terça-feira, 2 de setembro de 2014

Opinião do dia: Marina Silva

Uma coisa importante é verificar que, desde o debate anterior, a candidata Dilma não consegue fazer uma coisa essencial: reconhecer os erros. Se não reconhecer os erros, não tem como repará-los. Ela se elegeu falando que ia controlar a inflação, trazer crescimento e baixar os juros. Hoje, temos inflação alta, baixo crescimento e juros altos. A população paga um preço muito alto pelos baixos serviços. Quando o governo vai mal, a culpa é da crise internacional.

Marina Silva, ex-senadora, ex-ministra do meio ambiente e candidata a presidente da República, em debate (SBT,Folha de S. Paulo, Uol e Jovem Pan) , 1 de setembro de 2014.

Dilma e Marina monopolizam debate

• Empatadas nas pesquisas, Dilma e Marina monopolizam discussões; Aécio mantém ataques à petista

Fernando Donasci – O Globo

A situação de empate técnico entre Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) apontada pela última pesquisa Datafolha, com vantagem da ex-senadora em eventual segundo turno, praticamente transformou o debate entre os presidenciáveis, promovido pelo "SBT," "Folha de S.Paulo", "UOL" e "Jovem Pan", em um embate entre as duas candidatas. Dilma, que no início do primeiro bloco admitiu nervosismo, dirigiu todas as suas questões para a adversária, e os jornalistas também deram preferência às duas nas perguntas que podiam receber comentários. O candidato do PSDB, Aécio Neves, ficou em posição secundária no debate, e, ao contrário do esperado, já que está atrás de Marina nas intenções de voto, concentrou seus ataques no governo federal e na presidente Dilma.

Aécio acabou prejudicado pelo sorteio e pelas regras do debate, já que nunca teve a oportunidade de fazer pergunta direta a Marina, mas não pareceu querer criar áreas de atrito com a candidata do PSB. Apenas nas considerações finais, o tucano foi crítico à ex-senadora, afirmando que ela não consegue solucionar as contradições de seu programa de governo.

Os recuos de Marina no programa de governo, que marcaram os últimos dias, não foram muito explorados, e a candidata do PSB foi mais cobrada pelo que os adversários consideraram propostas genéricas e falta de posicionamento claro. A economia acabou sendo a questão mais debatida, com Dilma sendo atacada pela política atual, a queda do crescimento e o aumento da inflação no seu governo. A presidente rebateu com referências à permanência da crise internacional. Marina voltou a se comprometer com a autonomia do Banco Central, e Aécio procurou se mostrar como a alternativa mais segura no campo dos que desejam mudanças na condução do país.

Economia domina pauta
Primeira a ter oportunidade de perguntar, Dilma elegeu Marina como alvo, procurando passar a imagem de que a ex-senadora não explica de que forma conseguirá cumprir as promessas de campanha. A petista pediu duas vezes que a candidata do PSB dissesse "de onde virá o dinheiro" para suas propostas, citando a destinação de 10% dos recursos da União para a Saúde, outros 10% para a Educação e a implementação do passe livre, entre outros, que somariam R$ 140 bilhões. Marina respondeu com críticas ao governo de Dilma:

- Hoje, há um desperdício muito grande dos recursos públicos, inclusive em projetos desencontrados. A sociedade paga alto para que as escolhas feitas sejam sempre na direção errada. Nós vamos fazer as escolhas corretas e não manter as escolhas erradas, como vem sendo feito.

Na réplica, Dilma insistiu que, para um governante, não basta apenas fazer promessas, mas é preciso dizer como vai implementar as medidas.

- Quem governa tem de responder como vai fazer, não basta se comprometer e prometer. O montante prometido pela senhora equivale a quase tudo que se gasta em Saúde e Educação - disse Dilma, num ataque que repetiria no terceiro bloco. - O maior risco é não se comprometer com nada, e ter só frases de efeito e genéricas.

Já Marina escolheu os recentes indicadores ruins da economia brasileira como munição. Quando a recessão técnica apontada pelo IBGE foi citada por um jornalista, Dilma respondeu dizendo que a crise internacional ainda persiste e que a queda na produção brasileira é "momentânea". Marina aproveitou para bater forte e disse que a presidente não reconhece os erros.

- Uma coisa importante é verificar que, desde o debate anterior, a candidata Dilma não consegue fazer uma coisa essencial: reconhecer os erros. Se não reconhecer os erros, não tem como repará-los. Ela se elegeu falando que ia controlar a inflação, trazer crescimento e baixar os juros. Hoje, temos inflação alta, baixo crescimento e juros altos. A população paga um preço muito alto pelos baixos serviços. Quando o governo vai mal, a culpa é da crise internacional.

Num momento em que a discussão sobre economia saiu das críticas e ataques e se tornou mais propositiva, Dilma e Marina divergiram sobre a autonomia que o Banco Central deve ter em relação ao governo federal. A presidente disse que a autonomia do BC "só levará à dificuldade de regulação do mercado financeiro, ponto crucial da crise" internacional, e Marina reafirmou o compromisso de que seu governo não vai interferir na política do órgão.

Quando o embate entre as duas chegou à governabilidade, Dilma atacou a tentativa de Marina de se dissociar dos formas tradicionais de se fazer política. A petista procurou gerar dúvidas sobre a capacidade que Marina teria de governar sem maioria no Congresso Nacional:

- Sem apoio político, a senhora não consegue aprovar os grandes programas do Brasil. Sem apoio no Congresso, não é possível garantir um governo estável, sem crise institucional. Não somos nós, os presidentes, que escolhemos quem são os bons. Quem escolhe os bons é o povo, por eleição - disse Dilma, em referência ao mote de Marina de que irá governar com os melhores.

Nas suas considerações finais, Marina rechaçou representar uma insegurança política por não ter grande base de apoio parlamentar:

- É fundamental que cada brasileiro e brasileira não perca a esperança. Nesse momento há um esforço muito grande de fazer com que você se recolha no medo. Eu tenho dito que não sou pessimista e nem otimista. Sou persistente.

Uma das polêmicas do recém-lançado programa de governo do PSB também foi lembrado na disputa entre as duas líderes das pesquisas. Dilma afirmou que Marina pretende reduzir a importância do pré-sal como fonte de geração de energia no país, lembrando que a exploração do petróleo pode ser a grande receita do país:

- É incrível que a senhora abandone um dinheiro garantido e seguro para ser investido na Educação e na Saúde, equivalente a R$ 1 trilhão. O petróleo não pode ser demonizado.

Marina se defendeu dizendo ser a favor da utilização simultânea à exploração do pré-sal, de fontes alternativas de energia, mais limpas, e aproveitou para criticar a gestão da Petrobras no governo Dilma, citando indiretamente o caso da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

- Nós não podemos ter a visão de ficar apenas onde a bola está. Temos de ir aonde a bola vai estar. O mundo está numa corrida por novas fontes: energia eólica, solar, todas negligenciadas pelo seu governo. Queremos combinar as duas coisas. O maior perigo para o pré-sal foi o que houve com a Petrobras, uma empresa que perdeu seu valor e foi usada politicamente. Empresas que foram compradas por valores que estão sendo investigados na Justiça.

Aécio: só um ataque a Marina
Terceiro colocado nas pesquisas, Aécio Neves continuou na estratégia de centrar fogo no governo, e deixou para as considerações finais um ataque mais duro a Marina. O ex-governador afirmou que há uma separação clara entre Dilma e os outros candidatos, que propõem mudanças, mas disse que a postura de Marina é contraditória.

- Não abro mão de repetir e reiterar que acredito nas boas intenções da candidata Marina, mas ela não consegue superar as enormes contradições vindas do seu projeto e defende hoje teses que combatia há muito pouco tempo.

Na maior parte do tempo, ele teve de debater com candidatos nanicos. Nas duas vezes em que teve embate direto com Dilma, o tucano centrou as críticas no que considera o "fracasso" do governo em todas as áreas, principalmente na economia. Quando cobrou de Dilma realizações em segurança e mobilidade, os dois tiveram a discussão mais ríspida.

- Candidato, você tem memória fraca. O governo federal deu R$ 141 milhões para Minas criar mais de cinco mil vagas em presídios. As obras de mobilidade urbana de Minas são todas em parceria com o governo federal, como o metrô em Belo Horizonte.

Aécio rebateu com ironia:
- Em Belo Horizonte, talvez pela sua pouca familiaridade com nossa capital, ganha um prêmio quem andar em um palmo de metrô construído (com recursos federais nas gestões petistas).

Após o encontro, Dilma criticou as mudanças feitas no programa de governo de Marina depois de sua divulgação na última sexta-feira. Aécio avaliou que a polarização entre Dilma e Marina faz parte das estratégias das campanhas das duas, e lamentou o que classificou como "falta de sorte" na hora do sorteio para fazer perguntas.

Sobre a polarização com Dilma que dominou o debate, Marina disse que o confronto foi estabelecido pela sociedade:

- Acho engraçado dizer que houve polarização minha com a Dilma. Antes era PT com PSDB. Agora, o povo está fazendo com que esta polarização ocorra comigo e com a sociedade brasileira.

Dilma e Marina optam por confronto direto

• Presidente e candidata do PSB, que estão empatadas na liderança da disputa, escolhem uma a outra como alvos preferenciais em segundo debate de TV; Aécio reforça discurso da ‘mudança segura’

O Estado de S. Paulo

A candidata do PSB, Marina Silva, e a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, protagonizaram nesta segunda-feira, 1, o principal embate do debate promovido pelo jornal Folha de S.Paulo, pelo portal UOL, pelo SBT e pela rádio Jovem Pan. Dilma e Marina, que na mais recente pesquisa Datafolha aparecem empatadas na liderança da disputa presidencial, ambas com 34% das intenções de voto, escolheram uma a outra como alvos preferenciais durante o evento.

Enquanto a candidata do PSB insistiu em apontar o que chamou de erros da gestão Dilma na condução da política econômica do governo, a petista explorou o que considera contradições das propostas de Marina e a falta de sustentação política de seu grupo.

O candidato do PSDB, Aécio Neves, tentou, a princípio, polarizar com a presidente, também mirando a gestão da economia, mas ficou em segundo plano. Apenas os nanicos Levy Fidelix (PRTB) e Luciana Genro (PSOL) dirigiriam perguntas ao tucano. Aécio fez uma referência explícita a Marina somente nas suas considerações finais, quando disse que ela “não consegue superar as contradições em seu projeto” de poder.

Após o evento, ele atribuiu às regras do debate o fato de não ter dirigido perguntas à adversária do PSB. Em entrevistas, repetiu a expressão de que o Brasil não é “um país para amadores” e fez críticas diretas à ex-ministra. “A candidatura de Marina não consegue superar as suas incoerências, que são enormes.”

Já no primeiro momento do debate, Dilma questionou a viabilidade de promessas feitas por Marina. A petista perguntou de onde a candidata do PSB tiraria os R$ 140 bilhões que, segundo cálculo da petista, seriam necessários para custear benefícios sociais como a antecipação de 10% do Produto Interno Bruto para a educação, o investimento de 10% da receita bruta da União para a saúde e o passe livre para estudantes de escola pública.

Sem apontar as fontes dos recursos, a ex-ministra do Meio Ambiente disse que firmou compromissos assumidos para que o Brasil volte a ter eficiência. “Quando é para subsidiar juros de banco, as pessoas não ficam preocupadas de onde vai sair o dinheiro”, afirmou Marina, que voltou a ser cobrada por Dilma: “A senhora falou e não respondeu de onde vem o dinheiro”, provocou a petista.

“Vamos fazer com que nosso orçamento possa ser acrescido a partir da eficiência que teremos com relação aos tributos. A sociedade paga muito alto para que as escolhas sejam sempre feitas na direção errada”, reagiu Marina.

Na oportunidade que teve para questionar Dilma, no terceiro bloco do debate, a candidata do PSB perguntou o que deu errado no governo da petista, já que o ela não teria cumprido os compromissos de fazer o País crescer, manter os juros baixos e controlar a inflação. Na resposta, a presidente preferiu falar sobre o que chamou de “contradição” da adversária.

“Há uma contradição de uma política macroeconômica ligada a interesses de arrochar salários, aumentar tarifas e atender interesses. O cobertor é curto. Sem apoio político, sem discussão e sem negociação, a senhora não consegue aprovar os grandes programas do Brasil”, afirmou Dilma, que também em outro tema polêmico da candidatura de Marina. “Eu apostei na governabilidade, nunca negociei os interesses do Brasil. Ganhei e perdi, mas sem apoio do Congresso Nacional, é impossível governar. Quem escolhe os bons é o povo brasileiro, por meio da eleição.”

A ex-ministra, que assumiu a candidatura presidencial após a morte de Eduardo Campos, em acidente aéreo no dia 13 do mês passado, tem afirmado que pretende governar com uma base de apoio no Congresso formada por maiorias ocasionais, e não da forma como se dá hoje o chamado presidencialismo de coalizão.

Na réplica, Marina voltou a defender a proposta de autonomia do Banco Central e a acusar o governo de “atitudes erráticas”. Dilma disse que a ex-ministra se apoia em “frases de efeito e frases genéricas”.

“Quando você é presidente, você precisa se explicar, não basta dizer que vai fazer uma lista de coisa sem dizer de onde virá o dinheiro. Ainda falta muita coisa pra fazer no Brasil, eu sei disso porque eu tentei fazer.”

Nervosismo. Dilma, que no início do debate admitiu nervosismo ao se confundir quando foi questionada por Eduardo Jorge, concordou com o candidato do PV sobre a situação “calamitosa” dos presídios brasileiros.

Ainda no primeiro bloco, Jorge fez uma espécie de dobradinha com o tucano na crítica ao desempenho da economia no atual governo. Na sua vez de perguntar, Aécio se dirigiu ao candidato do PV para lembrar o recuo 0,6% do PIB no segundo trimestre e afirmou que o País está em recessão técnica. O tucano perguntou se o Brasil fracassou na condução da política econômica. “Sim”, respondeu de pronto Jorge. O candidato do PSDB falou em “herança perversa” da gestão Dilma: “Os empregos estão indo embora. Essa é que é a realidade. O país que não cresce não gera empregos”.

A resposta da petista veio no bloco seguinte em um debate com Marina. Dilma, novamente confrontada sobre o tema economia, negou que o Brasil esteja em recessão. “A inflação hoje está próxima de zero, a Bolsa se valoriza e o Brasil está entre os cinco países que mais recebem investimento externo”, afirmou, destacando novamente a crise internacional. “A nossa diferença é que enfrentamos a crise sem arrocho de salário e sem desemprego.”

Na réplica, Marina disse que a presidente não reconhece os próprios erros, afirmando que a população paga o preço pela combinação de inflação alta, juros elevados e baixo crescimento. “Quando as coisas vão bem, os louros são pro seu governo, quando vai mal, a culpa é da crise internacional.”

Marina foi questionada por um dos jornalistas se o fato de não revelar as empresas para as quais deu palestras, o que lhe propiciou R$ 1,6 milhão até maio deste ano - conforme revelou o jornal Folha de S.Paulo no domingo -, significava uma falta de transparência e uma prática da velha política.

“Vivo honestamente do meu trabalho, é porque quero renovar a política a razão que nunca fui buscar cargo público para sobreviver”, respondeu a candidata do PSB, citando que já deu centenas de palestras gratuitas e que não pode revelar as contratantes em razão da cláusula de confidencialidade.

O Estado mostrou nesta segunda-feira que a carteira de clientes que contratou Marina entre 2011 e 2014 inclui grandes bancos, empresas e seguradoras.

Drogas e aborto. Marina também precisou responder sobre os temas aborto e legalização de drogas. “Não satanizo ninguém que defende drogas e aborto”, disse a ex-ministra, que é evangélica. Ela propôs a realização de um debate e um plebiscito para discutir o assunto.

Quarto colocado na disputa, o candidato do PSC, Pastor Everaldo, foi questionado sobre um processo que tramita no Supremo Tribunal Federal no qual é acusado por uma mulher de agressão. “Eu nunca agredi uma mulher, minha política é a favor da família”, reagiu.

Dilma tenta se contrapor a Marina e defende criminalização da homofobia

• Declaração de presidente ocorre em meio à polêmica sobre mudanças no programa de governo da adversária

Rafael Moraes Moura e João Domingos - O Estado de S. Paulo

A presidente Dilma Rousseff defendeu nesta segunda-feira a criminalização da homofobia. O posicionamento da petista ocorre em meio à polêmica envolvendo o plano de governo de Marina Silva. O texto divulgado na sexta-feira pela candidata do PSB trazia essa mesma defesa. Menos de 24 horas depois, porém, a campanha da ex-ministra do Meio Ambiente divulgou “errata” na qual excluiu o assunto do documento, entre outras bandeiras da causa gay que constavam da primeira versão.

“Eu sou contra qualquer forma de violência contra pessoas. No caso específico da homofobia, eu acho que é um ofensa ao Brasil. Então, fico triste de ver que temos grandes índices atingindo essa população. Acho que a gente tem que criminalizar a homofobia, que não é algo com o que a gente pode conviver”, disse a candidata à reeleição, logo após o debate realizado pelo SBT, pelo jornal Folha de S.Paulo, pelo portal UOL e pela rádio Jovem Pan.

O projeto que torna crime a homofobia (PLC 122/06) está em tramitação no Senado. Desde o ano passado o Palácio do Planalto vem orientando aliados a não votá-lo antes da eleição, na tentativa de evitar atritos com o eleitorado evangélico.

A campanha petista, porém, mudou de estratégia diante da ascensão de Marina nas pesquisas. A ex-ministra já divide a primeira colocação com a presidente - ambas têm 34%, ante 15% do tucano Aécio Neves, segundo o mais recente levantamento do Datafolha. Ao vir a público defender abertamente o projeto, Dilma tenta se contrapor de forma direta à adversária.

Horas antes do debate, Marina foi questionada, durante entrevista em São Paulo, sobre suas posições em relação à homossexualidade, sobre a alteração de seu programa de governo e, mais especificamente, sobre o projeto de criminalização da homofobia.

A candidata do PSB disse ser contra a aprovação do texto da maneira como está. Marina, que é evangélica, afirmou que é preciso definir claramente o que é “discriminação” e o que é “convicção”.

“Há uma tênue dificuldade em se estabelecer o que é discriminação e o que é preconceito em relação ao que é convicção e opinião. É isso que precisa ser claramente definido. E o projeto (de lei da homofobia) ainda não deixa clara essa diferenciação”, afirmou.


O principal argumento de pastores contrários ao texto em tramitação no Congresso é de que os religiosos estarão sujeitos a uma espécie de censura, pois não poderão mais realizar pregações contra a homossexualidade.

Marina, porém, fez questão de afirmar durante a entrevista, que ninguém pode ser a favor de qualquer tipo de discriminação. “Devemos ter uma atitude de respeito e acolhimento da diferença. O respeito e o acolhimento da diferença fazem parte de uma cultura que se dispõe ao diálogo e combate a intolerância. Isso é válido para quem quer que seja. Não há nenhuma possibilidade de se ter nas leis brasileiras o acolhimento de qualquer forma de discriminação. Nem contra quem crê nem contra quem não crê. Nem por condição social ou por orientação sexual.”

Indagada sobre o recuo a respeito do apoio ao casamento de pessoas do mesmo sexo - outro tema caro à causa gay -, Marina voltou a dizer que o que houve de fato foi um engano na impressão do programa divulgado à imprensa. Repetiu que a versão apresentada na sexta-feira não tinha sido acordada entre os integrantes da campanha. A candidata afirmou ainda que sua posição é a defesa do Estado laico como uma conquista de todos os brasileiros e da Constituição. “Qualquer governante deve defendê-la. Estado laico não é Estado para defender ou impor nem a vontade dos que creem em relação aos que não creem nem a vontade dos que não creem em relação aos que creem”, disse ela.

Avançada. Confrontada com o fato de a mudança no programa ter sido elogiada pelo pastor Silas Malafaia e criticada pelo deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), defensor da causa gay, Marina respondeu que a sociedade tem o direito de debater todos os assuntos. “O nosso programa tem uma agenda avançada de respeito aos direitos, inclusive os direitos da comunidade LGBT, como a defesa dos direitos de todos os brasileiros.” Em seguida, Marina disse que o programa do PSB é mais avançado do que o do PSOL, o partido de Jean Wyllys.

Dilma e Aécio ainda não divulgaram oficialmente seus programas de governo. Nas diretrizes apresentadas no início da campanha à Justiça Eleitoral, não havia qualquer menção à criminalização da homofobia. Os textos falavam apenas de forma genérica sobre o respeito a diferenças. A redação original do programa da petista chegou a usar o termo “opção sexual”, rechaçado por militantes LGBT, que consideram mais adequado “orientação sexual”.

Em 2011, Dilma, ao vetar a distribuição de material didático anti-homofobia, também usou o termo. “Não aceito propaganda de opção sexual”, disse à época.

Por enquanto, Aécio mantém-se fora da polêmica. Questionado se apoiaria a criminalização da homofobia caso fosse eleito, disse que se trata de um assunto do Legislativo. /

Colaboraram Wladimir D'Andrade e Isadora Peron

Governo reage a Marina e apoiará lei pró-igrejas

• No fim de semana, Marina recuou sobre o tema, que estava contemplado no programa de governo do PSB

• Dilma se encontraria com Lula e a equipe de campanha para discutir seu desempenho e novas estratégias

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Após o final do debate entre presidenciáveis promovido pelo SBT em parceria com a Folha, UOL e Jovem Pan, realizado no início da noite desta segunda-feira (1º), a candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), defendeu a criminalização da homofobia, tema polêmico entre os eleitores e lideranças evangélicas.

Dilma aproveitou que a questão veio à tona no último final de semana, com o recuo que o PSB fez no programa de governo de Marina Silva. Segundo nota da campanha oficial da presidente, Dilma se posicionou contra a violência a que a população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros e transexuais) é vítima no Brasil.

"Sou contra qualquer forma de violência contra pessoas. No caso especifico da homofobia, eu acho que é um ofensa ao Brasil. Então, fico triste de ver que temos grandes índices atingindo essa população. Acho que a gente tem que criminalizar a homofobia, que não é algo com o que a gente pode conviver", disse Dilma.

Durante o debate, Marina Silva foi confrontada pela candidata Luciana Genro (PSOL), que a questionou sobre mudança em suas propostas de governo para a comunidade LGBT.

No sábado, a ca,panha da ex-senadora anunciou uma revisão do programa de governo divulgado na véspera. O PSB eliminou trechos em que a presidenciável se comprometia com a aprovação da lei de identidade de gênero --que permite alteração de nome e sexo na documentação-- e em articular no Congresso a aprovação de leis que criminalizam a homofobia e regulamentam o casamento gay.

"Não durou quatro tuítes sua política para casamento igualitário", disse Luciana, em referência a críticas feitas pelo pastor Silas Malafaia na internet.

Marina repetiu discurso de que a mudança ocorreu "em função de um erro da equipe de campanha".

"Nós defendemos as liberdades individuais e qualquer forma de discriminação a quem quer que seja", afirmou a Marina.

Encontro
Após participar do debate, a presidente Dilma Rousseff se reuniria na noite desta segunda com o ex-presidente Lula e o comando da campanha para avaliar o desempenho da petista na TV.

Segundo a Folha apurou, participariam da reunião, em um hotel na capital paulista o ex-ministro Franklin Martins, o marqueteiro João Santana, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e o presidente do PT, Rui Falcão.

Diferentemente do debate da Bandeirantes, na semana passada, Dilma partiu para o ataque contra Marina Silva no confronto entre presidenciáveis no SBT nesta segunda. A campanha de Dilma já vê a ex-senadora como a principal adversária do PT e discute novas estratégias de enfraquecê-la na corrida eleitoral.

O ex-presidente não acompanhou o debate no estúdio do SBT. Ele tem sido desaconselhado por assessores a participar de eventos do gênero para evitar tumulto nos estúdios de TV.

Dilma e Marina polarizam debate presidencial

• Petista diz que não se pode governar "só com boas palavras", sem apoio político

• Em terceiro lugar nas pesquisas, Aécio Neves teve um desempenho tímido e ficou distante dos principais embates

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Com a dianteira na corrida eleitoral ameaçada nas últimas pesquisas, a presidente Dilma Rousseff (PT) abandonou a defensiva no debate promovido nesta segunda-feira (1º) por Folha, UOL, SBT e rádio Jovem Pan, e partiu para o ataque contra a sua principal adversária na disputa pelo Planalto, a candidata do PSB, Marina Silva.

A petista afirmou que não é possível governar o Brasil com "boas palavras ou boa intenção", "sem apoio político e sem negociação".

"O maior risco que uma pessoa pode correr é não se comprometer com nada. Ter só frases de efeito", disse.

Desde que assumiu a candidatura do PSB, com a morte de Eduardo Campos, Marina defende o que chama de "nova política", ataca aliados tradicionais do PT e diz que irá governar com os melhores quadros. A ex-senadora já aparece numericamente empatada com Dilma no primeiro turno, de acordo com o último Datafolha. E venceria Dilma num segundo turno, com dez pontos de vantagem.

Os números fizeram com que a estratégia da petista, que vinha insistindo na polarização com o candidato Aécio Neves (PSDB), fosse revista. Dilma passou a atacar a suposta fragilidade gerencial da adversária, que nunca foi eleita para cargos no Executivo.

A petista abriu o debate questionando como Marina pretende bancar as propostas feitas pelo PSB, como o transporte público gratuito para estudantes.

"Hoje, temos um desperdício muito grande de recursos públicos", disse Marina. "Vamos fazer as escolhas corretas e não manter as erradas, como vem sendo feito", completou, atacando os gastos elevados com juros da dívida pública, crítica comum a setores ligados à esquerda.

Dilma rebateu: "O montante prometido em todas essas promessas equivale a quase tudo o que se gasta em saúde e educação".

A polarização entre as duas foi retomada quando a ex-senadora foi questionada se é compatível, com a "nova política" defendida por ela, a omissão dos nomes das empresas que lhe pagaram R$ 1,6 milhão em palestras nos últimos anos, conforme revelado pela Folha. "Se as empresas que contrataram meu serviço quiserem revelar quem foi que me contratou, não há problema", disse Marina.

Dilma defendeu transparência e Marina a atacou pela primeira vez, ao dizer que isso também devia valer para "os R$ 500 bilhões que foram destinados ao BNDES sem que estivessem no orçamento".

Foi uma referência ao fato de o governo ter repassado esses recursos ao BNDES para aumentar a capacidade de financiar novos investimentos de grandes empresas com juros mais baixos que os de mercado. A maneira como os recursos têm sido aplicados, no entanto, não é contabilizada no Orçamento do governo.

Marina também criticou Dilma pelo fato de a petista, segundo ela, não conseguir reconhecer erros. Quando provocada por Dilma sobre suas supostas resistências ao petróleo como fonte de energia e ao pré-sal, Marina novamente criticou Dilma, agora sobre denúncias envolvendo a Petrobras.

Em terceiro lugar nas pesquisas, Aécio teve desempenho tímido e ficou longe dos principais embates. Interagiu mais com os candidatos nanicos e, quando teve a chance de perguntar, optou pelos ataques a Dilma ao dizer, por exemplo, que "os tão alardeados empregos estão indo embora".

"Infelizmente, essa é a herança perversa desse governo, que fracassou na condução da economia, na gestão do Estado e na melhoria dos nossos indicadores sociais."

Aécio ainda questionou a petista sobre a falta de investimentos em segurança pública. Dilma respondeu que ele tinha "memória fraca". E então enumerou investimentos feitos pelo governo federal em Minas, reduto eleitoral do tucano.

Marina rebate Dilma e diz que programa do PT é conservador

• Presidente havia criticado mudanças em propostas do PSB à comunidade gay e defendeu criminalização da homofobia

• Ex-senadora afirma que petistas só perdem em "conservadorismo" para o pastor Everaldo, candidato pelo PSC

Marina Dias, Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - "O programa de Dilma Rousseff só não ganha em conservadorismo do programa do Pastor Everaldo". Foi assim que a candidata do PSB ao Palácio do Planalto, Marina Silva, reagiu em entrevista à Folha às críticas feitas pela presidente da República sobre seu recuo nas propostas para a comunidade gay.

A ex-senadora tem sido alvo de ataques dos adversários desde que divulgou errata do seu programa de governo, no sábado (30), eliminando algumas das principais bandeiras LGBT, como o comprometimento com a lei de identidade de gênero --que permite alteração de nome e sexo na documentação-- e articulação no Congresso para a aprovação de leis que criminalizam a homofobia e regulamentam o casamento gay.

As declarações de Marina foram dadas na noite desta segunda-feira (1), após debate promovido por Folha, UOL, SBT e Jovem Pan.

A referência de Marina ao candidato do PSC diz respeito à posição radical do pastor contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e em defesa da "família tradicional".

Durante o debate, Marina já havia sido confrontada sobre o tema pela candidata Luciana Genro (PSOL). "Não durou quatro tuítes sua política para casamento igualitário", disse Luciana em referência a críticas feitas pelo pastor Silas Malafaia na internet.

Marina afirmou que a mudança no programa ocorreu por "erro da equipe de campanha". "Defendemos as liberdades individuais", disse.

Momentos antes da manifestação de Marina à Folha, Dilma classificou em entrevista o recuo da pessebista como "uma ofensa ao Brasil".

"Não se deve mudar a proposta. O Brasil é uma sociedade que sempre foi tolerante com a diferença. A gente tem que criminalizar a homofobia", disse a presidente.

Apesar desse discurso, a petista cedeu, em vários momentos de seu governo, à pressão da bancada evangélica no Congresso. Entre os exemplos, está o engavetamento do projeto de distribuição de um kit anti-homofobia nas escolas públicas em 2011.

Coordenadora do programa de governo de Marina, Neca Setúbal afirmou que, mesmo com a retificação sobre a questão LGBT, as propostas da pessebista são as mais "avançadas e consistentes".

Desespero
Principais adversários de Marina na disputa presidencial, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) adotaram a estratégia de, nas palavras de aliados de ambos os candidatos, "desconstruir" a imagem da ex-senadora e colar nela a pecha de "conservadora".

"Obviamente que há um certo desespero de alguns partidos grandes, com muitas estruturas, porque a sociedade brasileira assumiu uma nova postura [para o voto] e não adianta ficar desqualificando os projetos dos concorrentes. Não estou preocupada com rótulos", disse a candidata do PSB.

Integrante da Assembleia de Deus, Marina disse ainda que usa o mesmo discurso diante de pastores, bispos e movimento LGBT. "Minha vida é que fala por mim".

Ela fez crítica velada a Dilma ao dizer que "tem gente que vai às igrejas evangélicas e faz um discurso e, depois, faz outro", em referência à incursão da petista à Assembleia de Deus, em agosto.

Campanha de Dilma elege como alvo principal candidata do PSB

• Petistas avaliam que Aécio é "carta fora do baralho" e refazem tática da polarização

Luiza Damé, Simone Iglesias e Fernanda Krakovics- O Globo

BRASÍLIA - A coordenação da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff avalia que a candidata do PSB à Presidência, Marina Silva (PSB), consolidou-se como sua principal adversária e que Aécio Neves (PSDB) tende a cair ainda mais nas próximas semanas. A polarização entre Dilma e Marina é vista pelos petistas como difícil de ser enfrentada, porque se dá no plano emocional. No caso de Aécio, as diferenças eram mais objetivas e fáceis de serem demarcadas.

- A disputa contra Marina é mais difícil, porque não se dá no plano racional, se dá no plano emocional. Ela junta o voto contra o PT e o voto próprio dela, que vem de três vertentes: o ambiental, o religioso mais evangélico do que católico, e o antipolítico - disse um integrante do comando da campanha.

Análise do programa do PSB
Com o forte sentimento de mudança demonstrado pelos eleitores nas últimas pesquisas de intenção de voto, dirigentes trabalham com a estratégia de tentar colar em Marina a imagem de que ela representa uma aventura e tem posições contraditórias. Os petistas foram instruídos a se debruçar sobre o programa de governo apresentado pelo PSB/Rede na última sexta-feira, um calhamaço de 250 páginas. Nele, afirma um dirigente petista, está o arsenal necessário para desconstruir Marina.

- O programa é fraco, contraditório e muito ruim na parte econômica. A reforma política de Marina é retrógrada, propondo a unificação das eleições, o que tira a visibilidade das eleições municipais, e o voto majoritário para deputado, tirando a importância dos partidos. Ela própria nos deu munição - afirmou esse dirigente.

A campanha à reeleição da presidente Dilma deve declarar hoje ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter arrecadado em torno de R$ 100 milhões até o momento. Há um mês, a receita declarada foi de R$ 10,1 milhões. O montante é o dobro do que foi declarado, em 2010, na segunda prestação de contas parcial da campanha de Dilma: R$ 50,3 milhões em valores atualizados.

Alusão a Jânio e a Collor
O discurso do medo, usado pelo PT no começo da campanha contra o PSDB, mira agora a ex-petista. Na tentativa de estancar o crescimento de Marina, além de questionar que ela seja uma terceira via, o PT se empenha em combater a imagem de que a candidata do PSB seria o "Lula de saias", devido à origem humilde e à trajetória de vida. No último sábado, o vice-presidente do diretório estadual do PT do Rio, Marcelo Sereno, distribuiu, pelo WhatsApp, artigo do jornalista Ricardo Kotscho intitulado: "Marina não é Lula de saias, mas Jânio e Collor". Kotscho foi secretário de Imprensa do governo Lula e declara apoio à reeleição de Dilma.

Programas sob ameaça
""Jânio, Collor e Marina têm um ponto em comum: lançaram-se candidatos com discursos contra a "velha política", à margem dos grandes partidos, prometendo nas campanhas criar um "novo Brasil" e uma "nova política", baseados unicamente em suas vontades e carismas, como se isso fosse possível. Pelos exemplos do passado, sabemos que isso não dá muito certo", escreveu Kotscho.

A campanha pretende propagar a ideia de que Marina acabará com o crédito subsidiado e que inviabilizaria programas como o Minha Casa, Minha Vida e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Os petistas vão enfatizar ainda que Marina vai reduzir a importância do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco do Brasil na concessão de financiamentos a empresários - grandes e pequenos -, até mesmo diminuindo o crédito agrícola, que se expandiu a partir de 2003, no primeiro ano do governo Lula.

PT teme união de Aécio e PSB
Para o PT, Aécio é considerado "carta fora do baralho" e só conseguirá se recuperar se tiver "uma grande sacada" nas próximas cinco semanas, até a realização do primeiro turno das eleições. Por isso, a orientação da campanha petista é não gastar energia atacando o tucano.

Na avaliação dos petistas, a tendência, a partir da queda de Aécio, é que tucanos "flertem" com a candidatura de Marina o que, eleitoralmente, é uma dificuldade a mais a ser enfrentada pela campanha de Dilma. Naturalmente, disse um dirigente, muitos votos irão migrar para a candidata do PSB.

Agripino já fala em apoiar Marina no 2º turno

• Coordenador de campanha de Aécio afirma que prioridade é derrotar "o mal maior, que é o PT", e irrita tucanos

- O Globo

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Criou mal-estar no ninho tucano a declaração do coordenador da campanha de Aécio Neves à Presidência, Agripino Maia, que ontem acenou com apoio à ex-senadora Marina Silva, candidata do PSB, num eventual segundo turno entre ela e a presidente Dilma Rousseff. Diante da queda de Aécio nas pesquisas, Agripino reforçou o temor da campanha tucana de ficar para trás na corrida eleitoral, hoje liderada por PT e PSB.

- O sentimento que nos move e nos mantém unidos - PSDB, DEM e Solidariedade - é garantir a ida de Aécio para o segundo turno. Se não for possível, avalizar a transição para o segundo turno. Ou seja, com uma aliança com Marina Silva, por exemplo. É tudo contra um mal maior, que é o PT - disse Agripino, em entrevista publicada ontem no site do jornal "O Estado de S. Paulo".

Um dos coordenadores da campanha de Aécio, Alberto Goldman, classificou de "inconveniente" a declaração.

- Foi uma frase inconveniente, uma bobagem. Não se usa "se" em campanha - disse Goldman, em tom ríspido, ao chegar ontem ao debate entre os candidatos à Presidência.

Aécio evita comentar
Na saída do debate, questionado se apoiaria Marina no segundo turno, o candidato Aécio Neves respondeu:

- Eu prefiro estar no segundo turno.

O presidente do diretório regional do PSDB em São Paulo, Duarte Nogueira, procurou minimizar os efeitos danosos da declaração à campanha tucana. Após afirmar que "nem a Dilma está no segundo turno", disparou:

- Essa parte mediúnica não está do nosso lado.

Um líder tucano, que também foi ontem ao debate, desdenhou da participação de Agripino na campanha:

- Ele nem é do PSDB.

Aécio, por sua vez, evitou entrar na polêmica, em entrevista pouco antes de sua participação no debate.

- Não conheço essa declaração. Nós temos uma proposta para o Brasil. E, por ser a melhor para o Brasil, estou extremamente confiante de que será a vitoriosa. Nós buscaremos o apoio da sociedade brasileira também no segundo turno. No momento da reflexão maior, no momento da decisão do voto, vai prevalecer dentro daquelas alternativas que se colocam como mudança, aquela que é capaz de transformar esse sentimento de mudança em algo real e melhor para a vida dos brasileiros - afirmou.

R$ 43 milhões arrecadados
Numa clara crítica a Marina, o candidato do PSDB afirmou ainda que não quer "apresentar só sonhos à sociedade brasileira". A mudança de tom reflete uma nova tendência na campanha tucana, a de concentrar todos os esforços em tentar desconstruir a imagem da ex-senadora. Durante coletiva na sede da coordenação de campanha, Aécio ignorou a presidente Dilma.

O tucano classificou de sonhos as propostas apresentadas por Marina na sexta-feira:

- Não quero apenas apresentar sonhos à sociedade brasileira. Quero que esses sonhos de tantos brasileiros possam se transformar em realidade.

As mudanças no programa de governo feitas pela campanha de Marina, após a apresentação oficial de sua proposta de governo, também foram alvos de crítica. Ao ser questionado se faria mudanças após a apresentação, Aécio criticou:

- De forma alguma, até porque nosso programa não é improvisado. Nosso programa tem como base fundamental a coerência entre aquilo que estamos apresentando e com aquilo que, não apenas pensamos, mas praticamos durante toda a nossa vida.

A campanha de Aécio deve declarar, na segunda prestação de contas parcial, que o candidato recebeu até agora R$ 43 milhões em doações de pessoas física e jurídica. O tesoureiro José Gregori disse que, por enquanto, o fluxo de arrecadação está sendo mantido.

Aécio foi prejudicado pela polarização, dizem analistas

• Para eles, Dilma foi mais agressiva, mas não levou vantagem sobre Marina

Alexandre Rodrigues e Rafaela Marinho – O Globo

Em terceiro lugar na última pesquisa do Datafolha, que apontou Marina Silva (PSB) e Dilma Rousseff (PT) empatadas em primeiro lugar na corrida presidencial, o candidato do PSDB, Aécio Neves, não conseguiu usar o debate na TV ontem para reverter o momento frágil de sua candidatura. Terá de buscar uma nova estratégia para atrair a atenção dos eleitores nos próximos embates. A avaliação é de analistas políticos ouvidos pelo GLOBO após a exibição do programa do SBT/UOL/"Folha de S.Paulo".

- As pesquisas ficaram claramente refletidas no debate, com uma polarização entre Dilma e Marina. Aécio virou uma escada para que Dilma ou Marina falassem - avaliou a cientista política Christiane Romeo, professora do Ibmec-RJ. - Ele teve bons momentos, mas nada suficiente para disputar o protagonismo. Diferenciou-se pouco dos outros candidatos, que também miraram mais em Dilma e Marina. Aécio parecia não ter entrado na campanha ainda ou não ter entendido bem o novo cenário.

Para o cientista político Fernando Abrúcio, da FGV-SP, o debate teve uma dinâmica diferente da do embate da TV Bandeirantes, na semana passada, antes do Datafolha. Segundo ele, não há dúvidas de que o tucano ganhou pouco com sua participação e vai precisar encontrar uma forma de atingir Marina para buscar uma vaga no segundo turno. Por enquanto, avalia, ainda não conseguiu encarnar um personagem para isso, talvez temeroso de afastar os eleitores dela, caso chegue ao segundo turno.

Mais cobranças a Marina
Segundo Abrúcio, não só a polarização mudou, mas Marina foi mais cobrada. Por isso, avalia, os ganhos dela não ficaram tão claros quanto no debate anterior. Ontem, ela teve contradições apontadas até pelo Pastor Everaldo (PSC), que se dirige ao eleitorado evangélico.

- Não há ganhadores num debate, mas quem se beneficia dele. Aécio não se beneficiou. Ele ficou de lado, meio patinho feio. O debate ficou todo no governo Dilma e na figura de Marina, que só foi atacada de forma mais incisiva por ele no final. Aécio foi o menos perguntado entre os três principais candidatos. Pode até ser uma vantagem ficar mais protegido, mas é perigoso na condição dele. Se não fala, não fica mais conhecido - disse Abrúcio.

Para Sonia Fleury, professora de ciência política da Ebape-FGV, no Rio, o debate foi contaminado pela divulgação recente da queda do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, deixando pouco tempo para temas que interessam mais ao eleitor, como saúde e educação. A discussão da mobilidade, por exemplo, acabou na superficialidade da troca de acusações entre Dilma e Aécio. Apesar dos dados desfavoráveis, Sonia avalia que a presidente conseguiu passar segurança na defesa do governo.

- Dilma conseguiu se comunicar melhor do que no debate anterior. Passou conhecimento sem citar tantos dados de difícil compreensão. Foi menos professoral e até um pouco emocional - analisou a professora da FGV.

Ricardo Ismael, cientista político da PUC-RJ, também viu mudança de postura em Dilma, que "agora precisa atacar para não perder". Para ele, a presidente foi mais agressiva.

- Ela partiu para cima, mas não levou vantagem porque Marina conseguiu neutralizar as acusações da presidente. E Marina também atacou Dilma, mostrando que não tem medo do confronto - avaliou Ismael, que acredita na continuidade do crescimento da candidata do PSB nas próximas pesquisas. - Se o debate tinha a chance de evitar esse crescimento, isso não aconteceu. Nem Dilma nem Aécio conseguiram colocar uma questão que abalasse profundamente Marina.

Sem perguntas a Aécio, Dilma e Marina polarizam debate

César Felício, Raphael Di Cunto e Luciano Máximo – Valor Econômico

SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff (PT) e a candidata presidencial Marina Silva (PSB) polarizaram o debate promovido ontem pela rede de televisão SBT, o jornal "Folha de S. Paulo", o portal UOL e a rádio Jovem Pan. Terceiro colocado nas pesquisas, o senador Aécio Neves (PSDB) não recebeu perguntas das suas duas principais oponentes.

Em sua primeira intervenção no debate, Dilma afirmou que as propostas de Marina envolverão um gasto de R$ 140 bilhões e perguntou à ex-ministra: "De onde sairá o dinheiro?". Minutos depois, a presidente insinuou que a adversária é ambígua sobre o que defende. " O maior risco que uma pessoa pode correr é não se comprometer com nada. Quem governa tem de dizer como deve ser feito", disse a presidente.

Em sua segunda oportunidade de perguntar, a presidente novamente atacou Marina pela mesma vertente: " Das 242 páginas de seu programa de governo só há uma linha sobre o Pré-sal. Porque este despreza por um programa que pode dar R$ 1 trilhão ao Brasil? O petróleo não pode ser demonizado".

Marina procurou desmentir que pretenda interromper a exploração de petróleo em novos campos e procurou desviar o foco para as denúncias de irregularidades na Petrobras. "O maior perigo para o Pré-sal é o que foi feito em seu governo com a Petrobras, que perdeu seu valor de mercado e está sendo usado para ancorar a política econômica. A Petrobras está pagando caro pelas escolhas que fez. Hoje estas escolhas estão sendo investigadas pela justiça", disse, em uma referência a aquisições feitas pela Petrobras no exterior.

A candidata do PSB também elegeu Dilma como alvo. Disse que a petista se elegeu prometendo crescimento, juros baixos e baixa inflação. "Hoje temos crescimento baixo, inflação alta e juros em alta. O que deu errado em seu governo?", indagou. "O que deu certo é que tiramos 32 milhões de pessoas da pobreza", retrucou a presidente, acusada por Marina de "jamais reconhecer um erro".

Marina justificou a sua proposta de instituir a independência formal do Banco Central em função de supostos desacertos na condução da economia. " Este governo com suas políticas erráticas fez com que se tornasse preciso assegurar a autonomia (do BC". Segundo afirmou Dilma durante o debate, um Banco Central independente "só levará a uma dificuldade maior de regulação do sistema financeiro, uma das razões para a crise econômica global".

Aécio Neves foi relegado a um segundo plano até mesmo no bloco do debate em que os jornalistas convidados faziam perguntas a um candidato e escolhiam outro para comentar as respostas. Marina Silva foi questionada por não revelar o nome das empresas que contrataram palestras suas nos últimos três anos e Dilma, escolhida para comentar, disse que faltava transparência para a candidata do PSB. Aécio foi escolhido para comentar uma pergunta destinada ao pastor Everaldo (PSC), que tem 1% nas pesquisas. Everaldo responde a um processo judicial por agressão a uma ex-companheira. Aécio lembrou que apoiou a aprovação da lei Maria da Penha, que combate a violência de gênero.

O tucano teve uma oportunidade de estabelecer um confronto direto com suas principais oponentes quando foi perguntado sobre escândalos de corrupção em que o PSDB foi protagonista, como o das supostas propinas de multinacionais a funcionários do governo de São Paulo e o esquema conhecido como "mensalão mineiro". " Vamos construir para o Brasil um novo ciclo de governança. O Brasil vai tirar suas grandes empresas das páginas policiais dos jornais e devolvê-las às páginas de economia", disse, já provocando Dilma, escolhida para comentar a resposta.

Mesmo ao responder a perguntas de outros candidatos, Aécio procurou questionar a presidente sobre a baixa execução do orçamento de investimentos para a segurança pública (apenas 13%, segundo o tucano) e o investimento pequeno que o governo federal teria feito em Minas Gerais.

Quando pôde perguntar diretamente a Dilma, levou a disputa para seu reduto político e terra natal da presidente: acusou Dilma de ter prejudicado a administração em Minas. A presidente respondeu que o tucano "tinha memória fraca" e que "talvez não tenha estudado direito a matéria, talvez não saiba que as obras de mobilidade urbana foram feitas com recursos federais".

Dilma disse ainda que o governo federal financiou a ampliação de vagas em quinze presídios no Estado. Com displicência que parecia estudada, chamou Belo Horizonte de "BH", apelido pela qual a capital mineira é coloquialmente conhecida no Estado. "Desafio mostrar uma obra federal que tenha andado em Minas Gerais", disse Aécio, que governou o Estado entre 2003 e 2010. Dilma e Aécio estão estatisticamente empatados nas pesquisas em Minas Gerais e o candidato apoiado pelo tucano ao governo local, João Pimenta da Veiga (PSDB), poderia perder hoje a eleição no primeiro turno para o petista Fernando Pimentel.

O tucano só atacou diretamente Marina Silva no momento de fazer suas considerações finais, no final do debate. "Marina defende hoje teses que combatia há muito pouco tempo", disse.

Marina foi questionada com maior vigor pela quinta colocada nas pesquisas de opinião, Luciana Genro (P-SOL), que apontou semelhanças entre seu programa e a política econômica que marcou o segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para perguntar se a candidata não seria "uma segunda via do PSDB?". Segundo Luciana, os economistas que assessoram Marina na elaboração do programa são tucanos.

A candidata do PSB acusou a adversária de dogmática, incapaz de reconhecer acertos em oponentes, e confirmou que irá reforçar o chamado "tripé" inaugurado no segundo mandato tucano: câmbio flutuante, uso da política de juros como contenção inflacionária e superávits fiscais. "Temos que escolher lado, não se pode fazer nova política cedendo a banqueiros e usineiros. Não durou 24 horas e quatro tuítes do Malafaia sua posição em favor do direito de gays, lésbicas e simpatizantes", disse Luciana. A candidata se referia à correção feita no programa de governo de Marina depois que o pastor Silas Malafaia, um dos pregadores evangélicas mais ativos na mídia, ter criticado a proposta de se permitir casamentos homossexuais e criminalizar a homofobia.

Merval Pereira: Nova polarização

- O Globo

A candidata Marina Silva atravessa talvez o melhor momento de sua campanha, apesar de ter passado a ser o alvo dos adversários. Acontece que é muito difícil atacá-la por seus supostos defeitos, como tomar decisões com base na religião, e ela pode prometer tudo, como qualquer candidato de oposição faz. O fato de estar em ascensão nas pesquisas permite a Marina posar de vítima quando lhe interessa, e partir para o ataque quando e como quiser.

A presidente Dilma bem que tentou mostrar que as promessas de Marina não fecham as contas, mas para quem está à frente de um governo desastroso não é tarefa banal ensinar como as coisas devem ser feitas. Quando tentou mostrar que as promessas não cabiam no Orçamento do país, a presidente Dilma teve que ouvir que o corte de desperdícios e a racionalização dos gastos públicos dariam conta do recado.

A questão do petróleo, que poderia ser para Dilma o que foram as privatizações para o presidente Lula na disputa pela reeleição em 2006, é de difícil exploração desta vez, pois a situação caótica da empresa brasileira, com perda de valor na Bolsa, diretores presos e várias acusações de corrupção, não permite à presidente mostrar o erro da falta de prioridade que o programa de Marina dá ao pré-sal.

Também o abuso do uso político do pré-sal e da autossuficiência brasileira do petróleo, desmentida pela conta de importação, não permite a Dilma reagir com o rigor que deveria merecer o assunto. Os especialistas apontam que o programa da Marina tem nitidamente preconceito em relação ao petróleo e gás natural, o que, para o consultor Adriano Pires, um dos assessores do candidato do PSDB, é "uma visão míope e que poderá trazer grandes prejuízos ao país".

Marina até que corrigiu o rumo de seu discurso falando que o pré-sal deverá ser usado para desenvolvimento de novas tecnologias, mas colocou de lado, e a presidente Dilma não rebateu, os royalties para estados e municípios e a geração de empregos. Não fica claro na proposta de Marina se teremos continuidade nos leilões de petróleo, e sob que marco regulatório, mas o governo petista também perdeu um tempo enorme sem realizar leilões de blocos de petróleo.

Na realidade, diz Adriano Pires, o pré-sal é um bem necessário e qualquer país gostaria de ter reservas de petróleo como as brasileiras. O pré-sal e as fontes renováveis não são excludentes, mas nos governos petistas caímos no erro de dar destaque absoluto ao petróleo, tudo pré-sal, inclusive estimulando o uso de automóveis, dando subsídios às montadoras e controlando o preço da gasolina para conter a inflação, o que foi criticado por Marina no debate de ontem.

Mas se não for pressionada, podemos trocar de erro, dando prioridade para as energias renováveis e execrando o petróleo e o gás natural. A presidente Dilma ainda tentou vender a ideia de que investiu em alternativas energéticas como a eólica, afirmando que somos hoje o segundo país do mundo mais preparado para aproveitá-la, mas Marina nem deu bola.

O fato é que, como ressalta Adriano Pires, as energias renováveis não terão condições de sozinhas garantirem a segurança energética do país. E até o momento ninguém acusou Marina pela redução da capacidade das usinas hidrelétricas, pelo fato de as novas serem a fio de água, sem os grandes reservatórios que prejudicariam o meio ambiente, segundo critério imposto por Marina quando no Ministério do Meio Ambiente.

Isso obriga necessariamente a construção de térmicas, já que eólicas e solares são energias intermitentes. O segundo motivo pelo qual as energias alternativas não podem ter prioridade hoje é preço. As fontes renováveis de energia ainda são mais caras e, portanto, a sua entrada de maneira consistente tem de ser feita através de programas que não penalizam o consumidor nem tirem a competitividade da indústria, nem criem dificuldades e problemas na operação do sistema elétrico.

Mas nada disso foi discutido nos debates até o momento, e tudo indica que não será pois Marina paira acima dessas dúvidas técnicas, vendendo sonhos e vontade de mudança. Justamente o que 80% dos eleitores querem. Ela polarizou o debate com a presidente Dilma, como apontam as pesquisas, e deixou o candidato do PSDB em segundo plano.

Dora Kramer: Abalar o andor

- O Estado de S. Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso costuma dizer que no Brasil a sociedade se movimenta a partir de algum curto-circuito, produto de uma faísca qualquer em geral decorrente de algo imprevisível.

É a análise do sociólogo, que poderia se encaixar na onda de preferência do eleitorado por Marina Silva, mas que certamente não seria conveniente ao discurso do político engajado na campanha do tucano Aécio Neves.

De qualquer modo, a tese permanece e suscita uma indagação. Seria Marina capaz de desencadear o tal curto-circuito renovador ou sua força se encerra no brilho da faísca?

Nas próximas cinco semanas o esforço da campanha do PSB será o de consolidar a primeira hipótese no coração do eleitorado, enquanto o PT e o PSDB vão apelar para a racionalidade do público a fim de demonstrar que a segunda é a mais correta.

Em resumo, na versão dos adversários o voto em Marina Silva seria um contrato de alto risco para o Brasil. Se o eleitor vai se deixar convencer são outros quinhentos.

Muitos políticos experientes e vários analistas de pesquisas não querem ainda emitir opiniões definitivas em público, mas nos bastidores a impressão predominante é a de que a onda veio para ficar e ela está eleita.

Isso não significa que nas campanhas as toalhas já tenham sido jogadas. O PT aposta na força do governo. O PSDB desenvolve o raciocínio de que Marina estaria vivendo o auge do entusiasmo pelo desejo do "novo" e que a partir de agora a tendência do eleitor seria a de prestar mais atenção a questões objetivas de governabilidade.

Os dois adversários já abandonaram o tratamento cerimonioso e desde o fim de semana passaram a citar Marina nominalmente em suas críticas. O tucano dedicou o horário eleitoral do sábado a levar o público a refletir sobre dois tipos de escolha: a emotiva e a realista.

Começou por atacar a questão do voto útil, dizendo: "Não basta tirar o PT do poder". Fez um gesto de delicadeza - "respeito muito a Marina" - a fim de não se atritar com os eleitores dela, mas pôs em dúvida sua capacidade de governar.

Tanto tucanos quanto petistas agarram-se à esperança de que Marina neste mês e alguns dias até a eleição seja levada a descer do altar em que se encontra entronizada, pela necessidade de se confrontar com o mundo real.

O combate será no campo das cobranças de conteúdo. Aí suas contradições, acreditam, ficariam expostas como vulnerabilidades graves para o exercício da Presidência.

Mau momento. Candidato ao Senado pela Bahia, integrante da ala do PMDB anti-PT, Geddel Vieira Lima atribui a "setores insanos do partido" a notícia de que os pemedebistas aliados a Aécio Neves já estariam se movimentando para aderir à candidatura de Marina Silva.

"Eleição em dois turnos obedece a um ritual. Se o meu candidato (Aécio) não passar para o segundo turno, aí discutimos uma posição. Agora, com o processo do primeiro turno ainda em curso, tocar nesse assunto é puro oportunismo."

Aos fatos. A presidente Dilma Rousseff diz que está muito preocupada com o programa de governo de Marina, "no que se refere tanto à criação de empregos quanto à questão da indústria nacional".
Na realidade, "no que se refere" à candidata do PSB a preocupação da presidente é mesmo quanto à questão dos índices de intenções de votos das pesquisas.

Linha torta. A candidata do PSB usou sete palavras - "uma falha processual na editoração do texto" - e uma construção confusa para explicar a retirada do apoio a causas LGBT inscritas no programa de governo. Para falar claro bastaria um "erramos".

Eliane Cantanhêde: O segundo turno chegou

- Folha de S. Paulo

O segundo turno já começou. Isso ficou evidente no debate desta segunda (1º/9) entre os presidenciáveis, quando Dilma Rousseff perdeu os pruridos e partiu para cima de Marina Silva, e Marina Silva não se fez de rogada e bateu firme no governo da adversária.

Em segundo plano, o tucano Aécio Neves estreou uma nova fase. Em vez da polarização PT-PSDB, com Marina no meio, o que se viu foi Dilma e Marina frente a frente, com Aécio tentando sobreviver entre as duas favoritas. Ele centrou fogo em Dilma, deixando à presidente a missão de bater em Marina. No fim, colocou-se como opção ao "fracasso" do governo e às "contradições" de Marina.

Dilma, enfim, cedeu à pressão de Marina para reconhecer os erros: "Pode parecer que estou plenamente satisfeita. Não estou". E Marina, enfim, saiu da zona de conforto em que trafegava desde 2010, mas se saiu bem ao explicar os pagamentos que recebe por palestras e ao se equilibrar entre o tripé econômico desprezado por Dilma e os avanços sociais. De avião, ninguém falou.

Propaganda na TV funciona a favor das reeleições porque todo governante, por pior que seja, tem sempre o que mostrar: a obra tal, o programa qual. Mas debate funciona contra, porque todo governante, por melhor que seja, também tem o que esconder. E o que é vantagem se transforma em desvantagem: os adversários se unem para apontar o dedo contra quem está no poder.

Debate é forma e conteúdo. Marina estava firme, segura, mantendo um discurso que tem pouco de concreto, mas fala à alma de uma grande maioria sedenta por mudança.

Alguém precisa dizer a Dilma, se é que Dilma sabe escutar, que a cara mal humorada, às vezes parecendo vermelha de raiva, não ajuda a convencer o telespectador nem a humanizar a sua figura. Ainda mais se, na propaganda do PT, atua como a vovó boazinha que faz macarrão e, no debate, assume o ar de lobo mau.

Não muda nada, mas é divertido.

Luiz Carlos Azedo: É cedo, ainda!

• Dilma Rousseff ainda tem capacidade de reação, uma vez que o governo, por mais fracassado que seja, sempre é a forma mais concentrada de poder, quando nada por “arrecadar, normatizar e coagir”.

Correio Braziliense

O que mais espanta na campanha eleitoral é a fragilidade do dispositivo eleitoral governista, que entrou em colapso tão logo foi iniciado o horário eleitoral gratuito, ao contrário do que todos previam, tamanha a vantagem em tempo de televisão e rádio e em recursos financeiros da presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição.

Marina Silva (PSB), com menos de tempo de televisão, surpreendeu a todos. Além de ultrapassar Aécio Neves, o candidato do PSDB, está empatada com Dilma Rousseff, no primeiro turno, embora tenha menos recursos financeiros e apoio político. Isso quer dizer que a eleição está decidida? Não, ninguém vence eleições de véspera.

É preciso contar os votos nas urnas. Há muita campanha ainda pela frente, sujeita a imprevistos capazes de “desconstruir” a imagem de uma candidata. Foi quase o que aconteceu com Marina Silva, por exemplo, após o lançamento de seu programa de governo, em São Paulo. O evento foi um sucesso no maior colégio eleitoral do país, pois revelou surpreendente vigor de campanha em território tucano, mas a repercussão do conteúdo foi um desastre.

Uma proposta particularmente causou estresse: o casamento gay. O texto divulgado era favorável, por isso, não poderia deixar de ser manchete dos jornais, segundo a famosa regra de que a notícia existe quando o dono morde o cachorro. Resultado: pressionada pelos pastores evangélicos que a apoiam, Marina teve que desautorizar o texto e revisar a proposta.

Armadilhas como essa estão onde menos se espera numa campanha eleitoral. Os maiores desastres são causados pelo fogo amigo ou por trapalhadas dos próprios aliados. Marina transita numa faixa estreita da política — a chamada terceira via —, ao dar uma no cravo e outra na ferradura, sempre corre o risco de levar na cabeça.

E ainda há as entrevistas e os debates, como o de ontem, onde se corre risco de vida eleitoral, uma vez que qualquer deslize pode ser fatal. Por tudo isso, é muito cedo para dizer que a eleição está decidida, que Marina será a próxima presidente da República. Seria preciso combinar com Dilma, Aécio e, sobretudo, os eleitores.

Colapso governista
Teoricamente, Dilma Rousseff ainda tem capacidade de reação, uma vez que o governo, por mais fracassado que seja, sempre é a forma mais concentrada de poder, como nos ensina o jurista italiano Norberto Bobbio, quando nada por “arrecadar, normatizar e coagir”.

Ocorre que o processo eleitoral mitiga o poder da União, como se ele fosse se desagregando e se transferindo, gradativamente, para os candidatos aos governos estaduais, às assembleias legislativas, à Câmara e ao Senado, na medida em que se aproxima a eleição. No dia da votação, esse poder estará nas mãos dos eleitores.

Muitos interesses e tendências operam nos subterrâneos das eleições para a Presidência, na qual a força mais determinante deveria ser o sistema de poder encabeçado pela presidente Dilma. Em tese, a petista contaria com a vantagem estratégica da máquina federal sob seu comando, com milhares de militantes ocupando cargos comissionados.

Mas não é isso que acontece. A máquina começa a dar sinais de neutralidade na disputa eleitoral. A partidarização de órgãos e serviços pelo PT e aliados esbarra no chamado espírito público dos servidores, segundo a máxima “weberiana” de que cabe à burocracia zelar pela legitimidade dos meios de exercício de poder: não pode pôr os objetivos dos políticos acima disso, quando eles se movem como se os fins justificassem os meios.

Além disso, os sindicatos controlados pelo PT enfrentam dificuldades para mobilizar os trabalhadores por causa da recessão econômica e, também, porque foram cooptados pelo governo. O afastamento das bases ficou patente em algumas greves selvagens ocorridas nos últimos anos e pelo fato de que muitos sindicatos já escaparam ao controle petista.

Resta a militância do PT, que foi às ruas no processo eleitoral de 2010, logo após a crise do mensalão, quando os líderes envolvidos no escândalo foram defenestrados da direção do partido e, em alguns casos, da própria legenda.

Ocorre que, durante o julgamento do mensalão, eles foram reabilitados, apesar de condenados pelo Supremo Tribunal Federal, e isso queimou o filme do PT.


Para agravar a situação, Dilma não tem empatia com os militantes petistas e esconde a bandeira do partido na tevê. Supostamente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia reverter essa situação, mas parece que espera um pedido de Dilma para liderar a volta às ruas. Afinal, Lula ainda é o trunfo que lhe resta.

Raymundo Costa: A minoria estável de Marina Silva

• Candidata é primeira opção e meio para tirar PT do poder

- Valor Econômico

A ideia da renúncia seguida do apoio a Marina Silva ronda o candidato Aécio Neves. Em áreas afins de sua campanha e do próprio PSDB, esta saída é vista como a melhor maneira de despachar o PT já no primeiro turno, sem correr o risco de uma eventual virada no segundo turno.

Aécio tem prazos. Assim como o PT, o candidato do PSDB apostou na polarização e se deu mal. O candidato do PSDB ainda acredita numa resposta positiva do eleitorado, em meados de setembro, quando avalia que sua propaganda eleitoral começará a apresentar resultados. De qualquer forma, o programa de Aécio, cada vez mais, fala para Minas Gerais.

Mal na disputa presidencial, Aécio também enfrenta problemas em Minas, onde seu candidato ao governo do Estado, Pimenta da Veiga, está comendo poeira no rastro de Fernando Pimentel, o único petista a liderar a corrida para o governo do Estado, nos quatro maiores colégios eleitorais. O próprio Aécio não tem o desempenho esperado em Minas. Em algum momento da campanha, o candidato terá de se concentrar na campanha mineira, de modo a assegurar sua base de regional de apoio para as próximas eleições.

Também não é certo, à esta altura, que se Aécio desistir e apoiar Marina a fatura será liquidada no primeiro turno. Hoje a presidente está consolidada no segundo turno, graças sobretudo ao forte apelo que seu nome mantém nas regiões Norte e Nordeste. O problema da presidente é que ela não amplia nem para o primeiro nem para o segundo turno, conforme demonstram as últimas pesquisas.

É improvável que Aécio aceite algum tipo de acordo com Marina já no primeiro turno, mas o simples fato de a proposta circular nas áreas afins ao candidato, eleitores fiéis que agora pensam no voto útil em Marina, dá uma ideia do tamanho do apoio que se delineia em torno da candidata do PSB. Na hora que o PT perder a eleição, a disponibilidade dos outros partidos para se aproximar é grande.

No segundo turno, a tendência do PSDB é apoiar Marina Silva e ajudá-la a governar, se ela for eleita, como apontam as pesquisas. Ao contrário do que aconteceu em 1992, quando era oposição e se recusou a compor com o governo Itamar Franco, o PT tem muitos interesses em jogo e deve pensar com mais receptividade a ideia de dar apoio congressual a Marina. O problema é que Marina se tornou a primeira opção ao PT. O mercado financeiro é parceiro de Marina porque não quer o PT no governo.

Nos cálculos dos políticos mais experientes, Marina não precisará compor com o PT. Ela pode fazer maioria tranquila com partidos médios e apoios nos maiores, mas, sobretudo, vai jogar luz sobre o Congresso. Pelo que se diz na campanha, Marina terá uma agenda dura, a fim de levar as pessoas da rua, os manifestantes de junho. É evidente que haverá gente no Congresso tentando esconder com mão de gato, mas será muito mais difícil com uma relação transparente.

Dilma, no momento, tem maioria instável no Congresso. Pode-se afirmar que Marina deve ter uma minoria estável. Ela também vai contar com o apoio da mais tradicional sigla brasileira, o PG, o Partido do Governo, aquele que está com qualquer que seja o presidente no Palácio do Planalto. Mas a candidata do PSB também quer inverter a lógica adotada pela presidente para a nomeação dos ministros.

Assim, não será o PSDB, por exemplo, que vai dizer "eu quero fulano". Marina vai escolher, até porque poderá dizer que não tem interesse na reeleição. É uma negociação que não está sobre a mesa. E quando fala que não quer disputar um segundo mandato, Marina Silva desarma os partidos e seus eventuais candidatos em relação a ela. Pode montar um ministério de melhor qualidade. Eduardo Campos, o candidato cuja morte virou de ponta cabeça a sucessão presidencial, era mais gestor e menos equipe. Marina, que o sucedeu, é menos gestora mas tem mais equipe.

O PSDB deve declarar apoio a Marina Silva no segundo turno da eleição, se as pesquisas atuais forem confirmadas em 5 de outubro. A dúvida no entorno da candidata do PSB é sobre o apoio do PT. Afinal, Lula é candidato declarado em 2018. O fato de Marina não querer disputar um novo mandato ajuda um entendimento, se houver convencimento de que ela não cederá a pressões para permanecer, caso faça um bom governo.

A situação do PT hoje é muito diferente daquela vivida quando o partido teve de decidir se apoiava ou não Itamar Franco, após o impeachment de Fernando Collor. Não se trata simplesmente de uma questão de manter cargos, isso também existe, mas de projetos e políticas em andamento que são muito caras ao partido. Diz um integrante da coordenação da campanha de Dilma: "Na época do governo Itamar nós éramos oposição. Agora, com um monte de gente no governo, nós vamos ficar".

Em meio ao pessimismo que se abateu sobre o PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz que "ainda" é possível a presidente Dilma Rousseff conquistar a reeleição em outubro. Lula também é mais condescendente com a candidata do que muitos de seus companheiros de partido e da coordenação da campanha eleitoral da presidente.

Segundo Lula, há pelo menos três outros fatores, além da candidata, que jogam contra a presidente, nesta eleição. A primeira é a má avaliação que a população tem da classe política, o que acaba atingindo também quem está no poder, que de certa forma representa o status quo condenado pela maioria dos eleitores.

O segundo aspecto destacado por Lula, em conversas no Instituto Lula, é "o monte de rejeição" do PT, um partido cujos principais líderes estão presos, condenados que foram no julgamento do mensalão. Líderes, aliás, cuja experiência em campanhas eleitorais está fazendo falta agora ao PT, sobretudo em São Paulo

O terceiro aspecto é a "economia desandando", na prática já em recessão técnica. O ex-presidente achava que o PT poderia chegar à eleição com a situação econômica um pouco melhor. E o Volta, Lula? "Não tem jeito". É Dilma até o fim. Lula só gostaria que a candidata fosse um pouco mais afável.