segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Fernando Gabeira - Bolsonaro está perto do fim

O Globo

O presidente tem um alto índice de rejeição. É algo que não se resolve nos últimos dias, porque representa o julgamento de todo um governo

Esta semana pode ser a última de uma época marcada pela passagem da extrema direita no poder. Bolsonaro se inspirou no governo militar, mas a História não se repete. Ele chegou pelo voto e será despachado pelo voto.

No período militar, a Guerra Fria dominava o contexto, o comunismo era visto como uma grande ameaça. O medo da época concentrava-se muito na estatização, na ameaça à propriedade privada.

Bolsonaro manteve o discurso anticomunista, mas agora centrado nos temas culturais. Os grandes países comunistas não tiveram peso em suas diatribes, mas sim as organizações multilaterais. Agora era preciso defender Deus, pátria e família de elementos morais que poderiam desintegrá-los.

O Brasil era complexo demais para uma visão tão estreita. Mas sua complexidade nos mostrou que há espaço para a extrema direita e que teremos de conviver com ela como uma força considerável, como na França. Possivelmente, aqui como lá, dificilmente será majoritária. Na França, chegou duas vezes ao segundo turno e fracassou.

Miguel de Almeida – Do que não se falou na campanha

O Globo

Transição climática é um dos temas ignorados por candidatos

À beira do primeiro turno, o brasileiro sai menor que o Augusto Heleno e o Malafaia. Os grandes temas já abordados — potência sexual, a cidade perdida de Ratanabá, Aristides e a volta do churrasco com cerveja — mostram como o Brasil desistiu do futuro.

No conceito hétero-linguístico de Oswald de Andrade, agora profético: somos um país cheio de gente dando adeus.

Bolsonaro, o capitão ufanista do agronegócio, poderia responder: como no “celeiro” do mundo tem tanto brasileiro passando fome?

A miséria antes de tudo é uma decisão política — não é destino.

Basta entender que o governo preferiu zerar imposto de importação do suplemento whey e não mexeu na alíquota dos computadores.

Um bom PC, moderno e lépido, ajudaria os estudantes, a produtividade nas empresas etc. Já o whey, bem...

A desigualdade não nasce em árvore; ela é cevada com afinco pelas elites e corporações. O imposto que as igrejas evangélicas não pagam; a aposentadoria privilegiada (e inexplicável) dos militares; a alíquota menor para o airbag dos motoqueiros etc. fazem falta para comprar merenda escolar.

Marcus André Melo* - O viés anti-incumbente e Bolsonaro

Folha de S. Paulo

A economia e o Auxílio Brasil importam para as eleições?

Os titulares dos cargos executivos contam com uma vantagem natural: contam com a máquina, a exposição midiática, e o reconhecimento do nome. No cenário pós pandêmico, no entanto, ocorre uma reversão deste padrão e o surgimento do chamado viés anti-incumbente.

A rigor, este viés era observável antes mesmo da atual onda populista mas foi reforçado pela pandemia. E independe do desempenho dos governantes. Os melhores gestores da pandemia em suas regiões (Chile, Reino Unido) foram defenestrados.

O viés independente da orientação ideológica dos governos: Na américa Latina a esquerda foi derrotada no Uruguai, na Argentina (o peronismo amargou duro revés nas eleições legislativas), e no Equador. Assim a suposta "onda rosa" em nossa região simplesmente não tem sustentação empírica.

Bolsonaro inaugurou o padrão ao derrotar as forças que ocuparam o governo por 13 anos e simbolizavam o status quo. Mas agora o que deveria surpreender, na realidade, é a competitividade relativa do incumbente considerando não só a economia, mas também outro choque, a guerra da Ucrânia.

Celso Rocha de Barros - Bolsonaro pode acabar logo

Folha de S. Paulo

Há uma chance real de que os radicais bolsonaristas voltem ao baixo clero e/ou ao hospício já no 1º turno

As pesquisas não permitem dizer se haverá segundo turno na eleição presidencial. A vantagem de Lula é confortável, mas não dá para cravar.

De qualquer jeito, há uma chance real de que, quando você estiver lendo minha próxima coluna, os radicais bolsonaristas tenham voltado ao baixo clero e/ou ao hospício, de onde nunca deveriam ter saído.

Talvez Jair tente um golpe, talvez tenha sucesso, mas, se não tiver, deve repetir a cena de Anthony Garotinho sendo preso e se debatendo na ambulância; ou, o que acho mais provável, deve fugir.

Não precisaremos mais decifrar tuítes do Carluxo, aguentar Bananinha se sentindo importante ou assistir a Flávio chorando com a bandeira quando for pego fazendo "rachadinha".

Ninguém mais vai ter que fingir que Guedes é um gênio porque, afinal, se ele cair, Jair nomeia o Olavo para a Fazenda. Sim, o Olavo já teve morte cerebral, mas não seria o primeiro ministro de Bolsonaro nessa condição.

Bruno Carazza* - O que esperar da última semana

Valor Econômico

Não há mudanças bruscas na reta final desde 1994

Está acabando - ou não. A esta altura do campeonato, qualquer movimento dos eleitores poderá definir se haverá mesmo necessidade de um segundo turno. A depender da postura dos candidatos até domingo, daqui a uma semana estaremos discutindo o futuro governo de Lula ou, pelo contrário, as conversas girarão em torno da capacidade de Jair Bolsonaro reverter a desvantagem numa segunda votação no dia 30/10.

Os principais competidores entram na derradeira volta com diferentes velocidades, ânimos e objetivos.

Empolgada com os últimos resultados das pesquisas, que indicam uma ampliação de sua vantagem na liderança, a equipe de Lula sonha com a vitória já no próximo domingo.

Bolsonaro, por sua vez, aposta mais no olho do que nos medidores para aferir sua distância em relação ao representante da escuderia vermelha, e com isso tenta manter sua torcida empolgada, ao mesmo tempo em que promete acelerar na reta final.

Ciro Gomes e Simone Tebet, embora não reconheçam publicamente, sabem que a vitória é impossível. Mas brigam pelo terceiro lugar no pódio. A depender da distância que ficarem dos dois primeiros colocados, poderão sonhar continuar frequentando o pelotão de frente da política brasileira no futuro.

Gustavo Loyola* - Aperto monetário global

Valor Econômico

Cenário recessivo trará relevantes desafios adicionais para gestão macroeconômica no Brasil

A semana passada foi marcada pela continuidade da alta generalizada das taxas de juros pelos bancos centrais, tanto nas economias desenvolvidas, como também entre as emergentes. Inevitável, assim, deixar de considerar que os riscos de uma recessão global em 2023 e/ou 2024 se tornaram mais prováveis. A materialização (cada vez mais provável) de um cenário recessivo dessa natureza trará relevantes desafios adicionais para a gestão macroeconômica no Brasil nos próximos anos.

Nos Estados Unidos, onde a inflação ao consumidor nos últimos 12 meses atingiu 8,3%, o Federal Reserve (Fed) elevou em 75 pontos básicos a meta para os “Fed funds”, que passou para um intervalo entre 3% e 3,25% ao ano, sinalizando adicionalmente, através das projeções dos membros do FOMC, um nível mais elevado para os juros no final do ciclo de alta, neste caso surpreendendo a maioria dos analistas de mercado. As novas indicações dos próprios dirigentes do Fed são que os juros devem chegar a 4,5% ao final deste ano, atingindo 4,75% ao longo do ano que vem.

Felipe Moura Brasil - Menos adesismo, mais vigilância

O Estado de S. Paulo

Para voltar a crescer além de voos de galinha, o Brasil precisa crescer moral e culturalmente

As linhas auxiliares de Lula no mercado da comunicação embarcaram na estratégia do PT de pintar Ciro Gomes como “linha auxiliar de Jair Bolsonaro”, para conquistar, já no primeiro turno, o “voto útil” dos eleitores antibolsonaristas do candidato do PDT.

Nem a atuação de “Padre” Kelman no debate de sábado como a verdadeira linha auxiliar do presidente dissuadiu repórteres, colunistas e comentaristas, além dos artistas de sempre, de ignorar as críticas de Ciro ao atual governo, em razão de sua ousadia – imagine – em também criticar Lula.

”Bolsonaro teve uma oportunidade de ouro, porque foi eleito em função da mais devastadora crise econômica da história brasileira, em cima do mais generalizado escândalo de corrupção”, disse o pedetista, em diagnóstico correspondente aos fatos. “E infelizmente foi levado ao constrangimento, porque teve filhos denunciados igual ao Lula. Rendeu-se à corrupção”, completou Ciro.

Ele lembrou que, em 2018, alertou ao povo que a solução não era votar por negação no Bolsonaro, que não tinha experiência nem vivência e estava “sendo empacotado como um moralizador que nunca foi”.

Denis Lerrer Rosenfield* - Ilusionismo agrícola

O Estado de S. Paulo

Ex-presidente Lula tem abusado, em suas falas, de incompreensões, senão de meras tergiversações, sobre o MST e suas relações com o agro.

A política comporta boa dose de ilusionismo, sobretudo em período eleitoral, mas a realidade termina se impondo, principalmente quando um governante passa a concretizar suas políticas públicas. Num país desarranjado como o Brasil, diante de opções duras a serem tomadas nos próximos anos, é ainda mais necessário que os candidatos tenham um maior comedimento.

O ex-presidente Lula tem abusado, em suas falas, de incompreensões, senão de meras tergiversações, sobre o MST e suas relações com o agro. Num dia, são palavras totalmente impróprias como “fascistas e reacionários”; em outro, utilização de conceitos inapropriados, como se se tratasse de uma relação amorosa, a exemplo de dizer que o agro não “gosta” dele. Goste ou não, trata-se hoje do setor mais moderno e pujante da economia brasileira, exemplo para o mundo e base mesma de nosso progresso. O setor e Lula, caso seja eleito, serão obrigados a conviver, pelo bem maior do Brasil. E quanto mais arestas forem aparadas, melhor para todos.

Rafael Mafei* - Um voto pela terceira via (de 2026)

O Estado de S. Paulo

Eleitores que desejam ter a chance de votar em liberais verdadeiros no futuro devem impor a Bolsonaro, agora, a mais rápida derrota.

Como devem agir, no primeiro turno, eleitores democratas de direita diante de uma disputa que, na prática, está reduzida a um enfrentamento entre um esquerdista (Lula) e um nacionalista autoritário (Jair Bolsonaro)?

Para esses eleitores, as eleições de 2022 ficaram com sabor de um campeonato em que ambos os finalistas são seus maiores rivais. O time do coração ficou pelo caminho. Restaria torcer pelo time pequeno, simpático, mas inexpressivo.

Mas essa analogia esportiva é limitada. Na realidade brasileira, temos razões de sobra para temer a campanha de segundo turno que dará prazo extra para que um extremista como Jair Bolsonaro parta para o tudo ou nada.

Mais fácil é prever o que ocorrerá caso ele vire o jogo e alcance a reeleição: não há, na história global recente, uma democracia que tenha reeleito alguém de vocação tão inequivocamente autoritária como Jair Bolsonaro, e, ainda assim, sobrevivido sem se descaracterizar.

Eleitores de direita que desejam ter a chance de, no futuro próximo, votar em liberais verdadeiros, conservadores genuínos e democratas honestos, com candidaturas competitivas, devem agir para que Jair Bolsonaro sofra logo a mais rápida e humilhante das derrotas, sendo batido no primeiro turno.

Cristovam Buarque* - Lula, já

Correio Braziliense, 25/9/22

"Na semana passada, o Brasil ingressou em seu terceiro século, com economia potente, mas estagnada; com território integrado, mas a sociedade brutalmente dividida"

O eleitor não é chamado para construir o presidente que deseja, mas para escolher entre os candidatos que lhe são oferecidos. Entre os atuais, Lula tem mais condições que os outros para dar coesão e rumo ao Brasil. É capaz de reunir e dialogar com patrões e trabalhadores, ambientalistas e agronegócio, analfabetos e universitários. Tem condições de formular um rumo para o conjunto do país e para atender aos interesses de cada grupo, convencendo-os dos limites de recursos fiscais, ecológicos e políticos.

Lula tem biografia de líder aglutinador, de que o país sempre precisou e precisa ainda mais agora. Seus oito anos de presidência foi um período de respeito e solução de conflitos. Vinte anos depois, demonstra ainda mais nitidamente essa vontade, ao escolher Geraldo Alckmin como seu vice-presidente. Com José Alencar, ele demonstrou vontade de aglutinar com empresários, agora, demonstra também com as forças políticas.

Durante a semana, Lula reuniu ex-candidatos a presidente que disputaram com ele no passado por partidos diferentes, com visões e biografias diferentes, unidos agora em busca de quebrar divisões e construir uma frente para elegê-lo, outra vez. Foi capaz de aglutiná-los na campanha e já provou que é capaz de aglutiná-los no governo, como fez quando presidente: defendeu os interesses dos mais pobres, dando prioridade a investimentos no social, sem sair dos limites dos recursos fiscais. Quando necessário, consegue convencer os líderes, sindicais e dos pobres, para a necessidade de esperar antes de ter as reivindicações atendidas, também de convencer a parcela rica a abrir mão de privilégios para construirmos um Brasil justo, eficiente e sustentável.

Eliane Cantanhêde – A onda não é pró-PT

O Estado de S. Paulo, 25/9/22

Onda anti-PT de 2018 não reverteu numa onda pró-PT em 2022, a hora é de racionalidade

Reta final de campanha, nervos à flor da pele, excitação e medo, mas o fato é que a vantagem do petista Lula sobre o presidente Jair Bolsonaro vem desde 2018, atravessou todo o governo e se manteve bastante estável ao longo de toda a campanha de 2022. Bolsonaro moveu mundos e fundos, mas não conseguiu inverter as posições, nem mesmo ameaçar a liderança de Lula.

A dúvida na última semana é segundo turno ou não, porque dois fatores selaram o destino das eleições. O primeiro é a força indestrutível de Lula no Nordeste e entre os mais pobres e as mulheres, maiores eleitorados do País, com memória positiva dos dois mandatos de Lula. O segundo fator da desvantagem de Bolsonaro é Bolsonaro, incansável em gerar, ampliar e cristalizar uma ojeriza nacional contra ele.

Seus seguidores dizem que nunca houve um ataque tão sistemático contra um presidente. A realidade é que nunca houve um presidente tão obcecado em falar as coisas mais absurdas, agir de modo desmiolado, ameaçar a estabilidade nacional e corroer a imagem do Brasil no mundo. Ele não foi a vítima dos ataques, foi o autor. E atingiu um objetivo que nem o mais célebre marqueteiro do mundo conseguiria: esmaecer o antipetismo no País.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões

Emendas em jogo

Folha de S. Paulo

STF deve se conter ao rever prerrogativa de Executivo e Legislativo no Orçamento

Em dezembro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal impôs um necessário limite ao esquema articulado entre Jair Bolsonaro (PL) e as siglas do centrão para garantir apoio ao governo no Congresso.

Ao suspender temporariamente a execução das emendas orçamentárias bilionárias controladas pelo bloco partidário, a corte exigiu maior transparência na aplicação do dinheiro e incentivou os parlamentares a rever as regras do opaco mecanismo então instituído.

Para convencer o STF a desbloquear as verbas, o Legislativo passou a divulgar informações mais detalhadas sobre as chamadas emendas de relator e estabeleceu certas normas, incluindo um teto para os recursos destinados anualmente ao instrumento.

A ação do tribunal contribuiu assim para expor patrocinadores e beneficiários das verbas à luz do sol, criando condições para que a imprensa e os órgãos de controle investigassem favorecimentos, desvios e desperdícios.

Ficou pendente, porém, o julgamento do mérito das ações que questionam a legalidade dessas emendas, que dispõem neste ano de R$ 16,5 bilhões para obras e outras benesses em redutos eleitorais de deputados e senadores.

Poesia | Graziela Melo - Ato de pensar

Pensar,
pensar
pensar...

nas trevas
na luz,
no ar...

pensar
em andar
na terra
ou em voar!!!

Pensar
na amargura
ou na doçura
que a gente
não cansa
de procurar!

Pensar
na loucura,
nos tempos
terríveis
da ditadura...

Pensar
na ternura que guardo
na alma

sempre
disposta
a entregar...

entregar
ao mundo,
à vida,
à terra,
ao mar!!!

E pensar,
pensar,
pensar!!!!

idealizar,
filosofar...

brincar,
amar,
querer,

até a hora
de acabar

o carinho,
o afago...

é o momento
amargo

de terminar

o ser,
o ter
e o haver...

é a hora de morrer!!!

Música | Moacyr Luz com Chico Alves e Samba do Trabalhador - Sonho Estranho