quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Opinião do dia – Roberto Freire

As eleições municipais de 2016 são mais um capítulo deste período histórico vivido pelo país. É evidente que os acontecimentos políticos estão encadeados e há uma continuidade, o que não significa dizer que a realidade atual condicionará o futuro processo eleitoral ou terá consequências diretas sobre ele. Haverá alguma influência, mas é certo que o país irá experimentar um outro momento em 2018. O fundamental é que, assim como já havia ocorrido no afastamento de Dilma e no encerramento democrático e constitucional do governo do PT, a parcela majoritária da sociedade brasileira se manifestou em alto e bom som, de forma inequívoca e indubitável, desejando virar essa página infeliz e construir um futuro melhor.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS. ‘A derrocada do PT nas urnas’, Diário do Poder, 3/11/2016

FGTS inflou contas da Caixa em R$ 15 bi, mostra estudo

Subsídios do FGTS inflaram balanço da Caixa em R$ 15 bi, mostra estudo

• Segundo economista, Fundo de Garantia antecipa para o banco recursos que deveriam ser pagos ao longo do período do financiamento das habitações do Minha Casa Minha Vida, o que contraria normas do Banco Central e engorda os resultados

Alexa Salomão - O Estado de S. Paulo

De acordo com um estudo obtido pelo Estado, a Caixa Econômica Federal está inflando o seu balanço com recursos recebidos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) dentro do programa Minha Casa Minha Vida. Desde 2009, estima o levantamento, ao menos R$ 15 bilhões foram lançados indevidamente no balanço da instituição, que concentrou os financiamentos subsidiados do programa habitacional.

O estudo intitulado “A contabilidade criativa no FGTS” é de autoria do economista Marcos Köhler. Especialista em políticas públicas, foi servidor do Ministério do Planejamento e do Banco Central. É consultor legislativo desde 2002. No momento está na assessoria econômica do senador José Aníbal (PSDB/SP).

Ao fazer uma análise dos balanços do FGTS, Köhler identificou que um grande volume de recursos são sacados do Fundo especificamente para pagar o chamado “subsídio financeiro” – espécie de subvenção criada para reduzir os juros dos financiamentos a famílias de baixa renda dentro do Minha Casa Minha Vida. Essa ajuda foi criada para deixar a prestação mensal da casa própria mais barata e caber no bolso do comprador.

Cruzando as normas do Conselho Curador do FGTS, os saques no Fundo e os dados do balanço da Caixa, o economista concluiu que o volume de subsídios financeiros é elevado porque o FGTS paga tudo à vista para Caixa. Na avaliação dele, esse detalhe, por si só, já seria controverso. Mas ele constatou que o procedimento abriu espaço para duas outras práticas que considera mais graves.

Queda do PT foi menor onde Bolsa Família é mais presente

• Petistas vence em cidades onde maioria da população recebe benefício

Bernardo Mello, Gabriel Cariello e Marco Grillo - O Globo

Partido que mais perdeu prefeituras na comparação com a eleição anterior, o PT se livrou de uma queda ainda maior graças ao desempenho nos municípios do Nordeste com grande incidência do Bolsa Família. Analistas políticos avaliam que, apesar da legenda também ter encolhido na região, a força do programa de distribuição de renda diminuiu o tamanho da derrota.

Levantamento do GLOBO com base no resultado das eleições mostra que a derrota nos municípios do Nordeste em que mais da metade da população está inscrita no programa foi bem menor do que no resto do país. Nas cidades que concentram os beneficiários, o partido viu o número de prefeituras administradas cair 28% em relação a 2012. No país inteiro, o tombo foi de 60%.

REGIÃO COM MAIS BENEFICIÁRIOS
O Nordeste concentra metade dos beneficiários do programa. O recorte regional do resultado das urnas mostra que a queda de prefeituras na região foi de 40%. Mesmo sendo um desempenho negativo, foi o melhor na comparação com as outras regiões. No Centro-Oeste, a redução foi de 86%, enquanto no Sudeste perdeu três quatros de sua força e sofreu sua maior derrota — a perda da prefeitura de São Paulo para o PSDB.

‘Se o PT não fizer discussão profunda, pessoas vão sair’

• Ideólogo da tese da refundação do partido defende mudanças internas na legenda após derrotas nas eleições

Ricardo Galhardo – O Estado de S. Paulo

PORTO ALEGRE - O PT perde importância política com o resultado das eleições municipais. A constatação é do ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, líder da Mensagem ao Partido, corrente que busca uma reformulação profunda do partido.

Em entrevista ao Estado, Tarso, ideólogo da tese de refundação do PT, lançada após o mensalão e revivida agora, disse que esta reformulação passa por uma mudança na hegemonia interna e autocrítica radical na qual o PT, por um lado, deve assumir a responsabilidade por erros cometidos por dirigentes em nome do partido e, por outro, apontar publicamente os que se beneficiaram pessoalmente.

Segundo ele, se o atual grupo dirigente sonegar a autocrítica, o partido deve sofrer um racha com saída de várias lideranças importantes.

• O que levou à derrota do PT nas eleições municipais?
Como o PT estava no governo e tinha uma força política muito grande no País, foi atingido massivamente por este conjunto de forças que se organizou em torno da chamada luta contra a corrupção. Praticamente 80% dessa força negativa foi sobre o partido. Mas se formos examinar por completo o que está acontecendo é uma devastação de todo o sistema político e partidário que atingiu principalmente quem estava no poder.

PSB cresce em São Paulo e favorece plano de Alckmin

• Partido se torna a segunda força no Estado em eleitorado governado e fortalece vice-governador, que articula apoio da sigla à candidatura do tucano em 2018

Valmar Hupsel Filho e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

O bom desempenho eleitoral do PSB em São Paulo na disputa deste ano, se tornando a segunda legenda em número de eleitores governados, fortaleceu o diretório estadual do partido, principal fiador do projeto político do governador Geraldo Alckmin para 2018. Se no PSDB o tucano ainda não tem a certeza de que poderá lançar candidatura a presidente da República, dentro do PSB paulista, comandado pelo vice-governador, Márcio França, o plano de levar Alckmin ao Palácio do Planalto é prioridade.

“Tenho convicção de que vamos conquistar ampla maioria dentro do partido para apoiar essa tese”, disse França, que preside o diretório estadual da sigla. O desafio, porém, é convencer o restante do partido, que não bate o martelo sobre o apoio. “Considero a candidatura do governador Geraldo Alckmin à Presidência muito importante, mas acho que isso tem que ser colocado e discutido mais à frente, quando o cenário estiver mais claro”, disse o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira.

Nos bastidores, dirigentes do partido consideram que a aliança pode ser vantajosa para ambos os lados. A avaliação é de que após a morte dos ex-governadores de Pernambuco, Eduardo Campos e Miguel Arraes, os pessebistas ficaram órfãos de uma liderança nacional com força para lançar uma candidatura própria à Presidência. E um eventual vice do PSB-PE, onde estão as principais lideranças, poderia ser uma porta de entrada para o tucano na região Nordeste. Além do governador pernambucano, Paulo Câmara, o partido reelegeu no domingo o prefeito de Recife, Geraldo Julio.

Acordo. O crescimento do PSB em São Paulo passou por um acordo entre governador e vice. Em cidades em que os pessebistas tinham candidato forte, como em Campinas, onde o prefeito Jonas Donizette foi reeleito, o PSDB não lançou candidato. Na situação inversa, como em São José dos Campos, o PSB se absteve de participar da disputa.

A dias do segundo turno, Alckmin abandonou a postura discreta que teve no primeiro e participou de agendas de candidatos de partidos aliados. Em Mauá, participou de ato em apoio a Átila Jacomussi (PSB), que se elegeu. Em Guarulhos, embora tenha ficado de fora da campanha no segundo turno por envolver dois candidatos de partidos de sua base (PSB e DEM), o pessebista Gustavo Henric Costa, o Guti, foi o primeiro prefeito eleito a ser recebido pelo tucano no Palácio dos Bandeirantes, anteontem, num sinal de prestígio ao vice, principal articulador da campanha.

Alckmin também tem buscado se aproximar do PSB fora dos limites de São Paulo. No fim de outubro, o tucano esteve em Recife e foi recebido pelo governador Paulo Câmara para um encontro que deixou de fora os tucanos locais – o PSDB pernambucano é alinhado ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), também cotado para disputar o Planalto em 2018. Em Minas, Alckmin estreita laços com o prefeito Márcio Lacerda, que rompeu com Aécio. Recentemente, Alckmin e Lacerda, acompanhados de suas mulheres, passaram um fim de semana juntos na casa de campo de João Doria, em Campos Jordão.

Outras siglas. Alckmin também encontra apoio em outros partidos. “Há setores do PPS que veem esse fortalecimento do PSB, PSDB, PV, DEM e nós em São Paulo, como uma boa ideia para uma aliança de centro-esquerda”, disse o presidente do PPS, deputado Roberto Freire. “Hoje falo que o nosso candidato à Presidência, no cenário atual, é o Alckmin. Seja ele no PSDB ou PSB”, disse o presidente nacional do PHS, Eduardo Machado. / Colaborou Erich Decat

Para deputado, partido precisa voltar à esquerda

• Júlio Delgado (PSB-MG) reconhece o avanço da legenda em São Paulo, mas prega mudanças para as eleições de 2018

Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

Um dos nomes mais importantes do PSB na Câmara, o deputado Júlio Delgado (MG) reconhece o crescimento do partido em São Paulo, mas afirma que está na hora de os dirigentes da legenda colocarem um freio na guinada à direita e decidirem se o partido vai ou não continuar atuando no campo da esquerda.

“É preciso reconhecer a liderança que o Márcio (França, vice-governador de São Paulo e presidente do partido no Estado) exerceu. Com o resultado obtido, ele se torna hoje a maior liderança política do PSB nacional”, disse.

Para ele, não há dúvida que o desempenho da sigla em São Paulo mostra que a aliança com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi um projeto “eleitoralmente vitorioso”, mas precisaria de ajustes “ideológicos” se quiser perseverar em 2018.

“O partido vai ter que pensar se vai continuar sendo de centro-esquerda ou se vamos brigar pelo nicho que os outros partidos, como o PSDB e o DEM, já brigam e que, historicamente, nunca foi o nosso campo”, afirmou.

Cláusula de barreira deve chegar ao STF

• Nanicos dizem que vão recorrer se proposta que restringe acesso a benefícios avançar no Senado

Erich Decat - O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Partidos nanicos começam a se mobilizar para levar novamente ao Supremo Tribunal Federal a discussão sobre um projeto que estabelece uma cláusula de barreira para o sistema partidário. A previsão é de que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) seja votada no Senado na próxima terça-feira e chegue à Câmara ainda este ano.

A cláusula de barreira é um índice que estabelece um porcentual mínimo de votos válidos que cada partido deve obter nas eleições, caso contrário há limitação ou perda de acesso ao Fundo Partidário, ao tempo de TV e atuação parlamentar.

A PEC estabelece que a partir de 2018, para terem acesso ao fundo partidário e ao tempo de rádio e TV, os partidos terão que atingir, no mínimo, 2% de todos os votos válidos, distribuídos em, pelos menos, 14 unidades da Federação. Esse porcentual de desempenho sobe para 3% a partir de 2022.

“Vamos recorrer ao STF sem dúvida. Com o fim das doações privadas, os grandes partidos querem meter a mão no fundo partidário. Esse é o pano de fundo”, disse o líder do PROS na Câmara, Ronaldo Fonseca (DF).

Serra e Aécio tentam conter avanço de Alckmin

Por Raymundo Costa – Valor Econômico

BRASÍLIA - O fortalecimento do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, juntou o que quase duas décadas de disputas internas haviam separado: o chanceler José Serra e o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves. Os dois estão empenhados em conter o avanço de Alckmin sobre o partido e a consolidação de sua candidatura presidencial para 2018, quando faltam ainda dois anos para a sucessão. O embate é acompanhado de perto pelo presidente Michel Temer, pois pode provocar fissuras na base de apoio, num momento em que o governo tenta se firmar.

O PSDB saiu fortalecido das eleições de domingo, mas Alckmin e Aécio, o candidato na eleição presidencial de 2014, tiveram sorte diferente: o governador de São Paulo ganhou com a vitória de João Doria a prefeito, enquanto o presidente nacional do partido não teve como evitar o desgaste da derrota do candidato João Leite, em Belo Horizonte. Os tucanos foram os grandes vencedores das eleições municipais, ganharam em 806 cidades, sendo sete capitais, e vão governar 36 milhões de eleitores - a maioria no Estado de São Paulo -, credenciando-se como principal aspirante a 2018.

Acordo no TSE deve separar contas para poupar Temer

Por Carolina Oms – Valor Econômico

BRASÍLIA - As investigações nos processos que pedem a cassação da chapa Dilma-Temer, vitoriosa nas eleições presidenciais de 2014, avançam no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas, para evitar a cassação do presidente Michel Temer, está sendo costurado nos bastidores da corte um acordo para separar as contas de campanha da ex-presidente e de seu vice. Três ministros do tribunal já se mostram dispostos a acatar esse pedido da defesa de Temer. O TSE é composto por sete ministros titulares e, portanto, bastam os votos de quatro magistrados para que seja alcançada a maioria na defe-sa da tese de que Temer e Dilma devem responder a processos diferentes.

Os ministros Gilmar Mendes e Luiz Fux já indicaram que consideram possível esta separação. Outros ministros ouvidos pelo Valor, contrários à divisão de responsabilidades, no entanto, lembram que nunca houve precedente para este tipo de separação em outras ações da Justiça Eleitoral.

Novas provas apresentadas pela força-tarefa criada pelo relator dos processos, ministro Herman Benjamin, para avaliar as movimentações financeiras das empresas investigadas ou uma intensa deterioração do cenário político são os dois principais elementos a influenciar a decisão dos ministros que ainda estão indecisos sobre a cassação.

Por enquanto, a avaliação da maioria dos ministros do TSE é que são necessárias evidências robustas para que o Judiciário tome uma decisão que vá retirar mais um presidente do Palácio do Planalto. "Para que o Judiciário casse o mandato de um governante democraticamente eleito, as irregularidades precisam ser provadas e significativas o suficiente para influenciar o resultado da eleição nacionalmente ", disse um ministro.

Livro reconstitui era petista e analisa o colapso do lulismo

Mauricio Puls – Folha de S. Paulo

O livro "As Contradições do Lulismo: a que Ponto Chegamos?" reúne um conjunto de ensaios fundamentais para entender a história recente do Brasil. Organizados por André Singer (USP) e Isabel Loureiro (Unesp), os artigos explicam os paradoxos e ambiguidades que caracterizaram a atuação do Estado durante as administrações petistas, de 2003 a 2016.

Em "A (falta de) base política para o ensaio desenvolvimentista", Singer, que é colunista da Folha, reconstitui as etapas da política econômica de Dilma Rousseff.

A partir de 2011, seu governo implementou um ousado conjunto de medidas para reduzir os juros, desvalorizar o Real, desonerar a folha salarial e proteger a indústria nacional, com o objetivo de acelerar o crescimento e criar mais empregos.

A derrocada do PT nas urnas - Roberto Freire

- Diário do Poder

Assim como já havia ficado claro no 1º turno das eleições municipais, os resultados da votação do último domingo sacramentaram uma fragorosa e acachapante derrota do PT, dos governos de Lula e Dilma Rousseff e do projeto político que comandou o Brasil nos últimos 13 anos e o levou à maior crise econômica de nossa história. De uma só vez, os brasileiros sepultaram a narrativa alimentada pelos lulopetistas de que a ex-presidente teria sido afastada do Palácio do Planalto por meio de um “golpe” e, fundamentalmente, deram às forças políticas que apoiaram o impeachment uma vitória inconteste nas urnas.

Os partidos que compõem a base de sustentação do governo de Michel Temer administrarão cerca de 90% da população brasileira a partir de 2017, uma marca significativa e emblemática. Enquanto o PMDB continuará governando o maior número de municípios, caberá ao PSDB a missão de comandar o maior contingente de eleitores em todo o país. O partido elegeu 29 prefeitos nas 93 cidades mais importantes do Brasil (o chamado G93, grupo formado pelas 26 capitais e os 67 municípios com mais de 200 mil eleitores).

Tempo de anistia - Merval Pereira

- O Globo

O Congresso entrou em clima de anistia. O novo projeto de lei sobre o caixa dois eleitoral, inserido nas diversas medidas de combate à corrupção em debate na Câmara, anistiará, direta ou indiretamente, políticos que usaram dinheiro não contabilizado (lembram-se do Delúbio Soares?) nas suas campanhas, desde, é claro, que a origem seja licita
Na nova lei de repatriação de dinheiro que está no exterior, em paraísos fiscais ou não, sem ter sido declarado à Receita, o Senado proporá uma ampliação das garantias legais, se possível uma anistia explícita para dar maior “segurança jurídica” a quem aderir ao programa.

O secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, em entrevista ontem ao GLOBO, foi claro ao dizer que, a partir da vigência do acordo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), vai ficar muito mais fácil alcançar dinheiro não declarado no exterior. “A era do sigilo bancário acabou”, comemorou Rachid.

A despolarização partidária - José Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

• De junho de 2013 ao fim de 2014, nenhuma sigla se beneficiou da perda de simpatia pelo PT

Pela primeira vez em 15 anos o PMDB empatou em simpatizantes com o PT. Ambos aparecem juntos em primeiro lugar, com 11% de citações em pesquisa nacional do Ibope. Desde junho de 2001, o instituto registrava mais petistas do que peemedebistas na sua série histórica de preferência partidária. A mudança coincide com as eleições municipais, quando o PT sofreu a maior derrota eleitoral de sua história. Essa não foi a única mudança nas cores do eleitorado, porém. Nem foi a maior.

A queda da simpatia pelo PT não é novidade. O partido está em decadência na opinião pública desde junho de 2013 – quando centenas de passeatas percorreram o País em protestos contra quase tudo, especialmente contra o sistema de representação. O governo Dilma foi voluntário para ser alvo das manifestações. E o PT, pela primeira vez em décadas, perdeu o domínio das ruas.

Lula não vota, mas julga o voto dos outros - Roberto Dias

- Folha de S. Paulo

"O povo brasileiro ainda não está em condições de votar por falta de prática, por falta de educação e porque se vota em geral mais por amizade com os candidatos." Dita por Pelé nos anos 70, a frase marcou época. Numa ditadura que engatinhava para as urnas, discutir a "qualidade" do voto não parecia a prosa mais inteligente. A sentença também marcou o autor, ao sugerir que, sem chuteira, ele tinha pouco a somar, ideia eternizada por Romário: "O Pelé calado é um poeta".

Longe dos gramados de Brasília, Lula falou à vontade na terça (1º), na Universidade Federal de São Carlos (SP), dois dias após a eleição que desidratou o PT. Envolto por plateia reverenciosa e por uma lógica de "nós contra a elite" que sufoca a matemática, concluiu que as pessoas que discordam dele, bloco ora majoritário, "não aceitam que prefeituras progressistas governem este país". Criticou sobretudo os moradores de SP, epicentro de sua derrota: "Aqui o problema é o conservadorismo".

O pai adotivo da classe C - Maria Cristina Fernandes

- Valor Econômico

• Crivela adotou o rebento que o PT pôs no mundo

Ao longo das cinco eleições majoritárias que disputou no Rio, Marcelo Crivela fez do Cimento Social, um puxadinho precursor do Minha Casa Minha Vida, sua plataforma mais conhecida. O senador do PRB chegou à Prefeitura do Rio no ano do naufrágio do PT e do prefeito Eduardo Paes, aliados na transformação da cidade no oásis de tapumes de um eldorado das obras paradas. O prefeito eleito foi um sócio privilegiado da empreitada. Seu partido filiou o primeiro vice do PT (José Alencar), ocupou ministérios nos governos dos dois presidentes petistas e apoiou Paes.

Eleito, Crivela decretou o fim da era das grandes obras. Escolheu como slogan o cuidado com as pessoas, a melodia do canteiro parado. O discurso pastoral caiu como um bálsamo na chaga da recessão. O PT foi derrubado porque deserdou o rebento que pôs no mundo, a classe C. Crivela foi eleito porque ofereceu-se para adotá-lo num momento em que não apareceu outra luz acesa na favela.

O discurso pastoral cresceu com a falência das UPPs, aposta de uma política participativa para conter a violência. Com mansidão, desmontou o adversário ("Freixo quando não está atacando é encantador"). Parece precipitado, no entanto, apostar que o senador governará à luz dos dez mandamentos. No limite, cultivará a imagem de um gestor 'cristão'.

Volta, FHC - Xico Graziano

- Folha de S. Paulo

Gostaria de expor uma posição política. Faço-o com total desprendimento e isenção. Embora filiado ao PSDB desde sua fundação, pelo partido não falo. Externo posição política independente.

Não pertenço a nenhum grupo, nem o de Aécio Neves, nem o de José Serra, nem o de Geraldo Alckmin. Tenho apreço por todos eles, mas a nenhum devo satisfações.

Tampouco me expresso em nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem sirvo com dedicação desde sua campanha ao Senado, em 1986.

Mantenho atualmente com ele as melhores relações de amizade, respeito e admiração. Auxilio-o defendendo seu legado nas redes sociais.

Sigo sua liderança e me espelho no exemplo do homem que tem sido capaz de se reinventar a cada instante, tendo se tornado o ponto de equilíbrio dessa nação esfacelada pela crise econômica, social e política.

As garras do falcão - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• Não é à toa que Trump anda falando que as eleições serão fraudadas e só reconhecerá o pleito se ganhar a presidência dos Estados Unidos

A disputa entre Donald Trump e Hillary Clinton mostra a esquizofrenia da democracia norte-americana, que surpreendeu o mundo com a eleição de Barack Obama, e sua recondução ao cargo, o que era tão inimaginável quanto a escolha do Papa Francisco. O líder comunista Fidel Castro chegou a dizer, certa vez, que o reatamento das relações de Cuba com os Estados Unidos era tão improvável quanto a vitória de um presidente negro na maior economia do planeta e a eleição de um papa argentino na Igreja Romana. As três coisas aconteceram.

A cinco dias do pleito, o histriônico empresário Donald Trump, candidato do Partido Republicano, com suas declarações xenófobas e reacionárias, está ligeiramente à frente da candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton, enrolada por causa da utilização de e-mail pessoal quando era chefe do Departamento de Estado. Isso não significa que vencerá as eleições, porque a escolha do presidente é feita de forma indireta, por delegados eleitos nos estados. Dois deles, que ainda estão indefinidos, decidirão os destinos da América: Ohio e Flórida, com 20 e 29 “superdelegados”, respectivamente.

O fisco e a moeda - Edmar Bacha

- Valor Econômico

• Não deve caber só ao BC a responsabilidade de decidir sobre o volume de reservas internacionais e de swaps cambiais

Desde a crise financeira de 2008-09, os balanços dos Bancos Centrais dos países industriais expandiram-se enormemente. A causa foi a compra maciça de títulos tanto do setor público como do setor privado praticada por esses bancos para irrigar os mercados financeiros e evitar a repetição do colapso econômico mundial da década de 1930.

O tsunami de liquidez internacional causado por essas políticas chamadas de afrouxamento quantitativo gerou uma tendência de valorização das moedas dos países emergentes, além de um enorme aumento das reservas internacionais de seus bancos centrais. Dessa forma, também os balanços dos bancos centrais dos países emergentes ampliaram-se extraordinariamente desde a crise financeira internacional.

Ajuste, por bem ou por mal - Carlos Alberto Sardenberg

- O Globo

• Número de funcionários nos municípios simplesmente dobrou. E os salários reais, em média, subiram coisa de 50%

É difícil tirar uma tendência de eleições municipais num país tão amplo e tão diversificado. Mas, observando os principais centros políticos, as capitais estaduais e as cidades mais dinâmicas e de maior peso regional, pode-se dizer que a agenda de esquerda — a ideia de que o governo e suas estatais podem tudo — foi dizimada. Quanto à agenda liberal, o seu contrário, não se pode dizer que teve uma vitória esmagadora. Mas é certo que avançou em boa parte do país.

Essa discussão, no fundo, é a seguinte: o que fazer no pós-PT? Debate, aliás, que envolve até a esquerda. Como sobreviver sem o PT e, sobretudo, sem Lula, que está com seus dias políticos contados?

É verdade que tal discussão não apareceu explicitamente em boa parte dos municípios. Mas dava para perceber. Por exemplo, quando os candidatos petistas e/ou de esquerda esconderam a estrela, Lula e Dilma, estavam dizendo que uma era havia acabado. Quando candidatos de diversos partidos se diziam “não políticos”, estavam refletindo a crítica ao excesso de Estado, aos aparelhamentos. E, sobretudo, quando candidatos ao centro prometiam diminuir a máquina e cortar cargos, estavam apontando para o necessário ajuste de contas. Na mesma direção, muitos falaram de necessidade de parcerias com o setor privado para novos investimentos.

Efeito Borboleta - Celso Ming

- O Estado de S. Paulo

Depois de muita vacilação, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), presidido por Janet Yellen, finalmente deu a entender nesta quarta-feira que começará em breve a megaoperação de enxugamento de dólares no mercado.

Não há prazo para isso, mas, pelo teor do comunicado, parece mais provável que comece em 14 de dezembro, data da próxima reunião do Comitê de Política Monetária destinada a rever os juros.

Por mais cauteloso que venha a ser, trata-se de movimento que, mesmo antes de começar, deve produzir consequências importantes, do tipo efeito borboleta: um sutil bater de asas próximo dos polos pode se transformar em furacão nos trópicos.

Apenas para passar o aspirador de pó na memória, vale pontuar que tudo começou com a crise de 2008 que levou os grandes bancos centrais a comprar montanhas de títulos nos mercados, os mesmos que vinham sendo enjeitados e derrubando a economia. O resultado foi o monumental despejo de moeda. Só o Fed injetou US$ 4,45 trilhões (veja o gráfico no Confira). O resultado foi a derrubada dos juros.

Despesa obrigatória subirá além do previsto - Ribamar Oliveira

- Valor Econômico

• A questão é saber se o governo mudará o Orçamento de 2017

As despesas obrigatórias da União vão aumentar ainda mais neste ano por causa, principalmente, da Previdência Social. A avaliação do quinto bimestre, que será divulgada no dia 22 de novembro, deverá trazer uma elevação dos gastos com benefícios previdenciários entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões, de acordo com fontes do governo. É muito provável que outras despesas obrigatórias também subam.

Como a receita tributária federal está em queda, em relação à previsão que consta do último decreto de programação orçamentária e financeira, o crescimento das despesas obrigatórias será coberto pela arrecadação obtida com a regularização de ativos de brasileiros mantidos no exterior de forma ilegal - a chamada repatriação.

Ajuste com dinheiro extra? – Editorial / O Estado de S. Paulo

O governo federal conseguiu um bom reforço de caixa para fechar suas contas e para ajudar administrações estaduais e municipais. Mas será um erro confundir a arrecadação e o uso desse dinheiro com o processo normal de ajuste das contas públicas. São coisas muito diferentes, mas confusões desse tipo são parte da tradição política brasileira.

A regularização de recursos mantidos no exterior proporcionou uma receita extra de R$ 50,9 bilhões. A maior parte desse dinheiro, R$ 38,5 bilhões, ficará com o poder central. O resto irá para os governos subnacionais, por meio dos fundos de participação. “Será uma ajuda crucial para os Estados”, disse o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, comentando a divisão do novo bolo de recursos.

Com endereço certo – Editorial / O Globo

• Faz sentido o objetivo do projeto, mas o momento e seu autor criam uma enorme suspeição

No jargão do Congresso, batizam-se de “jabutis” emendas feitas em projeto de lei ou medida provisória sobre até mesmo outros temas, para atender a interesses específicos de alguém ou grupos. A prática é, inclusive, motivo de investigações sobre um comércio de colocação de “jabutis” mediante pagamentos certamente régios. O ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, no momento preso pela Lava-Jato, é, por exemplo, acusado de ter operado nesse “mercado”.

Mas parece haver outro tipo de “jabuti”, avantajado, porque não se trata de emendas contrabandeadas para algum projeto. O próprio projeto é o “jabuti” que interessa a um grupo específico. No caso, a políticos atemorizados com a evolução da Lava-Jato e outras investigações de casos de corrupção.

A passeio – Editorial / Folha de S. Paulo

Mesmo na agenda de estudiosos da infraestrutura olímpica não haverá de constar como prioritária uma visita a instalações de esporte de alto rendimento na Nova Zelândia. A este compromisso, no entanto, devem dedicar-se seis deputados federais brasileiros nos próximos dias, a caminho de Auckland.

O grupo também passará por Sydney e Canberra, na Austrália, onde estabelecerá contato com organizações esportivas —uma viagem que, se tanto, teria algum sentido antes da Olimpíada do Rio.

Exceção feita ao longo deslocamento que envolve, o passeio não destoa do ambiente geral no Congresso durante esta semana.

Encerrado o segundo turno das eleições municipais, seria de esperar que o Legislativo desse total atenção à vasta pauta de decisões que procura tirar o país do atoleiro econômico e político.

Ambiente de negócios se deteriora mais no Brasil – Editorial / Valor Econômico

O Brasil escorregou mais no ranking de ambiente de negócios elaborado pelo Banco Mundial, o "Doing Business". É uma notícia decepcionante, mas não chega a surpreender dado o acúmulo de problemas que o país vem enfrentando após dois anos de recessão e virtual paralisação dos investimentos em infraestrutura. Foi uma queda de nada menos que sete posições, da 116ª para 123ª, entre 190 países analisados.

Dos 11 indicadores examinados para a construção do índice, o Brasil teve queda em sete deles, ficou estável em um e melhorou em apenas três. Não é consolo o fato de o Banco Mundial ter dito que o clima para fazer negócios no Brasil até melhorou recentemente, mas outros países avançaram e o deixaram para trás. Dos 190 países incluídos no ranking, 137 fizeram reformas para estimular os negócios, ou 72% do total.

Como é bom lembrar de você - Nazım Hikmet

Como é bom lembrar de você:
em meio a notícias de morte e vitória
na prisão,
passando dos quarenta anos de idade..

Como é bom lembrar de você:
na sua mão esquecida sobre um tecido azul,
e nos seus cabelos,
há a maciez serena do meu querido solo de Istambul...
É como uma segunda pessoa dentro de mim,
a felicidade de amá-la...

O cheiro da folha do gerânio que fica na ponta dos dedos,
uma calma ensolarada,
e o convite da carne:
dividida com linhas rubras,
uma cálida,
e profunda escuridão...

Como é bom lembrar de você,
escrever sobre você,
e deitar-me na prisão e pensar em você,
a palavra que você disse em tal dia e em tal lugar
não tanto ela em si,
como o seu mundo de expressão...

Como é bom lembrar de você.
Devo talhar alguma coisa de madeira para você de novo:
uma gaveta,
um anel,
e devo tecer uns três metros de seda fina,
E, imediatamente,
saltando do meu lugar
agarrando-me às trancas de minha janela
para o azul branquicento da liberdade
devo gritar o que escrevi para você...

Como é bom lembrar de você:
em meio a notícias de morte e vitória
na prisão,
passando dos quarenta anos de idade...

Amigo aprendiz - Rodrigo Costa Félix