O Globo
Foi a partir da pandemia que uma parte do
eleitorado bolsonarista de 2018 se foi para nunca mais voltar
Sempre se disse que a atual eleição seria
uma batalha de rejeições. Na reta final, três semanas até o primeiro turno,
tanto Luiz Inácio Lula da Silva quanto Jair Bolsonaro investem em mitigar esse
fator na expectativa de cumprir seus objetivos — o do petista, tentar vencer já
em 2 de outubro; o do presidente, romper uma barreira que, hoje, torna sua
reeleição inviável.
Lula vem enfrentando o antipetismo há mais
tempo, de forma mais consistente. Contaram pontos para isso as anulações em
série das condenações a ele impostas no âmbito da Lava-Jato e a obra de três
anos e oito meses de governo Bolsonaro, como fator de comparação em diferentes
setores.
Deixou de negar a ocorrência da corrupção,
principal fator negativo associado a ele e ao PT, e passou a dizer que a
apuração só foi possível graças à autonomia de que seus governos e os de Dilma
Rousseff dotaram os órgãos de controle.
Bolsonaro resolveu se dedicar a tentar
reverter a aversão que gera em pelo menos 50% do eleitorado na última hora, e o
resultado é menos crível. O teatro começou a ser encenado num podcast
transmitido em pool por influenciadores evangélicos na segunda-feira.
Com ar compungido, o presidente se disse arrependido de ao menos uma das dezenas de declarações de desdém com a pandemia que deu ao longo dos últimos dois anos e meio: a de que não era “coveiro”, proferida quando havia 2.500 mortos.