O Globo
À medida que vão crescendo os indícios de
que o presidente Bolsonaro chegará muito fragilizado à eleição presidencial do
ano que vem, vão se multiplicando seus atos tresloucados. A CPI da Covid está
chegando perto de uma possível negociata em torno da compra de vacinas e
cloroquina, e Bolsonaro reage. É tresloucado um presidente da República de país
democrático advertir publicamente que uma “convulsão social” poderá ocorrer se
uma de suas vontades não for satisfeita, a aprovação do voto impresso.
Mais claro que isso, só a chantagem implícita na sua advertência. Bolsonaro não
está preocupado com a “convulsão social”, mas está criando um clima político
favorável a sua eclosão. Faz parte desse projeto de golpe a tentativa de
desacreditar os meios de comunicação que não se curvam ao dinheiro do governo
ou a suas ameaças.
Como não pode desmentir o êxito das manifestações oposicionistas em todo o país
no sábado, Bolsonaro parte para a ignorância, enquanto financia com verbas da
União nas redes sociais a disseminação de notícias falsas. Não há lógica em
exigir que exista um papel registrando os votos de cada urna, quando já existem
várias etapas de auditagem do voto eletrônico, como tem explicado exaustivamente
o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE).
Além de todas as sete etapas iniciais de checagem, em que diversas organizações
representativas da sociedade civil são chamadas a acompanhar — OAB,
universidades, Ministério Público, partidos políticos, Congresso —, existe uma
oitava auditoria a que o processo eleitoral é submetido. Como o ministro
Barroso explicou recentemente no Congresso, “ o que acontece se alguém quiser
conferir os votos?”.