- Eu & Fim de Semana / Valor Econômico
A recém-divulgada Síntese dos Indicadores Sociais, do IBGE, sobre a pobreza no Brasil nos mostra que 54,8 milhões de pessoas viviam com menos de R$ 406 por mês em 2017. Situam-se aquém dos US$ 5,5 por dia, que o Banco Mundial define como marco da pobreza.
O mesmo banco indica que vivem em estado de extrema pobreza os que recebem o equivalente a US$ 1,90 por dia, R$ 140 por mês. São 15,2 milhões de pessoas nessa situação, em 2017, um aumento de 1,7 milhão em relação ao ano anterior, mais do que a população de cada uma de 14 capitais brasileiras ou do que várias outras grandes cidades. Na melhor das hipóteses, essa importância dá apenas para prolongar o advento da morte por carências inadmissíveis, a maior das quais é a de alimentação. Trata-se de um nível genocida de pobreza.
Não obstante, no interior dessa enorme miséria, há também hierarquias e desigualdades sociais, do mesmo tipo que separa ricos e pobres. Abaixo da linha da pobreza, mulheres sem cônjuge e com filho são 56,9% do total, sendo as pretas ou pardas 64,4% e as brancas 41,5%. Se a cor da pele vitima mais aquelas do que estas, nem por isso é a cor o fator decisivo de vitimação dessas mulheres. Apesar das diferenças, é alta a proporção tanto de pretas e pardas quanto de brancas.
Outros fatores são mais decisivos na causa da pobreza. A proporção de casais com filhos nessa situação é de 30,4%, o que apenas sugere que a solidão da mãe sem marido ou companheiro não é o único nem decisivo fator da pobreza extrema. Mesmo que não existissem diferenças nas proporções por cor da pele, ainda assim existiriam graves fatores de empobrecimento. Não é o fato de que haja preconceito de cor no Brasil que explica a extrema pobreza. Ele apenas a agrava.