quinta-feira, 2 de junho de 2011

Opinião – Marco Nobre

 A Dilma teve de renegociar os acordos feitos pelo Lula. O Lula ampliou a base do governo a tal ponto que não existe mais oposição. Quando acontece isso, a oposição vai para dentro do governo. Na verdade, o jogo entre governo e oposição é entre PT e PMDB e, digamos, seus satélites. Nesse processo de ampliação da base, Dilma resolveu aproveitar o que chamo de excesso de adesão para tentar fazer uma seleção dos quadros do segundo escalão. Quis aproveitar a situação a favor dela. Estava usando todo seu capital eleitoral para fazer essa negociação dura com o PMDB e com os outros partidos, para que aqueles que fossem acolhidos no segundo escalão fossem mais técnicos, com mais qualidade gerencial, e política também, no sentido de tentar encontrar currículos que fossem mais "ficha limpa". E o caso Palocci termina essa tentativa da Dilma. Nesse momento, a Dilma vai entregar o que o PMDB pedir. É a parte triste da história.

Marco Nobre, professor da Unicamp e pesquisador do Cebrap. Entrevista: Dilma perdeu seu grande projeto político. Valor Econômico, 30/5/2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO

FOLHA DE S. PAULO

O ESTADO DE S. PAULO

VALOR ECONÔMICO

ESTADO DE MINAS

CORREIO BRAZILIENSE

ZERO HORA (RS)

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Governo joga duro para tentar anular convocação de Palocci

A oposição conseguiu aprovar ontem, em polêmica votação na Comissão de Agricultura da Câmara, a convocação do ministro Antonio Palocci (Casa Civil) para explicar o aumento de seu patrimônio. Os governistas, que cochilaram na reunião da comissão, reagiram imediatamente e recorreram ao plenário, que tem o poder de derrubar a convocação. Diante de intensa batalha, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT), decidiu suspender a convocação até a próxima terça-feira, quando anunciará se mantém ou revoga a decisão da Comissão de Agricultura após ver a fita da sessão. O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, chamou a manobra da oposição de golpe e disse que a convocação não será mantida. Ontem, a presidente Dilma Rousseff recebeu para almoço os senadores do PMDB, mas não tocou na crise que envolve seu chefe da Casa Civil. Palocci não participou da reunião do PMDB, mas foi a um encontro do Conselho Político do governo, onde pediu ajuda a aliados.

Convocação de Palocci vira guerra

CRISE NO GOVERNO

Oposição e governistas travam batalha; presidente da Câmara decidirá se aprovação valeu

Isabel Braga

Em votação polêmica e que está sendo contestada pelos governistas, o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) foi convocado ontem para explicar, na Comissão de Agricultura da Câmara, o aumento substancial de seu patrimônio nos últimos quatro anos. Diante do recurso dos governistas - que tinham cochilado na comissão -, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT), decidiu que o ato não poderá produzir efeitos até a próxima terça-feira, quando anunciará se mantém ou revoga a convocação.

Apesar de minoritária, a oposição conseguiu surpreender os governistas com uma ação regimental na Comissão de Agricultura, garantindo a aprovação do requerimento em votação simbólica, sem dar margem à votação nominal, na qual os aliados do governo venceriam. A alegação do requerimento para que Palocci fale nesta comissão é que ele teria prestado consultoria na área do agronegócio.

Muitos viram na atitude dos governistas presentes na Comissão de Agricultura descuido e até mesmo corpo mole para tentar evitar, de forma efetiva, a aprovação do requerimento. No momento em que o presidente da comissão, Lira Maia (DEM-PA), anunciou o início da votação do requerimento, alguns levantaram as mãos, outros titubearam, como se não tivessem compreendido.

Além disso, os governistas abriram mão de votar um outro requerimento solicitando a votação nominal, e não simbólica.

- Os governistas cochilaram, não levantaram as mãos. Pelo menos 31 estavam presentes, quantos levantaram as mãos? Se alguns se arrependeram ou não estavam atentos, não invalida a votação. Não há ninguém que poderá contestar a decisão - avisou o líder do DEM, ACM Neto (BA), acrescentando que se o presidente Marco Maia revogá-la na próxima terça-feira, irá ao Supremo Tribunal Federal.

Governistas teriam feito "corpo mole"

O líder do PSDB, deputado Duarte Nogueira (SP), disse que a convocação de Palocci foi legítima:

- A votação foi regimental e ele está convocado. O presidente não tem poder (de revogá-la).

Os governistas reagiram, argumentando que a decisão contra a convocação foi expressa nos encaminhamentos, e sustentaram que a maioria dos deputados levantou as mãos. Justificaram que a decisão de retirar o requerimento para votação nominal foi tomada por confiarem que Lira Maia não agiria de má-fé.
- Palocci não foi convocado porque não é a vontade da maioria da comissão. Se a oposição vai para o tudo ou nada, com a quebra de confiança, também vamos para o tudo ou nada - disse o vice-líder do governo, Odair Cunha (PT-MG)

Indignado, o deputado Bohn Gass (PT-RS), que integra a comissão, acrescentou:

- Tudo podemos esperar de uma oposição que está perdendo, menos anunciar um resultado que não existiu, um resultado contrário.

Marco Maia avisou que irá ver o vídeo da votação, ler a ata, conversar com os deputados e o presidente da comissão para tomar uma decisão equilibrada. Sobre deixar exposto o ministro Palocci, Maia afirmou:

- Não estou preocupado com a situação de A, B ou C, mas em cumprir o regimento da Casa.

Alguns deputados admitiam reservadamente que houve "corpo mole" dos governistas na Comissão de Agricultura. A avaliação política é que o governo está desarticulado no Congresso e que os rumos do caso dependerão muito da decisão do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, sobre a questão. Marco Maia disse ontem que Palocci deve explicações:

- O ministro Palocci tem que se explicar. Mas também acho que ele está fazendo isso na Procuradoria. Temos que aguardar a manifestação do procurador para não transformar isso em disputa entre governo e oposição. É preciso que a procuradoria se posicione e tome a decisão de investigar ou não.

Na Câmara, o debate é político.

O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), classificou como golpe a manobra da oposição e disse acreditar que ela não irá se sustentar. À noite, comemorou a decisão de Maia. E negou descuido por parte dos governistas. Ele foi avisado, por telefone, da votação, enquanto estava em reunião no Planalto.

- Não foi manobra regimental, foi um golpe, o que não é bom para o Parlamento. O regimento não dá guarida a nenhum tipo de golpe. A base não cochilou, não. Os deputados estavam indignados. O Palocci considera o mesmo: quando se perde, é uma coisa. Não foi o caso. Golpe, tem como refazer. Ele não irá a esta comissão - anunciou Vaccarezza.

O líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), ironizou:

- A blindagem do Palocci passou do limite do razoável. Vai se investigar a Comissão (de Agricultura) para não se investigar o Palocci.

Em outras duas comissões da Câmara, o governo impediu a convocação de Palocci. Mesmo votando contra, alguns deputados criticaram o ministro:

- O que se está debatendo aqui (a convocação de Palocci), a sociedade clama nas ruas, nas redes sociais. Tenho recebido inúmeros e-mails. Mesmo votando contra a convocação na Comissão de Ciência e Tecnologia, precisamos, sim, de explicações - cobrou Domingos Neto (PSB-CE).

O peemedebista Wladimir Costa (PA) votou contra a convocação, mas pontuou:

- O ministro Palocci não trata bem os deputados, não recebe. Sou contra a convocação agora, mas espero que ele aprende a ter um pouco de humildade.

Em plenário, Paulo Rubem Santiago (PDT-PE) criticou a decisão de Maia e o fato de Palocci não se explicar:

- Quanto mais se protela, mais sangra, mais aumentam o passe e a chantagem no Planalto por emendas, por projetos.

Colaborou: Cristiane Jungblut

FONTE: O GLOBO

Dilma quase bate boca com peemedebistas

Motivo da discussão foi a emenda que anistia desmatadores

BRASÍLIA. No primeiro encontro com a bancada do PMDB para tratar das mudanças pretendidas na tramitação do Código Florestal no Senado, a presidente Dilma Rousseff travou um duro embate com o senador Waldemir Moka (PMDB-MS) e com o relator nas comissões de Constituição e Justiça (CCJ) e Agricultura, senador Luiz Henrique (PMDB-SC). No diálogo, que alguns relataram ter chegado a um bate-boca, Dilma disse que recorrerá ao veto caso a emenda 164, que trata de anistia para desmatadores, não seja alterada. Os dois insistiram com a presidente que o texto aprovado na Câmara não significa anistia a desmatadores.

No Senado, Luiz Henrique já teve a primeira conversa com o relator do Código na Comissão do Meio Ambiente, senador Jorge Viana (PT-AC), para costurar um texto alternativo à emenda 164 sem que seja necessário fazer dois outros substitutivos ao projeto da Câmara. A ideia é fazer uma distinção entre o produtor rural que desmata para plantar e os desmatadores que derrubam madeira para vender.

- A presidente disse que não é nenhuma fundamentalista ambiental, mas reiterou que vai vetar qualquer anistia dada a desmatadores - confirmou Waldemir Moka.

Segundo senadores presentes, ao introduzir o assunto durante o almoço com a bancada do PMDB no Senado, Dilma destrinchou os 11 pontos que o governo pretende alterar. E foi contestada ponto por ponto por Moka e Luiz Henrique.

- Entendo que o Brasil é uma potência agrícola, mas tenho uma preocupação com a comunidade internacional. Tenho um compromisso de combater o desmatamento - disse Dilma.
- Não há anistia a desmatadores no texto do Aldo, senhora presidente! Se alguém me provar isso, sou o primeiro a votar contra - rebateu Moka.

A polêmica emenda 164 aprovada contra a orientação do governo diz: "Supressão de vegetação (desmatamento) em Área de Preservação Permanente e a manutenção de atividades consolidadas até 22 de julho de 2008 poderá acontecer em caso de utilidade pública, interesse social, baixo impacto ambiental, bem como nas atividades agrossilvopastoris (lavoura e pecuária), ecoturismo e turismo rural."

- Coloquei claramente o que penso: o Código tem que garantir as florestas, as obras de infraestrutura e que o país continue um grande supridor de alimentos e de biodiesel. O texto do Aldo não tem anistia. Vamos manter o máximo do texto da Câmara - disse Luiz Henrique. - Quem desmatou depois de 2008 vai ser penalizado, não tem salvação. Vou ter um foco muito grande no pequeno produtor.

Jorge Viana se reuniu com Aldo Rebelo e depois com a ministra do Meio Ambiente, Izabela Teixeira.

- Vamos fazer uma pajelança do meio ambiente e para quem quer produzir. Vai dar tudo certo - afirmou Viana.

FONTE: O GLOBO

Acuado na Câmara, Palocci é cobrado por Dilma e Lula

A oposição aprovou, na Comissão de Agricultura da Câmara, a convocação do ministro Antonio Palocci para que ele explique o aumento de seu patrimônio. A medida passou sem que os governistas se mobilizassem em defesa de Palocci. Apenas houve reação quando o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), suspendeu a convocação até terça-feira. Maia afirmou, porém, que o chefe da Casa Civil "tem que se explicar".

Novo revés no Congresso agrava situação de Palocci

Comissão aprova convocação do ministro para explicar enriquecimento

Presidente da Câmara adia convocação para terça, mas petistas evitam defender chefe da Casa Civil em público

Maria Clara Cabral, Fernanda Odilla e Vera Magalhães

Um novo revés sofrido pelo governo no Congresso agravou ontem a situação do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, ampliando as dificuldades que ele encontra para se livrar da desconfiança em torno de seus negócios como consultor de empresas.

Uma comissão da Câmara dos Deputados aprovou a convocação do ministro para explicar a atuação de sua consultoria, que faturou R$ 20 milhões no ano passado, quando Palocci exerceu o mandato de deputado federal e chefiou a campanha da presidente Dilma Rousseff.

A convocação foi aprovada sem que o PT e outros partidos governistas se mobilizassem em defesa de Palocci. A base do governo só esboçou uma reação no fim do dia, quando o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-SP), anunciou a suspensão da convocação até terça-feira.

Sinais das dificuldades do ministro apareceram em toda parte. Em conversas reservadas, Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ampliaram a pressão para que o chefe da Casa Civil rompa o silêncio e explique seus negócios em público.

O senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), que faz parte da base do governo, avisou que na próxima semana a Comissão de Constituição e Justiça do Senado votará outro requerimento para que Palocci seja convocado a depor.

Várias lideranças petistas procuraram se distanciar de Palocci nos últimos dias, cobrando explicações sobre seu enriquecimento e evitando assumir sua defesa em público. A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, chegou a sugerir que ele deixe o cargo.

O próprio Marco Maia fez cobranças ontem depois de anunciar que iria "congelar" a convocação do ministro por alguns dias. "O Palocci tem que se explicar", afirmou.

O governo está trabalhando para evitar a paralisia provocada pelas suspeitas em torno do ministro, anunciando iniciativas como a privatização de três dos principais aeroportos do país e um novo plano de combate à miséria.

"CORRER FROUXA"

A convocação de Palocci foi aprovada na Comissão de Agricultura da Câmara, quando os principais líderes do governo participavam de uma reunião no Palácio do Planalto com Dilma e o próprio Palocci. Segundo participantes do encontro, o ministro abaixou a cabeça e se calou ao receber a notícia.

Políticos comentavam desde a véspera que a oposição escolhera a Comissão de Agricultura como palco para a convocação. Um deputado do PT disse a um senador do partido que parte da bancada decidiu deixar "correr frouxa" a sessão na comissão, que é comandada pelo DEM.

Na hora da votação, o presidente da comissão, Lira Maia (DEM-PA), pediu aos deputados que concordavam com a convocação de Palocci que ficassem como estavam.

Alguns levantaram os braços, votando contra. Não houve contagem dos votos e imediatamente Lira Maia anunciou a aprovação da convocação do ministro. Trinta deputados da base governista apresentaram à noite um requerimento para tentar derrubar a decisão. Maia prometeu analisar vídeos e outros registros da sessão antes de resolver o que fazer.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Charge: Palocci e o Fielzão

http://chargistaclaudio.zip.net/

Situação crítica:: Merval Pereira

Pode ser até que o governo consiga sustar a convocação do ministro Antonio Palocci, evitando assim que ele tenha que se explicar em uma comissão da Câmara. Mas, antes de ser uma solução, a reversão da decisão de uma instância da Câmara por ato de seu presidente eventualmente do PT pode colocar mais lenha na fogueira, aumentando a percepção de que alguma coisa muito grave está sendo escondida do distinto público.

O fato de a oposição ter conseguido abrir uma brecha na blindagem ao chefe da Casa Civil fala muito mais da divisão interna do governo do que propriamente da capacidade de atuação dos partidos oposicionistas, mesmo que se tenha que elogiar sua perseverança.

A situação é tão confusa que ninguém sabe exatamente onde começa o boicote a Palocci e onde termina a incompetência governista.

Sabe-se, por exemplo, que a senadora Gleisi Hoffmann, uma petista de alto coturno, sugeriu em conversa reservada da qual participou o ex-presidente Lula que as suspeitas contra o chefe da Casa Civil já estariam prejudicando o governo Dilma e que estava na hora de ele se explicar para não contaminar definitivamente o Planalto.

Se aliarmos a esse comentário o fato de que a senadora é casada com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que, segundo a boataria que corre solta em Brasília, poderia vir a ser o substituto de Palocci na Casa Civil, temos aí pelo menos uma bela intriga palaciana que terá desdobramentos futuros, seja qual for o resultado da blindagem de Palocci.

Do jeito que as coisas estão no momento, a defesa do chefe da Casa Civil parece ser a única salvação do governo Dilma, que sem ele não teria condições de existir nos próximos três anos e meio de mandato e ficaria "arrastando-se" até o final.

Esse raciocínio é simplesmente do ex-presidente Lula, que o desenvolveu nessas conversas dos últimos dias com aliados supostamente para proteger a presidente Dilma, e que na prática acabaram por piorar sua situação.

Como é difícil imaginar que Lula faça movimentos políticos sem medir suas consequências, é forçoso imaginar que ele tenha querido fixar a posição de comandante prioritário do governo, colocando a presidente em situação subalterna de maneira pensada.

Talvez o tenham incomodado as comparações que se faziam, sempre em benefício da novidade, entre o estilo sóbrio da presidente e sua maneira desabrida de fazer política.

A defesa obstinada de Palocci que o ex-presidente fez, sem medir as consequências para a presidente de direito, teria também o objetivo de proteger um nomeado seu, colocado por ele no setor mais estratégico do Ministério para tutelar o novo governo, juntamente com o seu ex-chefe de Gabinete Gilberto Carvalho, transferido para a Secretaria-Geral da Presidência.

Enquanto Palocci não explica seu enriquecimento, boatos de todos os tipos circulam por Brasília, e a cada dia fica mais evidente que dentro do próprio PT cresce a tendência de considerar que ele está provocando mais problemas que soluções neste momento.

O raciocínio que teria desenvolvido a senadora Gleisi é de que o escândalo do mensalão teria sido provocado por ações que favoreceriam o PT, enquanto o problema de Palocci seria de índole pessoal, o que retiraria do PT a obrigação de defendê-lo.

Há, porém, quem afirme que esse dinheirão todo que o chefe da Casa Civil arrecadou, sobretudo os milhões que entraram em sua conta nos últimos meses de campanha, na verdade, pelo menos em parte, teria destinação partidária, seja para financiamento da campanha presidencial, seja para a formação do Instituto Lula.

Essa seria uma explicação lógica para o ponto mais grave da acusação, a de que Palocci continuou a atuar como "consultor" mesmo depois de ter sido indicado coordenador da campanha de Dilma.
Se, no início da campanha, Palocci tivesse encerrado as atividades de sua "consultoria", coisa que só fez no final de 2010, quando Dilma já estava eleita, poderia hoje alegar que assim procedera para evitar conflitos de interesse diante da possibilidade de a candidata do PT ser eleita.

Mas, tendo continuado a operar duplamente durante toda a campanha e, mais que isso, tendo recebido o grosso do dinheiro depois da eleição, só faz crescer a suspeita de que o que sua "consultoria" vendia mesmo era tráfico de influência.

Essa suspeita que domina a opinião pública só será dissipada se o ainda chefe da Casa Civil conseguir, em depoimento no Congresso ou em entrevista, desmontar as insinuações, provando que nenhum de seus clientes teve favores do governo, deste ou do anterior.

Mas o pouco que se sabe hoje já dá para desconfiar de que alguma coisa próxima do tráfico de influência ocorreu.

O caso apresentado pela liderança do PSDB na Câmara é exemplar disso. A restituição pela Receita Federal à cliente de Palocci incorporadora WTorre, no valor de R$9,2 milhões, teria acontecido em prazo recorde - 44 dias - e ao mesmo tempo em que a empresa fez uma doação à campanha de Dilma.

O governo alegou que o pagamento foi feito por ordem judicial, mas não foi exatamente isso. A ordem judicial foi para que a Receita tomasse uma decisão sobre o caso, que estava parado na burocracia. 

Perguntado sobre por que então o governo não recorrera da "decisão judicial", a alegação burocrática foi de que a Receita perdera o prazo de recurso, o que seria no mínimo prevaricação.

A convocação da Câmara ocorre quando a Procuradoria Geral da República pede mais explicações a Palocci, considerando insuficientes as que ele mandara anteriormente.

O governo estava contando com decisão favorável ao ministro para hoje, o que esfriaria a crise. Ao contrário, o pedido de Roberto Gurgel, ao adiar a decisão por mais uma semana, aumenta a temperatura da crise e indica que, até o momento, as explicações de Palocci são insuficientes para impedir a abertura de um inquérito.

FONTE: O GLOBO

Não tem solução:: Dora Kramer

O ministro Antonio Palocci não tem mais como ficar no governo e quem diz isso não é a oposição. A esta provavelmente interessaria que ele ficasse na Casa Civil ao ponto de desgaste tão insustentável que se efetivasse o funcionamento de uma CPI.

Confirmada a convocação aprovada ontem na Comissão de Agricultura na Câmara, são quase nulas as chances de Palocci dar um show de convencimento. Não depois de tanta luta para se esconder. Derrubar a convocação, faltar? É pior.

Quem diz que Antonio Palocci não tem como ficar no governo é a situação. Aí entendida tanto quanto à posição dos governistas quanto ao agravamento das circunstâncias.

O exame dessas duas variantes resulta numa conclusão: a saída de Palocci da Casa Civil, e provavelmente da vida pública, no momento só depende da definição de quando e como ocorrerá o desfecho.

Pelo menos dois ministros já são vistos na cabeceira da pista para assumir a Casa Civil: Paulo Bernardo, das Comunicações, e José Eduardo Cardozo, da Justiça. Se a escolha realmente recairá sobre um dos dois, é algo ainda fora do campo de visão.

O que a paisagem nos mostra claramente é a perda de condições de Palocci de funcionar como o previsto pelo governo: politicamente frágil, não pode fazer articulação política; moralmente baqueado, perdeu credibilidade para atuar na interlocução intra e extraministérios; na berlinda, não pode frequentar uma solenidade oficial sem que seja o foco de todas as atenções.

Em resumo: toma, e de forma negativa, todo o espaço da cena. Tornou-se um problema quando era para ser uma solução. E para enfrentar um problema só há dois caminhos: resolvê-lo ou livrar-se dele.

A possibilidade de uma solução razoavelmente indolor ficou perdida neste quase um mês de carência de explicações e abundância de suspeições. Se o procurador-geral da República resolver abrir investigações, confirma-se a razão das suspeitas. Se não, a oposição ganha mais um argumento em favor da abertura da investigação parlamentar.

Pergunte-se a qualquer governista na posse plena de serenidade mental o motivo de Palocci não ter-se defendido e a resposta é uma só: não há explicação que não suscite novos e mais graves questionamentos.
Portanto, não há remédio. A respeito dessa sinuca falam os petistas que nos últimos dias resolveram compartilhar com o público suas impressões sobre o episódio e a falta de cerimônia dos demais partidos da base em manifestar suas opiniões.

Uma nítida sinalização de que não há mais o que salvar e, portanto, salve-se quem puder conseguir agora posição melhor na fotografia desse cenário adverso.

Quando uma defensora do governo como a senadora Gleisi Hoffmann aborda o afastamento do ministro durante uma reunião cujo conteúdo obviamente acabaria vindo a público, é de se imaginar que não se motive pelo mero desejo de ver o marido, Paulo Bernardo, como substituto dele na Casa Civil.

Além de não falar sozinha, a senadora não é tola nem primária.

A justificativa apresentada por ela ao alegar que o caso Palocci é "pessoal", e que no mensalão houve motivação coletiva, mais a informação do senador Eduardo Suplicy sobre uma consultoria de R$ 1 milhão, com taxa de sucesso para uma fusão de empresas, mostram que quanto mais se fala nesse episódio mais complicado fica.

Por isso, a cada dia se dilui a veemência das defesas, bem como na mesma proporção se animam os oportunistas a dar vazão aos seus baixos instintos.

O deputado Anthony Garotinho confere folclore ao chantagear o governo sabendo perfeitamente que o Planalto não pode mais resolver a questão no varejo e ao ironizar chamando as suspeitas que pesam sobre Palocci de "diamante de R$ 20 milhões". Sem maiores preocupações com detalhes como compostura e nome a zelar, diverte-se.

Em tese, a demissão de Palocci não deveria encerrar a questão, pois o caso em si do enriquecimento suspeito permanece em aberto. Mas, olhando as coisas sob o prisma do pragmatismo governamental, hoje o preço da retirada é o mais barato que o Planalto poderia conseguir para tirar o assunto de pauta.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Não há bobos, só espertos:: Eliane Cantanhêde

Bobeou, dançou. Os governistas bobearam, Palocci dançou e foi convocado a depor na Comissão de Agricultura da Câmara sobre o faturamento estonteante de sua empresa de um funcionário só e o seu "boom imobiliário". O custo para reverter a decisão é alto para líderes e governo. Sempre é melhor prevenir do que remediar...

Por que a Comissão de Agricultura? Porque um dos clientes da consultoria do ministro era da área do agronegócio. Ah, bom! Esse detalhe já mostra o quanto o DEM foi esperto e os governistas, bobinhos. Se é que não se fingiram deliberadamente de bobinhos...

O PT, o PMDB e os demais governistas têm uma maioria recorde no Senado, na Câmara e na própria Comissão de Agricultura. Logo, a convocação de Palocci demonstrou descoordenação, desarticulação e desconfiança da base aliada quanto à lisura do ministro, com o risco de fazer o caminho contrário: depois da derrota na comissão, também na Câmara e enfim no Senado.

É aí, no Senado, que mora o principal perigo, com oposição mais atuante, dissidência do PMDB mais clara e governistas querendo mais do que um silêncio sepulcral sobre R$ 20 milhões pra cá, apartamento de R$ 6,6 milhões pra lá.

Começou com Ana Amélia (PP-RS) pedindo o afastamento do ministro até que tudo fique em pratos limpos. Depois, a informação de que Gleisi Hoffmann (PT-PR) estava indo na mesma linha em reuniões fechadas do partido e de governo.

Registrem-se o recolhimento petista e a guinada no discurso oficial. Antes, tudo era mero "jogo político". Agora, diz-se que é uma "questão pessoal" de Palocci -não do governo, muito menos do PT. Soa ou não soa como lavar as mãos?

O momento é de tensão, enquanto Dilma e seu vice, Temer, ganham uns quilos a mais, de almoço em almoço, jantar em jantar. Essas coisas até ajudam quando preventivas. Com o fogo alto, pode ser tarde para evitar incêndios. E frituras.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Gagueira de Dilma é a politicofobia:: Cristian Klein

No filme "O discurso do rei" - uma daquelas produções de época feitas sob medida para faturar o Oscar, vencedor de quatro estatuetas neste ano - o ator Colin Firth interpreta a angústia do rei George VI (1895-1952), pai da atual rainha Elizabeth II, portador de uma limitação que o impedia de exercer a contento sua autoridade sobre os súditos britânicos.

George VI era gago e chegava ao trono no momento em que o país mais precisava de uma voz firme, que o encorajasse a enfrentar os desafios que estariam por vir, com o início da Segunda Guerra Mundial.

Não tinha - como não têm os monarcas em sociedades modernas - poder de fato. Mas a função de chefe de Estado lhe reservava um papel simbólico inestimável. Fazia pronunciamentos em cerimônias públicas ou transmitidos pela rádio nos quais punha em xeque a sua imagem e a autoconfiança da população.

Do outro lado, um líder teatral, de gestos exagerados e voz ruidosa, tonitruante, espumava em comícios monumentais que empolgavam os alemães para a guerra. Era, literalmente, gritante a diferença entre o temido Hitler e o inseguro rei britânico - contraste bem reproduzido na sequência com cenas documentais do Führer nazista.

No fim, nada foge da política. O governo não é uma empresa

George VI gaguejava mesmo quando lia um discurso. Mas conhecia seus defeitos e teve a virtude de procurar ajuda. Sujeitou-se a sessões de terapia com um pseudofonoaudiólogo (Geoffrey Rush) - até vencer o problema.

A moral da história mais óbvia é que mesmo um rei não está livre de deficiências, frustrações, solidão e exigências. O poder, por mais que esteja institucionalizado pelas atribuições do cargo, requer certas qualidades pessoais inerentes para seu bom exercício. Ter a caneta na mão - ou o sangue azul correndo nas veias - nem sempre basta.

É o que mostra a crise política pela qual passa a presidente Dilma Rousseff - a primeira de seu mandato. O episódio trouxe à tona preocupações sobre sua capacidade de comando, que poucos poderiam imaginar. Dilma chegou ao Planalto com fama de gestora, de durona, de chefe implacável capaz de levar às lágrimas, por suas cobranças, o presidente da maior estatal do país. Mas chegou também como alguém politicamente dependente, eleita pelo prestígio do fiador de sua candidatura, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A primeira imagem prevaleceu nos cem dias iniciais de seu governo. Dilma não piscou - nem gaguejou - quando "enquadrou" o PMDB e não cedeu às pressões na formação do primeiro escalão.

A segunda imagem, de fragilidade política, entrou em cena de modo rápido e surpreendente, na última semana, antes de completar o quinto mês na Presidência. O socorro de Lula a seu governo - ao se reunir com senadores e dar ordens para debelar a crise - já seria estranho. Mas ganhou caráter de intervenção, ao se saber que foi feito sem o consentimento da presidente. É como se Lula, depois de ter feito Dilma sua sucessora, a tivesse deslocado, ainda que por um dia, para a cadeira de uma espécie de rainha da Inglaterra, com poderes decorativos. Atrapalhou mais do que ajudou.

Um momento lamentável, que não condiz com a recente e bem-sucedida reconstrução da democracia brasileira, se comparada a de outros países.
Fernando Henrique e Lula - a despeito das divergências ideológicas que seus grupos representam - foram presidentes com ascendência sobre seus pares e respeitados por seus adversários. Criaram políticas públicas que os reelegeram e fizeram o Brasil ser invejado pelos vizinhos - basta lembrar o intenso troca-troca de mandatários de qualidade questionável na Argentina.

O imbróglio da primeira crise política de Dilma Rousseff apequenou a Presidência. Culpa dela e de Lula. A favor dele, pode-se dizer que teve a sensatez de não tentar emplacar uma emenda pelo terceiro mandato. Mas o ex-presidente, como já reconheceu, não consegue "desencarnar" do cargo. Se havia alguma dúvida sobre as pretensões de Lula de voltar em 2014, o episódio mostrou que isso realmente faz parte de seus planos.

Contra Dilma, pode-se argumentar que é um produto da mente e da vontade de Lula, que não tem traquejo, experiência política - ainda que ostente a gerencial - necessária à coordenação de conflitos de uma base tão ampla. Na eleição, Lula antecipou em quase dois anos a pré-campanha para grudar sua imagem à de Dilma e ensinar-lhe truques num curso intensivo de palanque. Tal qual o terapeuta de George VI, encorajou-a a vencer suas limitações. Uma equipe de profissionais - incluindo uma fonoaudióloga de verdade - preparou Dilma, que se superou. Foi uma candidata muito melhor do que se esperava. Mas, passadas as eleições, entrou em outra arena. E ninguém a treinou para ser Winston Churchill.

A desforra do PMDB, já se sabia, viria em algum momento. Só não se imaginava que tão cedo, precipitada pelo caso Palocci. Oportunismo que derruba oportunismo, tem mil anos de governismo...
As denúncias contra o ministro da Casa Civil contribuíram, mas nada teria acontecido sem o descontentamento latente, fruto da delicada lógica criada pela presidente.

A favor de Dilma, poderia-se argumentar que optou pelo caminho de indicações técnicas para fugir do campo minado das nomeações políticas. Parte da decisão justifica-se pela crença de que, dado seu perfil, também técnico, essa seria sua melhor escolha - meritocrática, uma aposta que diferenciaria seu governo de todos os outros. Outra parte da decisão teria a ver com uma tática defensiva: o temor de que indicações políticas lhe ameaçassem, pela maior probabilidade de levarem a escândalos de corrupção.

Uma estratégia que se mostrou ingênua, baseada no mito e no poder da tecnocracia. No fim, nada foge da política. O governo não é uma empresa. A hierarquia rígida dá lugar a um sistema de pesos e contrapesos. E Dilma ainda precisa aprender a manipulá-lo. A gagueira da presidente é a politicofobia.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
Clique o link abaixo
http://www.politicademocratica.com.br/editoriais.html

PT contraria Lula e começa a brigar pela vaga de Palocci

Na contramão da estratégia do ex-presidente Lula, o PT não só quer a saída do ministro Antonio Palocci (Casa Civil) como também já discute sua sucessão. O argumento é o de que a manutenção de Palocci, que enfrenta suspeitas sobre seu enriquecimento desgasta o governo de Dilma Rousseff, e o custo de sua preservação aumentará a crise política. A fragilidade do ministro alimenta disputa do PT pela Casa Civil, ignorando apelos de Lula para que preservassem Palocci. Dois ministros são citados para o posto: Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) e Paulo Bernardo (Comunicações). A oposição conseguiu aprovar a convocação de Palocci para dar explicações na Câmara, mas o presidente da Casa, Marco Maia (PT), suspendeu a decisão e só dará a palavra final na próxima terça-feira.

Líderes petistas contrariam Lula e já discutem nome para substituir Palocci

Expoentes do PT em Brasília cogitam os ministros Paulo Bernardo (Comunicações) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) para o lugar do atual chefe da Casa Civil, que ontem foi convocado a depor em comissão da Câmara sobre sua evolução patrimonial

Vera Rosa e João Domingos

 BRASÍLIA - Na contramão da estratégia traçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dirigentes e líderes do PT não só querem a saída do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, como já discutem pelo menos dois nomes para substituí-lo. O argumento é o de que a manutenção de Palocci provoca enorme desgaste ao governo da presidente Dilma Rousseff e sua preservação aumentará ainda mais a crise política.

Um sintoma da mudança de tom em relação a Palocci ocorrerá na reunião de hoje da Executiva Nacional do PT, em Brasília. Na prática, o partido de Dilma lavará as mãos: não produzirá resolução apoiando o ministro, mas também não pedirá sua cabeça em público.

A fragilidade cada vez maior de Palocci - convocado ontem para prestar esclarecimentos na Comissão de Agricultura da Câmara - já alimenta uma disputa fratricida no PT pelo espólio da Casa Civil. Dois nomes são citados para a vaga: Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) e Paulo Bernardo (Comunicações).

Para queimar Bernardo, grupos que se opõem a ele vazaram a informação de que a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) pedira a saída de Palocci em um almoço oferecido a Lula, em Brasília, na semana passada. Foi uma tentativa de constrangimento, já que Gleisi é mulher de Bernardo.

Ela telefonou para Palocci ontem para desfazer o que chamou de "intriga" com o objetivo de atingir Bernardo. No almoço com Lula, a senadora perguntou ao ex-presidente até que ponto valia "queimar gordura" para defender Palocci por causa de um projeto pessoal do ministro, se ele não dava explicações sobre a evolução do seu patrimônio.
Com o governo sob cerco político, outros petistas reforçaram ontem o coro das cobranças a Palocci, acusado de enriquecimento ilícito e tráfico de influência. De nada adiantaram os apelos de Lula, que, antes de viajar para Cuba, chamou companheiros a seu escritório, em São Paulo, para pedir que não rifassem o chefe de Casa Civil. "Se vocês não segurarem Palocci, a oposição não vai dar sossego", disse Lula.

O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), admitiu, porém, que a opinião pública precisa de mais informações. "O ministro tem de se explicar", insistiu Maia. "Não se pode transformar esse episódio em disputa entre governo e oposição, e a Procuradoria-Geral da República tem de tomar uma decisão de investigar ou não. Aqui na Câmara o debate é político e não serve para ninguém."

Espera. O senador Walter Pinheiro (PT-BA), um dos primeiros a cobrar explicações do ministro, afirmou que a crise só aumentará enquanto Palocci não esclarecer a multiplicação de seu patrimônio em 20 vezes, nos últimos quatro anos. "Quem está em cargo público tem de dar esclarecimentos públicos. Ou faz isso ou deixa o cargo", ressaltou. "Estamos aguardando as manifestações do ministro há duas semanas. Esse tempo só tramou contra ele, o PT e o governo."

O PT defende mudanças no modelo de articulação política do Palácio do Planalto. Se Palocci for defenestrado e Bernardo transferido para a Casa Civil, há quem pregue a transferência de César Alvarez (PT) para o comando das Comunicações. Alvarez, hoje, é secretário executivo da pasta.

Petistas também não abrem mão da Secretaria de Relações Institucionais. Dizem que o ministro Luiz Sérgio está "com os dias contados", mas não querem ceder o espaço para o PMDB. Com esse argumento, muitos defendem a volta de Alexandre Padilha, hoje no Ministério da Saúde, para a seara política.

Para o presidente do PT paulista, Edinho Silva, o partido deveria ir para a ofensiva e respaldar Palocci. "É um equívoco o PT fazer coro com a oposição", afirmou. "Antes de tudo, é preciso deixar claro o que pode ou não ser feito pelo homem público."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Dilma. Governo e imagem postos em xeque. E, enfim, o PSDB define nova liderança

Jarbas de Holanda

O cenário político parecia, até há pouco, tão bom para a presidente Dilma Rousseff que só os efeitos, não imediatos, da má condução macroeconômica poderiam afetar negativamente seu elevado índice de popularidade (com expectativa favorável inclusive nos segmentos sociais melhor informados em face do estilo sóbrio que adotou, bem distinto do palanquismo de Lula) e, por extensão, abalar ou desarticular a amplíssima base parlamentar governista, com as contradições, básicas, entre o PT e o PMDB reduzindo-se à disputa de cargos na máquina federal. E tal cenário era reforçado pela paralisia dos oposicionistas (enredados na contestação por Serra de liderança emergente de Aécio Neves), bem como pelo encolhimento de seus quadros, sobretudo os do DEM, promovido pelo novo PSD com o apoio do Palácio do Planalto. Num contexto de desequilíbrio institucional tão agudo e sem horizonte visível de mudança que induzia o conjunto dos agentes econômicos, mesmo aqueles mais críticos das tendências e ações estatizantes do governo, a aproximar-se dele através do moderado e pragmático chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.

Mas uma inesperada cadeia de fatos e eventos desencadeou substancial movimentação do cenário, da metade para o final de maio, interrompendo de súbito a “lua de mel” da nova presidente com a população e gerando consistentes incertezas sobre sua capacidade de manter a coesão da base parlamentar governista e de comandar efetivamente as decisões políticas do Executivo após o vazio de poder preenchido pelo ex-presidente Lula. Quadro desfavorável que poderá ser atenuado com possível manutenção de Palocci na Casa Civil, ou complicar-se ainda mais com o afastamento dele. Que se torne inevitável se não tiverem razoável credibilidade as explicações que lhe são amplamente cobradas sobre as denúncias de que o grande salto patrimonial que teve nos últimos anos deveu-se à prática de tráfico de influência no Planalto. Os dois fatores básicos da sucessão de acontecimentos negativos para a presidente Dilma foram essas denúncias, lançadas pela Folha de S. Paulo no dia 15 de maio, e a derrota, acachapante, sofrida elo governo na Câmara dos Deputados, no dia 14, na votação do projeto do Código Florestal.

Eis os desdobramentos e algumas das implicações dos dois fatores: sensível fragilização administrativa e política do governo; definição do conjunto da bancada do PMDB e da maioria da base governista de apoio ao referido projeto, em choque com a orientação oposta do Planalto e com a postura do PT; acirramento desse choque com a ameaça da presidente – transmitida por Palocci – de demissão de ministros do PMDB, se confirmada tal definição, ameaça incisivamente repelida pelo vice Michel Temer; reentrada ostensiva na cena política do ex-presidente Lula, para recompor a relação do PMDB com o governo e evitar a instalação de CPI (na Câmara, no Senado, ou mista) sobre as denúncias contra o chefe da Casa Civil; com a debilitação da presidente, aumento do peso das demandas dos peemedebistas e demais partidos de base governista para ocupação de cargos na máquina federal que ela tem restringido em nome de critérios técnicos ou tecnocráticos. A esses fatos negativos somaram-se problemas com a saúde de Dilma Rousseff, tudo isso – segundo a colunista do Globo, Míriam Leitão – “diminuindo a musculatura do governo”. Malgrado o que, em plena fase de tumulto no relacionamento com o Congresso, ela tornou público que se oporá duramente a proposta de limitações ao uso de MPs que está sendo encaminhada no Senado, por iniciativa de Aécio Neves e com apoio da liderança do PMDB. Limitações defendidas por sucessivos presidentes do Senado e da Câmara (menos pelo atual, que é o PT).

Outro fator de mudança do cenário político, na movimentada segunda quinzena de maio terminada ontem, foi o resultado da convenção nacional do PSDB. Que – preservando a unidade partidária com a reserva de espaço no comando da legenda para o grupo de José Serra – afirmou o papel de Aécio Neves como principal liderança dos tucanos e nome capaz de aglutinar o conjunto da oposição, além de atrair boa parte da atual base governista para uma competitiva candidatura presidencial em 2014. A partir não de mera contraposição ao Executivo mas da proposta de alternativas – econômicas, políticas e sociais – ao governo Dilma e ao petismo, que poderão ser testadas já nas eleições municipais do próximo ano.

Jarbas de Holanda é jornalista

Inflação em alta assombra cidades do interior

CUSTO DE VIDA

Cidades como Montes Claros, Viçosa, Uberlândia e Lavras sofrem com reajustes de preços no ano, puxados por alimentos e combustíveis, que chegam a superar o índice da capital

Marta Vieira e Luiz Ribeiro

A população do interior de Minas Gerais sofre tanto ou mais que o consumidor de Belo Horizonte com a volta da inflação, principalmente a alta dos alimentos e dos combustíveis. Baixa concorrência no varejo, entre os supermercados e sacolões e as redes de eletroeletrônicos e a falta de um sistema eficiente de distribuição de bens e serviços, que muitas vezes percorrem longas distâncias até chegar à mesa do consumidor ou abastecer o carro, encarecem o custo de vida em municípios de diferentes regiões do estado. Com índices próprios de inflação, Viçosa, na Zona da Mata mineira, Lavras, no Sul de Minas, Montes Claros, no Norte, e Uberlândia, no Triângulo Mineiro, são exemplos dos efeitos das novas pressões de preços desde janeiro, depois de fortes reajustes verificados no ano passado.

De janeiro a abril, os Índices de Preços ao Consumidor (IPCs) medidos nesses quatro municípios variaram de 3,06% em Uberlândia a 4,67% em Viçosa. Na capital mineira, a inflação apurada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), da Fundação Ipead, vinculada à UFMG, acumulou 4,47% no período. Independentemente das diferenças entre os índices, formados por metodologia de levantamento de preços também diferentes, é comum a preocupação quanto aos aumentos das despesas com as carnes, hortaliças e frutas, gasolina e álcool e os gastos com saúde e moradia.

Em Lavras, a inflação de abril, que atingiu 1,39%, surpreendeu os pesquisadores do Departamento de Economia da Ufla, representando o maior IPC já registrado pela universidade federal nos últimos quatro anos. Segundo o coordenador da pesquisa, Ricardo Pereira Reis, os alimentos e os preços dos serviços de manutenção da habitação foram os principais vilões da carestia no município de 91,3 mil habitantes. Além da produção local restrita de alimentos, característica também presente em Viçosa, falta concorrência entre as lojas num comércio concentrado em uma grande rede local e pequenos estabelecimentos distribuídos entre os bairros. “A gasolina vendida em Lavras é uma das mais caras do Sul de Minas”, afirma Ricardo Reis. O litro da gasolina era encontrado ao preço médio de R$ 2,89 até semana passada.


SERVIÇOS CAROS 

Os aluguéis são mais um caso à parte dentro do grupo de serviços medido pelo IPC de Lavras, que subiu 2,71% de janeiro a abril e 5,62% nos últimos 12 meses até o mês analisado. Com o crescimento do número de cursos de graduação e pós-graduação na Ufla, há dois anos, a cidade tipicamente universitária enfrenta uma forte valorização universitária. Aluguéis de apartamentos de três quartos alcançam R$ 1 mil, ante antigos R$ 650.

Alimentos e combustíveis também formam uma dupla de tormenta da inflação medida em Montes Claros pela universidade estadual Unimontes. Os preços da alimentação consomem mais de 35% do orçamento das famílias, turbinados por um amargo passeio da produção local até o entreposto da Ceasa Minas, em Contagem, na Grande BH, onde os produtos são vendidos aos distribuidores para, então, retornarem ao comércio do município do Norte de Minas. Carne de boi, que já encareceu 18% neste ano, portanto mais de cinco vezes acima do IPC de 3,58% apurado de janeiro a abril, puxou a fila do aumento dos alimentos, segundo a  economista Vânia Silva Villas Boas, coordenadora do IPC.

No supermercado, as reclamações são cada vez mais frequentes. A dona de casa Célia dos Reis Silva, de 49 anos, reclama, em especial, dos reajustes do açúcar, do arroz e da carne. “Retiramos a carne da mesa. Tudo aumentou e de forma abusiva”, desabafa. O recuo da inflação ainda pode demorar, de acordo com Vânia Villa Boas. “Estamos torcendo para que as chuvas cheguem mais cedo e amenizem a tradicional alta das carnes nos próximos meses, com a entressafra. Os combustíveis também não dão o sinal de queda esperado”, observa. 

O cinturão de fornecedores e grandes atacadistas instalados no Triângulo favorece o consumidor em Uberlândia, de acordo com o economista Carlos José Diniz, coordenador do IPC local. Os preços dos serviços, entretanto, assustaram, ao pressionar a inflação de 3,06% medida neste ano. “A inflação de abril (de 1,07%) foi a maior dos últimos dois anos. Agora, esperamos que o IPC comece a ceder”, afirma.


IPC-S DESACELERA

A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S) perdeu força, segundo dados divulgados ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O índice registrou alta de preços de 0,51% na quadrissemana encerrada terça-feira, uma taxa bem menor que a apurada no IPC-S até 30 de abril, quando houve aumento de 0,95%. O resultado também foi menor que o apurado pelo IPC-S imediatamente anterior, referente à quadrissemana finalizada em 22 de maio, quando o indicador subiu 0,96%. A taxa ficou dentro das estimativas dos analistas do mercado financeiro, que esperavam inflação entre 0,49% e 0,85%. Segundo a FGV, essa foi a menor taxa para o indicador desde a quarta semana de fevereiro, quando o índice subiu 0,49%. Com o resultado anunciado ontem, o indicador acumula alta de 3,98% no ano e de 6,37% nos 12 meses encerrados.

DINHEIRO SEM VALOR

O Conselho Monetário Nacional e o Banco Central decidiram que as notas manchadas de vermelho/rosa por dispositivo antifurto (que tinge o dinheiro em caso de explosão) de caixas eletrônicos não terão mais validade. O portador da nota não terá direito a ressarcimento e, caso o dinheiro seja proveniente de furto, a pessoa pode ser investigada. A recomendação é que ninguém aceite notas manchadas pelo dispositivo. Em caso de defeito, o cliente que retirar uma nota manchada do caixa eletrônico deve entregá-la à gerência. Se o saque ocorrer fora do horário bancário, o cliente deve retirar um extrato em seguida, para comprovar o saque feito naquele momento, e registrar um boletim de ocorrência (BO) em uma delegacia. As notas, o extrato e o BO deverão ser apresentados ao banco, para ressarcimento, após análise das notas.

FONTE: ESTADO DE MINAS

A proposta eleitoral do PPS

RUMO ÀS ELEIÇÕES: Partido decide convocar demais siglas de oposição para, desde já, trabalharem um projeto comum para 2012 e 2014

Franco Benites

Mais um projeto da oposição está para ser gestado. Até a próxima semana, o PPS encaminhará às demais siglas oposicionistas um convite para a criação de um grupo de trabalho que garanta unidade ao bloco em 2012 e 2014. Os detalhes finais do comunicado serão discutidos hoje durante a reunião de sua Executiva estadual. “O objetivo é agregar os partidos para pensar o Estado. Se acharem que isso exige mais maturação, podemos focar inicialmente no âmbito municipal”, destacou o ex-deputado federal e presidente estadual da legenda Raul Jungmann.

O objetivo do PPS é que o grupo atue em três frentes. A primeira será a definição de uma agenda de trabalho comum na Assembleia Legislativa e Câmara de Vereadores. Em seguida, o partido visa estabelecer um fórum de debates com a sociedade civil. Por fim, viriam as discussões em torno das alianças visando as próximas eleições. “Hoje, falta uma maior proximidade entre os partidos e um mecanismo de troca de ideias mais eficiente”, criticou.

Cotado como um dos possíveis candidatos da oposição à Prefeitura do Recife, Jungmann defende que dessa atuação em comum pode surgir o nome de quem de fato representará o bloco. “No momento, ninguém precisa abrir mão de seus projetos. A decisão sobre quantos e quais serão os candidatos irá depender de como nossa articulação vai se dar”, argumentou. Ele declarou que está confiante no sucesso da proposta. “Acho que o projeto terá uma boa acolhida até pelo fato de que o PPS não se propõe a liderar nada. Nosso papel é o de provocar para que o processo tenha início”, disse.

Na opinião de Jungmann, a oposição só irá conseguir ter êxito se as condições entre seus membros forem menos discrepantes. “Precisamos ter em mente que será uma reunião entre iguais. Inclusive, a meta é que haja uma coordenação rotativa com cada partido ficando à frente do projeto por dois ou três meses”, reforçou. A ideia pode ser vista como uma tentativa do PPS equilibrar sua força com o DEM, PSDB e PMDB, partidos que antes do PT e PSB chegarem ao poder tiveram representantes na Prefeitura do Recife, governo do Estado e Senado.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Jungmann: “A oposição não pode ficar presa ao passado”

ENTREVISTA – JUNGMANN

 Raul Jungmann foi prudente nas críticas ao governo do Estado, mas não economizou nos ataques à Prefeitura do Recife. Sinal, mais um, de que não pretende sair da disputa pelo Executivo municipal em 2012.


JORNAL DO COMMERCIO – A proposta de um grupo de trabalho da oposição tem respaldo de todo o partido?

RAUL JUNGMANN – Vamos debater isso hoje, mas já fizemos uma consulta e a aceitação foi boa.

JC – Qual o melhor caminho para a oposição neste momento?

JUNGMANN – A oposição não pode ficar presa ao passado, se apegando a slogans. Temos que atualizar nossa agenda, reconhecendo os avanços do Estado na área de economia e identificando aqueles pontos que não evoluíram. Um ponto positivo do governo são os investimentos em Suape e a geração de empregos. Porém, há destruição do meio ambiente, mais violência e uso de drogas.

JC – E no Recife, qual o discurso?

JUNGMANN – Precisamos deixar claro que o projeto do PT se esgotou. O prefeito João da Costa é um remendador geral. No entanto, o projeto petista não tem mais como colar. Hoje, Pernambuco cresce, mas o Recife é um obstáculo ao Estado. Isso é dito nas entrelinhas pelo governador Eduardo Campos. O Recife não está linkado aos principais polos de desenvolvimento. Estamos virando uma cidade dormitório e a qualidade de vida do recifense está degradada.

JC – Na sua visão, a situação do Recife é tão ruim assim?

JUNGMANN – O recifense hoje está mais religioso, porque vive rezando para não chover. Quando chove, viramos náufragos. Saímos de casa sem saber se iremos voltar. A cidade está sem rumo.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)