O Globo
O elogio a Maduro é só a superfície. No
fundo, a esquerda volta as costas a quem a apoiou, enquanto os conservadores se
agrupam com eficácia
No final do século passado, cobri o êxodo
dos refugiados do comunismo albanês nos portos da Itália. Em seguida, viajei
pelos países bálticos que acabavam de se liberar. Virou o século, e viajei
algumas vezes para Pacaraima, onde entrevistei centenas de refugiados da
ditadura venezuelana.
A compreensão da violência desses regimes é
parte de minha experiência pessoal, para além da teoria e dos livros. Não é
minha tarefa argumentar com quem ainda tem uma visão romântica do comunismo.
Muito menos convencer políticos e diplomatas experientes que envelheceram com
suas convicções ideológicas inabaláveis.
Ao receber Maduro com pompa e afirmar que
as acusações contra a Venezuela são apenas narrativas, Lula sabia
das consequências. Como dizemos na economia, a repercussão negativa já estava
precificada. Uma das vertentes da discussão é precisamente discutir esse preço,
abstendo-se de repisar os argumentos que nos distanciam.
É uma ilusão imaginar que a defesa do regime chavista afasta apenas o centro e a direita. O presidente do Chile, Gabriel Boric, não concorda com ele, e é preciso muito malabarismo para excluí-lo do campo da esquerda.