domingo, 7 de dezembro de 2014

Opinião do dia – Alberto Aggio

O populismo dos dias que correm é visivelmente uma força regressiva no político. Nele predominam o autoritarismo, a intolerância e o antipluralismo. Onde é possível, afronta os direitos humanos, suprime as liberdades, reprime opositores, persegue juízes e jornalistas. Onde a ordem constitucional democrática é mais legitimada, a resistência é maior a esse tipo de movimento, que, em termos mais apropriados, nem deveria ser qualificado de populismo.

*Historiador, é professor titular da Unesp, e presidente da Fundação Astrojildo Pereira. Para além do populismo. O Estado de S. Paulo, 6 de dezembro de 2014.

Datafolha mostra que 68% responsabilizam Dilma por corrupção

• Apesar disso, a taxa de aprovação ao governo da petista não sofreu alteração significativa desde o fim da eleição

• A menos de um mês da posse de seu novo mandato, metade acha que a presidente fará uma gestão melhor

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - De cada dez brasileiros, sete acham que a presidente Dilma Rousseff tem alguma responsabilidade no escândalo da Petrobras, envolvendo empreiteiras e políticos. É o que mostra pesquisa Datafolha realizada em 2 e 3 de dezembro com 2.896 entrevistas.

Apesar disso, as revelações da Operação Lava Jato não provocaram alteração relevante em sua imagem.

Para 42%, a gestão Dilma é boa ou ótima. É a mesma taxa de 21 de outubro, quando, no final da eleição-- com propaganda diária na TV--, ela atingiu seu melhor patamar desde junho de 2013.

Já a desaprovação sofreu leve mudança: eram 20% os que julgavam Dilma ruim ou péssima, são 24% agora. A margem de erro é de dois pontos.

A petista chega à véspera do início de seu segundo mandato com 50% do eleitorado achando que ela fará um bom governo daqui para frente.

O patamar é 23 pontos menor que o observado antes da posse de 2011, porém melhor que o do tucano Fernando Henrique Cardoso na véspera de seu segundo mandato, em 1998 (41%). O Datafolha não fez essa pergunta antes da segunda posse de Lula.

Outros dados dão pistas sobre a razão da imobilidade da popularidade de Dilma apesar da associação de seu nome com o caso Petrobras.

A preocupação com a corrupção tem caído. Em junho, era o principal problema do país para 14%. Agora, para apenas 9%. Saúde segue líder desse ranking com 43% das citações; seguida de violência/segurança, com 18%.

Além disso, 40% acham que nunca houve tanta punição aos corruptos como hoje.

Embora estável, a situação do governo não é tranquila

• Petista tem as expectativas menos otimistas desde a reeleição de FHC

Mauro Paulino, Alessandro Janoni - Folha de S. Paulo

A aparente estabilidade na aprovação ao governo Dilma Rousseff pode surpreender os que acompanharam a evolução dos acontecimentos pós-eleições. O esforço da oposição em manter-se ativa como representante dos que saíram insatisfeitos das urnas, as novas revelações do escândalo da Petrobras e o debate sobre o perfil do novo ministério não impactaram a avaliação da opinião pública sobre o desempenho geral do governo.

No caso de corrupção na Petrobras, apesar da grande maioria ter ouvido falar do tema e ver responsabilidade da presidente no episódio, efeitos mais expressivos na imagem da petista são anulados pelo reconhecimento por parte dos entrevistados de que no seu governo há investigação e punição dos envolvidos.

Quanto às mobilizações populares da oposição, sua ocorrência localizada e regional --assim como o ruído em suas intenções-- tem servido muito mais para fixar a ideia de provincianismo na empreitada do que propriamente para gerar fato político relevante para a população.

Mas o quadro está longe de ser confortável para o governo. O crescimento de quatro pontos na reprovação a Dilma reflete a percepção dos primeiros movimentos da presidente em direção ao seu 2º mandato. O teor das ações desperta insegurança no imaginário de parte dos brasileiros sobre o futuro, sobretudo em relação à economia. O otimismo que a campanha petista injetou no eleitorado durante o 2º turno, ancorada em comparações com a gestão tucana, desidrata-se agora diante dos fatos recentes.

A austeridade no discurso da nova equipe econômica, a confusão sobre o projeto que altera as metas do governo, o aumento dos juros e de preços, compõem um cenário de incertezas que aumenta a desconfiança da população.

Além do refluxo pessimista sobre inflação, poder de compra e desemprego, o crescimento de cinco pontos percentuais ao longo dos últimos quatro anos na taxa dos que citam espontaneamente a economia como a área de pior desempenho do governo Dilma e o recuo de seis pontos no índice dos que citam o setor como o de melhor atuação nesse espaço de tempo surgem como ameaça para os próximos meses de governo.

A petista apresenta o menor índice de otimismo na taxa de expectativa do novo governo desde a reeleição de FHC. Ao se considerar o conceito de satisfação como o de expectativa atendida, dado seu patamar minguado, Dilma deveria estabelecer como meta a elevação de sua aprovação para taxas superiores aos 50% de expectativa atual.

Demandas represadas desde as manifestações de 2013 aguardam espaço na agenda, travada pelas incertezas na economia. Em conjunto com o noticiário sobre corrupção podem despertar novamente os fantasmas de junho.

STF mantém sigilo em ações contra autoridades

STF mantém processos ocultos

• Ao menos oito investigações sequer aparecem no sistema do Supremo

Carolina Brígido – O Globo

BRASÍLIA - O Supremo Tribunal Federal (STF) mantém processos tão ocultos que sequer aparecem na internet as iniciais dos investigados ou a data em que eles tiveram início. E embora não haja previsão clara no Regimento Interno do Supremo para esse tipo de procedimento e a medida cause divergência entre os ministros da Corte, apenas este ano ao menos oito inquéritos contra autoridades foram registrados como ocultos. Por conta disso, as investigações correm sem que os advogados ou as partes envolvidas tenham acesso aos documentos. Apenas os servidores da Secretaria Judiciária e alguns funcionários designados pelos gabinetes dos ministros podem consultá-los.

Uma das investigações é contra o ministro da Agricultura, Neri Geller, suspeito de participar do esquema de fraudes na reforma agrária, descoberto pela Operação Terra Prometida, da Polícia Federal. Não aparecem as iniciais do ministro, a data de autuação ou o tema da investigação. Desse modo, a existência da investigação contra Geller só foi descoberta por conta de uma investigação que tramita na Justiça Federal e é pública. Assim, foi possível saber que o STF desmembrou a parte envolvendo o ministro e devolveu o restante do caso para a primeira instância.

O caso foi enviado ao STF no semestre passado pela primeira instância do Mato Grosso. De acordo com a Constituição, são processados e julgados no Supremo deputados federais, senadores, ministros de Estado e o presidente da República.

- Eu, de início, não concebo (inquérito oculto). A regra é a publicidade. O sistema não fecha. Porque é público contra a coinvestigados e sigiloso quanto à ministro de Estado? A publicidade é que gera eficiência. Eu penso que, para o investigado, é pior o sigilo, porque se fica, se pode imaginar coisa pior - disse o ministro Marco Aurélio Mello

Segundo ele, quando há dados invasivos no inquérito, eles podem ficar sob sigilo, mas a tramitação deveria ser acessível no sistema online do tribunal.

- Eu, por exemplo, não estou versando o caso concreto. Mas eu não concebo. Passa a haver um mistério. Eu lido com o Direito. E pegando pesado há tantos anos, não encontro uma base legal para essa pseudo proteção do envolvido. O tratamento tem que ser linear, igual para todos - disse.

Tema no Supremo desde 2010
Desde 2010, ministros do STF discutem sobre processos ocultos. Nessa época, Cesar Peluzo, então presidente da Corte, determinou que os inquéritos penais chegassem ao tribunal em segredo de justiça, apenas com a divulgação do nome abreviado do investigado. No entanto, caso o relator considerasse conveniente, ele poderia suspender o sigilo. A justificativa era o risco de atrapalhar o andamento das investigações.

Dois anos depois, em março de 2012, o STF começou a discutir, em sessão administrativa, a classificação instituída por Peluso. Em maio, entraria em vigor a Lei de Acesso à Informação, determinando como regra a publicidade das informações no setor público. Peluso, então, voltou a defender sua tese.

- Há determinadas informações que, em razão de sua natureza, podem fugir do comando geral de publicidade - ponderou Peluso, na ocasião.

No entanto, houve pedido de vista e o tema só voltou à discussão em março de 2013, quando o tribunal já era presidido por Joaquim Barbosa, que também já se aposentou. Por sete votos a quatro, o STF derrubou a tese do sigilo como regra.

Em 2013, Fux defendeu regra criada por Peluso
Foi então determinado que, quando um inquérito chegava à Corte, o nome do investigado deveria ser estampado, a não ser que o relator decretasse o segredo de justiça. Na época, os ministros Luiz Fux, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli e Gilmar Mendes votaram pela continuidade do sigilo como regra. A maioria dos ministros, no entanto, concordou em derrubar a norma: Joaquim Barbosa, Marco Aurélio Mello, Cármen Lúcia, Rosa Weber, Teori Zavascki e Celso de Mello. Também foi contabilizado o voto que Carlos Ayres Britto havia dado na reunião do ano anterior, antes de se aposentar.

Na sessão de 2013, Fux foi o mais ferrenho defensor da regra criada por Peluso. Para ele, divulgar o nome de uma pessoa que responde a inquérito, ainda sem a certeza da culpa, pode prejudicar sua imagem de forma irreversível. Depois, se houver absolvição, não teria remédio para o estrago causado.

Joaquim Barbosa, porém, lembrou que, nos outros tribunais, a regra é a divulgação do nome dos investigados. Portanto, se o STF mantivesse as iniciais, estaria privilegiando pessoas com direito ao foro especial.

Ao ser informada sobre os oito inquéritos contra autoridades registrados como ocultos, a assessoria da presidência do tribunal informou que o Regimento Interno permite esse tipo de autuação. O artigo 230-C diz que, instaurado o inquérito, a autoridade policial deverá reunir os elementos necessários à conclusão das investigações em 60 dias. O mesmo dispositivo dá ao relator o direito de determinar a tramitação "em autos apartados e sob sigilo" e medidas invasivas, como "requerimentos de prisão, busca e apreensão, quebra de sigilo telefônico, bancário, fiscal e telemático, interceptação telefônica". Não há referência a deixar todo o inquérito nessa condição de "autos apartados" e ocultos.

Atual presidente da Corte, Ricardo Lewandowski acredita que a regra dá ao relator o direito de determinar a ocultação de todo o processo na tramitação do tribunal. Marco Aurélio Mello, no entanto, afirma que, segundo a norma, apenas algumas peças da investigação podem ficar em sigilo.

O Código de Processo Civil (CPC) e o Código de Processo Penal (CPP) preveem a possibilidade de decretação de segredo de justiça e, nesses casos, o direito de consultar os autos é restrito às partes e aos advogados. Hoje tramitam no STF 444 inquéritos e 149 processos. Entre esses processos, 21% estão sob sigilo. Os processos ocultos sequer figuram no levantamento oficial da Corte.

Ricardo Lewandowski
Presidente da Corte, o ministro diz que o artigo 230-C dá ao relator o direito de determinar a ocultação do processo durante sua tramitação no Supremo Tribunal Federal. No entanto, em 2013, quando o tribunal era presidido por Joaquim Barbosa, hoje aposentado, foi derrubada a tese do sigilo como regra. Nessa época, Lewandowski votou pela continuidade do sigilo

Marco Aurélio Mello
Para o ministro, segundo o artigo 230-C, apenas algumas peças da investigação podem ficar em sigilo. "Eu, de início, não concebo (inquérito oculto). A regra é a publicidade", disse. De acordo com ele, "quando há dados invasivos no inquérito, eles podem ficar sob sigilo". No entanto, Marco Aurélio diz que a tramitação deveria ser acessível no sistema online do Supremo

Cezar Peluso
Em 2010, quando era o presidente do STF, o ministro, que hoje está aposentado, determinou que os inquéritos penais chegassem ao tribunal em segredo de justiça. Para ele, os inquéritos teriam apenas a divulgação do nome abreviado do investigado. À época, ele disse: "Há determinadas informações que, em razão de sua natureza, podem fugir do comando geral de publicidade". Em março de 2012, o STF começou a discutir, em sessão administrativa, a classificação instituída por Peluso.

Os tipos de processos no STF:
- Processo oculto
É uma tramitação fora do sistema, em que o cidadão sequer sabe que o inquérito ou a ação penal estão abertos. Não há informações sobre a identificação do investigado, as decisões tomadas pelo relator, a data de autuação ou o assunto de que se trata. Quando procurado no sistema pelo número, aparece a mensagem de que o processo não existe. Apenas alguns servidores do STF têm acesso a esses processos – os que trabalham na Secretaria Judiciária e funcionários indicados por gabinetes de ministros.

- Processo em segredo de justiça
O nome dos investigados não é publicado, apenas as iniciais. No entanto, fica disponível no sistema do STF a data em que o processo chegou ao tribunal, o assunto apurado, o nome do relator e o local onde está o processo. O acesso a peças e documentos processuais é restrito aos advogados da causa e ao Ministério Público.

- Processo público
Por meio do andamento processual do STF, disponível na internet, é possível verificar o nome dos investigados, a data em que o processo chegou ao tribunal, o assunto apurado, o nome do relator e o local onde o processo está. Também é possível acessar despachos e decisões do relator ou do tribunal.

O acordão para livrar o governo

As articulações de Janot que podem livrar o governo

• Procurador-geral da República participa de uma série de encontros com representantes das empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato e propõe um acordo que impede investigações que possam chegar ao Palácio do Planalto

Mário Simas Filho - IstoÉ

Há sete meses o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vem se reunindo com representantes das empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção instalado na Petrobras e investigado pela Operação Lava Jato. ISTOÉ apurou que de maio até a última semana foram realizados pelo menos quatro encontros com a presença do próprio Janot e outros dois com procuradores indicados por ele (leia quadro nas páginas seguintes). O objetivo dessas conversas, que inicialmente foram provocadas pelos empresários, é o de buscar um acordo no Petrolão. No Brasil, onde a legislação da delação premiada ainda engatinha, não é comum que o chefe do Ministério Público mantenha conversas com representantes de empresas envolvidas em um processo criminal. Mas, em se tratando de um caso com a alta octanagem que têm as investigações da Operação Lava Jato, as reuniões de Janot com os empreiteiros não poderiam, a princípio, ser tratadas como um pecado. Trata-se de uma prática comum nas democracias mais maduras, cujo principal objetivo não é o de evitar punições, mas o de acelerar as investigações e permitir que o Estado adote medidas concretas e imediatas para evitar a repetição de atos criminosos. O problema dos encontros de Janot é que, segundo advogados e dois ministros do Supremo Tribunal Federal ouvidos por ISTOÉ na última semana, o acordo que vem sendo ofertado pelo procurador-geral nos últimos meses poderá trazer como efeito colateral a impossibilidade de investigar uma suposta participação do governo no maior esquema de corrupção já descoberto no País. Na prática pode ser um acordão para livrar o governo.

Na sexta-feira 5, através de sua assessoria, Janot confirmou os encontros com representantes das empreiteiras e negou que esteja negociando um acordão. "Como os investigados não têm prerrogativa de foro, os acordos devem ser tratados com os integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato, no Paraná", diz o procurador. Nas conversas que manteve com representantes dos empresários, porém, Janot, segundo advogados ouvidos por ISTOÉ, definiu qual o modelo de acordo interessa à Procuradoria. Ele quer que as empresas, seus diretores e executivos assumam a responsabilidade pelos crimes investigados. Pede que as empresas reconheçam a formação de cartel e que concordem em pagar multas recordes (no caso da Mendes Júnior, estudos preliminares feitos pelos empreiteiros indicam que a multa poderá até inviabilizar a sua continuidade no setor de construção civil). Ainda de acordo com os advogados, Janot sugere que na delação premiada sejam feitas menções a políticos de diversos partidos, e não só os da base aliada do governo, e que as empresas abram mão de recorrer aos tribunais superiores. Em troca, as empreiteiras continuariam a disputar obras públicas e seus dirigentes poderiam cumprir as futuras penas em regime de prisão domiciliar. Os casos dos parlamentares mencionados serão remetidos ao Supremo Tribunal Federal (STF) para investigações posteriores. "Isso é um absurdo. Embora não acredite que seja essa a motivação do procurador, um acordo nesses termos protege o governo de eventuais investigações", disse à ISTOÉ um ministro do STF na tarde da quinta-feira 4, sob o compromisso de manter o anonimato para não ser impedido de participar de futuros julgamentos provenientes da Operação Lava Jato. Segundo este ministro, ao admitir a formação de cartel e apontar o nome de parlamentares que teriam se beneficiado, as empreiteiras estariam indiretamente colocando o governo na situação de vítima de um esquema montado pelos empresários e alguns agentes políticos, sem que fosse de seu conhecimento e do qual não obteve nenhuma benesse financeira ou política. E, ainda conforme o mesmo ministro, proibir que as empresas recorram aos tribunais superiores pode impedir que elas venham a participar como colaboradoras nas investigações contra as autoridades com foro privilegiado.

"Se cabe ao STF investigar os políticos com foro especial, limitar que pessosas que participaram do esquema recorram ao tribunal é violar o direito de defesa e reduzir o alcance da investigação", afirmou um outro ministro do STF ouvido por ISTOÉ. A iniciativa de buscar um acordo com a procuradoria partiu da Camargo Corrêa. A proposta era a de mobilizar os empreiteiros para um entendimento comum. Em 14 de junho, Janot recebeu os advogados José Geraldo Grossi, Pierpaolo Bottini e Márcio Thomaz Bastos. Em 20 de outubro, quase um mês depois de homologada a delação premiada de Paulo Roberto Costa – o ex-diretor da Petrobras que revelou a existência do propinoduto na estatal e listou empreiteiras e políticos que teriam participado do esquema –, o procurador recusou uma minuta de acerto elaborada por Thomaz Bastos. Assim, o projeto de um acordo comum a todas as empresas envolvidas acabou não prosperando. "Nessa época, ficou evidente o que o procurador-geral buscava e como ele, os procuradores da força-tarefa e o juiz Sérgio Moro iriam agir para forçar as empresas ou parte delas a participar do acordão nos termos propostos pela procuradoria", disse um dos advogados. Entre os delegados e procuradores da Operação Lava Jato existe a convicção de que manter alguns dos envolvidos na prisão facilita a obtenção de delações premiadas. E as revelações feitas por Costa permitem ao juiz Sérgio Moro decretar as prisões temporárias e provisórias. Uma estratégia que vem dando resultados, apesar das críticas feitas por alguns setores da sociedade civil. "É inadmissível que prisões provisórias se justifiquem para forçar a confissão de acusados. O combate à corrupção não legitima o atentado à liberdade", registra manifesto do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil aprovado na terça-feira 2.

Em 13 de novembro, atendendo a pedidos de Janot, os representantes das empreiteiras participaram de encontro com procuradores da força-tarefa, em Curitiba. Entre os presentes estavam os advogados Roberto Telhada, Maurício Zanoide, Dora Cavalcanti, Alberto Toron, Celso Villardi e Pierpaolo Bottini. Cinco procuradores representavam a Operação Lava Jato, entre eles Carlos Fernando dos Santos Lima e Orlando Martello Júnior. Não houve consenso e os procuradores insistiam na fórmula defendida por Janot. No dia seguinte foi deflagrada a sétima etapa da Operação Lava Jato, batizada de Juízo Final, que levou para a cadeia executivos e diretores das principais empreiteiras do País. "É evidente que, com os seus principais quadros na prisão, muitos tendem a acatar as propostas da procuradoria", afirma um dos advogados. Em 16 de novembro, a Toyo Setal aceitou a delação premiada em termos muito próximos do que vem sendo buscado pelo procurador-geral e, em seus depoimentos, os executivos da empresa delataram a formação de cartel e listaram como beneficiários das propinas não só partidos da base do governo como também da oposição. Na quinta-feira 4, o vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Leite, também teria feito acordo de delação premiada.

Dez dias depois das prisões, o advogado Celso Villardi voltou a se reunir com Janot, mas o procurador não abriu mão de que haja a admissão de culpa de executivos e diretores das empreiteiras para que houvesse um acordo. O último encontro de Janot com representantes das empreiteiras ocorreu em Brasília, na terça-feira 2. Os advogados Celso Villardi, Maurício Zanoide, Dora Cavalcanti, Alberto Toron e Roberto Telhada levaram uma proposta de acordo que foi prontamente rechaçada. A exemplo do que é comum em paí-ses como os Estados Unidos e a Inglaterra, os empreiteiros admitem o pagamento de multas milionárias, concordam em colaborar com o Ministério Público fornecendo dados que permitam aprofundar as investigações, se comprometem a não repetir os mesmos erros, mas recusam a confissão das pessoas físicas e a abrir mão de recorrer aos tribunais superiores, caso julguem necessário.

De acordo com os advogados e ministros ouvidos por ISTOÉ, a postura tomada por Janot nas últimas semanas procura forçar as empreiteiras a aderirem ao acordo e acaba favorecendo o braço político do Petrolão. Há mais de dois meses a Justiça homologou a delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Isso significa que as informações prestadas por ele sobre os milionários desvios de recursos ocorridos na estatal passaram por uma primeira análise e foram consideradas relevantes. Com base nesses depoimentos e na comprovação de centenas de movimentações financeiras realizadas no Brasil e no exterior, diretores e executivos das maiores empreiteiras do País estão presos. Com os políticos acusados por Costa de receberem boa parte dos recursos roubados da Petrobrás a situação é outra, apesar de as provas serem as mesmas. Para que as investigações sobre eles sejam iniciadas é preciso que Janot faça uma denúncia ao ministro Teori Zavascki, do STF. O procurador-geral, no entanto, tem dito que só tomará essa medida depois de homologada a delação do doleiro Alberto Youssef. Enquanto isso, empreiteiros que continuam presos podem aderir ao acordão. Quando o caso chegar no STF, segundo os advogados ouvidos por ISTOÉ, os rumos poderão ser diferentes. "No STF poderemos saber exatamente do que somos acusados e responder a tudo, inclusive apontar todos os envolvidos", asseguram pelo menos dois grandes empreiteiros citados na Operação Lava Jato.

Lava Jato investigará concessões e obras de aeroportos

• Novas etapas da operação buscarão crimes que transcenderam a Petrobrás; Viracopos e outros quatro terminais estão na mira

- Ricardo Brandt, Julia Affonso e Fausto Macedo - O Estado de S. Paulo

Curitiba - As concessões e obras em cinco aeroportos, entre eles o de Viracopos, em Campinas (SP) – parte do primeiro pacote de transferência de infraestrutura para a iniciativa privada no governo Dilma Rousseff, em 2012 – estão na mira das novas etapas de investigação da Operação Lava Jato. A força-tarefa que apura fraudes, desvios, corrupção e propina na Petrobrás vai buscar a partir de janeiro os “crimes transcendentes” do esquema, conforme suspeita o juiz federal Sérgio Moro.

Lista de 750 contratos alvo dos negócios ilícitos do doleiro Alberto Youssef
reforçou, na avaliação dos investigadores, a necessidade de apurações em setores de infraestrutura como o de transportes. Além do Aeroporto de Viracopos, que já aparecia nas investigações, estão sob suspeita as obras de adequações no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, em 2008; do Aeroporto de Confins, em Minas Gerais, em 2011; do Aeroporto Eduardo Costa, em Manaus, e a concessão estadual do Aeroporto de Feira de Santana, na Bahia, em 2012. Três dessas obras (Confins, Galeão e Manaus) estão na lista de 750 contratos apreendida com Youssef.
A soma dos valores registrados como preço da intermediação chega a R$ 11 bilhões. Só com os três contratos que constam na lista de Youssef (Confins, Galeão e Manaus) ele pode ter recebido R$ 4,4 milhões.

Na semana passada, ao rejeitar pedido de revogação da prisão de executivos de empreiteiras, Moro escreveu que “embora a investigação deva ser aprofundada” em relação a outras áreas, “é perturbadora” a apreensão da planilha de Youssef, sugerindo que os crimes do esquema “transcenderam a Petrobrás”. No caso do leilão de Viracopos, em fevereiro de 2012, o consórcio vencedor tem como uma das sócias o grupo UTC/Constran, alvo da Lava Jato. O leilão foi vencido por R$ 3,2 bilhões. Tanto a UTC como a Constran têm executivos na mira da operação.

A força-tarefa já havia encontrado elementos para apontar “negócios bilaterais” entre a UTC e Youssef. Já a Constran, incorporada pela UTC, aparece como beneficiária da intermediação de Youssef para liberação de precatórios no governo do Maranhão. A colaboração premiada de alguns dos alvos da investigação, entre eles o próprio doleiro e dois executivos que operavam para a Toyo Setal – Augusto Mendonça e Júlio Camargo – reforçou as suspeitas de ligação de parte da sociedade que assumiu Viracopos com o chamado ‘clube’ de empreiteiras que atuava na Petrobrás.

O monitoramento dos contatos que visitavam o escritório de Youssef em São Paulo, onde eram realizados pagamentos de propina e acertos, segundo ele próprio admitiu, também reforça a suspeita. Sete executivos e funcionários da UTC/Constran – entre eles dois de seus donos, Ricardo Pessoa e João de Teive Argolo, visitaram o prédio entre 2011 e 2012, período em que os consórcios formados por ela vencem as concorrências de Viracopos e também do Aeroporto Regional de Feira de Santana (BA).

O presidente do Conselho de Administração da Concessionária Brasil Viracopos, João Santana, foi fotografado entrando no local. Diretor da Constran e ex-ministro de Infraestrutura do governo Collor, João Santana não foi alvo das buscas da sétima fase da Lava Jato, denominada Juízo Final, mas foi qualificado nos autos.
“Possui registro de entrada no prédio de Youssef. Seus dois últimos sobrenomes foram omitidos, porém como existe o registro fotográfico compatível, foi possível identificá-lo”, destacou a PF, abaixo da foto de Santana, da sua qualificação e do registro de entrada no prédio.

O mais assíduo dos visitantes no prédio de Youssef é um funcionário de nome Ednaldo Alves da Silva, que foi mais de 12 vezes nesse período. Augusto Mendonça e Júlio Camargo contaram como funcionava o ‘clube’ de empreiteiras que fatiava obras públicas. Para vencer licitações, Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa afirmaram haver esquema de pagamento de propina para PT, PMDB e PP, que abasteceu também PSDB e PSB.

“Não se pode excluir a possibilidade do mesmo modus operandi ter sido ou estar sendo adotado em outros contratos” com empresas e entidades públicas, explicou Moro ao analisar e negar um pedido de liberdade de um executivo do suposto cartel preso cautelarmente. A planilha dos 750 contratos alvos de Youssef, um verdadeiro portfólio de negócios a serem investigados, relaciona “obra pública, a entidade pública contratante, a proposta, o valor, e o cliente do referido operador, sendo este sempre uma empreiteira, ali também indicado o nome da pessoa de contato na empreiteira”, descreve a Lava Jato.

No caso das obras dos aeroportos, não necessariamente a “cliente” foi contratada para a concorrência alvo, mas todas são alvo da força-tarefa. Como o modus operando da organização criminosa investigada na Lava Jato era a combinação de contratos e a fraude em licitações, as empreiteiras podem ter sido contratadas diretamente para outra obra ou terem prestado serviços terceirizados.

Qualificação do presidente da UTC Engenharia, sócia da concessionária
de Viracopos, Ricardo Pessoa, qualificado em visita a Youssef.

Com a palavra a ANAC
A ANAC informou que não sabe de cartel. “É importante ressaltar que as concessões foram realizadas por meio de leilões públicos, baseados em editais previamente submetidos a audiências públicas e com regras que visavam maximizar a concorrência. Uma dessas regras impedia que a Agência divulgasse os participantes habilitados antes de cada leilão, ou seja, os concorrentes só foram conhecidos no momento de cada leilão. O objetivo dessa estratégia foi justamente evitar eventual conluio entre os participantes. Isso pode ser observado nos resultados dos leilões: grande número de participantes e elevados ágios. Leilão de São Gonçalo do Amarante = disputado por quatro grupos e ágio superior a 300%. Leilão de Guarulhos, Brasília e Viracopos = ágio médio de 347%. Leilão de Galeão e Confins = ágio médio de 253%”.”

Informou ainda desconhecer intermediação do doleiro Alberto Youssef em alguma concessão ou obra. “As regras impostas pela ANAC, previstas nos editais de concessão, foram todas cumpridas, razão pela qual o resultado de todos os certames foram homologados por esta Agência. A lisura dos processos de concessão foi evidenciada publicamente em todos os atos adotados por esta Agência.”

Com a palavra a INFRAERO
A concessão de aeroportos é de responsabilidade da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), não da Infraero. As contratações de obras da Infraero são feitas mediante licitações públicas, não são permitidas intermediações de quem quer que seja. Os contratos são feitos diretamente com as empresas pelo grupo técnico encarregado de cada licitação.

O Aeroporto de Manaus não foi concedido, é administrado pela Infraero. E o Aeroporto de Feira de Santana não é administrado pela Infraero.

Com a palavra a UTC/Constran
O senhor João Santana não é investigado na referida operação e jamais foi “flagrado” em visita ao escritório de um doleiro. A UTC desconhece a existência de um ‘clube de empresas’ e repudia afirmações que a relacionam um suposto cartel. Ao longo de 40 anos a UTC conquistou contratos sempre seguindo procedimentos legítimos.

Com a palavra  o Consórcio Aeroportos Brasil Viracopos
O consórcio Aeroportos Brasil, vencedor do leilão de concessão do Aeroporto Internacional de Viracopos, seguiu todas as regras do edital de licitação e ganhou um Leilão publico na BM&F Bovespa com oferta de R$ 3,821 bilhões, valor 159,75% acima do preço mínimo. Importante ressaltar que o Aeroporto Internacional de Viracopos foi objeto de um disputadíssimo leilão. Diversos consórcios formados por algumas das maiores empresas do país participaram da disputa. Depois de definido o vencedor, grupos perdedores tentaram reverter o resultado, recorrendo inclusive à Justiça, que manteve o vencedor inicial, atestando a lisura do processo.

Com a palavra , A Construcap
Informou não ter sido contratada para as obras do Aeroporto do Galeão.
O governo da Bahia não retornou aos questionamentos.

Satisfação com a democracia no Brasil cresce 13 pontos em 2014, diz Ibope

• Segundo pesquisa, 39% dos brasileiros estão ‘muito satisfeitos’ ou ‘satisfeitos’ com a democracia, a terceira maior taxa em 20 anos, ante 22% ‘nada satisfeitos’

José Roberto de Toledo e Rodrigo Burgarelli - O Estado de S. Paulo

Apesar da eleição presidencial mais acirrada da história e dos sucessivos escândalos de corrupção, a satisfação com a democracia no Brasil cresceu 13 pontos em 2014 e chegou ao maior nível desde 2010: 39% dos brasileiros dizem estar “muito satisfeitos” ou “satisfeitos” com o regime democrático, segundo pesquisa do Ibope, feita a pedido do Estado. Apenas 26% diziam isso em 2013, o ano dos protestos em massa.

Ao mesmo tempo, caiu de 40% para 30% a taxa dos “pouco satisfeitos” e de 29% para 22% a dos “nada satisfeitos”. Embora numerosos, é significativo que esses contingentes tenham caído, a despeito das manifestações por intervenção militar.
“Grupos extremistas são mais estridentes. Têm uma repercussão maior do que sua representatividade social. Não surpreende que a pesquisa mostre bem o contrário do barulho que esse grupo causa. Ele (o grupo) dá uma falsa impressão de que tem muito mais gente insatisfeita com a democracia”, diz o cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas Cláudio Couto.

De fato, a maior parte da população afirma que “a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo”: são 46%, ante 20% que dizem que “um governo autoritário pode ser preferível”, dependendo das circunstâncias. O terço restante é indiferente, não soube ou não quis responder à pergunta.

Porém, se somarmos os pouco satisfeitos com os nada satisfeitos, eles chegam a 52% do eleitorado. Para José Álvaro Moisés, professor de Ciência Política da USP, “há problemas crônicos no Brasil em relação à confiança das pessoas na democracia, que já vem de algum tempo”. Ele lembra a desconfiança com os partidos e o Congresso e cita duas causas: 1) a avaliação popular de que funcionam mal e 2) a percepção de aumento da corrupção.

Sem partido. A pesquisa do Ibope reforça a primeira hipótese. Para 36% dos eleitores, a democracia pode funcionar sem partidos políticos (43% dizem que não pode e 21% não responderam). Três em dez entrevistados dizem que a democracia pode funcionar sem o Congresso – contra 47% que afirmam que não há regime democrático sem Parlamento. Embora alta, a taxa dos que se livrariam dos congressistas já foi bem maior: 40% em 2008 e 42% em 2010.

Mesmo tendo aumentado em todos os segmentos sociais entre 2013 e 2014, a satisfação com a democracia no Brasil é desigual. Há mais satisfeitos no Nordeste (50%) do que no Sudeste (32%), entre quem estudou até o fundamental (44%) do que entre quem fez faculdade (35%). Isso talvez seja reflexo do resultado da eleição presidencial, já que a candidata vitoriosa, Dilma Rousseff (PT), teve mais votos nesses segmentos.

José Álvaro Moisés levanta outra hipótese. “Está se formando uma camada de cidadãos críticos à democracia. Não é que não sejam democratas. Eles se tornam mais críticos com mais informação que recebem”, avalia. “A melhora da qualidade da informação leva as pessoas a refletirem sobre a experiência delas na democracia.”

Feita anualmente pelo Ibope, a pesquisa sobre a satisfação do brasileiro com a democracia mostra que – fora o auge de 2009/2010, quando chegou a 48% – a taxa dos satisfeitos é a terceira maior em 20 anos. O Ibope ouviu 2.002 eleitores entre 13 e 17 de novembro, em todas as regiões do Brasil. A margem de erro máxima é de 2 pontos, para mais ou para menos.

Aécio inicia processo para atualizar programa partidário

• O objetivo é manter a mobilização dos jovens e incluir temas como a sustentabilidade

Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA - De olho nos novos segmentos da população que se uniram à oposição nas eleições deste ano, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), comandará nos próximos meses uma atualização do programa partidário tucano. O objetivo é tentar manter mobilizados jovens e demais eleitores que participaram ativamente da última campanha.

Segundo o tucano, o foco é o eleitorado que estava afastado da vida política mas que, desde junho de 2013, foi às ruas para reclamar mudanças na condução do governo. Como parte significativa dessa população aderiu à oposição, a ideia é oferecer uma estrutura de participação mais atraente para mantê-la ativa.

O senador quer apresentar na próxima convenção do PSDB, que ocorre em maio de 2015, o novo programa do partido, um texto que incorpore temas sensíveis a esse eleitorado.

- Vamos discutir a atualização do nosso programa para incluir novos temas, como a sustentabilidade, e confirmar teses mais liberais na economia. O PSDB saiu muito renovado desta eleição, e o campo contrário saiu com cara de coisa velha. Acreditamos em um partido renovado e impulsionado por uma nova militância - afirmou Aécio.

O partido está estimulando o que é considerado um fato novo nas fileiras tucanas: o alistamento de estudantes para o comando de diretórios acadêmicos em universidades, espaço que tradicionalmente foi ocupado pelos partidos mais à esquerda. Essa militância que está sendo formada deverá ter participação na atualização do programa tucano.

O presidente do PSDB mineiro, deputado Marcus Pestana, afirma que é preciso "dinamizar" a vida partidária para que cresça o interesse da juventude.

- Queremos definir no programa o que seria a nova política, compatível com a sociedade contemporânea, que é ligada nas redes sociais e mais participativa. É preciso modernizar essa estética antiga do discurso unilateral, gritado, para um estilo de retórica e relacionamento mais atual. Assim vamos estar sintonizados com a juventude - afirma.

As reuniões para definir essa "nova agenda" devem se intensificar no ano que vem. Mas, nas próximas semanas, Aécio iniciará conversas sobre a proposta.

PSDB, DEM E PSB já se articulam para 2016

• Aliança com vistas às eleições municipais passa por atuação na Câmara e no Senado

Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA - Passado o embate das eleições, as cúpulas de PSDB, DEM e partidos como o PSB, que integraram a aliança tucana no segundo turno, já começam a montar o tabuleiro com as peças que mais mexerão durante a próxima legislatura, tendo em vista as eleições municipais de 2016. A ideia é ganhar o maior número possível de prefeituras de capitais e grandes centros. Esse xadrez passa também pela eleição dos presidentes da Câmara e do Senado, em fevereiro.

Pelo menos em relação à disputa do comando da Câmara, por enquanto o PSDB, do senador Aécio Neves (MG), e o DEM, do senador José Agripino (RN), estão divididos sobre a melhor estratégia. Os tucanos estão alinhados com a candidatura alternativa do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), no primeiro turno, contra o candidato favorito, o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), e o candidato do PT, a ser anunciado nesta semana. Há conversas ainda não definitivas com Cunha, mas Agripino acha que a melhor tática é apostar tudo no atrito entre PMDB e PT.

Ele acredita que o fato de Cunha e Dilma “se detestarem”, na presidência da Câmara o peemedebista facilitaria a tramitação de medidas, responsabilizando a presidente caso a crise da Petrobras revele provas disso.

Juntos na obstrução
O que não aconteceria com um presidente do PT. Outro ponto que tem levado o DEM a apostar em Cunha é a posição de independência do PSB de Delgado, aprovada há duas semanas.

— Talvez o melhor seja investir para o futuro. A presidência da Câmara exige um exercício de futurologia. Como as coisas estão andando, não é mais palavrão falar em impeachment — diz Agripino.

De seu lado, Delgado diz que conversou com Aécio no dia em que a Executiva do PSB aprovou que o partido ficaria independente. Ele argumenta que, pela primeira vez, o PSB saiu do campo do PT e se aliou ao PSDB. E não há, até o momento, nada que indique que o partido voltará para o campo do PT.

— Ficamos até as cinco horas da manhã ao lado do PSDB e do DEM na obstrução da LDO. Nossa conduta ao lado deles deles deixou muito clara qual será nossa linha. Como perdemos nossa maior liderança, para 2018 resta saber qual a postura do PSDB e do DEM. Vai depender de gestos, e tudo começa agora, com o apoio à minha candidatura — diz Delgado.

Como PSDB e DEM vão ter uma linha de frente muito forte no Senado, o papel de cada um começa a ser pensado já. Com a recondução de Aécio como presidente da sigla na convenção nacional de maio praticamente certa, uma preocupação é tirar a prefeitura de São Paulo do PT para ampliar a frente anti-PT no estado. Se o nome do senador Aloysio Nunes prosperar como o candidato tucano na disputa, o vice na chapa presidencial pode ser reconduzido à liderança do partido no Senado por mais um período, para ficar na vitrine.

No ano passado, na articulação para se aproximar dos paulistas, o nome do senador Cássio Cunha Lima (PB), mais próximo de Aécio até então, foi retirado da disputa para o posto de líder. A certeza geral é a de que a atuação das oposições no Congresso, daqui para a frente, terá uma outra visibilidade e repercussão depois do bom resultado de Aécio nas urnas.

— Qualquer ação da oposição agora tem ressonância enorme na sociedade. Antes, a gente falava na crise, e ninguém dava bola. Agora começa a doer no bolso e o discurso tem ressonância — avalia a senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO).

O senador eleito José Serra deve focar sua atuação na área econômica, mas vai se voltar também para o social e a Saúde. Já o ex-governador Antônio Anastasia cuidará da gestão pública. Quanto a ele, há, no entanto, uma preocupação: o governador eleito em Minas, Fernando Pimentel (PT), fará uma devassa na gestão tucana no estado.

Marina diz que Rede surge em momento de 'crise civilizatória'

Karla Spotorno – O Estado de S. Paulo

A ex-candidata à Presidência da República, Marina Silva (PSB), afirmou em discurso à militância da Rede Sustentabilidade em São Paulo que o partido surge em um momento de crise civilizatória no Brasil e no mundo. "Vivemos uma crise social, econômica, de valores (...) que eu chamo de crise civilizatória", disse em discurso a cerca de cem militantes.

Marina afirmou que planeja que Beto Albuquerque (PSB-RS), ex-candidato a vice-presidente em sua chapa, se torne filiado honorário da Rede quando o partido for legalizado. "Era o meu desejo com o Eduardo Campos. Assim como eu desejo ser filiada honorária do PSB, depois da formalização do partido", disse.

Marina chegou às 16h10 no evento de motivação do partido, marcado para as 13h30 na sede estadual da Rede no bairro da Liberdade. Assim que chegou, ouviu uma música sobre a Rede Sustentabilidade, composta por uma militante e, depois, um poema de outro militante. No fim de seu discurso, Marina também declamou um poema em que dizia "canta alma moída", em referência direta à dura campanha eleitoral em que, segundo Marina: "Fomos desconstruídos". "Não gostaria de estar no lugar de quem disse que eu iria acabar com o Bolsa Família, com o Minha Casa, Minha Vida", afirmou.

Marina saiu da sede da Rede depois de fazer fotos com os militantes e se recusou a falar com a imprensa. Sua assessoria informou que ela só concederá entrevistas em janeiro.

Sem mandato ou bancada, Marina faz oposição virtual

• Enquanto articula a criação da Rede Sustentabilidade, candidata derrotada do PSB enfrenta limites impostos pela conjuntura

Isadora Peron - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Em tempos de "oposição selvagem" - expressão cunhada pelo líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), para classificar a nova conduta dos colegas de partido no Congresso -, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (PSB), terceira colocada nas eleições presidenciais deste ano, tem encontrado dificuldades em se reposicionar politicamente.

Apesar de ter retomado a criação do seu novo partido, a Rede Sustentabilidade, ela está discreta após o 2.º turno: aparece pouco em público e concentra sua atuação nas redes sociais.

Na semana passada, enquanto o PSDB complicava a vida do governo nas sessões para aprovação da flexibilização da meta fiscal, Marina, sem o palanque que um mandato parlamentar oferece, recorreu ao Facebook. Disse que a mudança faria o governo perder "o que lhe resta de respeitabilidade".

A ex-ministra também usou as redes sociais para explorar as denúncias de corrupção na Petrobrás. Buscou ainda abordar temas que lhe são caros, como o aumento do desmatamento na Amazônia.

Ontem, em rara aparição pública após a eleição, durante reunião da Rede, em São Paulo, Marina não quis conceder entrevista. Limitou-se a falar à militância e declamar um poema em que dizia "canta alma moída", em referência à dura campanha eleitoral: "Fomos desconstruídos", afirmou.

Enquanto reorganiza seu grupo, Marina tem enfrentado baixas em seu círculo imediato. Ela foi surpreendida há uma semana com o comunicado de que um dos seus principais operadores políticos iria deixar de ser porta-voz da Rede para se dedicar a um projeto pessoal. Walter Feldman, que foi o coordenador da campanha da ex-ministra este ano, decidiu assumir um cargo de chefia na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e, por isso, não vai conseguir manter a sua função na Executiva da Rede (mais informações abaixo).

Adesões. O plano da ex-ministra é conquistar parlamentares para sua nova sigla. Seus aliados esperam atrair pelo menos dez, entre deputados e senadores, depois que a Rede for regularizada - o que deve acontecer até março. Com uma bancada pequena, a ideia é atuar em sintonia com partidos como o PSB, pelo qual Marina disputou as eleições este ano. Só então ela terá condições de retomar um protagonismo no debate nacional.

Há, porém, um complicador. O fato de ter apoiado Aécio no 2.º turno das eleições de outubro acabou por afastar políticos alinhados mais à esquerda.

Para o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), a aliança com o tucano foi "um equívoco" e afastou do grupo alguns setores. "Muita gente deixou de considerar a Rede como uma alternativa depois disso", afirmou. O senador diz que está aberto ao diálogo, mas que a sua disposição de se juntar ao grupo arrefeceu.

Apesar das dificuldades, aliados também avaliam que a situação de Marina é mais estável este ano do que era em 2010, quando também terminou as eleições em terceiro lugar. Com a decisão de deixar o PV, ela ficou sem partido até 2013, quando começou a articular, sem sucesso, a Rede. Agora, se os planos derem certo, poderá atuar até 2018 como liderança partidária, mesmo que com uma pequena bancada.

Também se dedicará a palestras, artigos na imprensa e, é claro, críticas ao governo no Facebook.

Ato convocado pela oposição reúne 8 mil pessoas em São Paulo

• Grupo protesta contra a corrupção na Petrobras, a mudança na meta fiscal e pede 'Fora Dilma'

Ana Paula Ribeiro – O Globo

SÃO PAULO — Entre 4 mil e 5 mil pessoas participaram de ato convocado em São Paulo contra a corrupção na Petrobras, segundo a Polícia Militar. Os movimentos Vem Pra Rua e Brasil Livre se reuniram no Masp, na Avenida Paulista, e seguiram para a praça Roosevelt, no Centro. O senador eleito por São Paulo José Serra participou da manifestação e discursou para os presentes. Para Serra, o ato deste sábado fortalece a democracia e a cobrança sobre os políticos. O senador aproveitou para pedir paciência aos opositores caso as mudanças não aconteçam.

— As coisas não vão se resolver em uma semana, um mês ou um ano. Mas precisamos estar prontos para o imprevisto, para o improvável. Não há história sem fatos inesperados — disse ele, sem especificar o que seriam 'fatos inesperados'.
Entre os divulgadores desse encontro no decorrer da semana estava o senador Aécio Neves (PSDB), mas os dois coletivos que organizaram o protesto afirmam que são supra partidários. Na página oficial do senador no facebook, uma foto da manifestação foi postada.

As reivindicações do presentes ao ato se dividem em duas. De um lado está os que pedem intervenção militar no país. Do outro, concentram-se pessoas que protestam contra a corrupção na Petrobras e as mudanças na Lei de Diretrizes Orçamentárias.

— Queremos a apuração das denúncias de corrupção na Petrobras, somos contra a aprovação da flexibilização da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e queremos divulgar o voto distrital — afirmou Rogério Chequer, um dos organizadores do Vem Pra Rua.

Ele acrescentou ainda que, nesse momento, o movimento não defende o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Apesar disso, uma série de participantes estava com bandeiras ou camisetas com a frase "Fora Dilma".

Renas Santos, do Brasil Livre, afirmou que pede a menor intervenção estatal.
Também no Masp, os movimentos Movimento Brasil Revolucionário e Juntos Somos Fortes pediam a intervenção militar.

— Estamos vendo o início do comunismo. Não temos partidos aceitáveis — afirmou Maria Lucia Simões, do Juntos Somos Fortes.

Pouco antes dos manifestantes ocuparem a Paulista sentido Consolação, o tom dos discursos subiu. Embora os coordenadores afirmem que são contra o impeachment, muito diziam acreditar que a presidente Dilma não vai conseguir governar.

— Esse governo não vai acontecer. Nunca um governo sofreu manifestações logo depois de eleito. Não queremos eles. Não aceitamos a forma como eles governam — afirmou Rennan Santos.

No lado do Vão Livre do Masp que pede a intervenção militar, o tom era ainda mais elevado.

— Não vim aqui para tirar foto, vim para derrubar esse governo de corruptos — afirmou um manifestante que se identificou como Mike Brasil.

Cristina Peviani, uma das fundadoras do MBR, diz que a intervenção é necessária para tirar os fichas sujas do governo.

Já o professor particular Vicente Martinez aproveitou a manifestação para vender camisetas com a inscrição "Fora Dilma e leva o PT junto".

Fernando Henrique Cardoso - Vitória amarga

- O Estado de S. Paulo / O Globo

Raras vezes houve vitória eleitoral tão pouco festejada. Nem mesmo o partido da vencedora, tonitruante e dado a autocelebrações, vibrou o suficiente para despertar o País da letargia. Os mais espertos talvez tenham percebido que seus quadros minguaram, com graves perdas de entusiasmo e adesão na juventude e certo rancor em setores do empresariado mais moderno.

A reeleita possivelmente saboreie o êxito com certo amargor. É indiscutível a legalidade da vitória, mas discutível sua legitimidade. O que foi dito durante a campanha eleitoral não se compaginava com a realidade. Só mesmo seu ministro da Fazenda, que coabita com o novo ministro designado, pôde dizer de cara lavada que a economia saíra da estagnação e os males que a assolam vêm da crise mundial.

Recentemente, fazendo coro a essa euforia de encomenda, diante de dados que mostram um "crescimento" de 0,1% do PIB no trimestre passado, houve a repetição da bobagem: finalmente a economia teria saído da "recessão técnica", de dois ou mais trimestres seguidos. Palavras, palavras, palavras, que não enganam sequer os que as estão pronunciando.

Na formação do novo Gabinete a presidenta começou a atuar (escrevo antes que a tarefa esteja completa) no sentido de desdizer o que pregara na campanha. Buscou um tripé "de direita" para o comando da economia. Na verdade, o adjetivo é despiciendo: a calamidade das contas públicas levou-a a escolher quem se imagina possa repô-las em ordem, pois sem isso não existe direita nem esquerda, mas o caos. Menos justificável, senão pela angústia dos apoios perdidos, é a composição anunciada do resto do Ministério, de cunho mais conservador/clientelístico. Esperemos.

A presidenta, com essa reviravolta, deve sentir certa constrangedora falta de legitimidade. Foi a partir da ação dela na Casa Civil, e daí por diante, que se implantou a "nova matriz econômica": mais gastança governamental e mais crédito público, à custa do Tesouro. Foi isso que não deu certo, e serviu de alavanca para outros equívocos que levaram o governo do PT a perder a confiança de metade do País. Sem falar da quebra moral.

Metade, sim, mas que metade? É só ver os dados eleitorais com maior minúcia, município por município: a oposição ganhou, em geral, nas áreas mais dinâmicas do País, inclusive nas capitais onde há sociedade civil mais ativa, maior escolaridade, capacidade empreendedora mais autônoma e menos amarras aos governos. O lulopetismo, nascido no coração da classe trabalhadora do ABC, recuou para as áreas do País onde a ação do governo supre a ausência de uma sociedade civil ativa e de setores produtivos mais independentes de decisões governamentais.

É falaciosa a afirmação de que houve vitória da oposição em áreas geográficas tomadas isoladamente: Sudeste rico em contraposição ao Nordeste pobre, idem quanto ao Sul ou quanto o Centro-Oeste em relação ao Norte. Ou de ricos contra pobres, à moda lulista. Por certo, como há maior concentração da pobreza nas áreas mais dependentes do assistencialismo governamental, houve, de fato, uma distinção na qual as faixas de renda pesam. Mas os 7 milhões de dianteira que Aécio levou sobre Dilma em São Paulo terão sido "dos ricos"? Absurdo. Nas áreas menos dependentes do governo, ricos e pobres tenderam a votar contra o lulopetismo e nas demais, a favor de Dilma, ou melhor, do governo. A votação na oposição no Acre, em Rondônia, em Roraima ou nas capitais do Norte e Nordeste se explica melhor pelo dinamismo do agronegócio e pelos serviços que ele gera e, no caso das capitais, pela maior autonomia de decisão das pessoas.

Esse o xis da questão. Eleito com apoio dos mais dependentes (não só dos mais pobres, mas também dos dependentes da "máquina pública" e das empresas a ela associadas), o "novo" governo precisa fazer uma política econômica que atenda aos setores mais dinâmicos do País. Vem daí certa tristeza na vitória: a tarefa a ser cumprida seria mais bem realizada com a esperança, o ânimo e o compromisso de campanha dos que não venceram. Cabe agora aos vitoriosos vestir a camisa de seus opositores (como Lula já fez em 2003), continuar nos maldizendo e fazendo mal feito o que nós faríamos de corpo e alma, portanto, melhor. Atenção: a economia não é tudo. Menos ainda um ajuste fiscal. O êxito de uma política econômica depende, como é óbvio, da política. Economia é política. Política exige convicção, capacidade de se comunicar, mensagem e desempenho. No Plano Real coube-me ser o arauto, falar com a sociedade, ir ao Congresso, convencer o próprio governo. O presidente Itamar Franco teve a sabedoria de indicar, para me suceder, o embaixador Ricupero, que fez o mesmo papel. E agora, quem desempenhará a função de governar numa democracia, isto é, obter o apoio, o consentimento, a adesão dos demais atores políticos? Do Congresso, das empresas, dos sindicatos, das igrejas, da mídia, numa palavra, da sociedade.

A presidenta Dilma, mulher sincera, ciosa de suas opiniões, terá condições para se transmutar em andorinha da mensagem execrada por ela e sua grei? A nova equipe econômica terá esse perfil ou se isolará no tecnicismo? O "petrolão" será uma ventania ou um tufão a derrubar as muralhas do governo e da "base aliada"? E a oposição, ela se oporá de verdade ou embarcará no tecnicismo e na boa vontade à espera que o "mercado", sobretudo o financeiro, se acalme e tudo volte à moda antiga? O mesmo se diga de cada setor da sociedade.

É mais fácil rearranjar a economia do que acertar a política. Que fazer com essa quantidade de partidos e ministérios, interligados mais por interesses, muitos dos quais escusos? Sem liderança, nada a fazer. Com miopia eleitoreira, menos ainda. Tomara não sejam os juízes os únicos a purgar nossos males, como ocorreu na Itália, até porque no exemplo citado o resultado posterior, a eleição de um demagogo como Berlusconi, não foi promissor.

* Sociólogo, foi Presidente da República

Luiz Werneck Vianna - Dilma, o Minotauro e seu labirinto

- O Estado de S. Paulo

Labirintos são lugares perigosos e não se deve entrar neles sem o fio de Ariadne com que Teseu, depois de matar o Minotauro que afligia a cidade de Tebas, teve como encontrar o caminho de saída. Por motivos diversos dos que levaram Octávio Paz a descrever o México como o labirinto da solidão, título do ensaio clássico que dedicou à formação do seu país, também a metáfora do labirinto pode servir-nos para compreender algo do nosso. Sem fio que nos guie, desconfiados das linhas retas, pegamos gosto pelos zigue-zagues, em que sempre nos perdemos, retornando a passagens já percorridas.

Essa sina tem sua marca de origem na própria fundação do nosso Estado, quando um movimento nacional-libertador, que germinava na então colônia, foi atalhado pelo episódio da Independência, em que o filho do rei metropolitano foi consagrado como imperador. Teríamos, a partir desse desfecho singular, de procurar uma rota americana consultando velhos mapas ibéricos, o que fizemos, visto da perspectiva de hoje, tudo pesado, até que com relativo êxito, embora o labirinto ainda seja a nossa morada.

A conciliação entre contrários, fórmula descoberta nos primeiros anos do Segundo Reinado e que nos veio para ficar, mesmo quando invocamos princípios fortes em nome de revoluções, como nos anos 1930, em que Vargas, arguto intérprete da política do Império - não à toa, dois de seus principais colaboradores, Oliveira Vianna e Francisco Campos, se contavam entre os admiradores da política imperial -, foi capaz de governar com a Carta de 1934, composição bizarra da ordem liberal com a corporativa, e, mais tarde, em 1937, com uma Carta protofascista que jamais levou a sério, dela fazendo uso para fins de conservação do seu poder. Foi, aliás, sob a vigência formal dessa última Carta que Vargas declarou seu apoio aos Aliados na 2.ª Guerra Mundial, e enviou tropas para combater o fascismo na Itália.

Definitivamente, o Brasil é a terra da revolução passiva, em que a condição para que as coisas mudem é a de que, ao fim, elas fiquem como estão - movimento, pois, labiríntico -, lição que, bem antes de aprendermos nos livros, já tínhamos entranhado na nossa experiência política, como na frase famosa do estadista mineiro Antônio Carlos de Andrada, às vésperas da revolução de 1930; "Façamos a revolução antes que o povo a faça". E aí, nessa montagem, ainda em curso, do segundo governo de Dilma Rousseff, mais uma situação exemplar de como coexistimos com o Minotauro em seu labirinto. Nas histórias infantis de Monteiro Lobato, seus personagens aquietavam a fúria desse monstro da mitologia com os deliciosos bolinhos de Tia Anastácia, mas na cena aberta diante de nós a tarefa parece ser bem mais complexa.

Ao longo da campanha presidencial, o céu de brigadeiro com que se inicia a jornada da candidata à reeleição logo se vai turvar com a ameaça da candidatura Marina Silva, que, desconstruída com ferramentas sacadas do arsenal do diabo - como Dilma antes de aberta a sucessão prometera fazer, se fosse o caso -, pavimentou o caminho para o crescimento da candidatura de Aécio Neves. Ferramentas de segunda geração foram, então, mobilizadas: o nacional-desenvolvimentismo, antes evocado em surdina, torna-se um dos carros-chefes da campanha, jovens lideranças das redes sociais e das jornadas de junho de 2013 são incorporadas, nem a velha esquerda é esquecida. O nacional-popular, renegado nas origens do PT, teria encontrado um lugar no partido e eventuais energias utópicas poderiam sentir-se liberadas. Foi por um triz, mas foi o que bastou.

Embalada pela vitória eleitoral, a direção política do PT apresentou seu plano de ação, que parecia saído das páginas de A Razão Populista (Três Estrelas, São Paulo, 2013), de Ernesto Laclau - professor emérito de Essex, recentemente falecido -, sofisticado trabalho em que argumenta em favor do paradigma populista como um experimento capaz de combinar com êxito o institucionalismo com as demandas sociais originárias de uma mobilização espontânea do povo. Freud, Lacan, Wittgenstein, mais o Gramsci da teoria da hegemonia suportam sua difícil e tortuosa construção, exercício hermenêutico que conclui no sentido de negar a existência, na cena contemporânea, de ontologias privilegiadas. O mundo do trabalho e seus personagens teriam perdido centralidade em nome da emergência do povo.

Para sua sorte, Dilma conta com Lula. Esse mestre nas artes da revolução passiva não tardou a perceber a gravidade dos riscos de as veleidades populistas dominarem a agenda do novo governo. E barrou-lhes o caminho. Romper com sua política, bem-sucedida em dois mandatos, em meio a uma tempestade perfeita - alta da inflação, crescimento zero, perda de credibilidade interna e internacional -, qualificada pelos malfeitos da Petrobrás, apenas com o aríete de ruas desgostosas da política e do exército Brancaleone reunido às pressas no segundo turno da campanha eleitoral seria marcar um encontro com o desastre.

A intervenção ordenada por ele foi cirúrgica: cooptou-se o programa econômico da candidatura da oposição. Num passe de mágica, voltou-se, como soe acontecer nos labirintos, ao mesmo lugar de 2003, com as elites econômicas, demonizadas no discurso da campanha eleitoral, novamente reconhecidas como parceiras estratégicas do novo governo do PT. A fórmula cáustica "hegemonia às avessas" do sociólogo Francisco de Oliveira, cunhada em 2007, para designar a situação em que "os dominantes consentem em ser politicamente conduzidos pelos dominados" desde que não se questione a "forma da exploração capitalista", tem aí recuperado o seu sentido original, embora continue tão enigmática quanto ao tempo da sua formulação. Ela pode ser própria para quem deseja viver em labirinto, ou tentar sair dele por métodos confusos, quando se perde ainda mais.

* Cientista Social da PUC-Rio

Merval Pereira - Dessemelhanças

- O Globo

São grandes as semelhanças entre as dificuldades políticas e econômicas que o primeiro governo petista enfrentou a partir de 2003 e as que está enfrentando agora o governo da presidente reeleita Dilma Rousseff, e no entanto as condições são tão dessemelhantes que é temerário imaginar que a repetição das ações que deram certo 12 anos atrás para superar a tragédia política de então possa ser uma solução, e não simplesmente uma farsa.

A começar por que aquele seria o primeiro ano de governo petista, depois de três tentativas frustradas, e quem estava à frente era Lula, um dos maiores líderes políticos brasileiros dos últimos tempos, goste-se dele ou não. Ambos, PT e Lula, entravam no governo com a aura de salvadores da Pátria, ainda blindados pelo desejo da maioria da população de seriedade política que representavam.

Hoje, 12 anos depois, não mais. Nem o PT, nem Lula, muito menos Dilma, representam a política na sua acepção mais nobre que os cidadãos continuam almejando. Pelo contrário, para boa parte da população, são exemplos de corrupção da política, no sentido mais amplo.

Na questão econômica, bastou que o governo Lula, depois de divulgar a Carta ao Povo Brasileiro, demonstrasse com atos a disposição de tornar realidade as promessas feitas, com uma política econômica ortodoxa, para que o aperto monetário e fiscal fizesse a inflação desabar. Questões internas, como o desemprego alto na ocasião, impediram que os salários se valorizassem. E o boom das commodities, com a China em plena expansão, levou o país ao crescimento em prazo relativamente curto.

O economista da FGV do Rio Armando Castelar escreveu um belo artigo no Valor de ontem explicando esses detalhes econômicos que diferenciam o ajuste de 2003 daquele que terá que ser feito hoje. Assim como as condições econômicas são mais adversas, a situação política é completamente diferente. À frente do projeto econômico de Lula havia o petista de raiz Antônio Palocci, que tinha cacife para chamar para o Banco Central um banqueiro internacional tucano, Henrique Meirelles.

Dilma, ao contrário, chamou para comandar sua equipe econômica um tucano de carteirinha, Joaquim Levy, que trabalhava na equipe de Aécio Neves sob o comando de Armínio Fraga, demonizado pelo PT na campanha presidencial. O próprio Levy já fora alvo preferencial dos petistas quando trabalhava na equipe econômica de Palocci.

O governo Lula só teve que enfrentar a crise do mensalão dois anos depois de ter começado, quando a política econômica já estava dando resultados. Os programas sociais começavam a se fazer efetivos nas regiões mais pobres, e os movimentos sociais ainda tinham a legitimidade que já perderam hoje. E mesmo assim quase soçobrou.

Hoje, o petrolão atinge em cheio o governo Dilma ainda no estertor do primeiro mandato, e entra pelo segundo sem dar trégua. A oposição está muito mais forte no momento, depois de um resultado eleitoral excepcional, e as manifestações populares contra o governo petista, mesmo com seus altos e baixos e desvios radicais que precisam ser controlados, são a demonstração de que o país dividido que saiu das urnas não está disposto a dar ao novo governo o benefício da dúvida.

O clima político do país é instável, e o governo, mesmo reeleito, não demonstra ter condições de revertê-lo, seja pela notória dificuldade que a presidente Dilma tem de fazer política, seja pela falta de assessoria eficiente nesse ramo. O que vai definir realmente o quadro nacional é a relação dos políticos envolvidos no megaesquema de corrupção da Petrobras, que já se sabe agora que está espalhado por outros setores do governo.

A partir daí o clima político, que já está carregado, passará a ditar o ritmo da crise a partir de um Congresso sitiado, onde uma nova CPI da Petrobras será inevitável. Quando o principal suporte do governo é o presidente do Senado, Renan Calheiros, já citado entre os beneficiários do petrolão em delações premiadas, vê-se o tamanho da encrenca que o governo tem pela frente.

O governo não terá a melhoria econômica para ajudá-lo pelo menos nos dois primeiros anos, e não terá, sobretudo, um carismático líder político a liderá-lo. Mesmo por que Dilma não é Lula, e o Lula de hoje já não é o Lula de 2003, nem o PT é o partido-símbolo da ética na política. Ao contrário.

Dora Kramer - Mestre-sala do mar

- O Estado de S. Paulo

Faz mais de 20 anos que Carlos Castello Branco nos deixou, no dia 20 de maio de 1993. Lá se vão duas gerações que não tiveram a chance de contar com a orientação da bússola diária quase sempre infalível de Castelinho, o maior cronista político do Brasil que por mais que tenha visto ao longo de cinco décadas completas - incluídas aí duas ditaduras - nunca viu nada parecido com o atual desconserto que assola o País.

E por que uma afirmação assim tão definitiva? Porque assim autoriza a leitura da vida e da obra de Castello fartamente documentadas, detalhadamente descritas e de uma forma invejável escrita pelo jornalista Carlos Marchi no livro Todo aquele imenso mar de liberdade, a ser lançado em março de 2015 pela editora Record.

O livro acompanha Castelinho desde o Piauí, onde nasceu e começou a carreira em 1939, passando por Belo Horizonte, onde viveu o apogeu e a desistência do sonho de se tornar um romancista, Rio de Janeiro, onde estrearia de fato no ofício de comentarista político até a chegada em Brasília.

Na capital, um desvio: seria secretário de imprensa de Jânio Quadros e nessa condição acompanharia "de dentro" passo a passo os acontecimentos que levaram à renúncia. Foi a única vez em que Castello ocupou um cargo em governo. E não gostou do que viu. Estava certo quando relutou em aceitar e, segundo ele mesmo, errado em ceder à imposição do então presidente. Jânio lhe assegurou que a permanência seria curta. O que viria, no entanto, de tão inusitado nem suas afiadas antenas foram capazes de prever.

Em Todo aquele imenso mar... Marchi conta os episódios da História do Brasil sob o olhar e a tradução de Castelinho. São inúmeros. Alguns eletrizantes, para quem não viveu aqueles dias ou não tem o hábito de cultivar intimidade com o passado. Aos jovens que talvez nunca tenham ouvido falar nele ou não saibam avaliar sua importância, abre as portas do acesso ao desconhecido. Aos mais velhos, as janelas da memória. Um relato que pelo misto de franqueza e sutileza pode provocar todo tipo de reação, menos tédio e indiferença.

Entre outros motivos porque o autor não esconde nada, nem mesmo passagens que possam soar constrangedoras ao biografado. Definitivamente não se trata de obra de mera galanteria. São 437 páginas das quais não se joga fora um detalhe.

São todos indispensáveis para a composição da personalidade, dos métodos de trabalho, das convicções e da alma do personagem cujo talento na captação dos fatos, no alinhavar das aparentes coincidências, na insistência em defender a liberdade em tempos escuros e na independência de um ser ao mesmo tempo recluso e sociável, fez dele o canal por meio do qual iam sendo, diariamente, desvendadas as entranhas do poder no Brasil.

Durante 30 anos nas páginas do Jornal do Brasil e por duas vezes sob duas ditaduras: de Getúlio Vargas e dos militares. Não por acaso, Castelinho ficou conhecido pela habilidade de falar nas entrelinhas. O livro nos conta como fazia isso em seu ofício do dia a dia, arrancando - e mais difícil, transmitindo ao público - informações de um regime ao qual só interessava escondê-las. Tanto é que censurava a imprensa.

A "Coluna do Castello", contudo, nunca foi alterada pelos censores que sentavam praça nas redações. Ele foi preso duas ou três vezes, a coluna chegou a ter sua publicação suspensa, mas o texto nunca foi mexido. Tudo tão bem alinhavado, as palavras cirurgicamente escolhidas e os detalhes cuidadosamente bordados, que não havia espaço para a tesoura do alheio.

Não obstante o encantamento das entrelinhas, o maior benefício do livro é que Carlos Castello Branco por meio de Carlos Marchi fala às claras a respeito de tudo o que viu e ouviu, a tempo de assistir a todo esse imenso mar de liberdade tomar conta do Brasil.

Bernardo Mello Franco - Vale-indigestão

- Folha de S. Paulo

Uma cena chamou a atenção de quem passou pelo encontro da cúpula do PT na última semana, em Fortaleza. No saguão do hotel, o tesoureiro João Vaccari distribuía vales a quem desejava almoçar às custas do partido. A imagem ilustra sua tarefa desde que assumiu o cargo, em 2010. Ele é o principal responsável por arrecadar e repassar o dinheiro que alimenta campanhas petistas em todo o país.

Investigadores da Polícia Federal acreditam que essa dieta foi vitaminada com recursos desviados da Petrobras. As suspeitas ganham força a cada vez que um preso aceita falar em troca de redução da pena que deverá cumprir na cadeia.

O ex-diretor Paulo Roberto Costa, que cobrava propina de fornecedores da estatal, e o doleiro Alberto Youssef, que enviava o dinheiro sujo ao exterior, vinculam Vaccari ao esquema. De acordo com eles, o tesoureiro recolhia pedágio de 2% a 3% do valor de cada contrato. Na outra ponta, executivos das empreiteiras corruptoras afirmam que o petista os procurava para pedir contribuições ao caixa da legenda.

Na última quarta (3), veio à tona uma novidade. O empresário Augusto Ribeiro de Mendonça Neto contou em juízo que era orientado a pagar propina em forma de "doações oficiais ao Partido dos Trabalhadores". Se o relato for comprovado, estaremos diante de uma solução criativa para o crime de caixa dois: a corrupção no caixa um, com envio de recibo à Justiça Eleitoral.

Vaccari tem se esquivado de dar explicações. Nega as acusações por escrito, mas foge de entrevistas e conta com a tropa do governo para não ter que depor no Congresso.

O PT deveria esclarecer a participação de seu secretário de finanças no escândalo --que já ameaça a imagem da presidente, como mostra a nova pesquisa Datafolha. Tratá-lo como vítima e continuar a comer em sua mão, como fizeram seus dirigentes em Fortaleza, pode ser uma escolha mais arriscada.

Luiz Carlos Azedo - Sintomas mórbidos

• Nada garante que o enfraquecimento do PT, do PMDB e do PP, partidos mais citados nas denúncias da Lava-Jato, venha a beneficiar a formação do novo governo

Correio Braziliense

Quando o novo quer nascer e o velho ainda não morreu, estamos diante de uma situação potencialmente de crise e os seus sintomas mórbidos e patológicos aparecem. É mais ou menos o que está acontecendo nesta transição do primeiro para o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, no qual o cavalo de pau na condução da economia está em contradição com a continuidade nas relações políticas do “presidencialismo de coalizão”.

Além da força de inércia das patologias de natureza administrativas, nos deparamos com os sintomas mórbidos das falcatruas na Petrobras e outras estatais, que estão sendo reveladas pela Operação Lava-Jato da Polícia Federal. A única surpresa em relação ao novo governo, até agora, foi a indicação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Mesmo aí, porém, há sintomas de que o velho não morreu e o novo ainda está por nascer.

O Palácio do Planalto moveu mundos e fundos, na base do tradicional “é dando que se recebe”, para aprovar mudanças na Lei de Responsabilidade Fiscal. Agora, vai gastar tudo o que pode para aliviar as despesas com “restos a pagar” em 2015, como servem de exemplo os R$ 30 bilhões transferidos pelo Tesouro ao BNDES por medida provisória. É grande o rombo dos empréstimos camaradas, uma parte dos quais foi parar nos caixas de campanha eleitoral — como no caso da JBS, que doou mais dinheiro do que as empreiteiras enroladas na Operação Lava-Jato.

O peso do passado no novo governo não é trivial. Represadas, as tarifas de ônibus, de energia elétrica e outros preços administrados terão de ser aumentados. O desmonte do que foi chamado de “nova matriz econômica” não será nada fácil. O Banco Central já sinalizou que manterá a inflação raspando o teto da meta, chegando mesmo aos 7% no primeiro semestre. Foi um banho de água fria no mercado, pois mostra que o presidente do BC, Alexandre Tombini, está mais afinado com a velha orientação da presidente Dilma Rousseff. Mira no emprego e na renda e não a meta de 4,5% de inflação, como caberia ao BC.

O novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciou um superavit fiscal de 1,5% para 2015, mas a proposta de Orçamento da União já reduziu essa meta para 1,2%. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2015 prevê um crescimento do PIB de apenas 0,8% no ano que vem. Ou seja, teremos um ano de crescimento baixo e inflação alta, provavelmente com menos empregos e perdas salariais, apesar da retórica oficial.

O pano de fundo dessas dificuldades é uma visão atávica de que os gastos públicos serão a alavanca para o crescimento da economia, muito mais do que os investimentos privados, o que significará, talvez, até aumentar a carga tributária. Além disso, da mesma forma como culpa a crise mundial pelas dificuldades econômicas que enfrenta, o Palácio do Planalto acredita num ambiente externo mais favorável em 2015. Na verdade, sem agouro, a curto prazo a situação será outra: a recuperação dos Estados Unidos terá forte impacto no câmbio, a moderação do crescimento da China joga pra baixo os preços das commodities e o cenário de agravamento da crise europeia prejudica ainda mais nossas exportações, sobretudo de manufaturados. E ainda tem a redução do preço do petróleo, que prejudica a exploração do pré-sal.

A velha política
Dilma venceu as eleições com um discurso eleitoral que mascarou os problemas e muito prometeu, mas agora está diante da realidade nua e crua. O país regrediu em muitos aspectos, não apenas do ponto de vista do equilíbrio fiscal. Agravaram-se os problemas ambientais e energéticos, as políticas públicas de saúde, educação, transportes e segurança deixam a desejar. A nossa indústria está sucateada. E a infraestrutura não entrou em colapso por causa da baixa atividade econômica. Não sabemos se a nova equipe ministerial estará à altura desses desafios.

Dilma Rousseff é prisioneira da velha política. Nesta semana, por exemplo, sofrerá fortes pressões dos partidos aliados para a formação de seu ministério. Ao contrário do presidente Lula, que conseguiu formar uma equipe melhor no segundo mandato, nada garante que agora acontecerá o mesmo, embora a nova equipe econômica tenha sido recebida de forma positiva pelo mercado e por alguns setores da oposição.

O toma lá dá cá parece impor a sua lógica à formação da nova equipe ministerial. O PMDB não abre mão de seis ministérios; o PP e o PR também querem lugares privilegiados pelo orçamento e pela capilaridade. O PT mira posições-chaves no governo e já mandou recado de que pretende controlar as verbas de publicidade do governo.

E tem a metástase da Operação Lava-Jato. A estratégia de Dilma Rousseff é fazer do limão uma limonada. Estariam envolvidos no escândalo cerca de 40 políticos, entre deputados, senadores, ministros e governadores. Nada garante que o enfraquecimento do PT, do PMDB e do PP, partidos mais citados nas denúncias da Lava-Jato, venha a beneficiar a formação do novo governo. Eis aí mais um sintoma mórbido.