Correio Braziliense
A chave da política brasileira é a conciliação,
mas nossa história social é cruenta. A miscigenação é que consolidou a ideia de
um só povo e uma só nação
Uma nação é formada, historicamente, de
território, população, Estado, idioma e identidade comum, para a qual a
literatura é sua referência mais importante. Não à toa, Machado de Assis é um
totem da nossa cultura. Entretanto, há aqueles que imaginam que tudo aqui está
fora do lugar. O debate proposto, em 1920, por Oliveira Viana, sobre as nossas
instituições republicanas, 100 anos depois, está vivíssimo. Seu Populações
Meridionais do Brasil arrancou aplausos unânimes na época, com exceção de
Astrojildo Pereira — que defendia a industrialização e condenou suas teses
racistas —, um intelectual de origem anarquista, que viria a fundar o Partido
Comunista, em março de 1922.
O Centenário da Independência foi um ano do
balacobaco. Desnudou mudanças em curso no mundo e no Brasil, balançou os
alicerces da Primeira República. O otimismo da belle époque fora substituído
pelo trauma da I Guerra Mundial (1914-1918), o comunismo rondava o mundo após a
Revolução Russa de 1917. Ambições civilizatórias levaram o presidente Epitácio
Pessoa a mudar a face da capital federal para celebrar a data e sediar a Exposição
Universal do Rio de Janeiro. Em São Paulo, houve a polêmica Semana de Arte
Moderna.
Que país era esse? Com suas greves nas principais cidades, os sindicatos ganharam força. O povo queria melhores condições de vida e de trabalho. A economia da Primeira República (1889-1930), regida pela Constituição de 1891, estava mal das pernas. E lideranças militares, que não reconheciam a derrota do candidato oposicionista Nilo Peçanha nas eleições presidenciais de março, queriam impedir que Artur Bernardes assumisse a Presidência da República, em novembro.