema e o governador José Serra expressou as dele na apresentação que fez, juntamente com o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, na terça-feira, dia 15, em concorrida sessão na capital dinamarquesa.

A ministra repetiu no seu artigo a posição histórica do governo federal, que não muda há muitos anos, incluindo o período do governo Fernando Henrique Cardoso:

Os países industrializados são os que têm de reduzir primeiro suas emissões por causa da "dívida acumulada com o planeta" (responsabilidade histórica). A Convenção do Clima e o Protocolo de Kyoto são intocáveis porque isentam os países em desenvolvimento de reduzir suas emissões.

Os países industrializados têm de pagar pelas ações necessárias nos países em desenvolvimento - nunca fica claro se é por meio de financiamentos (o que o Banco Mundial já faz) ou de concessões a "fundo perdido" que não são reembolsáveis.

Essas colocações são obsoletas e foram superadas pelos fatos. Em 1992, quando a Convenção do Clima foi adotada, os países em desenvolvimento emitiam menos de um terço das emissões mundiais. Hoje emitem metade e estão crescendo a 4% ao ano, principalmente por causa da China, que já é o maior emissor mundial. Cerca de metade das emissões mundiais ocorreu desde 1980, de modo que a "responsabilidade histórica" é difícil de justificar. Além disso, as "ações necessárias" não são do tipo que foi preciso para enviar um homem à Lua, mas tecnologias simples e disponíveis.

No caso brasileiro, aliás - em que a maioria das emissões se origina no desmatamento da Amazônia -, não é necessária nenhuma tecnologia nova, mas a presença do poder público na região, regularização da propriedade da terra e estimular alternativas de desenvolvimento que não sejam predatórias.

No caso da China, isentá-la de assumir compromissos de reduzir suas emissões (que, por sinal, ela já está fazendo com o uso mais eficiente de energia) é também difícil de justificar.

A posição tradicional do Itamaraty, que a ministra agora endossa, sempre se baseou na tentativa de manter coeso o "Grupo dos 77" (que tem mais de 120 países), incluindo os mais pobres da África e da Ásia, como Sudão e Tuvalu, que realmente necessitam de assistência técnica e financeira. Usá-los como desculpa para não reduzir as emissões na China, na Índia, na África do Sul e em outros países com economia pujante pode ser boa política no tabuleiro político das Nações Unidas, mas reflete uma falta de compreensão real da gravidade dos problemas que estão sendo criados pelo aquecimento global.

É por essas razões que a retórica da ministra de que o Brasil está no grupo dos países dos quais se esperam ações voluntárias (mas que, apesar disso, apresentou em novembro as metas de reduzir as emissões em nosso país entre 36,1% e 38,9% do que se estima que elas serão em 2020) é um exercício de futurologia e impressiona pouco. Em primeiro lugar, a precisão dos números (até com casas decimais) tenta passar uma imagem de segurança técnica que inexiste nessa área. Em segundo lugar, o governo federal só fez isso depois de um amplo movimento nacional que o forçou a abandonar o seu imobilismo - e seria generoso da parte da ministra reconhecer isso. Em terceiro lugar, a insistência na palavra "voluntárias" acaba por desorientar as pessoas. Se as metas são mesmo para valer, qual é a diferença entre metas voluntárias e "legalmente vinculantes", que é a linguagem dos tratados internacionais?

Em contraste, o discurso do governador Serra, tal como o do governador Schwarzenegger, é exemplo de discurso adulto, que reconhece claramente que estamos todos contribuindo para o aquecimento do planeta e precisamos tomar providências concretas e efetivas para evitá-lo, independentemente do que os outros estão fazendo e tampouco exigindo que nos paguem por fazer o que não é mais do que nossa obrigação com a saúde do planeta.

O governador Serra não condicionou suas ações a benesses internacionais, mas explicou que a lei adotada em São Paulo pretende reduzir as emissões do Estado em 20% (abaixo do nível de 2005) até 2020, por meio de um conjunto de políticas públicas que, ao contrário de frear o desenvolvimento paulista, vai estimulá-lo pela adoção de tecnologias mais modernas, mais eficientes e, portanto, menos poluentes.

A ministra tenta dar às propostas do Brasil (feitas em novembro) o papel de desencadear ações de outros países e atribuir, portanto, ao Brasil um papel de liderança no processo. As medidas em preparação nos outros países (como China, Índia e EUA) são bem conhecidas há vários meses e o Brasil foi um retardatário nas discussões, exceto pelos progressos na redução do desmatamento da Amazônia, que são mérito da então ministra Marina Silva.

Liderar teria sido reunir os principais emissores entre os países em desenvolvimento - que se contam nos dedos - e apresentar uma proposta comum, assumindo as suas responsabilidades e se afastando de retórica inútil de "culpar os outros".

José Goldemberg, professor da Universidade de São Paulo, foi secretário do Meio Ambiente da Presidência da República em 1992, durante a Conferência do Clima no Rio de Janeiro

Luiz Carlos Mendonça de Barros:: 2009: lições e cicatrizes

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Aproveito nosso último encontro do ano para fazer uma reflexão sobre esse período tão complexo e confuso na economia global que foi 2009. Para o analista que procura olhar para além do horizonte da chamada conjuntura econômica, os acontecimentos dos últimos meses trazem lições que não podem ser desconsideradas. Apesar de saber do risco que existe quando se procura associar uma dimensão histórica a fatos que ainda estão ocorrendo, não posso deixar de fazê-lo agora. Creio que estamos em um momento de ruptura no funcionamento do mundo econômico global de hoje, tanto nas economias desenvolvidas como nos chamados países emergentes.

O leitor do Valor sabe que tenho uma opinião consolidada sobre o aparecimento de um novo grupo de economias que deve - em futuro não muito distante - ocupar uma posição de liderança no mundo. Os acontecimentos de 2009 acabaram por ser um teste muito forte para essa tese e, agora, já na transição para um novo ano, as estatísticas e previsões mostram que caminhamos nessa direção. As críticas contra os defensores do chamado descolamento - e que eram muito comuns no auge da crise entre outubro de 2008 e abril deste ano - praticamente desapareceram da mídia mundial e cabocla.

Mas, por outro lado, é preciso reconhecer que os fatos provaram que esse movimento do mundo emergente não acontecerá sem que os países mais ricos recuperem um mínimo de crescimento econômico. Essa vinculação entre os dois blocos não estava tão clara - pelo menos para mim - antes da quebra do banco Lehman Brothers. Por isso, a consolidação deste mundo com duas velocidades de crescimento precisa ainda passar pelo teste da retomada do crescimento - ainda que medíocre - nas nações mais ricas do mundo. E isso ainda não está totalmente garantido, embora seja o cenário previsto pela Quest para o ano de 2010.

Um segundo ensinamento importante é a reafirmação, trazida pela crise, da tese da instabilidade intrínseca do funcionamento das economias de mercado. Essa instabilidade está associada principalmente ao comportamento dos agentes econômicos - consumidores e empresários - em momentos de insegurança e pânico. E sabemos, já há bastante tempo, que o mecanismo mais importante de criação de uma situação de pânico parte quase sempre do mercado financeiro. A razão para isto é o fato de que as instituições financeiras trabalham com elevado grau de alavancagem em suas operações, maximizando em situações de crise seus prejuízos.

Por isso não surpreende a mim o fato de que foram as distorções associadas ao mito do comportamento racional dos agentes econômicos - e que se transformou na peça central da teoria econômica da última década - que nos levou à crise bancária do sub prime. No fundo, a teoria do comportamento racional foi uma versão mais sofisticada - principalmente pelo uso da matemática - mas não menos ingênua da utopia criada pelo pensamento clássico no século XIX na Europa e que desembocou na grande depressão dos anos 30. A história repetiu-se agora, quase 80 anos depois.

Mas a lembrança dessa falha no metabolismo das economias de mercado não deve trazer de volta o sistema centrado no Estado, mas a crítica realizada por Keynes e alguns seguidores no âmbito mesmo do chamado capitalismo. Não se trata de substituir o sistema de mercado por outro mas de entender e reconhecer seus pontos fracos e perigosos e estabelecer mecanismos externos de controle. Agora mesmo, nos países mais afetados pelo liberalismo extremado dos últimos anos, procura-se reconstruir um sistema de regulação que proteja a sociedade dos excessos da especulação financeira. Na prática uma volta ao passado depois que as perdas e os sofrimentos que a crise espalhou pelo mundo tornaram isso politicamente viável, mesmo nos Estados Unidos.

Nesse movimento, legítimo e correto, não se pode deixar levar pelo clima de acerto de contas com os maiores responsáveis pelo que aconteceu a partir de julho de 2007 em que muitos legisladores parecem incorrer. O que se deve buscar no redesenho do sistema regulatório do mercado financeiro é a construção de uma versão mais moderna do que a que existiu durante muito tempo e que foi desmontada na euforia com a racionalidade e eficiência associadas às decisões econômicas.

Outra lição importante que deve ser tirada dos dias que vivemos é o reconhecimento de outra falha genética do chamado capitalismo: o vácuo em que pode mergulhar a demanda em uma situação de pânico financeiro. Mais uma vez é o resgate do pensamento original do grande Keynes que nos mostra o caminho. Em uma situação como esta o comportamento de manada de empresários, consumidores e governos pode levar a um vácuo na atividade econômica pela sincronização do corte dos gastos.

Mas, mais importante do que reviver a possibilidade que isso possa ocorrer de tempos em tempos, é reconhecer que nessas situações extremas é a ação do governo a única forma de evitar a depressão econômica. O que nos leva diretamente à questão de que a presença do Estado - em parceria com o setor privado - é fundamental para que o sistema de economia de mercado possa funcionar de forma racional e eficiente. E a definição do papel do Estado não pode estar balizada por valores ideológicos radicais, sejam eles à direita ou à esquerda, mas sim por questões de eficiência dentro dessa visão complementar à ação privada.

Gostaria de encerrar esta reflexão chamando a atenção do leitor para uma cicatriz profunda - existem outras - que esta crise deixará no tecido econômico de países importantes. O custo do resgate do sistema financeiro mundial provocou um aumento significativo no endividamento dos governos, principalmente nos Estados Unidos, Europa e Japão. Essa realidade vai provocar dois efeitos colaterais importantes nos próximos anos. O primeiro será uma pressão forte de redução dos gastos públicos ou aumento de impostos em um cenário de baixo crescimento e desemprego elevado. O segundo, por conta dessa fragilidade da situação fiscal e do valor elevado da dívida pública, será uma redução do espaço de manobra da política monetária.

Como sair dessa verdadeira camisa de força vai limitar as alternativas de política econômica durante os próximos anos em um grande número de países.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações. Escreve mensalmente às segundas.

Luiz Carlos Bresser-Pereira:: A "fúria" dos financistas

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O que o governo britânico faz ao taxar os bônus ganhos pelos financistas não é nada mais do que a sua obrigação

A leitura do sisudo "Financial Times" do dia 10 estava até engraçada. Sua manchete de primeira página era "Fúria dos banqueiros com o superimposto sobre os bônus". A fúria refere-se ao imposto de 50% sobre todos os bônus obtidos por financistas acima do ganho anual de 25 mil libras que foi anunciado pelo ministro das Finanças do Reino Unido, Alistair Darling.

Fiquei curioso em saber como se manifestaria na prática a fúria ou o ódio desses senhores que não são apenas dirigentes de bancos; são principalmente operadores financeiros ("traders") que ganham bônus. Eles dominaram o mundo durante 30 anos, definiram as regras da "nova" racionalidade econômica baseada no velho "laissez-faire", enriqueceram-se e tornaram ainda mais ricos os rentistas a quem estavam associados, provocaram um enorme aumento da desigualdade em toda parte, aumentaram a instabilidade financeira mundial e, afinal, provocaram a crise global de 2008, que obrigou os governos a gastarem cerca de 5% do PIB mundial para salvá-los.

A decisão do governo britânico foi surpreendente, porque até há pouco era esse governo e o dos Estados Unidos que mais resistiam à pressão dos demais países ricos, principalmente os demais países da União Europeia, para que o sistema financeiro fosse mais fortemente regulado, e os bônus dos financistas, taxados. Resistiam porque Londres e Nova York são os dois maiores centros financeiros do mundo e medidas restritivas a suas atividades poderiam promover a migração do sistema financeiro para outras praças.

Essa preocupação é legítima e salienta a necessidade de coordenação das ações regulatórias entre as maiores economias mundiais. Está claro, porém, que essa cooperação existirá. Haverá sempre aqueles tentados a agir como caronas ("free riders"), mas os demais países dispõem de poder suficiente para neutralizá-los. O que definitivamente não é razoável é deixar de regular o sistema com a desculpa de que não haverá cooperação internacional; é manter incentivos para que um grupo relativamente grande de jovens e brilhantes profissionais ou tecnoburocratas formados nas melhores universidades inventem inovações financeiras que dão lucro aos rentistas e bônus para eles próprios, mas prejudicam os demais; é permitir que adotem práticas arriscadas que levam os países à crise e obrigam seus governos a gastar bilhões e bilhões dos contribuintes para salvar suas economias de crise sistêmica.

Vivemos no capitalismo do conhecimento ou no capitalismo tecnoburocrático -um tipo de capitalismo caracterizado por cooperação e conflito entre a velha classe capitalista e a relativamente nova classe profissional ou tecnoburocrática. Sei que os membros da nova classe terão uma participação crescente na renda do país porque detêm o monopólio do conhecimento técnico, organizacional e financeiro. Mas isso não significa que devamos deixá-los livres para agir como quiserem.

As sociedades modernas se caracterizam por um sistema econômico flexível e dinâmico -o capitalismo tecnoburocrático- que lembra um tigre e que, por isso mesmo, é cego à justiça e à ordem ou à estabilidade e por um sistema político -o Estado democrático- que tem o papel de regular ou domar esse perigoso mas insubstituível animal. O que o governo britânico está fazendo é apenas isso. Nada mais do que a sua obrigação. Os financistas podem ficar furiosos; mais indignados estão os cidadãos que foram prejudicados por sua irresponsabilidade e cobram agora dos governos as medidas regulatórias necessárias.

Luiz Carlos Bresser-Pereira, 75, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Globalização e Competição

Cabral lidera com 15 pontos à frente de 2º

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Principal adversário é o ex-aliado Garotinho, que fez as pazes com Lula e, na TV, se diz inspirador do Bolsa Família

Governador tem até 39%; Garotinho chega a 24% no melhor cenário; Gabeira vai a 17%, Cesar Maia a 13%, e Lindberg, no máximo a 8%

Da Sucursal do Rio

O governador Sérgio Cabral (PMDB) lidera pesquisa Datafolha sobre a sucessão estadual no Rio, com índices entre 36% e 39% dos votos, abrindo uma vantagem de 13 a 15 pontos sobre o segundo colocado, dependendo da lista de concorrentes. O principal adversário de Cabral é um ex-aliado: o ex-governador Anthony Garotinho (PR), que tem entre 23% e 24% das intenções de voto.

O deputado federal Fernando Gabeira (PV), quando incluído no rol de candidatos a governador, obtém entre 14% e 17%. Ao ser substituído por seu hoje aliado Cesar Maia (DEM), o ex-prefeito do Rio varia entre 12% e 13% do eleitorado. O prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), fica entre 6% e 8%.

Cabral sai-se melhor no interior -onde chega a 44%- do que na capital - 32% na sua pior taxa. Tem forte apoio entre os jovens, estrato em que atinge até 47% das intenções, e está mais enfraquecido entre os eleitores de alta escolaridade -no qual tem 29%.

Garotinho também é forte no interior e nas faixas de menor renda e escolaridade. Gabeira tem mais votos na capital e nos estratos de alta renda e escolaridade. Maia tem na capital o dobro dos votos que consegue no interior do Estado.

O pré-candidato do PR provavelmente foi beneficiado pela propaganda gratuita partidária na TV e em rádio, transmitida nas últimas duas semanas, na qual se vincula diretamente ao presidente Lula, afirmando ter sido criador do cheque cidadão, programa de transferência de renda que, segundo ele, inspirou o Bolsa Família.

O ex-governador do Rio foi aliado de Lula na eleição de 2002, mas rompeu no começo do mandato. Agora, fez as pazes com o presidente e se filiou a partido da base do governo.

Em junho deste ano, Garotinho deixou o PMDB, do qual era presidente regional, e filiou-se ao PR, depois que o governador Cabral o alijou do controle da máquina estadual do partido.

A sucessão no Estado do Rio se divide em dois blocos: em defesa da pré-candidatura de Dilma Rousseff estão Cabral, Garotinho e Lindberg, bloco que soma entre 65% e 71% das intenções de voto; na oposição, Gabeira e Maia trafegam em um faixa com menos de um terço dos votos dos situacionistas e devem se dividir entre Marina Silva (PV), e José Serra (PSDB), respectivamente.

O cenário eleitoral do Rio hoje está enxuto. Nomes com forte penetração como o do senador Marcelo Crivella (PRB) e do deputado estadual e apresentador da TV Record Wagner Montes (PDT) não devem disputar. Crivella deve buscar novo mandato como senador e o PDT tende a apoiar um candidato de outro partido.

O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, ministro do Trabalho, fez declarações públicas de apoio ao petista Lindberg, que pleiteia ser candidato apesar de Lula defender apoio do PT à reeleição de Cabral.

No lado oposicionista, Cesar Maia já defendeu publicamente o apoio a Fernando Gabeira, aliado possivelmente ao PSDB e ao PPS. Com o lançamento da candidatura de Marina Silva à Presidência, Gabeira, que era próximo a Serra, anunciou que fará campanha para ela, provocando desavenças.

Gabeira já sinalizou que pode optar pelo Senado, abrindo espaço para que Maia seja candidato ao governo. Se Gabeira não entrar na disputa, o ex-prefeito deve lançar seu nome.

Bom dia ! - Samba do Crioulo Doido/Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)