terça-feira, 28 de junho de 2011

Opinião – Roberto Freire: Desafios

"Justamente para aprofundarmos a compreensão dos atuais fenômenos políticos, econômicos, e sociais que enquadram a realidade que vivemos, e estarmos não apenas preparados para melhor respondê-los como garantirmos a melhor maneira de efetivarmos nossas deliberações, é que realizaremos no final deste ano nosso XVII Congresso. Aberto à participação de todos os democratas, filiados ou não, ao Partido para uma oportunidade de reflexão coletiva sobre o elenco de transformações a que somos desafiados a responder.

Nesse sentido é fundamental definirmos nosso campo político e sua razão de ser. Para tanto é indispensável debater o significado da esquerda no mundo atual, suas diferenças em relação ao campo da direita, assim como as divisões internas à esquerda e nosso posicionamento em relação a elas.

Esquerda significa, hoje como ontem, tomar a equidade como valor fundamental e problema principal da agenda da política. Significa reconhecer que o sistema capitalista de produção não apenas cria e perpetua a desigualdade, mas que também a justifica. E que as soluções da direita liberal e conservadora, baseadas tão somente na “lógica do mercado”, materializada no que se convencionou chamar de “racionalidade do capital”, não são, portanto, aceitáveis para nós. "

Roberto Freire, deputado federal e presidente do PPS, discurso na Câmara, conclama esquerda a se reaproximar da sociedade, 20/6/2011.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO

Siderúrgicas impulsionam novo ciclo de mineração
Marina e seu grupo decidem sair do PV
Governo blinda Ideli no caso dos aloprados
Rio dá isenção até a empresa condenada

FOLHA DE S. PAULO

Dilma volta atrás e abre orçamentos de obras da Copa
Juiz de Jacareí converte união gay em casamento
Governo vai proibir overbooking nas férias de julho

O ESTADO DE S. PAULO

Dilma manda base aprovar sigilo em todas as licitações
Déficit externo dobra e chega a US$ 4,1 bi
Brasil tem primeiro casamento gay
Mercadante quer ajuda de hackers após ataques

VALOR ECONÔMICO

Pacote reduzirá taxação na área de telecomunicações
A revisão do princípio da "divina coincidência"
Casa Civil orienta ministros na defesa ao RDC
Marina e aliados vão desfiliar-se do PV

ESTADO DE MINAS

Onda de calote atinge também as empresas
Três projetos embutem custo de R$ 88 bi

CORREIO BRAZILIENSE

Nova lei põe 100 mil presos em liberdade
48 milhões escalam a pirâmide
Governo quer frear sangria de R$ 88 bilhões
Juiz vai além do STF e aprova 1º casamento gay

ZERO HORA (RS)

Efeito pressão: Piratini vai reformular pacote da previdência
Socorro federal

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Estradas tiveram feriadão violento
Estudo aponta crescimento da classe média

Dilma manda base aprovar sigilo em todas as licitações

A presidente Dilma Rousseff anunciou ontem a ministros que quer que o Regime Diferenciado de Contratações (RDC) - destinado a licitar mais rapidamente serviços e obras - substitua a Lei das Licitações. A intenção foi revelada pelo Estado no dia 18. O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), foi orientado por Dilma a discutir no Congresso a forma mais viável de fazer a alteração. Uma possibilidade é incluir as mudanças em projeto já aprovado na Câmara e que aguarda votação no Senado desde junho de 2009, cujo relator é Eduardo Suplicy (PT-SP). A medida provisória que trata do RDC foi aprovada na semana passada pela Câmara. As emendas devem ser votadas hoje. Aliados criticaram o texto

Dilma aciona ministros e aliados para mudar Lei de Licitações no Congresso

Em reunião da coordenação política, presidente afirma intenção de alterar a Lei 8.666 e utilizar o chamado RDC - que prevê sigilo dos preços de referência - para todas obras públicas; proposta que aplica essa regra em contratos da Copa será votada hoje

João Domingos

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff anunciou ontem, a ministros durante a reunião da coordenação política do Planalto, que quer que o Regime Diferenciado de Contratações (RDC), destinado a licitar mais rapidamente serviços e obras para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, substitua a Lei das Licitações (Lei 8.666), em vigor desde 1993. O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), foi orientado pela presidente a discutir no Congresso a forma mais viável de alterar a Lei 8.666. Uma possibilidade é o governo incluir as mudanças em projeto já aprovado na Câmara e que aguarda votação no Senado desde junho de 2009, cujo relator é Eduardo Suplicy (PT-SP).

O Estado já havia anunciado, em reportagem publicada no último dia 18, que a presidente tinha a intenção de estender o RDC a todas as obras do País caso a experiência da Copa fosse bem sucedida.

A medida provisória que trata do RDC foi aprovada na semana passada pela Câmara. As emendas que modificam o texto deverão ser votadas nesta terça-feira, 28. O texto, que prevê o sigilo de preços de referência das obras, foi criticado por parlamentares da base, sobretudo do PMDB. Após ofensiva do Planalto para convencer os aliados que a proposta permitirá maior controle e redução dos preços, a resistência arrefeceu.

Defesa. "Todo mundo que não defende intenções escondidas sabe que as mudanças propostas no RDC são muito produtivas para o País", disse Vaccarezza, logo depois da reunião com a presidente. Segundo ele, o novo regime tem a vantagem de ocultar o quanto o governo pretende gastar numa obra, o que evitará a formação de cartéis ou conluios. "Ninguém que vai construir uma casa diz o quanto pretende gastar. Quer é saber quanto custará a obra", disse o líder.

Segundo ele, outra vantagem do regime diferenciado é que a exigência do poder público é detalhada e as construtoras não poderão mais fazer "um aditivo atrás de outro, com aumento considerável do preço". Por fim, segundo o líder, a intenção do governo é usar o pregão eletrônico sempre que for possível, porque este é um sistema quase imune a fraudes.

Comunicação. Na reunião de segunda-feira, 27, a presidente e os ministros fizeram um mea culpa em relação à falha na comunicação do governo com os empresários e os parlamentares quanto às mudanças nas licitações.

Por um tempo, de acordo com a presidente, a impressão que ficou foi a de que o governo pretendia fazer licitações com valores secretos. Essa falha na comunicação, na avaliação do governo, teria causado muita confusão entre aliados, o que explicaria o fato de até o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), dizer que não poderia aceitar o sigilo nos contratos.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, chegou a afirmar - sem conhecer o texto da MP do regime diferenciado - que a intenção do governo de fazer obras com orçamento "secretos" escondia "absurdos".

Histórico. Mudanças na Lei de Licitações já foram aprovadas pela Câmara e estão prontas para a votação no plenário do Senado desde 23 de junho de 2009. Para tanto, foi feito um acordo que envolveu o senador Francisco Dornelles (PP-RJ), que consultou o meio empresarial, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), relator do projeto no Senado, o deputado Marcio Reinaldo (PP-MG), relator da proposta na Câmara, e o então ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Passados dois anos, no entanto, o projeto continua na gaveta.

Como agora a alteração da Lei 8.666 e a extensão do RDC para todas as obras é vontade da presidente, Vaccarezza disse que vai conversar com Suplicy para tratar das mudanças no projeto e acelerar a votação. A revisão da Lei das Licitações foi proposta pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início do segundo mandato, em janeiro de 2007, simultaneamente ao lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento, conhecido como PAC 1. Como passou por várias modificações no Senado, terá de voltar à Câmara. É lá que o líder do governo quer incluir o RDC.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Dilma escolhe Lula para chefiar missão diplomática na África

Ex-presidente vai receber diárias do governo para participar de encontro sobre juventude e desenvolvimento

Sandra Manfrini e João Domingos

BRASÍLIA -A presidente Dilma Rousseff nomeou seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, chefe da missão especial que vai representar o governo brasileiro na 17.ª Sessão Ordinária da Assembleia-Geral da União Africana, que será realizada entre hoje e sexta-feira, em Malabo, na Guiné Equatorial.

Além das passagens aéreas, Lula receberá diárias para gastos com hospedagem, refeições e pagamento de transporte durante o evento na África. O governo não quis informar o valor da diária. Mas, de acordo com informações extraoficiais, ficará em torno de US$ 1 mil, porque leva em conta o valor da hospedagem, das refeições e do pagamento de táxis e de outros veículos para deslocamento.

A nomeação de pessoas de fora dos quadros do Itamaraty para chefiar missões diplomáticas em reuniões internacionais é corriqueira, de acordo com o governo. O decreto com a designação de Lula para a função foi publicado no Diário Oficial da União de ontem.

Também são integrantes dessa missão diplomática o embaixador Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, do Itamaraty, a embaixadora Eliana da Costa e Silva Puglia, que serve na Guiné Equatorial, e a embaixadora Isabel Cristina de Azevedo Heyvaert, de Adis Abeba, na Etiópia, onde fica a sede da União Africana. A entidade reúne os países africanos para promover a integração, cooperação, o desenvolvimento e a paz no continente.

Em tradução livre, o tema da assembleia deste ano é Fortalecimento da Juventude para o Desenvolvimento Sustentável. Lula foi convidado pelo presidente do país anfitrião, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, e dará uma palestra para chefes de Estado e de governo na quinta-feira, segundo nota enviada por sua assessoria de imprensa.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Rio dá isenção até a empresa condenada

O Estado do Rio dá benefícios fiscais até para empresas condenadas. É o caso da Investiplan, de informática - condenada a ressarcir uma universidade e liberada de pagar R$ 28 milhões em ICMS

O preço da bondade

Empresa condenada e outras que respondem a ações receberam incentivos fiscais de R$73 milhões

Fábio Vasconcellos e Natanael Damasceno

O programa de concessão de benefícios fiscais do governo do estado, que até o ano passado chegou a R$50 bilhões em redução de impostos, ajuda empresas que respondem a ações na Justiça ou que já foram condenadas, num total de R$73 milhões. Uma das maiores fornecedoras de equipamentos e serviços na área de informática para o estado, a Investiplan foi obrigada pela 2ª Vara Federal, no fim de 2009, a ressarcir em mais de R$348 mil a Universidade Federal Fluminense (UFF) num contrato para manutenção de computadores. A Justiça entendeu que a empresa não prestou o serviço como previsto. Apesar disso, a Investiplan conseguiu nos últimos dois anos - portanto, após a condenação - cerca de R$11 milhões em benefícios fiscais do estado. No total, desde 2007, ela já deixou de recolher R$28 milhões em ICMS.

O caso da empresa de computadores não é o único. A Ermar Alimentos e a Comercial Milano foram denunciadas por dano ao erário e ato de improbidade administrativa, em 2008. Mas isso também não impediu que ambas fossem beneficiadas com R$12,5 milhões, após a Justiça aceitar a denúncia do Ministério Público estadual. Desse total, 89% foram para a Milano. Se analisado o período entre 2007 e 2010 das duas empresas, o maior volume das isenções foi para a Milano: 77% de um total de R$44 milhões.

Outra que também se beneficiou com as isenções do governo foi a Home Bread (R$434 mil em 2009). A empresa responde a uma ação de execução fiscal movida pela Fazenda Nacional, que tramita na 7ª Vara de Execução Fiscal desde o ano passado.

A Secretaria estadual de Fazenda informou que está impossibilitada, por lei, de discutir publicamente os benefícios concedidos às empresas. Segundo o órgão, no entanto, a "regra que rege a questão de benefícios e instrumentos fiscais é que uma empresa não pode usufruir de incentivos se tiver problema fiscal na área do estado". Com relação aos processos em trâmite ou mesmo à condenação de uma das empresas beneficiadas, a Secretaria de Fazenda acrescentou que não pode avaliar as relações entre empresas e clientes que são discutidas na área cível.

Benefício também para doadores

A lista de empresas beneficiadas entre 2007 e 2010 mostra também que doadores de campanha, que contribuíram para a reeleição do governador Sérgio Cabral no ano passado, receberam isenção fiscal nesse período. De acordo com a lista de doadores mantida no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelo menos quatro empresas beneficiadas com isenção ajudaram o governador a se reeleger. A renúncia fiscal das quatro empresas representou menos R$3,3 milhões aos cofres públicos.

Uma é a SHV Gas Brasil Ltda, que recebeu R$965 milhões entre 2007 e 2010 e doou R$200 mil para a campanha do governador. A construtora Queiroz Galvão recebeu pouco mais de R$1 milhão em isenções no período e doou R$800 mil à campanha do governador. A empresa Klabin S.A., que recebeu cerca de R$1,067 milhão e doou R$200 mil. E a MPE Montagens e Projetos Especiais S/A, que recebeu R$263 mil em isenções e doou R$400 mil em 2010.

Além destas empresas, pelo menos dois grupos ligados a doadores foram beneficiados. Outro é o grupo Gerdau, que contribuiu com R$200 mil através da empresa Gerdau Comercial de Aços S/A e recebeu R$218,4 milhões através das empresas Gerdau Comercial de Aços SA e Gerdau Aços Longos SA.

FONTE: O GLOBO

Marina e seu grupo decidem sair do PV

Parte do grupo da candidata derrotada do PV à Presidência, Marina Silva, deixará o partido. A saída será oficializada em 7 de julho. Parte fica e tenta tomar o controle do partido. Marina quer disputar a Presidência - de volta ao PV ou em outro partido

Marina vai deixar o PV

Sem acordo com a direção do partido, ex-senadora anunciará a saída na próxima semana

Marcelo Remígio

Já decidida a sair do PV, a ex-senadora Marina Silva promoverá uma plenária com seu grupo, na quarta-feira da semana que vem, para anunciar que deixará o partido. A saída será oficializada no dia seguinte. Marina e seu grupo já se articulam para definir qual rumo irão tomar visando às eleições de 2014. Em reunião com o deputado federal Alfredo Sirkis (RJ) e o ex-deputado Fernando Gabeira, na noite de domingo, ficou acertada a criação de um movimento em prol da candidatura de Marina à Presidência da República e de defesa de questões ambientais. A previsão é que a ex-senadora só se filie novamente a um partido em 2013, passadas as eleições municipais do ano que vem.

Parte do grupo de Marina deverá continuar no PV - os nomes ainda serão definidos. A estratégia será manter um bom número de descontentes com o atual comando nacional do partido - incluindo parlamentares com mandato - para que tentem derrubar a Executiva Nacional e preparem um possível retorno de Marina em 2013. Caso a estratégia não obtenha sucesso, o grupo recorrerá a um plano B. Eles criarão um partido, tendo como alicerce o movimento lançado em prol de Marina - a ex-senadora é contrária à fundação de uma nova legenda este ano. Nomes importantes do partido, como Sirkis e Gabeira, ainda têm destino indefinido.

Para contornar problemas que poderiam surgir com a criação de um novo partido, como a falta de tempo na TV e no rádio na próxima campanha presidencial, em 2014, os verdes dissidentes recorreriam ao capital eleitoral de Marina. O bom desempenho da ex-senadora nas eleições presidenciais do ano passado ajudaria na formação de alianças com outros partidos, aumentando a participação na propaganda eleitoral gratuita. A ex-senadora somou cerca de 20 milhões de votos no pleito de 2010.

Ainda como uma terceira saída para o grupo, alguns seguidores da ex-senadora defendem o ingresso em um partido pequeno que defenda questões ligadas ao meio ambiente. Mas, para isso, exigiriam o controle da legenda. A opção é a que encontra a maior resistência entre os descontentes.

Grupo reclama de desprestígio

A reunião de domingo durou cerca de quatro horas e aconteceu no apartamento de Gabeira, em Ipanema, Zona Sul do Rio. Além da criação do movimento, ficou decidido que o anúncio da saída de Marina só seria feito após seu retorno da Europa. A ex-senadora embarcará na quinta-feira para a Alemanha, onde participará de um encontro internacional de partidos verdes. O período até o anúncio oficial da saída, no dia 7 de julho, será dado como prazo para uma última tentativa de negociação com a atual Executiva Nacional.

- Estou indo nesta quinta-feira para a Alemanha, onde participarei do encontro internacional de partidos verdes. Ainda tenho outras reuniões marcadas antes de tornar pública qualquer decisão - afirmou a ex-senadora, após a reunião no apartamento de Gabeira.

Marina e seu grupo têm demonstrado descontentamento com a direção nacional do partido e reclamam da falta de espaço nas decisões da legenda. Eles travam uma queda de braço pesada com o presidente nacional do PV, José Luiz Penna, e pedem sua saída do cargo. Ele ocupa a função há 12 anos. O grupo de Marina cobra mudanças no processo de condução do PV.

De acordo com Sirkis, o PV enfrenta, atualmente, "uma crise séria" . Os descontentes cobram eleições para os diretórios municipais e a fixação de um prazo de mandato para a Executiva Nacional.

- Não estamos pedindo a lua, estamos pedindo eleições nos diretórios municipais. Hoje o que se vê no PV é a escolha dos diretórios municipais pelos estaduais, que por sua vez são indicados pela nacional, que acaba controlando todas as esperas do partido. O PV tem hoje uma situação catastrófica, com alianças políticas contestáveis, como em Mato Grosso e no Amazonas. O partido está sendo penalizado - diz Sirkis, que reclama do "fechamento" da legenda para novos nomes. - Não estão deixando o partido crescer, não permitem que pessoas com mais representatividade entrem no partido - critica o deputado.

Um possível retorno de Marina ao PV em 2013 é defendido por boa parte do grupo, em função de o partido ter uma forte identificação com a imagem da ex-senadora. Sua volta, caso Penna deixe o comando da legenda ou abra espaço para o grupo, seria sem traumas.

A criação de um novo partido também é bem aceita pelos seguidores de Marina, desde que haja a possibilidade de alianças com outras siglas na eleições municipais. A opção de migração em massa para um partido menor não tem a simpatia de todos os descontentes. Mas não é descartada. Hoje, dois partidos pequenos focados em causas ambientais estão em fase de criação: o Partido Ecológico Nacional (PEN), que já tem representação em nove estados, e o Partido do Meio Ambiente (PMA).

O presidente do PV, José Luiz Penna, informou ontem, por meio de sua assessoria, que aguarda o comunicado oficial da saída de Marina para poder avaliar o caso. Quanto às eleições para os diretórios municipais, o PV diz que faz um levantamento dos diretórios estaduais e municipais onde os mandatos das executivas já expiraram, como é o caso do de São Paulo (estado), para definir, nos próximo dias, se autorizará a eleição das executivas ou se o grupo continuará a ser indicado pela Executiva Nacional.

Poderio eleitoral de 20 milhões de votos

Ao anunciar sua saída do Partido Verde, a ex-senadora Marina Silva deixará pela segunda vez uma legenda. Antes de ingressar no PV, Marina permaneceu por quase 30 anos no PT, partido no qual começou sua carreira política, desfiliando-se em agosto de 2009. A ex-senadora disputou sua primeira eleição em 1986, quando concorreu a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo Acre, seu estado natal, mas sem sucesso. Dois anos depois, foi eleita vereadora, a primeira de um partido de esquerda na Câmara de Rio Branco. Já em 1994, Marina, aos 36 anos, se tornou a mulher mais nova a se eleger senadora.

Com um histórico de lutas sindicais e de defesa da ecologia, Marina conseguiu projeção internacional e chegou ao comando do Ministério do Meio Ambiente no primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva. Sua passagem pela pasta se estendeu até o segundo mandato, quando já enfrentava resistências dentro do próprio governo, que a deixaram em uma posição pouco confortável. Marina foi contra decisões como a liberação do plantio de transgênicos, construções de algumas hidrelétricas e a transposição do Rio São Francisco, na Região Nordeste. Sem espaço e com poder reduzido no governo, a ex-senadora deixou o ministério e também o PT.

Poucos dias depois de se desfiliar do partido de Lula, Marina ingressou no PV, partido pelo qual disputou as eleições presidenciais no ano passado e surpreendeu nas urnas. A ex-senadora obteve cerca de 20 milhões de votos. Em locais como o Distrito Federal, chegou a ganhar dos adversários Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), credenciando-a disputar a Presidência da República em 2014. Mas seu bom desempenho eleitoral veio acompanhado de duros embates com a atual Executiva Nacional do PV, que reduziu seu espaço e de seu grupo, deixando-os fora de decisões da legenda.

FONTE: O GLOBO

Governo blinda Ideli no caso dos aloprados

O Planalto jogará sua força política para barrar a convocação da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, para depor no Congresso sobre seu suposto envolvimento com o caso dos aloprados

Governo blinda Ideli e jogará pesado contra convocação sobre aloprados

Mercadante falará hoje, mas Planalto não permitirá que ministra seja chamada

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O governo decidiu jogar todo o seu peso político para barrar a convocação da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, para depor no Congresso sobre seu suposto envolvimento com a distribuição de um dossiê contra o ex-governador José Serra, o chamado escândalo dos aloprados. Os líderes do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), e na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), disseram ontem que não vão permitir que a ministra seja chamada para dar explicações sobre os aloprados.

O governo adotou estratégia diferente no caso do ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, também acusado de envolvimento com os aloprados. Antes mesmo de ser convocado, Mercadante decidiu que falará sobre o assunto na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), do Senado, a partir das 10h de hoje. Mercadante dispensou a ajuda de Jucá e até de colegas do PT. Ele estaria disposto a falar mesmo que não seja questionado pela oposição sobre o assunto. No caso de Ideli, a estratégia é evitar a exposição da ministra.

- Não vamos permitir a convocação da ministra Ideli. O envolvimento do seu nome nessa história é um jogo político da oposição. Não vamos cair nesse jogo aqui. O ministro Mercadante já estava marcado e não tinha por que desmarcar. Ele não disse que quer falar sobre aloprados, mas, se alguém provocar, ele vai responder - disse Jucá.

Vaccarezza disse não ver necessidade de convocação ou convite a Ideli. Para o deputado, o assunto surgiu há seis anos, as investigações não avançaram e não há qualquer fato novo que justifique a cobrança de explicações da ministra. Para Vaccarezza, a situação de Mercadante é diferente. O ministro já teria depoimento marcado na CAE e, portanto, não haveria problemas em dar eventuais explicações sobre seus supostos vínculos com os aloprados.

- Não tem sentido convocar ou convidar Ideli para tratar disso. Não tem nada de novo - disse o líder governista.

Mas falta sintonia na base governista. Antes das declarações de Jucá e Vaccarezza, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), um dos principais aliados do governo, cobrou explicações dos dois ministros.

- Se agiu corretamente, não há por que deixar de fornecer as explicações que o Congresso pede - disse Sarney.

Mercadante está sendo acusado de participar da operação de compra do dossiê produzido por Luiz Antônio Vedoin, preso em 2005 por chefiar a máfia da venda de ambulâncias superfaturadas, caso conhecido como o escândalo dos sanguessugas.

Segundo a revista "Veja" desta semana, Ideli participou de uma reunião no gabinete de Mercadante em 4 de setembro de 2006 para definir a estratégia de divulgação do dossiê para prejudicar Serra, então candidato ao governo de São Paulo.

O presidente da CAE, senador Delcídio Amaral (PT-MT), também entende que Mercadante deve se explicar.

- É uma oportunidade para que ele, se perguntado, use a comissão para dar as explicações - disse o senador.

Em nota divulgada ontem, Ideli negou que tenha qualquer ligação com a produção do dossiê: "Nunca elaborei nem participei da confecção de dossiês políticos". Segundo ela, "é falaciosa a tentativa de me envolver na participação da elaboração do suposto dossiê".

Para Mercadante, "tentar envolver Ideli é inaceitável"

Ontem, em São Paulo, Mercadante, após um almoço-debate com empresários paulistas, reagiu às acusações contra Ideli.

- Cinco anos depois, tentar envolver a Ideli porque ela acabou de virar ministra, sem nenhuma base, sem nenhum indício, sem nada que possa levar a esse raciocínio, é inaceitável - afirmou o ministro.

Segundo a "Veja", no dia 4 de setembro de 2006, a então senadora Ideli Salvatti (PT-SC) teria participado das negociações para a compra do dossiê falso contra Serra. De acordo com a revista, depois dessa reunião, ela teria ficado com a tarefa de divulgar o falso dossiê.

Falando ontem a cerca de 230 empresários do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), Mercadante lembrou que na época foi aberta uma CPI.

- A Procuradoria Geral da República foi rigorosa, e o Superior Tribunal de Justiça arquivou a investigação. Essa história só voltou à tona agora porque o (ex-governador de São Paulo) Quércia morreu e não pode se defender. Minha vida pública é transparente. A verdade já prevaleceu uma vez e vai prevalecer de novo.

Segundo ele, se estivesse vivo, Quércia - que apoiou Serra na última campanha presidencial e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) em nível estadual - desmentiria a notícia.

- Essa notícia jamais poderia ser publicada se o Quércia estivesse vivo. Por que só poderia ser publicada depois que ele morreu? Porque ele estaria aqui para desmentir. Só estou eu para dizer, que nunca tive qualquer relação com o Quércia, nunca fui aliado.

FONTE: O GLOBO

Os atuais desafios da esquerda democrática brasileira:: Roberto Freire

Nesta semana, ocupei a tribuna da Câmara (confira a íntegra do discurso) para defender o que considero ser o papel da esquerda democrática no Brasil atual.

Apresento aqui algumas dessas considerações e avanço um pouco mais.

Creio que no quadro partidário brasileiro, em que a direita está preocupada em apoiar quaisquer governos e deles participar; o PT se divide entre mercadismo liberal e social-democracia, e o PSDB vacila na defesa de seu legado, o desafio da esquerda democrática não é apenas refundar-se.

É, também, construir uma nova forma de articulação com a sociedade, superar a função tradicional dos partidos políticos e buscar incorporar os diversos movimentos que se articulam no seio da sociedade, transformando-se em um "partido-movimento", aberto às lutas difusas e dispersas no corpo social.

Para isso, é preciso entender que a sociedade humana é complexa em suas formas de organização interna, conectadas com outras realidades e culturas em âmbito planetário por conta da revolução cientifica, das inovações tecnológicas e da informação; que vivenciam de formas diferentes problemas comuns, como a questão crucial do meio ambiente.

Desde 1992, quando surgiu do PCB, o PPS defende a necessidade de uma nova formação política, por reconhecer que a sociedade industrial, na qual residia a razão de ser dos partidos, transformara-se vertiginosamente, com o início do fim de uma era.

A característica do século XXI é a crescente influência das tecnologias da informação (sociedade em rede), e uma profunda segmentação, para além das classes sociais.

Esse processo vem tornando os partidos políticos mero espectro do século XX, que cada dia têm menos funcionalidade e articulação como representação política da cidadania.

Por isso, a esquerda democrática terá como tarefa fundamental catalisar todas as forças sociais, hoje dispersas, em um amplo movimento reformista, impondo ao Estado - no relacionamento com seus cidadãos e com outros Estados - uma pauta centrada no desenvolvimento econômico ambientalmente sustentado e equânime na distribuição da riqueza, única forma eficaz de superar a catástrofe das guerras.

Deve essa esquerda, ainda, abranger os diversos segmentos sociais, articulados em rede, que começam a ser cada vez mais sujeitos responsáveis pela implementação de mudanças de base, na esfera da vida real, cotidiana, cabendo à nova esquerda articular-se com eles e, quem sabe, experimentar os embriões das futuras representações políticas da cidadania.

O desafio que lancei na tribuna do parlamento é transformar a política de mero jogo do poder em atividade que dá sentido às demandas do todo, a partir da responsabilidade de cada um.

A política não apenas como exercício da liberdade, mas como efetivação da igualdade, no momento em que a capacidade produtiva instalada no planeta estiver voltada para a satisfação das necessidades do gênero humano, e não da reprodução do capital.

Nesse sentido, a tarefa central da esquerda democrática é tornar o Estado um instrumento de transformação das condições de vida, garantindo-se a mais ampla liberdade na busca da mais efetiva igualdade.

Roberto Freire, deputado federal e presidente do PPS

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

Verdes e cidadania:: Merval Pereira

Os 20 milhões de votos que a ex-senadora Marina Silva obteve no primeiro turno das eleições presidenciais do ano passado poderão ser canalizados para um movimento que gestará a formação de um partido alternativo ao Partido Verde com vistas à eleição presidencial de 2014.

A ideia que está sendo amadurecida é lançar um movimento cujo conceito seria baseado em duas palavras: "verde" e "cidadania".

Um movimento político que consiga criar uma capilaridade pelo país todo, com a utilização "intensa e audaciosa" dos novos instrumentos de relacionamento social da internet como o Facebook e o Twitter, inclusive como forma de tomada de decisão com a audiência dos militantes, consolidando uma maneira radical de democracia.

Essa "democracia direta" foi proposta à atual direção nacional do PV, mas a maneira centralizada como o partido está organizado favorece a que ele seja dirigido de forma a reduzir, e não a ampliar, a participação de seus filiados.

Na Câmara existiriam cerca de 20 deputados que estariam dispostos a aderir a um novo partido capitaneado por Marina Silva, mas o entendimento é de que não há tempo hábil para registrar um partido para disputar as eleições municipais de 2012.

Tentar fazer um partido novo de afogadilho poria o risco de ele ter os mesmos problemas que hoje justificam a dissidência dos "marineiros".

Depois das eleições de 2012, o grupo de Marina analisará se há possibilidade de mudança do PV, ou se esse movimento dissidente deve criar seu próprio partido com vistas a 2014.

O movimento será constituído por pessoas que sairão do PV, outras que ficarão no partido, pessoas de outros partidos que comungam ideias semelhantes e mesmo cidadãos sem partido, que buscam uma alternativa nova à maneira de fazer política dos partidos atuais.

O movimento vai apoiar o PV onde de fato ele for "verde" e, em outros lugares, vai apoiar candidatos de outros partidos.

Na análise do grupo de Marina, os problemas detectados não são peculiares ao PV, mas resultantes de uma política que é engendrada pelo sistema eleitoral, pelo clientelismo.

Tudo indica que esteja se aproximando um desenlace da crise, provavelmente na próxima semana, mas os seguidores de Marina não querem repetir as divisões tradicionais dos partidos de esquerda, com grupos falando mal dos outros.

Na definição deles, o que existe é uma imensa energia na disputa interna que precisa ser liberada, criando um movimento na sociedade.

Se não houver o acatamento das condições mínimas exigidas, a tendência é abrir a dissidência. Ao mesmo tempo em que querem dar mais algum prazo para ver se "um mínimo de lucidez se abre na cabeça do Penna e de alguns dirigentes", ainda há consultas e reuniões a fazer, um trabalho de preparação do novo movimento, e estudos jurídicos em relação a quem tem mandato, como o deputado federal Alfredo Sirkis.

Ele gostaria de sair para firmar sua posição de solidariedade a Marina, mas ainda estuda os aspectos jurídicos da questão para não correr o risco de perder o mandato. Fernando Gabeira ficou uma época sem partido, e é possível que Sirkis faça o mesmo se a legislação permitir.

O que está acertado é que uma parte vai sair para claramente afirmar a existência de uma dissidência, até como solidariedade a Marina, porque o tratamento que foi dado a ela pela burocracia dominante no PV é considerado "ignóbil".

Quando ela chegou para o PV, definiu que não poderiam continuar existindo executivas provisórias, formadas pela direção nacional em processo de cooptação, teria que haver um processo democrático, com eleições para a escolha de seus diretórios em todos os níveis, desde a base municipal até a nacional.

Depois das eleições, quando Marina obteve 20 milhões de votos, a Executiva Nacional passou cinco meses sem se reunir, como se quisesse esfriar o movimento que levou o Partido Verde a ter esses milhões de votos.

Na primeira reunião que fez, surgiu a proposta de prorrogar o mandato de José Luiz Penna, que já está na presidência há 11 anos e tem uma maioria clientelista no PV.

Essa estratégia de manter as executivas regionais como "comissões provisórias" é uma maneira de controlar as bases partidárias com pessoas da confiança da direção nacional, que podem perder esse poder local com uma intervenção da Executiva Nacional.

A manobra para manter Penna na presidência foi considerada "uma espécie de tocaia" que fizeram para o grupo de Marina, que é minoritário dentro da estrutura burocrática do partido.

O grupo de Marina sentiu-se traído na medida em que não conseguiu impor ao PV uma nova forma de fazer política.

O que está acontecendo no momento é um embate entre os integrantes da estrutura atual do PV e os que querem mudá-la, abrir o partido para a sociedade.

Há ainda divergências conceituais sobre o movimento ecológico e divergências políticas com setores específicos do partido em Rondônia, Amazonas, Mato Grosso e Distrito Federal, que controlam a sigla e não querem que pessoas mais representativas, ligadas a movimentos ecológicos, cheguem aos postos de comando, para continuarem a fazer acordos políticos até mesmo com forças antagônicas ao movimento ecológico.

Em Brasília, por exemplo, o comandante do PV é um amigo do Penna, e, embora Marina Silva tenha ganhado a eleição presidencial lá, as pessoas ligadas a ela são boicotadas, não são chamadas para as reuniões.

Há comunidades no Facebook "Fora Marina". Na semana passada, a assessora jurídica da Executiva Nacional, Vera Mota, de confiança do presidente Luiz Felipe Penna, deu uma declaração dizendo que Marina tinha que ser processada por haver criticado os dirigentes do partido. E em nenhum momento Vera foi desautorizada pelo partido.

Nada avançou, portanto, no sentido de reformular a estrutura partidária. Ao contrário, há uma atitude de hostilidade a Marina, como se a estrutura atual tivesse ficado com medo dos 20 milhões de votos que ela teve.

FONTE: O GLOBO

Redução de danos:: Dora Kramer

O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, comparece hoje ao Senado para falar sobre as acusações de que teria sido o mentor do chamado "dossiê dos aloprados" meio que por sua conta e risco.

Não há uma estratégia montada a partir do Palácio do Planalto nem, em princípio, disposição da bancada do PT de se comportar como tropa de choque. Os senadores estão prontos a defendê-lo, mas avisam que não será suficiente Mercadante recorrer a evasivas nem alegar que o ônus da prova é de quem acusa ou que a história é requentada.

"Estamos plenamente solidários, mas ele vai precisar ser consistente, contundente e, sobretudo, convincente na demonstração cabal das razões que o fizeram passar incólume por uma CPI e pelo crivo do Supremo", diz o senador Walter Pinheiro, um dos defensores da tese originalmente levantada por Lindberg Farias, de que a melhor maneira de enfrentar o problema é falar o quanto antes sobre ele.

De preferência na Casa da qual Mercadante fez parte nos últimos oito anos e em ambiente menos acirrado que a Câmara, de onde surgiu o movimento para a reabertura das investigações na Procuradoria-Geral da República e no próprio Congresso.

A ideia de aproveitar um convite feito pela Comissão de Assuntos Econômicos para expor seus planos à frente da pasta e enfrentar logo os questionamentos a respeito da existência de gravações que comprovariam a participação de Mercadante na montagem de um dossiê contra seu então adversário na eleição ao governo de São Paulo (2006), José Serra, é uma óbvia tentativa do PT de esvaziar o movimento dos deputados da oposição.

Antes que o caso ressurja reforçado por fatos novos, ganhe pernas próprias, repita o desastre da estratégia de esconde-esconde recentemente adotada com Antônio Palocci e evolua para caminhos não desejados.

Por exemplo, para a convocação da ex-senadora Serys Slhessarenko e de outros personagens como o ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso, o dono das gravações, ou mesmo de integrantes do grupo preso num hotel em São Paulo com R$ 1,7 milhão para a compra do dossiê.

A preocupação maior, na realidade, é com Serys que, no dizer de um senador petista, está "com a faca nos dentes".

Não sem razão. O mesmo Expedito Veloso, cujas conversas gravadas apontam a responsabilidade de Mercadante no dossiê contra Serra, contou a ela que o ex-deputado Carlos Abicalil, também do PT, engendrou a montagem de um dossiê envolvendo a então senadora em fraudes do Ministério da Saúde e acabou com as pretensões dela de se eleger a governadora de Mato Grosso.

Além disso, Serys foi alvo de um processo de expulsão que acabou lhe rendendo suspensão de um ano do PT, por ter feito propaganda partidária na eleição de 2010 sem incluir o nome de Abicalil como candidato ao Senado.

O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, senador Delcídio Amaral, não recebeu recado algum do Palácio do Planalto sobre a audiência de hoje e do ministro Mercadante ouviu apenas o desejo de comparecer para se explicar e encerrar o episódio.

O líder do PSDB no senado, Álvaro Dias, no entanto, já avisa que a oposição detectou a manobra, não se satisfaz com o depoimento de Mercadante e vai insistir na Câmara em chamar Serys Slhessarenko, Expedito Veloso e a ministra Ideli Salvatti, agora incluída na história como a pessoa que à época, no Senado, ficaria encarregada de dar publicidade ao dossiê dos ditos "aloprados".

Agenda positiva. O PT informa: não há a menor possibilidade de a presidente Dilma Rousseff mudar de posição em relação ao sigilo eterno aos documentos oficiais classificados como ultrassecretos.

Ela continua apoiando a restrição do sigilo ao prazo máximo de 50 anos. E para deixar isso patente, o governo começou a trabalhar com a possibilidade de antecipar a votação da Lei de Acesso à Informação para do recesso parlamentar de julho.

A decisão é parte do esforço do governo de sair da defensiva e se pôr ao lado das, assim vistas, boas causas.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

República à moda da casa:: Fernando de Barros e Silva

Sarney contra o sigilo dos orçamentos das obras da Copa e da Olimpíada? Logo ele, o guardião dos atos secretos do Senado? Parecia mesmo muito estranho.

A confusão está desfeita e as coisas voltaram aos padrões brasilienses de normalidade. Sarney recuou ontem das críticas que havia esboçado à medida provisória do governo. Não era uma questão de princípio, mas um mal-entendido. Tudo sanado depois de conversas esclarecedoras da cúpula do PMDB com Ideli Salvatti, a ministra do balcão.

Para que, afinal, insistir em encenar esse teatro da transparência, simular preocupação com a lisura do processo de licitação ou zelo pelo destino do dinheiro público? Para que tudo isso, quando se sabe que o governo -premido pelo pânico do fiasco em 2014- decidiu a apagar a luz e abrir no escuro a temporada de caça aos negócios?

Sarney, num primeiro momento, vislumbrou aí uma oportunidade para fazer média com a opinião pública -como se ensaiasse um contraponto ao seu extenso currículo, em especial ao escândalo de 2009, quando vieram à tona centenas de atos secretos pelos quais o Senado havia nomeado parentes e amigos de parlamentares, criado cargos e aumentado salários, tudo na moita.

O recuo de Sarney se deu antes que o governo admitisse alterar pontos do RDC (Regime Diferenciado de Contratação), ontem à noite. De acordo com as mudanças, os órgãos de fiscalização passariam a ter acesso permanente aos custos das obras e, além disso, haveria divulgação imediata dos orçamentos após os lances das empreiteiras. Se isso se confirmar, a margem para a picaretagem terá sido reduzida.

"O governo me assegurou que vai abrir aquilo tudo que acharmos necessário", disse Sarney. Se ele está tão tranquilo, temos uma razão a mais para não ficar.

O Senado tem até 14 de julho para analisar a MP, depois disso ela perde a validade. A data é simbólica. Nesse dia, a França estará comemorando o advento da República.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Fome de vitórias :: Eliane Cantanhêde

O Brasil era o país mais forte, mas a Espanha tinha o melhor candidato. E quem ganhou foi o brasileiro José Graziano, eleito no domingo diretor-geral da FAO, braço da ONU para alimentação e agricultura, encerrando o longo jejum de vitórias para organismos internacionais da era Lula.

O Brasil foi derrotado para a direção-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), a chefia da Corte de Apelação da OMC, o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e a Unesco, órgão da ONU para educação, ciência e cultura. Neste caso, abriu mão de candidato próprio em favor de um egípcio esquisitão -que perdeu.

Por isso, Dilma jogou tudo na eleição de Graziano. Patriota se empenhou pessoalmente, Marco Aurélio Garcia acionou sua rede de contatos, as embaixadas se envolveram, a Agricultura se mexeu, a ministra do Meio Ambiente foi despachada para cabalar votos numa reunião na África. E Lula não foi à votação em Roma, para não levar tomatada pelo caso Battisti e atrapalhar mais do que ajudar.

Com tudo isso, o resultado foi de final de basquete: 92 para Graziano, 88 para Miguel Ángel Moratinos, ex-chanceler da Espanha.

Por que o Brasil era o mais forte? Porque Lula investiu pesado na inclusão de milhões de pessoas e internacionalizou a bandeira do combate à fome e à miséria.

E por que Graziano não era o melhor candidato? Porque, na prática, o Fome Zero nunca existiu. Era um título bonito, uma peça de marketing, um embrulho vazio. Tanto que virou sucesso internacional, mas mero selinho no canto do real programa de distribuição de renda, o Bolsa Família, filho direto do Bolsa Escola do governo anterior.

Graziano é até bom sujeito, mas o cargo e o momento mereciam um Josué de Castro, presidente do conselho da FAO nos anos 1950 que morreu no exílio em plena ditadura militar. Esse, sim, passou a vida dedicado ao combate à fome.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Planalto tenta retomar a ofensiva política:: Raymundo Costa

Às vésperas de completar seis meses, o governo Dilma transmite a impressão de imobilidade. Os números indicam outra realidade: de janeiro a abril, por exemplo, os investimentos nas obras do PAC cresceram 39%, em relação a igual período do ano passado. É bem verdade que o investimento total teve uma leve queda em valores reais - cresceu 5% para uma inflação de 6,5%. Mas cabe a ressalva: a comparação é com 2010, quando o governo "bombou" os gastos com vistas às eleições presidenciais de outubro.

Os números, portanto, indicam um governo em movimento e atento à questão fiscal: para um crescimento de 16% na receita líquida, o aumento da despesa não chegou aos dois dígitos - para ser exato, 9,7%, no mesmo período. O que então explica a sensação de paralisia? Para o governo, trata-se de uma leitura apressada decorrente da crise que levou à demissão do ex-ministro Antonio Palocci. "Do ponto de vista da gestão de governo não houve esse freio", vem repetindo, por exemplo, a ministra Gleisi Hoffmann, sucessora de Palocci na Casa Civil.

Para aliados, a crise de Palocci pesou, mas não é tudo. Na cúpula do PMDB, por exemplo, atribui-se grande parte da percepção de paralisia à falta de iniciativa legislativa do Planalto. O governo teria subestimado a necessidade de ter uma agenda para o Congresso. Quando o governo não tem agenda para o Legislativo, os congressistas se encarregam de fazer uma agenda para o governo e ela é e sempre será contra o erário público. Aliás, não só o Congresso, mas também o Supremo Tribunal Federal (STF) e os governadores trataram de escrever uma pauta para o governo federal.

Os temas da Câmara e do Senado para o fim deste semestre falam por si mesmos: a EC 29, como é chamada a emenda constitucional que prevê mais recursos para a saúde, a PEC 300, apelido da emenda que equipara os salários de policiais militares e bombeiros aos valores pagos no Distrito Federal (os mais altos do país), a mudança no indexador que corrige a dívida dos Estados, aumento de vencimentos do Judiciário, entre outros.

Essa é a agenda pública imposta ao governo. Existe também a agenda que de fato comanda a relação do governo com sua base aliada, nem sempre transparente como é a pauta do Congresso, mas frequentemente de difícil digestão pública, em geral tratada diretamente com o Palácio do Planalto, como é o caso da tentativa em curso de por fim à decisão do governo de não empenhar recursos sem o devido provisionamento a obras previstas nas emendas parlamentares.

O Planalto também foi levado a entrar na discussão, iniciada no Congresso, para limitar o poder do presidente da República na edição de medidas provisórias. É pouco provável que seja aprovado o projeto da oposição. A coordenação política do Palácio do Planalto já discute com os partidos a votação de um texto que concilie os interesses do governo e dos congressistas, especialmente do Senado, que ganharia um tempo próprio para discutir as MPs, talvez de 40 dias, conforme as negociações em andamento.

A sensação, entre aliados, é que a presidente perdeu um tempo precioso ao não tomar a iniciativa de pautar o Congresso com assuntos como a reforma política ou a desoneração da folha de pagamentos, duas de suas promessas de campanha. Ou mesmo com as primeiras "fatias" de uma reforma tributária que acaba de ser atropelada pela decisão do Supremo de por um fim a guerra fiscal entre os Estados.

O Palácio do Planalto, por seu turno, diz que pautas como a EC 29 e a PEC 300 sempre estiveram na pauta do Legislativo, sem que isso impedisse o governo de avançar com seus projetos, a exemplo do Minha Casa, Minha Vida e o projeto que permitirá a concessão dos aeroportos. Submerso desde a crise Palocci, o problema do governo continua a ser político. Prova disso é que Dilma agiu como se estivesse defendendo interesses ilegítimos. Agora, a presidente dá os primeiros sinais de que pretende retomar logo a ofensiva política. É preciso, pois está perdendo no discurso mesmo quando propõe uma mudança aparentemente moralizadora, como no caso da Lei de Licitações.

O vice-presidente da República, Michel Temer, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, selaram uma trégua entre PMDB e PSB, respectivamente, em almoço no Palácio do Jaburu, em Brasília, e jantar no Palácio das Princesas, no Recife.

Desde as eleições de 2010 o PMDB observa com lupa o PSB. Existe a avaliação de que a sigla socialista é claramente candidata a substituir o partido na atual aliança governista, caso ela seja mantida para as eleições presidenciais de 2014, como indica a posição atual das nuvens e os principais interessados asseguram que acontecerá.

O crescimento eleitoral do PSB justifica os temores pemedebistas. Basta lembrar que o PSB elegeu nada menos do que seis governadores de Estado, nas eleições de 2010, contra cinco do PMDB, partido que tem sua força assentada nos Estados.

Mais recentemente, PMDB e PSB andaram se estranhando em virtude de trocas partidárias que visam as eleições de 2012, como a de Gabriel Chalita, em São Paulo. Os dois partidos se articulam para apresentar candidaturas competitivas nas grandes cidades, especialmente as capitais. Além de São Paulo, entre outros Estados, socialistas e pemedebistas também trocaram cotoveladas a valer em Goiânia.

O que PMDB e PSB concluíram, por enquanto, é que a real ameaça imediata aos interesses das duas siglas é representada pelo PT. Exemplo disso seria o tratamento de segunda e terceira categorias que lhes seria dispensado pelo atual governo. Muito embora as declarações de seus dirigentes sejam no sentido do apaziguamento, sobretudo no PMDB o sentimento é que o PT retirou do partido todos os cargos de ação política de que a legenda já dispunha no governo Lula.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

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Marina e aliados vão desfiliar-se do PV

Cristiane Agostine

São Paulo - A ex-senadora Marina Silva e seus aliados devem deixar o PV na próxima semana e se agruparão em um movimento político denominado "Verdes e Cidadania". A desfiliação está prevista para ser anunciada em uma plenária na quarta-feira, dia 06. O grupo ligado à ex-candidata presidencial do partido planeja criar um novo partido só em 2013.Na plenária, Marina deve registrar seu desligamento do partido ao lado do grupo que migrou junto com ela para o PV, como os empresários Ricardo Young e Guilherme Leal, o ambientalista João Paulo Capobianco e o ex-deputado Luciano Zica. Também devem deixar a legenda militantes antigos, como Fábio Feldman e Maurício Brusadin. O deputado federal Alfredo Sirkis (RJ), vice-presidente do PV, disse que pretende deixar a legenda, mas estuda formas jurídicas de não perder seu mandato. Fernando Gabeira, um dos fundadores do PV, pode adiar sua saída para poder disputar a eleição para a Prefeitura do Rio de Janeiro em 2012.

Aliados de Marina reclamam da falta de democracia interna do partido e da ausência de diálogo com o presidente nacional do PV, José Luiz Penna.

"Um grupo sairá junto com Marina. Outro pretende se afastar, mas ainda estuda mecanismos de proteção jurídica para não ser prejudicado e não perder o mandato. Há ainda os que vão disputar 2012 e não podem deixar o partido neste momento", reforçou o deputado Sirkis. "Sou absolutamente solidário com Marina e vou acompanhá-la", disse o fundador do partido.

O grupo liderado por Marina marcou uma série de conversas e reuniões até a próxima semana, para preparar o desligamento. A ex-senadora viajou para a Alemanha e deve conversar com o PV internacional sobre os problemas enfrentados em seu partido. Serão consultados intelectuais e integrantes do "Movimento Marina Silva", que apoiou a então candidata presidencial em 2010, até o dia da plenária. "Queremos caracterizar de quem é a responsabilidade por sairmos", disse Sirkis. "Depois, é bola para frente".

O Movimento dos Verdes e Cidadania - nome provisório- tentará se articular nacionalmente e ganhar capilaridade antes de ser transformado em um partido. Segundo Sirkis, entre 20 e 30 deputados, de diferentes partidos, já manifestaram desejo de ingressar na nova legenda a ser criada pelos aliados de Marina, depois das eleições municipais de 2012. "Não haveria tempo hábil para criar o partido para a próxima eleição", comentou o atual dirigente do PV.

O ex-presidente do diretório paulista Maurício Brusadin, destituído do cargo por ação de Penna, disse que a situação é insustentável. "Penna expurgou todo mundo que era a favor da Marina. Fez isso no Ceará, no Mato Grosso, no Pará e em São Paulo. Ele rodou o Brasil falando que Marina não ajudou o PV nas eleições, que ela não fez com que a bancada na Câmara aumentasse", reclamou Brusadin. "Ele [Penna] transformou o partido em um condomínio pemedebista e quer estar presente em todos os governos. O PV, que sempre esteve na vanguarda, agora está na vanguarda do atraso", atacou.

Procurado, Penna não quis se manifestar. Informou, via assessoria, não ter sido comunicado da intenção do grupo de Marina de deixar o PV.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Marina traça roteiro para abandonar PV

Ex-senadora viaja para a Alemanha na próxima quinta-feira. Por isso, decidiu adiar para o dia 6 de julho o anúncio de sua saída da legenda e a criação de uma nova sigla

Depois de três meses de queda de braço com a cúpula do PV, a ex-senadora Marina Silva, terceira colocada na eleição presidencial de 2010, deve anunciar na próxima semana sua saída do partido. Ela planeja reunir aliados e simpatizantes num movimento político baseado na internet antes de começar a organizar a criação de uma nova legenda para concorrer de novo ao Planalto em 2014. A ideia é comunicar a decisão no dia 6, em ato público em São Paulo ou Brasília.

Marina divulgou o roteiro anteontem à noite em reunião com verdes no apartamento do ex-deputado Fernando Gabeira, no Rio. Ela viaja na quinta-feira para a Alemanha, onde será homenageada pelo Partido Verde local e fincará bases para obter respaldo internacional ao novo projeto.

“Estou indo na quinta-feira para a Alemanha, onde participarei do encontro internacional de partidos verdes. Até a semana que vem, nada será anunciado. Ainda tenho outras reuniões marcadas antes de tornar pública qualquer decisão”, afirmou Marina

Ao voltar, terá as últimas conversas com aliados até o ato em formato de assembleia, onde os marineiros farão votação simbólica para referendar sua decisão. O roteiro repete sua estratégia do segundo turno da eleição presidencial, quando a verde se negou a apoiar Dilma Rousseff (PT) ou José Serra (PSDB) e promoveu uma consulta nos mesmos moldes, para dar caráter coletivo à opção pela neutralidade.

“Infelizmente, não houve qualquer indicação de que a direção do PV aceitaria as condições mínimas para a nossa permanência no partido”, afirmou o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ). “Marina representa um movimento que é maior que o PV e qualquer sigla. O que vai acontecer agora é que o movimento vai continuar”, disse Sérgio Xavier, fundador do PV e ex-candidato ao governo de Pernambuco.

Na saída da reunião, Marina afirmou apenas que anunciará a decisão na semana que vem, após a viagem. A avaliação dos marineiros é de que não haverá tempo hábil para registrar um novo partido a tempo de lançar candidatos para as eleições municipais de 2012. Com isso, o movimento tentaria se organizar na internet para promover a coleta de assinaturas necessária à criação de uma sigla.

Debandada em massa no Estado

Franco Benites

Se a vontade da ex-senadora Marina Silva de sair do Partido Verde se concretizar, a legenda deverá sofrer um duro golpe no Estado. Essa é a avaliação do deputado estadual Daniel Coelho que também está de malas quase prontas para deixar o partido. “Quando Marina deixar o PV certamente haverá uma desfiliação em massa. Acho que só ficam aqueles que têm cargo comissionado no governo”, afirmou.

De acordo com o parlamentar, cuja insatisfação com a legenda se ampliou desde que o PV passou a integrar a gestão Eduardo Campos (PSB), a saída de Marina é um caminho sem volta. “Ela já demonstrou que não fica e a executiva nacional também dá mostras que não fará nenhum esforço para ela ficar. Estou na espera dessa decisão”, disse.

Apesar de aguardar qual o rumo que Marina tomará, Daniel Coelho afirmou que não se alinharia automaticamente ao Partido da Causa Ecológica, que pode vir a ser criado pela ex-senadora. “Isso dependeria muito das bases de sustentação em que esse partido seria fundado”, afirmou.

O deputado está em negociação com o PMDB, PPS e PSDB, mas é este último que mais chama a sua atenção. “A proposta nacional deles, de lançar Aécio como candidato à Presidência da República, me anima. O PSDB tem um senso de Brasil muito grande”, afirmou.

Para ele, o fato de o PSDB ser simpático a Eduardo Campos não é problema. “Se a relação for igual a de hoje, tudo bem. O que não posso admitir é o apego a cargos como faz o PV hoje”, comentou.

O parlamentar afirmou que está em curso uma provável vinda ao Recife do deputado federal e presidente nacional do PV, José Luiz Penna (SP). A visita, prevista para julho e que também deve se estender a outras cidades do País, seria motivada pelas mudanças geradas em decorrência da saída de Marina.

A forma como a legenda vem sido conduzida por Penna é um dos motivos de descontentamento da ex-senadora. “A visita é a mínima demonstração de zelo que Penna pode demonstrar com o PV em Pernambuco”, destacou Daniel.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Morre o mais político dos cineastas brasileiros

Aos 72 anos, Gustavo Dahl é vítima de infarto na Bahia; velório acontece hoje no Palácio Gustavo Capanema

Em 1960, quando os cineastas italianos Marco Bellochio, Gianni Amico e Bernardo Bertolucci se reuniam nas salas de aula do Centro Sperimentale di Cinematografia de Roma para trocar ideias sobre cinema, Gustavo Dahl estava lá, como aluno bolsista. Em 1963, quando o diretor francês Jean Rouch falou para um auditório lotado do Musée de L"Homme, em Paris, sobre cinema etnográfico, Gustavo Dahl também estava lá, como ouvinte. Na década de 1970, quando os brasileiros Cacá Diegues, Paulo César Saraceni e Oswaldo Caldeira assentaram um pouco mais os pilares do Cinema Novo, lá estava Dahl outra vez, como exímio montador.

Mas mesmo tendo circulado nas mais altas esferas do cinema mundial, o argentino, nascido em 1938, que se naturalizou brasileiro ficou mais conhecido país afora por sua atuação política. Sempre lutando em favor da produção nacional.

Melhora nas bilheterias

Em 1975, a convite do cineasta Roberto Farias, assumiu a superintendência de comercialização da produtora e distribuidora estatal Embrafilme e, com braço forte, conseguiu um feito: ajudou a elevar para um terço a participação do cinema brasileiro nas bilheterias do mercado nacional. Depois daquela época, ninguém conseguiu passar nem perto dessa marca.

- Ele era a pessoa mais generosa que conheci. Meu mestre, meu guru - conta o distribuidor Marco Aurélio Marcondes, que foi assistente de Dahl na Embrafilme nos anos 1970. - Com ele eu aprendi tudo. Devo tudo a ele. Daquela época para cá, fomos unha e carne.

Décadas depois, Dahl continuou sua atuação política pelo cinema brasileiro, contribuindo para a consolidação do plano estratégico que foi cunhado no início dos anos 2000 e batizado como Nova Política Cinematográfica. Com a força de seu trabalho, fez surgir a Agência Nacional do Cinema (Ancine), órgão que presidiu entre 2001 e 2006. Segundo Manoel Rangel, que hoje ocupa o posto de diretor-presidente da entidade, Dahl cumpriu com "competência e brilho a difícil missão de implementar e estruturar institucionalmente o órgão". Os primeiros passos dados por ele foram fundamentais para o cinema brasileiro.

Em seu currículo, Gustavo Dahl também acumulou outras presidências de peso para o setor: a da Associação Brasileira de Cineastas, a do Conselho Nacional de Cinema (Concine) e a do Conselho Nacional de Direitos Autorais. Atualmente, ocupava o posto de gerente do Centro Técnico de Audiovisual (CTAv), órgão do Ministério da Cultura.

Segundo Joana Nin, que assessorou Dahl nos últimos três anos no CTAv, havia um projeto para lançar uma caixa de DVDs que reunisse os filmes do cineasta. Eles chegaram a falar sobre o assunto na semana passada.

-- Ele era um grande professor. Eu tenho um sentimento de gratidão imenso, por tudo que eles nos ensinou, pela força que demostrava - ela diz. - Uma vez, na casa dele em Santa Teresa, numa reunião, começou um tiroteio. Eu fiquei morrendo de medo, mas ele disse que não era nada, que não precisávamos nos preocupar, que só reverberava lá. Quando passou, ele falou: "O medo é sempre maior antes."

Dono de uma escrita ácida e politicamente engajada, Dahl foi ensaísta e crítico e conquistou para si o título de um dos teóricos mais prolíferos do Cinema Novo. Seus textos, de leitura prazeirosa e contínua, foram publicados em diversos jornais do país e constam nos arquivos de revistas como "Civilização Brasileira" e "Cahiers du Cinéma"

Já em sua carreira como cineasta, Dahl produziu curtas e longa-metragens importantes para a segunda fase do Cinema Novo. Desses, o maior destaque foi "O Bravo Guerreiro", seu primeiro trabalho atrás das câmeras, lançado em 1968, e cuja história narra a decisão de um jovem deputado de oposição em mudar para o partido que estava no poder. São dele, ainda, "Uirá, um índio em busca de Deus", de 1973; e "Tensão no Rio", de 1982. Ele também escreveu e dirigiu especiais para a Rede Globo, entre eles "A promessa".

- Gustavo foi o grande pensador e teórico do Cinema Novo, com sua retórica inteligente e erudita - afirma o diretor Luiz Carlos Lacerda, o Bigode.

Como montador, Dahl ganhou prêmios com "A grande cidade", de Cacá Diegues, e "Passe livre", de Oswaldo Caldeira. Também são de sua autoria as montagens de "Integração Racial", de Paulo César Saraceni, e "Soledade", de Paulo Thiago.

Toda essa trajetória pelo cinema brasileiro, nos campos artístico e político, foi interrompida na madrugada de ontem. Enquanto assistia a um filme em sua casa em Trancoso, na Bahia, Dahl teve um ataque cardíaco. Ele foi socorrido e levado para um hospital de Porto Seguro, mas morreu no caminho, aos 72 anos de idade, deixando três filhos e três ex-mulheres - a atriz Maria Lúcia Dahl, a atriz e diretora Ana Maria Magalhães e Virginia Magalhães Pinto.

Em nota divulgada pelo Ministério da Cultura, a ministra Ana de Hollanda ressaltou que Dahl "doou generosamente sua experiência e sensibilidade a todos os órgãos pelos quais passou" e que era uma "figura humana, luminosa e divertida, que tornava as reuniões de trabalho ocasiões de enriquecimento cultural".

O corpo do cineasta chega ao Rio hoje pela manhã, e um velório será realizado no início da tarde no Palácio Gustavo Capanema, no Centro.

FONTE: O GLOBO

Bole Bole (Jacob do Bandolim)

Não há vagas:: Ferreira Gullar

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão


O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras


- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"


Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço


O poema, senhores,
não fede
nem cheira