quinta-feira, 24 de maio de 2012

OPINIÃO DO DIA – Marco Aurélio Melo: contas-sujas

É o faz de conta. A Constituição Federal tem o princípio da razoabilidade. Será que é razoável dar a quitação eleitoral mesmo diante da rejeição das contas? Não se avança culturalmente cassando uma decisão de um tribunal superior mediante lei, principalmente quando se decide em causa própria. Essa aprovação não deixa bem na fotografia os congressistas.

Marco Aurélio Melo, ministro do STF. O Globo, 24/5/2012

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Dilma fará vetos ao Código Florestal de olho na Rio+20
Contas-sujas na eleição provocam indignação
Só 5% das obras da Copa estão prontas
Legislativo também vai abrir salários

FOLHA DE S. PAULO
Greve de 12 horas no metrô para SP e provoca tumulto
A dois anos da Copa, 40% das obras ainda não saíram do papel
No dia do acordo da CPI, governo fez liberação atípica de verbas

O ESTADO DE S. PAULO
Só 5% das obras da Copa estão prontas
Liberação de crédito sobe 8% em abril
Delta recebeu R$ 718 milhões de Estados
Militância gay do PT pressiona Haddad

VALOR ECONÔMICO
Saída de dólares é a maior desde 2008
Argentinos aguardam máxi
Fundos mais populares ficam fora de corte de taxas
Bolsa Família amortece os efeitos da seca

CORREIO BRAZILIENSE
Câmara Legislativa, nova em folha, já vai ser reformada
Cargos de confiança só com a ficha limpa
Corrupção: “Um negocinho” para Demóstenes

ESTADO DE MINAS
Manobra abre brecha a 180 contas-sujas
Dilma deve vetar partes do Código Florestal hoje


ZERO HORA (RS)
Nova lei derruba tabu do sigilo nos salários dos órgãos públicos
Copa X Burocracia

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Novo tumulto expõe clima tenso na Funase
PT do Recife tem mais um Dia D
Banco Central reage e segura alta do dólar

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Convite lançamento - Uma Sociologia Indignada

Segue o convite para o lançamento do livro Uma Sociologia Indignada. Diálogos com Luiz Werneck Vianna (Organização: Rubem Barboza Filho e Fernando Perlatto), no dia 30/05 às 17 horas, na PUC-Rio.

O livro conta com artigos de Luiz Werneck Vianna, Fransico Weffort, José Murilo de Carvalho, Maria Alice Rezende de Carvalho, Lilia Moritz Schwarcz, Gisele Silva Araujo, Lucia Lippi Oliveira, Robert Wegner, João Marcelo Ehlert Maia, Beatriz Helena Domingues, Ricardo Benzaquen de Araújo, Maria Emilia Prado, Antonio Carlos Peixoto, Raul Francisco Magalhães, Cicero Araujo, Rogerio Dultra dos Santos, José Eisenberg, Juliana Neuenschwander Magalhães, Marco Aurélio Nogueira, Marcelo Baumann Burgos, André Botelho, Cesar Guimarães, Luiz Sergio Henriques e Marcelo Ayres Camurça.

O Programa de Ciências Sociais da PUC-Rio, o CEDES e o Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora convidam para o lançamento do livro Uma Sociologia Indignada. Diálogos com Luiz Werneck Vianna, organizado pelos professores Rubem Barboza Filho e Fernando Perlatto

Dia 30/05, às 17 horas, no Salão da Pastoral (no subsolo da Igreja) da PUC-Rio

Mesa Redonda: Luiz Werneck Vianna, Maria Alice Rezende de Carvalho, Manuel Palácios, Rubem Barboza Filho

Lançamento e Coquetel em seguida

Freire critica falta de competência, ousadia e imaginação no pacote do governo

Por: Valéria de Oliveira

O deputado federal Roberto Freire (SP), presidente nacional do PPS, disse, nesta quarta-feira, que o pacote econômico do governo federal carece não só de ousadia, “mas também de competência e de imaginação”. Para ele, isso fica demonstrado na insistência em políticas de incentivo ao consumo exacerbado, que já trouxeram um recorde de inadimplência, e "na fixação de um cacoete lulodilmista, de conceder beneficios quase que unicamente à industria automotiva".

O consumo é importante quando corresponde a um crescimento real dos investimentos e da produção. Quando é criado quase artificialmente, com uma enxurrada de crédito de qualquer forma, com todas as facilidades e com incentivo desbragado para consumir é, evidentemente, arriscado, porque pode provocar bolhas econômicas. "Não devemos esquecer, mesmo guardando as proporções das respectivas economias, do que aconteceu nos Estados Unidos com a bolha do subprime habitacional, causa direta da grande crise que enfrentou o sistema capitalista mundialmente”, afirmou.

Consumo e inadimplência

O deputado fez essa crítica durante a reunião que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, participou no Senado. “O pacote tem um erro de concepção, pois tenta retomar níveis de consumo que, em alguns aspectos e no momento mostram certa saturação no mercado. E mais, com o agravante de que o endividamento das famílias, principalmente as de mais baixa renda, está muito alto e começa a ser cobrado, vide o claro e exponencial crescimento da inadimplência".

Freire lembra que a população se endividou muito desde 2010, quando Lula já optou por esse caminho para tentar enfrentar, de forma "ligeira", a crise que ele dizia ser uma "marolinha". O então presidente incentivou um consumismo exagerado, na avaliação de Freire, ao mesmo tempo em que buscava a eleição de Dilma Rousseff. “Acabou deixando esse fardo que agora a presidente tem de carregar. A crise está ai e com forte impacto na economia" .

Só automóveis

Segundo Roberto Freire, quando trata do problema da desindustrialização, “o governo só enxerga a indústria automotiva”. Ele ironizou: “Vai ver é cacoete de que Lula era trabalhador que surgiu nos sindicatos da região do ABC, fundamentalmente vinculado às montadoras. Tudo é feito com foco nesse setor”.

Para o presidente do PPS, pouco importa ao governo se o Ministério da Ciência e Tecnologia tem cortes, porque não há real incentivo para as inovações tecnológicas, “que podem ter um impacto muito maior para processos de desenvolvimento do que o incentivo a venda de eletrodomésticos da linha branca e de automóveis”.

Investimento

A opção correta é o investimento, defendeu Freire. “O Brasil está com um nível baixíssimo de investimentos públicos”, afirmou. “Isso é que teria de ser buscado: incentivo à poupança e aumento dos investimentos por exemplo na ampliação e modernização da ossa infraestrutura".

Freire acha que a infraestrutura, "que está em pandarecos no Brasil", deve ser priorizada. Na avaliação dele, essa alternativa poderia ser uma grande oportunidade para o Brasil enfrentar a crise e, ao mesmo tempo, vislumbrar a perspectiva de uma economia que possa se desenvolver com sustentabilidade em boas estradas, portos, aeroportos, ferrovias, transportes nas cidades e energia, dentre outros.

FONTE: PORTAL DO PPS

Delta recebeu R$ 718 milhões de Estados

Principal empreiteira do Programa de Aceleração do Crescimento, a Delta Construções também faturou alto em contratos diretos com 18 administrações estaduais. Levantamento feito pelo Estado identificou pagamentos que somam R$ 718,24 milhões em 2011

Novo alvo da CPI, Delta nacional levou R$ 718,2 mi com negócios em 18 Estados

Caso Cachoeira . Um dia após comissão parlamentar do Congresso ter anunciado intenção de investigar todos os contratos e obras da empreiteira no País, levantamento identificou pagamentos de governadores da base e da oposição à construtora envolvida no escândalo

Alfredo Junqueira

RIO - Principal empreiteira do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e protagonista do terremoto político provocado pela Operação Monte Carlo da Polícia Federal, a Delta Construções também faturou alto em contratos diretos com 18 administrações estaduais. Levantamento feito pelo Estado nos bancos de dados dos governos identificou pagamentos que somam R$ 718,24 milhões no ano passado. O total arrecadado pela construtora nos Estados equivale a 83,3% dos R$ 862,43 milhões que a empresa faturou em obras e serviços prestados ao governo federal no mesmo período. Ou seja, somente em 2011 a Delta Construções recebeu R$ 1,58 bilhão em recursos públicos federais e estaduais.

A capilaridade da empresa, que está presente em quase todo o País, explica a reduzida disposição inicial da CPI instaurada no Congresso Nacional de investigar as atividades da empresa para além da Região Centro-Oeste – onde o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, se estabeleceu como uma espécie de sócio oculto da construtora. Anteontem no entanto, a comissão anunciou que pretende focar todos os negócios A revelação de que Cláudio Abreu e Heraldo Puccini Neto, diretores da empresa indiciados pela Operação Saint-Michel, do Ministério Público do Distrito Federal, tinham procuração para movimentar contas nacionais da construtora deve forçar a CPI a ampliar suas investigações. E os parlamentares terão farto material de análise nas administrações estaduais. Além de obras, reparos e manutenções, os tesouros e staduais t ambém contrataram a empresa, que pertencia a Fernando Cavendish, para prestação de serviços de limpeza (R$ 92,45 milhões com o Distrito Federal) e locação de veículos para a área de segurança pública (R$ 16,54 milhões com Mato Grosso), por exemplo. O maior faturamento da Delta nos Estados ocorreu no Rio de Janeiro, sede da matriz da empresa.

Só em 2011, a empreiteira recebeu R$ 302,8 milhões da admi- nistração fluminense – a maior parte veio do Departamento de Estradas de Rodagem local (DER-RJ): R$ 98,7 milhões. Amigo íntimo de Cavendish, o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) tornou-se um dos potenciais alvos da CPI depois que o ex-governador e deputado fe- deral Anthony Garotinho (PR- RJ) publicou em seu blog fotos e vídeos de festas, shows e jantares com o peemedebista, o em- presário e suas respectivas mulheres na França e em Mônaco. Nos cinco anos e cinco meses de gestão de Cabral, Cavendish faturou R$ 1,49 bilhão no Rio. A relação de amizade colocou Cabral na berlinda e pode levá-lo a prestar esclarecimentos à CPI, apesar das manobras de integrantes da comissão para blin- dar os governadores.

Terra natal. Depois do Rio, o tesouro estadual que mais pagou à Delta foi o de Pernambuco, Estado de origem da empreiteira, fundada em 1961 por Inaldo Soares – pai de Cavendish. No ano passado, o governdor Eduardo Campos (PSB) assinou pagamentos à construtora que totalizaram R$ 105 milhões. O Distrito Federal, de Agnelo Queiroz (PT), outro cotado para depor na CPI por causa das relações de ex-assessores com Cachoeira, aparece em terceiro na lista, com R$ 92,8 milhões. Logo após, com R$ 51,9 milhões, vem Goiás, do tucano Marconi Perillo – governador em situação delicada por causa de sua relação pessoal com o contraventor. Os contratos em vigor podem fazer com que os valores pagos à Delta por algumas administrações estaduais se multipliquem nos próximos anos. Apesar de constar com apenas R$ 3,16 milhões em desembolsos no ano passado, o governo do Amazonas, administrado por Omar Aziz (PSD), por exemplo, assinou quatro contratos no valor total de R$ 143,8 milhões no último trimestre de 2011.

O governo está auditando os processos e admite rescindi-los. O mesmo ocorre no Espírito Santo, do governador Renato Casagrande (PSB), que pagou R$ 3,8 milhões à empresa no ano passado, mas que tem ainda outros contratos, que totalizam R$ 90 milhões com a construtora. Gravações feitas pela PF na Operação Monte Carlo revelaram que Cachoeira e a Delta cobiçavam entrar em Estados como Santa Catarina e Paraná, cujos portais de t ransparência das administrações estaduais informam não terem feito nenhum pagamento à construtora no ano passado. A Região Sul ainda era um local inexplorado pelo esquema, pois no Rio Grande do Sul também não há registro de contratos com a empresa. As assessorias do Amapá, da Bahia, de Minas Gerais, da Paraíba e de Rondônia também afirmaram que não fizeram pagamentos à Delta.

Esquema só não atingiu Região Sul

Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná não firmaram nenhum contrato com a Delta no ano passado.

Gravações da PF indicam que esquema de Cachoeira ambicionava fechar negócios na região.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Abatido, Cabral defende viagens ao exterior

Quinze segundos bastaram para governador do Rio sumir, após discurso no palácio do governo

RIO - A batido, mais magro, ombros arqueados, olhos pesados. Na primeira aparição pública desde a troca de mensagens de celular com o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), falou pouco, mas revelou muito. Sua fisionomia durante a solenidade de outorga de financiamento a pesquisadores, na manhã de ontem, demonstrava todo o desgaste pelo qual o peemedebista vem passando desde que se tornaram públicas fotos e vídeos em que aparece confraternizando com o dono da Delta Construções, Fernando Cavendish, em festas e jantares em Paris e Montecarlo. Cabral permaneceu no salão nobre do Palácio Guanabara, sede do governo do Rio, por pouco mais de uma hora. Discursou durante 15 minutos e desapareceu em 15 segundos, quando a solenidade foi declarada encerrada.

Saiu para as dependências internas do palácio driblando até os políticos do interior, que queriam bajulá-lo. O governador evitou a imprensa. Não falou, nem sequer dirigiu o olhar às câmeras e máquinas fotográficas que se posicionaram bem à sua frente. Antes dele, o vice-governador Luiz Fernando Pezão e o secretário de Ciência e Tecnologia, Alexandre Cardoso, fizeram uma espécie de desagravo a Cabral, chamando-o de “governador da segurança, da educação, da saúde, do desenvolvimento”, entre outros elogios. Em seu discurso, Cabral esboçou um resumo das conquistas de sua administração. De maneira discreta e sem fazer citações nominais, comparou sua gestão com as dos ex-aliados e atuais inimigos Rosinha e Anthony Garotinho (PR) – este responsável por divulgar as constrangedoras imagens dos colóquios europeus do peemedebista e do dono da Delta. O governador usou parte de seu discurso para defender suas viagens ao exterior. Citou três exemplos de investimentos estrangeiros que, segundo ele, vieram para o Rio depois que ele foi se encontrar com empresários em Londres, na Inglaterra, Boston e Nova York, nos Estados Unidos.

Apesar de também citar empresas francesas que ampliaram suas instalações no Rio, Cabral não fez nenhuma referência a suas viagens a Paris. Crise política, convocação à CPI, Cavendish, “você é nosso e nós somos teu (sic)” também foram temas que passaram em branco na solenidade do abatido Cabral. / A.J.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Base aliada tenta impedir CPI no Rio

Na Assembleia, pedido de abertura de comissão está parado desde o dia 2 e ainda não foi colocado em votação

Marcelo Gomes

RIO - Não é só na CPI do Cachoeira no Congresso Nacional que o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho (PMDB), está sendo "blindado" pela base aliada.

Na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) o quadro é o mesmo: os deputados estaduais nem sequer votaram um pedido de abertura de CPI, protocolado em 2 de maio, para analisar todos os contratos celebrados entre a Delta Construções e o governo do Estado desde 2000.

O projeto de resolução é de autoria do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), mas a presidência da Casa se recusa a pôr o texto em votação em plenário. Para que a CPI seja instalada, são necessários 36 votos a favor. A Alerj possui 70 deputados.

"O primeiro contrato da Delta com o governo do Rio é de 2000. Para não dizerem que estamos perseguindo esse ou aquele governo, pedi para investigar todos os contratos até hoje, que englobam os mandatos do casal Garotinho e de Cabral", disse Freixo, que é pré-candidato à Prefeitura do Rio.

Enquanto a Alerj não vota o projeto de resolução, o parlamentar iniciou coleta de assinaturas pedindo a abertura da comissão. Neste caso, são necessárias 24 assinaturas, mas até o momento apenas 14 deputados aderiram - nenhum deles do PT, cuja bancada tem 6 parlamentares.

"O PT tem dois secretários no governo e precisa agir com responsabilidade. A decisão da maioria da bancada foi não assinar a CPI porque até agora não apareceu nada de ilegal entre a Delta e o governo. Você pode até dizer outras coisas em relação àquelas fotos de festas e restaurantes (em Paris), mas ilegal não é. Se aparecer qualquer indício de irregularidade, o PT será o primeiro a pedir abertura de CPI", explicou o deputado André Ceciliano, líder do partido na Alerj.

O presidente da Casa, Paulo Melo (PMDB), tem a mesma justificativa. "Não existem elementos para uma CPI. Se surgir alguma suspeita de irregularidade entre a empresa e o poder público, aí, sim, vamos investigar. Relação pessoal não é motivo para abertura de investigação no Parlamento", alegou.

Questionado se o ideal seria colocar o projeto de resolução em votação no plenário para a maioria dos deputados decidir se abre ou não a CPI, Paulo Melo foi enfático: "Quem decide a pauta da Assembleia é o presidente. Pressão eleitoral ou midiática não vai influenciar a minha decisão".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Fim de sigilo da Delta põe PT e PMDB em crise

Relator apoia estender investigação à direção nacional da empresa e a Cavendish e irrita sigla aliada, que cogita não apoiar convocação de Perillo

Eugênia Lopes

BRASÍLIA - O PT e o PMDB estão em pé de guerra depois de o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), ter defendido a quebra do sigilo bancário da Delta Construções em nível nacional e de seu principal acionista, Fernando Cavendish.

Diante da crise, Cunha optou ontem pela cautela. Mas o deputado confidenciou a correligionários que fez uma reavaliação da blindagem da empreiteira e que, diante das evidências, não tem como evitar que as investigações recaiam sobre a Delta nacional e seu proprietário. A decisão irritou o PMDB, em especial a ala ligada ao governador do Rio, Sérgio Cabral. Ele é amigo de Cavendish, com quem viajou para o exterior. Os peemedebistas alegam que a quebra de sigilo da Delta é uma reivindicação da oposição para tirar o foco do governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, que estaria envolvido com o esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Com a provável aprovação da quebra dos sigilos da Delta, os peemedebistas estão certos de que a oposição terá munição para pedir a convocação de Cabral. Em represália, o PMDB passou ontem a trabalhar com a ideia de não se aliar ao PT para convocar Perillo. Dizem que é mais fácil, agora, não aprovar a convocação de nenhum dos governadores alvo de denúncias.
‘Não é nosso’. Por ora, a cúpula do PMDB tenta manter postura de distanciamento. A alegação é que Cabral nunca foi “nosso” –ou seja, do PMDB – e não haveria motivos para o partido se empenhar na sua defesa. O líder da sigla na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), avisou que não pretende trocar seus titulares na CPI – Luiz Pittman (DF) e Íris Araújo (GO). Eles prometem votar a favor da quebra do sigilo. Segundo integrantes da CPI, Cunha cogitou tornar a sessão de hoje em administrativa, para aprovar a quebra dos sigilos da Delta nacional e de Cavendish.

O relator teria sido demovido da ideia pelo próprio PT. “Não se pode fazer uma reunião administrativa nas coxas”, disse o ex-líder Cândido Vaccarezza (PT-SP), ao garantir que apoia a decisão de pedir a quebra dos sigilos. Para os aliados, Cunha mudou sua postura e resolveu contra-riar a blindagem à Delta porque está preocupado com sua imagem. O petista sonha em ser candidato ao governo de Minas, em 2014, e não quer “queimar” sua biografia. Ele estaria passando por processo semelhante ao que ocorreu na CPI dos Correios, quando o presidente Delcídio Amaral (PT-MS) e o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) também mudaram de comportamento ao longo das investigações e denunciaram a existência do “mensalão” no governo Lula.

Cunha decidiu ampliar a apuração após documentos da Operação Saint-Michel – deflagrada pelo Ministério Público do Distrito Federal após a Monte Carlo – apontaram que os ex-diretores da Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, e no Sudeste, Heraldo Puccini, tinham procuração para movimentar dinheiro em contas nacionais da empreiteira.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

No dia do acordo da CPI, governo fez liberação atípica de verbas

No dia do acordo que esvaziou as investigações da CPI do Cachoeira, o governo Dilma fez liberações atípicas de verbas para obras de políticos do PMDB e de alvos da comissão, relatam Gustavo Patu e Leandro Colon.

O dinheiro para atender emendas dos parlamentares chegou a R$ 53,5 milhões no dia 16, enquanto a média diária no ano é de R$ 11,6 milhões. A Presidência negou vínculo com a CPI.

Governo fez liberação atípica de verba no dia de "acordão" na CPI

Dinheiro para atender emendas dos parlamentares chegou a R$ 53 mi, contra média diária de R$ 12 mi

Verbas foram para obras de políticos do PMDB e de alvos da comissão, que engavetou ação contra governadores

Gustavo Patu, Leandro Colon

BRASÍLIA - No dia da celebração do acordo que esvaziou as investigações da CPI do Cachoeira, o governo Dilma Rousseff liberou verbas para redutos de caciques do PMDB e de alguns dos alvos da comissão -incluindo políticos próximos ao próprio Carlos Cachoeira.

Os registros diários dos desembolsos federais apontam, no dia 16, quarta-feira da semana passada, um salto dos recursos destinados às despesas incluídas por deputados e senadores no Orçamento, conhecidas como emendas parlamentares.

As operações coincidem com o entendimento, negociado entre governo e parte da oposição, para engavetar os pedidos de investigação de três governadores, cinco deputados e dos negócios da empreiteira Delta fora da região Centro-Oeste.

Para detectar os recursos destinados ao varejo político, a Folha acompanhou as 20 ações de governo que mais concentram emendas parlamentares. A despesa com essa amostra chegou a R$ 53,5 milhões no dia 16, enquanto a média diária é de R$ 11,6 milhões no ano.

A maior liberação feita pelo Ministério do Turismo, de R$ 5,4 milhões, já mereceu agradecimento público no site do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), responsável por indicar o presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB).

O dinheiro, de uma emenda da bancada do Estado, irá para obras rodoviárias entre Piranhas e Arapiraca -cujo prefeito, acompanhado por Renan, esteve no dia com o ministro Gastão Vieira em busca de verbas.

Depois de Alagoas, o Estado mais beneficiado pelos desembolsos pesquisados pela Folha foi Goiás, palco da maior parte dos eventos e personagens das investigações.

Sede dos negócios de Cachoeira, Anápolis ganhou R$ 2,6 milhões do Ministério das Cidades para a obras de pavimentação. Trata-se de um convênio assinado desde 2010, mas que só agora recebeu a primeira parcela dos R$ 4,9 milhões previstos.

A cidade é administrada por Antonio Gomide (PT), irmão do deputado e também petista Rubens Otoni, um dos que escaparam de serem ouvidos pela CPI sobre suas relações com Cachoeira.

Ligada ao empresário na região, a construtora Delta tem três contratos com o município. Segundo a prefeitura, nenhum está relacionado ao convênio com a União.

Rio Verde (GO) obteve R$ 2,1 milhões para infraestrutura, pavimentação e drenagem na periferia. O convênio é do final de 2009, mas até então só haviam sido desembolsados R$ 976 mil.

O prefeito, Juraci Martins, que trocou o DEM pelo PSD, é antigo aliado do senador Demóstenes Torres, que se desfiliou do DEM e responde a processo de cassação devido a ligações com Cachoeira.

Outra liberação, de R$ 3,1 milhões, beneficiou Caracaraí (RR). No sábado, Romero Jucá (RR), um dos principais nomes do PMDB no Senado, foi à cidade inaugurar obras feitas com dinheiro federal.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

JBS faz lobby para preservar contratos da Delta na União

Empresário já se reuniu com Michel Temer, ministros e governadores

Joesley Batista também procurou as centrais sindicais; Força cogita fazer manifestações em defesa dos empregos

Natuza Nery, Catia Seabra

BRASÍLIA - O empresário Joesley Batista, do grupo JBS-Friboi, está fazendo um périplo por Brasília em busca de apoio à aquisição da empreiteira Delta, alvo do escândalo investigado pela CPI do Cachoeira.

O objetivo de Batista é sensibilizar o Palácio do Planalto e evitar que a empreiteira seja declarada inidônea, possível resultado de um processo aberto pela Controladoria-Geral da União após suspeitas do envolvimento da empresa com o grupo do empresário Carlinhos Cachoeira.

Com isso a Delta não poderia contratar com o governo nem receber aditivos de obras federais já iniciadas. Para o Executivo, esse risco é real.

Após ter recebido recados da presidente Dilma Rousseff negando apoio do governo à aquisição da Delta, empresa que mais recebeu verbas federais desde 2007, Batista passou a operar nos bastidores. Nos últimos dias, ele se reuniu com ministros, integrantes da CPI e com o vice-presidente, Michel Temer.

Joesley também procurou governadores -com quem a empresa fez contratos- e centrais sindicais alegando que a inviabilização da Delta implicaria a demissão de mais de 30 mil funcionários.

Algumas centrais, sobretudo a Força Sindical, cogitam fazer manifestações em apoio à manutenção dos empregos.

Nas conversas com interlocutores de Dilma, o empresário reitera, com uma cópia em mãos do contrato de opção de compra da Delta, que ainda não comprou a empresa e que só fechará definitivamente a operação se a empreiteira for financeiramente viável.

Ao vice-presidente e a ministros, entre eles José Eduardo Cardozo (Justiça) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Batista tem dito também que as declarações de seu irmão, José Batista Júnior, foram uma "infelicidade".

Em entrevista à Folha, Júnior afirmou que "era conversa de bêbado dizer que o governo não tinha conhecimento da operação [de compra]".

Segundo relatos, essa frase deixou Dilma furiosa. A interlocutores, ela disse jamais ter sido procurada pelo empresário para tratar do caso. Apesar do esforço de pacificação, o Planalto desaprovou o assédio de Batista a integrantes de sua equipe. Joesley diz que sua pauta nos ministérios vai além da Delta e rechaçou qualquer hipótese de confronto com o governo: "Não vamos brigar com o governo. Jamais. Ninguém pode brigar com cliente".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Contas-sujas na eleição provocam indignação

A manobra da Câmara para permitir o registro de candidatos com contas de campanha rejeitadas, proibido pelo TSE, provocou reações. O ministro Marco Aurélio Mello disse que deputados agiram em causa própria. O Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral criticou a pressa e cobrou do Senado a rejeição do projeto. Ontem, a aplicação da Ficha Limpa para cargos comissionados foi aprovada por comissão do Senado.

Reação firme contra contas-sujas

Judiciário e movimentos de combate à corrupção contrários à liberação de candidato com contabilidade reprovada

Isabel Braga, Cristiane Jungblut

BRASÍLIA - A decisão da Câmara de aprovar um projeto que acaba com a exigência da aprovação das contas de campanhas eleitorais e reabilita os chamados "contas-sujas" provocou reações negativas no Judiciário e nos movimentos da sociedade que lutam contra a corrupção na política. Políticos e especialistas eleitorais, no entanto, defendem a medida. Um dos que votaram no Tribunal Superior Eleitoral, em março, pela necessidade de aprovação das contas eleitorais para que o político possa se candidatar, o ministro Marco Aurélio Mello alfineta os parlamentares e diz que não foi a primeira vez que o Congresso Nacional reagiu a uma decisão de tribunais superiores, aprovando leis em causa própria. Para o ministro, a proposta acaba, na prática, com a prestação de contas, pois não haverá consequência para as desaprovadas.

- É o faz de conta. A Constituição Federal tem o princípio da razoabilidade. Será que é razoável dar a quitação eleitoral mesmo diante da rejeição das contas? Não se avança culturalmente cassando uma decisão de um tribunal superior mediante lei, principalmente quando se decide em causa própria. Essa aprovação não deixa bem na fotografia os congressistas - afirmou Marco Aurélio.

Em nota, o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) repudiou a aprovação de afogadilho, sem qualquer debate popular, de uma mudança na lei eleitoral. O movimento espera que o Senado rejeite o projeto e conclamou a sociedade a se manifestar contra o ato. "Sem qualquer debate popular (a Câmara) aprovou lei que anistia os políticos que fraudaram suas prestações de contas de campanha", diz um trecho da nota. "O Projeto de Lei nº 3839/2012 atenta contra tudo o que deseja a sociedade brasileira, que se encontra mobilizada em favor dos valores da ética e da moral, que devem presidir as declarações do Parlamento."

Políticos e especialistas eleitorais argumentam que nem sempre a rejeição de contas eleitorais é sinal de contas-sujas. Segundo eles, na maioria das vezes são problemas contábeis, erros formais, provocados pela burocracia para prestar a informação à Justiça eleitoral. Quando há uma irregularidade grave na campanha, os adversários ou mesmo o Ministério Público podem tentar cassar o registro e o mandato do candidato, com base em outro artigo da lei.

- Nem sempre a rejeição da conta é sinal da chamada contas-sujas. A prestação é mais do ponto de vista contábil e as exigências são, de tal forma, intricadas, que o candidato quase que precisa parar a campanha para prestar as contas de forma adequada - afirmou o advogado eleitoral e ex-ministro do TSE, José Eduardo Alckmin.

No Congresso, o líder do PSD na Câmara, Guilherme Campos, justifica que a votação ocorreu porque o TSE estava demorando a definir algo que afeta a vida de todos os partidos:

- O TSE alterou a regra com o jogo jogado. O que fizemos foi manter o mesmo critério.

Debate agora será no Senado

Líder do PSOL - único partido que encaminhou voto contra a aprovação do projeto na noite de anteontem -, o deputado Chico Alencar (RJ) diz que, a pretexto de defender quem teve contas rejeitadas por pequenos erros contábeis, se manteve um absurdo maior: uma lei na qual não há qualquer sentido em prestar contas eleitorais, já que a rejeição não traz ônus.

- Essa lei acaba com o instituto da prestação de contas. Prestar contas por que motivo, se não é preciso aprová-las para ter a quitação eleitoral? A lei é um facilitário para toda e qualquer candidatura, de bagrinhos a tubarões, ninguém precisará se preocupar em prestar contas corretamente - disse Chico Alencar.

O deputado Pauderney Avelino (DEM-AM), que também votou contra, disse que o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), desconsiderou projeto seu que reforçava a necessidade de aprovação das contas para concorrer, que já tramitava desde março e, sem qualquer debate, votou o projeto oposto, de interesses dos partidos, apresentado em maio. Foram 13 dias entre a apresentação da proposta e a aprovação do projeto em plenário.

- Simplesmente ignoraram meu projeto, que foi apresentado antes. Eles tinham que, antes de aprovar o do Balestra, ter derrotado o meu - criticou Pauderney.

No Senado, o líder do governo, Eduardo Braga (PMDB-AM), acredita que o debate lá será maior. Braga afirmou que este não é um tema do governo, mas que, como senador, é contra a norma que obriga a aprovação das contas para que o candidato tenha a chamada quitação eleitoral:

- Mudar a regra do jogo para trás é algo que prejudica muitas pessoas, que não prestaram as informações não por dolo, mas por desinformação.

Há dois meses, logo após depois da resolução do TSE de não conceder registro eleitoral para os políticos que tiveram contas eleitorais rejeitadas, parlamentares da oposição e governistas se uniram para pedir que o tribunal revogasse a decisão. Da reunião participaram dirigentes e representantes de 18 legendas.

FONTE: O GLOBO

CPI. Papel assumido pelo PMDB no bloqueio a grande objetivo do PT::Jarbas de Holanda

A CPMI poderá caminhar rapidamente para fraudar a expectativa favorável que gerou na oposição pública confirmando sua restrição a “bagrinhos” (como a imprensa avaliou as con-vocações para depoimentos feitas em sessão da semana passada). Ou conseguirá ainda re-cuperar ao menos parte dessa expectativa de-cidindo a extensão delas para apuração das grandes conexões do grupo de Carlos Cachoei-ra nos planos empresarial e político, que envol-vem vários governos estaduais e o federal. Possibilidade tornada mais improvável pelo completo silêncio com que o próprio Cachoeira reagiu na sessão de ontem às perguntas e acu-sações que lhe foram dirigidas. E cenário que parece inviável em face da forte barragem do Palácio do Planalto – esta com apoio do PMDB – a que se aprove tal extensão.

Mas, mesmo que, lamentavelmente, se frus-tre o propósito explicitado, de identificação e desmonte de uma ampla rede de corrupção, o funcionamento da CPMI nas duas primeiras semanas conseguiu bloquear, quase inviabili-zando já, o objetivo básico que levou o presi-dente Lula e a direção do PT a patrocinarem sua criação. Esse objetivo era o uso dela como mecanismo para neutralizar o julgamento do mensalão, esvaziando-o, desacreditando-o ou forçando mais uma protelação. E foi posto em prática através de três propostas centrais dos petistas: 1ª - restrição seletiva das apurações a políticos e administradores oposicionistas (para banalização dos crimes atribuídos aos réus do mensalão) e, sobretudo, ao governador de Goi-ás, Marconi Perillo, como vingança pela revela-ção feita por ele de que informara pessoalmen-te o presidente Lula sobre ações dos mensalei-ros antes da explosão do escândalo; 2ª – con-vocação do Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, para depoimento na Comissão, onde seria acusado de retardamento de opera-ção da PF contra Cachoeira (a fim de intimidá-lo e desqualificá-lo no referido julgamento pelo STF); ; e 3ª - convocação, também de um jorna-lista da Veja, Policarpo Júnior da sucursal de Brasília, para tentar associá-lo a Cachoeira e desacreditar a revista, como parte de outro ob-jetivo do PT: o controle da mídia. As três pro-postas (a segunda rechaçada pelo STF) não prosperaram na Comissão.

O bloqueio a elas deveu-se basicamente à direção do PMDB. Quanto à primeira, por inte-resse especificamente partidário: o de proteger o correligionário governador fluminense, Sérgio Cabral. E a postura contrária às outras duas adotada com base em análise e cálculo de im-plicações políticas e institucionais, ligados às eleições deste ano, à disputa das mesas direto-ras do Senado e da Câmara em 2012 e ao plei-to presidencial de 2014. Tais análise e cálculo recomendaram distanciamento claro em relação ao PT no processo do mensalão e resistência a passos direcionados ao controle da mídia. Ca-be assinalar que essas posturas do PMDB – (envolvendo articulação com o PSDB e decisi-vas para o fracasso das propostas do lulope-tismo) – foram facilitadas por um obstáculo adi-cional com que este não contava: o mal-estar da presidente Dilma quanto à própria criação da CPMI (vista por ela como fator negativo para o governo em face do risco de envolver contratos e autoridades federais) e o seu cuidado de dis-tinguir-se do empenho do antecessor de buscar a todo custo o controle da mídia.

“Tiro no pé” – Trechos da coluna de Merval Pereira, no Globo de domingo, com o título acima: “O flagrante da mensagem do deputado petista Cândido Vacarezza garantindo imunida-de ao governador do Rio, Sérgio Cabral, é mais uma confirmação de que essa CPI do Cachoei-ra está se revelando o maior erro dos últimos tempos do grupo político que está no poder”. “Por enquanto, está dando tudo errado. A tenta-tiva de constranger os ministros do Supremo (com a convocação do Procurador Geral Rober-to Gurgel) resultou numa reação do Judiciário, que se viu impelido a não deixar dúvidas sobre sua independência. A vontade de procrastinar o julgamento (do mensalão) para o próximo ano... ficou tão explícita que o revisor do processo, Ricardo Lewandowski, viu-se na obrigação de anunciar que pretende apresentar seu voto ain-da no primeiro semestre, permitindo que o jul-gamento comece logo em seguida”. “Com rela-ção à imprensa, todos os esforços do senador Collor de Mello, o ‘laranja’ da tramoia petista, têm sido em vão, e as relações do PT com o PMDB estão azedando...”.

Jarbas de Holanda é jornalista

No Brasil, dívida federal vai a R$ 1,88 tri

Martha Beck

BRASÍLIA. A dívida pública federal voltou a subir em abril e fechou o mês em R$ 1,88 trilhão. O estoque aumentou R$ 24,5 bilhões, 1,32% em relação a março. De acordo com relatório divulgado ontem pelo Tesouro Nacional, a alta resultou de uma emissão líquida de títulos no valor de R$ 6,97 bilhões e da incorporação de juros que corrigem o estoque, no total de R$ 17,54 bilhões. Mesmo assim, técnicos do governo fizeram um balanço positivo do mês: apesar da forte volatilidade no mercado em função da crise internacional, o Tesouro tem conseguido emitir títulos com taxas menores.

O coordenador de Operações da Dívida Pública, José Franco, lembrou que as taxas de DI (que acompanham os juros da Taxa Selic) pagas no mercado futuro, caíram de 10,5% no início de abril para 9,85% no fim do mês. Em maio, a taxa está em 9,7%, próximo ao que o Tesouro paga para emitir títulos prefixados (LTN) que vencem em janeiro de 2016.

- Apesar da volatilidade, os fundamentos da economia continuam sólidos e os custos de captação do Tesouro tendem a cair - disse Franco.

Ele destacou ainda que, em abril, o Tesouro conseguiu manter a estratégia de reduzir a participação dos títulos atrelados à Selic (LFTs) na dívida - considerados mais voláteis. Essa parcela do estoque baixou de 26,34% em março para 26,12% em abril, o menor patamar desde 1997.

Desde o início do ano, o Tesouro tenta reduzir a emissão de LFTs e trocá-los por LTNs e outros papéis atrelados a índices de preços. O objetivo do governo é fechar 2012 com um estoque desses títulos entre 22% e 26% do total.

- A participação das LFTs deve fechar o ano abaixo de 24% do total - disse Franco.

O percentual do estoque corrigido por papéis prefixados também baixou, enquanto o dos títulos indexados subiu. A parcela da dívida com vencimento de curto prazo (12 meses) aumentou de 24,23% para 24,98% em abril e o prazo médio de vencimento do estoque, para 3,85 anos no mesmo período.

FONTE: O GLOBO

Pacotes são colcha de retalhos, diz analista

Para Samuel Pessoa, da FGV, as novas medidas de estímulo econômico não darão resultado no longo prazo

Segundo economista, desaceleração do PIB começou em 2009 e decorre do excesso de intervenção estatal

Mariana Schreiber  

SÃO PAULO - O governo já anunciou cinco pacotes de estímulo econômico desde agosto, mas o crescimento do PIB neste ano deve ficar em apenas 2,5%, estima o professor da FGV e sócio da consultoria Tendências Samuel Pessoa.

Segundo o economista, que chama os vários pacotes de "colcha de retalhos", a desaceleração econômica não é de hoje. Começou em 2009, diz, e é reflexo de um excesso de intervenção estatal na economia e da falta de reformas estruturais.

Folha - O governo já anunciou cinco pacotes de estímulo econômico desde agosto. Essa estratégia é adequada?

Samuel Pessoa - Esses pacotes em geral são voltados para o consumo, são muito pontuais e muito setoriais. É quem grita mais, você vai lá escolhe um setor. É uma colcha de retalhos, uma confusão. Mesmo as desonerações, que são boas para o produtor, aumentam a complexidade do sistema tributário.

O governo deveria ter medidas mais estruturadas?

Sim. Essa política econômica, que a gente chama de "micromanagement", de a cada coisinha você inventar um instrumento, gera confusão regulatória e tem pouco efeito de longo prazo. Falta algo mais estruturado, falta um diagnóstico melhor. Essa desaceleração do crescimento não é fruto só de questões externas. Ela aconteceu desde 2009. A taxa média de expansão do PIB desde 2009 está rodando na casa de 3%.

O que puxa essa desaceleração internamente?

A economia foi impactada pela redução da produtividade. O primeiro motivo é o fim de um grande ciclo de reformas que começou no governo Collor [1990-1992] e foi até 2005. Tudo que se fez: abrir e estabilizar a economia, privatizar setores, melhorar marcos regulatórios, uma mini-reforma tributária no governo Lula [2003-2010], tudo isso foi maturando e explica a aceleração do crescimento no governo Lula.

Em 2007, mudou a gestão econômica e começou-se a fazer um monte de medidas que reduzem a produtividade da economia. É uma política de enorme ativismo estatal, de fechamento da economia, que lembra muito o governo Geisel [1974-1979] e gera ineficiência econômica.

Além disso, depois da crise, você tem um modelo de crescimento liderado pelo consumo que gera uma expansão muito forte do setor de serviços e penaliza a indústria. E como a produtividade nos serviços é menor, a expansão do PIB fica menor.

Isso é ruim?

Esse modelo gera um crescimento menor. Mas qual o problema? As pessoas estão felizes, a popularidade da presidente [Dilma Rousseff] é alta. Mas aí tem uma questão de decisão política. A presidente pensa que a indústria é um setor estratégico para o desenvolvimento de longo prazo, exatamente porque é um setor em que a produtividade média é mais alta.

Só que para ter muita indústria tem que poupar que nem chinês, tem que investir que nem chinês. Crescer não é uma coisa fácil. Todo mundo fica louco com a exuberância da China. Vai morar lá. Vai trabalhar 14 horas por dia, poupar metade da renda.

O crescimento puxado pelo consumo está se esgotando?

A economia brasileira está em fase de transição. Estamos chegando no limite do modelo liderado por consumo e crédito. Tem um pouco de esgotamento de demanda, porque produtos duráveis [carros, eletrônicos] você não compra todo ano, e na saída da crise o governo usou muito a demanda de duráveis para manter o crescimento.

Por outro lado, aumentou muito o volume de crédito. Hoje há menos financiamento de carros não porque os bancos estão restringindo crédito, mas porque os bons tomadores de crédito já compraram seus carros e agora quem demanda crédito é gente que não tem como pagar.

O dólar acima de R$ 2 pode elevar o crescimento do PIB?

Sim. Estimula a exportação e desestimula a importação. O problema é a inflação. O limite da desvalorização do câmbio é o impacto inflacionário. Se começar a dar problema, o governo tira o IOF e esse cambio cai para R$ 1,90.

FONTE:: FOLHA DE S. PAULO

Teresa e Caetano (Fim de Romance)

O Brasil tem remédio :: José Serra

O sucesso da introdução e difusão dos medicamentos genéricos no Brasil pode ser avaliado a partir de alguns números simples: são 17 mil produtos registrados, que representam 25% do total das vendas no mercado farmacêutico; seu preço médio se situa 50% abaixo do dos remédios de marca, possibilitando uma economia acumulada, nos últimos 12 anos, de R$ 22 bilhões para a população brasileira.

O governo Itamar Franco chegou a emitir um decreto a respeito dos genéricos, dando destaque nas embalagens ao nome do princípio ativo dos remédios, em detrimento do nome de fantasia. Melhoral (lembram-se dele?), por exemplo, passaria a se chamar Ácido Acetilsalicílico, a Novalgina seria Dipirona. Antes disso, em 1991, o deputado Eduardo Jorge já havia apresentado projeto nessa linha, removendo o nome de fantasia. O objetivo era a redução do preço dos medicamentos, aumentando a concorrência e diminuindo o efeito da publicidade direta (quando permitida) ou da promoção de vendas por meio das amostras grátis. Mas o decreto não pegara e o projeto de lei ainda rolava no Congresso em 1998, quando assumi o Ministério da Saúde, no governo FHC.

O então vice-líder do governo na Câmara, deputado Ronaldo Cezar Coelho, sugeriu que déssemos prioridade ao assunto. Estudando o tema, concluímos que a remoção do nome fantasia, por si, não daria a um medicamento a condição de genérico, ao contrário do que muitos acreditavam. Isso só ocorreria se ele fosse idêntico ao produto de marca, totalmente intercambiável. Do contrário, os médicos e os hospitais o rejeitariam. Assumimos, então, a causa e preparamos um substitutivo completo, que navegaria no Congresso a bordo do projeto original. Isso seria facilitado por Eduardo Jorge, que fora um dos grandes incentivadores de minha ida para o ministério e cooperava com todas as boas políticas de saúde, independentemente de diferenças partidárias.

De acordo com o substitutivo, que virou lei, o genérico deveria passar por testes de bioequivalência e biodisponibilidade em relação ao produto de referência, tendo exatamente as mesmas eficácia, segurança, qualidade e efeito do medicamento original.

A possibilidade de implantar os genéricos no País dependia da criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, cujo projeto também enviamos ao Congresso. Concebida a partir do modelo da FDA, dos EUA, ela deveria ser formada por diretores aprovados pelo Senado, técnicos e independentes. A ela caberia arrumar e revigorar todo o setor que (mal) cuidava da vigilância sanitária no Brasil.

Os testes de bioequivalência e biodisponibilidade custam caro e precisam ser muito bem feitos. Por isso a Anvisa patrocinou a criação de laboratórios especializados, em universidades e instituições públicas. Mais ainda: impôs práticas rigorosas de boa fabricação de genéricos.

A batalha mais visível pela implantação dos genéricos foi motivada pela resistência tanto de produtores de medicamentos "de referência" (os originais) como dos produtores de medicamentos que a lei denomina como "similares", cujos princípios ativos são os mesmo dos outros, mas não são submetidos aos exames de bioequivalência e biodisponibilidade. Não são intercambiáveis. A própria lei estabeleceu que os similares devem ser sempre identificados pelo nome comercial ou marca, não pelo princípio ativo, pois não são genéricos.

A oposição inicial dos produtores de similares não se deveu a questões de preço, pois eles podiam vender até mais barato, mas ao receio de que fatias do seu mercado fossem capturadas pelos genéricos, cuja qualidade é testada. De todo modo, foi precisamente da área dos similares que saíram os primeiros empresários dispostos a fabricar genéricos, cuja expansão fortaleceu notavelmente a presença de empresas nacionais na área farmacêutica.

Estudamos a fundo e aproveitamos a experiência da Inglaterra e dos EUA, onde os genéricos perfazem 60% do mercado. Atraímos investimentos de empresários da Índia e de Israel, os mais avançados nessa área. Fizemos campanhas educativas mostrando a vantagem da adoção desse tipo de medicamento. Até tarja amarela foi introduzida nas embalagens, para facilitar a identificação do produto pelos consumidores. A letra G foi-me sugerida por um passageiro anônimo durante um voo comercial para Brasília...

Em janeiro de 2000, eu disse em entrevista: "Muitas empresas resistem não só a produzir, como fizeram até campanha contra. Mas quem produzir primeiro vai ganhar mais dinheiro. A concorrência acabará prevalecendo e, pouco a pouco, o volume de genéricos aumentará. Em menos de cinco anos, poderá absorver entre 30% e 40% do mercado".

A previsão foi acertada, exceto quanto ao volume, pelo fato de que os genéricos perderam prioridade na política de saúde no Brasil a partir de 2003. A Anvisa foi loteada entre partidos e grupos. Até o atual governador de Brasília ganhou uma diretoria na agência, depois de ter perdido uma eleição em 2006. Nesse mesmo ano foi desfeita a equipe da agência que cuidava exclusivamente do licenciamento de genéricos. O tempo para aprovação de novos produtos foi esticado duas ou três vezes, chegando a até 18 meses, mesmo para os remédios cujas patentes expiraram e ainda não há outros genéricos no mercado. Há conjecturas de que hoje não existe o mesmo rigor na fiscalização das plantas. As campanhas do Ministério da Saúde de esclarecimento sobre os genéricos foram extintas. Isso facilita práticas ilegais de muitas farmácias, que substituem a prescrição pelo similar, e não pelo genérico.

De todo modo, graças ao próprio setor privado, os genéricos se firmaram. Avançariam muito mais se o governo passasse a praticar o que está sempre a predicar: dar prioridade efetiva ao acesso da população a medicamentos essenciais, começando por reprofissionalizar a Anvisa e retornar ao ativismo pró-genéricos, visando a duplicar sua participação no consumo nacional de remédios.

Ex-governador, ex-prefeito de São Paulo

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Em busca de espaço:: Merval Pereira

O fenômeno da globalização continua sendo o centro das discussões, agora no seminário da Academia da Latinidade aqui em Pequim, realizado na Universidade Tsinghua - uma das melhores do mundo -, e um contraste interessante surgiu logo no primeiro dia de debates, com os analistas chineses tendo uma visão mais favorável do que a maioria dos ocidentais.

O professor Walter Mignolo, diretor do Centro de Estudos Globais e Humanidades da Universidade Duke e professor visitante na City University de Hong-Kong, tem uma visão negativa do fenômeno da globalização, que analisa em seu novo livro, "The darker side of Western modernity" ("O lado mais escuro da modernidade ocidental" em versão livre).

Ele vê no fenômeno a continuidade de uma tendência à lógica da colonização, que submete países periféricos aos critérios dominantes. Para Mignolo, ao contrário de países da África ou do Novo Mundo que foram colonizados diretamente, China e Japão mesmo assim não escaparam da "lógica da colonização", tendo sido envolvidos pelo conceito de "modernidade".

Mignolo vê na globalização só um instrumento dos neoliberais para tentar quebrar barreiras que atrapalham o livre-comércio, assim como conceitos como "mundo sem barreiras" e o fim do Estado-Nação seriam maneiras de continuar exercendo a "lógica da colonização".

Os estudiosos chineses que falaram ontem no seminário "Humanidade e diferença na era global" têm uma visão mais otimista dos efeitos da globalização. Wang Ning, professor de Literatura Comparada na Universidade Tsinghua, fez um interessante ensaio sobre a transposição cultural na construção de modernidades multicêntricas, afirmando que a China foi dos países na última década que tiveram mais benefícios concretos com a globalização, não apenas no aspecto econômico.

A cultura chinesa, disse Ning, passou da periferia para o centro obtendo cada vez mais aceitação. A maneira chinesa de desenvolvimento e modernização chamou a atenção do mundo.

Walter Mignolo havia descrito em sua palestra o mecanismo de dominação posto em prática pelo colonialismo, que transforma os colonizados em "menos humanos" para que possam ser explorados.
O professor Wang Ning admitiu que no passado, aos olhos ocidentais, a China e os chineses eram inferiores, mas, para isso, e diz que contribuíram descrições distorcidas e traduções, tanto quanto o preconceito cultural.

Hoje, graças ao crescimento econômico, a China aparece com outra dimensão no imaginário ocidental. No entanto, o professor Wang Ning denunciou na palestra o desequilíbrio existente na divulgação cultural, com um maior número de traduções de obras ocidentais na China do que ao contrário.

O professor defende que haja um movimento para traduzir a essência da cultura chinesa, seu pensamento e suas teorias, no maior número possível de idiomas ocidentais, para "desconstruir" o que classificou de eurocentrismo ou "ocidentecentrismo" cultural.

No entanto, ele não considera necessária uma campanha para "descolonizar" a cultura chinesa, mesmo que o inglês tenha se transformado no idioma preponderante, utilizado para a publicação de todos os estudos científicos. Walter Mignolo havia falado antes que o mundo vivia o momento da "descolonização" e da "desconstrução" de um paradigma ocidental para dar lugar à emergência de novas culturas, especialmente a dos Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Uma campanha como essa, de "descolonização", traria o perigo de isolar a China da comunidade internacional, disse Wang Ning, que, no entanto, defende que a tradução seja usada como ferramenta de divulgação do espírito da cultura chinesa pelo mundo. Ele destacou que, apesar da mudança, a cultura chinesa continua numa posição inferior ao que merece - uma cultura "profunda no conteúdo e esplêndida e rica na tradição" -, não tendo seu valor reconhecido pela maioria dos ocidentais.

Mesmo os que têm conhecimento dela não chegam a compreender seus aspectos mais profundos. Caberia às traduções levar esse espírito às outras culturas, da mesma maneira que as traduções do passado, feitas de maneira superficial, contribuíram para distorcer a imagem da cultura chinesa.

Também He Xirong, a vice-presidente do Instituto de Filosofia da Academia de Ciências de Xangai, abordou a questão da cultura chinesa dentro do quadro da modernidade.

Partindo do conceito de Foucault de que modernidade "é uma atitude" relacionada a uma maneira de agir e pensar, ela disse que com a globalização toda nação está tendo que encarar o desafio de transformar sua maneira de pensar.

Mudanças radicais foram feitas na maneira de viver das pessoas com o desenvolvimento das ciências e da tecnologia, em especial da tecnologia da informação. Como ao mesmo tempo também ocorreu a mudança de maneira de pensar, com a introdução da interação multidimensional, isso significa, diz Xirong, que as pessoas terão que encontrar equilíbrio entre integração e análise; lógica e intuição.

Para ela, a discussão da cultura asiática ganha uma outra dimensão diante da nova realidade, com muitos no Ocidente refletindo sobre sua própria cultura e buscando novas fontes no Oriente. O papel dos cidadãos asiáticos seria o de valorizar suas culturas, pois somente assim, diz ela, uma verdadeira harmonia, com intercâmbio cultural, poderia ser alcançada.

Como se vê, os chineses estão preocupados, neste estágio de seu desenvolvimento, com a disseminação de sua cultura pelo mundo, como parte imprescindível do projeto de se transformar em nação que possa se colocar como protagonista na estrutura geopolítica de poder que está sendo redesenhada.

Ao contrário do pensamento ocidental de esquerda, e de setores de nossa diplomacia, os pensadores chineses de academias relevantes como a Universidade de Tsinghua ou a Academia de Ciências Sociais de Xangai não querem se confrontar com o Ocidente, muito menos com os Estados Unidos. Querem é aproveitar a globalização para ocupar seu espaço no mundo.

FONTE: O GLOBO

Os trabalhos de Lula:: Vera Magalhães

Já se sabia, desde que Luiz Inácio Lula da Silva passou a faixa presidencial para Dilma Rousseff, que dificilmente o petista seguiria o receituário que tantas vezes recomendou a ex-presidentes como ele: discrição e distância do poder.

Lula só não esteve ainda mais ativo nesse período porque teve de parar para tratar o câncer de laringe que o acometeu. Recuperado, está presente em todas as frentes da política, da CPI ao julgamento do mensalão, passando, é claro, pelas eleições.

Resta saber se, ao abrir tantas picadas de uma só vez, o ex-presidente logrará o êxito que espera ou colocará em xeque sua habilidade de costura política, cantada em prosa e verso.

Lula concebeu uma narrativa política que passa por: 1) negar a existência do mensalão, 2) vingar-se daqueles que julga responsáveis por minar seu governo e 3) eleger seu pupilo em São Paulo para tentar apear o PSDB do poder no Estado em 2014.

Trata-se de uma tarefa hercúlea e difícil de ser cumprida na totalidade, principalmente porque, para implementá-la, Lula vai deixando descontentes pelo caminho e cobrando lealdades nem sempre exequíveis.

No bloco dos feridos já está a senadora Marta Suplicy, que, preterida em São Paulo, não perderá uma oportunidade sequer de constranger o candidato Fernando Haddad.

O time daqueles de quem Lula cobra fidelidade vai do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), a ministros por ele nomeados para o Supremo Tribunal Federal, postos diante da tarefa de dizer se o mensalão existiu ou não e se José Dirceu era o "chefe da quadrilha".

É de esperar que nem toda a orquestra toque como o maestro rege. A ideia de usar a CPI do Cachoeira como cortina de fumaça para o mensalão, por exemplo, saiu pela culatra.

Da mesma forma, se é verdade que Lula vai colher os louros de uma eventual vitória de Haddad, também é correto afirmar que será ele o grande derrotado caso o ex-ministro não vença José Serra (PSDB) em outubro.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Riacho de águas turvas:: Dora Kramer

Existem hoje três narrativas correntes no Congresso para explicar a lentidão no desenrolar dos trabalhos da CPMI que começou como caudalosa cachoeira e vai ficando parecida com um raso riacho de águas turvas.

Uma versão insinua que a comissão esteja sendo vítima de boicote por parte da Polícia Federal e/ou do Supremo Tribunal Federal que não teriam enviado material suficiente para permitir revelações relevantes.

Outra considera a demora natural. Fruto de um caminhar estratégico que, com o exame detido e cruzamento de dados, iria por si desvendando o modo de funcionamento da organização originada na jogatina goiana que depois se alastrou pelo país mediante parcerias público-privadas de natureza criminosa.

Ou seja, o espetáculo estaria só começando e a plateia não perderia por esperar a hora H.

A terceira narrativa qualifica as anteriores de pura conversa fiada, pois já haveria documentos e elementos bastantes à disposição da CPMI para se iniciarem quebras de sigilos bancários e fiscais e propiciar pedidos de indisponibilidade de bens.

Por essa linha de pensamento faltaria mesmo é interesse real de apurar os fatos, sobrando motivação política para não avançar.

Qual delas corresponde à realidade em breve o tempo dirá, não obstante no momento esteja dando razão à última.

Seja como for ou como venha a ser, fato é que a CPMI prometeu muito e mais de um mês depois de criada ainda não entregou quase nada.

Isso a despeito de, ao contrário de antecessoras célebres, já começar na posse de investigações completas e da indicação de suspeitos fortes. O pouco que produziu de concreto surgiu paradoxalmente durante o silencioso "depoimento" de Carlos Augusto de Almeida Ramos, cujo vulgo Cachoeira dá nome à comissão.
O deputado Onyx Lorenzoni quebrou a regra do comando e relevou durante a sessão a existência de provas que obrigaram o relator Odair Cunha, visivelmente irritado e constrangido, a admitir como inevitável a quebra do sigilo das contas da Delta nacional, até então restrita à filial da empresa na Região Centro-Oeste.

Lorenzoni foi atrás e descobriu provas de que o ex-diretor da regional da Delta Cláudio Abreu tinha autorização da matriz para movimentar as contas da construtora.

Além disso, perícia da Polícia Federal já havia identificado transferências de recursos da empreiteira para empresas fantasmas a partir de agências bancárias localizadas no Rio de Janeiro. Parte do dinheiro direcionado a financiamento de campanhas eleitorais.

Mesmo assim, o relator ainda insistia na inexistência de indícios suficientes para a abertura dos dados em âmbito nacional. Com a revelação inesperada, o discurso mudou: "A probabilidade de quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico da matriz da construtora aumentou muito", passou a dizer.

A CPMI decidirá sobre isso na próxima semana. Quando, então, decidirá também se emerge ou afunda na lama de uma vez.

Bombas. Não está claro ainda se é boato ou produto confirmado das investigações, mas transitam entre integrantes da CPMI duas informações.

Uma: haveria indícios de que Cláudio Abreu, diretor da Delta no Centro-Oeste, estaria desviando recursos da matriz. Em outras palavras, "roubando o Cavendish", como diz um dos porta-vozes dessa versão.

Outra: policiais militares de Goiás dariam proteção ao jogo ilegal em troca de 30% do lucro obtido por Carlos Cachoeira na venda de máquinas caça-níqueis aos donos de cassinos clandestinos.

Inconsequência. Uma pergunta a ser respondida por governantes em geral, em particular pelo candidato do PT à prefeitura de São Paulo, é como conjugar soluções para a melhoria do trânsito com os incentivos do governo federal ao aumento da compra e uso de automóveis sem a menor preocupação com o efeito colateral.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

A verdadeira CPI:: Eliane Cantanhêde

Enquanto a CPI do Cachoeira é (seria) para investigar um esquema mafioso de um empresário-bicheiro, a Lei de Acesso à Informação pode se transformar numa imensa CPI sobre os três Poderes e todos os últimos governos -o de Fernando Henrique, o de Lula e este início de Dilma. O que pode sair de "surpresas" não é fácil!

Lula até tentou, mas não colou a ideia de criar a CPI do Cachoeira para jogar as já tontas e frágeis oposições nas cordas. A comissão se transformou num espetáculo de mau gosto não só para o PSDB e o DEM, mas também para o PT, o aliado PMDB e governadores aliados ao Planalto. Um aborrecimento para Dilma.

A CPI patina em disputas partidárias, em falta de vocação (e de vontade) para a investigação e na disposição de Cachoeira de não contar os podres que ele com toda certeza sabe e só vai contar se e quando bem entender. Sem isso, dessa cartola não sai mais coelho -com a ressalva de que nunca se pode descartar um "fato novo" que ponha fogo em tudo, mas depende menos da CPI e mais da Polícia Federal e da imprensa. A sensação, portanto, é a de que é melhor deixar o esquema com a Justiça, virar a página e ir adiante.

Como? Desviando o foco e as energias da CPI para o julgamento do mensalão, as tão esperadas revelações da Comissão da Verdade, os tabuleiros das eleições municipais e, particularmente, para a Lei de Acesso à Informação, que pode ser uma "super-CPI" sem limites para investigação e sem tempo para terminar.

Se o zoológico do Cachoeira comportava um punhado de governadores, deputados, delegados, arapongas, agentes da Receita, o foco da "super-CPI" vai do funcionário miúdo a todas as instâncias hierárquicas, até os presidentes. E não se fala aqui só de desvios financeiros, mas de decisões, conchavos, interesses.

A CPI do Cachoeira faz água, mas a CPI do acesso à informação é uma torrente de possibilidades.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Trapalhadas ou conveniências:: Raquel Ulhôa

Com pose e discurso de candidato a presidente da República, o ex-ministro Nelson Jobim constrangeu o vice-presidente Michel Temer e a cúpula do PMDB, mas empolgou a plateia de um encontro nacional do partido, em Brasília, na semana passada.

Demitido pela presidente Dilma Rousseff após criticar colegas de ministério e revelar voto no tucano José Serra na eleição presidencial, Jobim, agora afastado de cargo público, voltou a "falar demais", segundo correligionários, e surpreendeu pelo tom.

O evento destinava-se à preparação de candidatos às eleições municipais a desenvolverem ações de comunicação e marketing. Jobim, que coordena um grupo criado pelo Senado para discutir pacto federativo, foi convidado a falar desse tema. Usou o assunto como mote para atacar a submissão do PMDB ao PT e cobrar dos dirigentes partidários posicionamento em relação a vários temas relativos à federação. Ao final, defendeu candidatura própria a presidente da República.

Jobim incomodou cúpula, mas base do PMDB gostou

"Não temos posição. Nos tornamos homologadores de posições que não tomamos", afirmou, dirigindo-se a Temer, presidente nacional licenciado do PMDB. "A sobrevivência do PMDB está dependendo de termos cara e voz. É o momento de termos cara e voz, porque quem não tem cara e voz curva-se. E quem se curva leva um pontapé", continuou.

Cochichos e olhares desconcertados revelavam o desconforto dos dirigentes sentados à mesa. Mas a plateia mostrava entusiasmo. Mal estar de um lado e aplausos de outro, carente de líderes. Coube ao vice-presidente responder. A irritação de Temer ficou clara nas entrelinhas e em sua postura. Falou quase o tempo todo de costas para Jobim.

Defendeu as "qualificações políticas" do PMDB, listou supostas bandeiras do partido, disse que a desunião só interessa aos adversários e considerou a candidatura própria a presidente uma questão aberta, "não vedada".

Dias antes, em jantar comemorativo aos 46 anos do PMDB, a uma plateia bem menor, fizera um discurso que repercutiu mal nas bases. Explicou o histórico adesismo do partido como uma ação em benefício do país, para garantir a governabilidade. "Nenhum governo consegue avançar sem o PMDB do lado. Então o PMDB passa a fazer coalizões, se integra à política da modernidade. Alguns acham que porque perdeu a eleição tem que ficar na oposição. Não. Quando o PMDB vai para as eleições, vai para valer, para atingir o poder. Mas, se não atinge, faz coalizões."

Jobim falou o que 99,9% dos pemedebistas gostariam de ter dito e expressou o sentimento da base do partido, segundo um dirigente da legenda. O discurso não seria fruto apenas do seu voluntarismo. Esse pemedebista lembra que ingenuidade não combina com a imagem de alguém que foi relator da Assembleia Nacional Constituinte, ministro de três governos sucessivos e presidente do Supremo Tribunal Federal.

A fala de Jobim destoa do pensamento da cúpula partidária, mas pode ser conveniente, ao mostrar que o partido tem uma ala menos submissa ao Palácio do Planalto e ao PT. "É só o Eduardo Campos começar a ser cortejado para ser o vice [numa eventual chapa de Dilma Rousseff à reeleição, em 2014] que Jobim volta correndo a ser chamado para o Palácio do Jaburu [residência oficial do vice-presidente]", afirmou um pemedebista, referindo-se à vontade de setores do PT de substituir o PMDB pelo PSB na parceria.

O partido de Temer, no entanto, não tem nomes nem trabalha na construção de opções para a Presidência da República. O último candidato que teve - Orestes Quércia, em 1994 - foi abandonado pela legenda e terminou em quarto lugar. Entre as atuais lideranças, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, já foi bem cotado, mas está desgastado pelas sucessivas enrascadas em que se envolveu. Outros nomes não passam de possibilidades futuras, como o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e o deputado Gabriel Chalita, candidato a prefeito de São Paulo - se ganhar e fizer uma gestão excepcional.

Apesar da tese do adesismo, defendida por Temer, o PMDB vive uma relação de desconfiança com o PT. O partido avalia que, se Dilma disputar a reeleição, o parceiro preferencial da aliança será o PSB do governador Eduardo Campos. De acordo com essa avaliação, o PMDB só manteria a vice se o candidato em 2014 for o ex-presidente Lula.

Para alguns, essa hipótese é reforçada por ações e gestos de Dilma. Um exemplo foi a bronca pública dada por ela no presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski. Não seria uma ação de quem pretende disputar. Lula, por outro lado, embora com problemas de saúde, já parece estar em campanha.

Com Dilma, o PMDB ganhou a Vice-Presidência, mas perdeu espaço e instrumentos de política nos ministérios, como a área da saúde, e está sendo tirado do comando do setor elétrico. Atualmente, o partido identifica movimentação do Planalto para tirar Edison Lobão do Ministério de Minas e Energia. O argumento seria apoiá-lo para presidir o Senado, o que desagrada o atual líder na Casa, Renan Calheiros. Na Câmara, teme-se que o PT não cumpra o acordo de apoiar a eleição do líder do PMDB, Henrique Alves, para a presidência da Casa.

O peso dos partidos em 2014 será decidido a partir do desempenho nas eleições municipais. A meta, segundo Raupp, é lançar o maior número de candidatos próprios aos executivos municipais e aumentar em 30% o número de prefeitos, hoje 1.175, e de vereadores (8,5 mil). Mantendo-se como partido de maior capilaridade, o PMDB espera manter sua condição de parceiro preferencial da aliança - o que afasta o sonho das bases de candidato a presidente.

No fórum realizado em Brasília, prefeitos sentados na plateia comentavam que, se percorresse o Brasil com esse discurso forte, Jobim poderia contribuir para mobilizar as bases e fortalecer o movimento por uma candidatura própria. Mas, como ele não mostra disposição para a militância partidária, a expectativa é que o PMDB continue a reboque do PT.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Os bons companheiros :: Demétrio Magnoli

De "caçador de marajás" Fernando Collor transfigurou-se em caçador de jornalistas. Na CPI do Cachoeira seu alvo é Policarpo Jr., da revista Veja, a quem acusa de se associar ao contraventor "para obter informações e lhe prestar favores de toda ordem". Collor calunia, covardemente protegido pela cápsula da imunidade parlamentar. Os áudios das investigações policiais circulam entre políticos e jornalistas - e quase tudo se encontra na internet. Eles atestam que o jornalista não intercambiou favores com Cachoeira. A relação entre os dois era, exclusivamente, de jornalista e fonte - algo, aliás, registrado pelo delegado que conduziu as investigações.

Jornalistas obtêm informações de inúmeras fontes, inclusive de criminosos. Seu dever é publicar as notícias verdadeiras de interesse público. Criminosos passam informações - verdadeiras ou falsas - com a finalidade de atingir inimigos, que muitas vezes também são bandidos. O jornalismo não tem o direito de oferecer nada às fontes, exceto o sigilo, assegurado pela lei. Mas não tem, também, o direito de sonegar ao público notícias relevantes, mesmo que sua divulgação seja do interesse circunstancial de uma facção criminosa.

Os áudios em circulação comprovam que Policarpo Jr. seguiu rigorosamente os critérios da ética jornalística. Informações vazadas por fontes diversas, até mesmo pela quadrilha de Cachoeira, expuseram escândalos reais de corrupção na esfera federal. Dilma Rousseff demitiu ministros com base nessas notícias, atendendo ao interesse público. A revista em que trabalha o jornalista foi a primeira a publicar as notícias sobre a associação criminosa entre Demóstenes Torres e a quadrilha de Cachoeira - uma prova suplementar de que não havia conluio com a fonte. Quando Collor calunia Policarpo Jr., age sob o impulso da mola da vingança: duas décadas depois da renúncia desonrosa, pretende ferir a imprensa que revelou à sociedade a podridão de seu governo.

A vingança, porém, não é tudo. O senador almeja concluir sua reinvenção política inscrevendo-se no sistema de poder do lulopetismo. Na CPI opera como porta-voz de José Dirceu, cujo blog difunde a calúnia contra o jornalista. Às vésperas do julgamento do caso do mensalão, o réu principal, definido pelo procurador-geral da República como "chefe da quadrilha", engaja-se na tentativa de desqualificar a imprensa - e, com ela, as informações que o incriminam.

O mensalão, porém, não é tudo. A sujeição da imprensa ao poder político entrou no radar de Lula justamente após a crise que abalou seu primeiro mandato. Franklin Martins foi alçado à chefia do Ministério das Comunicações para articular a criação de uma imprensa chapa-branca e, paralelamente, erguer o edifício do "controle social da mídia". A sucessão, contudo, representou uma descontinuidade parcial, que se traduziu pelo afastamento de Martins e pela renúncia ao ensaio de cerceamento da imprensa. Dirceu não admitiu a derrota, persistindo numa campanha que encontra eco em correntes do PT e mobiliza jornalistas financiados por empresas estatais. Policarpo Jr. ocupa, no momento, o lugar de alvo casual da artilharia dirigida contra a liberdade de informar.

No jogo da calúnia, um papel instrumental é desempenhado pela revista Carta Capital. A publicação noticiou falsamente que Policarpo Jr. teria feito "200 ligações" telefônicas para Cachoeira. Em princípio, nada haveria de errado nisso, pois a ética nas relações de jornalistas com fontes não pode ser medida pela quantidade de contatos. Entretanto, por si mesmo, o número cumpria a função de arar o terreno da suspeita, preparando a etapa do plantio da acusação, a ser realizado pela palavra sem freios de Collor. Os áudios, entretanto, evidenciaram a magnitude da mentira: o jornalista trocou duas - não 200 - ligações com sua fonte.

A revista não se circunscreveu à mentira factual. Um editorial, assinado por Mino Carta, classificou a suposta "parceria Cachoeira-Policarpo Jr." como "bandidagem em comum". Editoriais de Mino Carta formam um capítulo sombrio do jornalismo brasileiro. Nos anos seguintes ao AI-5, o atual diretor de redação da Carta Capital ocupava o cargo de editor de Veja, a publicação em que hoje trabalha o alvo de suas falsas denúncias. Os editoriais com a sua assinatura eram peças de louvação da ditadura militar e da guerra suja conduzida nos calabouços. Um deles, de 4 de fevereiro de 1970, consagrava-se ao elogio da "eficiência" da Operação Bandeirante (Oban), braço paramilitar do aparelho de inteligência e tortura do regime, cuja atuação "tranquilizava o povo". O material documental está disponível no blog do jornalista Fábio Pannunzio (http://www.pannunzio.com.br/), sob a rubrica Quem foi quem na ditadura.

Na Veja de então, sob a orientação de Carta, trabalhava o editor de Economia Paulo Henrique Amorim. A cooperação entre os cortesãos do regime militar renovou-se, décadas depois, pela adesão de ambos ao lulismo. Hoje Amorim faz de seu blog uma caixa de ressonância da calúnia de Carta dirigida a Policarpo Jr. O fato teria apenas relevância jurídica se o blog não fosse financiado por empresas estatais: nos últimos três anos, tais fontes públicas transferiram bem mais de R$ 1 milhão para a página eletrônica, distribuídos entre a Caixa Econômica Federal (R$ 833 mil), o Banco do Brasil (R$ 147 mil), os Correios (R$ 120 mil) e a Petrobrás (que, violando a Lei da Transparência, se recusa a prestar a informação).

Dilma não deu curso à estratégia de ataque à liberdade de imprensa organizada no segundo mandato de Lula. Mas, como se evidencia pelo patrocínio estatal da calúnia contra Policarpo Jr., a presidente não controla as rédeas de seu governo - ao menos no que concerne aos interesses vitais de Dirceu. A trama dos bons companheiros revela a existência de um governo paralelo, que ninguém elegeu.

Sociólogo, é doutor em geografia humana pela USP

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO