sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso

Nas eleições a palavra se torna crucial. Não só seu significado literal apenas, mas o conteúdo simbólico e o modo de expressá-la. A política eleitoral implica tanto alianças como propostas e, sobretudo, requer desempenho dos candidatos. Não por acaso o “demagogo”, ao se comprometer com os interesses populares, sempre encontra espaço na vida pública. Entretanto, em especial nos momentos de crise, demagogos podem ser batidos por quem tiver virtude e capacidade de mostrar um rumo para o país que seja percebido como confiável para os “mercados”, mas principalmente bom para o povo, sem apelar à ilusão distributivista e/ou a impulsos autoritários. Foi o que fiz quando liderei o Plano Real.

O Brasil precisa não de “candidatos”, mas de líderes que tenham visão de estadistas e mostrem ao povo os caminhos da esperança. Há que explicar à maioria que a própria democracia, minada pela corrupção e pelos erros de condução do País, está em jogo. A sociedade sofre hoje a comichão da demagogia autoritária dos que pensam que bastam ordem e hierarquia para gerar empregos e renda, quando é preciso muito mais do que isso. No lado oposto, há a demagogia dos que pensam que basta a “vontade política” para dissolver interesses e legislar em benefício da maioria. É preciso competência, persistência e humildade para saber que só unidos, guiados por ideias, venceremos o atraso.

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Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, ex-presidente da República. ‘Farol alto’, O Estado de S. Paulo, 5/8/2018.

*Fernando Gabeira: Para onde correm os candidatos

- O Estado de S.Paulo

Se a esquerda está resignada a perder agora para ressurgir adiante, é um equívoco

Tive a oportunidade de conhecer as posições de alguns candidatos à Presidência ao participar de uma sabatina. Tentarei um projeto, como realizei nas eleições passadas, de entrevistar todos os outros, independentemente da pontuação em pesquisa. De um ponto de vista jornalístico, é interessante saber o que se passa na cabeça de alguém que decide ser candidato num momento tão complicado no País. Mais do que ninguém, tenho dúvidas sobre o futuro do próximo presidente, sobretudo a partir de uma quase certeza de que a renovação do Congresso será modesta.

Minha visão da conjuntura recomenda algo que chamo, brincando, de catastrofismo emancipatório, expressão que o sociólogo Ulrich Beck usa diante das mudanças climáticas. Isso significa deixar de apenas falar do desastre, mas encarar a situação com a clareza de que o dilema é cooperar ou morrer.

Creio que a esquerda também conta com uma grande crise adiante. Mas ela se fragmentou e parece ter se resignado a perder as eleições e ressurgir adiante como alternativa. Se for isso mesmo, é um equívoco.

Não creio que uma próxima crise possa ser vista como um movimento de gangorra que alterne forças esgotadas do sistema político-partidário. Um período PSDB, outro período PT, como se a sucessão no poder fosse natural como o ritmo das estações de ano.

Para mim, vivemos uma ofensiva das forças tradicionais semelhante, em muitos aspectos, à que houve nos EUA. No Brasil, esse movimento vem de longe. A esquerda cultural sempre foi dominante. Mas, quando ela passa a ser também a cultura do governo, a contestação de suas ideias ganhou muito mais força. Isso porque a maioria no Brasil – acho eu com minha experiência de lutas minoritárias – é conservadora. Nem sempre o aval que ela dá para dirigir o País se estende a questões de comportamento. É um pouco como política externa. Você faz a política do país, e não a do partido vencedor.

*Sergio Fausto: Por que Geraldo Alckmin

- O Estado de S.Paulo

Ele tem condições para liderar o esforço para recolocar o País nos trilhos e fazê-lo avançar

Com as convenções partidárias, encerrou-se a etapa preliminar das eleições de outubro. Os candidatos à Presidência estão definidos e seus vices, escolhidos. A exceção é o candidato do PT, que servirá de espelho fictício à imagem de Lula.

Para quem não quer se submeter à lógica dualista do petismo vs. antipetismo bolsonarista, apresentam-se três hipóteses plausíveis entres os presidenciáveis: Geraldo Alckmin, Marina Silva e Ciro Gomes. Quero, aqui, explicar por que Geraldo Alckmin me parece a melhor opção, seguido de Marina Silva.

Ciro impressiona pela articulação verbal e pela capacidade de expor suas ideias. Pena que estas, além de variarem muito ao longo do tempo, assim como suas filiações partidárias, hoje paguem tributo a um nacionalismo-estatista fora do tempo e do espaço e a um plebiscitarismo perigoso para a democracia representativa. Pena, também, que sua eloquência repetidamente se perca na ofensa e no destempero.

Díspares em muitos aspectos, Geraldo e Marina compartilham características que têm escasseado no Brasil: serenidade, disposição ao diálogo e recusa à demagogia. Num país em que a retórica do nós contra eles se disseminou impulsionada pela esquerda e pela direita e o argumento racional perdeu espaço no debate público, essas qualidades individuais, em si mesmas, não são pouca coisa.

As chapas Alckmin/Ana Amélia e Marina/Eduardo Jorge, com candidatos a presidente e vice à altura dos respectivos cargos, oferecem ao eleitorado duas alternativas qualificadas. Esta última é em princípio mais transformadora do que a primeira, por incorporar com maior ênfase os temas do século 21, a começar pela sustentabilidade ambiental, por não nascer vinculada a forças tradicionais do sistema político e por ser encabeçada por uma mulher de extraordinária biografia.

Se assim é, então por que Geraldo Alckmin? Em breves palavras, porque ele reúne as melhores condições para liderar o imenso esforço necessário para recolocar o País nos trilhos e fazê-lo avançar. Tem de longe a melhor e mais experimentada equipe de assessores econômicos (a de Marina é composta por brilhantes intelectuais e acadêmicos, o que é coisa muito diferente). Além disso, está em condições de manter, pelo tempo que seja conveniente e necessário, quadros do atual governo que estão realizando um excepcional trabalho de reconstrução na área econômica à frente do Banco Central e do Ministério da Fazenda.

Merval Pereira: Em busca do equilíbrio

- O Globo

O grande trunfo que Marina vai apresentar nesta campanha é o fato de ter passado incólume pela Operação Lava-Jato

Apesar de acusada desde o fim de 2014 de ter “sumido” da vida pública, a candidata da Rede, Marina Silva, tem uma resiliência incomum, vista como uma política não tradicional, embora tenha sido parlamentar durante muitos mandatos, desde vereadora no Acre até senadora e ministra no governo Lula.

Marina, com um desempenho estável nas pesquisas, de acordo com os dois maiores institutos, o Datafolha e o Ibope, está em segundo lugar quando o ex-presidente Lula não aparece, situação em que também vence todos os demais concorrentes no segundo turno. Eé a segunda opção da maioria dos entrevistados em pesquisa recente.

Marina aparece também como a maior herdeira dos votos de Lula. É nesse vasto mar de indecisos que ela pretende buscar a força necessária para chegar ao segundo turno, embora nesta eleição tenha condições piores do que em 2010 e 2014, quando teve uma média de 20 milhões de votos em cada uma.

A maioria do eleitorado brasileiro é de mulheres, revelou o último Censo, o mesmo acontecendo entre os indecisos. Marina é a única mulher entre os outros 12 candidatos homens que estarão na disputa, e vai poder falar desta posição privilegiada, embora tenha pouco mais de 20 segundos de tempo de propaganda eleitoral gratuita e um fundo partidário ínfimo diante do de seus adversários, principalmente do tucano Geraldo Alckmin, que terá praticamente a metade do tempo da propaganda e um fundo de R$ 800 milhões.

Marina, embora comece a campanha no páreo para chegar ao segundo turno, tem dois fortes candidatos que disputam quem vai enfrentar Bolsonaro se o candidato do PSL mantiver a resiliência que o mantém há mais de ano na frente das pesquisas quando Lula não aparece.

Míriam Leitão: Uma eleição nada normal

- O Globo

Eleição deste ano é anormal e acontece em um tempo de mudanças e inusitados, por isso o seu resultado é imprevisível

A eleição deste ano tem várias singularidades. Pela primeira vez vais e testara dimensão da força do digital contra as formas convencionais de comunicação. A maioria dos candidatos fez chapa de pessoas da mesma tendência. Entre os mais competitivos, só Ciro é do Nordeste, que tem 27% do eleitorado, mas o Rio Grande do Sul estará como vice no PSDB e talvez no PT. A maior das singularidades é Lula, o pré-candidato preso, liderando as pesquisa seque pode ser declarado inelegível.

Essa não é uma eleição normal, diz o cientista político Cesar Zucco, da Fundação Getúlio Vargas. Conversei com ele e como cientista político Lúcio Rennó, da Universidade de Brasília, na Globonews, sobre a situação atual da disputa que acontecerá em menos de dois meses.

Rennó acha que os debates, como o de ontem da TV Bandeirantes, sempre foram importantes para confirmar decisões, dar mais argumentos para a defesa do candidato que o eleitor já escolheu, mas desta vez pode ser diferente:

Bruno Boghossian: O homem que não estava lá

- Folha de S. Paulo

Debate sobre exposição de Haddad simboliza incerteza sobre transferência de votos

A discussão dentro do PT sobre a exposição de Fernando Haddad em atos de campanha simboliza a incerteza do partido sobre como se dará, na prática, a transferência de votos de Lula para seu afilhado político. Os indícios de que a Justiça Eleitoral pode acelerar a decisão sobre a candidatura do ex-presidente devem provocar uma mudança significativa nos planos petistas.

Originalmente, advogados da sigla planejavam usar prazos legais e recursos para esticar o processo em que o TSE decidirá se Lula está ou não inelegível. Em um cenário considerado otimista, a sentença sairia só na segunda semana de setembro —o que daria tempo ao partido para levar à TV a imagem do ex-presidente como seu candidato oficial por quase 15 dias.

Ministros do TSE e procuradores, no entanto, emitem sinais de que é possível antecipar para agosto a previsão de julgamento. Nesse caso, Lula já estaria barrado antes do início do horário eleitoral gratuito.

Se este cenário se concretizar, o PT precisará decidir se sabota a abertura do período de propaganda para preservar a versão de um Lula candidato por mais alguns dias ou se finalmente deflagra seu plano B.

Ricardo Noblat: O cabo apagou o capitão

- Blog do Noblat | Veja

Salvaram-se quase todos no debate da BAND

Foi de morno para frio o primeiro debate entre candidatos a presidente da República promovido pela Rede Bandeirantes de televisão. Ninguém atacou ninguém para valer – salvo Guilherme Boulos (PSOL) que bateu duro em quase todos, menos em Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (REDE).
Alvo da maioria das perguntas, Geraldo Alckmin (PSDB) foi o candidato que teve maior exposição – e quando se trata de debate na telinha, essa pode ser uma vantagem. E foi para ele que não perdeu a serenidade e passou todos os recados que queria mandar ao distinto público.

Por mais de uma vez, Marina deu estocadas em Alckmin. Uma única vez, Alckmin revidou ao dizer que jamais servira aos governos do PT, e que Marina serviu. Com fama de descontrolado, Ciro soube controlar-se. Quando cedeu à ironia, deu-se bem.

Álvaro Dias (PODEMOS) foi o mais irregular. Começou mal, extrapolou o tempo das respostas, tentou esconder-se sob o manto da Lava Jato, e apontou a corrupção como a causa de todos ou de quase todos os problemas enfrentados pelo país.

Quanto a Bolsonaro, além de nervoso, foi apagado pelo histriônico Cabo Daciolo (PATRIOTA). O cabo ocupou mais espaço no debate do que o capitão. Acabou sendo o candidato mais citado nas redes sociais. Nenhum dos candidatos quis polarizar com Bolsonaro, negando-lhe assim a chance de faturar.

O esquecido da noite foi Lula, uma só vez mencionado por Boulos. O debate entre Fernando Haddad (PT) e Manuela d’ Ávilla (PC do B), transmitido à mesma hora nas redes sociais, foi um fracasso de público.

Planejado para durar duas horas, o debate da BAND estendeu-se por três horas e meia. Dele, pouco deverá ficar na memória dos que o assistiram.

Dora Kramer: Desobediência incivil

- Revista Veja

Aqui, Cristiano não é Ronaldo. E significa traição

Primeiro, um pouco de contexto histórico: mineiro, deputado federal, candidato do PSD à Presidência em 1950, Cristiano Machado concorreu com Eduardo Gomes (UDN) e Getúlio Vargas (PTB). Perdeu a eleição para Getúlio, que levou boa parte dos votos do PSD, partido que abandonou seu candidato oficial à própria (falta de) sorte.

Daí o termo “cristianização”, usado no dicionário político para significar deslealdade partidária em processos eleitorais. Matéria-prima muito presente nas disputas neste Brasil de partidos pouquíssimo representativos e sem nenhuma regra de conduta para os correligionários. Ou nenhuma que tenha sido ou seja levada a sério; até foram feitas tentativas aqui e ali de organizar o baile, mas caíram todas no vazio.

Não é novo esse ambiente de tempo de murici em que cada um trata de si, mas, nesta eleição geral de agora, a coisa assume uma proporção gigantesca, é aceita com a mais absoluta naturalidade e faz de previsões sobre resultados uma tarefa de altíssimo risco de erro crasso. Ainda não é uma constatação clara, mas na prática essa permissividade torna letra morta as decisões tomadas nas convenções partidárias.

Como na realidade não se respeitam as escolhas, as convenções acabam sendo peças de ficção com a única tarefa de cumprir exigência legal. Saindo dessas reuniões meramente cartoriais, cada um faz o que bem entende, pouco se lhe dando o que a maioria do partido decidiu. Entre tantos outros, esse é mais um fator de desmoralização e aprofundamento da fragilização das legendas.

José de Souza Martins: Quem tem um olho emigra

- Eu & Fim de Semana | Valor Econômico

Em países que ficaram relativamente à margem da grande cultura, como o Brasil, é cotidiano o embate entre o conhecimento erudito e a ignorância, o desconhecimento que ganha corpo e poder no senso comum popular. É cada vez maior o abismo que os separa. E é cada vez mais significativo o poder do senso comum, multiplicado pelos recursos modernos de sua difusão.

Ainda nesses dias, o governo brasileiro lança nova campanha de vacinação contra sarampo e poliomielite porque milhões de crianças não foram vacinadas no devido tempo. Os pais descuidados da vacinação, induzidos por informações sem fundamento, difundidas pelas redes sociais e por boatos de gente de mentalidade formada na nova ignorância pós-moderna. É a dos que acham que sabem sem saber.

Um dos aspectos curiosos dessa mentalidade retrógrada é a facilidade na aceitação de interpretações sobre problemas brasileiros, por este ou aquele estrangeiro mais ousado, que agradem segmentos sociais carentes de reconhecimento de suas aspirações, justas ou não. Gostamos mais da bajulação do que da ciência. Os de fora nos dão a ilusão de sermos iguais a eles. Herança colonial, o herói mítico do povo brasileiro continua sendo o estrangeiro imaginário. E brasileiro bom é o que tem suposto reconhecimento no exterior.

Jovens brasileiros que fizeram doutorado fora do país querem dispensa da obrigação de voltar ao Brasil e aqui trabalhar para cumprir a obrigação contratual decorrente da bolsa de estudos brasileira que receberam para estudar lá fora. Seria uma honra financiar a formação de profissionais para os países ricos. Dar-lhes o que nos falta.

Uma frase irônica escrita na porta de uma das privadas da Faculdade de Filosofia da USP nos dias seguintes ao do golpe militar de 1964 sintetizava essa mentalidade subdesenvolvida: "Em terra de cego, quem tem um olho emigra".

Eliane Cantanhêde: Ela é ‘sua’, pode matar

- O Estado de S.Paulo

Assassinatos, estupros e pancadaria contra mulheres são doenças da sociedade

Uma das cenas mais chocantes, e revoltantes, dos últimos tempos foi aquele assassino do Paraná espancando a própria mulher dentro do elevador do prédio onde moravam. Ele agredia a moça, uma advogada jovem e linda, sem ao menos franzir a testa. A expressão dele não era de ódio, era de poder. Como se esmurrasse uma coisa, um saco de batatas.

Trata-se de um casal de classe média alta, bonito, com curso superior, e o crime foi com requintes de crueldade, terminando com a queda da moça pela janela. Assim, a história ganhou enorme repercussão. Mas foi só mais uma, numa rotina de violência que atinge as mulheres de todas as classes sociais, em todas as regiões.

Segundo o anuário da violência, divulgado ontem, 2017 registrou um recorde de assassinatos no País, com impressionantes sete mortes de homens e mulheres por hora. Por hora! Mas os dados sobre as vítimas mulheres têm um lado particularmente assustador.

Foram 221 mil casos de violência doméstica no ano, 60 mil estupros e 4,5 mil assassinatos. O que que é isso, minha gente? Estão tratando as mulheres como coisa para usufruir e jogar fora a qualquer hora! E justamente quando a Lei Maria da Penha – um marco no combate à violência contra a mulher – completa 12 anos. Como “comemoração”, vimos, além do crime bárbaro e nojento do Paraná, uma onda de feminicídios e o cotidiano de mortandade de mulheres no Rio, nas demais capitais e no interior do País afora. Eles espancam, estupram, esfaqueiam e atiram em mulheres por serem mulheres. Em Brasília, um policial matou a mulher com um tiro na cara na casa da mãe dela, deixando órfãs duas filhas, de 11 e 8 anos. Outro assassino atirou a companheira pela janela. É como se esses homens se sentissem no direito de decidir sobre a vida e a morte da “sua” mulher. Logo, é uma doença não de um indivíduo, mas de uma sociedade inteira, com o Estado impassível – ou simplesmente impotente. Não se sabe o que é pior.

Claudia Safatle: Alckmin vai propor autonomia do BC

- Valor Econômico

Proposta é mandato fixo e alternado para a diretoria

Alvo de uma campanha tresloucada na véspera das eleições de 2014, a proposta de autonomia do Banco Central voltou a constar dos programas de governo de dois dos candidatos à Presidência da República mais competitivos: Jair Bolsonaro (PSL) e Geraldo Alckmin (PSDB). Ambos, inclusive, externaram a intenção de manter no cargo o atual presidente do BC, Ilan Goldfajn, sejam eleitos.

A equipe de Bolsonaro adiantou, em comunicado, que ele é favorável à independência do BC. Com mandatos atrelados a metas e métricas definidas pelo Legislativo, a diretoria do BC teria "autonomia para garantir à sociedade que nunca mais presidentes populistas ou demagogos colocarão a estabilidade do país em risco para perseguir um resultado político de curto prazo", diz o texto publicado no fim de 2017 no blog do candidato.

Alckmin disse que o assunto não consta das quatro grandes reformas constitucionais - política, tributária, previdenciária e do Estado - que ele encaminhará ao Congresso nos primeiros dias de governo, se for eleito. Aparentemente, portanto, a autonomia do BC não estaria entre as prioridades do candidato do PSDB, que concentraria o capital político acumulado na eventual vitória na aprovação das reformas, que exigem quorum qualificado.

Vera Magalhães: Bolsonaro é poupado e Alckmin fica na berlinda

- O Estado de S.Paulo

O temor demonstrado antes do debate da Band pelas assessorias dos candidatos se manifestou no palco: nenhum dos principais candidatos à Presidência confrontou pesadamente Jair Bolsonaro, líder nas pesquisas, quando teve oportunidade.

O único a questioná-lo em tom mais incisivo foi Guilherme Boulos, que, por ser do PSOL, representante da extrema-esquerda, é rechaçado pelo eleitorado bolsonarista. Ser confrontado por ele, portanto, reforça as posições de Bolsonaro junto aos que o apoiam.

Nem Ciro Gomes, sempre tão loquaz, que já chamou Bolsonaro de sociopata em entrevistas, teve ímpeto para chamá-lo ao ringue. Quando foram escolhidos para responder e comentar numa pergunta sobre educação, um Ciro sorridente dirigiu ao “Jair” uma piadinha sobre colégio militar que serviu de escada para a tréplica do deputado.

Quem ficou mais na berlinda foi Geraldo Alckmin, que recebeu alfinetadas de Marina Silva (quanto ao Centrão), Ciro (que tentou associá-lo por diversas vezes a Michel Temer), Alvaro Dias (que associou o PSDB, partido do qual foi até outro dia, à corrupção) e até do pacato Henrique Meirelles, que disse que o PSDB chamava o Bolsa Família de “Bolsa Esmola”.

O tucano procurou se manter em tom propositivo, mas soou professoral e pouco didático. Enfileirou siglas de difícil compreensão para o eleitorado comum e evitou revidar na mesma moeda as chineladas que recebeu. Soou frio e burocrático na maior parte do tempo.

A ausência do PT fez com que Lula fosse excluído também das perguntas e respostas, poupando o partido de críticas pelo petrolão e o desastre da economia legado por Dilma Rousseff.

Luiz Carlos Azedo: Supremo caiu na armadilha

- Correio Braziliense

O mecanismo que vincula os aumentos de servidores ao dos ministros do STF serviu para alavancar os salários da alta burocracia de todos os poderes, mas virou uma tremenda armadilha fiscal

O impacto do aumento dos salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) nas contas públicas, segundo cálculos dos especialistas em orçamento das assessorias técnicas do Congresso, será de R$ 4 bilhões. A decisão de passar seus vencimentos dos atuais R$ 33.763,00 para R$ 39.293,32, um reajuste de 16,38%, muito acima da inflação, não seria um descalabro face a relevância dos cargos que ocupam, não fosse o fato de que tem um efeito cascata no Executivo, no Legislativo, no Ministério Público e, também, nos estados e Distrito Federal.

A vinculação dos aumentos do Judiciário, do Legislativo e do Executivo ao salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que estabelece o teto de remuneração dos servidores, é uma armadilha fiscal criada pelos lobbies das corporações do setor público e pela esperteza dos políticos. Ministros do Supremo vivem numa redoma, na qual não dependem de mais ninguém, a não ser deles próprios e da Constituição. Não têm as mesmas limitações dos políticos com mandato eletivo no Executivo e no Legislativo na hora de estabelecer seus vencimentos, pois não precisam disputar eleições.

Dessa forma, o mecanismo que vincula os demais aumentos ao dos ministros do STF serviu para alavancar os salários da alta burocracia de todos os poderes, mas virou uma tremenda armadilha fiscal, com grande impacto nas contas públicas. O efeito do aumento na esfera federal é o seguinte: Judiciário, R$ 717 milhões; Ministério Público, R$ 258 milhões; Executivo e Legislativo federais e Defensoria Pública da União, R$ 400 milhões. Nos estados, o impacto nas folhas de pagamento dos servidores será de R$ 2,6 bilhões. Ou seja, de uma hora para outra, o Supremo aprovou mais um novo rombo nas contas públicas, cujo deficit fiscal previsto para o próximo ano é de R$ 139 bilhões.

O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), liderou a discussão sobre o aumento, na qual a presidente do Supremo, ministra Cármem Lúcia, que era contra, foi derrotada por 7 a 4. Lewandowski argumenta que a atuação do Judiciário tem proporcionado o resgate de dinheiro aos cofres públicos: “Vocês repararam que ontem os juízes de Curitiba devolveram R$ 1 bilhão de dinheiro desviado da Petrobras?”, disse. Entretanto, é um dos ministros que mais atuam no sentido de circunscrever as investigações.

Num país com 13 milhões de desempregados e uma massa enorme de pessoas subempregadas, muitas vezes ganhando abaixo do salário-mínimo, a decisão teve repercussão muito negativa, a começar pelas reações da própria presidente do Supremo: “Ontem perdi. Provavelmente hoje perco de novo. Mas eu não queria estar do lado dos vencedores. O que venceram e como venceram não era o que eu queria mesmo e continuo não convencida de que era o melhor para o Brasil”, disse Cármen Lúcia.

Colateral
A Secretaria Geral do STF calcula em R$ 2,87 milhões o impacto da despesa na folha de pagamento do tribunal. Parte dos recursos, cerca de R$ 50 milhões, deve sair do orçamento da TV Justiça. O aumento ainda precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional, que já barrou um aumento anterior do Judiciário. Dessa vez, o que se discute no Senado é a desvinculação dos aumentos entre os Poderes, o que pode ser uma boa medida em tempos de novo governo e ajuste fiscal, mas isso dependerá do resultado das eleições.

Marco Aurélio Nogueira: Rito místico

Não é difícil entender a postura do PT e do PCdoB que, na noite de domingo 5 de agosto, indicaram Fernando Haddad candidato a vice-presidente na chapa de Lula e um acordo nacional que permitirá a Manuela D’Ávila entrar na chapa mais à frente. Era o que lhes cabia fazer.

Mas surpreende o modo como as decisões foram tomadas.

PT e PCdoB são partidos laicos, com quadros políticos experimentados e militância ativa. Todos ali sabem pensar com a própria cabeça e se vangloriam disso.

Porém, para por em ação o “plano B” e a operação concluída ontem, precisaram aguardar que Lula enviasse da prisão uma carta dando aval à nova estratégia. Sem a palavra final e a ordem do ex-presidente, o impasse persistiria. Criou-se assim um cenário de submissão e subserviência, no qual Lula é apresentado como uma mente superior, no melhor estilo “guia genial do povo”, devidamente revestida da imagem de “maior líder político do Brasil”.

A indicação feita pela carta de Lula não conteve qualquer novidade ou surpresa. O “plano B” era notícia de véspera, conhecida por todos, vinha sendo cozinhada nos bastidores há semanas. Tudo não passou, na verdade, da obediência a um rito, destinado a consagrar a ideia de que Lula toma as decisões cruciais, que somente sua mente iluminada poderia tomar, graças ao descortino e ao desprendimento pessoal que a caracteriza.

Foi uma encenação, típica da política em estado bruto. A verdade dos fatos revela o inverso do que foi apresentado: os dirigentes partidários decidiram o que julgaram ser melhor e comunicaram a Lula as conclusões e avaliações do debate interno.

Mas o fato de terem aceitado o papel público de coadjuvantes, de paus mandados do chefe supremo, não mostra somente a baixa qualidade dos dirigentes e sua “disposição ao sacrifício”. É a prova cabal da disposição que têm de manter vivo um “mito” e uma mística regressista, que só servem para congelar o povo lulista em um estado de passividade sebastianista e exaltação religiosa.

Primeiro debate da eleição 2018 reúne 8 presidenciáveis por mais de 3 horas na TV

TV Band reuniu Alvaro Dias (Pode), Cabo Daciolo (Patriota), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Jair Bolsonaro (PSL), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT).

Por Filipe Matoso, Gustavo Garcia e Lucas Salomão, G1, Brasília

Oito candidatos à Presidência da República participaram na noite desta quinta-feira (9) de um debate na TV Bandeirantes. O debate durou 3 horas e 13 minutos e terminou na madrugada desta sexta (10).
Por sorteio, os candidatos ficaram posicionados na seguinte ordem (da esquerda para a direita): Alvaro Dias (Podemos), Cabo Daciolo (Patriota), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Jair Bolsonaro (PSL), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT).
Antes do início do debate, o mediador Ricardo Boechat informou que a organização convidou o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso. Mas ele foi impedido pela Justiça de participar.

Durante o encontro, os postulantes apresentaram propostas sobre emprego, educação, segurança pública, desenvolvimento, juros, aborto, entre outros pontos.

O debate foi dividido em cinco blocos:

• Primeiro bloco: questionamento de leitores do “Metro Jornal” e perguntas entre os próprios candidatos.
• Segundo e quarto blocos: perguntas de jornalistas do Grupo Bandeirantes.
• Terceiro bloco: perguntas entre candidatos.
• Quinto bloco: considerações finais.

Propostas
Conheça abaixo, as falas na íntegra, sobre propostas apresentadas pelos candidatos em respostas a perguntas que receberam durante o debate. Para cada pergunta, o tempo de resposta foi de 1 minuto e 30 segundos.

A ordem dos candidatos abaixo obedeceu a posição (da esquerda para a direita) reservada a cada um pelo sorteio da organização do debate.


Alvaro Dias (Podemos)
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) -"Em vez de [o BNDES] investir no Brasil e gerar empregos, melhorando nossa infraestrutura e nossa logística, nós, no governo, não permitiremos que o BNDES empreste, sobretudo, para nações comandadas por ditadores corruptos e sanguinários que esmagam seus povos na miséria. Os recursos do BNDES não construirão metrô na Venezuela. Poderão construir em Belo Horizonte, despoluir o Rio Tietê, a Baía de Guanabara, através de parcerias público-privadas, com alavancagem do BNDES, um grande banco."
Venezuelanos no Brasil - "Seria perverso expulsar seres humanos que foram escorraçados por uma ditadura sanguinária e impiedosa. Não há como expulsá-los do Brasil. Com sensibilidade humana, um governo não pode escorraçá-los daqui como foram expulsos de lá pela violência, pela miséria e pela fome. O que nós temos que condenar são os governos brasileiros que alimentaram durante anos essa ditadura incapaz de respeitar as liberdades democráticas. Uma ditadura sanguinária que submeteu o seu povo à fome, à miséria, à violência e à morte e que teve a complacência de governos brasileiros."

Segurança pública - "Mulheres e jovens: nos últimos dez anos, de 2006 a 2016, nós tivemos o sepultamento de 324 mil jovens de 14 a 25 anos no nosso país, sete vezes mais que o número de soldados mortos na Guerra do Vietnã durante 20 anos. Os governantes deveriam pedir perdão ao povo brasileiro. Não há como não afirmar que não temos recursos, nós gastamos mais com segurança do que os países da OCDE. O problema é honestidade, planejamento e competência. É preciso restabelecer a autoridade, não há autoridade constituída. E quando a autoridade não se impõe, a marginalidade se sobrepõe e o crime cresce de forma avassaladora no país como ocorre hoje. Nós temos três itens: financiamento, capacitação e indução de políticas corretas, política de segurança pública de Estado e não de governo. Combate ao tráfico de drogas, combate à produção e ao tráfico de drogas, instituindo uma frente latino-americana."

Ajuste fiscal - "Anarquizaram a administração pública brasileira, destruíram as finanças públicas e nos levaram para um déficit monumental, histórico, sem precedentes. Isso vai exigir um ajuste fiscal rigoroso. E tem que começar no andar de cima, exatamente eliminando os privilégios das autoridades brasileiras que provocam grande indignação na nossa gente. Auxílio-moradia, verba indenizatória, todos esses penduricalhos. Há que se começar reduzindo o tamanho do Estado, eliminando ministérios, diretorias, coordenadorias, departamentos, paralelismos, superposição de ações. Reduzindo o tamanho do Congresso, diminuindo senadores, deputados. Depois, sim, as reformas necessárias para o país."

Sérgio Moro e Operação Lava Jato - "O grande desafio é vencer o descrédito. Em relação à corrupção, especialmente. Porque assaltaram o Brasil nos últimos anos. O que nós estamos propondo é a institucionalização da Operação Lava Jato como política de Estado permanente. Uma espécie de tropa de elite de combate à corrupção. E para isso nós vamos convidar o juiz Sérgio Moro para ministro da Justiça."

Combate à corrupção - "[Vamos convidar] uma seleção de juristas como Miguel Reale Jr., Modesto Carvalhosa e René Dotti para a elaboração da legislação criminal do país, não apenas o aprimoramento da legislação criminal do Brasil, acolhendo as propostas do Ministério Público de combate à corrupção, mas também as alterações constitucionais necessárias para que possamos ter os mecanismos e mudarmos esse sistema político e de governança. Especialmente, esse sistema de governança corrupto e incompetente que é uma fábrica de escândalos de corrupção. Novamente, eu vou repetir, não vou me cansar de repetir: sem a refundação da República, sem a substituição desse sistema, o país não vai gerar emprego, não vai promover desenvolvimento, e nós vamos ver o nosso povo sofrendo."

Considerações finais - "Vamos acabar, sim, com todos os privilégios das autoridades e, com segurança, o juiz Sérgio Moro estará ao nosso lado apoiando. Tenho certeza que ele apoiará o fim de todos os privilégios das autoridades. Mais importante do que o candidato possa dizer durante a campanha é o que ele foi, o que ele fez, como fez, se tem passado limpo e se tem experiência administrativa. E que experiência administrativa teve. Se falo que vou promover reformas refundando a República, preciso apresentar minhas credenciais. Fui governador e fiz reformas. [...] Temos um plano de metas. Paulo Rabello, o economista do ano, e eu temos um plano de metas, mas não se concretizará com este 'bla bla bla'. Por isso, eu repito e vou repetir sempre: Abra o olho, Brasil. É preciso mudar este sistema corrupto e incompetente para mudar o Brasil. Lembro o Raul Seixas, tenha fé na vida, tenha fé em Deus e tente outra vez."

Cabo Daciolo (Patriota)
Emprego - "Tem que investir em educação, botar trabalho para o povo, mexer em educação, entrar em ciência e tecnologia e institutos federais. Capacitar e preparar a mão de obra e, a partir daí, baixo os juros, retiro impostos e isso vai oxigenar o país. Automaticamente, o mercado vai se abrir e nós vamos empregar esse povo."

Voto impresso - "Nós somos o único país onde não existe o voto impresso. No mundo! [...] Precisamos mergulhar e trabalhar para que possamos ter o voto em cédulas porque existem fraudes em urnas eletrônicas provadas. Provadas! Isto é preocupante, é muito preocupante para o cenário da nossa democracia porque pilares da democracia estão sendo quebrados. Têm que ser contabilizado os votos."

Feminicídio - "O grande problema que a nação está enfrentando hoje é a falta de amor, a falta de amor ao próximo. Estamos vendo uma sequência de homens violentos, normalmente violentos com as mulheres. E tivemos recentemente a cena de um marido que matou a mulher, jogou a mulher do apartamento, e você vê que a pressão para pegarmos essas pessoas que estão cometendo esses crimes contra as mulheres não vem com medidas enérgicas. Mas é interessante dizer que hoje o problema que nós temos está em cima da segurança e colocarmos a educação para o nosso povo. E isso começa a transformar nossa nação".

Debate na Band | 1° Turno | Completo

Geraldo Alckmin no evento “Eleições e Perspectivas: Brasil 2018”

Primeiro debate é marcado por poucas propostas

O clima morno e a falta de propostas marcaram o primeiro debate entre oito candidatos à Presidência, realizado pela TV Bandeirantes. Questões de economia e os temas de alianças políticas e de corrupção estiveram entre os mais presentes até o fechamento desta edição. Assuntos ligados às mulheres, como aborto e feminicídio, também foram abordados. Sem bate-boca, os presidenciáveis optaram pela estratégia de expor fragilidades do adversário. Além de explorar possíveis desvios éticos, as relações com o governo de Michel Temer estiveram em pauta nas perguntas que os candidatos dirigiam a seus adversários. Geraldo Alckmin, do PSDB, foi o mais requisitado a responder a questionamentos. Ele foi interpelado pela aliança com o centrão e pelas medidas econômicas do atual governo. O candidato do PSOL, Guilherme Boulos, disse que o debate tinha “50 tons de Temer”, ironizando o fato de vários candidatos serem de partidos que votaram a favor de propostas do presidente no Congresso. “A reforma trabalhista foi um avanço. Tínhamos um grande cartório com 17 mil sindicatos no Brasil”, disse Alckmin. Em paralelo, o PT promoveu uma transmissão nas redes sociais, com a participação do candidato do partido a vice, Fernando Haddad, em que foi lida uma carta do ex-presidente Lula, impedido pela Justiça de participar do debate na TV por estar preso em Curitiba.

CLIMA MORNO

Debate presidencial com poucas propostas

Mesmo em quarto lugar, Geraldo Alckmin foi o mais questionado

Marco Grillo, Fernanda Krakovics e Miguel Caballero | O Globo

No primeiro debate entre os presidenciáveis nesta campanha eleitoral, ontem, na TV Bandeirantes, que levou oito candidatos ao embate, a discussão sobre alianças e economia teve mais destaque. O encontro ficou marcado pelos ataques mútuos e pela apresentação de propostas pouco aprofundadas. Como estratégia eleitoral, os adversários optaram pela busca de fragilidades, em vez de detalhar as ações. Supostos desvios éticos foram apontados, assim como alianças partidárias e as relações com o governo Temer.

O candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, quarto colocado nas pesquisas, que tem o maior leque de alianças, foi o mais questionado, até a conclusão desta edição. Foi confrontado a respeito da coligação com o centrão, sobre medidas econômicas do atual governo (de quem o PSDB foi aliado) e sobre o Bolsa Família. O candidato do MDB, Henrique Meirelles, lembrou que os tucanos já chamaram o programa de Bolsa Esmola. Cabo Daciolo (Patriota) e Jair Bolsonaro (PSL), em uma dobradinha clara, também fizeram críticas duras ao tucano. Já Ciro Gomes (PDT), em terceiro lugar nas pesquisas, quase não foi alvo de perguntas.

Quando participou dos embates, Ciro tentou ligar o presidenciável tucano, Geraldo Alckmin, ao governo de Michel Temer. O pedetista lembrou que o PSDB apoiou a reforma trabalhista, que, segundo ele, teria agravado “terrivelmente” a situação do povo brasileiro e também perguntou se o tucano pretende mantê-la. Alckmin respondeu ser a favor da reforma. Ressalvou que a permissão para que mulheres grávidas trabalhem em locais insalubres precisa ser revista.

— A reforma trabalhista foi um avanço. Tínhamos era um grande cartório, com 17 mil sindicatos no Brasil, mantidos com imposto sindical. A maioria não fez nem convenção coletiva — disse o candidato do PSDB, que chegou a usar o termo “Bolsa Banqueiro”, utilizado por Guilherme Boulos (PSOL), ao responder a um questionamento de Meirelles sobre o Bolsa Família.

—Vamos ampliar o Bolsa Família, vamos usar o dinheiro do Bolsa Banqueiro.

Marina também buscou a polarização com Alckmin ao associá-lo ao centrão, grupo de partidos que se aliou ao PSDB. Segundo ela, alguns representantes dessas legendas têm “assaltado o povo”. Alckmin creditou o acordo à necessidade de ter uma ampla coalizão para aprovar as reformas previdenciária, política e tributária logo no início de um eventual governo. O ex-governador de São Paulo aproveitou para alfinetar Marina, ao recordar que ela saiu do PV, após a eleição de 2010. Disse que a situação com o partido era “incompatível”, embora para esta eleição tenha feito uma aliança com a mesma legenda.

Fortes no Nordeste, Ciro e Marina ficam sem palanque em Pernambuco

Por Marina Falcão | Valor Econômico

RECIFE - Candidatos à Presidência com histórico de boas votações no Nordeste, Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede) ficaram com seus palanques espremidos entre duas grandes coligações na corrida eleitoral em Pernambuco: a do governador Paulo Câmara (PSB), que apoiará o candidato do PT, e a do senador Armando Monteiro (PTB), que fechou com Geraldo Alckmin (PSDB).

Marina terá o palanque do ex-prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio (Rede), que não fez aliança com nenhum partido. Já Ciro terá que dividir espaço com o PT na campanha do ex-deputado Maurício Rands (Pros), que, de última hora, conseguiu se unir ao PDT e ao Avante com a promessa de ser uma terceira via nas eleições pernambucanas. Rands diz que fará uma "campanha franciscana" e que não tem recursos próprios para investir. "Vai ser vaquinha e crowdfunding dos amigos, com o pouquinho recurso dos três partidos, que também tem que canalizar recursos para os deputados", disse.

Ex-deputado federal pelo PT (2003-2012), Rands montou a sua chapa em 15 dias. Ele pegou carona no vácuo deixado pela vereadora Marília Arraes (PT), que teve sua candidatura rifada pela executiva nacional do PT em nome da neutralidade do PSB nas eleições presidenciais.

O PDT indicou a ex-vereadora Isabella de Roldão para o cargo de vice na chapa. O deputado Sílvio Costa (Avante) ficou com uma das vagas ao Senado. Rands tentou atrair uma quarta legenda para a sua coligação, oferecendo a segunda vaga, mas não conseguiu. A vaga acabou ficando a coordenadora do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Lídia Brunes (Pros).

Embora o Pros tenha fechado nacionalmente com o PT, Rands diz que não vai declarar voto em nenhum candidato específico. Ele estava afastado da política desde que renunciou ao mandato de deputado em 2012, após ter sua candidatura à prefeito do Recife frustrada. Antes de se filiar ao Pros, em abril desse ano, ele passou pelo PSB. Em 2014, coordenou a campanha presidencial de Marina Silva, após a morte do ex-governador Eduardo Campos (PSB).

Juntamente com o irmão, controla o jornal Diário de Pernambuco. Sua família também é dona da Datamétrica, empresa de telemarketing e de pesquisas - eleitorais, inclusive. Para Rands, a sua candidatura pode recolher o mesmo sentimento de rejeição às grandes coligações que alimentava a candidatura de Marília.

A rejeição a qual Rands se refere passa pela composição das chapas adversárias. Em uma aliança com 12 partidos, o governador Paulo Câmara apresenta Humberto Costa (PT), um dos mais fiéis escudos do PT, ao lado do deputado Jarbas Vasconcelos (MDB), crítico histórico do partido de Lula, como candidatos seus ao Senado.

Primeiro debate presidencial tem tom morno e poucos ataques

Apenas nanicos Boulos e Daciolo destoaram em encontro promovido pela Band

Catia Seabra , Isabel Fleck , Gustavo Uribe , Joelmir Tavares e Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em um primeiro debate morno, promovido pela Bandeirantes, os candidatos à Presidência evitaram, com algumas exceções, ataques diretos e trazer temas polêmicos à tona na noite desta quinta (9).

Presidenciáveis como Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) não foram confrontados com seus pontos fracos, como o escândalo daDersa, no caso do ex-governador de São Paulo, ou o temperamento explosivo do ex-governador do Ceará.

A ausência de Lula, preso em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro, contribuiu para um embate menos caloroso. Nesse cenário, Guilherme Boulos, do PSOL, tentou assumir o papel de porta-voz da esquerda e se apresentou como "do partido de Marielle Franco", vereadora assassinada no Rio de Janeiro em março.

Foi ele, inclusive, que protagonizou um dos únicos confrontos em que o tom das acusações se elevou. Boulos questionou Jair Bolsonaro (PSL) sobre a funcionária de seu gabinete Walderice Santos da Conceição, que, segundo mostrou a Folha, trabalha num comércio de açaí em Angra dos Reis, onde o deputado federal tem uma casa.

"Quando a Folha de S.Paulo foi lá, ela estava de férias. Ela é essa senhora, humilde, trabalhadora", disse Bolsonaro.

Ao ser questionado por Boulos se ele não tinha vergonha de manter uma "funcionária fantasma" e de ter auxílio moradia da Câmara mesmo tendo imóvel em Brasília, Bolsonaro respondeu que teria vergonha se "tivesse invadindo as casas dos outros", numa provocação ao líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).

"E não vim pra cá bater boca com um cidadão desqualificado como esse aí", completou Bolsonaro, encerrando sua fala antes do tempo.

Além de Boulos, o Cabo Daciolo (Patriota) também destoou do clima mais ameno, atirando sobre praticamente todos os opositores.

Dos 13 candidatos à Presidência definidos nas convenções, apenas oito participaram do debate: além de Bolsonaro, Alckmin, Ciro, Boulos e Daciolo, foram convidados Marina Silva (Rede), Álvaro Dias (Podemos) e Henrique Meirelles (MDB).

Todos se enquadram na determinação da lei eleitoral de que devem ser convidados candidatos de partidos ou coligações que tenham pelo menos cinco congressistas.

O outro seria Lula. O PT chegou a pedir à Justiça que ele fosse autorizado a participar via videoconferência.

Com o pedido negado, o partido resolveu fazer um debate paralelo, com o vice e potencial titular da chapa, Fernando Haddad (leia abaixo).

ALCKMIN E BOLSONARO
O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi o mais demandado pelos opositores mais bem posicionados nas pesquisas de intenção de voto, que evitaram Bolsonaro.

Marina, por exemplo, pressionou o ex-governador de São Paulo por sua aliança com o chamado "centrão" (DEM, PP, PR, PRB e SD).

"O sr. diz que é candidato à Presidência porque quer mudar o Brasil. No entanto, fez aliança com o centrão, que é a base de sustentação do governo Temer. [...] O sr. acha que isso é fazer mudança?", questionou a candidata da Rede.

Bolsonaro e Alckmin são os mais atacados

Por Cristiane Agostine, Fernando Taquari e César Felício | Valor Econômico

SÃO PAULO - O primeiro debate entre os presidenciáveis, ontem, na TV Bandeirantes, reuniu 8 dos 13 candidatos e foi marcada pela dureza nos embates entre o candidato do PSL, deputado Jair Bolsonaro e o do PSDB, Geraldo Alckmin, e seus adversários.

Bolsonaro lidera as pesquisas nos cenários em que é excluído o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que deve ser declarado inelegível. Alckmin fez a maior aliança, ao coligar-se com o PP, DEM, PTB, PPS, PR e PRB.

Coube a Guilherme Boulos (Psol) fazer a primeira pergunta e o candidato, após chamar Bolsonaro de "racista" e homofóbico" e afirmar que ele transformou a atividade política em um esquema familiar, ao escalar filhos para disputar mandatos, disparou: "o senhor conhece a Val?". Era uma referência a uma funcionária do gabinete de Bolsonaro que mora em Angra dos Reis. "Valderez é uma funcionária minha que ganha dois mil reais por mês. Humilde e trabalhadora. Essa senhora sempre prestou serviço para mim", disse Bolsonaro.

" É uma funcionária fantasma que cuida dos cachorros dele em Angra", devolveu Boulos. Bolsonaro acusou Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MTST), de ser um invasor de propriedades e concluiu: " não vim aqui para bater boca com um candidato desqualificado".

Se teve contendores, o deputado também deixou claro no início do debate que tinha aliados. Uma amena troca de perguntas deixou clara a relação amistosa entre Bolsonaro e o senador Alvaro Dias, candidato do Podemos.

Em debate presidencial morno, candidatos evitam confrontos

Sem presença de candidato do PT, Jair Bolsonaro é poupado de ataques e Geraldo Alckmin vira alvo de provocações de rivais

Pedro Venceslau, Marianna Holanda, Gilberto Amendola, Mateus Fagundes, Daniel Galvão | O Estado de S.Paulo

No primeiro debate da disputa pela Presidência da República, promovido na noite desta quinta-feira, 9, pela TV Band, os candidatos evitaram, na maior parte do tempo, o confronto direto. O encontro entre os presidenciáveis, que durou cerca de 3 horas, transcorreu em temperatura morna. A expectativa de que o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, fosse o principal alvo de questionamentos dos adversários não se confirmou. Dono da maior coalizão partidária, o tucano Geraldo Alckmin enfrentou provocações dos rivais.

Bolsonaro lidera as pesquisas de intenção de voto nos cenários sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato. Lula foi oficializado como candidato do PT no fim de semana passada. A defesa do petista tentou garantir sua presença no debate, mas os pedidos foram negados pela Justiça.

Além de Bolsonaro e Alckmin, participaram do evento Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Alvaro Dias (Podemos), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Cabo Daciolo (Patriota).

Com um discurso mais técnico, o candidato do PSDB procurou, em suas falas, citar dados de suas gestões em São Paulo, enquanto adversários tentaram associá-lo ao governo Michel Temer. Foi confrontado por medidas econômicas da gestão emedebista e sobre a aliança com o Centrão. Marina Silva criticou a aliança do PSDB com o bloco partidário, que integra a base do Palácio do Planalto. A ex-ministra disse que o governo é responsável pelas “mazelas e tem assaltado o povo”. “Isso é fazer mudança?”, questionou ela ao tucano.

Alckmin afirmou que, para sair do “marasmo”, é preciso aprovar reformas e que isso depende de uma “maioria” no Congresso. “Alianças são por tempo de TV, para se manter no poder. É a governabilidade com base no exercício puro e simples do poder”, disse Marina. “Política é um caminho para mudanças e alianças são necessárias para implementar mudanças”, respondeu o tucano.

Como sobrevive o Congresso

Mesmo com alta taxa de rejeição, há poucas chances de renovação do Parlamento

Apostas para um novo baile

Por Malu Delgado | Eu & Fim de Semana | Valor Econômico

SÃO PAULO - A história recente do Brasil fortalece a tese de que a prosperidade de um governo está intimamente relacionada à sua capacidade de dialogar com o Legislativo. Quase 70% dos brasileiros não confiam no Congresso Nacional e somente 3% da população avalia positivamente o presidente Michel Temer (MDB). Ainda assim, o Executivo e o Legislativo sobrevivem mutuamente à rejeição ampla e gradual da sociedade brasileira e implementam a pauta que lhes convêm, quando afinados. Essa simbiose do Palácio do Planalto com o Congresso - que garantiu a manutenção de Michel Temer na Presidência em meio a uma forte instabilidade política e mesmo sob graves denúncias de corrupção - terá peso relevante na transição para a agenda que o próximo ou a próxima presidente da República pretender implementar.

As regras do jogo eleitoral deste ano facilitarão, na opinião de analistas políticos e pesquisadores, a reeleição de políticos com mandato e já conhecidos, impondo obstáculos à renovação do perfil do Legislativo. O futuro Congresso, que possivelmente terá a mesma cara do de hoje, poderá preparar um terreno mais fértil para o próximo mandatário ou dificultar imensamente a sua vida.

"Em uma campanha de um mês, cada um com R$ 2 milhões, é difícil falar em renovação política para valer. Sobretudo depois da engenhosa estratégica dos parlamentares de usar os recursos do fundo partidário para favorecer os candidatos com mandato", afirma o cientista político Jairo Nicolau, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Devido a mais um dos inúmeros "disparates políticos do Brasil", acrescenta o professor, o próximo presidente assumirá e conviverá por um mês com o Congresso antigo, cujos mandatos terminam apenas ao fim de janeiro de 2019.

Sendo assim, o presidente eleito ao fim de outubro (num segundo turno, muito provavelmente), poderá negociar a votação e aprovação de alguma agenda nos meses de novembro, dezembro e janeiro. "Obviamente se houver a vitória de um candidato de esquerda, essa transição será muito mais difícil", afirma ele.

O agrupamento fisiológico de parlamentares, batizado de Centrão, que assegurou a Temer a sustentação política, poderá pactuar essa agenda com o próximo presidente caso existam interesses convergentes, na opinião de Pablo Cerdeira, coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS) da FGV-Direito Rio, responsável pelo projeto Congresso em Números.

Segundo ele, "há grande chance" de algumas pautas fiscais e econômicas serem aprovadas já em novembro e dezembro deste ano, a depender do eleito. Isso poderá ocorrer, afirma Cerdeira, mesmo se o MDB, em tese, estiver num campo contrário ao Centrão - já que o partido mantém a candidatura de Henrique Meirelles à Presidência e o Centrão optou por apoiar Geraldo Alckmin (PSDB).

"Mas o PMDB nunca passou abaixo da taxa média de apoio do Congresso ao governo", afirma Cerdeira. "A história mostra que o PMDB é, de verdade, um partido governista."

O caminho seria bem mais tranquilo no Congresso para Alckmin, aliado ao Centrão, avalia Antônio Augusto de Queiroz, analista político e diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

"Se Alckmin vencer, provavelmente suspendem a intervenção federal no Rio, votam a reforma da Previdência e a pauta econômica remanescente. Se quem vencer for um candidato da esquerda, aí não votam nada neste ano", prevê Queiroz.

No campo da esquerda, a grande novidade foi a aliança do Partido dos Trabalhadores com o PC do B, o que abre caminho para uma chapa com Fernando Haddad e Manuela D'Ávila na vice, diante de um impedimento legal da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Condenado em segunda instância, Lula está preso em Curitiba desde abril, e sua inelegibilidade é dada como certa. Ciro Gomes (PDT), que ocupa lugar de destaque nas pesquisas de intenção de votos, foi obrigado a fechar uma chapa puro-sangue e colocou como vice a senadora Kátia Abreu (TO), representante do agronegócio.

Outros temas que podem andar rapidamente no Congresso caso o candidato vitorioso seja identificado com a direita, diz Queiroz, são a privatização de distribuidoras de energia e a cessão onerosa da Petrobras na exploração do pré-sal. Hoje, a intervenção federal no Rio impede o Congresso de apreciar emendas constitucionais, que exigem maioria qualificada para a aprovação (3/5 dos votos, ou seja, 308 votos na Câmara e 49 no Senado), como é o caso da reforma da Previdência. Tanto o PT quanto Ciro e Guilherme Boulos, o candidato do PSol, já deram declarações contrárias à privatização da Eletrobras e às mudanças no marco regulatório do pré-sal.

Nicolau, que rejeita o uso do termo Centrão, pondera que ainda é prematuro prever o tamanho e a força que esse grupo terá a partir de 2019. "Sempre tivemos na política brasileira um conjunto de deputados de diversos partidos com baixo teor de ideologia, de orientação programática, operando basicamente para a pequena política, para seus interesses municipalistas. Quando o PMDB era potente, e o PFL idem, ninguém falava de Centrão. Os partidos de centro-direita menores eram periféricos."

A perda da capacidade de coordenação política do MDB, segundo Nicolau, permitiu a ascensão desse grupo e faz com que o futuro político no Congresso seja imprevisível.

As estatísticas e os estudos formulados pela FGV relacionam a sobrevida de um presidente à sua capacidade de manter o controle e o apoio do Congresso. São, portanto, um alerta para todos os candidatos à Presidência. "Nossa hipótese é a de que se um presidente tiver menos de 70% de apoio no Congresso, o risco de impeachment é altíssimo, e a chance de perder o controle é muito grande", observa Cerdeira. Temer mantém hoje, segundo o Congresso em Números, uma taxa média de apoio do governo no Congresso bastante estável e confortável, de 77,3%. O pior momento de Temer ocorreu em maio de 2017, quando foi divulgado o áudio da conversa com o empresário Joesley Batista, apontando para o envolvimento do então PMDB e de auxiliares próximos do presidente no suposto esquema de corrupção e pagamento de propinas. Foi ali que os parlamentares colocaram um freio no apoio ao governo, que caiu para 73%, de acordo com a pesquisa do Centro de Tecnologia e Sociedade.

A verdadeira discussão sobre salários do STF: Editorial | O Globo

O importante é acabar com vinculações e indexações salariais no setor público

Coma economia numa recuperação em marcha lenta e 13 milhões de desempregados, em meio à aplicação de uma necessária política de aperto nos gastos públicos, a decisão da maioria dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de encaminhar ao Congresso proposta de aumento salarial para si mesmos, de 16,38%, passou a repercutir de forma negativa logo ao ser anunciada.

O teor de controvérsia do reajuste é alto, o que está demonstrado pelo fato de quatro dos 11 ministros (Celso de Mello, Cármen Lúcia, Rosa Weber e Edson Fachin) terem sido contrários ao aumento. O drama social do desemprego os sensibilizou. A escassez de recursos também. O STF estima que o reajuste salarial dos ministros, de R $33,7 mil para R$ 39,2 mil, implicará gastos adicionais de R$ 2,7 milhões no Tribunal e, na Justiça Federal como um todo, de R$ 717 milhões.

A remuneração dos ministros é referência para salários e não só na Justiça. Ele é o teto salarial do funcionalismo. E serve, ainda, de eficaz argumento para que uma pressão por aumentos se espalhe por estados e municípios. Uma bomba fiscal engatilhada, num momento em que o Brasil se prepara para entrar no sexto ano de déficit nas contas públicas. Não é possível continuar assim.

Suprema insensibilidade: Editorial | O Estado de S. Paulo

Com escandaloso desprezo pelo interesse público, juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram por 7 votos a 4 propor a elevação de seus próprios salários de R$ 33.761 para R$ 39.293,32, com “modestíssimo reajuste” – palavras do ministro Ricardo Lewandowski – de 16,38%. Enquanto isso, 13 milhões de desempregados tentam sobreviver de qualquer jeito e formam filas de milhares de pessoas em busca de uma ocupação. No Executivo, ministros das pastas econômicas batalham para conter o déficit federal no limite de R$ 159 bilhões, neste ano, sem devastar os gastos com educação e saúde e sem abandonar outras despesas obrigatórias. Ao mesmo tempo, esforçam-se para legar ao próximo governo um orçamento administrável. Mas esse esforço pode ser anulado se novos atos irresponsáveis aumentarem os buracos do Tesouro. Quanto mais pronto o reparo das finanças públicas, maior será a confiança de empresários e investidores, mais fácil a recuperação da economia e mais breve a criação de vagas para os milhões de trabalhadores de bolsos hoje vazios.

Um aumento salarial para os ministros afetará muito mais que a folha de pagamentos do STF. Salários de juízes do STF são o teto de vencimentos do funcionalismo público. Se aprovado, o “modestíssimo reajuste” defendido pelo ministro Ricardo Lewandowski abrirá espaço para salários maiores em todo o Judiciário e em toda a administração pública nos três níveis – federal, estadual e municipal. Além disso, aumentará também as despesas da Previdência Social, o mais pesado componente das despesas primárias, isto é, dos gastos públicos sem os juros e amortizações da dívida.

Acinte federal: Editorial | Folha de S. Paulo

Proposta de reajuste salarial beneficia categoria que faz parte do 1% mais bem pago do país

Uma elite encastelada em um dos Poderes da República decidiu ignorar o estado calamitoso das finanças públicas e partir em busca de um quinhão maior do dinheiro do contribuinte brasileiro.

Assim procederam os ministros do Supremo Tribunal Federal que, por 7 votos a 4, aprovaram na quarta-feira (8) proposta que prevê reajuste salarial de 16,4% aos magistrados em 2019, conforme reivindicam entidades da categoria.

O aumento, que depende da aprovação do Congresso, não constitui apenas uma irresponsabilidade orçamentária —trata-se de um acinte em um país que empobreceu nos últimos anos e abriga 13 milhões de desempregados.

Com a medida, os vencimentos dos ministros do STF, que delimitam o teto da administração pública, passarão de R$ 33,8 mil para R$ 39,3 mil mensais. Mesmo o primeiro valor já se mostra uma enorme regalia na realidade nacional, em que a renda média do trabalho do 1% mais rico é de R$ 27,1 mil.

Expectativas se deterioram com início da guerra comercial: Editorial | Valor Econômico

Os efeitos de uma guerra comercial persistente entre as duas maiores economias do mundo só aparecerão mais intensamente em 2019, mas seus sinais são já visíveis nas estatísticas, especialmente nas que medem as expectativas. A Organização Mundial do Comércio, com seu Indicador sobre as Perspectivas do Comércio Global, em tempo real, mostra desaceleração, a caminho da retração (100,3 pontos). Em seu boletim mensal, o Banco Central Europeu menciona que "incertezas relacionadas a fatores globais, notadamente a ameaça do protecionismo, permanecem proeminentes".

O BCE aponta a perda de fôlego do comércio global e que, se todas as ameaças tarifárias do presidente Donald Trump se concretizarem, os EUA terminarão com um nível de proteção não visto em mais de meio século. Além disso, o nível de novas encomendas de países da zona do euro caiu de fevereiro a junho.

O pessimismo com a guerra tarifária deteriorou significativamente o clima econômico global. Um dos indicadores que o medem, o do Ifo (Instituto de Pesquisas Econômicas de Leibniz), registra que as expectativas estão em seu pior momento desde 2011, e que, por esse ângulo, a economia mundial "desacelerou e agora rasteja". Os números da pesquisa indicam queda de investimentos e a perspectiva de estagnação no consumo. O atenuante é que se parte de uma base de comparação bem alta.

O estrago maior, que exige tempo e difíceis decisões empresariais, deverá ocorrer nas cadeias globais de produção, se de fato o imprevisível Trump levar sua cruzada a sério, até o fim. Até o primeiro tiro dessa guerra, com tarifas de 25% para US$ 35 bilhões de exportações cada lado, os potenciais efeitos das retaliações são localizados. Do lado americano, 90% dos produtos chineses taxados são insumos intermediários para máquinas e equipamentos. E 91% dos 545 produtos visados pelos chineses, são do setor agrícola, segundo estudo do Petersen Institute of International Economics.

César Guerra-Peixe: Tributo a Portinari (1991)

Manuel Bandeira: Auto-Retrato

Provinciano que nunca soube
Escolher bem uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
E em matéria de profissão
Um tísico profissional.