Cenário eleitoral agitado por estreantes como Fernando Haddad e Gabriel Chalita leva tucano a apostar em Bruno Covas para 2012
Julia Duailibi
Na terça-feira, o governador Geraldo Alckmin escalou dez de seus secretários para um jantar na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes. Na pauta, a eleição de 2012. Com o objetivo de ampliar o tempo de TV do futuro candidato do PSDB, o tucano resolveu atuar diretamente na busca de aliados para a corrida pela Prefeitura de São Paulo.
Entre políticos do PPS, PV e DEM e outros seis tucanos, o titular da pasta do Meio Ambiente, o mais jovem da mesa, manteve a discrição. Minutos antes, Bruno Covas tivera uma conversa particular com o governador.
Ao ser convocado para o encontro, um dia antes, pedira ao secretário particular de Alckmin uma conversa a sós. Conseguiu meia hora na agenda, mas não precisou de todo o tempo. Em poucos minutos, na sala próxima à de jantar, disse a Alckmin que mudaria o domicílio eleitoral de Santos para a capital - o anúncio será feito amanhã. Estava, portanto, apto a entrar na sucessão de Gilberto Kassab.
Era o que o governador esperava. Desde que o escolheu para o Meio Ambiente, Alckmin já sinalizava que o neto de Mario Covas seria seu candidato em 2012, num cenário sem José Serra na disputa. A tese ganhou força à medida que o ex-governador passou a negar a entrada na corrida e o quadro eleitoral decantou em favor de nomes novos, como o ministro Fernando Haddad (Educação), no PT, e o deputado Gabriel Chalita, no PMDB. Aos 31 anos, Bruno veste o figurino da novidade eleitoral.
Numa eleição em que o governador pode pôr em xeque seu prestígio e até seu futuro, como uma eventual reeleição em 2014, Bruno atende a algumas conveniências. Tem autonomia política menor que outros pré-candidatos, como os secretários José Aníbal (Energia) e Andrea Matarazzo (Cultura). Além disso, na contabilidade eleitoral tucana, um apoio ao neto do padrinho político fará bem à imagem do governador. A população enxergaria no gesto uma retribuição.
Dois dias depois do encontro com Alckmin no palácio, Bruno preparou-se para a primeira atividade pública como pré-candidato. No primeiro Dia Mundial Sem Carro como secretário do verde, não teve como escapar da atividade física, que não é seu ponto forte: caminhou 30 minutos até o trem, pegou metrô para a Avenida Paulista e pedalou 6 km até a secretaria. O trajeto do apartamento, no Alto de Pinheiros, zona nobre de São Paulo, até o gabinete é feito normalmente no conforto do ar-condicionado do carro e em dez minutos.
"Você vai por aí que estou levando roupa na mochila, né? Não trabalho assim", disse logo no começo da caminhada, para a qual chegou vestindo bermuda e camiseta. Trazia na mão um boné promocional da secretaria que não coube na cabeça. Foi parar na mochila.
Caminhada. Bruno não tem relação de proximidade com Alckmin. Não fez parte do pequeno grupo de tucanos que permaneceu a seu lado no racha do PSDB paulista, na eleição municipal de 2008.
Na caminhada, evitou falar do chefe, a quem se refere com certa reverência. Próximo ao Parque Villa-Lobos, ligado a sua pasta, comentou: "Na segunda-feira, o governador passou de helicóptero por aqui e me ligou para saber se o Cirque du Soleil pagava para usar esse espaço. Paga R$ 1,5 milhão pela temporada".
Pouco depois, na estação do trem, não se conteve. Imitou Alckmin, escandindo as sílabas como o governador. Falou dos "se-gun-dos" que o trem economizará para chegar à estação após os "bi-lhões in-ves-ti-dos pe-lo Es-ta-do". "Ele adora um número", concluiu.
Eleito duas vezes deputado estadual - em 2010, foi o mais votado do Estado, com 239.150 eleitores -, Bruno não é um político reconhecido na rua. Ao desembarcar na Estação Pinheiros do Metrô, um jovem disse: "Votei em você". O secretário brincou com a assessora: "Esse daí foi o cara que você contratou?"
Apesar de ser de Santos, a maior parte de sua votação veio da capital. Abusou da propaganda de deputado mais atuante, após ganhar o rótulo do Movimento Voto Consciente. Na Assembleia, transformou em lei a Virada Cultural e aprovou projeto tornando obrigatória a castração de animais. Apresentou, sem sucesso, projeto de responsabilidade administrativa, que prevê a continuidade de políticas públicas.
Na campanha de 2010, gastou R$ 1,3 milhão, acima da média de R$ 400 mil dos eleitos para o cargo. O maior doador: Açúcar Guarani, que atua na produção de cana de açúcar, atividade alvo de entidades ambientalistas.
Herança. Entrou na política inspirado pelo avô, com quem morou no Palácio dos Bandeirantes até 2001, quando Covas morreu. Quando disse que queria seguir a mesma carreira, o avô retrucou: "Então vai estudar". Formou-se em direito na USP e em economia na PUC.
"Sempre tinha alguém que olhava com receio por causa do sobrenome, mas ele mostrou que queria aprender", afirmou José Alexandre Araújo, ex-presidente da juventude tucana, que foi depois dirigida por Bruno.
"Ele é uma cara nova, parece ser responsável. Mas totalmente despreparado tanto para enfrentar uma candidatura quanto para ser prefeito. Considero uma temeridade essa ideia do Geraldo", bradou um cacique tucano. Um dos outros pré-candidatos do PSDB à Prefeitura o chamou de "dissimulado" e disse que seu único ativo era o "sobrenome".
O avô tinha comportamento mais visceral. Bruno é mais calculado. "Não é dado a lances inesperados", conta Oswaldo Martins, secretário de Comunicação de Covas. "São temperamentos diferentes. O Bruno lida melhor com a comunicação que o avô. Mario Covas ignorava isso."
Colegas da juventude tucana dizem que Bruno tem uma postura conservadora. "É o jovem mais velho que conheço", disse um deles. O grupo de Bruno, que o acompanha na secretaria, participou de um quebra-quebra no diretório do PSDB em 2003. Um militante chegou a parar no hospital.
Se realmente for candidato, Bruno não será o único Covas na eleição. O tio, Mario Covas Neto, o Zuzinha, quer se candidatar a vereador paulistano. Mas o projeto não é bem-visto no palácio. "Não dá. Imagina se puxarem o fio, começa a aparecer Goro Hama e companhia", disse um aliado de Alckmin, em referência a integrantes da equipe de Covas que, assim como Zuzinha, tiveram os nomes envolvidos em escândalo na CDHU.
Secretaria. Ainda no metrô, o celular do secretário toca pouco depois das 9 horas. É o governador. Bruno se encurrala na plataforma para conversar com Alckmin. Quando desliga, pede uma ligação para a Cetesb. "Ele queria uns dados." Nada de política? "Não, ele não fala disso nesta hora."
A indicação de Bruno para o Meio Ambiente foi calculada. A pasta ganhou peso eleitoral na campanha de 2010. A atuação na secretaria daria experiência administrativa e projeção a ele. Com a missão, parou de dar aulas numa faculdade, onde ganhava R$ 800 por mês. Optou pelo salário de deputado, R$ 20.042. Mais que os R$ 14.009 pagos aos secretários.
Na saída do metrô, Bruno encontrou um grupo de ciclistas. Num estilo parecido com o de Alckmin, cumprimentou um por um, tomou cafezinho e posou para fotos ao lado de um boneco do Toddynho. Um dos jovens, programador visual de 24 anos, disse não saber quem ele era. Diante da resposta de que se trata do secretário do Meio Ambiente, afirmou: "Eu ia dizer isso. Mas na eleição tinha um monte de placa dele poluindo a (avenida) Henrique Schaumann".
Depois de 40 minutos pedalando, chega arfante à secretaria. "Me falaram que era só uma subida", disse. À frente da pasta, não é apontado como um formulador de políticas. Mas é considerado dedicado e aberto ao diálogo. "Apesar de não ter tido uma experiência anterior mais profunda com o tema, ele montou uma equipe competente", avalia Lina Pimentel Garcia, advogada especialista em direito ambiental do escritório Mattos Filho. A principal ação de sua gestão até agora sairá na próxima semana: o lançamento do marco regulatório que permitirá concessões nas unidades de conservação ambiental.
"Como entidade ambiental, gostaríamos que o secretário fizesse uma defesa mais explícita da Mata Atlântica na discussão do Código Florestal", diz Maria Cecília Wey de Brito, secretária-geral interina do WWF.
Prévia. O secretário encontrou-se com Serra antes de definir a mudança do título. Em junho, almoçaram no restaurante Marinara, no Alto de Pinheiros. Disse que o considerava o candidato natural para a Prefeitura. Serra sorriu e desconversou, enquanto pedia um prato "sem alho".
Na reunião com os secretários, Alckmin defendeu as prévias. Mas o núcleo próximo avalia que, se Serra e o senador Aloysio Nunes Ferreira não toparem a disputa, o caminho será o consenso em torno de Bruno. Leia-se: sem prévias.
Antes avesso à disputa, Bruno disse que agora topa o desafio. E, seguindo à risca o figurino de candidato, deixou a secretaria às 20 horas preparando-se para pedalar de volta para casa.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO