• Principal partido aliado do governo federal decide hoje sobre reedição ou não da aliança vitoriosa em 2010, mas vai propor programa de governo que confronta bandeiras petistas, como a regulação da mídia e a reforma política via plebiscito
João Domingos - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O PMDB deve decidir nesta terça-feira, 10, em convenção nacional por uma nova aliança com o PT para a disputa presidencial e a repetição do nome do vice-presidente Michel Temer na chapa de Dilma Rousseff. Mas o partido pretende apresentar um projeto de programa de governo que contraria bandeiras petistas, a exemplo da regulação dos meios de comunicação e da reforma política via plebiscito.
Segundo o presidente interino da legenda, senador Valdir Raupp (RO), no almoço da cúpula peemedebista ocorrido ontem no Palácio do Jaburu - residência oficial de Temer -, foram estabelecidas “condições” para a repetição da aliança vitoriosa de 2010. Na prática, são posições que estarão no documento a ser aprovado pela convenção a fim de explicitar as diferenças com o partido de Dilma.
Do almoço participaram, além de Temer e Raupp, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o líder do partido no Senado, Eunício Oliveira (CE), o ex-presidente José Sarney (AP), o senador Jader Barbalho (PA) e o deputado Eliseu Padilha (RS).
A convenção terá início à 9h, no Auditório Petrônio Portella, no Senado. A presidente fará uma visita aos peemedebistas.
Dilma, no entanto, mostrou-se precavida. Só pretende aparecer na convenção entre 16h e 17h, depois de proclamado o resultado da votação dos delegados. Temer chegará primeiro, por volta das 15h, a tempo de ver a apuração do resultado.
O PMDB pretende defender a reforma política deixando claro que ela só poderá ocorrer via Congresso, sem consulta popular como querem os petistas.
O PMDB também aproveitará o documento com suas propostas de governo para defender um governo de responsabilidade fiscal a partir de 2015, com o tripé tradicional, baseado em metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário para que o pagamento das dívidas seja honrado. Dilma flexibilizou o tripé, que Lula havia herdado de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e manteve com rigidez. Sob o atual governo, o câmbio passou a ser “administrado” com decretação de alíquotas de IOF, dependendo da cotação, a inflação deixou de ser combatida para voltar ao centro da meta (4,5%), mas tolerada até o limite superior (6,5%), e o superávit primário caiu em volume, sendo atingido com manobras contábeis.
A maioria dos economistas, inclusive conselheiros de Dilma, como Delfim Netto, é hoje crítica da chamada “nova matriz econômica”, por não ter impulsionado o PIB e, ao mesmo tempo, permitido um certo descontrole inflacionário.
“Nosso programa de governo será oferecido à chapa para a campanha presidencial. Deverá se fundir ao programa do PT, porque o mais importante é a manutenção da aliança”, disse Raupp.
Rebeldes. Há na cúpula do PMDB otimismo quanto à reedição da aliança com o PT para a disputa presidencial, mas sem garantia de apoio pleno.
Nas últimas checagens feitas por Temer, a conta era de que os partidários da coligação deverão obter entre 70% e 75% dos votos, numa hipótese otimista; e cerca de 55%, numa versão pessimista. “O que interessa é vencer. Pode ser por 51%”, disse Temer no início da noite, ao visitar núcleos do PMDB reunidos em diversos auditórios da Câmara.
Os rebeldes peemedebistas querem a “neutralidade” do partido na eleição - sem apoiar Dilma ou outro candidato.
A confiança exibida pela cúpula peemedebista para a reedição da dobradinha com o PT na disputa presidencial é baseada na resolução de alguns problemas nos Estados, considerados de difícil solução. É o caso de Goiás. O PMDB do Estado concordou em apoiar a coligação federal com o PT, apesar de não ter obtido dos petistas a adesão à candidatura do ex-governador Iris Rezende. Em Goiás, o PT decidiu lançar a candidatura de Antonio Gomide, ex-prefeito de Anápolis. Como agradecimento pelo voto dos goianos na aliança com o PT, Michel Temer e Valdir Raupp vão a Goiânia amanhã à tarde participar da convenção que vai sacramentar a candidatura de Iris.
Também no Ceará há problemas na convivência do PMDB com o PT. Mas o senador Eunício Oliveira, que disputará o governo, concordou em apoiar a coligação com os petistas. Disse que não vai liderar nenhuma dissidência. O deputado Danilo Forte (CE), porém, acha que a vitória dos que defendem a aliança não será tranquila. E que o PMDB não deveria se curvar à aliança apenas para sacramentar o nome de Temer. “O PMDB não pode se prender ao projeto de uma pessoa”, disse o deputado.
Raupp informou ontem que o PMDB deverá lançar candidatos ao governo em 19 Estados. Em vários deles, estará junto com o PT, como no Pará, Amazonas e Tocantins. Em outros, seguirá separado. É o caso de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul. Já ficou certo que o PMDB não lançará candidatos ao governo no Acre, Amapá, Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Pernambuco, Roraima e Santa Catarina. Quanto aos candidatos ao Senado, o PMDB deverá lançar apenas dez. Segundo Raupp, por causa do grande número de partidos envolvidos na eleição, as vagas de senador terão de ser negociadas com outras legendas. Ele acha que se o PMDB eleger seis senadores poderá comemorar.