quarta-feira, 29 de novembro de 2023

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Conferência do clima promete pouco avanço

O Globo

O progresso que houver, ainda que necessário, será insuficiente sem limites aos combustíveis fósseis

Três temas dominarão a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, que começa amanhã. O ponto mais controverso é a tentativa de estabelecer prazo para interromper o uso de combustíveis fósseis ou permiti-lo apenas se acompanhado de compensação. Outra controvérsia cerca a ajuda aos países pobres ou emergentes para garantir a transição para a energia limpa e promover adaptações para mitigar os efeitos do aquecimento global. Há ainda a discussão sobre uma redução drástica nas emissões de metano. Apenas nos dois últimos temas espera-se algum avanço.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá apresentar em Dubai a redução do desmatamento na Amazônia como evidência da transformação do Brasil na agenda climática. Embora a devastação no Cerrado tenha aumentado e mereça atenção, a diferença deste governo para o anterior é indiscutível. Lula está certo ao buscar resgatar o protagonismo do Brasil na arena ambiental, tendo no horizonte a COP30, prevista para Belém em 2025.

Vera Magalhães - As contradições da esquerda

O Globo

Derrotas em pautas históricas no plano federal e estratégia que favorece a direita na oposição são desafios para os progressistas

A esquerda brasileira tem diante de si uma série de contradições e desafios que dizem respeito às reivindicações históricas de seus diferentes grupos e às dificuldades de exercer essa militância perante o governo que ela própria apoia, de Lula, os governos de direita nos estados e as pautas globais.

Não são poucos os temas que colocam para os grupos progressistas a necessidade de, por vezes, calar e aquiescer diante de decisões do governo federal que contrariam compromissos de reparação, equidade e promoção de políticas públicas prometidas na campanha.

A mais recente dessas ocasiões foi o desfecho da novela da indicação para a vaga de Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal. Como esperado e antecipado pela imprensa, Lula indicou um homem para a vaga. Foi Flávio Dino, mas havia outros dois homens brancos cotados. Nunca houve a cogitação de designar uma mulher negra.

Confirmada a expectativa, o protesto ficou bem aquém do que seria qualquer que fosse o presidente que ignorasse solenemente, sem nem se sentir compelido a justificar perante a militância, um compromisso de tal magnitude como promover ao menos uma mínima redução da desigualdade de gênero na mais alta Corte de Justiça do país.

Bernardo Mello Franco – Um ‘conservador raiz’ na PGR

O Globo

Gilmar Mendes ganhou mais uma. Emplacou o próximo procurador-geral da República. O supremo ministro liderou a campanha de Paulo Gonet, seu amigo e ex-parceiro de negócios. O presidente Lula não o conhecia até setembro, mas assinou a indicação na segunda-feira.

Gonet já havia tentado o cargo em 2019, quando chegou a ser recebido por Jair Bolsonaro. A deputada Bia Kicis, que defendia a escolha, garantiu que o procurador era um “conservador raiz”. A aliada do capitão sabia do que estava falando.

Nos anos 90, Gonet se opôs a reconhecer a responsabilidade do Estado pelo assassinato de vítimas da ditadura. O procurador integrava a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos. Votou contra as famílias enlutadas até no caso da estilista Zuzu Angel, que nunca pegou em armas contra o regime.

Elio Gaspari - As fábricas de crises de vapor

O Globo

Elas aparecem, criam tensão e somem

Lula vai para o final do seu primeiro ano de governo favorecido por crises que produzem apenas vapor. Os melhores exemplos estão em três episódios distintos.

O primeiro apareceu nas semanas iniciais de janeiro, quando começaram os ataques despropositados do governo contra o Banco Central. Por pouco não descambaram para insultos pessoais contra o presidente do BC, Roberto Campos Neto. Quando a grita começou, os juros estavam em 13,75% ao ano. Passaram dez meses, eles estão em 12,25% sem barulho algum. A zanga tinha muito teatro e pouca convicção.

Outro é o caso das joias sauditas. Ele vem do governo Bolsonaro, reaparece, esquenta o clima e some até sua próxima aparição. Há dias veio a informação de que o governo americano colabora na investigação. Desde o início, sabe-se que Bolsonaro embolsou joias e relógios da Viúva.

O terceiro caso é mais complexo. Trata-se da dificuldade, numérica e constitucional, que obriga o Planalto a negociar com a Câmara dos Deputados, onde o doutor Arthur Lira controla seu poderoso bloco. Desde janeiro, a cada mês aparecem notícias de operações esquisitas envolvendo-o. Elas surgem, somem e voltam. Além disso, a cada desentendimento vem a ameaça de que Lira trancará a pauta de seu latifúndio. A cada dois meses toca-se esse realejo. Nisso, o essencial vai para o fundo da cena. A fritura da presidente da Caixa Econômica foi percebida em junho. Quando ela caiu, em outubro, pareceu consequência da lei da gravidade.

Luiz Carlos Azedo - Brasil mira oportunidades na COP28, em Dubai

Correio Braziliense

O Brasil já passa por uma rápida expansão da geração de energia eólica e solar, porém a falta de investimentos e planejamento gera instabilidade no sistema energético

Cerca de 2,4 mil brasileiros deverão participar da Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (UNFCCC), em Dubai, das quais aproximadamente 400 formam a delegação do governo brasileiro. Com uma escala em Riad, capital da Arábia Saudita (cuja importância para o Brasil tem a ver com seu poder de investimento e papel nas negociações da guerra de Gaza), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está acompanhado de 12 ministros, entre os quais Marina Silva, do Meio Ambiente, uma das estrelas da COP28.

A realização da COP em Dubai, de 30 de novembro a 12 de dezembro, em si, é objeto de polêmica. Chega a ser irônico que o país-sede do evento tenha como principal negociador o presidente-executivo da empresa petrolífera estatal, Sultan al-Jaber. Petróleo, gás e carvão são vilões do clima, devido ao efeito estufa, uma das principais causas do aquecimento global, em consequência da grande liberação de dióxido de carbono na atmosfera. Com a guerra da Ucrânia e a implosão do gasoduto russo que abasteceria a Europa Ocidental, a petroleira expande sua produção, como as demais, inclusive a Petrobras.

Zeina Latif - A boiada passa e nos afasta do caminho certo

O Globo

A eficiência do setor depende de ganhos de escala, o que fica prejudicado com subsídios e “gatos”. Ao final, tudo se traduz em tarifa mais cara

Uma importante discussão entre especialistas do setor elétrico é sobre como preparar o país para os efeitos adversos das mudanças climáticas. Elas causam estresse hídrico (a água fica mais escassa), ondas de calor e chuva, e estimulam a mudança de padrões de consumo de energia elétrica, com a climatização de ambientes e, no futuro, a eletrificação da frota de veículos.

A confiabilidade no suprimento de energia é um elemento essencial para indivíduos e para o setor produtivo, e precisa ser reforçada.

O crescimento das fontes renováveis — experiência de sucesso no Brasil —, comandado pelas fontes eólica e solar, é boa notícia, mas não resolve o problema, pois elas são intermitentes, não garantindo a oferta de energia firme.

Lu Aiko Otta - Próximos passos da reforma tributária

Valor Econômico

Na visão do governo e de especialistas, a reforma tributária pecou pelo excesso de tratamentos favorecidos a produtos e serviços

Nos próximos dias, a reforma tributária voltará a se movimentar no Congresso. A Câmara dos Deputados vai analisar as alterações que o Senado Federal fez no texto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45.

O intuito nas duas casas legislativas é promulgar o texto ainda neste ano, fechando em grande estilo os trabalhos no ano de 2023: além de haver estabelecido um novo marco fiscal para as contas públicas, terá aprovado uma reforma crucial para a competitividade da economia brasileira, após quase quatro décadas de tentativas fracassadas.

Nada mau para um ano que começou com invasão e vandalismo nas sedes dos três Poderes da República, no mais grave atentado à democracia brasileira desde o fim da ditadura militar.

Assis Moreira - Juro no Brasil pode cair para 7,8% em 2025, projeta a OCDE

Valor Econômico

Entidade vê espaço para reduções contínuas nas taxas de juros ao longo de 2024 e 2025

A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Economico (OCDE) projeta agora que o crescimento da economia brasileira ficará em 3,0% em 2023 (comparado a 3,2% em setembro), desacelerando para 1,8% em 2024 (ante 1,7% estimado antes) e 2,0% em 2025, em novo relatório publicado hoje em Paris.

‘Somos bastante positivos sobre o Brasil’’, afirma Jens Arnold, chefe da divisão na OCDE que acompanha a situação brasileira. Ao explicar os ajustes nas projeções, ele nota que a economia brasileira teve um desempenho muito forte, sobretudo no começo do ano. Mas indicadores de frequência mensal sugerem um desempenho menos forte no terceiro trimestre. Isso levou a uma ligeira revisão das projeções. E implicou também levar parte do crescimento de 2023 para o ano seguinte, ou seja, é mais uma revisão do timing do que outra coisa.

Nilson Teixeira* - Avanços no governo Lula

Valor Econômico

O ano foi de conquistas, mas pessimismo de parte da sociedade é compreensível por haver muito a corrigir

O desempenho da economia brasileira neste ano foi mais favorável do que o previsto por especialistas e participantes de mercado. A mediana das projeções de crescimento do PIB em 2023, após alcançar 0,8% - mínimo de -0,4% e máximo de 2,1% - na pesquisa de 30 de dezembro de 2022 do Banco Central (BC), aumentou para 2,8% mais recentemente. As condições do mercado de trabalho também se mostraram mais benignas. A mediana das projeções para a taxa de desemprego para 2023 diminuiu de 8,9% no fim de 2022, frente aos 8,0% de 2022, para os atuais 7,7%, com vários setores, como a construção civil em São Paulo, reportando falta de mão-de-obra aos atuais salários. Do mesmo modo, a dinâmica da inflação foi mais favorável a partir de meados deste ano. Após aumentar de 5,3% no fim de 2022 para 6,1% no início de maio, a mediana das previsões de inflação IPCA para 2023 recuou para 4,5% na última semana - dentro do intervalo de tolerância, após dois anos sem seu cumprimento.

Wilson Gomes* - O papel dos memes na política

Folha de S. Paulo

As formas expressivas e concisas são parte da língua franca da era digital

Memes são parte fundamental da vida digital. Logo, da vida. Mesmo os que professam estranhas sentenças como "não tenho redes sociais", durante conversa em alguma mídia social, reconhecem que vivemos em ambientes sociais digitais.

No final dos anos 1990, os primitivos que por lá viviam ainda separavam os mundos em "real" e "virtual" enquanto diziam coisas hoje incompreensíveis como "entrar na internet". Sucessivas ondas de transformação digital, porém, unificaram a nossa experiência social. Já não há um "fora" da conexão digital; você, no máximo, modula o quanto ainda quer de vida desconectada e reza para dar certo.

Ora, se ambientes digitais oferecem hoje os recursos fundamentais para a interação, a integração e a informação, funções sociais decisivas, era de se esperar que novas linguagens surgissem e se consolidassem. Os memes, formas expressivas concisas, condensadas e que se fixam na memória coletiva, são parte da língua franca da era digital.

Bruno Boghossian – Lula, Gilmar e Moraes

Folha de S. Paulo

Petista passeia fora de seu campo político para buscar acordos que dariam estabilidade ao governo

Lula fez uma tabelinha com Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes para definir suas indicações ao STF e à PGR. A jogada importa menos pelo envolvimento político da corte na articulação e mais pelos personagens que o petista reconheceu como negociadores preferenciais no tribunal.

Gilmar e Moraes foram nomeados por adversários do PT. Nenhum dos dois fazia questão de disfarçar suas críticas ao partido ou convicções que estavam distantes da esquerda.

Se buscasse impor uma marca ideológica, Lula não teria aceitado a sugestão da dupla para emplacar o conservador Paulo Gonet na chefia da PGR. Também não teria costurado uma aliança entre os dois e Flávio Dino antes de indicá-lo para o STF.

Mariliz Pereira Jorge - Perdemos um presidenciável?

Folha de S. Paulo

Indicação pode tirar da corrida à Presidência um nome que vinha ganhando força

Subir a rampa do Planalto com representantes de uma sociedade mais diversa é fácil. Lula ficou bonito na foto que circulou nas redes sociais e que ganhou o mundo. Difícil é transformar o discurso em ações para aumentar essa participação em setores variados do Estado. O movimento que reivindicava a indicação de uma mulher, de preferência negra, ao Supremo Tribunal Federal foi vencido pelo pragmatismo do presidente.

Não podemos dizer, no entanto, que o STF não ganhará diversidade com a indicação de Flávio Dino. O ministro da Justiça se declara pardo, ignorar isso é negar sua identidade e a dos 47% dos brasileiros, segundo o IBGE. Nesse contexto, as críticas a seu nome parecem despropositadas.

Vinicius Torres Freire - Petrobras, petróleo e défict

Folha de S. Paulo

Receita da petroleira cai com baixa de preço do barril; déficit aumenta ainda mais

Petrobras vai render este ano bem menos para o Tesouro Nacional, para o cofre do governo federal. Assim, o déficit primário do governo será maior, tudo mais constante. O Ministério da Fazenda por ora estima que as despesas, afora gastos com juros, vão ser maiores do que as receitas no equivalente a 1,3% a 1,7% do PIB.

Por enquanto, ao menos até setembro, a receita líquida federal com a petroleira deve diminuir algo perto de 0,6% do PIB. É uma enormidade. A meta fiscal deste ano era de déficit de 0,5% a 1% do PIB; 1% do PIB equivale a R$ 105 bilhões.

É bem sabido que vai cair a receita do governo federal relativa a recursos naturais, dividendos e participações de estatais, concessões e permissões para de obras e serviços para a iniciativa privada.

A Petrobras não sumiu com o dinheiro, fez besteira grossa ou coisa assim. A receita da companhia diminuiu por causa da baixa do preço do barril do petróleo, dos combustíveis e até do dólar. A receita de vendas caiu de R$ 482,7 bilhões nos primeiros três trimestres de 2022 para R$ 377,7 bilhões neste ano (valores nominais).

Vera Rosa - O dilema de Lula na Esplanada

O Estado de S. Paulo

Falta de segurança afeta avaliação do governo e presidente planeja recriar Ministério em 2024

A saída de Flávio Dino do Ministério da Justiça abre nova temporada de pressões sobre o governo. Indicado para o Supremo Tribunal Federal (STF), Dino sempre foi contra separar a segurança pública da Justiça, sob o argumento de que o titular da pasta precisa ter o controle da Polícia Federal. Mas, ao menos no programa de governo – desde que foi eleito presidente pela primeira vez, em 2002 –, Luiz Inácio Lula da Silva é a favor de um modelo no qual haja a integração das polícias.

O tema virou o calcanhar de Aquiles nos governos do PT. Tanto que a Bahia, Estado administrado pelo partido há 16 anos, se transformou em campo minado de facções criminosas.

Até agora, apesar das promessas de campanha, parecia mais conveniente a Lula evitar o desgaste político e deixar tudo cair no colo dos governadores. Mas a crise vem se agravando e afeta a popularidade do presidente, às vésperas de um ano eleitoral.

Poesia | A rosa de Hiroshima - Vinicius de Moraes

 

Música | Chico Buarque - Que Tal Um Samba?