sábado, 17 de outubro de 2015

Opinião do dia – Nelson Motta

(...) lamento não estarmos na Idade Média, com as tropas de Dilma e de Cunha se massacrando mutuamente numa batalha sangrenta, limpando o terreno para que novas forças políticas pudessem reconstruir o país destruído pela corrupção, incompetência e ambição de duas quadrilhas em disputa dos cofres do Estado.

O difícil é saber que novas forças são essas."

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Nelson Motta é jornalista. ”Piada de brasileiro”, O Globo, 16 de outubro de 2015

Lobista envolve líder petista e PMDB no Senado com propina de navio

Graciliano Rocha – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O lobista Fernando Soares, o Baiano, relatou à Procuradoria-Geral da República ter realizado pagamentos de propina ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e ao líder do governo, senador Delcídio do Amaral (PT-MS) no contrato de afretamento do navio-sonda Petrobras 10.000.

De acordo com um investigador ouvido pela Folha, o petista e o peemedebista teriam dividido entre US$ 5 e 6 milhões com Jader Barbalho (PMDB-PA) e o então ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau –afilhado do PMDB do Senado no cargo.

Os pagamentos teriam sido feitos, segundo ele, entre 2006 e 2008. O operador dos pagamentos, segundo Baiano, foi o paraense Jorge Luz, uma espécie de decano dos lobistas que atuavam na Petrobras.

No depoimento de 10 de setembro, Baiano relatou aos procuradores uma conversa, em 2010, com o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Naquela ocasião, Baiano foi ao escritório político de Cunha no Rio para pedir apoio para pressionar outro lobista, Julio Camargo, pagamentos atrasados de propina relativos ao contrato de um segundo navio-sonda, o Vitória 1000.

Ali, Baiano revelou ao deputado que Renan e Jader Barbalho tinham recebido "comissão" do contrato do Petrobras 10.000.

Indagado pelos procuradores se também havia mencionado Delcídio e Rondeau na conversa com Cunha, Baiano disse que preferiu citar apenas os senadores do PMDB ao deputado.

O relato das propinas a Renan, Delcídio e Jader integram um dos anexos da delação de Baiano, homologada pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal.
O "Jornal Nacional", da TV Globo, informou na noite desta sexta (16) que o senador Delcídio recebeu US$ 1,5 milhão de dólares de propina pela compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. O negócio foi feito pela Petrobras em 2006 e rendeu um prejuízo de US$ 790 milhões aos cofres da estatal.

A informação baseia-se em outro depoimento dado aos procuradores. Conforme a TV Globo, citando o delator, o suposto pagamento a Delcídio ocorreu devido à influência dele na indicação de Nestor Cerveró para a diretoria internacional da Petrobras.

Entre 2005 e 2012, a diretoria internacional foi um feudo político do PMDB. Preso desde janeiro no curso da Operação Lava Jato, Cerveró já foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Outro lado
Em nota publicada em sua página no Facebook, Delcídio nega as acusações, que classifica como um "absurdo".

"É muito estranho que meu nome tenha sido novamente citado nessa investigação, colocado numa época em que eu era considerado "persona non grata" por todos que estavam sendo investigados pela CPMI dos Correios, cuja presidência exerci exatamente nesse período [2005/2006]", disse na nota.

Delcídio afirmou ainda que foi apresentado a Fernando Soares na década de 90 pelo empresário Gregório Marin Preciado. "Depois dessa época nunca mais o vi nem tive nenhum tipo de contato com o mesmo", escreveu.

"Lembro que a própria Procuradoria-Geral da República solicitou ao STF [Supremo Tribunal Federal], e foi atendida, o arquivamento de procedimentos onde meu nome foi citado no âmbito dessas investigações", completou.

Em março, o STF arquivou um pedido de investigação contra o senador por não ter visto motivos para isso. Na época, Delcídio havia sido citado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa em delação premiada. De acordo com Costa, ele disse que "ouviu dizer" que Delcídio teria recebido propina quando era diretor de Gás e Energia da Petrobras, de 2000 a 2002.

Renan Calheiros também negou as acusações e disse, por meio de nota distribuída por sua assessoria, que não conhece Fernando Baiano e não autorizou ninguém a falar em seu nome em qualquer circunstância.

"O senador reitera que suas relações com empresas públicas e privadas nunca ultrapassaram os limites institucionais. O senador conhece Jorge Luz, mas não o vê há mais de dez anos", diz a nota.

A Folha não conseguiu contato com Jader Barbalho, mas em resposta ao Jornal Nacional o senador afirmou desconhecer Fernando Soares e que na época da denúncia não era senador.

A reportagem também não conseguiu localizar o advogado de Jorge Luz ou o ex-ministro Silas Rondeau.

Delator de Eduardo Cunha aponta Renan, Jader, Delcídio e Rondeau ‘destinatários’ de propinas

• Fernando Baiano, em delação à Procuradoria-Geral da República, relatou que senadores e ex-ministro do governo Lula teriam recebido valores na contratação da sonda Petrobrás 10.000

Por Andreza Matais, Ricardo Brandt, Julia Affonso e Mateus Coutinho – O Estado de S. Paulo

Em sua delação premiada à Procuradoria-Geral da República, o lobista Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador de propinas do PMDB e acusador do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ), citou outros nomes do partido como supostos beneficiários de valores ilícitos do esquema de corrupção que se instalou na Petrobrás entre 2004 e 2014:. Ele apontou Renan Calheiros (PMDB/AL) e Jader Barbalho (PMDB/PA). Também citou um senador do PT, Delcídio Amaral (MS), líder do Governo Dilma Rousseff no Senado, e o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau (2005/2007/Governo Lula).

Segundo Baiano, os quatro políticos teriam recebido US$ 6 milhões em propinas na contratação do navio sonda Petrobrás 10.000, no ano de 2006. Baiano afirmou que, em 2010, em reunião com o deputado Eduardo Cunha citou os nomes dos três senadores e do ex-ministro como ‘destinatários’ de valores referentes à contratação da sonda.

“Que, inclusive, fez menção aos nomes dos políticos Renan Calheiros e Jader Barbalho como destinatários de parte dos valores referentes à primeira sonda”, registrou a Procuradoria, no depoimento de Baiano em 10 de setembro de 2015.

Ele também disse que Delcídio Amaral teria recebido US$ 1,5 milhão em espécie na operação de compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Baiano citou o lobista Jorge Luz como o suposto pagador dos políticos do PMDB.

O operador do PMDB disse que ‘até então, Eduardo Cunha não sabia do pagamento de tais valores para os políticos do PMDB’. Ele disse que ‘pressionou’ o lobista Júlio Camargo com o argumento de que estava ‘sendo cobrado pelo PMDB’. Segundo Baiano, na ocasião Júlio Camargo estava ’em atraso’ no pagamento da propina referente à sonda Petrobrás 10.000.

A reunião com Eduardo Cunha, em que Baiano citou os nomes dos senadores e do ex-ministro, ocorreu no escritório do deputado, no Rio de Janeiro. Naquela oportunidade, Baiano ‘explicou tudo o que tinha ocorrido na contratação das sondas Petrobrás 10.000 e Vitória 10.000′. Ele disse a Eduardo Cunha que a dívida do lobista Júlio Camargo ‘girava em torno de US$ 16 milhões, na época’.

Júlio Camargo também fez delação premiada e afirmou que, em 2011, foi pressionado pelo peemedebista por uma propina de US$ 5 milhões.

O senador Delcídio Amaral, por meio de sua assessoria de imprensa e do advogado Maurício Silva Leite, rechaçou com veemência a citação a seu nome. “Além de absurdo, é muito estranho que meu nome tenha sido novamente citado nessa investigação, colocado numa época em que eu era considerado ‘persona non grata’ por todos que estavam sendo investigados pela CPMI dos Correios, cuja presidência exerci exatamente nesse período (2005/2006)”, declarou o líder do Governo Dilma no Senado.

Delcídio Amaral disse que foi apresentado ‘ao senhor Fernando Soares’, na década de 90 pelo empresário Gregório Marin Preciado. “Depois dessa época, nunca mais o vi nem tive nenhum tipo de contato com o mesmo.”

O senador anotou, ainda, que a própria Procuradoria Geral da República solicitou ao Supremo Tribunal Federal, e foi atendida, o arquivamento de procedimentos onde seu nome foi citado no âmbito das investigações da Operação Lava Jato.

O senador Renan Calheiros tem negado taxativamente recebimento de propinas no esquema instalado na Petrobrás.

O senador Jader Barbalho e o ex-ministro Silas Rondeau não foram localizados.

Ex-gerente da Petrobrás entregou extratos com pagamentos de propina acertada por amigo de Lula

• Eduardo Musa apresentou à Lava Jato comprovante de recebimentos da Schahin, via subsidiária, em conta da Suíça; delator aponta que valor foi pago por contrato de operação de sonda, acordado entre pecuarista José Carlos Bumlai e operador do PMDB

Por Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Julia Affonso – O Estado de S. Paulo

CURITIBA, SÃO PAULO - O ex-gerente geral da Diretoria de Internacional Eduardo Musa entregou ao Ministério Público Federal os extratos de sua conta secreta aberta no banco Julius Baer, na Suíça. Foi por essa conta que confessou ter recebido sua cota da propina de US$ 5 milhões paga pelo Grupo Schahin, referente ao contrato de operação do navio-sonda Vitoria 10000.

São pagamentos da Casablanca International Holding, usada pela Schahin – investigada por cartel e corrupção na Petrobrás, pela Operação Lava Jato – para pagamentos entre os anos de 2011 e 2013, segundo Musa.

O acerto da propina e a contratação da Schahin foi fechado pelo pecuarista José Carlos Bumlai – amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – e pelo operador do PMDB Fernando Antonio Soares Falcão, o Fernando Baiano, novo delator-bomba da Lava Jato.

Em encontro no escritório de Fernando Baiano, no Rio, Bumlai e Baiano acertaram o pagamento de US$ 5 milhões, viabilizado por Fernando Schahin, para o ex-diretor de Internacional da Petrobrás Nestor Cerveró – preso desde janeiro, pela Lava Jato – e dois ex-gerentes da área, Luis Carlos Moreira e Musa.

“Referente à empresa Schahin Engenharia, todos os depósitos eram no valor de US$ 48 mil”, afirmou Musa, em seu termo de delação número 8. “No ano de 2011 recebeu depósitos das offshores Casablanca, de propriedade da empresa Schahin, relativos à sonda Vitoria 10000″, registra a PF.

Musa foi gerente da Diretoria Internacional de 2006 a 2008. Ele deu os nomes de outras empresas ainda usadas pelo grupo para os pagamentos em sua conta no Julius Baer, na Suíça. “Recebeu depósitos das offshores Deep Black Drilling, Black Gold Drilling e Dleif Drilling, todas de propriedade da empersa Schahin relativas à sonda Vitoria 10000.”

O ex-gerente de Internacional fechou acordo de delação premiada com a Lava Jato, em Curitiba. “A conta no Julius Baer tinha por objetivo receber propina da Schahin e da Vantage”, afirmou Musa, em sua delação.

Abertura de contas. Musa explicou aos investigadores que trabalhou desde a década de 1970 na Petrobrás e que em 2006, quando foi transferido para a Diretoria de Internacional, foi que tomou conhecimento efetiva do recebimento de propinas em contratos, entre eles o das sondas Vitoria 10000 e Petrobrás 10000.

“Para o recebimento das vantagens indevidas dos contratos da área Internacional, foi orientado por Luis Moreira a abrir contas no exterior.”

Segundo os delatores, foi Fernando Schahin, filho de um dos fundadores do grupo, que cuidou dos pagamentos no exterior. Cerveró e Moreira teriam indicado contas no Uruguai para as operações. Musa diz ter preferido a Suíça.

O doleiro Bernando Freiburghaus, que é foragido da Lava Jato na Suíça, foi o responsável pelas contas mantidas por ele naquele País.

Com a palavra, o pecuarista José Carlos Bumlai
O pecuarista José Carlos Bumlai, por meio de sua assessoria de imprensa, infirmou que “não participou de reunião alguma com essas pessoas” e que não tratou de contratos da Petrobrás.

“Todas as informações ultimamente veiculadas na imprensa ligando o nome do empresário José Carlos Bumlai a escândalos relacionados à operação Lava Jato são ilações inverídicas baseadas exclusivamente em depoimentos prestados por delatores. Até o momento, não temos conhecimento de qualquer prova ou acusação formal contra o Sr. Bumlai e muito nos espanta a divulgação dessas notícias nos jornais e revistas, especialmente porque tais depoimentos, segundo informações dos advogados, estão sob segredo de justiça, o que torna as notícias ainda mais especulativas.

Bumlai nega que tenha qualquer relação com as mentiras já publicadas, e repudia as novas infâmias que estão sendo agora assacadas contra sua pessoa”.

Baiano diz que mais políticos receberam propina

• Em delação, lobista citou Renan Calheiros, Delcídio Amaral, Jader Barbalho e Silas Rondeau

Por Eduardo Bresciani – O Globo

BRASÍLIA - O lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, afirmou em sua delação premiada que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau receberam propina desviada da contratação pela Petrobras de um navio-sonda. Os pagamentos teriam sido operados pelo empresário Jorge Luz. Segundo o “Jornal Nacional”, da TV Globo, Baiano afirmou que os quatro políticos dividiram US$ 6 milhões.

Baiano disse ter mencionado sobre os pagamentos a Calheiros e a Jader em uma das conversas que teve com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), quando pediu ajuda deste para cobrar propina devida pelo consultor Júlio Camargo.

“Que, em um primeiro momento, disse a Eduardo Cunha inclusive que teve pagamentos para políticos do PMDB por intermédio de Jorge Luz, referente a primeira sonda; Que inclusive fez menção ao nome dos políticos Renan Calheiros e Jader Barbalho como destinatários de parte dos valores referentes à primeira sonda; Que questionado se fez a menção a Delcídio Amaral e Silas Rondeau, respondeu que não, pois preferiu fazer menção aos políticos do PMDB, que era o partido de Eduardo Cunha”, registra trecho do depoimento.

Segundo o “Jornal Nacional”, o lobista mencionou ainda pagamento entre US$ 1 milhão e US$ 1,5 milhão a Delcídio desviado da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. O dinheiro teria sido usado para a campanha de Delcídio ao governo do Mato Grosso do Sul.

Por meio de sua assessoria, o presidente do Senado disse não conhecer Baiano e negou ter recebido propina. Ressaltou ainda jamais ter autorizado terceiros a utilizarem seu nome. Jader afirmou que nem sequer sabia da existência de Baiano e que nem era senador na época do contrato mencionado.

Em nota, o senador Delcídio Amaral afirmou ser “absurdo” e “muito estranho” que seu nome tenha sido citado novamente na Lava-Jato. Ressaltou que no período dos contratos mencionados, entre 2005 e 2006, era presidente da CPMI dos Correios e tinha virado “persona non grata” por todos que eram investigados na ocasião. Disse que foi apresentado a Fernando Baiano na década de 90 por um empresário, mas que não teve mais contato com ele. O GLOBO não localizou Silas Rondeau e Jorge Luz.

PF abre inquérito para investigar campanha de Dilma 4 meses após determinação do TSE

• Decisão atende à determinação do ministro Gilmar Mendes que utiliza informações reveladas pelas investigações da Operação Lava Jato para dizer que a campanha foi supostamente financiada com recursos da Petrobrás

Andreza Matais - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Quase quatro meses após o ministro Gilmar Mendes, do Tribunal Superior Eleitoral, determinar abertura de inquérito para investigar suposta prática de atos ilícitos na campanha que reelegeu a presidente Dilma Rousseff em 2014, a Polícia Federal instaurou a investigação. A primeira determinação do ministro é de junho; a segunda é de agosto.

Gilmar utiliza informações reveladas pelas investigações da Operação Lava Jato para dizer que a campanha foi supostamente financiada com recursos da Petrobrás. Por ser uma empresa de capital misto (recursos públicos e privados) a petroleira é vedada de financiar campanhas eleitorais. "As doações contabilizadas parecem formar um ciclo que retirava os recursos da estatal, abastecia contas do partido, mesmo fora do período eleitoral, e circulava para as campanhas eleitorais", escreveu o ministro.

O ministro também citou delação premiada do lobista Milton Pascowitch, que afirmou a investigadores que parte dos recursos de propina teria sido repassada a pedido do então tesoureiro do PT João Vaccari Neto, hoje preso na Lava Jato, ao site Brasil 247, "simulando contrato de prestação de serviços". "O objetivo seria financiar a propaganda disfarçada do Partido dos Trabalhadores e seus candidatos, além de denegrir a imagem dos partidos e candidatos concorrentes", concluiu o ministro. "Em suma, há indicativos de que o partido recebeu auxílio por meio de sociedade de economia mista e publicidade", resume.

As contas de campanha da presidente Dilma e do PT foram aprovadas com ressalvas pelo TSE em dezembro de 2014. A aprovação se deu na Corte por unanimidade após os ministros acompanharem o voto do relator, que foi o próprio Gilmar. No despacho ele justificou seu voto pela aprovação alegando que "apenas no ano de 2015, com o aprofundamento das investigações no suposto esquema de corrupção ocorrido na Petrobrás, vieram a público os relatos de utilização de doação de campanha como subterfúgio para pagamento de propina".

Logo após o despacho do ministro, a Secretaria de Comunicação Social do Palácio do Planalto emitiu nota afirmando que: "Todas as contribuições e despesas da campanha de 2014 foram apresentadas ao TSE, que após rigorosa sindicância, aprovou as contas por unanimidade", diz a nota assinada pelo ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, que foi o tesoureiro da campanha de Dilma no ano passado.

Nova denúncia acusa Odebrecht de pagar R$ 138 mi em propina

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, CURITIBA - No mesmo dia em que o ex-diretor da Odebrecht Alexandrino Alencar deixou a prisão por decisão do Supremo Tribunal Federal, os procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato apresentaram duas novas acusações de corrupção contra o presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, e três executivos da empresa.

Eles são acusados de pagar propinas no total de R$ 138 milhões em oito obras da Petrobras, como a terraplenagem das refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro).

Os ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Pedro Barusco também foram acusados pelo recebimento de suborno relativo a essas obras.

Noutra denúncia, os procuradores pedem a manutenção da prisão preventiva de Marcelo Odebrecht com o argumento de que ele já demonstrou a intenção de prejudicar as investigações.

Marcelo e três executivos (Márcio Faria, Rogério Araújo e Cesar Ramos Rocha) estão presos desde 19 de junho.

A força-tarefa diz que os executivos também indicaram que têm planos para eliminar provas que possam prejudicá-los e até fugir do país.

O plano para eliminar informações, segundo os procuradores, foi encontrado em anotações feitas no bloco de notas do celular de Marcelo. Uma anotação dizia "higienizar apetrechos MF e RA", uma possível referência a Márcio Faria e Rogério Araújo.

O suposto plano de fuga, segunda a acusação, aparece na expressão "tática Noboa", que foi interpretada como uma referência a Gustavo Noboa, presidente do Equador que fugiu do país ao ter a sua prisão decretada por suspeitas de corrupção na negociação da dívida externa.

Outro lado
A Odebrecht disse que não iria se manifestar porque não teve acesso à denúncia.

Amigo de Lula acusado de receber propina virou usineiro e quebrou

Mario Cesar Carvalho, Graciliano Rocha – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Eleito um dos alvos preferenciais da Operação Lava Jato depois que o lobista Fernando Soares, o Baiano, apontou o seu envolvimento em casos de suborno, o pecuarista João Carlos Bumlai é um dos poucos amigos de Lula que goza da intimidade do ex-presidente.

Bumlai viajava na mesma cabine que o petista no avião presidencial, enquanto outros empresários ficavam em outra área, participava de churrascos no Palácio do Alvorada e de pescarias em Mato Grosso do Sul.

A imagem de pecuarista, porém, não contempla todos os predicados de Bumlai. Engenheiro de formação, ele vem do mundo das empreiteiras: trabalhou por 30 anos na Constran na época em que a empresa pertencia ao empresário Olacyr de Moraes (1931-2015).

O pecuarista foi apresentando a Lula em 2002 por Zeca do PT. Lula era candidato à Presidência e Zeca, ao governo do Mato Grosso do Sul.

Após emprestar a fazenda para Lula gravar programas de TV de sua campanha, Bumlai passou a usar o nome do então presidente para fazer negócios. Lula parecia não se importar com o uso de seu nome, até que foi revelado que Baiano disse, em sua delação, que Bumlai lhe pedira R$ 2 milhões para uma das noras de Lula. Só agora ele se queixou do amigo.

Bumlai usou a amizade com Lula para intermediar negócios na Petrobras, no BNDES e na Eletrobras, como a usina Bela Monte.

Apesar de todo o prestígio que tem no mundo empresarial e do uso do nome de Lula, Bumlai está quebrado. O negócio que o afundou foi uma usina de etanol em Dourados (MS) chamada São Fernando.

Por conta da política do governo Dilma de subsídio à gasolina para segurar a inflação, o que levou o setor de álcool a afundar numa crise, a usina São Fernando entrou em recuperação judicial, com dívidas de R$ 1,2 bilhão, principalmente com bancos.

Bumlai teve de se desfazer da joia da coroa. Ele vendeu a fazenda Cristo, propriedade de 120 mil hectares no Pantanal, ao banqueiro André Esteves. Das 150 mil cabeças de gado do passado restaram pouco mais de 5.000 em outras três fazendas menores administradas pelos filhos.

Antes de aparecer na Lava Jato, Bumlai foi investigado num escândalo em Campinas (SP) que envolvia o PT, a Camargo Corrêa, a Constran e a Sanasa, companhia de saneamento da cidade, em 2012. Segundo a Promotoria, Bumlai pagava propina a petistas.

Em conversa interceptada, Bumlai dizia que poderia delatar para "proteger Lula". A acusação contra ele, porém, foi arquivada.

Outro lado
A defesa de José Carlos Bumlai chamou as acusações de "disparate" e disse que o empresário "jamais deu um centavo" ao ex-presidente Lula ou parentes dele. Segundo o advogado Arnaldo Malheiros Filho, os negócios privados de Bumlai "não se revestem da ilegalidade com que se procura incriminá-lo".

Levy reclama de 'fogo amigo' e deve deixar o Ministério da Fazenda

• Desgastado por críticas de Lula e do PT, ministro esteve em reunião com a presidente nessa 6ª; ele planeja deixar cargo até o fim do ano

Vera rosa e Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, disse a interlocutores que pretende deixar o cargo no fim do ano, caso o "fogo amigo" contra ele continue dentro do governo e no PT. Levy está muito irritado com as críticas que vem sofrendo por parte do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do partido e, em conversas reservadas, avalia que sofre uma espécie de "ataque especulativo", o que prejudica até mesmo a aprovação do ajuste fiscal pelo Congresso.

Nos últimos dias, Lula intensificou o bombardeio na direção de Levy. Em jantar com a presidente Dilma Rousseff, na quinta-feira, Lula voltou a dizer que o titular da Fazenda tinha "prazo de validade", expressão usada por ele em outras ocasiões para expressar o descontentamento com o comandante da economia. Dilma, porém, resiste a trocar Levy por achar que a demissão criará mais instabilidade no governo.

Depois de convencer a cúpula do PT a não pedir a cabeça do ministro da Fazenda em resolução aprovada pelo 5.º Congresso do partido, em junho, Dilma assistirá a mais um capítulo da revolta petista. Em reunião marcada para o próximo dia 29, o Diretório Nacional do PT promete pedir a demissão de Levy e propor uma guinada na política econômica.

Ex-secretário do Tesouro Nacional no governo Lula, apelidado pelos desafetos de "Levy, mãos de tesoura", o ministro da Fazenda anda muito desgostoso com a falta de solidariedade no governo. Está se sentindo "isolado". Ele não apresentou carta de demissão nem se queixou com Dilma, mas não escondeu o aborrecimento com as estocadas públicas de Lula. Na terça-feira, por exemplo, o ex-presidente afirmou, no Congresso da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que Dilma tinha adotado o discurso da campanha adversária.

Na reunião com deputados do PT, na quinta-feira, Lula também bateu na tecla de que o governo precisava trocar a agenda de cortes pelo crescimento econômico e distribuição de renda.
"Eu vou para a rua defender o quê? A gente precisa vender esperança. Qual é o futuro? A agenda não pode ser só ajuste fiscal", insistiu o ex-presidente.

Lula já chegou a sugerir a Dilma, mais de uma vez, a substituição de Levy por Henrique Meirelles, que comandou o Banco Central de 2003 a 2010. Ela, porém, não gosta de Meirelles. Os dois foram colegas no governo do petista e protagonizaram duros embates.

Nos bastidores, o ministro diz que uma coisa é ser atacado por deputados no Congresso, outra é que isso seja feito, sistematicamente, por Lula. Na avaliação do ministro, isso o deixa desgastado. Para complicar, ontem não houve declaração de Dilma defendendo a sua permanência no governo, depois que circularam rumores, negados pela Fazenda, sobre um pedido de demissão.

Levy estava no Palácio da Alvorada, em uma reunião da Junta Orçamentária com Dilma, Nelson Barbosa (Planejamento) e Jaques Wagner (Casa Civil), quando surgiram as notícias de que ele entregaria o cargo. Auxiliares de Dilma asseguraram que o tema não foi tratado no Alvorada e que não houve conversa a sós entre os dois.

Desde o dia anterior, porém, o Planalto dava demonstrações de insatisfação com a conduta do ministro, por ele não ter divulgado cedo um comunicado sobre o rebaixamento da nota do Brasil, levando a Presidência a apresentar o posicionamento do governo. A nota da Fazenda só saiu tarde da noite, provocando críticas no Planalto. Esta é a segunda vez que o fato se repete, em menos de dois meses.

Em nota, a assessoria de Levy informou ontem que ele não pediu demissão. "Levy continua trabalhando e se esforçando pelo futuro do País", diz o texto.

Contas públicas. No mês que vem, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), promete analisar a chamada pauta-bomba do Congresso, que pode gerar forte impacto sobre a contas públicas. Levy tem trabalhado para evitar uma derrota do governo, o que, segundo ele, dificultaria ainda mais a possibilidade de recuperação da economia brasileira e manteria o déficit orçamentário.
Constam da pauta do Congresso a apreciação de vetos que preveem o reajuste dos servidores do Poder Judiciário, que tem impacto, segundo dados do governo, de R$ 36,2 bilhões até 2019, e o que atrela o aumento do salário mínimo a todos os benefícios do INSS, o que representa uma despesa extra de R$ 11 bilhões em idêntico período.

Levy ameaça sair e irrita Planalto

Em meio às críticas do PT e do ex-presidente Lula, o ministro da Fazenda. Joaquim Levy, chegou a redigir uma carta de demissão e pediu reunião com a presidente Dilma ontem. Mas ela não chegou a recebê-lo sozinho, e a iniciativa de Levy foi criticada por interlocutores da presidente

Sob pressão

• Levy ameaça sair e irrita Planalto, que vê tentativa do ministro de se fortalecer

Por Martha Beck, Eliane Oliveira e Bárbara Nascimento – O Globo

BRASÍLIA - Bombardeado pelo ex-presidente Lula e por parte do PT, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, chegou ontem a redigir uma carta de demissão e pediu reunião privada com a presidente Dilma Rousseff no fim da tarde. Na avaliação de fontes do Palácio do Planalto, a movimentação de Levy foi uma estratégia para tentar se fortalecer no governo. A intenção era reclamar do fogo-amigo, mas a reunião não aconteceu e, no começo da noite, o Ministério da Fazenda informou que o ministro continua no cargo.

No governo, as informações de que Levy estava com uma carta de demissão pronta para entregar à presidente Dilma foi lida como uma “operação” orquestrada pela Fazenda como forma de o ministro ganhar um aval, em meio à sistemática pressão do ex-presidente Lula e do PT para que ele saia.

A estratégia, segundo um auxiliar presidencial, foi vista como “desnecessária” e “inoportuna”, porque gerou mais uma onda em meio a um mar já revolto, com tantos problemas a serem administrados, definiu a fonte.

A turbulência ocorre num momento em que o governo enfrenta fortes dificuldades para aprovar no Congresso medidas consideradas essenciais para o reequilíbrio das contas públicas, como a recriação da CPMF, e acaba de sofrer um novo rebaixamento pelas agências de classificação de risco, neste caso, a Fitch. A equipe econômica ainda conta com a CPMF para fechar as contas de 2016, mas sabe da rejeição dos parlamentares ao tributo e da intenção do relator de não incluir a contribuição no cálculo de receitas.

Ataques de Lula, PT e Congresso
Levy sabe que é o fiel depositário da credibilidade que ainda resta na equipe econômica e usou esse trunfo para mostrar que é necessário, apesar das duras críticas que vem sofrendo.

Segundo interlocutores do governo, Lula tem defendido enfaticamente a troca do ministro da Fazenda por considerar que ele tem um discurso muito negativo e voltado para o ajuste fiscal, quando deveria estar falando mais de uma agenda positiva e da retomada do crescimento da economia. Ao participar do congresso nacional da CUT, na última terça-feira, o ex-presidente atacou a atual política econômica e disse que não se pode apenas ficar falando de cortes.

Um sinal da irritação atual do ministro foi a forma como Levy se comportou anteontem, após o anúncio do rebaixamento do Brasil pela Fitch. Assim que a notícia do downgrade começou a circular, o Palácio do Planalto pediu que a Fazenda se manifestasse e que Levy desse alguma declaração. O ministro não quis falar. Foi ao Planalto para participar de reunião da Junta Orçamentária e saiu sem dar declarações. A presidente não gostou da atitude dele.

Durante todo o dia, o Palácio do Planalto esperou que a Fazenda ao menos soltasse uma nota para comentar o rebaixamento e, como nada aconteceu até as 20h, o próprio Planalto foi obrigado a divulgar uma nota. Somente depois disso, em torno das 22h, foi que Levy decidiu se posicionar e mandou sua assessoria divulgar um comunicado. A essa altura, o governo não esperava mais que a Fazenda fosse comentar o assunto.

Se, de um lado, Levy está aborrecido, de outro, também está provocando irritação no Planalto. Sua atitude em relação à Fitch foi muito criticada por interlocutores da presidente Dilma. O fato lembrou episódio anterior que desagradou muito a cúpula do governo: no início de setembro, o ministro demorou mais de três horas para avisar a presidente sobre a decisão da agência de risco Standard & Poor’s de retirar o grau de investimento, selo de bom pagador do país. Levy foi avisado do downgrade no início da tarde, mas só comunicou a chefe depois das 18h.

— O Joaquim não é fácil. Mas ele adora o que faz e nunca quis realmente deixar o cargo — disse um integrante da equipe econômica.

Segundo interlocutores do ministro, Levy estaria com raiva e muito incomodado com os recentes ataques vindos não só do ex-presidente Lula e do PT, mas também do Congresso. A avaliação feita pelo próprio ministro a interlocutores é que seu isolamento cresceu tanto no Congresso quanto em setores do governo.

Segundo interlocutores do Planalto, essa não foi a primeira vez que o ministro ameaçou deixar o governo. Uma delas ocorreu em julho, quando a equipe econômica discutia a redução da meta de superávit fiscal primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) de 2015. Levy queria aguardar até o segundo semestre para reconhecer que o esforço fiscal de R$ 66,3 bilhões, ou 1,19% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) não seria atingido. Mas ficou isolado, pois Dilma apoiou a posição dos ministros do Planejamento, Nelson Barbosa; e de Aloizio Mercadante, então chefe da Casa Civil. A meta foi reduzida para R$ 8,7 bilhões, ou 0,15% do PIB.

Recentemente, Levy também foi contra a decisão de enviar ao Congresso a proposta orçamentária de 2016 com um déficit de R$ 30,5 bilhões. Com as receitas em queda, ele defendia que o Planejamento ampliasse os cortes de despesas para que o texto ficasse equilibrado e fosse compatível com uma meta de superávit fiscal primário de 0,7% do PIB no ano que vem. No entanto, a presidente bateu o martelo pelo déficit.

Encontro não privado
Poucos dias depois do envio ao Congresso da proposta orçamentária com déficit, o primeiro da História, Levy se reuniu com grandes empresários em São Paulo para discutir a crise econômica e os efeitos de uma flexibilização da área fiscal. A tônica da conversa foi que o governo precisava dar sinais concretos de que está comprometido com uma política fiscal equilibrada e que estava trabalhando para resolver o déficit orçamentário, mesmo que isso resultasse em mais cortes de gastos e afetasse os programas sociais. Os empresários, então, procuraram a presidente para conversar e defender os argumentos do ministro. Foi somente depois disso que o governo passou a trabalhar em medidas para reequilibrar o orçamento do ano que vem. A principal delas é a recriação da CPMF, que pode render R$ 32 bilhões aos cofres públicos, mas enfrenta forte resistência no Congresso.

Integrantes do Palácio do Planalto afirmam que a possibilidade de saída de Levy do governo não foi abordada na reunião de ontem da Junta Orçamentária, na qual o ministro e Dilma se encontraram, junto com outros dois ministros e integrantes do governo. Aliados do ministro acreditam que ele está disposto a permanecer no cargo por mais tempo, por ainda se sentir respaldado pessoalmente pela presidente Dilma, mas reconhecem que ele se sente cada vez mais desgastado.

Ao fim de uma semana na qual as notícias na área política foram mais positivas para o governo do que nos últimos tempos, integrantes do governo festejaram a continuidade do ministro no cargo. Essas autoridades consideram improvável que a situação mude nos próximos dias, já que Dilma embarcou ontem à noite para a Suécia e só volta a Brasília na quarta-feira.

Eduardo Cunha pediu propina como doação ao PMDB, diz Baiano

• Fernando Baiano, pivô do cerco ao presidente da Câmara, afirmou à Procuradoria-Geral da República que 'esta ideia' partiu de Eduardo Cunha; o lobista Julio Camargo disse que a doação não se concretizou 'em razão dos limites de faturamento/doação impostos pela legislação eleitoral'

Por Ricardo Brandt, Julia Affonso, Mateus Coutinho, Andreza Matais e Fábio Fabrini – O Estado de S. Paulo

O lobista Fernando ‘Baiano’ Soares, apontado como operador de propinas do PMDB, afirmou à Procuradoria-Geral da República, em delação premiada, que o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) pediu propina em forma de doação eleitoral para o partido. As declarações de Baiano foram prestadas no dia 10 de setembro de 2015 , agora juntadas a pedido de novo inquérito contra Cunha, encaminha pela PGR ao Supremo Tribunal Federal (STF).

A sugestão de Eduardo Cunha teria sido feita em 2012, ano das eleições municipais. O modelo recomendado pelo presidente da Câmara é o mesmo que a Operação Lava Jato atribui ao PT. O ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto, já condenado a 15 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, teria exigido propina para sua agremiação em forma de doação eleitoral.

Segundo o delator, o lobista Julio Camargo estava atrasando o pagamento de propina sobre contrato do navio-sonda Vitória 10000, da Petrobrás.

Julio Camargo atuava como representante de multinacionais perante a Petrobrás. Ele escancarou o capítulo relativo à propina do presidente da Câmara.

“Julio Camargo começou a dizer que estava tendo dificuldade para disponibilizar dinheiro em espécie para pagar Eduardo Cunha; que, então, o depoente (Fernando Baiano) sugeriu que Julio Camargo fizesse uma doação oficial para Eduardo Cunha ou para o PMDB; que esta ideia em verdade partiu do próprio Eduardo Cunha”, afirmou Fernando Baiano. “Julio Camargo disse que não tinha como fazer a doação, em razão dos limites de faturamento/doação impostos pela legislação eleitoral.”

Eduardo Cunha já foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República, por corrupção e lavagem de dinheiro. O presidente da Câmara defende enfaticamente o modelo de doação de empresas a campanhas políticas.

Ainda segundo o operador do PMDB – condenado a 16 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro do esquema Petrobrás -, em 2012, ‘que era mais uma vez ano eleitoral, Eduardo Cunha passou a pressionar o depoente para cobrar Julio Camargo’.

As revelações de Fernando Baiano, divididas em vários depoimentos à Procuradoria-Geral da República, confirmam os relatos anteriormente dados pelo lobista Julio Camargo, que afirmou ter sido pressionado por Eduardo Cunha, em 2011, por uma propina de US$ 5 milhões. Segundo o operador do PMDB, as cobranças da propina atrasada ‘foram feitas em reuniões pessoais com Eduardo Cunha’.

Fernando Baiano citou em sua delação o doleiro Alberto Youssef, peça central da Operação Lava Jato, que derrubou a rede de propinas no esquema Petrobrás. Youssef teria providenciado o pagamento de parte da propina em espécie.

“Nesta época, Julio Camargo já havia pago em tomo de R$ 4 milhões, que era o valor recebido de Youssef”, afirmou Baiano.

Em um trecho de um seus depoimentos, Fernando Baiano afirma que o total da propina era de US$ 10 milhões e que ela seria paga de ‘maneira parcelada’.

Como Julio Camargo atrasou essas parcelas, Fernando Baiano disse que ‘passou a cobrar’ o lobista. “Que, então, o depoente passou a cobrar Julio Camargo, não apenas os valores devidos a si, mas também para valores de Eduardo Cunha; Que o depoente queria, no entanto, que Julio Camargo resolvesse prioritariamente os débitos com Eduardo Cunha, até porque era ano eleitoral e havia a pressão dele; Que Julio Camargo começou a dizer que estava tendo dificuldade para disponibilizar dinheiro em espécie para pagar Eduardo Cunha; Que, então, o depoente sugeriu que Julio Camargo fizesse uma doação oficial para Eduardo Cunha ou para o PMDB; que esta ideia em verdade partiu do próprio Eduardo Cunha.”

Eduardo Cunha negou reiteradamente o recebimento de propinas no esquema Petrobrás.

O PMDB tem reiterado que jamais autorizou qualquer pessoa a agir em nome do partido.

Aliados de Cunha já passam a defender renúncia

• ‘Solução Renan Calheiros’ é apontada como opção para escapar de cassação

Por Júnia Gama, Cristiane Jungblut e Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA - Até pouco tempo respaldado por uma ampla base de deputados governistas e da oposição, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), viu seu apoio ruir com a revelação dos documentos das contas secretas na Suíça nas quais teria recebido propina de corrupção na Petrobras. Muitos de seus aliados, de opositores e de integrantes de seu próprio partido, passaram a defender que Cunha se afaste do cargo para tentar salvar seu mandato.

A “solução Renan Calheiros”, referência ao presidente do Senado, que em 2007 renunciou à presidência da Casa para escapar de um processo de cassação, foi citada por vários deputados próximos a Cunha como a melhor alternativa no momento.

Em conversas por telefone ontem, os líderes da oposição — PSDB, DEM, PPS e SD — avaliaram que a situação de Cunha é “insustentável”. O grupo se reunirá na próxima segunda-feira para definir um pronunciamento sobre o tema. Por enquanto, reiteram a nota divulgada no sábado passado em que apenas defendem o afastamento de Cunha da presidência da Câmara. Cresceu até entre os entusiastas do impeachment a ideia de que Cunha já não tem “legitimidade” para conduzir o processo contra a presidente Dilma Rousseff na Câmara.

— A casa caiu, ele está perdendo o timing de tudo. Como vai fazer impeachment agora? Vai ficar claro que é por vingança, perde muito a credibilidade — diz um deputado da oposição.

As negociações com o governo, a partir de agora, vão se dar em outros termos, apostam auxiliares de Dilma. Se a princípio Cunha tinha em mãos a força da caneta do impeachment para barganhar sua absolvição no Conselho de Ética ou mesmo uma desaceleração do processo no Supremo Tribunal Federal, suas opções agora estão limitadas.

— A única negociação que ele pode fazer com o governo agora é se afastar da presidência para deixar as matérias do governo tramitarem normalmente. E tem que ser rápido, porque daqui a pouco até para salvar o mandato fica tarde. E o pior que pode acontecer a ele e à família é caírem nas mãos do Sérgio Moro — disse um interlocutor do Palácio do Planalto.

Ontem, vários dos deputados que costumam frequentar o gabinete de Cunha desligaram seus telefones celulares. Nas palavras de um governista, ninguém mais quer se ver “colado” a Cunha. Houve, no entanto, exceções, como o líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO), que defendeu que as contradições sobre as contas na Suíça sejam tratadas como questão “fiscal”, e não criminal:

— Estou com Cunha até debaixo d'água. Mesmo que as contas sejam dele e não tenham sido declaradas, é uma questão mais do ponto de vista fiscal do que em relação ao petrolão. E na CPI ele não foi convidado, não estava sob juramento, não tinha obrigação de contar a vida da família dele.

A cúpula do PMDB enfrenta um misto de constrangimento e de “compasso de espera”. Segundo ministros e parlamentares, a tradição do PMDB não é perseguir seus integrantes, até porque muitos já sofreram investigações.

O vice-presidente Michel Temer, apesar do encontro com Cunha na semana, também está cauteloso diante dos acontecimentos. O discurso oficial, verbalizado nos últimos dias pelo líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), é de que o estatuto do partido só prevê expulsão depois de decisão transitada em julgado.

Apesar da erosão dos apoios, o número de líderes que admitem se colocar publicamente contra Cunha ainda é pequeno. Um deles é o deputado Sílvio Costa (PSC-PE), um dos vice-líderes do governo na Câmara, que começou a articular ontem um documento assinado pelos 28 partidos da Câmara pedindo a renúncia do presidente.

— Ele não pode continuar como presidente da Câmara nesses 90 dias no Conselho de Ética. Estou sentindo dificuldades (de obter apoio). Mas estou no meu papel e continuarei com os telefonemas durante todo o final de semana.

Pré-candidato à Prefeitura do Rio é investigado por suspeita de agressão, diz revista

- Folha de S. Paulo

RIO - O secretário de governo do Rio, Pedro Paulo, espécie de supersecretário do prefeito Eduardo Paes (PMDB) e pré-candidato à sua sucessão, é investigado pela Polícia Civil por suspeita de ter agredido sua ex-mulher, Alexandra Marcondes Teixeira.

Pedro Paulo é responsável pelas principais obras que acontecem hoje no Rio e é tratado por Paes como futuro prefeito da cidade.

A informação foi divulgada pelo site da revista "Veja" na noite desta sexta (16).

Segundo a reportagem, o inquérito é amparado por laudo do Instituto Médico Legal (IML). Testemunhos de uma babá e da própria ex-mulher dão conta de que, na tarde de 6 de fevereiro de 2010, Pedro Paulo a agrediu a socos e pontapés durante uma briga. O casal se separou no dia seguinte, diz a revista. À época, Pedro Paulo era secretário da Casa Civil de Paes. Hoje, ele é secretário executivo de governo da Prefeitura do Rio.

Ainda de acordo com a reportagem, em depoimento à polícia, Teixeira disse que a briga foi provocada porque ela encontrou indícios de traição no apartamento que o casal dividia no Rio. A ex-mulher chegou de viagem sem avisar o ex-marido.

Encontrou cabelos longos no ralo do chuveiro, duas taças de vinho e um sutiã que não era seu debaixo da mesa da cozinha.

Quando Pedro Paulo chegou em casa no dia seguinte, anunciou o divórcio e aconteceu a briga, diz a revista, citando depoimento no inquérito. Pedro Paulo a teria empurrado e chutado depois que ela já estava no chão, dado um soco no seu olho esquerdo e um golpe na boca que quebrou um de seus dentes.

Segundo a publicação, a ex-mulher do secretário disse em seu depoimento que não era a primeira vez que Pedro Paulo a agredia –ele já tentara sufocá-la. A babá, Ana Paula Bernardes, chegou no final da discussão.

De acordo com a revista, a delegada Viviane Costa enviou na semana passada a investigação à Justiça Federal, já que Pedro Paulo tem foro privilegiado. Ele foi reeleito deputado federal em 2014, mas permaneceu na prefeitura.

Outro lado
Procurado pela Folha, Pedro Paulo não quis se pronunciar. Em nota, a ex-mulher disse que inventou ter sido agredida porque estava emocionalmente abalada no momento.

"Reitero enfaticamente que Pedro nunca me agrediu, nem nesta ocasião, nem em qualquer outro momento. Tudo foi invenção minha num momento de desespero do fim do relacionamento conturbado. Também não é verdade que nossa empregado à época tenha presenciado qualquer agressão do Pedro. Que fique claro que, quando ela chegou ao apartamento, a discussão já havia acabado", diz a nota.

Sob pressão do TCU, governo quer contabilizar pedaladas em 2015

• Medida pode fazer o déficit primário ser superior aos R$ 32,5 bi de 2014

Por Martha Beck – O Globo

BRASÍLIA - Pressionada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), a equipe econômica considera a possibilidade de contabilizar já em 2015 todo o estoque das chamadas “pedaladas fiscais”. Caso o martelo seja batido, o resultado das contas públicas deste ano será um déficit bem superior aos R$ 32,5 bilhões, ou 0,63% do PIB, registrados em 2014.

Como informou O GLOBO, o governo começou a colocar em dia pagamentos de despesas represadas nos últimos anos. Até agosto, R$ 14,4 bilhões saíram dos cofres públicos para quitar dívidas com subsídios concedidos a programas — como o de Sustentação do Investimento (PSI), do BNDES e de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) — devidos até o fim 2014.

O problema é que também existe um passivo de quase R$ 40 bilhões que ainda não foi acertado. Ele se refere, principalmente, a subsídios concedidos ao PSI, do BNDES. Segundo portaria editada pelo Ministério da Fazenda em 2012, valores de equalização de juros devidos a partir daquele momento só precisariam ser pagos após 24 meses. Isso criou um estoque de despesas que ainda vão afetar as contas. Segundo os técnicos da equipe econômica, os pagamentos que já foram regularizados em 2015 — inclusive do PSI — colocam em dia fluxos atrasados pelas pedaladas, mas não os relativos à portaria de 2012.

TCU: pedaladas são ilegais
O TCU já considerou essas manobras ilegais e recomendou que seja contabilizado de uma vez todo o passivo acumulado. O governo já recorreu da decisão, mas o TCU ainda não se posicionou sobre o assunto. Parte da equipe econômica avalia que, como o resultado de 2015 será deficitário, seria melhor resolver a questão da pedalada de uma vez. A ideia é propor ao Congresso que esses gastos possam ser abatidos da meta de superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) deste ano.

Em julho, o governo encaminhou ao Congresso uma proposta de alteração da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2015 para reduzir a meta de 1,19% do PIB para R$ 8,7 bilhões, ou 0,15% do PIB. E, preventivamente, incluiu no texto uma cláusula de abatimento da meta em caso de frustração de algumas receitas específicas. Assim, caso elas não se confirmem, seria possível abater do esforço um total de R$ 26,4 bilhões. Na prática, isso deu margem para que o resultado do setor público de 2015 seja um déficit primário de R$ 17,7 bilhões.

O problema é que a receita está abaixo do esperado, o que deve levar a um resultado ainda pior. Assim, avaliam os interlocutores do governo, seria melhor elevar a cláusula de abatimento explicando que o abatimento se refere especificamente ao acerto de contas recomendado pelo TCU.

Economia encolhe em agosto
A retração da economia brasileira em agosto foi maior que a esperada pelos analistas. A atividade caiu 0,76% no mês, segundo o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central, o terceiro mês seguido de queda. A expectativa dos economistas do mercado financeiro era de baixa de 0,6%.

Crise no setor de petróleo vai tirar R$ 62 bilhões da economia até 2019

• Queda da cotação do petróleo no mercado internacional e corte nos investimentos da Petrobrás vão levar a uma redução de 45% nos aportes da indústria e de 26% na criação de empregos nos próximos cinco anos, aponta estudo da UFRJ

Fernanda Nunes, Antonio Pita - O Estado de S. Paulo

RIO - A crise no setor de petróleo e o corte nos investimentos da Petrobrás terão um efeito pesado na economia nos próximos cinco anos. Pelas contas do Grupo de Economia da Energia (GEE) da UFRJ, o País deixará de gerar R$ 62 bilhões em renda até 2019.

Os prejuízos afetam a geração de emprego e as receitas de Estados e municípios dependentes dos royalties, principalmente no Rio de Janeiro. Já a consequência positiva aparece na balança comercial, com a queda da importação de petróleo e derivados.

O estudo “Impactos Macroeconômicos da Indústria de Petróleo e Gás Natural” mostra que, se tivesse mantido o ritmo de crescimento registrado até 2013, a indústria de óleo poderia injetar US$ 236,7 bilhões em investimentos de 2015 a 2019. Mas a projeção caiu 45%, para US$ 130 bilhões.

Marcelo Colomer, economista do GEE, diz que o estudo avalia a situação de toda a indústria de óleo e gás, e não apenas da Petrobrás, embora ela seja a principal responsável pelo desaquecimento da economia.

O investimento da indústria petroleira representou 9,8% de tudo o que foi investido no País em 2013, último ano de crescimento do setor.

Os especialista da UFRJ consideraram duas projeções de investimento do setor no período de cinco anos - de US$ 236,7 bilhões, quando o cenário era de crescimento, e a de US$ 130 bilhões, hoje.

O resultado foi uma queda de 26% na criação de vagas em cinco anos. Os mais atingidos serão os empregados do setor de serviços, que responde por 34,65% do total de empregos diretos criados pela indústria e por 18,52% dos indiretos.

Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, o setor não chegou a aproveitar o boom do petróleo da última década, já que houve concentração na fase de exploração.

“O segmento de bens de capital e equipamentos do setor naval não chegou a se desenvolver. Hoje, é até menor (do que há dez anos)”, disse, complementando que a expectativa era que, justamente agora, as empresas de equipamentos começariam a se beneficiar.

Com a crise, perdem também os municípios e Estados produtores de petróleo, que viram minguar suas receitas com royalties. No primeiro semestre, a queda de arrecadação foi de 25% em relação a igual período de 2014, por causa da retração da cotação do petróleo.

Para o presidente da Organização dos Municípios Produtores de Petróleo (Ompetro), Aluízio dos Santos, o fracasso do último leilão da Agência Nacional de Petróleo (ANP) reforçou a preocupação. “Temos uma indústria que representa 12% do PIB sem produzir.”

Em contrapartida, o cenário favorece a balança comercial. Segundo o estudo, o saldo comercial da área de petróleo melhora por causa da redução da demanda, provocada pela crise e pelos aumentos de preços.

Míriam Leitão - A dúvida Levy

- O Globo

A grande dúvida em relação ao ministro Joaquim Levy é por que ele permanece no governo Dilma. A saída parece natural desde que ficaram mais fortes os ataques internos contra ele. Aos muitos interlocutores que perguntaram por que ele fica em uma equipe que nunca demonstrou valorizar seu trabalho, Levy responde que acha que ainda tem contribuições a dar.

Em um ambiente assim, em que o ministro da Fazenda vira alvo da própria base governista, e em uma crise desta dimensão, qualquer reunião como a de ontem à tarde pode dar origem a uma onda de especulações sobre a saída do ministro. Ainda mais quando há tanto fundamento, como foi o caso ontem. A grande dúvida, na verdade, não é se o ministro Joaquim Levy sai do governo, mas quando ele sai.

Houve vários momentos de estresse nesse período em que ele está no governo. Levy nunca se importou muito com os integrantes do PT, empresários ligados ao governo, ou líderes sindicais que o criticaram ou pediram sua cabeça. Mas na última semana houve demonstrações públicas de hostilidade a ele, e ao programa que tem tentado executar no governo até agora, lideradas pelo ex-presidente Lula. Na convenção da CUT, o ex-presidente Lula fez um discurso atacando o ajuste fiscal e foi interrompido várias vezes pelo coro “fora Levy”. Depois disso, Lula passou a trabalhar abertamente pela troca do ministro da Fazenda, culpando-o pelos desastres que foram plantados antes da sua chegada e fortalecidos pela base do governo.

Um momento de grande tensão em que o ministro quase deixou o governo foi o do envio do Orçamento deficitário para o Congresso. Ele só foi informado quando já era fato consumado. A decisão fora tomada numa reunião da qual não participou. Na época, quando um interlocutor perguntou por que não deixava o governo, ele disse que não era o tipo de pessoa que sai no pior momento e que previa que haveria muita turbulência a partir daquela decisão equivocada. De fato, as consequências foram o rebaixamento do Brasil, a disparada do dólar, o salto do custo cobrado do país e de suas empresas em empréstimos no exterior.

Numa conversa com um interlocutor frequente, Joaquim Levy disse que sabe que está na linha de tiro de cada vez mais gente, mas que tenta manter a calma e continuar trabalhando. Nos últimos meses, ele fez inclusive o que nunca em sua vida profissional teve a habilidade de fazer: a negociação política para conseguir apoio às medidas propostas para reequilibrar o Orçamento. E o fez porque no governo falta de tudo, inclusive, e principalmente, articulador político. Levy acha que com essa sua iniciativa de interlocução com o Congresso conseguiu em alguns momentos evitar o pior. O problema é que frequentemente a maior derrota vem das bases do governo, como a aprovação da permissão de recálculo da aposentadoria, que aprofunda o déficit da Previdência e que teve apoio maciço do PT.

O Brasil está vivendo uma recessão forte com uma inflação perto de 10% e nada disso se deve à tentativa de ajuste fiscal comandada pelo ministro Levy. A inflação foi reprimida nos últimos anos com manipulação de tarifas públicas. Os gastos públicos foram exacerbados nos últimos anos e, como ficou provado pelo TCU, foram manipulados e jogados para adiante nas famosas pedaladas fiscais.

A reunião de ontem, na parte em que participaram outros ministros, foi dedicada ao problema de como pagar os atrasados aos bancos públicos para eliminar qualquer risco de um processo semelhante ao do ano passado nas contas públicas. Como esse é um dos caminhos do impeachment, a presidente está preocupada em eliminar qualquer ruído com o Tribunal de Contas. O problema é que os atrasados são uma conta alta demais para ser quitada de uma vez. A engenharia financeira para pagar tudo o que se deve ao Banco do Brasil e BNDES, e mais a conta de tarifas não pagas à Caixa, é muito alta.

Não há quem seja insubstituível, mas o que pouca gente no governo se dá conta é que sem Joaquim Levy haverá um aumento forte da desconfiança em relação ao Brasil e será difícil encontrar outro que aceite ir para o cargo e ser atacado como inimigo pelo próprio partido do governo.

Celso Ming - Poço sem fundo

• Desta vez, não são problemas limitados a meia dúzia de setores da atividade econômica ou da indústria; As estatísticas mostram que o problema está espalhado por toda a parte

As condições da economia continuam piorando, como mostraram nesta sexta-feira mais dois indicadores: o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), cuja função é passar o pulso da economia que só será conhecido mais tarde, pela divulgação do comportamento do PIB; e o nível do emprego industrial, divulgado pelo IBGE, que mostra a quantas anda o mercado de mão de obra do setor no País.

Os dois números vieram negativos como mostram os gráficos, ao abaixo e no Confira. O IBC-Br aponta para um desempenho do PIB da ordem de menos 3,0% neste ano, dentro do que vai sendo projetado pela maioria dos analistas econômicos. E mostra, também, que vai sendo deixado um arrasto forte de continuidade da queda em 2016.

E a pesquisa que mede o emprego industrial, do IBGE, apontou queda de 0,8% no número total de assalariados na indústria em agosto ante o patamar de junho, na série com ajuste sazonal.

Desta vez, não são problemas limitados a meia dúzia de setores da atividade econômica ou da indústria. As estatísticas – e não só essas aí – mostram que o problema está espalhado por toda a economia, com as quase únicas exceções do agronegócio e do setor exportador.

O resumo da ópera é o de que, na média, a renda do brasileiro está caindo neste ano cerca de 3,0% a mais do que o bocado comido pela inflação. Se a inflação está chegando aos 10% em 12 meses, pode-se dizer que, em termos nominais, a perda de renda em relação ao ano passado é de aproximadamente 13%.

Pior que tudo, ainda não se vê o fundo do poço. A percepção dos analistas, dos empresários e de tanta gente que depende do desempenho da economia para acertar sua vida e tomar decisões é a de que as coisas devem piorar por meses e meses mais antes de começar a melhorar. Ninguém ousa prever o ponto de virada.

Esta não é aquela situação em que o médico diz ao paciente que a doença vai piorar, mas, digamos, em dois meses virá a melhora, depois a fisioterapia e, seis meses depois, tudo voltará ao normal. É que o doente não está tendo o tratamento econômico adequado, porque as decisões que permitiriam combater a doença e iniciar a recuperação estão encruadas no Congresso. O governo federal tampouco se empenha em derrubar suas despesas. Limita-se a anunciar e, às vezes, a colocar em prática operações meramente cosméticas, que nem algum efeito teatral conseguem produzir.

O quadro político confuso e indefinido não permite prognósticos assim, porque não se sabe quem será governo em questão de meses e qual será a política econômica a partir daí.

De quebra, ainda há essa lenta fritura do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, como se ele fosse a causa de todos os males e como se sua substituição contribuísse para mudar tudo.
Essa fritura se intensifica no momento em que se multiplicam as revelações da Operação Lava Jato, quando os maiorais conhecidos precisam de bodes expiatórios e de densas cortinas de fumaça que mudem o foco das atenções.

Igor Gielow - Guerra total

- Folha de S. Paulo

A charge de Jean Galvão ali acima na sexta (16) elaborou com muito mais propriedade o que eu havia escrito cá abaixo duas semanas atrás. A queda de Eduardo Cunha, àquele momento paralela à de Dilma Rousseff, tornou-se uma só e de mãos dadas no traço brilhante do cartunista.

A eficácia da PGR em trucidar seletivamente o presidente da Câmara, com provas de resto irrefutáveis, sugere que o chão esteja mais próximo de Cunha, embora ele tenha insinuado confiança atípica no desfecho.

Na semana em que Dilma cumpriu seu destino traçado pelo PT e transmutou-se num boneco do ventríloquo Lula, faltando só a cabeça de Levy numa bandeja, a corda não apertou apenas o pescoço de Cunha.

O chefão petista se viu jogado na confusão, com as ainda incipientes acusações de Fernando Baiano dando corpo àquilo que é dito nos corredores do poder há anos.

Dilma, ou seu holograma, luta. Tendo obtido a mão do Supremo para congelar o que insiste em chamar de golpe, um exercício de desonestidade intelectual comparável aos malabarismos da oposição ao lidar com Cunha, ela contudo está longe de se ver amparada por alguma rede –a PF em suas investidas nas contas da campanha que o diga, para não falar no horror econômico cotidiano.

Como no cerco à Constantinopla bizantina pelos otomanos em 1453, a bruma da guerra turva previsões. Lá, como cá, ambos os lados se veem perto da vitória estratégica só para provarem da frustração da derrota tática no momento seguinte.

Não muitos se dão conta de que o ataque final de Mehmet 2º à minguada defesa de Constantino 11 por pouco não resultou numa retirada humilhante, dado que ambos os lados estavam exauridos e à mercê da sorte.

Essa é uma esperança do Planalto hoje, a de que o cerco possa ser levantado de uma vez. Sobriamente, ninguém pode encampar essa versão ainda, talvez muito ao contrário.

Cristovam Buarque - Déficit de atenção

• Injustificável jogar sobre as crianças a razão do problema

- O Globo

A pedagogia brasileira considera como doença o déficit de atenção dos alunos, sem perceber o déficit de atenção dos governantes com a escola e seus alunos.

Impossível uma criança não sofrer déficit de atenção em aula para turmas diferentes na mesma sala, dividida por meia-parede, às vezes por um simples móvel entre duas ou mais turmas; ou em uma sala de aula deficiente, com bancos desconfortáveis onde os alunos se sentam. Os baixos salários dos professores e suas constantes greves são déficit de atenção dos governos com a educação e provocam obviamente déficits de atenção das crianças nos seus estudos. Difícil não haver déficit de atenção do aluno quando o professor usa quadro-negro no lugar de lousas inteligentes e outros equipamentos de tecnologia da informação para crianças da era da informática e dos celulares, nascidas no século XXI.

Injustificável jogar sobre as crianças a razão do déficit de atenção que elas têm. Apesar disso, tratamos o problema do déficit de atenção das crianças como um problema biológico, de hormônios; psiquiátrico, de desajustes; ou mesmo neurológico, de disfunções. O déficit de atenção é do Brasil para com elas, ao não lhes oferecer as condições ideais em boas salas de aulas, climatizadas, bem equipadas, com professores muito bem remunerados, preparados e motivados.

A escola é um exemplo, mas não é apenas em relação a ela que o Brasil padece de déficit de atenção.

O país tem déficit de atenção para com suas florestas, seus rios, suas cidades, seus pobres. As doenças endêmicas que molestam milhões de brasileiros por ano, o descuido com os sistemas preventivos e o abandono dos hospitais são o resultado do déficit de atenção com a saúde pública. As mortes no trânsito ou por violência também seriam evitadas se o Brasil não tivesse déficit de atenção; cada ano, acidentes com deslizamentos de encostas seriam evitados com um pouco de atenção. Há déficit de atenção quando fazemos projetos de infraestrutura sem reservar os recursos necessários, nem cuidamos da qualidade da obra, e especialmente quando não impedimos corrupção de sobrepreços e propinas.

O próprio déficit fiscal, além de crime de responsabilidade, é também um déficit de atenção dos governos com o valor da moeda.

Nossa preferência pelo consumo no presente, sem preocupação com poupança para o futuro; a opção pelo ensino superior, deixando de lado a educação de base; o desprezo à ciência, à tecnologia e à inovação são decisões tomadas com déficit de atenção ao país. As políticas dos governos brasileiros e o comportamento de nossa população se caracterizam por déficits de atenção.

O Brasil padece de déficit de atenção, e a culpa não é das crianças. Como cada criança não aprende por déficit de atenção no estudo e compromete seu futuro pessoal, o Brasil compromete nosso futuro nacional por déficit de atenção com seus problemas.
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Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)

Por que Levy continua? – Editorial / O Estado de S. Paulo

Enquanto a economia afunda, o impasse político se prolonga e a presidente é pressionada pelo partido para buscar um novo rumo, a figura do ministro da Fazenda encolhe, seu prestígio se esvai e seu poder, muito frágil desde o início, se aproxima de zero. Por que o ministro Joaquim Levy insiste em ficar no cargo? Esta é a questão mais intrigante, neste momento, a respeito do governo, dos impasses e do jogo entre os Poderes em Brasília. Cada dia da crise política sai muito caro para o País e impõe uma provação talvez inútil à presidente Dilma Rousseff. Mas é possível compreender seu esforço para escapar do impeachment. Mesmo diante da perspectiva de se tornar uma governante apenas nominal, obediente robô a serviço de seu criador, a presidente pode considerar tolerável essa condição. As alternativas mais prováveis seriam o despejo depois de um processo devastador ou uma renúncia humilhante.

Ganhar tempo faz sentido para a presidente e para os líderes de seu partido. Mas o tempo ganho dessa forma para os políticos sob pressão – e isto inclui o presidente da Câmara, Eduardo Cunha – é tempo perdido para quem deve cuidar da política econômica e, portanto, do complicado e penoso ajuste das contas públicas. Na economia o impasse político se traduz como perda: a insegurança aumenta, o empresário posterga o investimento produtivo, o financiador encurta o crédito, o consumidor adia suas compras, o desemprego aumenta, a arrecadação diminui, o Tesouro se enfraquece e as contas públicas pioram.

Se as agências de avaliação de crédito cortam a nota do País, como fez a Fitch na quinta-feira, quem se surpreende? E quem se surpreenderá se em alguns meses a Fitch ou a Moody’s acompanhar a Standard & Poor’s (S&P) e jogar o Brasil no grau especulativo, carimbando os papéis do Tesouro como junk bonds, isto é, como títulos bons para o lixo?

Quando uma agência corta a nota de um país, impõe uma reprovação à sua política econômica. A reprovação pode valer moralmente para quem chefia o governo e para todos os políticos envolvidos nas decisões erradas e nos impasses. Dirigentes da Fitch, como de outras agências, têm mencionado a crise política e a corrupção em seus documentos. Mas quem, no Congresso ou na chefia dos partidos, incluído o PT, se importa com isso?

O carimbo do rebaixamento atinge muito mais fortemente a imagem do ministro da Fazenda que a de qualquer outro. Se houvesse perspectiva clara de recuperação econômica, a partir da correção das finanças públicas, o dissabor poderia valer a pena. Mas a recuperação é muito incerta, as possibilidades de piora são consideráveis e isso foi explicitado pelos técnicos da Fitch e da S&P.
Dar a volta por cima pode ser uma ideia tentadora, mas dificilmente justificável no caso do ministro Joaquim Levy. O tempo das meras pressões do PT contra sua presença no governo já passou. O tutor da presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula, pede abertamente a demissão do ministro e uma ampla mudança da política econômica.

A imagem do Brasil já é desastrosamente ruim, como o ministro Levy deve ter notado em Lima, durante a reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele mesmo pagou caro pelos desmandos de outros, ao ser acuado, numa entrevista, com perguntas sobre o risco de impeachment e sobre a rejeição do balanço fiscal do ano passado pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Foi salvo pela intervenção da diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde. Não parece, no entanto, ter aprendido.
Petistas e analistas a serviço do ex-presidente Lula acusam o ministro Levy pela crise, como se a recessão fosse consequência de sua política – um ajuste de fato nunca iniciado. Sua imagem será manchada pelo fracasso no ajuste, mas alguns o criticarão por ter tentado ajustar as contas. Sem nunca o ter prestigiado, a presidente Dilma estará ocupada demais para defendê-lo. Os causadores do desastre sorrirão e Levy será humilhado. Ele deve saber disso, mas, incompreensivelmente, insiste em ficar.

Contagem regressiva para definição sobre ajuste – Editorial / O Globo

• Governo e Congresso precisam se entender sobre várias medidas até o final de dezembro, mas o Planalto não quer afrontar aliados, e cresce o risco de agravamento da crise

Como a velocidade da evolução da crise política não atende às necessidades terapêuticas da crise econômica, há a percepção de que as respostas do governo e Congresso para estabilizar a economia, e preparar a retomada do crescimento, não chegarão a tempo. E o pior é que as medidas anunciadas até agora não são as adequadas.

Como a vida não para à espera dos políticos e do Planalto, na quinta-feira mais uma agência internacional, a Fitch, rebaixou a nota de risco do Brasil, de BBB, para BBB-, deixando o país a apenas um passo da saída do “grau de investimento”, selo de qualidade para os investidores.

Antes, a S&P, outra agência, maior que a Fitch, rebaixou o país para o “nível especulativo" — investimento no Brasil passou a ser de alto risco. Entre as justificativas, o envio ao Congresso pelo governo de uma proposta de Orçamento para 2016 com déficit, algo inédito. Reconhecido o erro, o Planalto se mobilizou para remeter ao Legislativo um conjunto de propostas embaladas como de ajuste fiscal, em que se destaca a recriação da CPMF, imposto renegado pelas distorções que provoca, e, por isso, com baixa probabilidade de ser carimbado pelo Congresso.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não se cansa de repetir a meta de 0,7% de superavit primário para o ano que vem. E com razão alerta que, sem reequilíbrio fiscal, não haverá crescimento.

Para a preocupação geral, mesmo que a CPMF viesse a ser recriada, o nó fiscal continuaria atado. Por conveniência política, para não afrontar aliados e o próprio partido, o PT, o Planalto não aborda a crise fiscal em toda a sua dimensão.

Em artigo publicado na segunda-feira no GLOBO, o economista Raul Velloso voltou a chamar a atenção para pontos essenciais da crise: de 2002, quando Lula ganhou o primeiro mandato, ao ano passado, fim do governo Dilma I, as despesas primárias (sem considerar os juros) da União cresceram 344%: bem mais que a inflação de 108% do período e a expansão real do PIB, de 46%.

Se cortes pudessem ser feitos, a questão não seria tão grave. Mas não podem: 75% do Orçamento são para pagar a pessoas — aposentadorias, outros benefícios previdenciários, funcionalismo, bolsas e demais programas ditos sociais. São recursos engessados por lei, ou razões políticas, e indexados à inflação ou ao salário mínimo, cuja fórmula infla uma parcela grande das despesas, mesmo numa profunda recessão como agora. Em janeiro, por exemplo, o salário mínimo subirá cerca de 10%, com brutal reflexo sobre bilhões em gastos. Calcula-se que apenas o novo mínimo inchará os gastos em 0,2% do PIB, enquanto cai a arrecadação tributária. Do Orçamento, há ainda a obrigatoriedade de 8% irem para a Saúde e 4%, para a Educação.

Não há possibilidade, portanto, de se obter algum superávit substancial sem se alterar as regras de engessamento e de indexação dos gastos. É preciso, ainda, lançar logo reformas como a da Previdência, para desanuviar o horizonte da economia.

A fim de quebrar a rigidez na administração orçamentária, existe a DRU (Desvinculação de Recursos da União), emenda constitucional que precisa ser aprovada até o fim de dezembro. Desengessará 30% até dezembro de 2023. A DRU é um “jeitinho” criado ainda na Era FH para contornar esta vinculação excessiva.

O tempo passa e muita coisa precisa ser feita até 31 de dezembro, para vigorar logo no dia 1º de janeiro. Mas, devido à crise política, o Congresso resiste até mesmo a renovar a DRU. Fazem sentido, então, o clima tenso e o pessimismo de agências de avaliação de risco.

Para agravá-los, ainda há o discurso piromaníaco de Lula contra o ajuste fiscal. A saída, para ele e seguidores lulopetistas, é retornar à política anterior do “novo marco macroeconômico” — juros baixos e mais gastos, sempre na base da “vontade política”. Mas o “novo marco” é a causa da crise. Imagine-se o que acontecerá. O risco é o ajuste fiscal ser feito de forma selvagem, à la grega, pelo mercado, por meio de uma hiperinflação, acompanhada de profunda recessão, pior que a atual.

Blindagens à vista – Editorial / Folha de S. Paulo

A divulgação de documentos comprovando a existência de contas bancárias na Suíça em nome do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) vem representar a derrocada de uma figura que, por um bom período, ocupou o papel que os partidos oposicionistas no Congresso Nacional não souberam ou não tiveram condições de exercer.

Recaiu sobre Cunha o manto, que não lhe servia em nenhuma hipótese, de grande magistrado nacional e de procurador-geral da moralidade, na possível iniciativa de desencadear processo de afastamento da presidente da República, Dilma Rousseff (PT).

A esse título, vinha sendo abjetamente cortejado por uma oposição que encampa, com má memória de seus próprios mensalões, a defesa do patrimônio público.

Segundo o noticiário da TV Globo, seria equivalente a R$ 23,8 milhões, pelo menos, o total dos recursos secretamente transferidos para a Suíça em benefício do atual presidente da Câmara dos Deputados.

O peemedebista teria encerrado duas contas há pouco mais de um ano, quando começaram a surgir resultados da Operação Lava Jato.

As revelações parecem selar o destino do deputado, que já tivera frustrado no Supremo Tribunal Federal seu plano de dividir com o plenário da Câmara a responsabilidade pela abertura do processo de impeachment.

Nem por isso parecem diminuídas as preocupações do governo. Afora eventual ato de desespero do presidente da Câmara, outros perigos assombram os esquemas do PT.

Graves denúncias aproximam-se do ex-presidente Lula. Sua nora teria recebido R$ 2 milhões de um pecuarista amigo, em transação feita pelo lobista conhecido como Fernando Baiano, a título de propina.

Não é a única notícia de irregularidades envolvendo familiares de Lula, e pesam sobre o próprio petista, como se sabe, suspeitas de atuação indevida em favor de empresas implicadas na Lava Jato.

Os estrategistas do Planalto, cujos escassos talentos têm sido postos rudemente à prova, veem-se ocupados, assim, em obscenas e contraditórias ações de blindagem.

Lula poderia proteger-se de iniciativas judiciais de primeira instância se lhe fosse concedido um posto ministerial. Cunha poderia ser preservado caso não se disponha a atacar. Como as ruas reagiriam a manobras tão deploráveis?

Sobre uma conjuntura que pode conhecer reviravoltas a todo instante, não é possível arriscar previsões, mas uma conclusão se tira.

Num ambiente de corrupção generalizada, acusadores e acusados, aliados e adversários trocam de papel sem que seus discursos e lemas tenham qualquer relevância –e a propina, que antes se contava em dólares, talvez se calcule hoje em meses ou anos a menos de cadeia.