segunda-feira, 10 de março de 2014

Opinião do dia: Eduardo Cunha

Essa visão do PMDB como um partido meramente fisiológico, que vive mendigando cargos, tem muito de fantasia. É uma fantasia maniqueísta, que dá ao governo o falso argumento de que está, ao não respeitar a base aliada, apenas agindo eticamente, como arauto da moral, resistindo aos maus da política. Balela. Serve para justificar a incompetência do Planalto no diálogo com os parlamentares que deveriam, afinal, integrar um governo de coalizão. E para dizer: “O PMDB é assim mesmo, chantageia o governo até obter mais um ministério”. A gente não quer isso.

Eduardo Cunha, deputado federal (PMDB-RJ) e líder da bancada na Câmara. Revista Época, 10 de março de 2014.

Venezuela desmonta barricadas em San Cristóbal

AE - Agência Estado

Tropas da Guarda Nacional da Venezuela atacaram e desarmaram barricadas que manifestantes haviam construído em importantes intersecções na cidade de San Cristóbal.

A jornalista local de TV Beatriz Font e outras testemunhas disseram que os guardas atiraram bombas de gás lacrimogêneo até mesmo contra prédios residenciais próximos aos locais. Eles disseram que o ataque começou antes da meia-noite e continuou pela madrugada. Font completou que as tropas quebraram janelas e outras testemunhas reportaram que crianças e idosos foram afetados pelo gás.

San Cristóbal é o centro da atual onda de protestos contrários ao governo da Venezuela e é onde está localizada algumas das resistências mais determinadas. Fonte: Associated Press.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Capriles: ‘Se o governo não ceder, haverá conflito’

Para o líder opositor, principal desafio é transformar insatisfação popular em um movimento sólido

Roberto Giusti, do El Universal

CARACAS - A visão moderada de Henrique Capriles tem passado pelo duro teste dos protestos. Para o líder opositor, as manifestações devem persistir, mas é necessário desfazer a polarização e estreitar laços entre a classe média e os setores populares.

Quase um mês após o início dos protestos, há mortos e o conflito parece não ter sido resolvido. No entanto, para parte da opinião pública, o governo sente o impacto e enfraqueceu em algumas frentes. Você compartilha dessa visão?

A morte de qualquer venezuelano me dói na alma. Uma vez eu disse que a única vida que eu estou disposto a arriscar é a minha. Eu me recuso a arriscar a dos venezuelanos por causa nenhuma. Não acredito na violência e em seu custo posterior em vidas, para alcançar um objetivo. Durante estes anos, a minha posição é muito clara: desenhar um caminho direcionado para uma mudança duradoura. O protesto pacífico (artigo 68 da Constituição), ainda que errado em sua abordagem, não é um crime.

Mas essa esperança justifica, caso materializada, o custo em vidas?

Não há nenhuma justificativa para a perda de vidas. Evitei um cenário de centenas de mortos em 17 de abril, quando eu disse ao país que não estávamos indo para a guerra criada por um governo que não se preocupa com a morte de seres humanos, a fim de manter o poder. Uma posição apoiada pela liderança militar. Não havia, então, nenhuma garantia de que ir às ruas mudaria o resultado de 15 de abril (quando Nicolás Maduro venceu as eleições. Qual foi a resposta do governo? Acusar-me de assassino, o que expõe seus dois pesos e duas medidas.

A situação está se repetindo?

Eu não me importo com o que o governo pensa. Valorizo, sim, o que as pessoas pensam. E por isso é importante que os seguidores do governo entendam que a nossa luta não é violenta. Que o esforço do governo para nos aproximar da violência permaneça apenas um esforço de comunicação, mostrando que nosso discurso corresponde a nossas ações. Ou seja, que somos pacifistas e buscamos uma mudança em paz.

Isto é, palavras a mais ou a menos, o discurso do movimento estudantil, cujos líderes argumentam que a violência surge do lado do governo.

O movimento de protesto estudantil é não violento e o da grande maioria, também. Mas a intenção do governo é de que algumas áreas de violência desvirtuem sua razão de ser. Eu nunca fui contra os protestos. Defendo que devem ser preenchidos com conteúdo e falo dos pacíficos, especialmente os de caráter social, que foram cerca de cinco mil no ano passado.

Esse protesto continuado carece de conteúdo?

Isso foi mudando. Os problemas que geram os protestos (a escassez de alimentos e medicamentos, por exemplo) devem tornar-se uma oportunidade para os venezuelanos nos reencontrarmos. Para mim, o protesto não passar por cima de um irmão, mas se juntar a ele na busca de soluções para os problemas que nos afetam de forma igual. Meu esforço foi destinado à construção de uma força nacional que chegue a toda a Venezuela. Devemos quebrar barreiras e nos unirmos em um único bloco com um adversário comum: Nicolás (Maduro) e seu governo.

O governo não tem razão quando adverte que uma das causas de agravamento da escassez de alimentos, por exemplo, é o mês de protestos?

Este governo, imoral de A a Z, não tem razão em nada. O auge foi fingir que a agitação social ou o desastre da insegurança, gerado por eles, seja resolvido por mim ou líderes da oposição.

As pessoas não apoiaram o movimento de protesto estudantil porque, no fundo, acreditam que o objetivo é tirar o governo?

Há um grupo de venezuelanos, grande ou pequeno, (não vou quantificar) que não representa uma maioria cujo sentimento está ligado ao país que você tem a oferecer, e não a uma agenda de um ou dois pontos políticos. Este grupo tem a abordagem de que o governo deve sair. Uma posição legítima, porque eu compartilho desse desejo. Mas eu quero que isso aconteça para acabar com a inflação, a insegurança, o desemprego, a escassez, a crise na Saúde. Essas são as razões para tirar o governo. Eles, mesmo quando desconectados do sentimento da maioria, têm todo o direito de falar nas ruas, desde que não violem os direitos dos outros, porque isso desvirtua a razão de seu protesto. No entanto, eles têm de ser adicionados ao movimento, porque todos esses problemas também os afetam.

Quer dizer que o protesto é desconectado do ...?

Eu não digo “protesto”, porque existem vários protestos...

Falo do protesto liderado pelo movimento estudantil.

Também não. O protesto dos estudantes conectam-se com sua causa e suas exigências.

Mas se conecta com setores populares?

Sim, porque muitos alunos vêm deste meio social e, além disso, é legítima a demanda para a libertação de seus companheiros. Lembre-se que a origem do protestos foi a tentativa de estupro contra uma estudante de Táchira.

Se é assim, então o protesto está sendo apoiado por todos.

O descontentamento social é mundial. O desafio é transformá-lo em um movimento. Que passemo do sentimento à ação. E isso é alcançado se a razão, que apela para a ação, conecta-se com seus sentimentos.

Eu pensei que a ação estava em pleno andamento há quase um mês.

Sim, mas essa ação, se estiver repleta de conteúdo, permite que se tenha a força para superar o governo.

Por que não age nesse sentido se o senhor é o líder da oposição?

Vamos neste rumo. Mas não vale falar do que foram nossas diferenças, porque no final eu não procuro ter razão. Isso é irrelevante. Agora, o desenvolvimento dos eventos está nos dizendo que passamos do final do filme para o início.

Poderia explicar?

O final do filme é a mudança de governo, mas para alcançá-lo você deve ir para o início do filme: a grave crise do país, que conecta com a agitação social. Isso lhe dá a oportunidade para dizer ao governo ao fim do filme: ou muda, ou sai.

Se a oposição tivesse vencido as eleições (regionais) de 8 de dezembro, teriam sido dadas as condições para o fim do filme?

Haveria outro cenário. Esse era o meu objetivo logo após o roubo que nos fizeram em abril, com uma eleição fraudada que permitiu a Nicolás permanecer onde está, graças ao controle dos poderes que ainda estão sequestrados. Então, precisamos falar honestamente às pessoas e parar de mentir, porque assim chegamos a muitos fracassos. Quando aos cinco dias da morte de Chávez assumi uma candidatura para a qual ninguém dava a menor chance, eu fiz isso a partir da perspectiva da verdade. Qual é a minha autocrítica? Deixei de falar com a classe média. Mas essa força não tem motivo para ser perdida, porque pode se reconectar com a maioria. Algumas pessoas dizem: “Nós estamos esperando que as favelas venham”, Não, irmão, as favelas não virão sozinhas.

Não se supõe que a liderança das favelas deve sair delas mesmas?

Claro. Pessoalmente, todo o esforço que fiz foi nos setores populares, nas pessoas mais humildes, para ganhar a sua confiança. Mas quanto tempo foi gasto para fazer política na TV? Há quanto tempo os setores populares não são visitados? Há quanto tempo não se organiza e incentiva as lideranças de lá? Há quanto tempo, no caso de Caracas, dedica-se a uma parte da cidade e deixa-se a outra? Por que a cada vez que uma eleição vem há centenas de candidatos para representar um setor da cidade, o mais fácil de ganhar, e no outro ninguém quer concorrer? Estas são reflexões que devem ser feitas para a construção de uma maioria de verdade.

Você está reconhecendo que neste momento a oposição não tem a maioria?

Eu estou dizendo que neste momento há uma maioria, mas que não se articula sozinha. 80% do país acha que as coisas vão mal. Isso não quer dizer que todos esses apoiem a oposição, mas que quem quer uma mudança tem o desafio de transformar esse sentimento em um movimento social com uma base sólida.

Mas como, se o jogo está travado?

Não está.

Se não está, qual é a saída?

Ela está vindo porque a atitude do governo vai gerar uma crise política mais profunda e isso abrirá uma saída. Não vejo outra. A não ser que uma explosão social ocorra. Circunstância que eu me recuso a considerar.

Você poderia explicar o primeiro cenário?

Diante de um jogo travado, você tem que ceder. O que isso significa? Respeitar a Constituição.

Quando se fala de ceder, de que setor fala?

Do Governo.

Mas o governo vai ceder?

Por que não?

Porque trabalha com a lógica de governo totalitário.

Então vamos para a agitação social.

O senhor diz que, se o governo não ceder, vamos ao conflito?

Com certeza. Não promovido por Capriles. Provavelmente há muita coisa que ainda não vimos. Com 25 dias o governo de Carlos Andrés Pérez ruiu e depois ele saiu.

A mesma coisa pode estar acontecendo agora?

Pode ser que ocorra neste momento.

Então os protestos enfraqueceram o governo.

Depende de como terminarem.

Como isso vai acabar?

Há um protesto que seguirá. O que pode acabar é o (protesto) político. Mas não há porque deixar que acabem, porque os problemas que os provocam estão vivos. É necessário gerenciá-los.

Esses problemas não estão fora do debate?

Agora não. Hoje (sábado) há um protesto contra a escassez. Segunda-feira, pela Saúde.

O senhor fala de uma correção de estratégia?

Há uma mudança de rumo por parte da maioria frente a um governo que está interessado na polarização e na violência. Infelizmente há setores da oposição que caíram nesse jogo porque acreditam que ficam em uma posição vantajosa. É um erro grave, e uma fraude ao povo que quer mudança.

Os protestos não transcenderam os partidos e até mesmo o movimento estudantil?

Isso não é ruim.

Não é, mas, com as coisas desse jeito, quem vai dirigi-los?

Todos.

O senhor sente que está recuperando sua posição de liderança?

Isso não importa.

Mas as lideranças não são necessárias?

Eu realmente não gosto de falar em primeira pessoa, mas ninguém pode dizer que eu não tenho sido consistente e coerente com o que tenho defendido desde o primeiro dia. Com a luta para construir uma mudança que dure mais de 48 horas. Quando eu disse para as pessoas “Cuidado com ‘Maduro, saia já’, porque isso significa ‘Diosdado (Cabello, presidente da Assembleia Nacional), venha já’”, me disseram: “Puxa, é verdade, e se ele vai, quem vem?”. Para essa pergunta eu respondo: o que você quer, que Maduro saia ou todo o modelo mude? Bem, a minha luta é para mudar o modelo.

O senhor acha que é possível alterar o modelo com o mesmo governo?

O modelo pode mudar se o povo chavista repetir o que aconteceu no dia 14 de abril, quando 700 mil deles votaram em Capriles. Traíram a última palavra do comandante, que era o slogan da campanha de Maduro? Não. Apenas sentiram que Capriles tinha um projeto melhor, e não podemos perder isso.

Fonte: O Globo

O Brasil tenta encontrar o seu papel na crise da Venezuela

Dilma tem frustrado a expectativa de assumir uma posição de liderança diante das tensões no país vizinho. A posse de Bachelet pode ser oportunidade de falar mais abertamente sobre o assunto

Carla Jiménez

SÃO PAULO - Em meio às tentativas das organizações internacionais de interceder para apaziguar a tensão na Venezuela, surge, inevitavelmente, a pergunta sobre o papel que o Brasil pode assumir na crise que se instalou no país vizinho. Por ora, se limita a atuar por meio dos organismos internacionais, apoiando o presidente Nicolás Maduro. Na mais recente reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA),na última sexta-feira, o país votou novamente alinhado com Maduro, ao firmar a carta de solidariedade às vítimas das violências nos protestos de ruas, e reforçando a necessidade de diálogo. Repete, assim, o tom adotado pela Celac e pelo Mercosul.

Mas, a expectativa com o papel brasileiro é grande. Na condição de maior nação do continente sul-americano, e de maior economia da América Latina, o Governo brasileiro teria um papel relevante na tentativa de conciliar as distintas forças venezuelanas. Segundo o presidente do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão, e coordenador da campanha à reeleição de Dilma Rousseff este ano, a presidenta pode corresponder às expectativas nos próximos dias.

Seria, de fato, de bom tom, até pelas boas relações do Governo de Rousseff com a Venezuela, desde os tempos de Hugo Chávez. O assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, inclusive, retornou na quinta-feira da Venezuela, onde representou o Governo nas festividades de um ano da morte do ex-comandante. Durante a visita, reuniu-se por 40 minutos com o presidente Nicolás Maduro. “À luz das informações que ele traga, o Governo brasileiro deve se manifestar”, diz Falcão, que não descartaria um papel de intermediador da crise, caso Maduro acolhesse a ideia. O presidente venezuelano, inclusive, estaria aceitando a mediação brasileira, ainda que o assunto não esteja vindo a público. A própria entrevista de Maduro à rede de televisão americana CNN seria uma tentativa de mostrar mais abertura para solucionar o crise.

Uma reunião da União das Nações Sulamericanas (Unasul), convocada pelo próprio Maduro, está marcada para acontecer em Santiago, no Chile, logo após a posse da presidenta eleita Michele Bachelet. O encontro reunirá os chanceleres de cada país integrante do grupo. Luís Alberto Figueiredo vai representar a diplomacia brasileira, apoiando as linhas gerais que as nações vizinhas têm assumido: a situação atual precisa ser resolvida por meio do diálogo, e atos violentos são condenáveis. Assim como ficou claro no documento firmado pela OEA, apoiado por 29 nações incluindo o Brasil, o incentivo à conciliação é visto como mais produtivo do que a condenação do status atual da Venezuela.

Uma missão do Foro São Paulo, organização que reúne partidos de esquerda latinoamericanas, incluindo o PT, deve seguir nesta semana para a Venezuela. Falcão, inclusive, pode integrar esta comitiva. Tanto o partido, como o Governo petista, sempre defenderam a soberania de cada nação. Mas, alguns integrantes do PT não escondem um certo desconforto com o caos que se instalou no país vizinho, e que já culminou na morte de 20 pessoas. O próprio presidente do partido admite que há algumas situações que preocupam. “Nada justifica a proibição de que veículos de comunicação circulem”, afirmou.

Mas, até agora, a posição brasileira tem sido considerada muito tímida. Além da assinatura da carta do Mercosul de apoio a Maduro no mês passado, e o endosso da carta da OEA nesta semana, só houve a fala da presidenta Rousseff durante a cúpula Brasil-União Europeia, quando foi questionada sobre o assunto, no último dia 21. “Acreditamos que sempre, em qualquer situação, é muito melhor o diálogo, o consenso e a construção democrática do que qualquer tipo de ruptura institucional”, disse Rousseff.

Uma crítica feita à presidenta, neste momento, é o fato de ela te sido tão ativa na costura para incluir a Venezuela no Mercosul – e na negociação com o Paraguai, que se negava a aceitar o novo parceiro – , mas que agora apresenta uma atuação limitada nesse capítulo diplomático. Trata-se de um calcanhar de Aquiles para o Brasil, ao contrário, inclusive da postura de seu antecessor, na visão de alguns observadores. “O Lula, por exemplo, foi conversar com o Evo Morales, quando houve algumas tensões na Bolívia, durante o seu Governo”, relembra Rubens Barbosa, que foi embaixador nos Estados Unidos, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

O ex-presidente tucano, aliás, também se manifestou sobre a crise venezuelana, numa declaração conjunta assinada com outros três ex-presidentes da América do Sul, repudiando a arbitrariedade na condução do conflito que divide o país. “O ideal seria que o Brasil respondesse ao seu peso na região, procurando formar consenso para atuar na Venezuela. Mas o país não tomará nenhuma atitude pró-ativa, até porque o Governo tem muita simpatia pelo Maduro”, opina Barbosa.

A posse da presidenta Michele Bachelet, na próxima terça-feira, pode ser uma oportunidade de os líderes do continente falarem abertamente sobre a crise venezuelana, que teve mais um capítulo neste sábado, com novos protestos de opositores do Governo nas ruas. E pode ser a chance de Rousseff se pronunciar de maneira certeira, surpreendendo seus opositores. Ao fim e ao cabo, a crise venezuelana não interessa ao Brasil nem do ponto de visto político, nem do ponto de vista econômico. As exportações brasileiras - carne, açúcar e máquinas estão entre os principais países exportados para lá - para lá têm caído nos últimos meses em função dos controles da moeda na Venezuela.

Fonte: El Pais

Governo busca alternativa à criminalização de movimentos

Raphael Di Cunto

BRASÍLIA - O Ministério da Justiça se debruça sobre um último detalhe antes de encaminhar ao Congresso o projeto de lei que pretende coibir a violência nas manifestações: como distinguir quem vai para os protestos com a intenção vandalizar de quem se envolve em brigas e quebra-quebra levado pela massa, sem premeditação.

"Há um último impasse, que é saber como diferenciar quem pratica violência de forma premeditada, como os black blocs, de protestos que acabaram em confronto, como o do MST", afirma o líder do PT na Câmara dos Deputados, Vicente Paulo da Silva (SP), em referência ao ato do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra há duas semanas que teve um conflito com a Polícia Militar em frente ao Palácio do Planalto.

"São manifestações completamente diferentes. O MST tinha líderes que fizeram o confronto parar logo depois que começou, a intenção claramente não era vandalizar nem confrontar a polícia, foi apenas ago que ocorreu no calor do protesto", diz Vicentinho, que foi presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

O projeto do governo está sendo moldado, segundo pessoas que tiveram acesso a pontos do texto, de modo a não coibir movimentos de rua. O PT, partido de Cardozo, já se manifestou contra tentativas de retirar as ferramentas de pressão dos movimentos sociais.

Por outro lado, a presidente Dilma Rousseff encomendou ao Ministério da Justiça instrumentos para impedir protestos violentos durante a Copa do Mundo, em junho, e a Olimpíada do Rio, em 2016, e dar uma resposta à população para que casos como a morte do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade por um rojão em fevereiro não se repitam.

Para isso, de acordo com um petista que tem acesso ao ministro, o projeto vai exigir que a polícia seja informada antes das manifestações para garantir a segurança ao ato, e regulamentar o trecho da Constituição que diz que é "livre toda forma de manifestação, desde que vedado o anonimato". "Máscaras serão permitidas, mas a pessoa não pode se recusar a tirá-la para se identificar ou vai cometer crime de desobediência", diz.

A ideia não encontra apoio em movimentos como o Passe Livre, que convocou os protestos de junho de 2013 contra o aumento da tarifa do transporte público. Mariana Toledo, uma das líderes do grupo, diz que divulgar previamente o local e trajeto do ato tira o "efeito surpresa" e a capacidade de chamar atenção para o problema.

"Essas ideias, como só permitir manifestação no sambódromo ou aos domingos, são recicladas de tempos em tempos. Mas essas tentativas de colocar regras e diferenciar as manifestações 'boazinhas' são uma forma de tentar deslegitimar os atos", diz Mariana. "Entendemos isso porque, antes da mídia mudar de posição, também éramos tratados como vândalos"

O uso de máscaras não é prática do Passe Livre, mas o movimento diz compreender quem recorre ao anonimato. "A gente entende a vontade de alguns de não mostrar o rosto diante da criminalização das manifestações, com relato de pessoas presas sem cometer vandalismo", afirma Mariana. "Já vimos que a polícia tem a força necessária para obrigar os manifestantes a tirar a máscara sem precisar recorrer a qualquer tipo de lei."

A proposta do governo deve ser encaminhada ao Congresso esta semana em regime de urgência constitucional - instrumento que tranca a pauta do plenário da Casa que está tramitando se não for votado em 45 dias. O projeto pode ser anexado a outro que já tramita para dar agilidade à votação.

Fonte: Valor Econômico

Eduardo Campos fala a empresários hoje na Associação Comercial de SP

SÃO PAULO - Pré-candidato à Presidência da República, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), faz palestra hoje pela manhã na sede da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), no centro.

De acordo com a associação, a apresentação de Campos tem como tema "Desafios do Brasil". O evento começa às 10h.

A fala do governador aos empresários do comércio faz parte de evento que marca a sessão plenária inaugural de 2014 da ACSP e a reunião do Conselho Político e Social (COPS) da associação.

Virtual candidato ao lado de Marina Silva, Campos tem viajado pelo país para encontros com empresários.

No final de fevereiro, em palestra na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, o governador atacou a política econômica do governo Dilma Rousseff, sua adversária em outubro.

Na ocasião, Campos disse para mais de 150 empresários que o país precisa de uma nova agenda econômica para se inserir no mercado global.

Fonte Jornal do Commercio (PE)

Bancada do PMDB na Câmara deve se unir à oposição para convocação de ministros

Líder do partido na Câmara convoca reunião com a presença de Valdir Raupp

Maria Lima

BRASÍLIA - A bancada do PMDB da Câmara, ligada ao líder Eduardo Cunha (RJ) e outros partidos que compõem o “blocão” prepara um contra-ataque à tentativa do PT e da presidente Dilma Rousseff de isolar o grupo. Dilma tem feito encontros com integrantes da cúpula do PMDB, mas apesar de receber líderes do partido do Senado alijou o líder da Câmara. Nesta terça-feira, na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara, o grupo pretende se juntar a oposição para aprovar cinco requerimentos de convocação dos ministros Edson Lobão, (Minas e Energia), Aldo Rebelo (Esportes) , Arthur Chioro (Saúde), da presidente da Petrobras, Graça Fortes, e do presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

Além disso, Cunha vai reunir a bancada para discutir o fechamento de questão contra o projeto do governo do Marco Civil da Internet e a manutenção da aliança nacional com o PT. Para a reunião, ele está convocando o presidente do partido Valdir Raupp (PMDB-RO), que se reúne na manhã desta segunda-feira com a presidente Dilma no Palácio do Planalto.

- Dilma não que discutir os problemas com o líder nacional do partido, Eduardo Cunha, que é quem fala pela bancada. Vamos votar cinco requerimentos da oposição de convocação de ministros. Dilma resolveu ouvir Temer e Raupp, mas eles não falam pela bancada. Quem vai impedir? Eles vão segurar? Estão empurrando com a barriga e isso não vai ter um bom desfecho - disse o deputado Lúcio Vieira Lima, presidente do diretório do PMDB na Bahia.

Amanhã , a Câmara volta a deliberar também sobre o requerimento do DEM e do PPS de criação de uma comissão externa para investigar denúncias de propina na Petrobras na Holanda. Na véspera do carnaval o requerimento começou a ser votado com apoio do “blocão”, e só não foi aprovado porque o presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), a pedido do vice-presidente Michel Temer e do Planalto, suspendeu a votação.

O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, voltou a reforçar no Twitter que defende a opinião da bancada do partido.

“ E esta certo o Michel quando fala que é a convenção que decide apoio, alias falei isso aqui no Twitter, só que os deputados tem opinião e voto”, publicou no microblog.

“E bom deixar claro,que eu só expresso e só expressarei o que a bancada pensa e decide. Logo tentar me isolar é isolar a bancada do PMDB”

“A bancada já decidiu, nomeiem quem quiserem para os cargos, que não queremos”.

Fonte: O Globo

Dilma busca manter aliança com PMDB

Presidente se reúne com o vice Michel Temer e volta a oferecer Ministério do Turismo para senadores a fim de isolar deputado Eduardo Cunha, que pregou rompimento com o governo; nova reunião hoje tentará definir espaço de peemedebistas na Esplanada

Vera Rosa, Andreza Matais, Mariângela Gallucci e José Maria Tomazela

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff se reuniu neste domingo, 9, por duas horas com o vice-presidente Michel Temer e voltou a oferecer o Ministério do Turismo para o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). A vaga já é ocupada pelo partido, mas está sob zona de influência da bancada do PMDB na Câmara. Embora a proposta não seja nova, a tendência do partido, agora, é manter a aliança com Dilma e evitar mais conflito. Uma nova reunião com a presidente será realizada hoje, no Palácio do Planalto, desta vez com Temer, líderes e dirigentes do PMDB.

Diante de uma base aliada rebelada, que votará cinco requerimentos de convocação de ministros nos próximos dias, Dilma pediu ao vice-presidente que tente pacificar o PMDB, isolando o líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). O governo quer chegar a um acordo com o PMDB para neutralizar a reunião da bancada da Câmara, prevista para esta terça-feira, 11. Nesse encontro, um terço dos deputados do partido promete aprovar o rompimento da aliança com o governo, como apontou levantamento do Estado.

Temer desautorizou Cunha a pregar o fim da parceria com o Planalto. Poucas horas antes de se reunir com Dilma, na noite deste domingo, ele disse que o PMDB quer manter o casamento com ela e não vê chance de divórcio. "Não é A nem B ou C nem sou eu quem vai dizer se o partido vai para um lado ou para o outro. É a convenção nacional que decide o que deve ser feito. Tem dois terços que pensam em manter o casamento e, portanto, a maioria é pela manutenção da aliança, como eu", afirmou o vice.

Ainda antes do encontro com Dilma, Temer convocou um seleto grupo do PMDB para uma reunião com ele, no Palácio do Jaburu. No encontro ficou decidido que o PMDB não esticaria mais a corda com a presidente nem endossaria as posições de Cunha. A portas fechadas, os peemedebistas avaliaram que o bate-boca com o PT só prejudica o próprio PMDB, que aparece diante da opinião pública como fisiológico.

"Vou levar para Dilma uma mensagem de concórdia", avisou Temer, que pretende repetir a dobradinha com Dilma, na campanha da reeleição, ocupando a vaga de vice. "A presidenta quer ter uma aliança muito sólida e quer fazê-la prosperar. É conversando que se entende. Tenho certeza de que vai dar certo." Mesmo após a troca de acusações e insultos entre dirigentes do PT e do PMDB, Temer disse não acreditar no divórcio. "É uma situação passageira e logo estará superada."

Foi esse também o tom da conversa de Temer, ontem, com os presidentes do PMDB, Valdir Raupp (RO); do Senado, Renan Calheiros (AL); da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e com o líder do partido no Senado, Eunício Oliveira (CE), antes da reunião com Dilma.

Dilma não se mostrou disposta a ampliar o espaço do PMDB na Esplanada, de cinco para seis cadeiras. A ideia da presidente é nomear o senador Vital para o Turismo, na vaga de Gastão Vieira - deputado licenciado do PMDB que deixará o posto para concorrer a novo mandato - e deixar o Ministério da Agricultura sob comando de um apadrinhado de Temer. Até agora, o mais cotado para substituir Antônio Andrade na Agricultura é Neri Geller, secretário de Políticas Agrícolas.

"Tudo o que não precisamos agora é dessa crise entre aliados num ano eleitoral. Se avançarmos um pouco nas alianças regionais, o clima já começa a distensionar", disse Raupp. Dos 27 Estados, o PT e o PMDB só têm parcerias garantidas, até agora, nos palanques do Distrito Federal, Pará, Sergipe e Amazonas. A situação é considerada dramática no Rio e na Bahia, onde as duas legendas se tratam como inimigas.

Pesquisas em poder do Planalto indicam que Dilma cresce quando reage a pressões políticas e rejeita o "toma lá dá cá". Foi assim quando ela fez a "faxina" administrativa que derrubou sete ministros, em 2011. Embora o ex-presidente Lula tenha aconselhado sua sucessora a ser mais "política" e conversar com a cúpula do PMDB, ela preferiu chamar apenas Temer para o encontro reservado deste domingo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Após reunião com Temer e Mercadante, Dilma não consegue estancar crise com PMDB

Encontro deixou peemedebistas céticos

O líder da rebelião na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ) foi alijado das conversas

Maria Lima, Isabel Braga

BRASÍLIA - Com o aprofundamento da crise entre PT e PMDB, cujas lideranças bateram boca publicamente durante toda a semana passada, a presidente Dilma Rousseff se reuniu, no início da noite de ontem, com o vice-presidente da República e presidente licenciado do principal partido aliado, Michel Temer, no Palácio da Alvorada, para tentar uma saída. Mas os peemedebistas insatisfeitos estavam céticos quanto a um acordo. Nem mesmo o presidente do partido, senador Valdir Raupp (RO), e os presidentes da Câmara e do Senado — Henrique Eduardo Alves (RN) e Renan Calheiros (AL) — participaram do encontro no Alvorada, com Dilma e o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. O líder da rebelião na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ), retornou ao país ontem à noite, mas foi alijado das conversas. Avisou, no entanto, que é uma estratégia errada tentar isolá-lo.

Justamente nessa estratégia de minar os focos de rebelião na Câmara, o comando da campanha de Dilma vai investir no atendimento individual de lideranças do PMDB no Senado, para não deixar que a crise ultrapasse os limites da Câmara. Hoje, Mercadante deve se reunir com o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), um dos mais irritados com o isolamento imposto pelo PT à sua candidatura ao governo do Ceará. O partido resolveu apoiar o nome escolhido pelo governador Cid Gomes contra Eunício.

Ontem, o presidente do PMDB da Bahia, Lucio Vieira Lima, mostrou ainda mais irritação pelo fato de Dilma não ter chamado o presidente do partido, Valdir Raupp, para o encontro.

— O presidente do PT, Rui Falcão, vai para dentro do Alvorada tirar foto rindo e depois esculachar o PMDB. E o presidente do PMDB, Valdir Raupp, fica de castigo do lado de fora. E Lula ainda vai pedir socorro a ele para salvar a aliança, achando que está tudo beleza?

Como Dilma e o PT não pretendem recuar e apoiar candidatos peemedebistas em estados como Rio de Janeiro e Ceará, Temer devia dizer ontem à presidente que o PMDB vai liberar as alianças nos estados, mas com o compromisso de apoiar nacionalmente sua reeleição. Esse, no entanto, é um desafio do vice-presidente da República, que terá que garantir maioria na convenção nacional do partido, em junho. O Palácio do Planalto e dirigentes do PT minimizam a ameaça do PMDB de cruzar os braços nos estados dizendo que o que importa é o tempo de televisão no horário eleitoral gratuito, que é garantido pela aliança formal em âmbito nacional.

Temer também devia informá-la, se o convite formal fosse feito, que o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) não vai aceitar o Ministério do Turismo, já que essa pasta é da cota do partido na Câmara. O senador queria o Ministério da Integração Nacional, mas Dilma pretende deixar a pasta com um afilhado do governador do Ceará, Cid Gomes (PROS).

Antes da conversa com Dilma e o ministro Aloizio Mercadante, Temer se reuniu, no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência da República, com o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE); o presidente em exercício da sigla, senador Valdir Raupp (RO); e com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Peemeebistas se recolhem
Durante o dia de ontem, os peemedebistas se recolheram. Pivô da crise atual, o líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ) parou de polemizar no Twitter: “Bom dia a todos. Nada de comentários hoje, por enquanto, só para avisar a quem me procurar que estarei fora do ar até as 22h”, escreveu Cunha no microblog.

O presidente em exercício do PMDB também foi cauteloso:

— Ele (Temer) vai ouvir — disse Raupp.

Ao participar, na manhã de ontem, de solenidade em homenagem aos 172 anos de emancipação política de sua cidade natal, Tietê (143 km de São Paulo), Temer desautorizou Cunha, sem citá-lo nominalmente, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”:

— Não é A, nem B, ou C, nem sou eu quem vai dizer se o partido vai para um lado ou para o outro. É a convenção nacional que decide para onde vai o PMDB — disse Temer.
Ainda de acordo com o jornal paulista, o vice-presidente afirmou que a maioria do partido quer a manutenção da aliança:

— Tem dois terços que pensam em manter o casamento, mas a convenção é que decide. A estratégia é dialogar, é conversando que se entende.

O presidente da Câmara disse que Temer se reuniu antes com os peemedebistas para ter um visão das insatisfações na Câmara e Senado:

— Eu separo o joio do trigo. Uma coisa é a relação com o PT, bancada, disputas regionais. Outra é a reeleição da Dilma. Estamos no governo estes anos todos. Seria uma mudança muito radical. Não vejo clima. As pessoas falam por ela (Dilma), ficam atiçando. Mas o que tem que ter é comportamento correto com o PT e também com o PMDB. A reeleição da presidente Dilma está em outro patamar — disse Henrique Alves.

Embora Temer diga que a maioria do partido quer manter a aliança, não é só na Câmara que a bancada está em pé de guerra contra a aliança com o PT. Senadores também estão muito irritados com a estratégia "hegemonista" do PT de tentar atropelar o PMDB e eleger a maior bancada nas duas casas, para reduzir poder do partido. E a reunião com a cúpula com Dilma ao invés de acalmar, está irritando ainda mais os descontentes.

Além de Eunicio, que já ameaça se juntar ao bloco de Oposição liderado por Aloysio Nunes para decidir o que incluir na pauta de votações, os senadores Roberto Requião (PR) e Waldemir Moka (MS), estão insatisfeitos com a aliança com o PT e querem rediscutir o tema.

— Esta é uma reunião absurda, onde vão discutir favores em véspera de eleição que depois não vão cumprir. Vão discutir o preço do aluguel do PMDB? Eu fico envergonhado com isso. Eu nunca fui convidado pela Dilma para ir com ela no Paraná. Na hora de distribuir caminhãozinho, maquininha, espelhinho, ela só chama a Gleisi. Estão fazendo aquela política sórdida do PT. E se me chamassem também não iria — desabafou Requião antes da reunião.

Ele disse que o PT deu uma guinada para "o capital" e será difícil refazer a aliança com o partido para as próximas eleições:

— Será uma aliança em torno de que? de cargos? Qual seria o programa do PT para renovar essa aliança? Vão refazer todo o pacto da política econômica? O trem bala? Os portos que não fizeram?

Fonte: O Globo

Crise entre PMDB e PT começa a corroer liderança de Temer

Cesar Felício, Bruno Peres e Lucas Marchesini

BRASÍLIA - A crise entre o PMDB e o PT nos Estados começa a corroer a liderança do vice-presidente Michel Temer dentro na sigla. Temer é presidente licenciado do partido e está no comando da legenda desde 2001. Interlocutor preferencial da presidente Dilma Rousseff para a aliança, o vice-presidente esteve ontem no Palácio da Alvorada para discutir o espaço da sigla no governo e a montagem dos palanques estaduais, em reunião que durou duas horas e quinze minutos, da qual participou o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Antes, Temer se reuniu com o presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (PMDB-RO), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e o líder do partido na Casa, senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), no Palácio do Jaburu. O presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), não participou do encontro prévio, mas chegou ao Jaburu à noite onde encontrou os participantes da reunião do Alvorada. Depois de uma hora e meia, saíram sem falar com a imprensa.

"Há uma dificuldade da direção do partido em se impor quando as questões estaduais estão em jogo", comentou o ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima, integrante da Executiva Nacional e pré-candidato ao governo da Bahia. Em pelo menos dez Estados o PMDB luta contra o PT para garantir espaço nas eleições majoritárias. Temer opera para ampliar o espaço pemedebista no governo e permanecer na chapa presidencial. O apoio a Dilma garantiria os seis minutos diários que o partido tem no horário eleitoral gratuito e o PMDB ficaria liberado para as alianças nos Estados, da mesma forma como se deu em 2010.

Desta vez, entretanto, o partido está mais frágil. O PMDB corre o risco de perder os governos do Rio e do Maranhão, onde os governadores Sérgio Cabral e Roseana Sarney estão desgastados e com dificuldade de fazer o sucessor. O partido não concorre em situação favorável em nenhum outro Estado de grande porte. No Ceará, Eunício Oliveira lidera as pesquisas mas é pressionado pelo PT a sair do caminho do candidato lançado pelo governador Cid Gomes, que abandonou o PSB para permanecer aliado do Planalto.

A crise entre o governo e o partido começou quando Dilma ensaiou passar o Turismo, da cota dos deputados do PMDB, para o PTB e convidar Eunício para comandar o ministério da Integração Nacional, com a concordância de Temer. Eunício recusou o convite. O vice-presidente em seguida articulou a nomeação do senador Vital do Rego (PB) para o Turismo. O parlamentar paraibano está sendo pressionado pela bancada do PMDB na Câmara a recusar.

Amanhã, em reunião convocada pelo líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), os deputados da sigla devem discutir a apresentação de requerimento uma pré-convenção nacional que sinalizaria o fim da aliança presidencial. A reunião aconteceria já no próximo mês e poderia levar Temer a sair da chapa. Entre os Estados com maior conflito regional com o PT, estão o Rio, de Cunha, e as bases de seus dois vice-líderes, Danilo Forte (CE) e Lúcio Vieira Lima (BA).

Ontem, provocado pela imprensa, o vice-presidente reagiu em uma visita à sua cidade natal, Tietê (SP), e afirmou que dentro do partido há uma maioria de dois terços pela manutenção da aliança. "Não é nem A, nem B, nem C, nem sou eu quem vai dizer se o partido vai para um lado ou outro, é a convenção nacional", afirmou. Foi uma alusão indireta à movimentação dos deputados pemedebistas que temem uma redução da bancada. A pressão do PT sobre o partido tem também esse objetivo, o de conquistar maiores bancadas nas Casas e remover o PMDB das presidências da Câmara e Senado.

No Senado, onde 15 dos 20 senadores da sigla não renovam mandato este ano, a situação do governo é mais cômoda. Nas reuniões de ontem, a preliminar realizada no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, e o encontro de Temer com Dilma, que entrou pela noite, ficou clara a intenção do governo de trabalhar com o PMDB do Senado e isolar o da Câmara.

Fonte: Valor Econômico

Eduardo Cunha: "O PMDB não quer mais cargos"

O líder do PMDB na Câmara diz que sua bancada não indicará mais ninguém para o governo – e acusa o PT de ter um projeto de “dominação completa do poder político”

Diego Escosteguy

O deputado Eduardo Cunha, do PMDB do Rio, é o mestre da articulação política no Congresso. Ninguém conhece as minúcias do regimento da Câmara como ele. Cunha sabe como encontrar as brechas certas para acelerar – ou empacar – qualquer pedaço de legislação. E, o mais importante, sabe como convencer seus colegas a apoiá-lo em seus ardis políticos, quase sempre destinados a retaliar o governo de Dilma Rousseff. Não é à toa que Cunha, embora esteja ainda em seu terceiro mandato, já é líder do PMDB – e principal artífice da aliança de nove partidos e 260 deputados conhecida como “Blocão”. Criticado por líderes do PT, entre eles o presidente do partido, Rui Falcão, Cunha afirma, nesta entrevista a ÉPOCA, que o PMDB não quer mais cargos no governo.

ÉPOCA – O que querem os deputados do Blocão?

Eduardo Cunha – Vou deixar claro primeiro o que não queremos: cargos no governo. Zero, nenhum ministério, nada. Abrimos mão dos cargos. A bancada do PMDB não indicará mais cargos no governo Dilma.

ÉPOCA É difícil acreditar que o PMDB abdique do que mais gosta...

Cunha – Essa visão do PMDB como um partido meramente fisiológico, que vive mendigando cargos, tem muito de fantasia. É uma fantasia maniqueísta, que dá ao governo o falso argumento de que está, ao não respeitar a base aliada, apenas agindo eticamente, como arauto da moral, resistindo aos maus da política. Balela. Serve para justificar a incompetência do Planalto no diálogo com os parlamentares que deveriam, afinal, integrar um governo de coalizão. E para dizer: “O PMDB é assim mesmo, chantageia o governo até obter mais um ministério”. A gente não quer isso.

ÉPOCA – Qual o propósito do Blocão, então?

Cunha – O Blocão é uma aliança informal entre partidos cansados de ser negligenciados pela articulação política do governo. Alguns dizem que é uma costura feita por nós, do PMDB, para enfraquecer o governo. Não é verdade. É uma aliança sem líder. São partidos que têm uma reclamação generalizada em relação ao governo, mas que querem continuar na base, desde que sejam respeitados. Resolvemos nos unir porque não há mais alternativa de diálogo qualificado. O governo age como se os aliados fossem satélites sem importância.

ÉPOCA – Por que não há mais alternativa?

Cunha – As eleições estão chegando, e os deputados perceberam que o PT, em coordenação com o Planalto, trabalha para conquistar uma hegemonia sem precedentes. Na ponta, o PT usa a máquina, explora programas do governo, como entrega de máquinas agrícolas e ônibus escolares. O deputado do PT tem informação privilegiada do governo e entregará a máquina no município de um deputado do PMDB. Isso produz enorme lucro político. Acontece em todos os ministérios, no país inteiro. O PT elegerá 130 deputados em 2014, saindo dos atuais 87 – o que daria ao partido um tempo de TV recorde nas eleições municipais de 2016. Se o PT aumentar a bancada, muita gente da base aliada percebeu que não voltará a Brasília no próximo ano. Se o partido tiver menos tempo de TV, nossos prefeitos correrão o mesmo risco em 2016. Bateu o desespero em todo mundo.

ÉPOCA – O PMDB só percebeu agora que, ao lado do PT, sempre será vice, um ator coadjuvante, no máximo?

Cunha – Não é questão de hierarquia. É questão do que é melhor para o partido. Há quatro anos, antes de fazer aliança com o PT, o PMDB era maior. Na verdade, a relação PMDB-PT ficará como ocorre com DEM e PSDB. Viraremos o DEM do PT. Um satélite do PT. É isso o que eles querem. O PT tem projeto hegemônico, de dominação completa do poder político. Por isso, sempre terá candidato a tudo, tenderá a ocupar todos os espaços. Isso já ficou claro. O PT não faz um projeto de parceria. É nesse contexto que surge o Blocão. O governo e o PT tratam os outros partidos da mesma maneira. Os deputados se revoltam contra isso.

ÉPOCA – No que dará essa revolta? O Blocão quer ver o circo pegar fogo para o governo?

Cunha – Claro que não. Vamos botar fogo no circo, se estamos nele? Não faria sentido. Tanto que, ao criar essa aliança, fizemos questão de manter o compromisso, assinado pelo PMDB no ano passado, de preservar a responsabilidade fiscal no que for votado no Congresso. Não aprovaremos projetos que causem impacto negativo nas contas públicas. Isso está preservado. Buscamos uma ação política para escolher temas que a gente possa apreciar de maneira independente, que nos ajudem a mostrar serviço para os eleitores. Mas o movimento da aliança – repito – é em reação ao projeto hegemônico do PT.

ÉPOCA – Se é tão ruim para o PMDB ficar ao lado do PT, por que não romper logo a aliança?

Cunha – É algo que terá de ser discutido até a convenção do PMDB, em junho. Se o PT insistir em ocupar todos os espaços, teremos de refletir com bastante atenção se vale a pena permanecer nessa aliança.

ÉPOCA – É o vice-presidente, Michel Temer, que ainda segura essa aliança com o PT?

Cunha – Michel Temer é aquele fiozinho que está arrebentando. Se não fosse a presença do Michel e ele ser uma figura de que a gente gosta, essa aliança tinha tudo para morrer agora. Se a aliança se mantiver, será mais por Michel do que por qualquer outro motivo. Isso não é bom para o partido. Não fizemos uma aliança para ser personalizada. A gente fez uma aliança achando que o PMDB estava entrando no governo. Engano. Não somos consultados a respeito de nada. O PMDB não participa de reuniões estratégicas. O Planalto só se lembrou da gente durante os protestos de junho, quando precisou de apoio. Ajudamos. Fomos leais. Mas eles não foram.

ÉPOCA – O que a presidente Dilma Rousseff precisa fazer para acalmar os deputados do Blocão?

Cunha – Ela pode fazer o gesto do respeito político. Ter uma atitude equânime, de respeito a todos. Infelizmente, não acho que dê mais tempo de consertar o estrago político para a maioria dos deputados. Mesmo que o Planalto execute as emendas parlamentares que deveria, como, aliás, havia prometido, temos apenas três meses até que a lei eleitoral proíba o governo de gastar. Mas é possível, para Dilma, enfrentar o problema com respeito. Dialogar conosco.

ÉPOCA – Muitos deputados reclamam que o governo paralisou o Congresso, ao enviar projetos com urgência constitucional, que trancam a pauta. É uma tática deliberada para anular o Congresso?

Cunha – Claro. Quando o governo optou por colocar projetos de urgência constitucional, vários deles, colocou com o objetivo de trancar a pauta. A pauta está paralisada desde outubro, por causa do marco civil da internet. O governo, ao trancar a pauta, impede que os parlamentares exerçam seu papel de legislar. A gente não conseguirá mostrar na eleição absolutamente nada, porque a pauta está trancada. Não temos nada para mostrar para a base. O governo age espertamente. Não quer que se vote nada. Apenas o que ele quer fazer, por medida provisória. É uma forma de tentar controlar o Congresso. Essa é a estratégia política do governo, equivocada. É uma estratégia de curto prazo. Agora, no Congresso não tem bobo. Todo mundo já percebeu. E isso aumenta a revolta.

ÉPOCA – A presidente Dilma Rousseff comenta com auxiliares que o senhor é o principal adversário no Congresso. O que o senhor acha?

Cunha – É, no mínimo, injusto. Se alguém teve um comportamento, como líder do PMDB, ajudando o governo num dos momentos mais difíceis do mandato dela, fui eu. Atuei para derrubar todos os projetos que tinham impacto fiscal. Não faltei com a lealdade em nenhum momento. Agora, você ser leal ou estar aliado não significa subserviência. Sou aliado, porém penso. Tenho opinião. Minha bancada pensa. Tenho de exercer o que a maioria de minha bancada pensa. É ela que me legitima. Tenho de ser respeitado por isso. O PT acha que pode tratar aliados com migalhas: dão as ordens, e os aliados têm de obedecer. Comigo, infelizmente, não é assim. Na visão deles, aliado que questiona ou debate vira adversário.

ÉPOCA – O senhor fará a campanha para a presidente?

Cunha – Se for decisão do partido apoiá-la, sim.

ÉPOCA – E se houver segundo turno?

Cunha – Dependerá do comportamento do PT.

ÉPOCA – Sente saudade do Lula como presidente?

Cunha – Muita. O tratamento do governo do presidente Lula com a classe política foi infinitamente melhor que o tratamento dispensado hoje.

Fonte: Revista Época

Dilma nomeará ministros sem aval do PMDB

Fernando Rodrigues, Valdo Cruz e Gabriela Guerreiro

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff informou neste domingo (9) ao PMDB que pretende nomear ministros nos próximos dias mesmo sem o aval da legenda. O comunicado foi feito diretamente ao vice-presidente da República, Michel Temer, numa reunião no Palácio da Alvorada, no início da noite.

Dilma também fragilizou o PMDB ao ter, na prática, desconvidado os caciques do partido para a reunião. Desde sexta-feira (7), o governo havia deixado veicular a informação de que a petista receberia hoje, além de Michel Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o presidente da Câmara, Henrique Alves (RN), e o presidente nacional da legenda, Valdir Raupp.

Durante o dia, o chefe de gabinete da Presidência, Giles Azevedo, comunicou ao PMDB que apenas Temer deveria ir ao Alvorada. Ou seja, um funcionário de segundo escalão comunicou o "desconvite" a dois chefes de Poderes – Renan Calheiros e Henrique Alves. Não houve reação.

Preteridos da reunião com Dilma, todos ficaram resignados esperando o resultado do encontro dentro do Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-Presidência. Por volta das 20h30, Michel Temer saiu do Alvorada e foi a Jaburu relatar aos colegas que a presidente havia expressado novamente irritação com o líder do PMDB na Câmara, o deputado federal Eduardo Cunha (RJ).

A petista reclamou do teor das entrevistas de Cunha e disse que não gostaria de discutir com ele a respeito de quais ministérios vão caber ao PMDB na reforma que está em curso. A partir de agora, a presidente vai conversar com alguns grupos do PMDB de forma separada. Comunicará quem serão os nomes para os ministérios peemedebistas e espera que todos aceitem.

Numa outra demonstração de força, Dilma determinou a Michel Temer que leve até ela na segunda-feira (10) pela manhã, em grupos separados, alguns dos interlocutores com quem ainda mantém um certo diálogo no PMDB.

Às 9h30, Dilma deve receber para uma conversa novamente Michel Temer, mas estará acompanhado de Renan Calheiros e do líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). Em seguida, às 10h30, a presidente determinou que sejam convidados para uma reunião Henrique Alves e Valdir Raupp.

A ideia de Dilma é tentar esvaziar a reunião da bancada do PMDB da Câmara, prevista para segunda, quando deve ser discutida a convocação de uma convenção extraordinária que pode, inclusive, analisar a aliança do partido com o governo petista.

O Planalto deseja isolar Eduardo Cunha. O peemedebista trocou farpas com o presidente do PT, Rui Falcão, e ameaçou romper a aliança com o governo para a eleição deste ano. Segundo a Folha apurou, Dilma disse que Cunha "esticou a corda" ao fazer críticas pelo Twitter.

Desanimados, os peemedebistas no Jaburu se resignaram às ordens recebidas de Dilma por intermédio de Michel Temer. O único que esboçou alguma reação foi Henrique Eduardo Alves, que é aliado político de Cunha. Alves chegou a pensar em boicotar a ida na reunião com Dilma na segunda, mas também acabou cedendo e deve comparecer.

Ministérios
Nas reuniões desta segunda, o PMDB deve insistir num sexto ministério para o partido na busca de apaziguar os ânimos. A ideia é ter três ministros afinados com os senadores e outros três com deputados.

Na cota do Senado, além do ministro Edison Lobão (Minas e Energia) e Garibaldi Alves (Previdência), o PMDB quer nomear o senador Vital do Rêgo (PB) para a equipe de Dilma. A presidente chegou a oferecer o Ministério do Turismo, só que esta pasta, hoje, está na cota dos deputados peemedebistas.

Vital do Rêgo já avisou que só aceitará assumir um ministério caso os deputados sejam compensados com outra pasta, como o Ministério de Ciência e Tecnologia. Hoje, os deputados peemedebistas comandam, além do Turismo, o Ministério da Agricultura. Na cota do vice, a Secretaria de Aviação Civil, chefiada por Moreira Franco, é classificada também como pasta sob esfera dos deputados peemedebistas.

O PMDB ainda não desistiu também de ocupar o Ministério da Integração Nacional, pasta que ficou no centro das polêmicas com o governo. A área chegou a ser prometida inicialmente para Vital do Rêgo. Depois, Dilma ofereceu-a ao senador Eunício de Oliveira, que recusou.

O PMDB avaliou que o convite ao senador cearense fazia parte de uma estratégia da presidente para tirar Eunício da disputa pelo governo do Ceará para beneficiar o governador do Estado, Cid Gomes (Pros).

Fonte: Folha Online

Temer desautoriza líder do PMDB e defende aliança com PT

Pesquisas em poder do Palácio do Planalto indicam que Dilma cresce quando reage a pressões políticas e rejeita o ''toma lá dá cá''

O vice-presidente Michel Temer desautorizou, neste domingo, 9, o líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), que chegou a pregar o rompimento da aliança do PMDB com o governo. Poucas horas antes de se reunir com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio da Alvorada, Temer disse que "o PMDB quer manter o casamento com ela e não vê chance de divórcio".

"Não é A nem B ou C nem sou eu quem vai dizer se o partido vai para um lado ou para o outro. É a convenção nacional que decide o que deve ser feito", disse Temer ainda em Tietê (SP), sua cidade natal, onde esteve hoje para receber uma homenagem antes de voltar a Brasília. "Tem dois terços que pensa em manter o casamento e, portanto, a maioria é pela manutenção da aliança, como eu."

No fim da tarde, antes do encontro com Dilma, Temer convocou um seleto grupo do PMDB para uma reunião no Palácio do Jaburu. No encontro ficou decidido que o PMDB não esticaria mais a corda com a presidente nem endossaria as posições de Cunha. A portas fechadas os peemedebistas avaliaram que o bate-boca com o PT só prejudicava o próprio PMDB, que aparecia diante da opinião pública como fisiológico.

"Vou levar para Dilma uma mensagem de concórdia", avisou Temer, que pretende repetir a dobradinha com Dilma, na campanha da reeleição, ocupando a vaga de vice. "A presidenta quer ter uma aliança muito sólida e quer fazê-la prosperar. É conversando que se entende. Tenho certeza de que vai dar certo." Mesmo após a troca de acusações e insultos entre dirigentes do PT e do PMDB, Temer disse não acreditar na cisão. "É uma situação passageira e logo estará superada."

CÚPULA - Foi esse, também, o tom da conversa de Temer com os presidentes do PMDB, Valdir Raupp (RO); do Senado, Renan Calheiros (AL); da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e com o líder do partido no Senado, Eunício Oliveira (CE), antes da reunião com Dilma.

À noite, a presidente ofereceu novamente o Ministério do Turismo para o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) e não se mostrou disposta a ampliar o espaço do PMDB na Esplanada. Nem mesmo as ameaças de Eduardo Cunha surtiram efeito. A estratégia de Dilma consiste em isolar Cunha e tirar a vaga do Turismo da zona de influência da bancada da Câmara, passando a cadeira para um nome do Senado. Temer se comprometeu a consultar os dirigentes do partido.

A ideia da presidente é nomear o senador Vital para o Turismo, na vaga de Gastão Vieira - deputado licenciado do PMDB que deixará o posto para concorrer a novo mandato - e deixar o Ministério da Agricultura sob comando de um apadrinhado de Temer. Até agora, o mais cotado para substituir Antônio Andrade na Agricultura é Neri Geller, hoje secretário de Políticas Agrícolas.

"Tudo o que não precisamos agora é dessa crise entre aliados em ano eleitoral. Se avançarmos um pouco nas alianças regionais, o clima já começa a distensionar", disse Raupp. Dos 27 Estados, o PT e o PMDB só têm parcerias garantidas, até agora, nos palanques do Distrito Federal, Pará, Sergipe e Amazonas. A situação é considerada dramática no Rio e na Bahia, onde as duas legendas se tratam como inimigas.

Pesquisas em poder do Palácio do Planalto indicam que Dilma cresce quando reage a pressões políticas e rejeita o "toma lá dá cá". Foi assim quando ela fez a "faxina" administrativa que derrubou sete ministros, em 2011, e está sendo assim agora, de acordo com levantamentos de opinião pública feitos pelo marqueteiro João Santana.

Embora o ex-presidente Lula tenha aconselhado sua sucessora a ser mais "política" e conversar com a cúpula do PMDB, ela preferiu chamar apenas Temer para o encontro reservado de hoje. Após provocar mais divisão entre as alas do PMDB, Dilma agora quer fortalecer o vice, que deve chancelar todas as indicações do partido para o primeiro escalão. Colaborou Mariângela Gallucci.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Aécio Neves: Carta ao Sérgio

Sérgio, meu amigo.

Há três dias nos despedimos de você, em uma Recife consternada pela perda do homem público admirado em todo o país. Entre tantos de nós que fomos levar à sua família o nosso respeito, lutei para não me deixar tomar pela emoção da hora. Foi impossível não revisitar nossas caminhadas pelo Brasil e os encontros que marcaram nossa convivência.

Penso que algo estranho acontece quando nos despedimos de pessoas que nos são tão especiais. Por um lado, parece que envelhecemos subitamente, transformados em sobreviventes de outros tempos e histórias já vividas. Por outro, encontramos nessas mesmas histórias novos sentidos e o ânimo necessário para seguir em frente.

Nesses dias, com justiça, o país inteiro ouviu de seus companheiros de jornada --e mesmo de adversários tradicionais-- inquestionáveis elogios às virtudes que embalaram a sua vida pública. Quase sempre, o conciliador dedicado à construção de novas convergências em favor do país foi também lembrado como o crítico feroz aos desvios, malfeitos, contradições e desarranjos da vida nacional, especialmente presentes neste nosso trecho de história.

As mais de três décadas de intensa militância política --e nem mesmo as doenças graves que o abateram-- foram capazes de esmorecer uma indignação juvenil que, sei, movia-lhe, como se mantivesse intocado o líder estudantil da juventude e aquelas sempre grandiosas esperanças.

Guardo comigo uma grande admiração pela leveza e alegria com que você sempre conduziu as suas responsabilidades, afastando da política o peso do rancor e do confronto pessoal estéril. Talvez por isso, quase todas as suas relações nesse campo tenham se transformado em boas amizades. Da mesma forma, sou testemunha do seu esforço sobre-humano para não permitir que o líder tomado por compromissos se sobrepusesse ao pai dedicado, que de longe se afligia com a caminhada dos quatro filhos.

Outra imagem que ficou foi a do ativista em luta permanente e admirável pelas grandes causas do país. Do Brasil pobre, injusto e desigual, que continua existindo de forma dramática ainda mais visível no Nordeste, razão maior de sua militância política.

Sei que não o ouviremos mais recontando casos acontecidos com a gente simples do sertão pernambucano, de onde tirava exemplos e lições. Não o veremos cobrando à política nacional respeito aos brasileiros. Não o teremos mais à mesa, fazendo a defesa intransigente dos valores democráticos. Mas cuidaremos, querido amigo, com respeito e reconhecimento, para que suas ideias e seus compromissos se multipliquem na voz e na caminhada de cada um de nós pelo Brasil.

Com gratidão, Aécio.

Aécio Neves é senador e presidente nacional do PSDB

Fonte: Folha e Portal do PSDB

José Roberto de Toledo: Origem e destino do leitor

Se você está lendo este artigo em um jornal impresso, você faz parte de uma minoria. Ou melhor, de uma minoria da minoria. E não é só por causa da qualidade duvidável deste texto. A leitura de jornais em papel no Brasil limita-se a 25% da população. Descontados os leitores ocasionais, que dão uma lida só um dia ou outro, sobram apenas 10% que leem quatro vezes ou mais por semana.

Não, não é uma questão educacional. Nunca houve tantos alfabetizados, nem nunca tantos brasileiros completaram o ciclo escolar, inclusive o nível superior. Um dos desafios do jornal em papel é que mesmo entre os diplomados a sua leitura é rara: 56% nunca leem, e só 14% o fazem diariamente. É uma questão de tempo. Quem lê jornal passa uma hora lendo. E no resto do dia?

Cerca de 3 horas e 40 minutos, em média, são gastas na internet. A proporção é essa, um internauta dedica 3,5 vezes mais tempo à tela do que um leitor passa folheando seu jornal. E ele já não é mais a minoria. Metade dos brasileiros de 16 anos ou mais costuma usar a internet intensamente: 36% da população usa-a quatro vezes ou mais por semana; 26%, diariamente.

Por isso, é mais provável que você esteja lendo esta numeralha (fruto de uma pesquisa do Ibope encomendada pela Presidência da República e divulgada sexta-feira) num computador, tablet ou celular. As edições online das publicações que se originaram no papel têm, em geral, mais leitores hoje na rede do que nas suas versões impressas. Muito mais. Mas há uma diferença fundamental.

Enquanto o leitor de papel passa uma hora lendo um ou dois jornais, o internauta pulveriza seus 220 minutos diários entre dezenas de sites, checando suas redes sociais prediletas, e lendo e respondendo mensagens de e-mail. Num, a leitura é concentrada e contínua. No outro, dispersa e fragmentada.

Quando se trata de informação, essa diferença tem consequências. No papel, quando a edição é bem feita, há história e contexto. Uma foto remete a uma reportagem, que é explicada por um texto analítico. Uma informação puxa a outra, formando uma narrativa. O leitor tem um roteiro entre seções e assuntos. Na internet, o internauta ricocheteia num eterno entra e sai dos sites.

Um dos motivos que acentua essa mudança radical de comportamento é que o papel da primeira página está sendo substituído progressivamente pelas redes sociais. Em vez de passar pela capa de um portal, é grande a chance de você ter chegado a este texto através de uma rede social - e voltar para lá depois de lê-lo.

Segundo a pesquisa do Ibope, o Facebook é o site mais frequentado pelos internautas brasileiros para "se informar": 31% citaram espontaneamente o nome dessa rede social como uma de suas duas principais fontes de informação online. Recebeu quase cinco vezes mais citações que o segundo colocado. Não é só aqui.

Nos EUA, o tráfego de internautas enviado pelo Facebook para páginas online de veículos de imprensa cresceu 170% em 2013.

Twitter, Facebook, Pinterest e Linkedin são a nova vitrine das notícias da internet, mas há um problema: desconfiança. Só 1 em 4 internautas brasileiros confia sempre ou na maioria das vezes nas notícias que vê nas redes sociais. É o mesmo grau de falta de credibilidade que afeta os blogs.

Por comparação, a taxa de confiabilidade das notícias publicadas pelos jornais impressos é mais do que o dobro: 53% dos seus leitores confiam sempre ou quase sempre no que leem ali. Credibilidade é, portanto, o capital remanescente dos jornais.

Como se explica, então, a liderança da rede social no mercado de informação se há tanta desconfiança quanto ao que está ali? O internauta se adapta selecionando amigos no Facebook e quem vai seguir no Twitter. O risco é as pessoas se limitarem a guetos de quem tem as mesmas opiniões que elas e afastarem os diferentes. Diminuir a pluralidade é um passo na direção do preconceito.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Ricardo Noblat: Pobre Pezão!

“O Brasil não quer mais DilmaEduardo Campos, governador de Pernambuco

A sete meses da eleição e com cabos eleitorais como Sérgio Cabral e Eduardo Paes, o aspirante a candidato do PMDB ao governo do Rio de Janeiro, Luiz Fernando de Souza, o Pezão, prescinde de adversários. Cabral parece acuado pelo tráfico de drogas, que retoma o controle de áreas tidas como pacificadas. Paes atravessa seu pior verão. Um verão devastador para a imagem dele de prefeito bem-sucedido.

Arrisca-se a ser amaldiçoado quem criticar o projeto da Secretaria de Segurança Pública do Rio de instalar polícias comunitárias em favelas sob o domínio do tráfico de drogas. Ai de quem criticar!
Compreensível. Jamais o Estado ousara combater o tráfico. Até que Cabral juntou-se ao delegado José Mariano Beltrame, atual secretário de Segurança Pública. E o Estado ousou.

Ao projeto deu-se o nome de Unidade de Polícia Pacificadora – UPP. E ele foi um sucesso. Ainda é um sucesso. Mas pode deixar de ser. E tudo porque Cabral não fez direitinho o dever de casa prescrito por Beltrame.Instalar UPPs em favelas seria o primeiro passo para desalojar dali os traficantes. O segundo seria dotar as favelas de serviços básicos – saneamento, luz, água, e por aí vai. Cadê os serviços básicos?

Cabral reelegeu-se surfando na própria coragem de enfrentar o tráfico. Em seguida, deu-se por satisfeito. Ao invés de pisar fundo no acelerador, tirou o pé. O tráfico intuiu que chegara a hora de contra-atacar. E o fez com raro oportunismo. O contra-ataque está só começando. Lembra a cena dos traficantes fugindo em massa do Complexo do Alemão no Morro da Misericórdia? Foi exibida à farta pelas emissoras de televisão. Pois bem: os traficantes estão de volta subornando e matando policiais. Em algumas favelas, sentem-se fortes o suficiente para dar ordens que serão obedecidas de imediato. Exemplo: “Fechem o comércio” – e o comércio cerra suas portas.

Que delícia para os que pretendem derrotar Pezão, não é? “Vou manter e reforçar as UPPs”, dirá Pezão. Ouvirá de volta: “Essa promessa já foi feita. E não foi cumprida. Faça outra”. Pobre Pezão... Com um cabo eleitoral do porte de Cabral... Ou do porte de Paes...

O prefeito da Copa do Mundo e das Olimpíadas 2016 gosta de viver perigosamente. Não foge de confrontos. Provoca-os. E quando eles escasseiam, sai à procura de novos. Isso pode ser bom para ele – e em certos momentos foi. Mas também pode ser mal. No momento está sendo mal.
O aumento do preço das passagens de ônibus foi o estopim das passeatas de junho do ano passado.

Paes cancelou o aumento. Restabeleceu-o agora. A cidade está repleta de obras. Não se discute a necessidade delas. O acúmulo de obras, porém, atrapalha o tráfego. Os táxis se recusam a frequentar pedaços importantes da cidade. Os ônibus sofrem por ser obrigados a frequentar. Quanto ao metrô... Sua expansão arrasta-se aos cuidados do governo do Estado. Fez tórrido calor? A culpa é de Paes. Tem chovido? A culpa é dele. A cidade fede? Debite-se na conta do prefeito.

Calor e chuva nada têm a ver com o prefeito. A greve dos garis teve. Quer dizer: a falta de um plano de contingência para fazer face a uma greve como aquela. O prefeito, que joga lixo no chão, chamou a greve de motim. Depois recuou e concedeu o aumento pedido pelos amotinados. Perdeu. E aí? Aí...
Coitado de Pezão!

Fonte: O Globo

Renato Janine Ribeiro: Não temos alternância no Planalto

Temos sucessão, não alternância, na Presidência

Uma tese fundamental da democracia é a da alternância no poder. Isso significa que duas forças políticas, ou às vezes mais que duas, disputam a hegemonia política, e a vitoriosa numa eleição pode muito bem perder a seguinte, ou uma seguinte. Pode, não. Deve. Os partidos assim se alternam, de modo que mais se "está no poder" do que se "tem" (ou "conquista") "o poder". Ninguém é dono, na democracia, do poder.

Mas temos tido alternância no poder federal, nosso poder mais forte, porque define a economia? Não exatamente. Temos tido sucessão, não alternância. Explico. Três principais partidos presidiram a República desde o fim da ditadura. O PMDB, após José Sarney, deixou de ser competitivo em termos presidenciais. O PSDB perdeu três eleições sucessivas, deixando o Planalto, e a maior parte dos analistas não prevê sucesso para ele este ano. Pior até, ele corre o risco de perder para Eduardo Campos a posição de líder da leal oposição ao PT, o que sangraria a agremiação tucana, com quadros e votos migrando para uma nova estrela da política - que, por sua vez, se posicionaria bem para a copa eleitoral de 2018.

Mas mesmo o PT que, depois do susto de meados do ano passado, quando a candidatura Dilma perdeu quase metade das intenções de voto em questão de semanas, se recuperou e agora até tem a chance de ganhar as eleições já no primeiro turno - mesmo ele corre o risco de se esvaziar até 2018 e de não ter um nome competitivo para o que seria um quinto mandato petista. Não discuto aqui se isso é melhor ou não para o país. O que quero dizer é que temos, hoje, uma situação circunstancial: um esvaziamento de nomes que sejam bons candidatos, nos dois partidos de clara vocação presidencial; e uma condição estrutural: nossos partidos, quando deixam a presidência, param de ser competitivos. Uma derrota na eleição presidencial pode significar, se não o beijo da morte, pelo menos uma anemia séria, que preserva parte dos seus ganhos políticos, mas não permite que volte aos momentos de glória.

Tudo isso são hipóteses, mas que convém explorar. Começando pelos candidatos prováveis, os dois partidos que há vinte anos dividem a cena política exibem certo desgaste. A alternância de dois governadores paulistas como candidatos do PSDB se esgotou. Alckmin até teve, em 2006, menos votos no segundo turno do que no primeiro. Serra expôs sua incapacidade de crescer. Ficou como candidato Aécio Neves que, porém, segundo os analistas, não decola. Já do lado petista, o próprio nome de Dilma Rousseff surgiu depois de liquidadas as candidaturas da primeira geração partidária, Dirceu, Genoino e Palocci por escândalos, Tarso por não ter apoio no partido. Na geração deles, talvez reste Jaques Wagner, mas que não tem tido exposição nacional. O nome cada vez mais citado para 2018 é o de Fernando Haddad, mas é delicado um partido apostar num nome único (o mesmo problema do PSDB, quando conta apenas com Aécio), ainda mais porque a cidade de São Paulo é uma caixa preta, que pode muito bem levar um prefeito seu ao fracasso.

Curiosamente, é a terceira força que tem o maior estoque de nomes. A aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva pode tanto reforçá-los quanto se estressar. Mas a soma de PSB e Rede tem um traço promissor, na medida em que propõe tirar-nos de uma cansativa polarização entre PT e PSDB. Ambos foram ministros de governos petistas, ambos hoje garimpam votos entre os tucanos. O PT adotou como estratégia desconstruí-los, apresentando-os como traidores; o PSDB prefere lisonjeá-los, vendo neles possíveis aliados para o segundo turno. Mas também o partido de Aécio tem, neles, uma ameaça. Se levarmos em conta o desgaste tucano e o apelo da aliança Eduardo-Marina, é possível que o amálgama, por enquanto mal feito, entre socialistas que não defendem o fim do capitalismo e sustentáveis que foram da ecologia para a economia, acabe dando certo.

O que temos, então? Se o PSDB ganhar, começa uma história nova. Se perder mas ficar em segundo lugar, terá que se reconstruir, para deixar de ser o perdedor constante da nossa política federal. Mas, se cair a terceiro, pode baixar para dimensões equivalentes às do atual DEM, pálido fantasma do que já foi. Para o PT, a vitória é o melhor cenário, como por sinal para os tucanos, mas coloca a questão do candidato em 2018, tema que não é trivial. Já a derrota pode ser calamitosa. O PT aprendeu a ser governo e esqueceu como é ser oposição. Não terá candidato nato para 2018, nem poderia ungi-lo a partir de uma posição de poder. Pelo menos, é improvável que o PT fique em terceiro lugar. Finalmente, o PSB+Rede é o contendor que ganha em qualquer cenário. Vencendo a eleição, isso é óbvio. Mas, se tiver o segundo lugar, desbanca o PSDB e sangra esse partido. Eduardo e Marina assim se posicionam bem para 2018. Para eles, mesmo o terceiro lugar, se for conquistado com uma votação honrosa, é positivo, porque os mantém no páreo.

Mas cabe a questão que iniciava o artigo. Parece que no Brasil os partidos são razoavelmente bons para disputar o poder mas, depois de passar por ele, perdem a garra competitiva que os fez chegar lá. O PT vive um desgaste, até natural, de ser governo por doze anos. Mas o PSDB vive o desgaste, esquisito, de ter sido governo no passado, doze anos atrás. Dá vontade de brincar, dizendo que nossos partidos, depois de passarem pela Presidência, não conseguem se desestatizar, voltar à livre concorrência... Parece que nossa política federal opera por uma série de sucessões, não pela ida e vinda característica da alternância. Por quê, é uma boa pergunta.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Fonte: Valor Econômico