sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Eliane Cantanhêde: Toffoli cá, Haddad lá

- O Estado de S.Paulo

Campanha ganha novo ingrediente: o movimento para soltar Lula em 2019

Nenhum candidato diz isso claramente, mas a posse do ministro Antonio Dias Toffoli na presidência do Supremo Tribunal Federal reforça um discurso crescente na campanha eleitoral: o de que a eleição do petista Fernando Haddad seria a porta aberta para a volta ao poder de Luiz Inácio Lula da Silva.

Os dois movimentos, Toffoli no STF e o crescimento de Haddad nas pesquisas (8% pelo Ibope), convergem na mesma direção: a desconfiança de que Lula será solto de alguma forma em 2019.

A intenção de Toffoli é pôr em pauta no plenário, logo no início do ano, a prisão após condenação em segunda instância. A antecessora Cármen Lúcia encerrou seu mandato cumprindo a promessa de não fazê-lo. Toffoli o fará. Como a última decisão sobre a questão foi por um único voto, não é impossível mudar.

E Haddad presidente seria não apenas Lula dando as cartas, como a possibilidade real de soltar Lula por indulto. Aliás, ele ou Ciro Gomes (PDT), que já admitiu publicamente a hipótese durante a campanha.

Há, porém, outros aspectos a serem considerados nos dois casos. Um deles é que, não raro, as pessoas se superam ao assumir imensos desafios e prezam, antes de seus compromissos políticos ou partidários, o seu próprio nome e a sua imagem para a história.

Toffoli, 50 anos, é o mais novo presidente da história do Supremo. Sua nomeação por Lula como ministro da Corte causou surpresa, perplexidade e crítica, não só pela idade, mas porque ele fora reprovado em duas provas para juiz, não era um nome brilhante no meio jurídico e tinha como credenciais ter sido advogado do PT, assessor da Casa Civil de José Dirceu e advogado-geral da União de Lula.

Toffoli, porém, de bobo não tem nada. Ao assumir a cadeira, informou-se, aproximou-se dos colegas, ganhou passe livre no gabinete de Gilmar Mendes, nomeado por FHC, identificado com o PSDB e considerado, goste-se ou não dele, um dos mais preparados e técnicos ministros do Supremo.

Foi assim também, na busca de reconhecimento e de negociação com os extremos, que Toffoli saiu do seu gabinete no STF, cruzou o Eixo Monumental e foi até o Quartel General do Exército conversar com o comandante, general Eduardo Villas Bôas.

Saiu dali com o nome do respeitado general Fernando de Azevedo e Silva para sua assessoria especial na presidência.

Gesto inteligente, sobretudo num momento em que o comandante do Exército alerta para a legitimidade do próximo presidente da República, o candidato líder nas pesquisas é um capitão reformado e seu vice é um general de quatro-estrelas que acaba de deixar a ativa. Sem maldade, apenas como constatação, Toffoli atraiu o “inimigo” para bem perto dele. E tem um canal direto com as Forças Armadas.

Quanto a Haddad: ele assumiu simultaneamente a candidatura pelo PT e uma vaga no “segundo pelotão”, aquele que disputa chegar ao segundo turno contra Jair Bolsonaro (PSL). E, assim, passa a ser alvo natural de todos os demais concorrentes, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Marina Silva.

A diferença é que Ciro disputa o espaço de esquerda diretamente com Haddad e não pode bater em Lula, para não afugentar votos principalmente do Nordeste, onde já lidera com 18%. Marina bate na polaridade PT x PSDB e Alckmin não tem restrições, está livre para bater. No seu discurso, Bolsonaro é “passaporte para a volta do PT” e Haddad, para a volta de Lula.

Logo, os três procuram uma brecha ao centro para furar o embate Bolsonaro-Haddad, que caracteriza a chegada da direita radical ou a volta do PT, Lula e Dilma. Em suma, Ciro, Alckmin e Marina são os candidatos do mesmo partido, o “voto útil”.

Merval Pereira: A busca de voto

- O Globo

Bolsonaro é o que tem mais dificuldade para crescer, distante dos indecisos ou que dizem que votarão branco ou nulo

Com o voto útil ficando mais decisivo na reta final da eleição, um estudo interessante do banco Itau sobre os eleitores que estão indecisos ou dispostos a votar nulo ou em branco pode dar uma contribuição para o entendimento do que poderá ser o quadro futuro.

Esses não-votos já estiveram em um índice recorde de 41% no começo de Junho na pesquisa Ibope, e caíram para 26% na última pesquisa de 11 de setembro. Nas eleições de 2014, diz o estudo, seguindo um padrão histórico de 1994 a 2014, chegando dois dias antes da eleição em torno de 12%.

Os analistas do banco fizeram um cruzamento entre o perfil dos eleitores de um candidato e o do eleitorado que está ainda hoje disposto a não dar seu voto para ninguém, na suposição, baseada no histórico, de que esse grupo acabará migrando para um deles.

Interessante é que o PT anunciava o índice recorde de não-votos como sinal de que o eleitorado estava protestando pela ausência de Lula na disputa presidencial, preso em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro.

Agora, vão em busca desse mesmo eleitorado, imaginando que ele é majoritariamente petista. Mas a análise feita pelo banco mostra que, ao contrário, os candidatos que mais combinam com esses eleitores são Marina Silva, da Rede, e Geraldo Alckmin do PSDB, dois dos quatro que disputam a ida ao segundo turno, sendo os outros Ciro Gomes, do PDT e o próprio Haddad do PT.

Esse cruzamento confirma a aposta de Alckmin de que a eleição será decidida na última semana, quem sabe nos dois últimos dias, pelo voto útil.

Também Marina joga suas fichas no convencimento do eleitorado de que não é possível manter a polarização entre PT e PSDB.

Os analistas do banco - e os bancos estão mais nervosos que o habitual com a possibilidade de o segundo turno ser vencido pela esquerda - consideram que os candidatos que tiverem perfis mais próximos desse eleitorado disposto hoje ao não-voto terão mais chances de captar mais apoio desse grupo, na medida em que a campanha avance.

Míriam Leitão: O país no meio do nevoeiro

- O Globo

Todos os grupos políticos nesta campanha enfrentam algum tipo de problema. Brasil navega no nevoeiro da imprevisibilidade eleitoral

Aumentou muito a imprevisibilidade da campanha. O Brasil navega no nevoeiro. Não é sem razão que os mercados estão voláteis. Todos os grupos políticos enfrentam algum tipo de incerteza ou problema. No caso do líder das pesquisas, Jair Bolsonaro, a campanha está em crise pela incapacidade de decidir o que fazer nestas três últimas semanas. O PT está embalado pela esperança da transferência de votos, mas se o crescimento não for rápido, vão se aprofundar as divisões internas.

Sobre a campanha de Alckmin recai sempre a mesma pergunta: “Por que o candidato não decola?” Ele disse com bom humor ontem, na sabatina deste jornal, que queria ser jornalista, cobrir uma campanha, e que todos nós fôssemos candidatos para ele poder repetir essa pergunta. Sua resposta é que nesta eleição nada está decidido ainda e ninguém está garantido no segundo turno. Além de não decolar, Alckmin enfrenta a pressão das últimas investigações em torno de políticos do próprio PSDB.

Marina Silva, da Rede, enfrenta o temor da dispersão de aliados, colaboradores, apoiadores e, principalmente, eleitores com a sua queda nas pesquisas. As intenções de voto podem migrar para outros que pareçam mais viáveis, por isso qualquer erro pode ser fatal.

Ciro Gomes, do PDT, tem que lutar contra a possibilidade alta de Haddad convencer os eleitores de que é a alternativa mais segura contra Bolsonaro, além de atrair os que ficarem em dúvida sobre o apoio a Marina. Precisa ser o antiPT, mas com discurso de esquerda, e ser o antiBolsonaro, num momento delicado de saúde do concorrente.

Hélio Schwartsman: As quimeras do PT

- Folha de S. Paulo

História que Haddad e o partido estão contando nesta campanha merece reparos

“Por que a verdade não seria mais estranha do que a ficção? A ficção, afinal, precisa fazer sentido.” O chiste acima, atribuído ao escritor norte-americano Mark Twain, faz todo o sentido. Quem cria uma história precisa curvar-se às exigências da estrutura narrativa e da verossimilhança; já quem se limita a relatar fatos corre maior risco de parecer caótico e contraditório.

Gosto de Fernando Haddad. Considero-o um dos melhores quadros do PT. Mas a história que ele e o partido estão contando nesta campanha é quimérica demais para passar sem reparos.

Na narrativa petista, o país ia bem sob as administrações da legenda. Havia forte crescimento com distribuição de renda. As elites, porém, não podiam admitir que pobres enriquecessem e, por isso, decidiram desferir um golpe para tirar Dilma Rousseff do poder. Ao fazê-lo, destruíram a economia, nos lançando numa das piores recessões da história.

E, para assegurar que o PT não voltaria, essas mesmas elites deram um jeito de montar uma farsa judicial para colocar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cadeia.

Eleger Haddad seria a única forma de resistir a esse ataque à democracia.

Simples demais para ser verdade. Entre os muitos furos na história, destaco os dois que me parecem mais graves. Não há alusão ao fato de que foram erros, alguns deles grosseiros, na política econômica de Dilma que precipitaram a crise.

Também não se menciona que o PT, ao lado de outros partidos, se envolveu em enormes esquemas de corrupção e que Lula foi sentenciado no curso de um processo regular, que correu num ambiente democrático. Mesmo que existam dúvidas sobre a suficiência das provas que o condenaram, não há como contestar que ele se meteu numa relação para lá de promíscua com empreiteiros, o que já basta para comprometê-lo no campo ético.

Sempre que a história contada por um candidato for muito redondinha, desconfie.

Bruno Boghossian: A democracia de Mourão

- Folha de S. Paulo

Ao propor Constituição sem Constituinte, militar despreza princípio democrático

Parece que o general Hamilton Mourão não é muito fã da democracia. Dias depois de afirmar que as Forças Armadas deveriam intervir no país em casos extremos, o candidato a vice de Jair Bolsonaro agora sugere atropelar as regras do jogo para mudar a Constituição.

“Fazemos um conselho de notáveis e, depois, submetemos a plebiscito. Uma Constituição não precisa ser feita por eleitos pelo povo”, disse o militar da reserva, nesta quinta (13).

A carreira militar proporcionou a Mourão uma formação política, mas ele prefere ignorar alguns princípios básicos. Ele fala como se governantes iluminados pudessem desprezar o poder constituinte para rasgar e refazer as principais normas do país.

Nem Hugo Chávez pegou tantos atalhos. Em 2009, ele submeteu uma reforma da Constituição à Assembleia Nacional, controlada por seus aliados. Depois, fez um referendo para validar as mudanças. Acabou com limites de mandato e abriu caminho para a reeleição irrestrita. Seu grupo está no poder há quase 20 anos.

A ideia de Mourão é mais atrevida porque elimina o crivo de outros poderes. Os políticos estão em baixa, mas ao menos são escolhidos por uma sociedade plural. Os tais “notáveis” de Mourão seriam nomeados por um governo e, portanto, trabalhariam sob encomenda.

Gaudêncio Torquato: Nossa democracia não está morrendo

- Folha de S. Paulo

Ascensão de candidato autoritário faz parte do jogo

As democracias estão morrendo devagar. Líderes eleitos não se comprometem com os valores democráticos, como Donald Trump, o primeiro presidente dos EUA "com inclinações autoritárias" escolhido em cem anos, e pode ocorrer o mesmo no Brasil com eventual vitória do capitão da reserva Jair Bolsonaro, "candidato que tem palavras e comportamentos que não se adequam à democracia". São palavras de Steven Levitsky, em recente entrevista ao jornal O Globo. Ele e Daniel Ziblatt, ambos professores de Harvard, são autores do livro "How Democracies Die" ("Como as Democracias Morrem").

A hipótese corresponde efetivamente ao que se enxerga na moldura democrática internacional ou se trata de um fenômeno cíclico, cuja emergência ocorre ao longo da história das nações? A eleição de figuras polêmicas, de índole conservadora e com propensão autoritária, não faz parte do jogo democrático?

No caso brasileiro, vale lembrar que nossa incipiente democracia, ao longo da história, entremeou ciclos autoritários e democráticos.

A primeira Constituição, a de 1891, abrigava princípios libertários, com direitos individuais preservados até 1930, quando se abriu o ciclo ditatorial de Vargas, cujos desajustes conduziram à centralização autoritária expressa na Constituição de 1937.

José de Souza Martins: Ninguém se lembrará

Eu & Fim de Semana / Valor Econômico

No ABC, subúrbio industrial de São Paulo, lugar de brasileiros de todos os cantos, síntese e expressão do Brasil das diferenças, da prosperidade e das desigualdades e injustiças sociais, ninguém se lembrará daquela tarde de 7 de setembro de 1822. De que, pouco mais de meia hora antes do sagrado momento da inesperada proclamação da Independência do Brasil, o príncipe dom Pedro de Alcântara, herdeiro do trono português, por ali passou. Voltava de Santos. Fora visitar a família do culto cientista José Bonifácio de Andrada e Silva, o verdadeiro articulador e patriarca da independência que se avizinhava e começaria a ser proclamada dali a alguns minutos.

Seria ela definida dentro de algumas horas, já à noite, quando um grupo de jovens andradistas, todos com menos de 28 anos de idade, revelaria ao jovem compositor dom Pedro que seu gesto na colina do Ipiranga, naquela tarde, fora de fato o da decisão pela Independência do Brasil e pela fundação de uma pátria e nação. Tudo muito cauteloso e lento. Sempre fomos um país sem pressa, onde quem tem pressa e ânsia de poder e riqueza nunca chega a lugar nenhum. E, se chega, cai do cavalo.

Ali na região do ABC ninguém se lembrará de que, pela estrada das Lágrimas, um antigo caminho do mar, o príncipe atravessou São Bernardo e o bairro dos Meninos. Cruzou a parte sul de São Caetano em direção à colina do Ipiranga naquela derradeira hora de espera e de esperança. Ali, naquele recanto antigo de Piratininga e da Borda do Campo, antigos tropeiros e caipiras da roça testemunhavam, sem o saber, os minutos que antecediam o nascimento da pátria.

Fernando Abrucio: A eleição mais importante desde o fim da ditadura

Eu & Fim de Semana / Valor Econômico

Desde a volta da democracia, nunca um evento será tão importante quanto a eleição de 2018. Claro que foi traumática a posse de Sarney, após a fatídica morte de Tancredo Neves. Mas não havia como retornar à ditadura, tão desprestigiados que estavam os militares na época. As crises econômicas de 1999 e 2008 foram graves, mas o poder político soube resolvê-las bem. Dois impeachments são episódios mais dramáticos. No primeiro, houve uma reconstrução do sistema político, que se tornou estável e bem-sucedido por 20 anos. A situação atual, para além do impedimento da presidente Dilma, representa o colapso de várias dimensões da vida brasileira. Por isso, o próximo presidente terá uma tarefa hercúlea pela frente.

Vive-se hoje uma soma de múltiplas crises, que gera uma combinação explosiva para o país. Tentar entender cada uma dessas dimensões é uma forma tanto de mostrar o tamanho gigantesco de nosso buraco, como também de compreender quais serão os desafios que terão de ser enfrentados pelo novo presidente.

Começo pela crise econômica, cujo termômetro mais visível está na estagnação econômica e no desemprego de quase 13 milhões de brasileiros. Qualquer mudança nessa seara será gradual. Será preciso reconstruir o Estado, seja no que se refere ao ajuste fiscal, seja no que tange à eficiência (fazer mais com menos) e efetividade (impacto) de sua intervenção. Em outras palavras, o governo terá que reduzir seu déficit e melhorar seu desempenho.

Sem mudar, com alguma rapidez, o cenário fiscal, demonstrando que o governo federal caminhará nos próximos anos para ter maior solvência, será difícil reativar a economia. Claro que é possível ter diferentes tipos de ajuste, mas o número de possibilidades é menor do que gostariam os candidatos. Será uma combinação de cortes de despesas com aumento de receita, mas as opções factíveis de cada lado são diminutas. Algum tipo de reforma previdenciária e venda de ativos estarão na pauta do presidente eleito, quem quer que seja ele. Aumento de tributação de lucros e dividendos e majoração de imposto das pessoas mais ricas (IR e sobre heranças, por exemplo), além da criação de um novo IVA, na linha proposta por Bernard Appy, são caminhos interessantes.

Luiz Carlos Azedo: O estelionato eleitoral

- Correio Braziliense

“Quem vencer as eleições estará contingenciado pela dura realidade fiscal. Se não levá-la em conta, jogará o país numa nova recessão”

Enquanto avança a disputa entre os candidatos a presidente da República, o fosso entre as expectativas criadas junto aos eleitores e as possibilidades efetivas de atendê-las se aprofunda. Surgem soluções mágicas para o desemprego, o endividamento das famílias, a violência e a ineficiência dos serviços públicos na educação e na saúde, mas muito pouco se fala sobre os cinco anos de deficit fiscal e o ajuste a ser feito, necessariamente, por quem ganhar a eleição, inclusive a reforma da Previdência que aumente a idade mínima e unifique as aposentadorias de servidores públicos e demais trabalhadores. Ou seja, vem aí mais um estelionato eleitoral.

O reflexo imediato das incertezas quanto à crise de financiamento do Estado brasileiro é a alta do dólar, que alcançou o maior valor da história do real: ontem, fechou negociado a R$ 4,19. A corrida pela moeda norte-americana é influenciada pelo cenário internacional desfavorável aos países emergentes. A guerra comercial e a alta dos juros protagonizada pelos Estados Unidos fazem a festa para os especuladores. E as promessas mirabolantes dos candidatos para seduzir os eleitores não ajudam a acalmar o mercado. Quem vencer as eleições estará contingenciado pela dura realidade fiscal. Se não levá-la em conta, jogará o país numa espiral de inflação alta e nova recessão. A maior prova disso é a lenta recuperação da atividade econômica no governo Temer, que está associada diretamente ao deficit fiscal. O atual governo conseguiu controlar a inflação e sair da recessão, mas não obteve taxas de crescimento capazes de resolver o problema do desemprego. O deficit fiscal de R$ 159 bilhões previsto para este ano barra o crescimento.

Vejamos, por exemplo, as promessas de campanha do candidato do PT, Fernando Haddad, que anuncia um cenário de bonança. O petista promete retomar o fio da história a partir do governo Lula, que registrou crescimento de 7,5% em 2010. Isso somente foi possível porque a economia estava anabolizada pela superoferta de crédito, pelas isenções fiscais e pelos subsídios das tarifas de energia e combustível. A tentativa de manter essa rota foi chamada de “nova matriz econômica” e levou o país ao colapso no governo Dilma Rousseff. Além disso, as condições favoráveis àquele regime de pleno emprego deixaram de existir: a forte expansão da economia mundial foi interrompida com a crise do mercado financeiro de 2008, o superavit fiscal herdado do governo de Fernando Henrique Cardoso foi canibalizado, e o bônus demográfico, que aumentou a renda média das famílias com a redução do número de dependentes, foi abduzido pela crise da seguridade social.

Haddad anunciou, ontem, a proposta de zerar as dívidas dos consumidores, macaqueando a proposta do candidato do PDT, Ciro Gomes, que prometeu limpar o nome de todos os endividados no SPC. Promete a retomada da “nova matriz econômica” do programa do PT. Ao mesmo tempo, sinaliza para o mercado que pretende convidar para o Ministério da Fazenda o economista Marcos Lisboa, um dos críticos da política de Dilma Rousseff, que fez parte da equipe do ministro Antonio Palocci no começo do governo Lula. Haddad faz campanha como se fosse sósia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, nos bastidores, manda recado para o mercado financeiro de que pretende adotar a tática do violino: segurar o governo com a esquerda para tocar a política econômica com a direita.

Ricardo Noblat: A falta que faz o capitão

- Blog do Noblat | Veja

O que será da campanha de Bolsonaro sem ele

O deputado Jair Bolsonaro (PSL), alvo de um atentado há 12 dias e internado em um hospital de São Paulo, tem um problema. Um baita de um problema.

Para ser preciso, Bolsonaro, que segundo os médicos está proibido de falar, não sabe que tem um problema. Seus companheiros de aventuras é que sabem e têm.

Como disputar o primeiro turno da eleição com um candidato que talvez não se recupere até lá por mais que seus filhos digam que ele é tão forte quanto “um cavalo”?

E se a saída de cena de Bolsonaro se estender por parte do segundo turno, quer ele o dispute como parece certo, ou caso fique de fora?

Bolsonaro é ele mesmo e suas circunstâncias. Deu voz a um Brasil conservador, repleto de preconceitos e em parte saudoso do regime da lei e da ordem.

Como Donald Trump, nos Estados Unidos, jamais imaginou que poderia chegar lá, nem se preparou para tal. Agora, sequer pode refletir a respeito.

O que se apresenta como o estado maior da campanha de Bolsonaro pode ser um estado, mas de baixa estatura e formado à base do improviso.

O vice, um general que admite o autogolpe e que defende uma nova Constituição escrita a poucas mãos, não foi a primeira escolha de Bolsonaro, nem a segunda.

O presidente do partido ao qual o candidato se filiou é um evangélico ensandecido, capaz de disparar os mais chocantes absurdos sem franzir o cenho.

Os filhos… Três dependem do pai para se eleger. O quarto se prepara para entrar na política surfando na popularidade do pai. São toscos como Bolsonaro.

Sobra o economista Paulo Guedes, a quem Bolsonaro delegaria a condução do governo uma vez eleito. Guedes considera Bolsonaro um cara domesticável, ou a domesticar. Veja só…

Enquanto permanecer sem voz, entre a vida e a morte, quem comandará uma tropa dessas? Quem arbitrará as divergências? Quem falará para a turba inquieta e sem líder no momento?

O atentado serviu para dar coesão aos eleitores do capitão que baixou ao hospital para se curar de ferimentos. Mas eles não são suficientes para Bolsonaro se eleger.

Quem negociará apoios a Bolsonaro em um eventual segundo turno? Quem firmará compromissos em seu nome? Como os eleitores reagirão à sua ausência?

Dora Kramer: A sangue quente

- Revista Veja

Cada um numa ponta, Bolsonaro e Haddad correm contra o tempo

Senhor da razão nesta eleição que nada tem de racional, o tempo assume daqui em diante papel crucial para Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Considerando o fim do horário eleitoral no rádio e na televisão em 4 de outubro, ambos contam com não mais de vinte dias para dar conta da tarefa que poderá lhes garantir, ou não, assento no segundo turno.

Representantes de extremidades (não necessariamente opostas no tocante ao objetivo), cada qual corre para um lado: Bolsonaro para derrubar a rejeição e Haddad para elevar a aprovação de que dispõe junto ao eleitorado. Embora voe para todos os demais candidatos embolados no quesito intenção de voto, para o deputado e para o ex-prefeito o tempo ruge forte.

Enquanto aos adversários bastam alguns pontos porcentuais nas pesquisas a fim de que não percam a condição de competitivos, nossos dois personagens travam uma batalha muito mais complicada. Inclusive porque a eles não é suficiente passar para a etapa final. Qualquer deles (ou, por hipótese, ambos) que chegar lá terá de romper o isolamento erguido em relação aos outros oponentes e negociar alianças. Diálogo de difícil construção, uma vez que suas candidaturas falam o idioma das camadas mais radicalizadas da sociedade.

Antes disso, porém, vão precisar quebrar umas pedras bem duras para remover obstáculos. O de Bolsonaro, a rejeição de quase o dobro da aceitação, também duas vezes superior à da maioria dos oponentes. Ele não está em primeiro lugar por representar a tão almejada renovação. Está no topo pelo anseio de que o autoritarismo seja supostamente o garantidor da ordem, do progresso e do bem-estar.

Polarização de extremos será rejeitada pelo eleitor, diz sociólogo

O professor José de Souza Martins acha que candidatos indicam que “o mesmo de sempre prevalecerá”, mas o eleitor rejeitará polarização entre extremistas

José Nêumanne | O Estado de S. Paulo

“A enorme competência teatral de Lula acobertou a incompetência política do partido para se sobrepor a interesses que contrariavam sua ideologia e seus compromissos com as bases populares”, disse o sociólogo José de Souza Martins, protagonista da série Nêumanne Entrevista da semana. Para ele, “o PT se empenhou em dividir o Brasil até o ponto extremo de dividir famílias, destruir amizades, inviabilizar harmonias, até mesmo distanciar pais e filhos. No Brasil do PT, hoje, só existe lugar para quem subscreve tanto a ideologia quanto os atos do PT e do petismo”. Por outro lado, o ex-docente da USP que lecionou em Cambridge, Universidade da Flórida e Lisboa, constatou que “não houve um gesto do governo Temer que de fato se orientasse para a prática da justiça social, a começar do enquadramento, no mesmo rigor que vitimou quem trabalha, dos privilegiados dos três Poderes”. E previu que, com a rejeição aos extremistas nas urnas, haverá “uma reproposição do centro-esquerda como eixo do processo político brasileiro”.

José de Souza Martins é doutor em Sociologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, de que foi docente e professor titular. Foi professor visitante da Universidade da Flórida (EUA) e da Universidade de Lisboa. Em 1992 foi eleito professor da Cátedra Simón Bolívar da Universidade de Cambridge (Inglaterra) para o ano acadêmico de 1993-1994 e fellow do Trinity Hall. Membro da Junta de Curadores do Fundo Voluntário da ONU contra as Formas Contemporâneas de Escravidão (Genebra, 1996-2007). Coordenador pro bono da Comissão Especial da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, em 2002, que elaborou o Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo. Membro da Academia Paulista de Letras. Entre outros livros, é autor de A Política do Brasil Lúmpen e Místico (Contexto) e de Do PT das Lutas Sociais ao PT do Poder (Contexto). É colaborador semanal do suplemento Eu & Fim de Semana, do jornal Valor Econômico.

Nêumanne entrevista José de Souza Martins

Nêumanne – No começo do século 21, durante o primeiro governo Lula, o Brasil vivia um tempo de bonança e paz, com pleno emprego, políticas sociais a todo vapor, reservas internacionais bombando e inflação sob controle. Tudo parecia ir às mil maravilhas. Mas, no fundo do cenário, o ovo da serpente – um escândalo de corrupção inédito na História, mais tarde revelado nos casos mensalão e petrolão – ameaçava essa calmaria. Até que ponto a rapina generalizada foi responsável pela crise ética, financeira, econômica, política e social que reverteu tudo do melhor para o pior dos mundos?

José de Souza Martins – O “melhor dos mundos” estava sendo minado pela crise econômica internacional. Não obstante, o governo Lula beneficiou-se do legado do governo de FHC. Não concretizou grandes avanços sociais nem protagonizou reformas sociais e políticas inovadoras. Conseguiu manter sob tênue controle as adversidades econômicas da população mais pobre. A superficialidade de suas medidas revelou-se no súbito declínio das condições de vida dos que teriam sido, e não foram, elevados à condição de uma nova classe média. Além disso, a corrupção que se seguiu mostrou que esse governo só conseguiu sobreviver consorciando-se com o que havia de pior na política brasileira, na da troca de favores. O governo Lula, no entanto, conseguiu evitar que chegassem à superfície os graves problemas sociais que se precipitaram no governo Dilma e no governo Temer.

N – Em 2013, a insatisfação da grande maioria da população levou o povo às ruas num movimento de revolta popular que, pelo menos à época, parecia ser inédito na História do Brasil. No entanto, nada de que o povo se queixou nas ruas foi modificado em profundidade e, no fim, o poste escolhido por Lula e pelo PMDB de Temer, Dilma Rousseff, ganhou a eleição mais fraudada da História e que ainda receberia o aval da Justiça Eleitoral. Por que aconteceu isso tudo dessa forma, em sua opinião, professor?

J – Vejo a situação daquele momento de um modo diferente. A grande maioria da população não foi à rua. Aquela parte que foi à rua o foi dividida e polarizada. A única diferença em relação a momentos anteriores da história do petismo foi a de que cresceu significativamente o número de brasileiros dispostos a manifestar descontentamento com o governo e com o petismo. A população começou a distinguir o petismo de um lado e Lula de outro.

Embora Temer tivesse sido eleito na mesma chapa de Dilma, ao chegar ao poder não foi fiel ao programa subscrito pelos dois em nome do acordo político do PT com o PMDB. Promoveu uma ruptura do acordo. A população que foi à rua contra Dilma e o PT não o foi para se manifestar a favor de Temer e muito menos de uma ruptura com o PT por meio de Temer. Neste ano, os dados indicam uma rejeição quase absoluta de Temer, ao mesmo tempo que indicam uma opção eleitoral tão acentuada por Lula que não há como não entender que as manifestações de 2013 foram contra o governo Dilma, contra o fato de ele ter abandonado itens referenciais das lutas subscritos por seu partido.

As manifestações de rua foram muito mais para contestar a incompetência política de Dilma, que, por sua vez, fez acordos políticos que os apoiadores do partido nunca aceitariam, como o apoio ao agronegócio, a interrupção da reforma agrária e o abandono da política indigenista. O crescimento do desemprego e o agravamento dos problemas sociais solaparam bases importantes do apoio ao petismo.

Alckmin ataca ‘vários tons de vermelho’ de seus adversários

Na sabatina da série organizada por O GLOBO, Valor Econômico e revista Época, o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) disse ser a melhor alternativa “aos vários tons de vermelho”, referindo-se aos adversários que se valem da figura de Lula para buscar votos.

Encarnando o antipetismo

Alckmin ataca ‘vários tons de vermelho’ de adversários

Jeferson Ribeiro, Fernanda Krakovics e Bernardo Mello | O Globo

‘Votar em Bolsonaro é dar passaporte ao PT’

Numa tentativa de recuperar terreno entre os eleitores antipetistas, o candidato tucano Geraldo Alckmin mirou nos adversários que se associam ao nome do ex-presidente Lula. E afirmou que o apoio a Jair Bolsonaro (PSL) acaba por fortalecer a candidatura do PT. Por isso, diz que é necessário evitar os extremos na disputa. O ex-governador de São Paulo indica que o ex-capitão do Exército seria um “aventureiro”. E diz que o país não pode ter alguém com perfil “caricato” na Presidência.

—Sou contra esses radicalismos e populismos de esquerda e de direita. Tem de um lado os vários tons de vermelho, o (Fernando) Haddad, a Marina (Silva), o Ciro (Gomes), o (Guilherme) Boulos, e, do outro lado, tem uma coisa meio caricata. E vou levar minha mensagem de que temos que trilhar outro caminho. No fundo, você tem muita gente votando no Bolsonaro porque é contra o PT, e acaba dando passaporte para a volta do PT. O que eu puder fazer para impedir isso, é meu dever fazê-lo. A prioridade do PT não é o Brasil, é o Lula. Lula, Lula, Lula. Essa é a prioridade do PT — disse o candidato, que também incluiu o emedebista Henrique Meirelles, que presidiu o Banco Central durante o governo petista, como outro adversário que tenta se vincular a imagem do ex-presidente.

Apesar das críticas, o tucano voltou a prestar solidariedade à família de Bolsonaro, após o ataque sofrido na semana passada. Porém, ressaltou que não se pode interditar o debate eleitoral em função do atentado, considerando que o país passa por situação “gravíssima”. O candidato ainda usou Bolsonaro como exemplo da necessidade de mudar o sistema eleitoral. Ao defender a implementação do voto distrital ou distrital misto , ele opinou que o candidato do PSL representa um “corporativismo” provocado pelo sistema proporcional.

— O que é o Bolsonaro? Corporativismo puro. Sete mandatos defendendo carreira, defendendo corporação. Vota contra a quebra do monopólio do petróleo e das telecomunicações, contra o Plano Real, contra o cadastro positivo. Tudo corporativismo.

Disputa está aberta e será definida nos últimos dias
Alckmin insistiu que está bem posicionado nas pesquisas, considerando o momento da disputa e as mudanças recentes no quadro eleitoral. Elencou a formalização de Haddad como candidato do PT e o atentado sofrido por Bolsonaro como as principais novidades. Ele acredita que será beneficiado pelo movimento de voto útil na reta final da disputa, quando os eleitores abandonam os candidatos menos competitivos.

—Primeiro, acho que ninguém está garantido no segundo turno. A eleição está totalmente aberta. As últimas eleições já foram assim, com decisão nos últimos sete dias. E 9% (nas pesquisas) até no dia (do voto). Essa é uma eleição que teve o episódio triste do Bolsonaro e na qual o PT só definiu o candidato há dois dias. É completamente atípica. A falta da mudança politica levou a essa fragmentação (de candidaturas). Acho que vai ter voto útil à medida que vai avançando a campanha.

"O PSDB não tem nada a ver com Temer"

Por Cristian Klein e Rodrigo Carro | Valor Econômico

RIO - O presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) está num embolado segundo lugar - em empate técnico com Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Fernando Haddad (PT) - mas desferiu suas críticas mais duras ao presidente da República Michel Temer, ao participar ontem da sabatina "O Globo", Valor e "Época". "Primeiro, não tem voto, já é uma dificuldade. Segundo, é um governo muito ruim, totalmente distanciado do povo. O governo moderno tem que dialogar, prestar contas", disse o tucano, que procurou afastar sua imagem da administração do emedebista.

Alckmin afirmou que os cargos ainda ocupados pelo PSDB no governo Temer - como o do ministro das Relações Exteriores Aloysio Nunes - são em "caráter pessoal". "O PSDB não tem nada a ver com esse governo", disse. Os tucanos, no entanto, chegaram a ocupar quatro pastas com status de ministério, como Justiça, Cidades, Governo e Direitos Humanos.

O ex-governador de São Paulo negou ter indicado seu então secretário de Segurança Pública e hoje ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, para o ministério da Justiça a pedido de Temer. "Imagina, se dependesse de mim o Alexandre jamais teria saído do governo do Estado. Agora, não posso proibir. Ele queria. Se dependesse de mim teria ficado", afirmou.

O tucano disse que foi "totalmente contra" a entrada do PSDB no governo e que foi o PT quem escolheu Temer como vice, que ascendeu depois do impeachment de Dilma Rousseff. Questionado sobre o movimento que deu sustentação ao impedimento da petista, encabeçado por MDB e PSDB, Alckmin afirmou que foi "o último a [apoiar] essa questão de impeachment".

A parceria do PSDB com o governo extremamente impopular de Michel Temer se tornou tão tóxica às pretensões de Alckmin ao Planalto que a estratégia predominante do tucano desde o ano passado é se distanciar ao máximo do presidente da República. Em revide, na semana passada, Temer o atacou num vídeo divulgado em redes sociais, afirmando que o tucano propaga "falsidades" ao falar do fracasso de seu governo e que os partidos que o compõem são praticamente os mesmos da coligação eleitoral do PSDB. Alckmin considerou o vídeo "fora do tom".

O presidenciável também negou participação em denúncias de delatores da Operação Lava-Jato e se disse surpreendido pelos escândalos desta semana que atingiram colegas do PSDB, como o ex-governador do Paraná Beto Richa, que foi preso, e o governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja, alvo de busca e apreensão em operação da Polícia Federal. "Que se investigue, se puna os culpados e se absolva os inocentes, eles devem se explicar", afirmou.

Sobre os dois ex-presidentes do PSDB Eduardo Azeredo e Aécio Neves, o primeiro condenado e o segundo investigado por corrupção, Alckmin se justificou afirmando que "todos os partidos estão fragilizados, inclusive o meu". Questionado se partido ajuda mais do que atrapalha, minimizou a importância das agremiações políticas: "Ninguém vai votar em partido político, vai votar nas pessoas". No entanto, fez questão de lembrar que sempre foi antipetista, ao contrário dos "50 tons de PT" na corrida eleitoral, quando citou Haddad, Ciro, Marina, Guilherme Boulos (Psol) e até Henrique Meirelles (MDB), ex-presidente do Banco Central no governo Lula.

Alckmin afirmou que foi o "único contra" a prorrogação do mandato de Aécio na presidência do PSDB. "Ele teve, salvo engano, 38 votos a favor na Executiva e dois votos contra, os dois a meu pedido", contou. Ao ser indagado por que não mobilizou o partido para afastar Aécio depois das denúncias da Lava-Jato contra o senador, Alckmin alegou, contudo, que nunca teve influência na direção nacional - ainda que seja um dos maiores caciques do PSDB: "Nunca tive [liderança], nunca participei de vida partidária. Passei oito anos me dedicando à política de São Paulo".

O presidenciável classificou de "negócio esquisito" a ação de improbidade administrativa ajuizada contra ele pelo Ministério Público paulista, na semana passada. De acordo com a ação, o ex-governador teria recebido pelo menos R$ 7,8 milhões da Odebrecht para financiar sua campanha à reeleição, há quatro anos, por meio de caixa dois. Alckmin afirmou que o caso "já foi decidido lá pelo Superior Tribunal de Justiça e pelo Ministério Público Federal". "Tanto é que o promotor que entrou há 30 dias da eleição com uma medida, ele já está no CNMP", disse, numa referência ao Conselho Nacional do Ministério Público, que está investigando promotores que acusaram políticos, entre eles Haddad, em meio à campanha eleitoral.

Seguem os principais temas tratados pelo presidenciável na sabatina:

‘Villas Bôas não falou nenhum impropério’, diz Alckmin

Presidenciável tucano diz que declaração de general Villas Bôas sobre ‘legitimidade questionada’ de presidente eleito não foi ‘impropério’

Mateus Lara Constança Rezende Roberta Pennafort / O Estado de S. Paulo

RIO - Geraldo Alckmin (PSDB) defendeu ontem o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas. O militar disse, em entrevista ao Estado, que a legitimidade do novo governo “pode até ser questionada”. “Ele não disse nada fora do comum, nenhum impropério. É um democrata”, afirmou Alckmin. O tucano disse ainda que a “eleição está aberta” e que nem Bolsonaro tem lugar garantido no segundo turno.

O candidato do PSDB à Presidência da República, o ex-governador Geraldo Alckmin, saiu em defesa do general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, que, no domingo, disse ao Estado que o próximo presidente eleito pode até ter sua “legitimidade questionada”em função da instabilidade do momento político do País. Para o tucano, o militar, de quem disse ser um admirador, “não falou nenhum impropério”.

“Sou admirador do general Villas Bôas. Eu não vi que ele tenha dito nada fora do comum, ele não falou nenhum impropério. Ele é um democrata, é correto”, disse o tucano em sabatina no jornal O Globo, no Rio. Na véspera, ao comentar as mesmas declarações do coronel, Ciro Gomes (PDT) disse que se ele fosse presidente, Villas Bôas “estaria demitido” e talvez até “pegaria uma cana” pelos comentários.

Na sabatina, Alckmin afirmou que nenhum candidato tem vaga garantida no segundo turno das eleições, e que o pleito de 2018 é “atípico”. “A eleição está totalmente aberta. Não sou melhor do que ninguém, as propostas não são iguais. Mas também eu tenho um diferencial, nós fizemos”.

“Vou manter o salário mínimo como piso para aposentados, pensionistas”, garante Alckmin

Reportagem Shirley Loiola

Em sabatina promovida nesta quinta-feira (13) pelos jornais O GLOBO, Valor Econômico e pela revista Época, Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à Presidência da República, garantiu que vai manter a vinculação do salário mínimo ao piso das aposentadorias do INSS. Sua meta é reajustar o salário mínimo acima da inflação, caso eleito.

“Vou manter o salário mínimo como piso para aposentados, pensionistas, e o salário vai crescer mais que a inflação. Vai ter um ganho real. Governar é escolher. Brasil é um dos países mais injustos do mundo. Não é só desigual, mas profundamente injusto.”, disse o tucano.

O presidenciável voltou a defender a reforma política para promover mudanças profundas no atual sistema. Uma de suas principais defesas é que o atual sistema de voto proporcional passe para distrital misto, quando os eleitores têm dois votos: um para candidatos no distrito e outro para as legendas (partidos).

“Quero ser o presidente da mudança, para mudar o Brasil. Se não for para isso, não vale a pena. Primeira mudança é a política. Não é possível ter 35 partidos. Olha como piorou. Fui deputado estadual na época do Franco Montoro. Você governava com 1 partido. Era um ministério. Fui vereador em 1972, não ganhávamos um centavo e ninguém faltava. O sistema atual leva ao corporativismo.”, afirmou Alckmin.

Durante a sabatina, o ex-governador de São Paulo criticou os partidos de esquerda. E afirmou que quem vota no Bolsonaro, não sabe que está \’votando\’ no PT.

“Muita gente que está votando no Bolsonaro não sabe que está elegendo o PT. Muita gente está votando no Bolsonaro e dando passaporte para a volta do PT e o que eu puder fazer para evitar isso vou fazer.”, alertou.

Em coletiva de imprensa, após a sabatina, Geraldo Alckmin voltou a criticar a postura petista dizendo que “o tempo todo o PT fez uma enganação porque sabia que o Lula não podia ser candidato”.

“Na realidade, a prioridade do PT não é o Brasil, é o Lula. Está claro que o Lula está usando a política para escapar da justiça. É querer transformar decisão judicial em debate político.”, finalizou.

Em visita ao Inca, Alckmin promete reabrir leitos fechados do SUS

Candidato também visitou o Saara e disse que pretende criar 'grande programa de microcrédito'

Waleska Borges – O Globo

RIO — O candidato à Presidência da República pelo PSDB, GeraldoAlckmin, visitou na tarde desta quinta-feira a sede do Instituto Nacional de Câncer (Inca), no Rio. Durante a visita, ele disse que um dos seus compromissos na área da saúde será reabrir leitos fechados do SUS e retomar obras paralisadas, como a da expansão do Inca. Alckmin também esteve no Saara, centro comercial popular, no Centro da cidade. Segundo o candidato, caso eleito, ele pretende criar um "grande programa de microcrédito".

Logo após a vista ao Inca, Alckmin lembrou que a instituição tem 80 anos de existência, além de ter excelência no diagnóstico, prevenção, tratamento e pesquisa das doenças oncológicas. Ele ressaltou também que, atualmente, em 10% dos municípios brasileiros, a primeira causa de morte já não é mais coração e sim o câncer.

— Tem uma obra ao lado (do Inca) iniciada, 10% do contrato feito mas que não teve prosseguimento. Por isso, eu tenho destacado a importância de recuperamos a economia brasileira, recuperarmos a volta do crescimento. Porque recuperando o crescimento da economia, recuperando o investimento, o governo arrecada mais e a primeira tarefa é terminar o que começou. Fortalecer instituições com a expertise que tem aqui o Instituto Nacional de Câncer e a importância que tem para a população do Rio de Janeiro — avaliou o candidato.

Questionado sobre sua proposta para área, Alckmin disse que a primeira proposta é colocar para funcionar os leitos fechados.

— Nós temos muitos leitos fechados no Brasil, mais de 30 mil que não funcionam e estão ociosos por falta de custeio. Você tem prédios, equipamentos, recursos humanos e precisa ter custeio. A primeira tarefa é reabrir. O Rio de Janeiro, por exemplo, perdeu quase 10 mil leitos do SUS, seja dos próprios governos ou de entidades filantrópicas. A Santa Casa do Rio de Janeiro está funcionando muito precariamente. A segunda tarefa é terminar o que começou — disse apontando a obra paralisada do Inca como um dos exemplos.

Geraldo Alckmin defende investimento em refino de petróleo no Brasil

Reportagem Shirley Loiola

O candidato a presidente da República pelo PSDB, Geraldo Alckmin, defendeu nesta quinta-feira (13), no Espírito Santo, que o Brasil passe a produzir o derivado de petróleo como solução para redução dos valores cobrados dos consumidores. O tucano disse que pretende abrir o mercado para empresas especializadas em refino e poços maduros para tirar mais petróleo e gás. Alckmin argumentou que esta nova política irá gerar mais investimentos, empregos, equipamentos, maior produção e receitas para estados e municípios.

“Como tornar o derivado de petróleo mais barato? É fazer refino no Brasil. Nós estamos mandando petróleo bruto para fora e voltando o derivado. Você perde o frete de ida e de volta, gera emprego lá fora e paga mais caro. Precisa ter mais refinarias e ampliar o refino no Brasil. Isso não se faz porque a Petrobras não tem dinheiro para tudo. Quero trazer duas propostas: refino, nós vamos quebrar o monopólio. Vamos trabalhar muito a indústria do petróleo e gás.”, afirmou.

Aos jornalistas, o tucano criticou a atual política de preços praticada pela Petrobras, com reajustes frequentes e disse que estes deveriam ocorrer “a cada 30 ou 60 dias”.

“Nós defendemos que o reajuste não pode ser diário e sim a cada 30, 60 dias. Você faz uma média e se o barril do petróleo subir muito reduz imposto. É o que se chama de colchão tributário.”, defendeu.

Geraldo Alckmin reafirmou seu compromisso com a segurança pública.

“O Governo Federal tem o dever de liderar esse trabalho. Não é específico do estado é no Brasil inteiro. O Brasil tem 17 mil km de fronteira seca com os grandes produtores de droga, tráfico de arma, contrabando. Vamos implantar tecnologia. Ampliar o sistema de controle de fronteira. Integrar inteligência dos estados: Polícia Federal, Forças Armadas, Abin, Polícia Rodoviária Federal e ter uma Guarda Nacional permanente.”, garantiu em coletiva durante visita a uma das cidades mais perigosas do Brasil.

Haddad encampa fala do ‘nós contra ele’

Haddad se esquiva de questão sobre Dilma

Candidato do PT a presidente evita comentar comparação feita por Ciro

Ricardo Galhardo, Matheus Lara | O Estado de S. Paulo

Luiz Fernando Haddad Lula da Silva. É assim que o candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, foi anunciado duas vezes, ontem, durante uma caminhada pelo calçadão comercial de Carapicuíba, na região metropolitana de São Paulo. “Tem milhões de Lulas no Brasil e o Lula escolheu um para representar o seu projeto”, disse o locutor do evento.

Durante as atividades de campanha em Carapicuíba e Osasco – cidades que já foram administradas pelo PT e formavam o chamado “cinturão vermelho” da Grande São Paulo –, o ex-prefeito fez questão de em todas suas falas dar protagonismo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Lava Jato, de quem espera herdar os votos.

“Nós temos um plano de governo ao qual demos o nome ‘Plano Lula de Governo’ porque o presidente Lula assinou junto conosco”, disse Haddad, sobre o documento do qual foi o coordenador.

Osasco. Em outro evento de campanha, em Osasco (SP), Haddad incorporou o discurso do “nós contra eles” de Lula. “Eles fizeram de tudo para morrer na praia. E dia 7 (de outubro, quando será realizado o primeiro turno) a data está marcada. Vai ser a morte desse projeto neoliberal que acabou com o Brasil. O Brasil vai voltar a ser do povo”, afirmou o petista.

Sem identificar quem são “eles”, Haddad pediu que a militância do PT não caia em provocações. “Eles vão ficar nervosos e nós não podemos aceitar a provocação. Eles ficam nervosos de um lado e a gente fica cada vez mais calmo do nosso, porque estamos do lado da justiça, da soberania do povo, da soberania nacional. Nós estamos do lado do Brasil”, afirmou.

Pouco depois, Haddad se esquivou ao ser questionado por jornalistas sobre a comparação entre ele e Dilma Rousseff feita por Ciro Gomes (PDT). “Adotamos estratégia até o final da campanha de só falar de propostas. Então, se você tiver uma proposta dele que você queira que eu comente, eu comento. Esse tipo de ataque pessoal nós não vamos responder.”

Internação de Bolsonaro fragiliza sua campanha

Segunda cirurgia tornou a recuperação do candidato do PSL mais demorada; receio é de que longa permanência no hospital consolide imagem de debilidade

Constança Rezende, Fabiana Cambricoli, Renata Cafardo, Tânia Monteiro e Leonencio Nossa | O Estado de S.Paulo

Uma segunda cirurgia no intestino tornou a recuperação de Jair Bolsonaro mais demorada e deixou em suspense a campanha do candidato do PSL à Presidência nas eleições 2018. A cúpula da campanha bolsonarista está virtualmente paralisada e às cegas, sem a orientação do presidenciável, que lidera as pesquisas de intenção de voto. O maior receio é de que uma internação mais longa consolide uma imagem de fragilidade do deputado.

A operação de emergência, realizada na noite de quarta-feira, 12, pode impor limitações que se estenderão até mesmo ao período pós-eleitoral. Segundo médicos especialistas ouvidos pelo Estado, se não houver complicações, ele só estaria plenamente recuperado em um prazo de 4 a 6 meses. Isso porque Bolsonaro terá de passar por uma terceira cirurgia.

Aliados próximos do candidato admitem que as decisões finais na campanha quase sempre cabiam ao candidato. Sua internação no Hospital Albert Einstein, na zona sul de São Paulo, contudo, deverá se estender por no mínimo dez dias. Bolsonaro foi esfaqueado no abdome há oito dias durante uma agenda em Juiz de Fora (MG).

Após duas cirurgias, o candidato precisou voltar para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e mal consegue falar. Praticamente só os parentes têm acesso ao presidenciável.

Ao Estado, Antonio Luiz de Vasconcellos Macedo, cirurgião-chefe da equipe médica de Bolsonaro, afirmou que o presidenciável ficará internado por um período de 10 a 15 dias, caso não ocorra nenhuma outra complicação. A estimativa, portanto, foi ampliada em relação à previsão inicial dos especialistas, que, na data do atentado, afirmaram que o tempo médio de internação em casos do tipo é de uma semana a dez dias.

Uma das dificuldades enfrentadas pela campanha é a falta de dinheiro. Ela impossibilita a contratação de pesquisas de opinião pública. Assim, a cúpula da candidatura não sabe qual será o efeito no eleitorado do ataque – e não tem segurança para agir.

Um dos pontos em discussão é a imagem de um Bolsonaro frágil, por causa da internação. Geralmente, o deputado é associado a posições de força e à defesa de bandeiras polêmicas, como a liberação do porte de armas para todos os cidadãos.

Filhos de Bolsonaro dividem agenda
A campanha se ressente da falta de Bolsonaro nas ruas. Ele tinha para estes dias vasta agenda no Nordeste, cancelada. Os filhos do presidenciável dividiram tarefas. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e seu irmão, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), foram para Brasília no início da semana.

Vice de Bolsonaro defende nova Constituição sem Constituinte

Para Mourão, Constituição atual, de 1988, deu início à crise pela qual passa o país

Estelita Hass, Carazzai Rodrigo Vizeu | Folha de S. Paulo

CURITIBA E SÃO PAULO - Candidato a vice de Jair Bolsonaro (PSL), o general Hamilton Mourão (PRTB) defendeu nesta quinta-feira (13) que o país faça uma nova Constituição, mais enxuta e focada em "princípios e valores imutáveis", mas não necessariamente por meio de uma Assembleia Constituinte.

Para ele, o processo ideal envolveria uma comissão de notáveis, que depois submeteria o texto a um plebiscito, para aprovação popular —algo que, atualmente, não se enquadra nas hipóteses previstas em lei.

"Essa é a minha visão, a minha opinião", disse, destacando que essa não é a proposta da candidatura, nem de Bolsonaro. "Uma Constituição não precisa ser feita por eleitos pelo povo."

Atualmente, a única forma de se alterar a Constituição é por meio de uma emenda constitucional, que precisa ser aprovada por três quintos do Congresso. O candidato a vice não deu detalhes de como seria formada a comissão de notáveis, mas a proposta só seria possível, dentro da lei, se o Congresso assim o aprovasse.

Mourão, que deu uma palestra a empresários em Curitiba, defendeu que a ideia não é antidemocrática, e disse que já houve Constituições no Brasil que vigoraram sem terem passado pelo Congresso.

"Não em ditadura; em período democrático. A Constituição de 1946, lembra como ela foi feita", afirmou.

De acordo com o constitucionalista Luiz Guilherme Arcaro Conci, professor da PUC-SP, porém, a Constituição de 1946, a que se referiu o candidato, foi, sim, feita pelo Congresso.

Questionado posteriormente pela Folha, Mourão afirmou que pode ter se confundido ao citar a Constituição de 1946.

Os textos que não passaram por representantes eleitos pela população foram os de 1824, 1937 e 1969, que não coincidem com regimes democráticos no Brasil.

Para Mourão, a atual Constituição, de 1988, deu início à crise pela qual passa o país.

Alckminel vê grandes chances de vitória no 2º turno

Por André Ramalho | Valor Econômico

RIO - O candidato à Presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin, disse que vê como grandes as suas chances de vencer as eleições no segundo turno.

Ele comentou as pesquisas eleitorais recém divulgadas e destacou que a intenção de votos nele já chegou a dois dígitos e com baixa taxa de rejeição.

Alckmin reiterou que a eleição será decidida nas últimas semanas de campanha.

"Não tenho dúvida disso. No segundo turno, com rejeição menor, temos grandes chances", disse a jornalistas após visitar o Instituto Nacional de Câncer (Inca), no Rio.

Questionado sobre o impacto do atentado ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro, sobre as eleições, Alckmin disse que se solidariza com o oponente, mas que o "debate precisa continuar".

O tucano comentou a política de preços da Petrobras. Defendeu a criação de mecanismos tributários para criar um "colchão" que amenize os impactos da oscilação dos preços dos combustíveis e que os reajustes deveriam ser mensais ou a cada 60 dias, mas que o governo não pode voltar a controlar preços.

Alckmin também defendeu a necessidade de atração de investimentos privados para o refino.

O candidato disse que a promessa de zerar o déficit público em dois anos não é uma fantasia. "Não pode passar disso [zerar o déficit]", disse o tucano, citando que, enquanto governador de São Paulo, entregou superávits mesmo em meio às crise econômica.

Sem mordaça: Editorial | Folha de S. Paulo

São pertinentes as dúvidas levantadas quanto a ações abertas contra políticos no período eleitoral

Policiais, procuradores e juízes não estão imunes a preferências ideológicas, a pressões políticas ou à tentação dos holofotes; denúncias e operações que atinjam candidatos a cargos eletivos podem interferir na disputa e suscitar dúvidas quanto à isenção das autoridades.

Por mais de um motivo, o tema se mostra especialmente delicado num país em que o aparato investigativo e judicial assumiu insólito protagonismo a partir dos extraordinários feitos —que não deixaram de inspirar equívocos e abusos— da Operação Lava Jato.

Não são descabidas, nesse contexto, as preocupações que permeiam a iniciativa do corregedor-geral do Conselho Nacional do Ministério Público, Orlando Rochadel, de questionar ações recentes contra Geraldo Alckmin (PSDB) e Fernando Haddad (PT), presidenciáveis, e Beto Richa, tucano que concorre ao Senado pelo Paraná.

Alckmin se tornou alvo de ação de improbidade administrativa em 5 de setembro, sob acusação de aceitar dinheiro da Odebrecht, pelo caixa dois, na campanha vitoriosa ao governo paulista de 2014.

Haddad foi denunciado três vezes neste ano, a última delas no dia 3, por suposto recebimento de propina da UTC para pagamento de dívidas oriundas da disputa de 2012 pela Prefeitura de São Paulo.

No episódio mais dramático, Richa, ex-governador, foi preso em caráter temporário na terça-feira (11), em operação que apura fraudes num programa de obras públicas conduzido entre 2012 e 2014.

O desastre antecipado: Editorial | O Estado de S. Paulo

A bomba de gasolina é hoje parte do cenário político, assim como as mesas, telefones e computadores do mercado financeiro. Quem entra num posto para abastecer pode nem estar pensando nas eleições, mas sua conta será inflada pela incerteza eleitoral. O câmbio afeta os preços dos combustíveis e neste ano o dólar saltou da casa dos R$ 3,20 para a dos R$ 4,10. Tensões internacionais, como a disputa comercial entre Estados Unidos e China, têm pressionado as moedas da maioria dos emergentes. Mas a instabilidade cambial tem pressionado mais fortemente as da Turquia, da Argentina, da África do Sul e do Brasil. Em cada um desses países algo assusta os investidores. No Brasil, a sucessão presidencial é o grande fator de inquietação. O risco de eleição de um candidato sem compromisso com a pauta de ajustes e reformas amplifica os efeitos da alta do petróleo, dos conflitos no comércio internacional e da alta dos juros nos Estados Unidos.

Os candidatos podem conduzir suas campanhas – e muitos conduzem – sem olhar para os mercados. Mas investidores, operadores e analistas dos mercados acompanham cada passo da corrida eleitoral e cada ponto dos planos e promessas.

Qualquer tolice a respeito de como tratar as finanças públicas tem um custo, se o autor da bobagem tiver alguma chance de chegar ao poder. A preocupação pode resultar em crédito mais caro, retirada de moeda estrangeira (com depreciação do real) ou suspensão de algum plano de investimento. Também pode resultar numa combinação desses efeitos.

O voluntarismo e a crise dos estaleiros: Editorial | O Globo

Quando Haddad e Ciro coincidem no intervencionismo, convém lembrar a experiência do pré-sal

A campanha eleitoral transcorre enquanto ainda estão visíveis os efeitos da grande crise econômica de 2015/16, e isso tem uma vantagem didática. Não que não se tentem manipulações. Elas estão sempre presentes na política. Porém, fica mais difícil exercitá-las diante de fatos objetivos ainda na memória das pessoas.

O preposto de Lula nas eleições, o ex-prefeito Fernando Haddad, candidato do PT, acaba de defender a política dos “campeões nacionais” seguida pelo BNDES no governo Dilma, em que bilhões de recursos provenientes de dívida do Tesouro foram mal alocados.

No debate deste tema, é inevitável chamar a atenção para a crise do grupo JBS, envolvido em corrupção, um dos beneficiários dos financiamentos subsidiados distribuídos pelo banco, dentro daquela política. Sem que a agropecuária, setor da empresa, tenha auferido grandes benefícios.

Outro candidato a presidente, do mesmo campo ideológico de Haddad, Ciro Gomes (PDT), na sabatina a que se submeteu na quarta-feira ao GLOBO, ao “Valor Econômico” e à revista “Época”, seguiu a mesma linha da petista, por sua vez inspirada no intervencionismo do governo Geisel, na ditadura militar.

Vendas em queda mostram perda de ímpeto da economia: Editorial | Valor Econômico

Como parece ter acontecido com o resto da economia, o varejo entrou em compasso de espera eleitoral. O comércio varejista perdeu fôlego tanto no acumulado do ano quanto no dos últimos doze meses, e cresceu menos. Tanto o comércio ampliado, que agrega veículos e material de construção, quanto o restrito apresentaram média móvel trimestral negativa - e crescentemente negativa - no volume de vendas. Esse é mais um sinal de que a expectativa para expansão do PIB continuará sendo rebaixada - o mais recente boletim Focus aponta para uma taxa de 1,4%, claramente com viés de baixa.

Embora ainda seja possível que os indicadores tenham sofrido alguma influência residual da greve dos caminhoneiros e mesmo considerando que o comércio em 2017 foi estimulado pela liberação do FGTS, as vendas não vão bem. O ponto de inflexão tanto para o varejo restrito como para o ampliado ocorreu em abril, mês anterior à greve. De lá para cá a média móvel trimestral do varejo restrito foi sempre negativa. Com ajuste sazonal e em relação ao mês anterior, a média móvel além de negativa é descendente. No caso do comércio restrito, sai de -0,2% em junho para -0,8% em julho. No ampliado, vai de -0,4% para -1,1%.

A discriminação dos setores em recuo e os poucos que avançam também não faz prever nenhum desempenho animador à frente. No comércio como um todo há avanço em veículos e motos, enquanto os demais crescem menos que na comparação com junho e alguns, como combustíveis e equipamentos para escritório, informática e comunicação aprofundam a performance negativa.

Ross Douthat: Mudança de regime ou impasse?

- The New York Times, O Estado de S.Paulo

A angústia atual com a “crise da democracia” é, na realidade, apenas ansiedade sobre o fim de um consenso que não existe mais

No domingo, o Democratas Suecos (DS), partido com raízes no fascismo, obteve sua maior votação de todos os tempos, 17,6%. Foi um alívio, porque esperava-se que o DS alcançasse 25%. O resultado é um lembrete do quão longe o populismo chegou, do quanto as margens são importantes na política ocidental e de como o centro se enfraqueceu.

Mas resta o fato de que o desempenho dos populistas foi uma decepção. O DS conseguiu votos para abalar uma elite continental já arrasada e o bastante para confirmar a guinada da Suécia para a direita, mas sua ascensão ainda não é o elemento que vai concretizar uma coalizão governista liderada por populistas.

Em vez disso, a maior história da eleição sueca, como em tantas outras ultimamente, foi a fragmentação e seu desdobramento – o impasse –, com partidos de centro em declínio ou desacreditados enfrentando forças à direita e à esquerda que criam maiorias de oposição, mas não de governança.

Essa é a cena na Alemanha e na França, onde Angela Merkel e Emmanuel Macron estão isolados entre impacientes direitistas e a esquerda. Macron, a grande esperança centrista, tem índices de aprovação piores do que Donald Trump. Esse é o cenário na Grã-Bretanha, onde uma ineficiente primeira-ministra de centro-direita, Theresa May, tenta administrar o populismo da direita, enquanto o populista da esquerda, Jeremy Corbyn, está preso em um combate com um debilitado establishment de centro-esquerda.

De maneira diferente, permitida pelo presidencialismo e um sistema bipartidário, é a cena também nos EUA. Uma insurgência populista de direita pareceu tomar o Partido Republicano sob Trump, mas mostrou-se mal preparada para executar qualquer coisa maior do que o Breitbart News (site de extrema direita). Assim, o governo Trump é administrado, principalmente, de forma ineficaz pelo establishment desacreditado que Trump derrotou.

Enquanto isso, a esquerda está energizada como nunca, enquanto a centro-esquerda parece falida, aturdida e paranoica. Mas a tese de que uma esquerda populista pode ganhar eleições foi confirmada apenas na imaginação de assinantes jacobinos.

O fio comum em todas essas histórias ocidentais é que, se você reunir todos os eleitores que desistiram dos antigos partidos de centro (na Europa) ou do establishment dos antigos partidos (nos EUA), você teria o tipo de maioria na qual os realinhamentos políticos podem ser feitos.

Macron reconhece culpa da França em tortura e morte de comunista na Argélia

O matemático Maurice Audin em imagem dos anos 50; Macron admitiu responsabilidade da França pela tortura e morte do comunista 

Maurice Audin, matemático argelino, foi preso e desapareceu durante a Batalha de Argel, um dos pontos críticos da repressão francesa na ex-colônia; ato simbólico inaugura uma nova etapa na relação da França com seu passado colonial

Andrei Netto | O Estado de S.Paulo

PARIS - Em um gesto inédito e histórico, o presidente da França, Emmanuel Macron, reconheceu nesta quinta-feira, 13, a responsabilidade do Estado francês na tortura e morte do militante comunista Maurice Audin, assassinado nos porões da repressão na Argélia.

O destino do matemático argelino foi selado no dia 11 de junho de 1957, durante a Batalha de Argel, e até aqui a autoria de sua morte e o envolvimento do Estado e das Forças Armadas não haviam sido oficialmente explicados por nenhum governo francês.

O ato simbólico inaugura uma nova etapa na relação da França com seu passado colonial no Norte da África. Macron deve visitar ainda nesta quinta a viúva de Audin, Josette Audin, de 87 anos, que vive na cidade de Bagnolet, nos arredores de Paris.

Antes dele, o ex-presidente socialista François Hollande, que governou entre 2012 e 2017, havia reconhecido apenas que o matemático não havia fugido do cárcere, como explicava a versão oficial das Forças Armadas e do Ministério da Defesa. Seu antecessor no Palácio do Eliseu, Nicolas Sarkozy (Partido Republicanos, direita), não havia respondido às demandas da família por qualquer tipo de reconhecimento.

O reconhecimento de Macron foi confirmada em nota distribuída pelo Palácio do Eliseu nesta quinta. "O presidente da República decidiu que é tempo de a nação cumprir um trabalho de verdade sobre o assunto", justifica o comunicado, que vai além: "Ele reconhece, em nome da República Francesa, que Maurice Audin foi torturado e a seguir executado ou torturado até a morte por militares que o haviam prendido em seu domicílio".

Como o jornalista Vladimir Herzog no Brasil, Audin representa uma espécie de símbolo da repressão violenta do Estado francês durante a guerra de liberação da Argélia, ex-colônia francesa na África. Sua prisão arbitrária, seu desaparecimento, as suspeitas de tortura e de morte, foram elencadas durante 61 anos como um exemplo das ações das Forças Armadas do país em uma de suas páginas mais obscuras.

Em fevereiro de 2017, Macron, então candidato ao Palácio do Eliseu, causou imensa polêmica na França ao afirmar, em visita à Argélia, que "a colonização é um crime contra a humanidade". "Foi uma verdadeira barbárie e faz parte do passado que devemos enfrentar, apresentando nossas desculpas a todos aqueles contra quem cometemos esses gestos", afirmou, ponderando a seguir: "Ao mesmo tempo, não devemos jogar todo o passado fora, que não pode ser lamentado porque há uma frase bonita que vale para a Argélia: "A França instalou os direitos humanos na Argélia, mas simplesmente esqueceu-se de lê-los".

O gesto de contrição em nome do Estado francês é o segundo realizado por um presidente no século 21. O primeiro foi feito por Jacques Chirac (União por um Movimento Popular, UMP, centro-direita), que reconheceu a responsabilidade das autoridades francesas na detenção e deportação de judeus franceses durante a ocupação nazista na 2ª Guerra.

França admite pela primeira vez que torturou rebeldes na Guerra da Argélia

Presidente Macron pede perdão a viúva de matemático assassinado por militares em 1957 e promete abrir arquivos sobre mortes no conflito

- O Globo

PARIS - O presidente Emmanuel Macron reconheceu que a França cometeu atos de tortura sistemática durante a Guerra de Independência da Argélia (1954-1962), anunciou ontem o Palácio do Eliseu. É a primeira vez que o Estado francês faz essa admissão de maneira oficial.
Macron reconheceu que o matemático Maurice Audin, um militante comunista pró independência de 25 anos que desapareceu em 1957, “morreu sob tortura” aplicada por agentes do governo francês. O presidente visitou ontem a viúva de Audin em sua casa, nos arredores de Paris, e anunciou a abertura dos arquivos sobre os milhares de civis e soldados desaparecidos na guerra, tanto franceses quanto argelinos.

A viúva, Josette Audin, de 87 anos, agradeceu a Macron por seu gesto, num encontro emocionado em que também estava presente uma filha do matemático, Michele.

— Sou eu quem deve lhe pedir perdão — devolveu Macron. — Não precisa dizer nada.

Um comunicado presidencial explicou que uma votação parlamentar feita em 1956 deu carta branca ao restabelecimento da ordem na Argélia, abrindo o caminho para o uso da tortura. “Este sistema preparou o terreno para atos terríveis, incluindo a tortura”, diz o texto.

Durante o conflito, as forças militares francesas combateram a Frente de Libertação Nacional da Argélia, que foi colônia da França por 130 anos. Centenas de milhares de jovens da metrópole foram obrigados a participar da guerra, que deixou profundas cicatrizes no espírito coletivo dos franceses.

Até agora, o governo nunca havia reconhecido oficialmente o uso de tortura por suas Forças Armadas durante o conflito, que deixou aproximadamente 1,5 milhão de argelinos mortos. Os combatentes pró-independência também torturaram prisioneiros na guerra, marcada por atentados. O período em que a insurreição contra os colonizadores franceses chegou à capital foi retratado no filme clássico “A batalha de Argel”, do italiano Gillo Pontecorvo, de 1966.

FRANÇA CENSUROU IMPRENSA
Durante o conflito, o governo francês censurou jornais, livros e filmes que denunciavam o uso da tortura. Depois da guerra, as atrocidades cometidas pelas tropas passaram a ser um tema tabu na sociedade francesa. Ontem, o governo reconheceu o que fez e, num comunicado, afirmou que “não pode haver liberdade, igualdade e fraternidade sem a busca da verdade ”.

Para a historiadora Sylvie Thenault, a admissão de que a morte de Audin foi o resultado dou sode um“sistema” de tortura implica um reconhecimento mais amplo dos crimes. “Aos e reconhecera responsabilidade do Estado nodes aparecimento de Maurice Ad in, também não se admite sua responsabilidade em todos os desaparecimentos de argelinos em 1957?”, questionou Sylvie no site “The Conversation”.

Macron, primeiro presidente francês nascido depois da guerra na Argélia, citou o conflito em sua campanha eleitoral em 2017, quando declarou que a colonização francesa no país foi “um crime contra a Humanidade”. Em seguida, suavizou acrítica ao afirmar que a França deveria evitar tanto “a negação quanto o arrependimento” em relação ao seu passado colonial. “Não devemos permanecer parados no passado”, conclamou.

ARGÉLIA ELOGIA INICIATIVA
O caso do desaparecimento de Audin sempre causou fascínio na França.

— Nunca pensei que este dia chegaria — disse a viúva Josette Audin a repórteres, após receber Macron.

Audin, um matemático e professor assistente na Universidade de Argel, foi preso em 11 de junho de 1957 durante a Batalha de Argel e torturado em várias ocasiões no bairro de El Biar. Suspeitava-se que escondia membros de um grupo armado do Partido Comunista da Argélia. Seu rastro foi perdido dez dias depois.