segunda-feira, 5 de julho de 2010

Reflexão do dia – Raimundo Santos


As presentes notas procuram mostrar a “teoria revolucionária” pecebista em gestação antes mesmo da “nova política” anunciada pela Declaração de Março de 1958. Ela tem força renovadora por ser naquele tempo um esboço de como seria o processo de concretização da “revolução brasileira” verossímil à circunstância nacional; revolução entendida na acepção dos clássicos (do mais antigo, Caio Prado; dos clássicos isebianos a partir de 1956; e de Celso Furtado, poucos anos depois).

Tal imagem da revolução desenhada por Armênio Guedes ao tempo que expressa áreas pecebistas já então resistentes à velha orientação comunista, faz-se presente no “pecebismo” que irá ser posto em prática pelo PCB a partir daquele texto de 1958. A construção inovadora no modo de pensar dos comunistas formulada por Armênio Guedes, tão antiga, termina por acrisolar no decorrer dos anos pontos de referência de uma outra cultura política de esquerda entre nós.

É ela que dá o mais firme suporte à natureza não rupturista da atuação agrária dos comunistas movidos por um “sindicalismo camponês” de “medidas parciais de reforma agrária” (lei trabalhista, direito à terra etc.); “políticas públicas” voltadas, em particular, para a afirmação progressiva da “exploração familiar camponesa”, como dirá depois, em 1977, Ivan Otelo Ribeiro.



Raimundo Santos, cf. Teoria e prática no nosso marxismo político, texto inédito (2010).

Uma maneira de escolher um candidato:: Luiz Werneck Vianna

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Não é um bom ponto de partida, para quem procura um candidato à próxima sucessão entre os nomes até então apresentados, limitar sua escolha à avaliação do perfil de cada qual, suas realizações e biografias. A oferta de bons nomes embaraça a escolha do incauto que procurar seguir essa prosaica regra, cabível na avaliação de currículos para admissão em empresas ou em programas de pós-graduação universitários. Pois, fora de dúvida, de que Serra, Dilma, Marina e Plínio Sampaio são cidadãos virtuosos e têm atrás de si uma história de realizações na vida pública.

Nessa procura, certamente aparenta ser mais útil deslocar o foco para os partidos e seus programas. Mas, aí, as coisas também podem se tornar confusas, porque será necessário distinguir os seus enunciados programáticos das suas práticas, na medida em que um partido, em abstrato, pode se declarar orientado para os fins do socialismo enquanto que, do ponto de vista da sua ação, se comportar no sentido de ampliar e aprofundar a ordem burguesa.

Assim, uma declaração de princípios por parte de um partido em favor de determinados valores não necessariamente revela a sua real identidade, que não se pode conhecer sem observar a sua forma de agir no mundo. Se um partido, por exemplo, afirma que a democracia se tornou um valor universal, ela não pode ser contingenciada por uma perspectiva substantiva, em que se persigam fins democráticos por meios que não o sejam, salvo, é claro em regimes de tirania. Se ele a contingencia, não deve ser uma boa opção para quem adere a esse valor.

Em tempos de sucessão, em um sistema de governo fortemente presidencialista como o nosso, quando se vai atribuir a um governante, bem mais do que a gestão da máquina da administração pública, um poder efetivo de decisão sobre os rumos do futuro, o que importa é definir, a partir das balizas e referências que nos são constitutivas, para onde queremos ir. Uma dessas referências obrigatórias está no reconhecimento de que a moderna sociedade brasileira tem seu assentamento em uma revolução democrática, gestada na resistência ao regime ditatorial, que envolveu em seu processo a representação do que havia de mais significativo na sociedade civil em um movimento inédito na vida republicana, inclusive pela magnitude de sua escala, e que recebeu consagração institucional com a Carta de 1988.

O fato dessa revolução democrática ter desconhecido rupturas agônicas, afirmando-se pelo caminho de uma transição política, não lhe retira o significado de mudança de época que ela introduz na história brasileira, com a valorização da sociedade e de suas instituições diante do Estado, com a criação de um Ministério Público como figura republicana destinada a agir em nome da sociedade e não mais como instrumento da vontade estatal, e de um complexo sistema de proteção para os direitos individuais e coletivos. A carta política em que essa revolução declarou seus valores e instituições já se entranha na nossa nova cultura política e começa a fazer parte do imaginário da vida popular, que nunca antes demandou por seus direitos como agora, exemplar, entre tantas, nas causas que envolvem as comunidades quilombolas.

A condução à Presidência, primeiro de um intelectual saído da esquerda da vida universitária, sucedido por um sindicalista de origem operária, e, agora, esse naipe de candidatos à sucessão de 2010, todos formados nas lutas democráticas e populares, atesta que o impulso originário, que nos vem das lutas da resistência e do movimento da opinião pública de então, segue animando a vida pública. A tradução em termos políticos do Estado Democrático de Direito, figura conceitual que resume a obra coletiva da geração da resistência, não pode ser outra que democracia como valor universal.

Continuar e aprofundar tal inspiração dos fundadores da moderna república brasileira implica torná-la presente na agenda das questões relevantes com que a sociedade hoje se defronta, quer sejam as que envolvem o modo de inscrição do país no cenário internacional, quer as que tratam da questão social, do meio ambiente, ou mesmo das próprias políticas sistêmicas que definem os rumos da economia, que não podem ser autônomas, na determinação de suas linhas gerais, das preferências expressas pelos cidadãos. Para tanto, exigem-se respostas novas, e que tenham como ponto de partida o envolvimento da sociedade e de sua vida associativa, tal como no processo recente que levou a criação da lei da Ficha Limpa.

De muitas direções, algumas surpreendentes, somam-se as iniciativas que testam, com sucesso, essa nova forma de fazer política, melhor ilustrada pelo caso da tramitação no Parlamento da reforma do Código Florestal, sob a relatoria do deputado Aldo Rabelo. Questão crítica, tratando de interesses supostamente inconciliáveis entre o agronegócio, os ambientalistas e a agricultura familiar, o empenho do relator em encontrar uma solução consensual, pela via do diálogo democrático, com a audiência de todos os envolvidos, parece se achar próxima de um final feliz.

No entanto, qualquer que seja o resultado, a tentativa de repensar a questão agrária brasileira, pela via habermasiana que orientou o relator, já produziu um novo diagnóstico: na contramão de idiossincrasias e preconceitos consolidados, estamos aprendendo que, nessa velha questão dramática da sociedade brasileira, se encontra, para além dos cálculos produtivistas e dos impasses do passado, um dos temas chave para uma política de soberania nacional e uma das passagens para a nossa transição ao moderno.


Luiz Werneck Vianna é professor visitante da UERJ e ex-presidente da Anpocs. Escreve às segundas-feiras.

Graça mantida:: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

Sabe de uma coisa? Melhor assim. A mais recente pesquisa de intenções de voto para presidente aplicada pelo Instituto Datafolha registrou um empate técnico entre José Serra e Dilma Rousseff – 39% a 38%. Em maio passado, ambos estavam empatados com 37%. Oscilaram dentro da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Há 15 dias, Ibope e Vox Populi haviam dado cinco pontos de vantagem para Dilma – 40% contra 35%. No último fim de semana, o Ibope cravou 39% a 39%. Corrigiu algum “desvio de amostragem”. Eu disse de amostragem, não de comportamento. De resto, um período de 15, 10 ou um dia é suficiente para mudar índices de intenção de voto – mais ainda quando os eleitores permanecem indiferentes à eleição. Estavam ligados na sorte do Brasil na Copa do Mundo.

O time de Dunga afundou depressa. Imagine só se o de Serra ou de Dilma tivesse afundado antes do início oficial da campanha. Ou do início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão marcado para o dia 17 de agosto. Convenhamos: a eleição perderia sua graça. Não para os eleitores. Mas para nós, jornalistas. E para os políticos. E para lobistas e homens de negócios. E para caçadores de empregos.

Ah, se o distinto público soubesse como se faz política – os interesses inconfessáveis que se escondem por trás dela, o que move tanta gente a disputar cargos, como os candidatos são escolhidos e alguns aceitam concorrer sem acreditar em suas próprias chances. Você acha, por exemplo, que o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) queria ser candidato outra vez ao governo de Pernambuco? Pois será para que o PSDB nacional tenha um palanque no Estado.

Jarbas acredita que derrotará Eduardo Campos (PSB), candidato à reeleição? Acredita em uma vitória de Serra? Somente se a campanha de Serra fosse radicalmente reformulada, confessou ele outro dia numa roda de amigos em Brasília. Haverá reformulação? Jarbas duvida. Então por que ele é candidato a uma derrota mais ou menos certa? Porque é amigo de Serra. Porque tem mais quatro anos de mandato como senador e não ficará ao relento.

Geddel Vieira Lima (PMDB) é candidato ao governo da Bahia porque se perder sairá candidato daqui a dois anos à Prefeitura de Salvador. E candidato forte. Caso se eleja prefeito ocupará o cargo durante dois anos à espera da próxima eleição para governador. A Câmara dos Deputados não o atrai mais. É moço. Quer governar seu Estado. Mais moço do que ele é Indio da Costa (DEM), o vice de Serra. Não se imagina vice. O DEM imagina vê-lo como prefeito do Rio e, mais adiante, governador.

As pesquisas Datafolha e Ibope salvaram Serra de ser largado de mão antes do tempo. Para quem em junho protagonizou tantos programas e comerciais de partidos políticos no rádio e na televisão, ele deveria ter aberto uma vantagem de cinco ou mais pontos sobre Dilma. Ficou com o mesmo tamanho que tinha em maio, segundo o Datafolha. Empatou com Dilma depois de estar perdendo para ela, segundo o Ibope. Os que torcem por Serra voltaram a se animar – e com razão, vá lá.

Serra é um político experiente e cerebral. Muito antes de admitir de público sua candidatura, procurou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e disse que sabia que perderia a eleição para Lula. Venceria com folga mais uma eleição para governador de São Paulo. Fernando Henrique o convenceu a enfrentar Lula em nome dos superiores interesses políticos e econômicos paulistas que hoje controlam o PSDB. E que seguirão controlando o partido e o governo estadual com Geraldo Alckmin.

É fato também que Serra gostou de uma pesquisa encomendada pelo PSDB e destinada a provar que ele deverá derrotar Lula – quer dizer, e com todo o respeito, o poste escolhido por Lula para sucedê-lo. Política não é só pragmatismo. É também um espaço fértil para sonhos e ilusões. E vai que o poste, de repente, apaga sei lá por quê.

Um dia, um adeus - Vanessa da Mata Multishow Ao Vivo

Guerra vê “instabilidade jurídica” e vai ao TSE

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Interpretações jurídicas distintas sobre a Lei da Ficha Limpa e a decisão sobre a proibição do uso da imagem dos presidenciáveis em campanhas estaduais, adiada para agosto, preocupam líder tucano

Paulo Sérgio Scarpa

Coordenador nacional da campanha presidencial de José Serra (PSDB), o senador tucano Sérgio Guerra informou, ontem, que estará ainda esta semana em Brasília para advertir o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski, sobre a “instabilidade jurídica” que “ameaça” a campanha presidencial. “É muita instabilidade para o início de uma campanha presidencial”, afirmou. “As interpretações jurídicas sobre a Lei da Ficha Limpa e a decisão do STF, deixada para agosto, após o recesso, sobre a proibição dos candidatos aparecerem nos programas de partidos que tenham alianças regionais diferentes da nacional prejudicam a todos”, garante.

“Os tribunais precisam dar maior segurança aos candidatos e acabar de uma vez por todas com essa situação desequilibrada”, afirmou Guerra. “E é muita coisa junta para uma campanha que nem começou: a polêmica sobre a Lei da Ficha Limpa e as interpretações sobre a nova legislação e essa verticalização”.

O senador se referia à liminar do ministro Carlos Ayres Britto, do STF, que, sexta-feira à noite, indeferiu três recursos de políticos alcançados pela Ficha Limpa, na contramão dos ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli, que liberaram, via liminar, a candidatura de dois “fichas-sujas”. E à decisão do TSE sobre os presidenciáveis que não podem aparecer nos programas de partidos que tenham alianças regionais diferentes da nacional.

Guerra confirmou, por outro lado, que José Serra fará corpo a corpo na região Sudeste – onde os índices de popularidade do tucano caíram – nesse início de campanha. E que o PSDB “intensificará a campanha em São Paulo”, embora ela esteja prevista para começar por Curitiba.
O senador pernambucano confirmou para hoje a reunião dos partidos aliados em São Paulo, com a presença dos presidentes nacionais do PSDB, DEM, PPS e PTB, além do senador Tasso Jereissati (CE) e do ex-senador Jorge Bornhausen (SC). “O Conselho Político de campanha será instalado, sim. Ele foi decidido há dois meses. É só começar a se reunir”, sintetizou.

Sobre a participação ativa dos partidos aliados, Guerra anunciou que haverá uma reunião, semana próxima, para os presidentes partidários cobrarem maior empenho de seus filiados na campanha de Serra. “Sobre a possibilidade do corpo mole, como a imprensa está cobrando, a decisão dos partidos é agir com todos com muita firmeza”, disse. Ele não quis exemplificar o que poderá acontecer, mas nesse caso os partidos costumam vetar o que todos pedem: mais recursos financeiros.

Sobe-e-desce eleitoral

DEU EM O GLOBO

Serra avança em três regiões, Dilma perde pontos com as mulheres e Marina cai no Sudeste

Flávio Freire e Marcelle Ribeiro

Diferentemente dos resultados da última pesquisa Ibope, divulgada há pouco mais de uma semana, os números revelados pelo instituto sábado à noite mostram não só um empate numérico entre os presidenciáveis José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), como o avanço do tucano sobre a petista em regiões como Norte, Centro-Oeste e Sudeste e também entre eleitores de menor e maior escolaridade.

A análise da pesquisa mostra que, embora na margem de erro, houve um sobe-e-desce da preferência dos eleitores de acordo com a região onde vivem. No Sudeste, por exemplo, segundo o novo levantamento, Serra subiu cinco pontos e chegou a 41%, contra 34% de Dilma. O levantamento divulgado em 23 de junho apontou empate técnico entre eles, com 37% para Dilma e 36% para Serra. Já o Datafolha divulgado em 1º de julho mostrava Serra com 43% e Dilma com 33%.

Segundo o último Ibope, Serra cresceu no Norte e no Centro-Oeste, e manteve-se com o mesmo patamar, 30%, no Nordeste.

No levantamento encomendado pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Serra e Dilma estão empatados hoje com 39% das intenções de votos - resultado parecido com o do Datafolha de 1º de julho, que indicou 39% para Serra e 38% para Dilma. No Ibope anterior, de 23 de junho, o tucano tinha 35% e Dilma, 40%. Já a candidata do PV, Marina Silva, passou de 9% para 10% das intenções de voto pelos últimos números do Ibope.

Rejeição de Dilma e Serra cresce

Segundo o último Ibope, Dilma caiu justamente no Norte, Centro-Oeste e Sudeste. No Nordeste, passou de 47% para 50%. Na maioria dos cenários, a candidata do PV oscilou dentro da margem de erro. Marina tem 10% das intenções de voto no Norte/Centro-Oeste, 11% no Nordeste, 7% no Sudeste e 12% no Sul. Para os tucanos, o fato de Serra patinar nos estados nordestinos tem explicação nas alianças da adversária petista com os governos locais.

- Os governos nordestinos, exceto Alagoas, são vinculados à campanha de Dilma. Até de 30 de junho houve uma orgia publicitária - diz o deputado Jutahy Magalhães (PSDB-BA).

A diretora-executiva do Ibope, Márcia Cavallari, tem explicação técnica para a oscilação:

- Houve um volume grande de inserções do Serra na TV. As inserções são mais eficientes que os programas partidários porque são curtas, o que faz com que os eleitores as assistam.

Em relação ao fato de a última pesquisa do Ibope não mais apontar distância de cinco pontos percentuais entre Serra e Dilma, mas empate numérico, como mostrou também o mais recente levantamento do Datafolha, Márcia diz que os dois institutos mediram a mesma percepção do eleitor em períodos muito semelhantes:

- Houve superposição de campos pesquisados. Na pesquisa passada, quando Dilma estava cinco pontos acima do Serra, houve superposição com dados do Vox Populi - diz, lembrando que o placar foi semelhante: Dilma com 40% e Serra, 35%.

Se no levantamento anterior Dilma estava sete pontos percentuais à frente de Serra entre eleitores que concluíram apenas a 4º série (o placar era de 41% a 34%), agora aparece empatada com o tucano em 39%. O candidato do PSDB avançou entre eleitores com ensino superior - onde perdia para Dilma de 39% a 36%, segundo o Ibope do dia 23. Agora, tem 41% contra 37%.

Segundo o Ibope, a rejeição aumentou para Dilma e para Serra. Em 23 de junho, 23% responderam que não votariam na petista em hipótese alguma. Agora são 28%, segundo o Ibope. Já 30% disseram que não votariam no tucano, dois pontos percentuais a mais do que o número de pessoas que declararam que nunca votariam nele.

Serra vai a cidade berço do Bolsa Escola

DEU EM O GLOBO

Em São José da Tapera, tucano promete fundir Bolsa Família ao Saúde da Família e fala em criar Defesa Civil nacional

Odilon Rios

MACEIÓ. Candidato do PSDB à Presidência, José Serra esteve anteontem em São José da Tapera, cidade do sertão alagoano conhecida como o exemplo tucano, na época do então presidente Fernando Henrique Cardoso, para a criação do Bolsa Escola, antecessor do Bolsa Família. Serra foi gravar o programa eleitoral na cidade, que durante o governo FH era o município mais pobre do Brasil e foi o primeiro a receber o Bolsa Escola. Mais tarde, em Maceió, Serra prometeu que, se eleito, vai fundir o Bolsa Família com o Programa Saúde da Família. Além disso, ele quer que os filhos das famílias inscritas no programa sejam incentivadas a fazer cursos técnicos.

- É preciso ensinar a trabalhar - disse.

Antes de ir para Maceió, Serra visitou cidades atingidas pelas enchentes dos rios Mundaú e Paraíba e sobrevoou os locais. No Estado, as chuvas mataram 39 pessoas e 15 municípios estão em situação de calamidade. Ele prometeu criar uma Defesa Civil nacional especializada em desastres naturais.

- Temos que criar esta Defesa Civil nacional com homens próprios e tropa permanente. O Brasil tem que estar em alerta através de radares meteorológicos para que em três horas as pessoas sejam retiradas das áreas de risco. Tem que haver um levantamento geológico no Brasil inteiro - disse.

O tucano também prometeu criar um Prouni na área técnica, chamado por ele de Protec.

Tucano vai propor estado mais ativo; petista destaca programas sociais

DEU EM O GLOBO

No registro no TSE, candidatos têm de mostrar planos
Silvia Amorim e Regina Alvarez

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Em documento intitulado "Diretrizes do Programa de Governo", concluído no fim de semana, a campanha do presidenciável José Serra (PSDB) elegeu a área de planejamento do governo Luiz Inácio Lula da Silva como principal munição a ser usada contra Dilma Rousseff (PT). O material ataca a gestão petista em relação ao nível dos investimentos, prega um Estado mais ativo e defende que a discussão sobre privatizações está ultrapassada.

A versão final do texto foi entregue a Serra na noite de sexta-feira. Sem detalhamento de propostas, o documento cumpre dois papéis. O primeiro é político: definir pontos fundamentais do discurso da oposição. O segundo é formal: atender a uma exigência da legislação eleitoral que obriga os candidatos a cargos majoritários a entregarem um material sobre o programa de governo no ato do pedido de registro de candidatura. O prazo para registro termina hoje.

Para corroborar a tese, o documento traz números. Consta no texto que, em 2009, Lula aplicou só R$15 bilhões em investimentos, apesar de constar do orçamento previsão de R$57 bilhões. Também é citado um levantamento da Fundação Dom Cabral que mostra o país em 123º lugar entre 134 países quanto à eficiência dos portos.

Programa de Dilma amplia o Bolsa Família

O PT também deve apresentar hoje ao Tribunal Superior Eleitoral, junto com o pedido de registro da candidatura de Dilma Rousseff, as linhas gerais de um programa de governo ainda em construção. Esse esboço, disponível no site de Dilma, contém propostas para a área social, o meio ambiente, a indústria e a agricultura, destacando programas como o Bolsa Família, marca do governo Lula.

O programa promete manter e ampliar o Bolsa Família e implantar novos programas "com o propósito de erradicar a miséria na década que se inicia". Na área da educação, a meta é priorizar a qualidade do ensino, com o treinamento e melhoria da remuneração de professores, bolsas de estudo e salas de aula informatizadas, com banda larga.

Outra promessa é proteger crianças e jovens da violência e das drogas. E disseminar pelo país creches, pré-escolas e escolas infantis. Na saúde, o programa prevê mais recursos para Sistema Único de Saúde (SUS). Também fala em manter a transparência dos gastos públicos e combater a corrupção.

Ibope: Sudeste puxou crescimento de Serra

DEU EM O GLOBO

Pelos novos números do Ibope, José Serra (PSDB) cresceu cinco pontos no Sudeste e chegou a 41%, contra 34% de Dilma Rousseff (PT). O levantamento anterior, de 23 de Junho, apontou 37% para Dilma e 36% para Serra na região. O tucano também subiu no Norte e no Centro-Oeste. Nas três regiões, Dilma caiu. No Sul, os dois cresceram. No resultado geral, o Ibope deu empate de Dilma e Serra em 39%.

PT e PSDB apostam no horário eleitoral para assumir dianteira

Para petistas e tucanos, campanhas estão no rumo certo

Luiza Damé

BRASÍLIA. A pesquisa Ibope de intenção de voto para presidente revelou, segundo os petistas, que a campanha da candidata Dilma Rousseff está no rumo certo. Já os tucanos avaliam que o candidato José Serra voltou a crescer porque se expôs mais e mostrou o que poderá fazer pelo país. Tanto petistas como tucanos entendem que, só depois do começo da propaganda eleitoral na TV, as pesquisas passarão a refletir diretamente como os eleitores reagem aos candidatos.

- A pesquisa mostrou o que já achávamos: que o jogo está empatado, e assim vamos chegar ao horário eleitoral. O dados mostram uma maior exposição de Serra, que só não foi melhor capitalizada por causa da Copa do Mundo - disse o líder do PSDB na Câmara, João Almeida (BA).

O crescimento de Serra no Sudeste, segundo Almeida, é resultado de uma maior movimentação do candidato na região. Para o tucano, a maior exposição pode até não mudar votos, mas aumenta o conhecimento dos eleitores em relação ao presidenciável.

- As oscilações que temos hoje estão dentro da expectativa. Temos uma candidata que se esconde e quer parecer a imagem de um presidente com popularidade absurda e um candidato que se expõe porque tem o que mostrar ao país. Vamos ver isso melhor quando um estiver na frente do outro ou um depois do outro. Mas isso só na segunda quinzena de agosto - argumentou.
O secretário de Comunicação do PT, deputado André Vargas (PR), disse que a pesquisa Ibope mostra que a disputa, neste momento, está empatada entre os dois candidatos, mas a petista tem uma curva ascendente. Para ele, o eleitorado ainda não está preocupado com as eleições.

- O fato é que ainda não tem eleição para boa parte das pessoas. Mas, para nós, o cenário é muito bom, porque imaginávamos que estaríamos a uns cinco ou dez pontos atrás no começo da campanha. Afinal, não diziam que não tínhamos uma candidatura competitiva? Eles (tucanos) é que devem estar preocupados, porque a candidatura estacionou - afirmou.

Vargas e o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PR-SP), disseram não ver motivos para mudanças na campanha de Dilma.

- Agora é consolidar os palanques nos estados e botar a campanha na rua. A palavra de ordem é mobilização - disse Vargas.

- O importante é que Dilma está na frente na espontânea. Nós temos uma curva com viés de subida, e eles, com viés de descida. Muitos não sabem que ela é a candidata do Lula. O cenário mais preciso só teremos após o horário eleitoral - disse Vaccarezza.

Indio da Costa se reúne com equipe da campanha de Serra

Candidato a vice na chapa de Serra, o deputado federal Indio da Costa (DEM-RJ) passou o seu primeiro fim de semana, após ser escolhido para o posto, fechado em reuniões com a equipe de campanha, em São Paulo. Até ontem à noite, o vice não havia se reunido com Serra nem com líderes tucanos.

Empate técnico também no Datafolha

DEU EM O GLOBO

A última pesquisa Datafolha, realizada entre os dias 30 de junho e 1º de julho, mostra empate técnico entre José Serra, candidato do PSDB à Presidência, e Dilma Rousseff, do PT. Serra tem 39% das intenções de votos e Dilma, 38%. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Marina Silva, do PV, tem 10% das intenções de voto.

Segundo a pesquisa, 4% dos entrevistados disseram que vão votar em nulo ou em branco, e 8% disseram que não sabiam em que vão votar nas eleições de outubro.

Em comparação aos números divulgados na pesquisa do final do mês de maio, Serra subiu dois pontos, Dilma caiu um e Marina perdeu dois. Em abril, Serra tinha 42 pontos, Dilma estava com 30 e Marina chegava aos 12 pontos percentuais.

A pesquisa Datafolha divulgada na última sexta-feira ouviu 2.658 eleitores em 163 municípios.

Pesquisas mostram que petista perde no eleitorado feminino

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

José Roberto de Toledo

Chama a atenção, na mais recente pesquisa Ibope, a diferença entre as intenções de voto de homens e mulheres, principalmente em relação a Dilma Rousseff (PT). A presidenciável tem 10 pontos a menos no eleitorado feminino, se comparado ao masculino: 34, contra 44%. No Datafolha, a discrepância chega a 16 pontos porcentuais: 46% a 30%.

Com José Serra (PSDB) ocorre o oposto. O tucano bate Dilma entre as mulheres por 41% a 34%, no Ibope, e perde entre os homens por 36% a 44%. Na média, os dois candidatos empatam em 39%. Marina Silva (PV) está mais equilibrada: tem 10% no eleitorado masculino e 9% no feminino.

Há diferenças de perfil e de comportamento entre eleitores e eleitoras que ajudam a entender a preferência de alguns por Dilma e de outros por Serra. Elas aparecem nos cruzamentos da pesquisa Ibope.

Embora o grau de satisfação seja alto, as mulheres estão ligeiramente mais insatisfeitas com a vida do que os homens: 19% a 15%. Isso se reflete na opinião delas sobre o governo Lula. A aprovação, embora muito alta, é 6 pontos menor que entre os homens.

Em comparação ao eleitorado masculino, mais eleitoras demoram a escolher seu candidato. Há 41% de indecisas, na pergunta de intenção de voto espontânea, contra apenas 31% entre os homens, segundo o Ibope. Isso atrapalha Dilma. Ela empata com Serra no eleitorado feminino (17% a 18%) e abre vantagem no masculino (27% a 17%).

Na simulação de 2.º turno, Serra também vence entre as mulheres (46% a 39%) e Dilma vai melhor do que o tucano entre os homens: 48% a 39%.

Quais seriam as razões dessas diferenças de comportamento eleitoral entre os sexos? A resposta parece estar mais no desconhecimento de Dilma por parte do eleitorado feminino do que em uma maior rejeição das mulheres à sua candidatura. É 50% maior o grau de desconhecimento de Dilma entre as mulheres do que entre os homens (12% a 8%).

Para Serra essa diferença praticamente não existe. Na rejeição a Dilma, a diferença é estatisticamente desprezível: 24% (mulheres), contra 22% (homens). Para Serra esses porcentuais são de, respectivamente, 23% a 29%.

O desconhecimento maior de Dilma entre as mulheres é consistente com a proporção de eleitores que dizem ter visto alguma propaganda política nas últimas duas semanas. Entre os do sexo feminino, 34% dizem ter visto comerciais ou programas de Serra, ante só 25% que viram os de Dilma. Entre os homens há um empate técnico: 32% viram a propaganda de Serra e 29%, a de Dilma.

Serra e Dilma definem planos de governo

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Os presidenciáveis já definiram as linhas de seus programas de governo. O PSDB vai dar ênfase à política econômica, apresentando José Serra como o "presidente da produção". Dilma Rousseff (PT) destacará a manutenção dos programas sociais do presidente Lula.

Programa de Serra foca na produção, Dilma mira social e Marina, educação

Julia Duailibi, Roldão Arruda de São Paulo e João Domingos de Brasília

Os candidatos à Presidência já definiram as linhas gerais de seus programas de governo. O PSDB vai dar ênfase à economia, apresentando José Serra como o "presidente da produção". A petista Dilma Rousseff destacará a manutenção e ampliação de programas sociais.

A definição dos programas foi acelerada nos últimos dias, por causa da nova resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que obriga os partidos a apresentar, no registro das candidaturas, o programa dos candidatos ou ao menos um resumo das propostas. O PT e o PSDB devem entregá-las hoje - último dia para o registro, pelo calendário eleitoral.

A candidata Marina Silva (PV), que oficializou a candidatura na semana passada, expôs na internet as sete diretrizes básicas que orientarão seu programa. Ela aponta a educação como prioridade básica e orçamentária, afirmando que o Brasil precisa de esforço emergencial para enfrentar a escassez de trabalhadores qualificados em áreas estratégicas.

O texto que serviu de base para a definição do programa tucano, um calhamaço de quase 90 páginas, foi dividido em quatro blocos transversais, que podem ser lidos como capítulos: ação política, desenvolvimento, questão social e, por último, democracia e cidadania. "Essa é a consolidação da nossa visão sobre Brasil", diz o coordenador do programa de governo, Xico Graziano.

No capítulo sobre desenvolvimento, o texto destaca que o País não cresce mais por deficiências na infraestrutura, justamente a área em que a principal adversária de Serra, Dilma, explora como capital eleitoral. Ele também enfatiza a falta de uma estratégia de desenvolvimento e o baixo nível de investimentos públicos. Na sequência, o programa apresenta políticas destinadas a mudar esse cenário e a criar empregos, apresentando o tucano como o "presidente da produção".

Social. As propostas de Dilma a serem entregues ao TSE são uma cópia fiel de tudo que ela e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vêm falando a respeito de um eventual governo da petista. Elas estão divididas em oito temas. O primeiro é que o governo Lula mais valoriza, os programas sociais, que, de acordo com Dilma, já tiraram 24 milhões de pessoas da pobreza em sete anos e meio.

A petista propõe priorizar a qualidade da educação, melhorando os salários dos professores e aumentando o número de bolsas para que os alunos sejam mantidos nas escolas, além de aulas informatizadas com acesso à banda larga. Ela anuncia uma reforma urbana, com participação dos governos federal, estaduais e municipais, destinada a beneficiar sobretudo os mais pobres.

Dilma deve manter a política econômica, prometendo realizar a reforma tributária que não aconteceu no governo Lula.

Economia. Marina, que concorre pelos verdes, também deve manter a política macroeconômica do governo. Mas pretende, na mesma linha de Serra, reduzir o nível de endividamento do setor público e aumentar a capacidade de investimento do Estado.

Uma das chaves no texto com as sete diretrizes programáticas de governo de Marina é a palavra "sustentável" - aplicada em quase todos os capítulos. Na área econômica, significa tanto a absorção de novas tecnologias de baixo carbono, quanto a criação de fundos para financiar o desenvolvimento próprio.

Ela promete manter e ampliar os programas sociais, ao mesmo tempo que fala na necessidade de avançar. "O objetivo é superar a pobreza por meio da garantia do acesso e da oferta de oportunidades a indivíduos e famílias para a sua inclusão produtiva na sociedade", diz o texto.

No documento dos tucanos, o bloco que trata da questão dos programas sociais deve destacar o compromisso com o ensino profissionalizante - uma das portas de saída vistas por Serra para programas de transferência de renda, como o Bolsa-Família.

Segurança. As diretrizes do programa de Serra abordam a questão da segurança no mesmo bloco que trata de democracia. Isso está ligado à concepção de que o problema da insegurança vai além da área policial, significando na prática um risco ao pleno exercício da cidadania.

A candidata do PT deve reforçar os programas de segurança pública que estão em curso. Ela faz o mesmo em relação ao sistema de saúde pública, prometendo aprimorar a "eficácia" do Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo mais recursos, reforçando as redes de atenção à saúde e unificando as ações entre os diferentes níveis de governo.

PLANO DE GOVERNO
Principais diretrizes dos candidatos do PSDB, PT e PV que concorrem à nas eleições deste ano

JOSÉ SERRA (PSDB)

Desenvolvimento
Criar mecanismos para produzir mais bens manufaturados e gerar mais postos de trabalho

Ação política
Ordenar e regulamentar a política do País agilizando reformas em tramitação

Questão social
Investir no ensino profissionalizante como uma das portas de saída para programas de transferência de renda e manter o Bolsa-Família

Democracia e cidadania
Relacionar a questão da falta de segurança ao exercício pleno da cidadania, sem tratar o assunto como questão policial

DILMA ROUSSEFF (PT)

Programas sociais
Manter e ampliar o Bolsa-Família e criar programas semelhantes

Educação
Melhorar o salário dos professores e introduzir a banda larga nas escolas

Saúde
Dar mais recursos ao SUS e unificar as ações nos diferentes níveis de governo

Reforma urbana
União, Estados e municípios devem promover reforma para os mais pobres

Meio ambiente
Reduzir o desmatamento e impulsionar a matriz energética limpa, com ênfase para os biocombustíveis

MARINA SILVA (PV)

Política cidadã
Governar com os recursos públicos e ampliar o debate sobre ações do governo

Educação
Esforço para enfrentar falta de trabalhadores qualificados em áreas estratégicas

Economia
Manter política macroeconômica com redução do endividamento do setor público e adoção de tecnologias de baixo carbono

Diversidade
Valorizar e promover a diversidade social, cultural e ambiental

Política externa
Ação baseada em princípios sólidos, não em conveniências imediatas

Honduras permanece sem solução:: Christopher Sabatini

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Os conservadores dos EUA gostariam de acreditar que, com o afastamento de Manuel Zelaya, tiveram vitória contra o chavismo
Um ano após o golpe em Honduras em que o então presidente Manuel Zelaya foi afastado pelo Exército sob a mira de armas, Honduras, como problema regional, permanece sem estar resolvido, para a insatisfação de todos.

Os acontecimentos que se seguiram ao golpe de 28 de junho de 2009 feriram, talvez de modo permanente, as normas e mecanismos internacionais de defesa da democracia; os abusos dos direitos humanos passaram por escalada no país, que, enquanto isso, segue excluído por muitos da comunidade regional (incluindo o Brasil).

O governo "de facto" que assumiu o lugar de Zelaya, liderado pelo presidente Roberto Micheletti, negou-se a renunciar, apesar de série de esforços para negociar acordo de conciliação que teria restaurado Zelaya ao poder de alguma forma restrita até a realização das eleições, já programadas anteriormente para 29 de novembro de 2009.

Micheletti encontrou apoio forte entre conservadores dos EUA, que argumentaram que a remoção tinha sido constitucional.

Pelo fato de as eleições terem sido promovidas sob a égide do governo "de facto", Argentina, Bolívia, Brasil, México, Nicarágua e Venezuela se recusam até agora a reconhecer o governo do presidente Porfírio Lobo.

Cada um dos lados acabou prejudicado, pelas seguintes razões. Para começar, pela primeira vez desde que adotou suas cláusulas de defesa democrática, a Organização dos Estados Americanos (OEA) deixou de desfazer um golpe de Estado.

Isso deveu-se em parte a suspeitas de que a OEA houvesse agido tendenciosamente ao deixar de se manifestar antes de 28 de junho, quando Zelaya parecia estar se encaminhando para um referendo anticonstitucional.

Mas também, nos meses seguintes, a OEA pareceu incapaz de tentar forçar mudança de rumo.Essa imagem transmitiu a qualquer golpista em potencial a mensagem de que a OEA e suas ferramentas de defesa democrática não passam de um tigre de papel.

Em segundo lugar, os conservadores americanos gostariam de acreditar que, com o afastamento de Zelaya, tiveram uma vitória contra o chavismo. Na verdade, eles podem ter vencido a batalha, mas perderam a guerra.

A maior ameaça ao chavismo é um organismo regional efetivo que seja capaz de fazer aplicar as normas internacionais. Os abusos de direitos humanos e a polarização política que estão ocorrendo em Honduras hoje vêm apenas deixar claro que essas divisões continuam a existir, fortes. É nesse ambiente de repressão e frustração que o populismo cresce e se fortalece.

Em terceiro lugar, ao deixarem de reconhecer o governo do presidente Lobo, Argentina, Brasil e México estão apenas prejudicando os cidadãos hondurenhos. Não há dúvida de que a forma pela qual Lobo chegou ao poder é imperfeita. Mas é hora de seguir adiante.

A hipocrisia de um governo brasileiro que se dispõe a abraçar o governo iraniano, que executou centenas de manifestantes em uma eleição claramente fraudulenta, ao mesmo tempo em que rejeita um governo que, apesar de todas as falhas que precederam a eleição, chegou ao poder por uma eleição aberta e justa enfraquece a autoridade moral de um país que aspira a se tornar um líder mundial.

Em suma, o sofrimento de Honduras começou algumas semanas antes do 28 de junho, fruto de uma disputa entre elites que ganhou força e virou uma batalha ideológica campal, não apenas em Honduras mas também na região e nos EUA.

Ao longo dos últimos 12 meses, pessoas e países demais (da esquerda e da direita) vêm marcando pontos políticos e ideológicos baratos, sem se preocupar realmente com o futuro e o destino dos hondurenhos. Aproveitemos isso tudo como lição e comecemos o processo de superação -regionalmente e em Honduras.

Tradução de Clara Allain

Christopher Sabatini é editor-chefe da "Americas Quarterly" ( www.americasquarterly.org ) e diretor sênior de política do centro de estudos Americas Society/ Council of the Americas ( www.as-coa.org ).

Lula encontra ditador no último giro pela África

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Em sua última viagem a países africanos antes de deixar o Palácio do Planalto, o presidente Lula terá hoje encontro com o ditador da Guiné Equatorial.

Obiang Nguema Mbasogo, há 31 anos no poder, é acusado de enriquecimento e crimes contra os direitos humanos, relata a enviada Ana Flor. A capital do país é vigiada por tanques.


Lula se reúne com ditador africano para selar acordos

Presidente da Guiné Equatorial reivindica entrada do país na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

Diálogo com Mbasogo sofre críticas; Itamaraty afirma que há "chances de o Brasil influenciar" positivamente o país

Ana Flor
ENVIADA ESPECIAL À GUINÉ EQUATORIAL
Em visita oficial à Guiné Equatorial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passa a manhã de hoje reunido com o ditador Obiang Nguema Mbasogo.

O objetivo é negociar a entrada do país na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e acordos de comércio -em especial de produtos industrializados.

Ontem, ao chegar ao país, Lula foi recebido pelo presidente na porta do avião e por dezenas de pessoas com bandeirinhas do Brasil e da Guiné Equatorial e camisetas com estampa de ambos os presidentes, lado a lado.

A Guiné Equatorial é uma república com eleições a cada sete anos -o presidente pode se reeleger quantas vezes quiser. Independente da Espanha desde 1968, foi por um golpe que Mbasogo tomou o poder do país em 1979.

Desde então, é acusado de reprimir e matar opositores e manter o poder com violência. Pelas ruas da capital Malabo circulam policiais armados com fuzis AK-47 e tanques de guerra. Desde os anos 1990, quando descobriu petróleo, o país tem um dos maiores PIBs da África, mas os índices de desenvolvimento humano, alfabetismo e expectativa de vida não acompanharam.

O país ainda sofre com doenças tropicais, como malária e febre tifoide.

Mbasogo, entretanto, é considerado um dos mandatários mais ricos do mundo.

INTEGRAÇÃO

Segundo um diplomata brasileiro que acompanha a missão, a opção do Brasil é "por integrar, não isolar", como agem outros países. Já os empresários afirmam que o Brasil não deve fechar as portas do comércio bilateral. Segundo o diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty, Norton Rapesta, "há mais chances de o Brasil influenciar" positivamente o país com uma relação próxima. O apoio de Lula à entrada do país na CPLP é questionado. Apesar das duas principais línguas oficiais serem o espanhol e o francês, a Guiné reivindica o posto por ter o português como predominante em uma de suas ilhas.

Lula deixou ontem Cabo Verde, onde conversou com o presidente e o primeiro-ministro do país para que a Petrobras faça a prospecção de petróleo nas ilhas. Disse que, ao voltar ao Brasil, irá conversar com a direção da estatal para que inicie conversas com o país africano.

Lula segue hoje para o Quênia. Amanhã viaja para a Tanzânia e depois vai à Zâmbia. O giro africano termina na África do Sul.


A convite do Planalto, a repórter Ana Flor viajou de Cabo Verde à Guiné Equatorial numa aeronave da Força Aérea Brasileira

ONU ou Fifa? :: Paulo Brossard

DEU NO ZERO HORA (RS)

Em dias da semana passada, o presidente da República retomou a ideia de empregar suas energias no plano internacional, na ONU ou no Banco Mundial, e o fez em artigo de sua lavra estampado em The Guardian; com efeito, há dois meses, pouco mais, em edição de domingo, no alto da primeira página, jornal de São Paulo informava que “Lula articula seu futuro na ONU ou no Banco Mundial”, e nesse sentido iniciara articulações com líderes mundiais para definir seu futuro após deixar o governo. Diante da publicidade aqui e fora daqui, tenho a notícia como fundada.

Em princípio, qualquer individualidade de expressão internacional pode externar essa pretensão e quem tenha sido presidente do Brasil tem qualificação para voos dessa altitude. Mas digo em princípio, porque não basta ter títulos e aspirações, uma vez que, em se tratando de organismos internacionais, existe uma processualística consuetudinária, consultas, sondagens ou que outro nome tenha, discretas sempre e por motivos óbvios, até para evitar eventuais dissabores se o resultado não for o esperado; bem pode ocorrer que embora inexista alguma reserva pessoal ao interessado, circunstâncias mil podem obstar, na oportunidade, o acolhimento desta ou daquela pretensão. Suponho não esteja a dizer novidade a respeito. Por isto, o que me chamou a atenção foi o arroubo olímpico com que o presidente brasileiro ingressou na área sem sequer bater à porta, se é que ela não tenha várias.

Isto posto, parece não ser temerário deduzir que essa a finalidade da surpreendente oferta de gratuito patrocínio à Palestina e a Israel em seus históricos litígios, especialmente quando já estava acasalado com o Irã que pregou a supressão pura e simples de uma das partes envolvidas, oferta que deu no que deu, ambos os Estados mostraram que não estavam dispostos a pilhérias desocupadas. A pergunta que então foi feita é se a iniciativa insólita resultava de bisonhice de aprendiz ou pretendia chamar a atenção pela descomunal extravagância e se a ideia era fruto da sua solitária reflexão ou se elaboração de seus mágicos conselheiros... De qualquer sorte, o dislate do alvitre entrou para a história das “gafes” internacionais.

Aliás, foi de tal ordem o desconforto nos círculos sérios do nosso serviço exterior, que mais de um diplomata tocou na ferida aberta pela leviandade. A propósito, menciono artigo do embaixador Sérgio Amaral, que, com mão de mestre, disse as coisas mais judiciosas em linguagem impecável. Indagou “por que razão o Brasil decidiu envolver-se num conflito tão complexo e explosivo como o programa nuclear iraniano, numa região tão longe de nós, ao lado de um parceiro tão distante dos valores e dos interesses da sociedade brasileira? Essa é a pergunta que muitos se fazem nesse momento e para a qual a diplomacia brasileira ainda não deu uma resposta convincente”. E continuava o antigo embaixador em Londres e Paris, “no caso do Brasil, a aventura do Irã é incompreensível, sobretudo quando existem vários contenciosos perto de nós, em relação aos quais não tentamos ou não logramos, aí, sim, mediar um entendimento”. E vai adiante, para indicar o resultado previsível, em face “da ingenuidade dos formuladores da política externa ou a falta de informação sobre a postura dos principais atores (como a China). Qualquer dessas hipóteses seria uma falha grave para a diplomacia competente”. Ainda salienta que, no Irã, “colocamo-nos, a contracorrente da comunidade internacional, na esdrúxula posição de fiadores das boas intenções de um governo que se notabilizou por um déficit democrático e por recorrentes violações dos direitos humanos, desta vez, na contramão dos valores da sociedade brasileira”. E conclui “a diplomacia brasileira, nos últimos anos, tem associado a exuberância na retórica com a parcimônia nos resultados”.

Ainda teria coisas a notar, como as do ex-ministro Celso Lafer, mas me falta espaço. E me limito a indagar se é com esses antecedentes que o nosso presidente pretende credenciar-se a secretário-geral da ONU ou a gestor do Banco Mundial, ou, quem sabe, diante de suas frequentes metáforas futebolísticas, à Fifa?


*Jurista, ministro aposentado do STF

O ovo da serpente:: Luiz Carlos Mendonça de Barros

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Vamos completar oito anos de governo Lula. Nesse período a economia brasileira apresentou resultados positivos, com crescimento, a partir de 2004, muito superior à média das décadas anteriores. Também vivemos uma estabilidade macroeconômica - apesar do soluço criado pela crise externa em 2009 - pouco usual em nossa história recente. A inflação esteve sempre alinhada às metas definidas pelo Conselho Monetário Nacional e o real passou a ser tratado nos mercados de câmbio como moeda forte e confiável. O endividamento do setor público manteve-se dentro de limites adequados, quando comparado com o dos países avançados que hoje lutam contra um endividamento crítico.

Tudo isso levou a um grande respeito por parte da comunidade financeira internacional, normalmente um grupo de pessoas muito mal humoradas em relação a governos vistos como de esquerda. Tanto é verdade que uma candidata com a história pessoal de Dilma Roussef não cria expectativas negativas em relação a uma possível vitória sua nas eleições presidenciais de outubro. Basta lembrar o que aconteceu nos mercados financeiros quando, em julho de 2002, as pesquisas eleitorais começaram a mostrar o favoritismo de Lula nas eleições daquele ano.

Em encontro recente com representantes da comunidade financeira internacional em Nova York a ministra, acompanhada do fiador das mudanças econômicas do governo Lula e do PT - o ex ministro Antonio Palocci -, arrancou aplausos da plateia. A candidata fez uma defesa da independência do Banco Central na busca do controle da inflação.

Mas se nos desviarmos da questão macroeconômica e nos concentrarmos em várias decisões de ordem microeconômica do governo Lula, esse entusiasmo quase juvenil deixa de existir. Um deles me assusta particularmente pois reconstrói um aleijão que existiu por muitas décadas em nosso quadro institucional e que foi um dos responsáveis pela bagunça fiscal e monetária de muitos anos.

A forma como vem operando o BNDES reproduz com outro desenho operacional a chamada conta-movimento do Banco do Brasil e que foi eliminada com muito custo em 1986. No caso da conta-movimento o Banco do Brasil expandia seus empréstimos e o Banco Central simplesmente acomodava a moeda criada, o que na prática significava que não havia nenhuma ancoragem monetária na economia.

Na versão atual da conta movimento o Tesouro entrega títulos seus ao BNDES que então, se necessário, vai a mercado para vendê-los e fundear suas operações de crédito.

No fim das contas há uma aterrorizante semelhança entre a versão da conta movimento do Banco do Brasil dos governos militares e a versão atual do governo Lula. Pelas informações hoje disponíveis sobre um eventual governo Dilma - o presidente atual do BNDES é muito próximo da candidata - esse mecanismo de emissão autônoma de moeda pode ser aprofundado.

Outro mecanismo de financiamento de empresas estatais com a emissão de dívida pública - esse talvez um pouco mais sofisticado - é o chamado Fundo Soberano formado com "sobras" de superávit primário e, eventualmente, parte das reservas internacionais do Banco Central. Emprestado de países que investem parte de seus superávits fiscais em reservas internacionais, o ministério da Fazenda do governo Lula criou uma figura de ficção em nossas finanças públicas. No caso clássico dos Fundos Soberanos não há emissão de dívida, pois os recursos representam poupança efetiva; no caso do Fundo Soberano de Lula há emissão líquida de dívida pública para a compra das reservas ou aplicação em ações de empresas públicas. É o caso recente do aumento de capital do Banco do Brasil.

Nos três casos citados - um no governo dos militares e dois no período Lula/Dilma - o ponto comum é a criação no setor público de ativos contra o setor privado ou empresas públicas (Banco do Brasil, Petrobras e Eletrobrás) financiados por emissão de dívida mobiliária. Os riscos econômicos para o Tesouro associados a esses mecanismos são altos, embora a forma como se vende hoje os títulos públicos seja mais sólida do que a utilizada no passado.

Outro ponto que me assusta ao olhar detalhadamente para a pequena serpente no ovo da política econômica de Dilma Roussef é a política relativa a novos investimentos em infraestrutura. Certamente poderá ser um dos grandes limitadores ao crescimento econômico nos próximos anos. Principalmente porque são de autoria da atual candidata à presidência da República as principais ações do governo no campo das rodovias, portos e, principalmente, nos investimentos no setor elétrico. O fracasso do plano de concessão de rodovias federais em função de tarifas de pedágios irreais e a necessidade de grandes subsídios financeiros para as duas novas usinas hidrelétricas no Xingu são provas incontestes da falta de coerência e racionalidade das ideias de Dilma Roussef.

O título desta coluna foi tomado emprestado de um extraordinário filme de Ingmar Bergman sobre o nascimento do nazismo na Alemanha no início da década de trinta no século passado.


Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações. Escreve mensalmente às segundas.

As duas caras do sol :: Graziela Melo

Sertão velho. Vida dura. Roça seca. Sol malvado. Cruel, destruidor!!!

Menino com fome. Mãe do menino com fome. Pai do menino com fome. Nenhuma nuvem no céu. Só ele. O sol soberano e absoluto num imenso e fantástico espaço azul, infinito!

Sede. Água longe, distante e aquele caminho comprido pra Maria pegar lá.

Bom, mas noutro canto, as vezes ele se esconde atráz daquela nuvem cinzenta que vai se desmanchando, desmanchando e as gotinhas não param de cair. De dia. De noite. Ah! Chuvinha chata, impertinente, derrubadora, enchendo d’água tudo que é buraco. Céu fechado. Não tem sol.

E cadê o sol? Anda lá pelo sertão do cafundó do judas, castigando tudo. Não tem pão, nem feijão nem alegria. Só fome, tristeza, João e Maria

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
Clique o link abaixo

O Trenzinho do Caipira (Villa-Lobos) - Orquestra Sinfônica do Porto.

Quatro poemas pivianos :: Roberto Piva

I

As mãos invisíveis dedilham a canção sinistra
vibrando as fibras nervosas da medula
Os dentes mastigam o sem fim de peripaques nostálgicos
enquanto o mistério corre pela rua em chamas.

Aonde andará o poeta de pijama que escorrega e cai,
enquanto distraído sonha um mundo de estrelas?
Já não há céu, nem solo firme. Silencie-me! Silencie-me!
Sigo as labaredas memoráveis dos dias de luto e melancolia.

Quero a forma perfeita, o beijo, o cheiro do Apolo ruivo.
Sei da impossibilidade das horas, da complementaridade ilusória.
Olho o monte de esterco apodrecendo na vidraça entreaberta.
Janelas, penhascos, arranhásseis e corpos voadores de pedra.

Se a noite persegue minha vida, deposito monstros no aquário.
Os peixes caminham no asfalto e as mulheres usam gravatas.
Minha alma, meu desejo, minha imobilidade. Apenas eu!
Danço a quimera dos solitários e o presságio dos carecas.

Um poema, um segmento refratário. Não sei de mim.
As idéias são espasmos, e as palavras, coisa inútil.
Seria senil e insano se acreditasse no amanhã.
Vivo esse segundo que se arrasta, devorando-me.

II


O estrangeiro da legião de insetos
arrancou o grito de cólera e loucura
da boca arreganhada, não percebida,
do paranóico que mora nos ciclones

A bailarina, uma mulher pálida,
engole o último pedaço de vidro
arrebentado com a explosão atômica
de meus sonhos avulsos transtornados.

O erotismo atrapalhado do anão
que não mais se agüenta neste intervalo
de memórias e areias, noite e chamas.
Diminuindo cada vez mais, bactéria.

O uivo caminhando sobre a ponte imóvel.
O castelo e o muro dedilhados no quadro azul.
Sinto a introdução e o posfácio deste rio
que golpeia as paredes com mãos nuas.

O mínimo. O minúsculo. O quase nada.
Dedilhai as últimas notas vagas
que recordam a imagem deformada
do psicótico que caminha sobre o fio dental.

III


O corvo de pelúcia esfaqueado pelas costas
traz os olhos esbugalhados mirando a parede alada.
As estantes, as páginas comidas por traças,
adormecem na noite de meus surtos compulsivos.

Olhos imensos de um desenho de carvão negro
mãos em garras batendo teclas ideais.
O cheiro de perfume velho e asfixiante.
A teia de aranha presa entre os ossos mortos.

Lá fora, homens dirigem seus carros vagarosamente
seguindo as pernas nuas das mulheres prostitutas.
Enquanto corpos se misturam na madrugada convulsiva
de salões apertados, iluminados por rosas ensangüentadas.

Meus passos, meus ruídos, aquele rosto assimétrico.
Triunfa a idéia do parto cesariano sem anestesia.
A dançarina com suas vestes invisíveis
caminha no jardim de lâminas e gafanhotos.


Escreverei dez mil poemas ao poeta necropolitano
sem esperanças de ter meus sonhos confundidos
com o delírio e o êxtase do pai xamânico.
Sou urbano, sou quase cético. Morfina e sonhos.


IV


Dêem-me um anestésico. A vida dói e arde.
Não sei controlar meus impulsos demoníacos.
Não acredito em forças de outro mundo.
Sou eu, meus versos e o perigo das frações.

Arranco minhas víceras poéticas do ostracismo.
Trezentos dias e cinqüenta noites marianas.
O caracol de meus cabelos caídos no chão de espelhos.
O sangue e os olhos transformados em areia cinza.

A árvore sem galhos escondem os meninos saltimbancos.
Foi-se o tempo em que se acreditava nas histórias ditas.
Sempre começo pelo meio e jamais olho para os lados,
enquanto rio e sufoco meu próprio rosto turvo.

Minha maquiagem, os primeiros tombos das gaivotas.
Atiro farpas e pragas para antigos e mórbidos desejos.
A torre delirante de um neocórtex em latência,
ou o pedúnculo, ou o miocárdio, ou o octocentésimo.

Quatro poemas nos espaços angustiados do processo.
Sou eu? Sou ateu? De que me valem as respostas?!
As idéias me levam ao eterno estado de castidade
entrelaçado neste puro estado de sonho e malogro.