O Globo
Diante do choque entre as promessas e as
dificuldades, a viagem à China parece ser o escape ideal para formular melhor o
que apresentará ao país quando os cem dias chegarem
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
parece assombrado pela contagem regressiva para que seu terceiro governo
alcance a simbólica marca dos cem dias. Trata-se, é claro, de uma efeméride
boba. Pouco mais de três meses não são suficientes para ditar o sucesso ou
fracasso de uma gestão de quatro anos, mas os próprios governantes alimentam
essa cobrança ao preparar planos e balanços como se vivessem sob o rigor das 12
badaladas do conto da Cinderela e fossem virar abóbora depois de 10 de abril.
Com Lula não é diferente. Pelo contrário. A
conjunção de economia que anda de lado, país dividido politicamente,
popularidade que não chega nem perto da que ele já ostentou nos tempos áureos
pré-2010 e governabilidade ainda não garantida está pressionando o chefe do
Executivo para além do padrão quando se aproxima essa primeira linha divisória
dos mandatos.
O adiamento da apresentação do tal marco fiscal tem a ver com esse fantasma. Lula não quer errar. Por isso submeteu a proposta de Fernando Haddad a um longo e confuso test drive. Não só não a chancelou de primeira, como recomendou ao ministro rodar mais um pouco — apresentá-la ao Congresso, à Junta Orçamentária, quiçá à gigantesca comitiva que vai à China — para amaciá-la antes que se transforme em Projeto de Lei Complementar.