• Empatadas nas pesquisas, Dilma e Marina monopolizam discussões; Aécio mantém ataques à petista
Fernando Donasci – O Globo
A situação de empate técnico entre Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) apontada pela última pesquisa Datafolha, com vantagem da ex-senadora em eventual segundo turno, praticamente transformou o debate entre os presidenciáveis, promovido pelo "SBT," "Folha de S.Paulo", "UOL" e "Jovem Pan", em um embate entre as duas candidatas. Dilma, que no início do primeiro bloco admitiu nervosismo, dirigiu todas as suas questões para a adversária, e os jornalistas também deram preferência às duas nas perguntas que podiam receber comentários. O candidato do PSDB, Aécio Neves, ficou em posição secundária no debate, e, ao contrário do esperado, já que está atrás de Marina nas intenções de voto, concentrou seus ataques no governo federal e na presidente Dilma.
Aécio acabou prejudicado pelo sorteio e pelas regras do debate, já que nunca teve a oportunidade de fazer pergunta direta a Marina, mas não pareceu querer criar áreas de atrito com a candidata do PSB. Apenas nas considerações finais, o tucano foi crítico à ex-senadora, afirmando que ela não consegue solucionar as contradições de seu programa de governo.
Os recuos de Marina no programa de governo, que marcaram os últimos dias, não foram muito explorados, e a candidata do PSB foi mais cobrada pelo que os adversários consideraram propostas genéricas e falta de posicionamento claro. A economia acabou sendo a questão mais debatida, com Dilma sendo atacada pela política atual, a queda do crescimento e o aumento da inflação no seu governo. A presidente rebateu com referências à permanência da crise internacional. Marina voltou a se comprometer com a autonomia do Banco Central, e Aécio procurou se mostrar como a alternativa mais segura no campo dos que desejam mudanças na condução do país.
Economia domina pauta
Primeira a ter oportunidade de perguntar, Dilma elegeu Marina como alvo, procurando passar a imagem de que a ex-senadora não explica de que forma conseguirá cumprir as promessas de campanha. A petista pediu duas vezes que a candidata do PSB dissesse "de onde virá o dinheiro" para suas propostas, citando a destinação de 10% dos recursos da União para a Saúde, outros 10% para a Educação e a implementação do passe livre, entre outros, que somariam R$ 140 bilhões. Marina respondeu com críticas ao governo de Dilma:
- Hoje, há um desperdício muito grande dos recursos públicos, inclusive em projetos desencontrados. A sociedade paga alto para que as escolhas feitas sejam sempre na direção errada. Nós vamos fazer as escolhas corretas e não manter as escolhas erradas, como vem sendo feito.
Na réplica, Dilma insistiu que, para um governante, não basta apenas fazer promessas, mas é preciso dizer como vai implementar as medidas.
- Quem governa tem de responder como vai fazer, não basta se comprometer e prometer. O montante prometido pela senhora equivale a quase tudo que se gasta em Saúde e Educação - disse Dilma, num ataque que repetiria no terceiro bloco. - O maior risco é não se comprometer com nada, e ter só frases de efeito e genéricas.
Já Marina escolheu os recentes indicadores ruins da economia brasileira como munição. Quando a recessão técnica apontada pelo IBGE foi citada por um jornalista, Dilma respondeu dizendo que a crise internacional ainda persiste e que a queda na produção brasileira é "momentânea". Marina aproveitou para bater forte e disse que a presidente não reconhece os erros.
- Uma coisa importante é verificar que, desde o debate anterior, a candidata Dilma não consegue fazer uma coisa essencial: reconhecer os erros. Se não reconhecer os erros, não tem como repará-los. Ela se elegeu falando que ia controlar a inflação, trazer crescimento e baixar os juros. Hoje, temos inflação alta, baixo crescimento e juros altos. A população paga um preço muito alto pelos baixos serviços. Quando o governo vai mal, a culpa é da crise internacional.
Num momento em que a discussão sobre economia saiu das críticas e ataques e se tornou mais propositiva, Dilma e Marina divergiram sobre a autonomia que o Banco Central deve ter em relação ao governo federal. A presidente disse que a autonomia do BC "só levará à dificuldade de regulação do mercado financeiro, ponto crucial da crise" internacional, e Marina reafirmou o compromisso de que seu governo não vai interferir na política do órgão.
Quando o embate entre as duas chegou à governabilidade, Dilma atacou a tentativa de Marina de se dissociar dos formas tradicionais de se fazer política. A petista procurou gerar dúvidas sobre a capacidade que Marina teria de governar sem maioria no Congresso Nacional:
- Sem apoio político, a senhora não consegue aprovar os grandes programas do Brasil. Sem apoio no Congresso, não é possível garantir um governo estável, sem crise institucional. Não somos nós, os presidentes, que escolhemos quem são os bons. Quem escolhe os bons é o povo, por eleição - disse Dilma, em referência ao mote de Marina de que irá governar com os melhores.
Nas suas considerações finais, Marina rechaçou representar uma insegurança política por não ter grande base de apoio parlamentar:
- É fundamental que cada brasileiro e brasileira não perca a esperança. Nesse momento há um esforço muito grande de fazer com que você se recolha no medo. Eu tenho dito que não sou pessimista e nem otimista. Sou persistente.
Uma das polêmicas do recém-lançado programa de governo do PSB também foi lembrado na disputa entre as duas líderes das pesquisas. Dilma afirmou que Marina pretende reduzir a importância do pré-sal como fonte de geração de energia no país, lembrando que a exploração do petróleo pode ser a grande receita do país:
- É incrível que a senhora abandone um dinheiro garantido e seguro para ser investido na Educação e na Saúde, equivalente a R$ 1 trilhão. O petróleo não pode ser demonizado.
Marina se defendeu dizendo ser a favor da utilização simultânea à exploração do pré-sal, de fontes alternativas de energia, mais limpas, e aproveitou para criticar a gestão da Petrobras no governo Dilma, citando indiretamente o caso da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
- Nós não podemos ter a visão de ficar apenas onde a bola está. Temos de ir aonde a bola vai estar. O mundo está numa corrida por novas fontes: energia eólica, solar, todas negligenciadas pelo seu governo. Queremos combinar as duas coisas. O maior perigo para o pré-sal foi o que houve com a Petrobras, uma empresa que perdeu seu valor e foi usada politicamente. Empresas que foram compradas por valores que estão sendo investigados na Justiça.
Aécio: só um ataque a Marina
Terceiro colocado nas pesquisas, Aécio Neves continuou na estratégia de centrar fogo no governo, e deixou para as considerações finais um ataque mais duro a Marina. O ex-governador afirmou que há uma separação clara entre Dilma e os outros candidatos, que propõem mudanças, mas disse que a postura de Marina é contraditória.
- Não abro mão de repetir e reiterar que acredito nas boas intenções da candidata Marina, mas ela não consegue superar as enormes contradições vindas do seu projeto e defende hoje teses que combatia há muito pouco tempo.
Na maior parte do tempo, ele teve de debater com candidatos nanicos. Nas duas vezes em que teve embate direto com Dilma, o tucano centrou as críticas no que considera o "fracasso" do governo em todas as áreas, principalmente na economia. Quando cobrou de Dilma realizações em segurança e mobilidade, os dois tiveram a discussão mais ríspida.
- Candidato, você tem memória fraca. O governo federal deu R$ 141 milhões para Minas criar mais de cinco mil vagas em presídios. As obras de mobilidade urbana de Minas são todas em parceria com o governo federal, como o metrô em Belo Horizonte.
Aécio rebateu com ironia:
- Em Belo Horizonte, talvez pela sua pouca familiaridade com nossa capital, ganha um prêmio quem andar em um palmo de metrô construído (com recursos federais nas gestões petistas).
Após o encontro, Dilma criticou as mudanças feitas no programa de governo de Marina depois de sua divulgação na última sexta-feira. Aécio avaliou que a polarização entre Dilma e Marina faz parte das estratégias das campanhas das duas, e lamentou o que classificou como "falta de sorte" na hora do sorteio para fazer perguntas.
Sobre a polarização com Dilma que dominou o debate, Marina disse que o confronto foi estabelecido pela sociedade:
- Acho engraçado dizer que houve polarização minha com a Dilma. Antes era PT com PSDB. Agora, o povo está fazendo com que esta polarização ocorra comigo e com a sociedade brasileira.