A constatação desse fato benévolo torna ainda mais gritante a ausência dos partidos políticos democráticos, principalmente os de esquerda, nos movimentos sociais, limitados às suas ações no âmbito parlamentar numa conjuntura onde ainda se fazem presentes ameaças reacionárias e fascistas. No mundo desertificado da política atual não se pode fazer ouvidos moucos a importante iniciativa de dois próceres da nossa política, Lula e Alkmin, de conceber uma ampla coalizão a fim de pela via eleitoral fechar as portas para o caminho de desgraças que acomete o país.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
sexta-feira, 7 de janeiro de 2022
Luiz Werneck Vianna*: Em política o que é, é.
Fernando Gabeira: No embalo da pandemia
O Estado de S. Paulo.
Assim como nos Estados Unidos, embora não seja o único tema, a covid-19 terá certamente um peso eleitoral no Brasil
O ano começa com um problema que não nos
deixou: a pandemia. Embora não tenha condições científicas de afirmar, parece
que uma nova onda de covid-19 se abate sobre o Brasil, trazida pela variante
Ômicron. Baseio-me em observações pessoais, muitos conhecidos testando positivo
e também pelo crescimento do número de testes nas farmácias.
O líder do governo na Câmara, Ricardo
Barros, afirma que no processo eleitoral a pandemia já estará esquecida.
Naturalmente que a performance de Bolsonaro não o ajuda e os políticos que o
apoiam querem passar uma borracha sobre o tema.
Mas o próprio Bolsonaro, se não bastasse a
Ômicron, se dedica a prolongar a polêmica sobre a pandemia. No momento em que a
imunização já avançava, ele investiu contra o passaporte sanitário. Na entrada
do ano, o governo dedica-se a empurrar com a barriga a vacinação infantil, por
orientação do próprio Bolsonaro.
Assim como nos Estados Unidos, embora não seja o único tema, a pandemia terá certamente um peso eleitoral. A resistência de Bolsonaro à vacinação infantil deve afastá-lo mais ainda do eleitorado feminino. Sem contar que muitas crianças voltam às aulas sem que o processo tenha sido realizado integralmente, aumentando os riscos.
Eliane Cantanhêde: Viajando na maionese
O Estado de S. Paulo
Ômicron, Delta, influenza, ‘flurona’, enchentes, rebelião do funcionalismo. E daí?, dirá Bolsonaro
É uma provocação barata e desnecessária do
presidente Jair Bolsonaro sair de um hospital de São Paulo e no mesmo dia pegar
outro voo para ir a um jogo de futebol de cantores sertanejos em Goiás. Dos jet
skis, das férias do Natal, das férias do ano novo e da nova obstrução direto
para a campanha eleitoral. Governar, que é bom, necas.
E que tal mandar interromper as férias do
seu médico no Caribe para em seguida cair num jogo de futebol, enquanto
inundações e enchentes da Bahia se estendem por Maranhão, Tocantins, Paraná,
Minas e a própria Santa Catarina das férias presidenciais, ameaçando a vida, as
casas e os bens de milhares de brasileiros?
Enquanto isso, também, a Ômicron já matou o primeiro brasileiro, em Goiás, e a covid corre solta mundo afora e acende o sinal vermelho no Rio, São Paulo, Minas, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul, além do DF, onde o número de casos deu um salto de 900% do Natal aos primeiros dias de 2022.
Luiz Carlos Azedo: A pedagogia do mau exemplo na campanha antivacinas
Correio Braziliense
Bolsonaro sabota a estratégia
de imunização das crianças. É um péssimo exemplo para a saúde pública. A
subnotificação está mascarando a verdadeira dimensão da quarta onda de Covid-19
O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a
criticar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por liberar a
vacinação do público pediátrico de 5 a 11 anos. Chamou os cientistas e médicos
que defendem a vacinação das crianças a partir dos cinco anos de “tarados da
vacina” e reiterou que a sua filha, de 11, não será vacinada. Sua ofensiva
contra a vacinação de crianças e pré-adolescentes ocorre num momento em que
explodem os casos de influenza e de covid-19, inclusive com transmissão
comunitária da variante ômicron. Pronto- socorros e ambulatórios estão lotados,
houve aumento exponencial da procura por testes de covid-19.
Os números registrados nos Estados Unidos, Europa e Ásia revelam que a quarta onda da pandemia de covid-19 é uma realidade, com o registro de mais de 2,5 milhões de casos por dia. A interpretação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, de que o Brasil está fora dessa rota não corresponde à realidade. Além disso, corrobora as suspeitas de que o apagão de dados do SUS pode ter sido provocado por hackers, mas a demora para resolver o problema faz parte da má vontade e das manobras protelatórias do governo federal contra a vacinação. O ministro está incorrendo nos mesmos erros que o general Eduardo Pazuello cometeu à frente do Ministério da Saúde, ao se submeter aos caprichos do presidente da República e dar as costas à população em situação de risco sanitário.
César Felício: Contrato nupcial entre desiguais
Valor Econômico
PSB está com pouco poder de barganha para
negociar com PT
A federação partidária é uma velha
aspiração do PSB. Não à toa foi um parlamentar do partido que propôs o projeto
aprovado no ano passado. Isso em 2015, iniciativa do então senador Antonio
Carlos Valadares.
O parceiro preferencial de quase todas as
articulações partidárias sempre foi o PT. Está claro, portanto, que ainda que
possam acontecer outros matrimônios no jogo das legendas, os protagonistas da
novela que o mundo político acompanha são PT e PSB. Partidos de centro-direita
podem se federar, mas a Federação é uma antiga ideia da centro-esquerda.
Andam mal as negociações, dada a
resistência petista em ceder espaços, e caciques partidários de fora da
esquerda apostam que o casamento não irá se concretizar.
“A questão central é a governança. Vai ser preciso um estatuto da federação. São muitas as dúvidas. As convenções serão conjuntas ou cada sigla terá que fazer a sua? se forem juntas, como vai ser a ponderação? quem vai ter mais peso?”, indaga um adversário certo da esquerda este ano.
Bernardo Mello Franco: A advogada e o general
O Globo
Eny Moreira estudava Direito em Juiz de
Fora quando leu um perfil de Sobral Pinto, o lendário defensor de presos
políticos. Largou a revista e avisou a mãe: “Vou trabalhar com esse homem”.
Determinada, viajou para o Rio e madrugou à espera do advogado na porta de uma
igreja. No dia seguinte, estava contratada como estagiária. A parceria se
estenderia por 15 anos.
Conhecida pela coragem, Eny chegou a ser
presa duas vezes. Não se limitou a defender as vítimas do autoritarismo. Também
denunciou as torturas praticadas nos porões. Em 1971, pediu a abertura de
inquérito contra o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe do DOI-Codi
paulista. Protestava contra as agressões ao estudante Paulo Vannuchi, que 34
anos depois se tornaria ministro dos Direitos Humanos. “Minha petição sumiu
como num passe de mágica, nunca foi tomada providência”, contou, em entrevista
para o livro “Advocacia em tempos difíceis”.
Eny denunciou a farsa do julgamento de Virgílio Gomes da Silva, participante do sequestro do embaixador americano. Na tribuna, disse o que as autoridades fingiam ignorar: o guerrilheiro já havia sido morto na tortura. Irritado, o juiz cassou sua palavra e ameaçou expulsá-la do tribunal.
Bruno Boghossian: A fumaça do Capitólio brasileiro
Folha de S. Paulo
Apesar de armistício, acrobacias
antidemocráticas do presidente terão efeito em 2022 e no futuro
Donald Trump não conseguiu melar a eleição
de 2020, mas teve sucesso em seu plano B. Um
ano depois da invasão do Capitólio, um terço dos americanos acredita na
informação falsa de que a disputa foi fraudada para favorecer Joe Biden, e
quase metade dos republicanos não aceita até hoje a vitória do democrata.
O ex-presidente adubou o terreno político
dos EUA para preservar sua influência. Mesmo derrotado, ele se consolidou como
líder de um processo de divisão da sociedade americana que se tornou uma
importante ferramenta eleitoral da direita.
O trumpismo se firmou como uma linha central do Partido Republicano. Dirigentes se recusam a condenar a tentativa de golpe de 6 de janeiro de 2021, tratam o ex-presidente como um candidato competitivo para 2024 e pegam carona nas fantasiosas alegações de fraude para aprovar medidas que restringem o voto de potenciais eleitores democratas.
Flávia Oliveira: Volta que deu ruim
O Globo
A esta altura, esperava confirmar duas
semanas de férias em Salvador (BA) e reencontrar, no 2 de Fevereiro, a
celebração a Iemanjá que se tornara tradição dos meus verões. Esperava não
temer assistir presencialmente ao show de Maria Bethânia, após um par de anos
aplaudindo-a do sofá. Esperava frequentar ensaios de rua das escolas de samba,
abraçar os amigos, franquear a todos os queridos a visita a meu neto, nascido
há um ano, no momento mais agudo da pandemia da Covid-19. Mas, a exemplo de
ilustração viralizada há tempos sobre a ponta final da Teoria da Evolução, tive
de encarar o espelho e proclamar: “Volta que deu ruim”.
É hora de reconhecer que a reabertura foi exagerada e precipitada. Antes mesmo da multiplicação da variante Ômicron, Brasil e mundo afora, o surto —no Rio de Janeiro, epidemia — fora de época da gripe H3N2 estava a confirmar. Abolimos as máscaras, abrimos a porteira, saímos às ruas, os vírus nos alcançaram. As celebrações de fim de ano — incluído o Réveillon carioca descentralizado em dez queimas, com a Praia de Copacabana restrita — deram numa confirmação de casos de Covid-19, que não produziu luto como em janeiro de 2021 em Manaus, porque a vacinação foi robusta. Não sei você, mas eu não me lembro de tantos conhecidos simultaneamente confirmados com a doença em dois anos de pandemia.
Hélio Schwartsman: Ômicron arrasa as escalas de trabalho
Folha de S. Paulo
Autoridades poderiam avaliar reduzir prazos
de isolamento de profissionais de saúde
Embora os trabalhos ainda não tenham sido publicados em "journals", já dá para afirmar com alguma segurança que a variante ômicron do Sars-CoV-2 causa uma doença menos grave do que a delta. Acrescente-se a isso o fato de que, pelo menos nos países de renda alta e média, a vacinação está em geral bem avançada e temos bons motivos para crer que não veremos mais taxas de mortalidade como as de ondas anteriores.
Ainda assim, a ômicron pode ser bem disruptiva. O problema é que ela é muito, muito mais infecciosa do que as cepas precedentes. Quem conferir os gráficos de contágio em diferentes países constatará que, nas ondas prévias, as curvas de novos casos lembravam morros e até montanhas escarpadas. Mas, com a ômicron, o que vemos são paredões verticais mesmo. Se ainda não registramos isso no Brasil, é porque testamos pouco e mal e porque o sistema nacional de contabilização está bichado.
José de Souza Martins*: Ruy Ohtake e a moradia de gente
Valor Econômico / Eu & Fim de Semana
Morto em novembro, arquiteto foi
interlocutor de grande criatividade entre a cultura erudita de sua arte e a
cultura popular e cotidiana das populações pobres
A morte, em novembro, do arquiteto Ruy
Ohtake privou a inteligência brasileira de um personagem dos mais
representativos de nossas possibilidades na área da cultura. Ele foi
interlocutor de grande criatividade entre a cultura erudita de sua arte e a
cultura popular e cotidiana das populações pobres.
O confinamento e as interdições decorrentes
da epidemia da covid restringiram e abreviaram o tempo de sua disponibilidade
para o diálogo enriquecedor com os que podiam aprender com ele. Como nós, que,
na Academia Paulista de Letras, poderíamos ouvi-lo sobre suas ideias de
superação da degradação urbana de São Paulo.
Filho mais velho da grande Tomie Ohtake, sua família foi criada no bairro industrial e operário da Mooca. O que pode ter influenciado sua sensibilidade em relação à situação dos que nasceram para o trabalho, mas não para os melhores frutos do trabalho. Uma característica própria da realidade social dos bairros e do subúrbio de São Paulo.
Prazo curto e impasses regionais emperram federação da esquerda
Indefinição marca as conversas entre partidos de centro-direita e de centro-esquerda sobre acordo
Por João Valadares e Marcelo Ribeiro /
Valor Econômico
BRASÍLIA - Com resistências internas a
serem superadas, calendário eleitoral apertado e muitas dúvidas sobre o
funcionamento prático, partidos tentam destravar as negociações para a criação
de federações. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as legendas
têm até o dia 1º de março para solicitarem o registro formal da criação das
associações.
Entre os dias 3 de março e 1º de abril, a
janela partidária - período em que os deputados podem trocar de partido para
concorrer às eleições sem risco de perderem o mandato - também esquenta o
cenário eleitoral.
Novidade nas eleições de 2022, a
possibilidade de formar federações surge após o fim das coligações e representa
um mecanismo para driblar a cláusula de barreira imposta a siglas com baixas
votações. Os partidos federados são obrigados a lançarem chapas conjuntas em
todos os Estados e a atuarem unidos por quatro anos no Congresso e nas
Assembleias Legislativas.
Apesar de a maioria das legendas já ter
sinalizado em resoluções internas o encaminhamento para criação do novo
mecanismo, a solução prática para formalizar a união não é simples. As disputas
acirradas nos Estados entre partidos do mesmo campo acentuam as dificuldades.
Outro ponto de alerta nas legendas diz
respeito às eleições municipais de 2024. Há receio sobre os critérios para
escolha dos candidatos que vão representar a federação no Executivo e na Câmara
dos Vereadores de 5.568 municípios brasileiros.
Na centro-direita, PSDB e Cidadania já
iniciaram conversas, mas o tema não é tratado como prioridade.
No campo da centro-esquerda, PT e PSB ainda
não chegaram a uma definição sobre o “casamento” de papel passado que pode
incluir, além das duas siglas, PCdoB, PV, Psol e Rede.
O PSB, que se coloca como principal aliado
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa presidencial deste
ano, reivindica apoio petista a candidatos ao governo nos estados de São Paulo,
Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Acre.
Em São Paulo, por exemplo, ainda não há definição sobre o arranjo envolvendo o ex-governador Márcio França (PSB) e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT). Os dois são pré-candidatos ao governo paulista.
Biden: Trump ainda é uma ameaça à democracia americana
Lucas de Vitta / Valor Econômico
Biden acusou Trump de espalhar uma rede de
mentiras sobre as eleições presidenciais de 2020
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, responsabilizou seu
antecessor no cargo, Donald
Trump, pelo ataque ao Congresso que
chocou o mundo há um ano. Em um discurso para lembrar o aniversário da invasão, o democrata afirmou
que o republicano continua representando uma ameaça à democracia e que o país
precisa encarar esta realidade para evitar uma tragédia similar no futuro.
Sem citar Trump pelo nome, Biden acusou o
ex-presidente de espalhar uma rede de mentiras sobre as eleições presidenciais
de 2020 por simplesmente não aceitar perder, dificultando a transição de poder,
algo inédito na história da democracia americana. Para ele, seu adversário
incentivou que uma “insurreição armada” invadisse o Congresso para beneficiar
seus próprios interesses e colocar Washington sob cerco.
“Aqui está a verdade: o ex-presidente dos
EUA criou e espalhou uma teia de mentiras sobre as eleições de 2020”, disse
Biden. “Ele fez isso porque valoriza mais o poder do que os princípios, porque
vê seu próprio interesse como mais importante do que o interesse de seu país e
porque seu ego ferido é mais importante do que nossa democracia ou nossa
Constituição. Ele não consegue aceitar que perdeu.”
"Eu não busquei esta luta trazida a este Capitólio há um ano, mas também não irei recuar", continuou Biden. "Vou defender este país e não permitirei que ninguém coloque um punhal na garganta da democracia."
Ricardo José de Azevedo Marinho*: Sobre as medidas urgentes espanholas com vistas a reforma trabalhista
A União Europeia (UE), tomando consciência
da severidade da crise pandémica e dos seus profundos efeitos nos diferentes
Estados-Membros, promoveu uma resposta coletiva e concertada, tendo os
Estados-Membros acordado simultaneamente o Quadro Financeiro Plurianual para o
período 2021-2027 e os instrumentos de recuperação europeia, designado de Próxima Geração da UE, aprovado no Conselho Europeu,
em julho de 2020, ou seja, já havia a previsão de perdas geracionais ainda no
princípio do primeiro ano pandêmico. Com efeito, os Estados-Membros
comprometeram-se com uma visão de futuro conjunto, para dar forma nas
mitigações dos efeitos que decorreriam da capacidade de resposta totalmente assimétrica
dos Estados-Membros.
É neste contexto que se deve falar da proposta de reforma trabalhista na Espanha pois evoca um processo complexo de tempos diferentes onde a pandemia cruza um conjunto longuíssimo de mudanças que não conseguiram acabar com os seus graves problemas no seu mercado de trabalho. A conjunção de pandemia com a história institucional trabalhista espanhola extremamente complexa fez com que o trabalho por lá (e não só lá) fosse afetado ainda mais pelo desemprego, pelas más condições de emprego e impede a plena cidadania no trabalho.
O que pensa a mídia: Editoriais / Opiniões
EDITORIAIS
O incendiário do Palácio do Planalto
O Estado de S. Paulo.
Com reajuste para forças de segurança,
Bolsonaro encoraja funcionários públicos e policiais civis e militares a
criarem um caos no País
O presidente Jair Bolsonaro armou mais uma
crise para seu próprio governo ao prometer reajustes salariais às carreiras
policiais ligadas ao Ministério da Justiça, deflagrando uma reação em todas as
demais categorias de servidores públicos. Em um país que já sofre com inflação
alta, juros em ascensão e desemprego elevado em meio ao recrudescimento de
casos de covid-19 e, agora, também de influenza, tudo que a sociedade não
precisava era de uma ameaça de greve. A entrega de cargos de chefia por
funcionários da Receita Federal, Banco Central e auditores fiscais do Trabalho
é mais um elemento de instabilidade para a economia, cujas projeções de
crescimento foram reduzidas a 0,36% para este ano, conforme o mais recente
boletim Focus.
A resposta da elite do funcionalismo cresce a cada dia, e nem poderia se esperar algo diferente. De acordo com o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco), cerca de mil servidores já abriram mão de funções comissionadas e, segundo o Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal), quase metade dos 3,5 mil em cargos de confiança teria se comprometido a fazer o mesmo. O Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), associação formada por mais de 30 entidades que representam 200 mil pessoas, marcou uma paralisação para 18 de janeiro e não descarta uma greve geral em fevereiro.
Poesia | João Cabral de Melo Neto: A mesa
O jornal dobrado
sobre a mesa simples;
a toalha limpa,
a louça branca
e fresca como o pão.
A laranja verde:
tua paisagem sempre,
teu ar livre, sol
tuas praias; clara
e fresca como o pão.
A faca que aparaou
teu lápis gasto;
teu primeiro livro
cuja capa é branca
e fresca como pão.
E o verso nascido
de tua mão viva,
de teu sonho extinto,
ainda leve, quente
e fresco como pão.