segunda-feira, 14 de março de 2016

Opinião do dia - Ancelmo Gois

Eu sei que é mais fácil para Dilma achar que o protesto foi coisa de eleitores da oposição (que ontem, aliás, foi vaiada e impedida de levar bandeiras partidárias). Eu sei que para o PT é mais cômodo achar que foi coisa de rico contra pobre (nem nos EUA há tantos ricos como o número de pessoas que protestaram ontem). Não dá mais para tapar o sol com a peneira: o Brasil foi ontem para a rua.

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Ancelmo Gois é jornalista, ‘No mais...’ O Globo, 14.3.2016

Maior manifestação da história do País aumenta pressão por saída de Dilma

• Alta adesão derruba discurso governista e do PT de que País está dividido, reforça pedido de impeachment e pode influenciar o TSE

- O Estado de S. Paulo

Na maior manifestação da história do País, milhões de brasileiros foram às ruas neste domingo, 13, em pelo menos 239 cidades nas cinco regiões, pedir a saída da petista Dilma Rousseff, 68 anos, da Presidência da República. Os protestos também tiveram como alvo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fundador e principal líder do PT, investigado pela Operação Lava Jato e pelo Ministério Público de São Paulo.

Os manifestantes se dividiram entre o apoio ao impeachment de Dilma, em tramitação na Câmara dos Deputados, a cassação do mandato pela Justiça, sob análise do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e a pressão pela renúncia da petista do cargo que ela ocupa desde janeiro de 2011 e para o qual foi reeleita em 2014 com 51,64% dos votos no segundo turno.

A enorme adesão às manifestações, convocadas majoritariamente por grupos como o Vem Pra Rua e o Movimento Brasil Livre (MBL), praticamente enterrou o discurso governista e petista de que o País estava dividido. À noite, após o fim dos protestos, o Palácio do Planalto divulgou nota em nome da presidente Dilma Rousseff na qual afirma que “a liberdade de manifestação é própria das democracias e por todos deve ser respeitada”, diz trecho do texto assinado pela secretaria de Imprensa da Presidência.

A nota de Dilma comprova uma inflexão do governo em relação ao protesto de março de 2015, quando o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, criticou os atos e disse que eles eram de “eleitores que não votaram em Dilma Rousseff”.

De acordo com institutos de pesquisa, Polícia Militar e historiadores consultados pelo Estado, os atos públicos deste domingo superaram em adesão as manifestações das Diretas Já (movimento pelo fim da ditadura entre 1983 1984) e do movimento conhecido como Junho de 2013 (série de protestos desencadeada pelo aumento do preço das passagens do transporte público).

A maior concentração de manifestantes ocorreu em São Paulo, assim como já havia acontecido em março do ano passado, no primeiro grande protesto contra a gestão Dilma e o PT. Apesar do tom maciçamente contrário à petista e a Lula, o governador do Estado, Geraldo Alckmin, e os senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), todos do PSDB, foram impedidos de subir em um carro de som.

Os protestos tiveram forte apelo contra a corrupção, pela ética pública e pelo fim da impunidade. O juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na primeira instância da Justiça e que autorizou o depoimento sob condução coercitiva de Lula no dia 4, agradeceu o apoio recebido em diversos atos pelo País. Ele pediu que as autoridades e os partidos “ouçam a voz das ruas”.

Estimativas. Os protestos ocorridos neste domingo em todo o País levaram cerca de 3 milhões de pessoas às ruas nos 26 Estados e no Distrito Federal, de acordo com dados colhidos nas polícias militares estaduais.

Em São Paulo, onde foi registrada a maior manifestação do País, houve divergências de números de público. Segundo a PM, 1,4 milhão de pessoas foram à Avenida Paulista neste domingo. Já o Datafolha apontou público de 500 mil manifestantes. No protesto de março do passado, enquanto a PM estimou 1 milhão na Paulista, o Datafolha apontou 210 mil pessoas.

O público recorde de 3 milhões de pessoas também não considera o protesto realizado na cidade do Rio de Janeiro. A exemplo das manifestações ocorridas no ano passado, a PM fluminense não divulgou estimativas oficiais de público. De acordo com os organizadores do ato, cerca de 1 milhão de manifestantes participaram do protesto que se concentrou na orla de Copacabana.

Comparação. Outras capitais também registraram público maior que o dos protestos ocorridos no ano passado. O ato deste domingo em Curitiba levou 200 mil pessoas às ruas, segundo a PM; há um ano, o público foi de 80 mil pessoas, também de acordo com dados oficiais.

Em Florianópolis, 95 pessoas participaram da manifestação, ante 30 mil nos protestos de março do ano passado. Porto Alegre praticamente manteve o público de um ano atrás (100 mil) neste 13 de março (105 mil pessoas), conforme a Polícia Militar.

Também na Região Nordeste houve aumento expressivo do público registrado nos atos deste domingo em comparação aos de 15 de março de 2015. Fortaleza, a capital que teve o maior público há um ano (12 mil pessoas), neste ano reuniu 80 mil manifestantes. No Recife, neste ano, a PM não divulgou estimativas oficiais, mas os organizadores dos protestos falaram em 150 mil pessoas na capital pernambucana. Há um ano, 8 mil pessoas se mobilizaram, conforme a PM.

Em Salvador também foi registrado aumento de pública. Há um ano, 10 mil pessoas se mobilizaram contra o governo Dilma; neste domingo, o público foi de 20 mil. O alcance dos protestos também superou o de março do ano passado, quando pelo menos 212 cidades de todo o País registraram manifestações. Neste 13 de março, ao menos 239 cidades se mobilizaram – os organizadores haviam convocado atos em mais de 400 municípios em todo o Brasil.

Rio lota 8 quarteirões em Copacabana

• Avenida Atlântica recebeu mais gente do que nos protestos anteriores; PM não fez estimativa de público e organizadores falam em 1 milhão

Fábio Grellet, Vinicius Neder e Constança Rezende - O Estado de S. Paulo

O protesto contra o governo federal e o PT no Rio de Janeiro atraiu mais gente do que todos os atos realizados no ano passado. A Polícia Militar não divulgou estimativa de público, mas os organizadores calcularam em um milhão os participantes que lotaram oito quarteirões da avenida Atlântica, orla de Copacabana, zona sul. Sem registro de incidentes graves, a manifestação durou cerca de cinco horas, com o grupo seguindo do posto 5 até o tradicional Hotel Copacabana Palace.

Embora poucos políticos tenham participado, o deputado federal Otávio Leite (PSDB) e o jornalista Fernando Gabeira discursaram em carros de som. “A Dilma vai cair, tenho convicção. (...) O chefe da quadrilha vai ser preso”, disse Gabeira, que chegou a ser deputado pelo PT, referindo-se a Lula.

“A Câmara tem de priorizar o impeachment. Não dá para decidir sobre o Brasil. É preciso antes decidir sobre a mudança do governo do Brasil”, disse Leite aoEstado, após declarar seu apoio ao impeachment pelo microfone.

Também participaram do ato os atores Luana Piovani, Juliana Paes, Silvia Pfeiffer, Márcio Garcia, Suzana Vieira e Marcelo Serrado. Suzana e Marcelo vestiam camisetas com os dizeres "Morobloco", em referência ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato.

Cobranças pela saída da presidente Dilma Rousseff (PT) e pela prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de elogios ao juiz Moro foram as manifestações mais comuns. Estavam em cartazes, camisetas (a maioria, amarelas) e bonecos infláveis. Os de Lula e Dilma em trajes de presidiário, com cerca de 30 centímetros, eram vendidos a R$ 10 por ambulantes.

Havia cartazes e algumas camisetas com frases em inglês, como “We are all Sérgio Moro” (Nós somos todos Sérgio Moro) e “In Moro we trust” (Em Moro nós confiamos).

O ato transcorreu sem grandes incidentes. Houve vaias aos moradores de um apartamento na avenida Atlântica que estenderam na janela uma bandeira vermelha e um princípio de tumulto com um homem e duas mulheres, que, sob xingamentos, foram retirados do ato pela Polícia Militar. Políticos dos partidos da base aliada foram vaiados quando mencionados nos discursos, como governador Luiz Fernando Pezão e o prefeito Eduardo Paes, ambos do PMDB.

Brasil vai às ruas contra Dilma e Lula e a favor de Moro

• Protesto pacífico reuniu 3,6 milhões de pessoas em 326 cidades de todos os estados e no Distrito Federal

Insatisfação da população aumenta a pressão sobre o governo, no início de uma semana decisiva — o processo sobre o impeachment deverá ter seguimento na Câmara na quinta-feira. Aliados da presidente admitem que situação se agrava

Na maior manifestação de sua História, o Brasil viu ontem 3,6 milhões de pessoas tomarem as ruas de 326 cidades de todos os estados e do Distrito Federal, para exigir a saída de Dilma Rousseff do cargo. A presidente terá uma semana decisiva para seu mandato: na quinta-feira, o processo sobre o impeachment deverá ter seguimento na Câmara dos Deputados. O ex-presidente Lula também foi alvo dos protestos, inspirados nas investigações sobre o tríplex de Guarujá e o sítio de Atibaia, transformados em alegorias irreverentes em várias capitais. Manifestantes homenagearam em todos os atos o juiz Sérgio Moro, responsável na primeira instância pela Lava- Jato. Máscaras e camisetas lembravam o magistrado, que agradeceu se dizendo “tocado” pelo apoio à operação. Em nota, o Palácio do Planalto destacou o tom pacífico dos protestos. Líderes dos partidos aliados ao governo admitiram que o movimento histórico aumentará a pressão pelo impeachment de Dilma. Em quase todos os estados, o número de manifestantes superou o de março de 2015.

A voz que ecoa das ruas

• Na maior manifestação política do país, protestos contra o governo reúnem 3,6 milhões

- O Globo

- BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO- O Brasil viveu ontem a maior manifestação de sua História. No início de uma semana decisiva para o processo de impeachment, 3,6 milhões de pessoas foram às ruas, em ao menos 326 cidades de todos os estados do país, pedir a saída da presidente Dilma Rousseff. O ex-presidente Lula, alvo da Operação Lava- Jato, se tornou também personagem- chave. Alegorias inspiradas no tríplex no Guarujá, no sítio Santa Bárbara, em Atibaia, e no pedalinho usado pela família de Lula no lago do sítio, foram levadas às ruas pelos manifestantes.
Os próximos dias serão decisivos. Na quartafeira, o Supremo Tribunal Federal deverá julgar os recursos ao rito do impeachment e, na quintafeira, o processo voltará a andar na Câmara dos Deputados. Enquanto isso, os olhares estão voltados para a juíza Maria Priscilla Veiga Oliveira, da 4 ª Vara Criminal de São Paulo, que tem em mãos um pedido de prisão contra o ex-presidente, acusado pelo Ministério Público de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.

Em quase todos os estados, o número de manifestantes superou o de março de 2015, inclusive no Nordeste, que sempre concedeu vitórias expressivas a Lula e a Dilma, nas eleições. De verde e amarelo, os manifestantes usaram criatividade e bom humor para tratar dos temas que têm tomado conta do noticiário político recente. Pixulecos em referência a Lula, vendidos a R$ 10, esgotaram nas mãos dos ambulantes. Os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB- RJ), e do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), investigados pela Lava- Jato, não foram esquecidos.

O juiz Sérgio Moro foi homenageado de norte a sul do país, com direito a máscaras e camisetas, num aval explícito à Operação Lava- Jato. À tarde, Moro soltou nota dizendo ter ficado “tocado” pelo apoio às investigações: “Apesar das referências ao meu nome, tributo a bondade do Povo brasileiro ao êxito até o momento de um trabalho institucional robusto que envolve a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e todas as instâncias do Poder Judiciário”.

Líderes dos principais partidos da base aliada da presidente já admitiam, horas depois do protesto, que as manifestações terão forte impacto sobre o processo de afastamento. Embora Dilma e Lula fossem os alvos centrais das críticas, a insatisfação geral com a classe política ficou clara pelas vaias dirigidas aos principais líderes de oposição presentes em São Paulo e no Rio.

O senador Aécio Neves e o governador Geraldo Alckmin, que travam uma disputa interna no PSDB pela candidatura presidencial do principal partido oposicionista em 2018, foram juntos à Avenida Paulista e acabaram sendo hostilizados por manifestantes que acompanhavam a chegada. O mesmo ocorreu com políticos que tentaram falar em microfones no Rio de Janeiro.

A presidente Dilma passou o dia no Palácio da Alvorada e lá se reuniu, no fim da tarde, com assessores e ministros do PT. No começo da noite, optou por divulgar uma nota protocolar assinada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência. Em dois parágrafos, a presidente exaltou a liberdade de manifestação, “própria das democracias”, e enfatizou que os protestos pacíficos demonstram “maturidade de um país que sabe conviver com opiniões divergentes”.

Em um gesto claro em direção à sua base social, Dilma havia divulgado mais cedo uma dura nota oficial condenando a pichação da sede da União Nacional dos Estudantes ( UNE), em São Paulo, no sábado, e a ação de policiais armados na sextafeira durante uma plenária em apoio a Lula.

Em São Paulo, 1,4 milhão de manifestantes

• No maior protesto da História, na Paulista, dez carros de som e trios elétricos foram usados por 40 movimento

- O Globo

- SÃO PAULO- Na maior manifestação da História, São Paulo reuniu ontem cerca de 1,4 milhão de pessoas na Avenida Paulista — além de outras 400 mil em diferentes cidades do interior do estado — para protestar contra o governo de Dilma Rousseff e o PT e dar apoio à Operação Lava- Jato. Os números foram divulgados à noite pela Polícia Militar, que classificou o protesto como pacífico.

Mais de dez carros de som e trios elétricos foram levados para a manifestação. Líderes de cerca de 40 movimentos usaram os veículos para os discursos. Ao citarem nomes de políticos, o público reagiu com vaias, independentemente do partido. Ainda assim, políticos se revezaram no microfone.

O Movimento Liberal Acorda Brasil distribuiu 50 mil máscaras de Dilma e Lula na forma de zumbis, em referência a uma paródia feita com a música “Thriller”, de Michael Jackson. Manifestantes também cantaram o Hino Nacional. Muitos gritavam palavras de ordem contra o governo e pediam a saída imediata de Dilma da Presidência.

Lotação máxima no Metrô
Durante toda a tarde o movimento foi grande nas vias de acesso à Avenida Paulista. As estações de metrô ficaram abarrotadas de usuários, com longas filas nas portas, principalmente nas estações Paulista e Consolação. Por algum tempo o Metrô evitou a entrada de passageiros nas estações, e permitiu apenas a saída deles para a avenida. Havia temor de um possível confronto dentro das estações. Não houve, porém, registro de confusão durante a manifestação, segundo a Polícia Militar.

O acesso à Avenida Paulista foi controlado pela PM e, em alguns pontos, foi atingida a lotação máxima considerada segura. Os manifestantes foram orientados a procurar locais de menor concentração para entrar na avenida. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública esclareceu que não barrou o acesso de manifestantes.

O comércio na Avenida Paulista, palco do protesto contra o governo, decidiu se antecipar a eventuais confrontos e adotou medidas de segurança. Um dos shoppings da região cercou todo o prédio com grades, enquanto uma das lojas de departamento abriu apenas uma das portas, e apenas pela metade. Mesmo assim, centenas de pessoas desciam ao mesmo tempo de algumas das estações de metrô na avenida.

Representantes dos movimentos aproveitaram para se capitalizar durante o protesto, com venda de camisetas e “pixulecos”, pequenos bonecos infláveis do ex- presidente Lula vestido de presidiário. Algumas pessoas tinham em mãos bonecos infláveis com o desenho do juiz Sérgio Moro.

O Grupo Ação Popular, ligado ao PSDB, estacionou um carro de som no fim da Avenida Paulista, e levantou os manifestantes ao tocar a marchinha do japonês da Federal, o conhecido agente Newton Ishii, que sempre aparece nas prisões nas operações da Lava- Jato.

— Vamos agora fazer uma homenagem a uma pessoa muito importante na história do Brasil — gritou o locutor ao anunciar que tocaria a marchinha.

Símbolo da Fiesp
A imagem da Avenida Paulista tomada pela multidão também chamava a atenção por conta da presença de um boneco gigante em forma de pato, usado como símbolo de uma campanha feita pela Federação das Indústrias do estado de São Paulo (Fiesp) contra a elevação dos impostos no país.

Para o presidente da Fiesp, Paulo Skaf (PMDB), a saída da presidente Dilma deve ser encarada como uma medida rápida para estimular a retomada do crescimento econômico:

— Nós queremos recuperar a confiança do investidor. Sem confiança não há investimento, não há crescimento econômico — disse ele, durante entrevista na porta da sede da federação, na própria Avenida Paulista.

Ato anti-Dilma é o maior da história

• Ato em SP atrai 500 mil, supera Diretas-Já e impulsiona impeachment

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O protesto na avenida Paulista pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff foi omaior ato político já registrado pelo Datafolha, superando inclusive o famoso comício pelas Diretas-Já no vale do Anhangabaú, em 16 de abril de 1984.

Segundo medição do instituto, participaram cerca de 500 mil pessoas na avenida e suas adjacências, mais do que o dobro do maior ato anterior contra Dilma, de março do ano passado, que reuniu 210 mil manifestantes. No meio da tarde, a Polícia Militar viu-se obrigada a limitar o acesso à região.

A PM estimou em 1,4 milhão os participantes, mesmo número divulgado pelo Movimento Brasil Livre, um dos organizadores do ato. Nas demais capitais, houve 1,1 milhão de manifestantes somados, segundo estimativas das polícias locais. Ao todo, concentrações foram registradas em pelo menos 121 cidades.

Houve também alguns atos isolados em defesa do PT e do governo. Excetuando-se confrontos pontuais, os protestos foram de forma geral pacíficos.

O juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, foi saudado como herói em praticamente todos os locais. Em nota, agradeceu dizendo ter ficado "tocado" pelas homenagens.

Houve também críticas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alvo de ação da Polícia Federal no último dia 4. Referências aos pedalinhos do sítio que ele frequenta em Atibaia (SP) e a jararacas, animal com o qual se comparou no dia em que sofreu condução coercitiva, foram constantes.

Em São Paulo, as principais lideranças da oposição, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador Geraldo Alckmin foram à Paulista pela primeira vez, mas acabaram sendo recebidos com hostilidade por alguns dos presentes.

O governo avaliou que os protestos mudam a crise de patamar e dão impulso à tramitação do pedido de impeachment no Congresso. Nesta semana, o Supremo deve dar a palavra final sobre a forma como deve ser composta a comissão especial na Câmara dos Deputados que dará prosseguimento ao processo.

Manifestações pelo Brasil são destaque na imprensa internacional

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - As manifestações contra a presidente Dilma Rousseff, realizadas em várias cidades brasileiras neste domingo (13), são destaque também na mídia internacional.

O jornal norte-americano "The Wall Street Journal" colocou o assunto na home de sua página na internet, chamando a atenção para as "centenas de milhares de manifestantes".

"A ira" deles, segundo a publicação, está direcionada contra Dilma e seu partido, o PT, "cercados por uma crise de confiança".

Outro jornal dos EUA, o "The New York Times" lembrou que esta é a 5agrande mobilização no último ano, no que classificou como clima de "irritação frequente".

O jornal francês "Le Monde" informa, em seu site, que as manifestações "em todo o Brasil" contra Dilma alcançaram "magnitude histórica".

A publicação diz que dezenas de milhares de pessoas protestaram em cerca de 400 cidades, no que chamou de "uma mobilização de grande dimensão contra a presidente, atolada em uma séria crise política".

O espanhol "El País", que faz uma cobertura ao vivo dos protestos em seu serviço brasileiro, também deu destaque ao evento em seu site global. "Oposição se manifesta contra Rousseff e leva pressão às ruas", diz a manchete.

No texto, o jornal faz a análise de que a crise política tem durado "meses" e destaca que este domingo será uma das provas mais importantes para a oposição à presidente –com as multidões que saíram a protestar, "as ruas puseram o governo nas cordas", avaliou a publicação.

O argentino "Clarín" afirma que as manifestações acontecem "em meio a um clima de forte descontentamento social" pela recessão e pelos casos de corrupção. "Os manifestantes tingiam as ruas com o verde e amarelo da camiseta da seleção brasileira de futebol", diz o jornal, que lembra que esta rodada de protestos é a primeira a ser apoiada abertamente pelos partidos de oposição.

O texto diz ainda que cenas como a da multidão na praia de Copacabana, no Rio, "viraram usuais" desde a eclosão da crise econômica e política.

As informações da agência Reuters, que classificou o clima da manifestação em São Paulo como "festivo", destacam que o tamanho dos protestos pode ser crucial no convencimento do Congresso para apoiar ou não o processo de impeachment de Dilma.

Outra agência, a AFP disse que "protestos em massa "sacudiram o Brasil". A Al Jazeera informa que "milhares de manifestantes tomaram as ruas para pedir a saída da presidente".
Manifestação contra o go

Ruas elevam pressão contra Dilma

Por Victória Mantoan, Estevão Taiar, Raymundo Costa e Andrea Jubé - Valor Econômico

SÃO PAULO E BRASÍLIA - Cerca de 3,4 milhões de pessoas em todo o país foram às ruas ontem em 262 cidades para protestar contra o governo e também para apoiar as investigações da Operação Lava-Jato. Em São Paulo, na Avenida Paulista, no auge do evento, às 16 horas, concentraram-se 500 mil pessoas segundo o Datafolha e 1,4 milhão segundo a Polícia Militar. Nas manifestações de 15 de março do ano passado, o Datafolha registrou 210 mil e a Polícia, 1 milhão.

Em geral, as manifestações nas várias cidades tiveram números de participantes maiores que os de março do ano passado. E, pela primeira vez, líderes políticos da oposição participaram de ato público pelo impeachment em São Paulo. O governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB) e o presidente do seu partido, senador Aécio Neves (MG), foram cumprimentados por alguns e hostilizados por outros manifestantes na Avenida Paulista. Alguns gritaram "Fora, Alckmin" para o governador e "ladrão, o próximo é você" para o senador. A senadora Marta Suplicy (PMDB-SP) também foi hostilizada e teve que se retirar da avenida.

A grande adesão ao protesto deve dar gás para o andamento do processo de impeachment da presidente Dilma. Antes da avalanche de ontem, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, já havia decidido deflagrar o impeachment nesta semana. Agora, ele se sente bem mais à vontade para imprimir o ritmo que leve a uma decisão em 45 dias.

A presidente Dilma Rousseff tentará criar um fato político de peso nesta semana, numa tentativa de esboçar reação aos atos de ontem. A nomeação do ex-presidente Lula para o ministério, na visão do Planalto, poderia retardar esse processo, mas há dúvidas se isso terá efeito de longo prazo e se será suficiente para impedir o impeachment. Além disso, auxiliares do Planalto defendem o diálogo com a oposição, inclusive com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Apesar do provável desembarque de aliados do governo, Dilma aposta no apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que tenta segurar seu partido na base aliada com a implantação de um "semipresidencialismo".

Dilma busca alternativas para ficar no poder

Por Andrea Jubé - Valor Econômico

BRASÍLIA - Diante das manifestações mais expressivas contra seu governo desde a reeleição, que levaram mais de três milhões de pessoas às ruas ontem, a presidente Dilma Rousseff tentará criar um fato político de peso nesta semana, numa tentativa de esboçar reação. A nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para um ministério, ainda é mais um desejo que uma realidade, e a resposta sai nos próximos dias. Auxiliares de Dilma defendem o diálogo com a oposição, inclusive com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. E advertem que Dilma precisa se "reinventar", se não quiser sair antes do fim do mandato, e pela porta dos fundos do Planalto.

A avaliação é que a magnitude dos protestos apressa o desembarque dos aliados do governo, liderados pelo PMDB. O processo de impeachment deve ser retomado no fim da semana, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) concluir o julgamento do rito processual, o que ocorre na quarta-feira.

Dilma aposta, ainda, no apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que tenta segurar o seu partido na base aliada e defende a implantação de um "semipresidencialismo" como alternativa ao impeachment. Renan disse ao Valorque nos próximos dias vai procurar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para discutir essa saída para a crise. O ex-presidente chancelou essa alternativa em artigo publicado recentemente. "O PMDB tem responsabilidade institucional e compromisso com a democracia, seria um tiro no pé agravar a crise com movimentos bruscos e irresponsáveis", disse Renan sobre o PMDB romper com o governo.

Ministros devem se pronunciar hoje, depois da reunião da coordenação política, sobre a dimensão e a veemência dos protestos. Em nota divulgada ontem, Dilma ressaltou a "liberdade de manifestação", o "caráter pacífico" dos protestos e a capacidade do país de conviver com "opiniões divergentes".

Ontem, auxiliares de Dilma dividiam a preocupação diante do número expressivo de manifestantes com o alívio pela ausência de episódios de violência e de confronto. Dilma convocou ontem à noite uma ampla reunião ministerial para avaliar os protestos. Foram chamados os ministros Jaques Wagner (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), José Eduardo Cardozo (Advocacia Geral da União), Wellington César (Justiça), Aloizio Mercadante (Educação), Aldo Rebelo (Defesa), além do assessor especial Giles Azevedo. O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, também participou, porque as críticas das ruas recaem também sobre a recessão econômica.

O fato político mais desejado no Planalto seria a posse de Lula no ministério, mas isso não está assegurado, nem são garantidos seus reflexos para aliviar a crise. Cogita-se, também, a convocação do Conselho da República, previsto na Constituição Federal, que a presidente pode acionar para se manifestar nas questões "relevantes para a estabilidade das instituições democráticas".

A previsão é que o ex-presidente Lula aterrisse em Brasília amanhã para nova reunião com Dilma. Além do foro privilegiado - que permitirá que o Supremo Tribunal Federal assuma a investigação contra ele na Lava-Jato -, a expectativa dos ministros petistas é de que Lula ajude a salvar o governo. Lula só deve responder depois que a juíza Maria Priscilla Ernandes despachar o pedido de prisão preventiva contra ele. Mas continua refratário à ideia. Seus aliados questionam se depois que milhões de brasileiros protestaram contra ele e contra Dilma, não seria tarde demais para essa solução.

Para a cúpula do PMDB, nem Lula como ministro resgata o governo da crise. "Nada muda se não mudar a economia", diz o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), que também é um dos principais aliados do Planalto. "É preciso mudar as forças políticas", explica o primeiro vice-presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR).

Foco foi o PT, mas protestos vão além, diz Giannotti

Por Daniela Chiaretti – Valor Econômico

BELÉM - O filósofo José Arthur Giannotti, 86 anos, intelectual próximo ao PSDB e, sobretudo, ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, estava perplexo com a mensagem das manifestações pelo país. "Está acontecendo algo extraordinário. As manifestações são muito maiores do que se esperava. E mais além do 'Fora Dilma', 'Fora PT' e contra Lula, nota-se o apoio massivo ao juiz Sérgio Moro e à Operação Lava-Jato. Pedem a moralização da política brasileira."

"O foco é o PT, mas as manifestações pedem o fim da política corrompida", diz Giannotti. "É um pedido para que haja higienização da política brasileira e, neste sentido, é algo geral." Em seguida, questiona: "Será interessante ver como vai sair Marina Silva depois deste processo."

O professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) enxerga a presidente Dilma Rousseff em um abraço de afogado com o ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva (PT). "O governo, como está, não pode ficar. Dilma tem que se reinventar", diz. "Se Lula entrar, acredito que afundam os dois", arrisca.

"Não vejo perspectiva no que está acontecendo, ainda mais se o Lula virar ministro", segue. "Ele não conseguirá, na minha opinião, que Meirelles (Henrique Meirelles, que presidiu o Banco Central durante oito anos no governo Lula) seja o condutor da política econômica."

Há um ano, em entrevista ao Valor, Giannotti também não arriscava saídas à crise, embora dissesse acreditar nas instituições e que o impeachment favorecia o PT. "Hoje, pelo contrário, mudou completamente a situação. O PT sai derrotado de um impeachment. Ele se vinculou de tal forma à corrupção e à política neodesenvolvimentista que ninguém acredita nele. O PT precisa se reinventar, mesmo que Dilma continue no poder."

"Estive muito próximo no momento da criação do PT. Mas o partido passou por um processo de deterioração muito grande. Primeiro teve perda de substância dos sindicatos. Depois, se chafurdaram no poder e na corrupção. Parte da Igreja saiu do PT, e parte dos intelectuais tornou-se semi-petista. A universidade continua ligada a certas posições petistas, sem estar ligada à política efetiva do PT", analisa.

Ele também enxerga um PSDB "dividido, muito dividido" e não poupa as contradições dos tucanos. "O PSDB está estourado. O Alckmin [Geraldo Alckmin, governador de São Paulo] estourou o PSDB paulista. Não sabemos exatamente qual a posição dele, só que está jogando para ser candidato." Segue comentando os movimentos de outras duas lideranças, Aécio Neves e José Serra. "A parte ligada ao Aécio quer impeachment com nova eleição. A outra está ligada à tentativa de se juntar com o Temer [o vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer] e fazer uma política de união."

"Vácuo de poder não existe e não vai haver. Ou a madame se reinventa e reconstrói alguma forma de poder, ou cai em seis meses", arrisca o filósofo. "Alguma solução vai ter que ter, para seguirmos até as próximas eleições. Com ela (a presidente Dilma) ou sem ela", diz Giannotti. "A tendência é sem ela."

Ele não vislumbra um governo de coalizão. "Coalizão, como?". Ao lançar farpas ao PT, diz que "este grupo se esqueceu que para distribuir riqueza tem que crescer, e como quiseram controlar ao máximo a função do crescimento, quando veio a crise, entramos na recessão."

Em sua visão, o PT e o governo "não querem mexer na Previdência, na indexação do salário, e assim por diante. Então, vamos para o buraco enquanto este pessoal não sair do governo." E depois? "Infelizmente vamos ter um governo de direita", diz ele.

Manifesto apoia promotores que pediram a prisão de Lula

Mario Cesar Carvalho – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Um manifesto de apoio aos três promotores de São Paulo que pediram a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o denunciaram por lavagem de dinheiro já tem a adesão de 1.092 promotores e procuradores de 22 Estados, segundo contagem feita neste domingo à noite (13).

"A atuação firme e independente demonstrada neste caso é fruto de meses de trabalho sério, dedicação e esforço em prol da sociedade brasileira. No exercício de suas funções constitucionais, muitas vezes o Ministério Público enfrenta forças políticas e econômicas de diferentes grandezas", afirma o texto.

Segundo o documento, os atributos que levaram o Ministério Público a ser reconhecido como instituição essencial à democracia ("qualidade técnica, combatividade e independência") são os "mesmos que nortearam o trabalho dos promotores de Justiça no caso Bancoop".

Bancoop é a cooperativa do Sindicato dos Bancários de São Paulo que começou a construir um condomínio em Guarujá em 2004 e, depois de quebrar em 2009, repassou o empreendimento para a OAS.

A acusação
Os promotores Cassio Conserino, José Carlos Blat e Fernando Henrique Araújo afirmam em denúncia apresentada na quarta (9) à Justiça que Lula foi beneficiado com a cobertura tríplex do prédio. Ela teria sido reformada pela OAS de acordo com o gosto da família do ex-presidente, segundo os três promotores.

No pedido de prisão, argumentam que Lula poderia destruir provas e convocar apoiadores para constranger os promotores que o investigam. Lula é acusado de lavagem porque a OAS teria dado o imóvel de presente a ele, mas o apartamento permaneceu em nome da empreiteira.

O Instituto Lula diz que o ex-presidente nunca atacou seus investigadores e que a família desistiu do apartamento no final de 2015, após concluir que não conseguiria desfrutar da praia de Astúrias, no litoral paulista.

Ainda segundo o instituto, Lula jamais foi dono do tríplex, mas de uma unidade simples, comprada por meio de cotas por Marisa Letícia, mulher do ex-presidente.

A desistência da compra ocorreu depois que investigadores da Operação Lava Jato e do Ministério Público de São Paulo apuravam se Lula havia sido beneficiado pela OAS.

Críticas
O manifesto de apoio aos três promotores é uma resposta a uma crítica que começou a circular na sexta (11) e que já tem cerca de cem assinaturas, também de promotores e procuradores.

Nesse manifesto contrário, há uma crítica ao pedido de prisão sem citar o nome de Lula: "A banalização da prisão preventiva aplicada, no mais das vezes, sem qualquer natureza cautelar e de outras medidas de restrição da liberdade vai de encontro a princípios caros ao Estado democrático de direito".

O pedido de prisão de Lula também foi criticado por especialistas em direito, ministros e ex-ministros do Supremo e até por deputados tucanos que defendem o impeachment.

Os dois manifestos expõem a divisão a política no Ministério Público paulista. Um dos promotores que assina o texto a favor, Felipe Locke Cavalcanti, foi o mais votado na penúltima eleição para o Ministério Público, em 2012.

Ele recebeu 894 votos, mas o governador Geraldo Alckmin (PSDB) escolheu Márcio Elias Rosa, que obteve 838 votos na disputa (na última eleição, em 2014, ele foi o mais votado).

Neste sábado (12) Rosa divulgou documento em que refuta que o pedido de prisão tenha caráter político e conclama o Ministério Público à unidade. Ele disse Folha que as acusações contra Lula são técnicas e não estão atreladas aos protestos contra a presidente Dilma Rousseff.

Aliados de Dilma avaliam que atos fortalecem impeachment

• Presidente divulga nota e elogia ‘ caráter pacífico’ da manifestação

- O Globo

- BRASÍLIA- Lideranças de partidos que dão sustentação ao governo da presidente Dilma Rousseff, como PMDB, PSD e PR, acreditam que as manifestações de ontem terão forte impacto sobre o processo de afastamento da presidente no Congresso. Se o apoio à manutenção do mandato dela ainda é quase total entre os partidos de esquerda, as bancadas do chamado “Centrão”, que dão sustentação a todos os governos, estão divididas a respeito do impeachment.

O líder do PSD, Rogério Rosso ( DF), acredita que o impeachment ganhou força com os protestos, tendo em vista que ainda esta semana o Supremo Tribunal Federal ( STF) deve dar a palavra final sobre o rito do processo, e a Câmara pode criar a comissão especial que o analisará:

— A semana será decisiva, pois o Supremo libera o rito, e a Câmara deve dar continuidade. Os partidos levarão as manifestações em consideração, e o impeachment ganha força.

O deputado diz que, antes das manifestações, cerca de 60% da bancada do PSD eram favoráveis ao impeachment. Mas o partido voltará a se reunir para um balanço após as manifestações. Líder do PR na Câmara, Maurício Quintella Lessa (AL), disse que os deputados de seu partido estão muito divididos quanto ao impeachment. No PMDB, a divisão da bancada é flagrante e, segundo a cúpula partidária, os deputados são independentes para votar o afastamento da presidente. Ao lado de Dilma, está o PT, PCdoB e PDT.

O governo só reagiu às manifestações que levaram milhares de pessoas às ruas, no começo da noite de ontem e por meio de uma nota protocolar. Em dois parágrafos, a presidente Dilma Rousseff exaltou a liberdade de manifestação, “própria das democracias”, e destacou o tom pacífico dos atos.

“O caráter pacífico das manifestações ocorridas neste domingo demonstra a maturidade de um país que sabe conviver com opiniões divergentes e sabe garantir o respeito às suas leis e às instituições”, afirma a nota assinada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência.

No começo da tarde, a presidente surpreendeu, divulgando uma nota repudiando pichações na sede da União Nacional dos Estudantes ( UNE), que amanheceu no domingo com frases “Lula na cadeia” e “vendidos”. No texto, a presidente condenou a ação chamando os pichadores de “vândalos”.

O vice-presidente Michel Temer passou o domingo em casa, em São Paulo, também acompanhando pela TV os protestos. A pessoas próximas, disse que ficou “impressionado” com o tamanho dos protestos em todo o país, mas decidiu não fazer comentários públicos sobre o tema.

Vozes de março – Aécio Neves

- Folha de S. Paulo

Os brasileiros fizeram bonito neste domingo. De forma pacífica, em centenas de municípios, milhões de pessoas de todas as idades ocuparam as ruas do Brasil para protestar contra o governo e pedir uma solução para a crise em que fomos — e estamos — mergulhados. O grito que ecoou das multidões foi incontestável: basta, não suportamos mais.

Homens e mulheres, famílias inteiras, jovens, idosos e crianças, gente de todas as raças e credos, de cabeça erguida, se irmanaram no sentimento de revolta e indignação contra um governo que esgotou sua capacidade de iludir e mentir. Não dá mais para enganar ninguém: além do fracasso na gestão, há um fracasso ético e moral que arruinou o projeto de poder em curso. É contra este estado de coisas que o Brasil foi às ruas.

Foi uma manifestação de consciência cívica como poucas já vistas no país. É impossível ficar insensível ao grito uníssono contra a corrupção e a gestão calamitosa, contra a mentira e a favor do trabalho independente das instituições brasileiras. Em defesa da democracia e das conquistas que tanto nos custaram em sacrifício e luta.

No momento em que o discurso do radicalismo e da intolerância ameaça conturbar o ambiente social, como óbvia reação aos resultados das investigações da Lava Jato e outras operações policiais em curso, os manifestantes de domingo deram um exemplo de serenidade, maturidade e responsabilidade. Indignação sim, violência nunca.

Precisamos aprender com a mobilização gigante e seguir adiante em busca de saídas para a crise. As vozes de março nos colocam diante de um imperativo histórico: a nação precisa construir uma solução para o impasse em que se encontra. Reencontrar o caminho da confiança e da esperança.

Mais que nunca, o Congresso Nacional tem o dever de dar ressonância a este clamor. A classe política precisa cumprir com responsabilidade seu papel. Neste mar de insatisfações, precisamos ir além de denunciar, criticar e cobrar. Precisamos transformar.

Vivemos um momento único, fértil e de grande convergência em torno de um sentimento de país, que, em plano ampliado, já significa um precioso recomeço. O país que floresce das ruas não pode se perder. Ele precisa nos conduzir adiante.

Não basta encerrar o regime dos escândalos em série e da corrupção institucionalizada. Estão à espera do Brasil desafios de grande envergadura, que demandarão reformas profundas no plano político, econômico, ético, social e do modelo de gestão pública.

É hora de estarmos à altura desse sentimento nacional que clama por mudanças. Com ele – e só com ele – será possível reduzir drasticamente o abismo existente entre a realidade e o sonho dos brasileiros e o país que queremos e merecemos.
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Aécio Neves é senador e presidente nacional do PSDB

Revalorizar a democracia - Sergio Fausto*

- O Estado de S. Paulo

Há momentos na vida de um país em que pequenos ajustes não são suficientes para evitar o pior. Hoje, no Brasil, o risco é que o descrédito do sistema político se transforme em descrença na democracia liberal e provoque a abertura da caixa de Pandora onde estão vivas as ideologias e “soluções” antidemocráticas e iliberais, aliás, novamente em ascensão no mundo.

Para evitar esse desvio desastroso na difícil, mas, apesar de tudo, bem-sucedida história recente de afirmação dos valores liberais democráticos no Brasil é preciso apostar na revalorização da democracia.

No plano institucional, isso implica um conjunto congruente de reformas que 1) reduza drasticamente o peso do dinheiro nas campanhas eleitorais, 2) restabeleça a conexão do eleitor com os eleitos ao Poder Legislativo, 3) redefina os papéis do Congresso e da Presidência da República, 4) reequilibre a Federação. São reformas que se reforçam mutuamente.

Reduzir os custos de campanhas é importante para democratizar o acesso à carreira política, facilitando o ingresso de lideranças da sociedade civil, e para reduzir a dependência dos eventuais eleitos em relação a grupos de interesse com capacidade diferenciada de mobilização de recursos financeiros. Se queremos renovação com qualidade no Congresso, é preciso reduzir estruturalmente os custos de campanhas para o Legislativo.

Isso só virá com uma mudança no sistema eleitoral. O que hoje vigora faz da disputa por votos à Câmara dos Deputados um leilão em que candidatos, numa luta de todos contra todos, tratam de buscar dinheiro de quem tem (empresas) para comprar o apoio de quem lhes pode assegurar votos (candidatos a deputado estadual, prefeitos, lideranças locais, etc.). O eleitor comum desconhece a teia de compromissos que se forma nesse processo. 

Fora dos bastidores da política, enfrenta dificuldades para obter até mesmo as informações mais superficiais sobre cada um dos vários candidatos espalhados pelo hiperfragmentado universo de partidos existentes. Em suma, o atual sistema eleitoral mercantiliza a política e confunde o eleitor (pior, não raro o engana, com as coligações partidárias). Alguma surpresa que o desencanto com a representação parlamentar só cresça e a qualidade dos parlamentares, no geral, só diminua?

Está na hora de voltar a insistir na adoção do sistema distrital misto. As transformações da sociedade brasileira não só justificam, como requerem o voto distrital: o coronel rural ou urbano está virtualmente extinto, o universo fechado das paróquias eleitorais são coisa do passado; hoje o eleitor não só pode, como demanda controlar “de perto” o seu representante. E por que o misto, não o distrital puro? Para permitir que na Câmara haja também deputados que representem visões nacionais abrangentes, além de representantes dos distritos. O sistema distrital misto oferece ao eleitor o direito de escolher o seu candidato e ainda a lista partidária de sua preferência. Além de baratear as campanhas, aproximar o eleitor do eleito e fortalecer os partidos, mantém as vantagens do sistema proporcional e, salvo melhor juízo, não requer emenda à Constituição para ser adotado.

O presidencialismo é o nosso sistema de governo. Mas não estamos condenados a mantê-lo na forma atual. Desde logo se impõe limitar o poder presidencial na livre nomeação para cargos na administração pública. Não é o bastante. A presente crise demonstra, uma vez mais, a propensão que o presidencialismo brasileiro tem a oscilar entre momentos “imperiais” e períodos tendentes ao impasse político. 

A separação entre as funções de chefe de Estado e de chefe de governo, respectivamente nas figuras do presidente e do primeiro-ministro, atenuaria os perigos de ambas as situações extremas: de um lado, a divisão de funções impediria a acumulação de poder simbólico e efetivo numa só pessoa; de outro, permitiria solucionar mais facilmente situações de impasse político, como a atual. Diante da desarticulação da maioria no Congresso, o primeiro-ministro poderia ser substituído sem trauma e, em último caso, o presidente convocaria eleições para formação de uma nova maioria. Na hipótese de serem eleitos por coalizões diferentes de partidos, presidente e primeiro-ministro teriam de escolher entre a coabitação e o confronto. 

Este último risco é real, mas me parece menor do que a certeza da ciclotimia inerente ao presidencialismo existente no Brasil. O semipresidencialismo, com o voto distrital misto, e uma administração pública menos vulnerável às nomeações políticas podem ser o melhor caminho disponível para superar as relações oportunistas que imperam entre o Congresso e o Executivo na formação e no exercício do governo.

A redução do poder presidencial deve vir acompanhada do reequilíbrio nas relações federativas. Ao transferir recursos para Estados e municípios sem a correspondente transferência de obrigações, a Constituição de 1988 levou o governo federal, a partir de meados dos anos 90, a aumentar tributos não compartilhados com os demais entes da Federação. A reconcentração de receitas respondeu às necessidades de fazer o ajuste fiscal e assegurar a inflação baixa, mas também propiciou a transferência crescente de recursos federais diretamente aos municípios, em detrimento dos Estados. 

Além da excessiva dispersão de recursos, sem a necessária coordenação de ações, esse processo reforça o poder de cooptação das forças dominantes no nível federal, bem como a vassalagem do Congresso ao Executivo.

Não se trata de recriar os barões da Federação e deixar a União à míngua, mas de buscar uma solução que compatibilize eficiência do gasto público, disciplina fiscal e, não menos importante, limites à excessiva concentração de poder no governo federal.

Há muito que discutir, mas uma coisa é certa: a manutenção do status quo nos levará da fase aguda ao estado crônico da crise, com riscos permanentes de recaída.
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* Sergio Fausto é superintendente executivo do IFHC, colaborador do Latin American Program do Baker Institute of Public Policy da Rice University, membro do Gacint-USP.

O Brasil renuncia a Dilma - Ricardo Noblat

- O Globo

“O governo é corrupto e incompetente, com uma presidente que não dá conta do recado.” Marta Suplicy, senadora do PMDB.

Uma vez lavado de certas impurezas de origem pelas manifestações que marcaram o domingo, o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff espera a última palavra do Supremo Tribunal Federal (STF) para finalmente dar a partida na Câmara dos Deputados. Nesta quarta- feira, o STF poderá manter ou revisar as regras que orientarão o rito do impeachment. Mas isso já não importa tanto.

É BEM VERDADE que a presidente resiste a entregar os pontos. Na última sexta- feira, a poucas horas de o país tomar conhecimento de mais um capítulo da delação premiada do senador Delcídio Amaral ( PT- MS), ex- líder do governo, Dilma improvisou uma entrevista coletiva para dizer que não tem cara de quem renunciará ao cargo — e, muito menos, de quem está resignada com o fim aparentemente próximo. Foi um desastre.

SEM A AJUDA de marqueteiros (o seu está preso, suspeito de ter sido pago no exterior por serviços prestados ao PT e à campanha à reeleição), Dilma mal conseguiu disfarçar o nervosismo. Estava mais magra do que deveria e mais envelhecida do que há poucas semanas. Disse sandices como de hábito. Enrolou- se com as palavras e cometeu o ato falho de afirmar que “não se renunciaria”. “Eu não me renuncio”, garantiu. Assessores contiveram o riso

SE NÃO RENUNCIA a si mesma e ao cargo, há muito tempo que renunciou a governar. O primeiro ano do seu segundo mandato foi de ausência de governo, de inércia da administração pública carente de dinheiro, ideias e iniciativas. Enquanto isso, o país andou para trás empurrado pela crise econômica mais nefasta desde os anos 1930 do século passado. Só não atingiu ainda o fundo do poço porque ao poço, talvez, falte fundo.

A DILMA, ALÉM de tudo que sempre lhe faltou como talento e brilho, agora falta apoio para fingir que governa. Finge governar quando reúne ministros para debater assuntos urgentes, viaja para entregar as unidades do programa Minha Casa Minha Vida, se lembra de sobrevoar regiões em estado de calamidade, e transmite recados pelas redes sociais na impossibilidade de fazê-lo pelo rádio e pela televisão. Teme os incômodos panelaços.

MAS O PAÍS suportará que ela siga fingindo governar assim por mais quase três anos? Ou pior: que se meta de fato a governar sujeita a repetir os trágicos erros do primeiro mandato? Por que seria diferente? Sob a pressão do PT, que cobra um temerário cavalo de pau na condução da economia; do PMDB, que começa a desembarcar do governo sem devolver os cargos que ocupa; e das ruas impacientes, Dilma leva algum jeito de poder se recuperar?

MESMO SE LEVASSE jeito, o que não é o caso, sua imagem pessoal de honradez começa a ser posta em xeque. A figura da faxineira ética durou menos de um ano. Está para ser escrita a história da falsa faxineira que se rendeu às necessidades do PT de roubar e de deixar que roubassem na tentativa de se eternizar no poder. Rendeuse não: compartilhou as necessidades. E beneficiou-se dos resultados.

É RECOMENDÁVEL que as almas sensíveis e os de estômago frágil se retirem da sala quando trechos da delação gravada de Delcídio puderem ser ouvidos. São chocantes. Tanto quanto as conversas com auxiliares de Dilma gravadas por empresários delatores. A Lava- Jato não sequestrou o governo como dizem vozes do governo. Lula, o PT e Dilma foram sequestrados pela própria ambição.

O BRASIL, ontem, renunciou a Dilma. Cabe ao Congresso formalizar a renúncia.

Tudo dependia das ruas? Pois é... - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

O Brasil é uma Venezuela? Não! Está dividido ao meio? Não! O histórico domingo, 13 de março de 2016, mostrou ao mundo e a quem interessar possa que a maioria dos brasileiros é verde e amarelo, quer paz nas ruas, ética na política e... o fim do governo Dilma Rousseff. Os gritos e faixas foram claros: “Somos Moro” e “fora Dilma, fora Lula, fora PT!”.

As manifestações foram um recorde em São Paulo e um retumbante sucesso no Rio, em Brasília, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte, Vitória, Recife, Aracaju, Goiânia... Sem falar nas cidades do interior, particularmente em São Paulo, e do exterior, como Lisboa e Nova York.

Lula e o PT estavam loucos (em duplo sentido) para convocar sua tropa e confrontar os manifestantes. O recuo foi não só prudente para todos como conveniente para eles próprios. Evitou cenas de vandalismo e os poupou de comparações. Não há dúvida sobre com quem, e com que cores, está a grande maioria. Se houver, vai ser dirimida no dia 18, nas manifestações pró Lula, Dilma e PT. Se é que vão insistir nisso.

O povo cansou. Cansou do mensalão, da devastação da Petrobrás, do roubo de milhões de reais e dólares, da arrogância, das mentiras, das mistificações e do lamentável estado da economia, sem perspectiva de melhorar.

A hipótese de Dilma “se reinventar” é pura retórica, já que ela, aliás, nem sequer se mostra capaz de articular uma frase inteira com sujeito, verbo, predicado... e nexo.

Sem instrumental político e pessoal, está agarrada ao PT, que é contra a política econômica, ao PMDB, que pula do barco, e a um Lula que faz água por todo lado. Se Dilma afunda e o mar não está para peixe, as ruas estão para os milhares, ou milhões, de insatisfeitos.

O recado está dado. É preciso agora que o mundo político, rechaçado ou ignorado solenemente neste domingo, faça a sua parte. E a sua parte é o que prevê a Constituição: se Dilma efetivamente não renunciar, como já avisou, há o impeachment pelo Congresso e a cassação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Neste segundo caso, podemos chegar a uma solução que remete as manifestações de deste domingo a 1984: Diretas já!

Mas, antes, é preciso tirar o bode da sala. Nem o impeachment nem a cassação serão já, mas, se houver cassação, o presidente da Câmara, hoje Eduardo Cunha, será presidente do Brasil por 90 dias, até a eleição popular. Nem o Capeta poderia imaginar uma sinuca mais macabra.

O mundo político e o mundo das ruas se encontram num ponto: os dois lados querem a saída da Dilma, mas ninguém sabe como e o que vem depois. Só não dá para esquecer o que todos diziam até o sábado: que “tudo ia depender das manifestações”. Pois é... Se dependia delas, já está decidido.

Nas ruas contra o monstro - Vinicius Mota

- Folha de S. Paulo

Fosse o Brasil um país com instituições maduras, a degradação política e econômica que hoje observamos não teria se avolumado. A própria rua, que acaba de rugir como nunca antes na história deste país, estaria quieta.

Um aparato institucional forte não teria deixado agigantar-se o Leviatã dos contratos bilionários de bancos e empresas estatais com oligopólios entrelaçados à própria elite no poder. Não teria permitido que tudo fosse financiado com dívida a juros impiedosos lançada nas costas dos cidadãos, a comprometer o seu futuro.

Seria impensável a subversão das regras de exploração e produção na cadeia do petróleo no sentido de restituir o monopólio estatal e asfixiar a competição. Soluções de compromisso ajeitadas com a mão pelo governo, como o consórcio que construiu a hidrelétrica de Belo Monte, seriam impossíveis.

Todo esse substrato conferiu superpoderes de xeque árabe ao presidente no Brasil, em dias normais já dotado de atribuições extravagantes. Aproximou-o de um Putin tropical, que engolfou o Congresso e só encontrou resistência no Ministério Público, no Judiciário e na imprensa.

Eis o que pode confirmar o caráter especial do Brasil no conjunto de nações emergentes acometidas por uma hipertrofia assemelhada do Executivo durante o boom chinês. Aqui não chegamos ao fundo do poço, à rendição completa.

As ruas voltaram a encher-se também em reação às novas invectivas de Dilma e Lula contra a Lava Jato. Ambos transformam o que resta do governo num comitê de combate político a policiais, procuradores e juízes que produzem um colossal conjunto probatório de abuso do poder.

Resposta errada, presidente. Ou, em outro registro, resposta certa. Pode ser que a exposição crua da natureza do monstro, agora decrépito e a debater-se, seja um rito necessário para superamos de uma vez esse triste episódio de nossa história.

Costurando Frankenstein - José Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

Nem domingo, nem sábado. O governo Dilma Rousseff foi ao forno na quarta-feira, tarde da noite, em Brasília, na casa do senador Tasso Jereissati, quando três senadores do PMDB dito governista jantaram com sete colegas tucanos e ruminaram sobre o dia seguinte. Nada a ver com a quinta-feira. Nas bocas, quem assumiria o governo após a eventual saída da presidente.

Sem o repasto PMDB-PSDB, a convenção peemedebista de sábado e as manifestações de domingo seriam condições necessárias mas insuficientes para deixar no ponto o fim da era petista. Por uma razão simplória: não há impeachment sem que haja acordo prévio sobre a sucessão do poder. Não se apeia um presidente sem que esteja combinado quem passará a dar as ordens. A questão transcende a pessoa que vai vestir a faixa e sentar na cadeira.

Pelo PMDB estavam Renan Calheiros, Romero Jucá e Eunício Oliveira. Pelo PSDB, Aécio Neves, Aloysio Nunes, Antonio Anastasia, Cassio Cunha Lima e Ricardo Ferraço, além de Tasso. Renan e seus escudeiros são os esteios de Dilma no Senado. Sem seus votos e influência, o governo não governa nem se sustenta.

Na mesma quarta-feira, a mil quilômetros dali e ao nível do mar, o menu era a mesmo. Cacique do PMDB fluminense, pai e avalista do líder do partido na Câmara, Jorge Picciani disse a peemedebistas que o governo Dilma duraria mais três meses. Foi no particular, mas alguém vazou, e o jornal Extra divulgou. Filho de Jorge, Leonardo Picciani é o maior aliado de Dilma no PMDB, depois de Renan. Se seu pai pensa assim, ele pensa também.

O que fez Renan e Picciani selarem um acordo com os oposicionistas do PMDB e se dedicarem a pensar o pós-Dilma? Novas delações na Lava Jato.

Empreiteiros da Andrade Gutierrez e o senador Delcídio Amaral contaram histórias distintas, mas com final igual: recursos de caixa dois pagaram a campanha de Dilma à reeleição em 2014. Um dos dois declarou ter documentos para sustentar suas palavras.

Se essa versão é comprovada, importa pouco para a Realpolitik que comanda Brasília. Talvez pensando no que acontece em suas próprias contabilidades eleitorais, quem precisava acreditar acreditou. E logo concluiu que a cassação da chapa Dilma/Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral seria mera questão de tempo. Assim, melhor se antecipar e trocar cassação por impeachment – ou renúncia, se conseguirem colocar o guizo no pescoço de Dilma.

Seja como for, assumiria Michel Temer. Ele convocaria todos os partidos para montar um governo de – perdão – “união nacional”. A gestão Frankenstein comandada pelo PMDB – qualquer semelhança com o governo Sarney não é mera coincidência – seria transitória e teria a missão de fazer o impopular ajuste fiscal que Dilma tanto falou que faria e não fez. Desse modo, quem se elegesse em 2018 estaria dispensado do trabalho sujo. Esse é o acordão.

Ficou tão bem costurado quanto o monstro criado por Mary Shelley. Ponta solta é o que não falta. Só para lembrar duas.

O impeachment/renúncia não impede o TSE de prosseguir com a cassação. Mas, como ministros da corte demonstraram em outros processos, dá para protelar o julgamento. Seria uma espada de Dâmocles pendurada sobre o pescoço de Temer, uma garantia para o caso de ele se acostumar ao cargo e tentar disputar 2018. A depender das provas nas delações, porém, será difícil convencer a opinião pública a deixar de lado o processo de cassação.

Em outra ponta, muitos dos avalistas do acordão PMDB-PSDB são alvo da Lava Jato. Alguns já foram denunciados. Se condenados, o novo governo começaria em crise, apenas mudariam (alguns) nomes. Ou procuradores e ministros do Supremo foram consultados sobre o acordo? Concordaram? Só se a criatura de Frankenstein escapou da ficção, fugiu para o Brasil e está amarrando suas pontas.

A rua é do povo! Como o céu é do condor - Ancelmo Gois

- O Globo

Ontem, dia em que pipocaram, como nunca, manifestações contra Dilma e o PT, completou 52 anos o famoso comício da Central do Brasil, que reuniu cerca de 350 mil pessoas a favor das reformas, entre elas a reforma agrária, numa época em que o latifúndio improdutivo espalhava miséria no campo. Com cartazes dizendo “Vermelho bom, só batom”, “O Kremlin não compensa” e “Verde amarelo, sem foice e sem martelo”, a reação veio uma semana depois, dia 19, com a primeira Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Instigada pela Igreja Católica, então quase monopolista da fé religiosa no país, e inicialmente batizada de Marcha de Desagravo ao Santo Rosário, a romaria carola e de foco anticomunista reuniu 500 mil pessoas, inclusive Ulysses Guimarães, e terminou incensando o golpe de 64.

Ao invés de fazer um mea culpa, mea maxima culpa, sem disfarces e reconhecer humildemente que perdeu as ruas e o apoio popular, como mostram as pesquisas, a congregação petista procura desqualificar os atos de ontem, como se fosse uma reedição das Marchas da Família. Intelectualmente, comparação nada mais desonesta, embora ambas fossem puxadas pela classe média — como quase todas as manifestações de caráter ideológico da história republicana —, e contassem com o apoio de boa parte da elite econômica, formada por brasileiros em pleno gozo dos seus direitos políticos. Salvo uns poucos, como Jair Bolsonaro — uma espécie de Rubinho Barrichello da política, porque, atrasado, que está com a cabeça na guerra fria dos anos 1950 e 1960 —, ninguém foi para as ruas ontem pedir a volta da ditadura.

A rua ontem estava cheia de brasileiros que não se conformam com o aumento de quase 100% da conta de luz e com um governo, à la Medeia, que matou a Petrobras e quebrou o país. A rua foi tomada por nosso povo com nojo e asco da roubalheira revelada pela LavaJato. A rua foi ocupada por cidadãos que pedem um basta nas relações promíscuas entre empresários e políticos, herança colonial a que o PT, inclusive Lula, aderiu de forma famélica. Alguém acha mesmo que os empreiteiros gastariam uns R$ 40 milhões com consultorias de Zé Dirceu se ele fosse, digamos, um “coxinha” e não tivesse amigos influentes em Brasília?

Vladimir Palmeira, fundador do PT, e que foi o maior líder de massas que a rua conheceu, definiu esta questão ainda na época do mensalão, em 2005, na carta em que comunicava ao partido seu desligamento: “Não se pode acreditar que um empresário qualquer começasse a distribuir dinheiro grátis para o partido. Exigiria retribuição, em que esfera fosse.”

Elementar, meu caro Lula.

Próximo do fim!? - Valdo Cruz

- Folha de S. Paulo

Aconteceu o que o governo mais temia, a oposição esperava e o PMDB sonhava. Os protestos deste domingo (13) bombaram, foram maiores do que o das Diretas Já e deram força ao grupo que tenta tirar Dilma Rousseff do poder.

Às vésperas da retomada da tramitação do processo de impeachment na Câmara, as manifestações de ontem tornam mais plausível diagnóstico quase consensual partilhado por governo, oposição e peemedebistas. O desfecho da crise está próximo e pode não passar de julho.

Tal avaliação vai acelerar ainda mais uma corrida nos bastidores de Brasília. De uns, na busca de herdar o poder, de outros, para tentar mantê-lo e de muitos sonhando com seu rápido desfecho para escapar das garras da Operação Lava Jato.

Para esta última turma, o recado da equipe da Lava Jato é que a operação não vai parar, tal desejo é mera ilusão e vai se transformar em pesadelo com as novas delações.

O fato é que o domingo pode ser visto como um divisor de águas, que assusta o governo, pressiona o Congresso na análise do impeachment e faz Michel Temer evitar erros recentes e se posicionar como aquele que pode unir o país. Nesta toada, algo inimaginável acontece: o PMDB proíbe filiados de aceitar cargos. Claro, o melhor deles está logo ali.

Já a oposição celebra os protestos de ontem, acerta com o vice um governo de transição para recuperar o país e, assim, espera reconquistar o poder em 2018. Afinal, hoje o clima nas ruas não é bom nem para ela.

Do lado do governo e do PT, mais do que nunca muitos enxergam no ex-presidente Lula a última cartada capaz de evitar uma debandada da base aliada nesta hora derradeira e fugir de um fim horroroso.

Enfim, a voz das ruas cobra urgência para o desfecho da crise. Ela precisa ser superada com a reação do governo ou seu fim, mas pelas vias legais. O fato é que ninguém aguenta mais. Nem mesmo a própria equipe da presidente Dilma.

Berlusconi e o impeachment - Marcos Nobre

• A Lava-Jato quer evitar o destino da Mãos Limpas

- Valor Econômico

Não é o governo que está paralisado, é o país. Sistema político, sociedade e economia estão travados. Em um impasse como esse, mudar o governo parece ser uma saída. Parece ter o poder de criar a espada que vai cortar o nó de todas as desgraças. O problema é que o nó precisa mesmo é ser desatado, sem romper a corda das instituições democráticas. Não há espada nem solução mágica para vencer o emaranhado em um sentido positivo.

Especialmente porque os nós são apertados pela força-tarefa da Lava-Jato. A verdadeira promessa da operação não é limpar o país da corrupção. Essa é uma tarefa que vai muito além de uma única operação, que depende de que se torne rotina institucional. O avanço real que a Lava-Jato promete neste momento é a demonstração cabal de que toda e qualquer pessoa é realmente igual perante a lei, não importando seu cargo ou quanto custe a hora de seus advogados.

A Lava-Jato é, sim, seletiva. Atinge com muito mais rigor o PT e suas figuras mais destacadas do que qualquer outro partido. É claro que isso pode refletir preferências pessoais de alguns dos membros da força-tarefa. Mas a seletividade se explica antes pela posição de liderança do governo que, durante os últimos 13 anos, o PT ocupou e supostamente ainda ocupa. A força-tarefa age para impedir que essa posição lhe dê condições de bloquear a operação.

A irmã e inspiradora da Lava-Jato, a operação Mãos Limpas italiana, foi trancada desde cima pouco mais de dois anos depois de lançada, quando, em 1994, Silvio Berlusconi se tornou primeiro-ministro. A Mãos Limpas conseguiu fazer um bom estrago em esquemas de corrupção que, durante décadas, ligaram o setor privado e a política oficial na Itália. Mas ficou pela metade.

Foram eleições gerais que levaram Berlusconi ao poder. Aliás, foi a única vez em que eleições para as duas casas legislativas ocorreram depois de passados menos de dois anos da eleição anterior, o que permite medir o enorme impacto social e político da Mãos Limpas. Pode-se analisar e avaliar de diferentes maneiras essa eleição. Mas o fato é que esse primeiro governo de Berlusconi interrompeu a operação, circunscrevendo de maneira brutal o círculo dos atingidos: quem já tinha sido pego foi jogado aos leões; o resto continuou como se nada houvesse.

É esse destino que a Lava-Jato parece querer evitar. Em princípio, isso permite prever que, se Dilma Rousseff for afastada, seja de que maneira for, a operação deverá mirar em quem quer que assuma o seu lugar. Mudar algumas das peças no tabuleiro não muda o fato de que é o sistema político como um todo que está em xeque-mate. Se a Lava-Jato seguir na mesma trilha após um eventual impeachment, deve fazer de tudo para que o xeque-mate persista.

Para os objetivos da força-tarefa, Dilma Rousseff é a presidente perfeita. Não tem poder para governar, muito menos para bloquear a operação. Mais paradoxal ainda, depende da continuidade da Lava-Jato para tentar manter seu mandato. A desorganização do sistema político que a impede de governar é, ao mesmo tempo, a condição para que se mantenha no poder, ainda que nessa versão mambembe que se conhece há já 15 meses.

Submeter Dilma Rousseff ao impeachment não significará fazer um pacto como o que eleições costumam celebrar. Muito menos é garantia automática de estabilização. Pelo contrário, se a Lava-Jato continuar na mesma trilha, o fato de o processo de impeachment ser dirigido por figuras diretamente atingidas pela operação tem boas chances de aumentar ainda mais a desorganização do sistema político. Sem contar que não vai ser tarefa evidente conseguir combinar com os mais diferentes tipos de russos que estão nas ruas. O impeachment pode resultar em mais um fracassado acordão de cúpula, que corre o alto risco de durar o tempo de um vazamento de delações premiadas já à disposição da Lava-Jato.

Quando Lula partiu para tomar de vez o governo, nas duas últimas semanas, a Lava-Jato reagiu imediatamente, colocando-o sob fogo cerrado e neutralizando a investida. O que está em jogo no impeachment é avaliar se o mesmo vai acontecer com Michel Temer caso o processo prospere. A questão é saber se Michel Temer passará ou não à condição de alvo privilegiado da Lava-Jato, se será visto pela força-tarefa como ameaça existencial à operação no caso de vir a assumir a presidência. Pelo histórico até aqui, a chance de que isso aconteça é alta. E é isso também o que leva outra figura chave do momento atual, Renan Calheiros, a ver o impeachment com grande desconfiança.

A diferença de avaliação desses dois políticos mede bem a divisão do sistema em relação ao impeachment. A oposição formal simplesmente não conta nessa divisão, conformou-se ao papel de coadjuvante do PMDB. Michel Temer entende que assumir a presidência lhe colocará em uma posição inatingível em relação à Lava-Jato, dado o apoio popular que virá com o impeachment. Já Renan Calheiros preferiria não arriscar um passo como esse.

O impeachment vai tirar da frente do presidente do Senado três grandes anteparos que têm permitido o adiamento de seu destino até o momento: Dilma, Lula e Eduardo Cunha. E se Michel Temer assumir a presidência e conseguir se manter a salvo da Lava-Jato, nada impede que saia distribuindo convites de camarote para o espetáculo de exclusão de Renan do jogo pela operação. Daí a proposta de parlamentarismo semi-alguma coisa formulada por Renan. Serve para amarrar Temer e não Dilma. É uma espécie de seguro que Renan quer ter contra Temer. Só que Temer faz figa com as mãos às costas quando diz aceitar essa condição.

Tanto em política quanto em economia, fundo de poço só se conhece depois que já se saiu dele. Dentro da grande divisão do sistema político hoje, não se trata de discutir quem tem a melhor leitura da situação atual, Renan Calheiros ou Michel Temer. O importante é ter clareza dos interesses envolvidos em cada um dos planos de ação que estão na mesa. E avaliar não apenas sua exequibilidade e suas consequências, mas também o seu significado para as instituições democráticas.

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Marcos Nobre é professor de filosofia política da Unicamp e pesquisador do Cebrap.

Três fatores que deixam o governo encrencado - Lauro Jardim

- O Globo

Se o Congresso queria um respaldo das ruas para levar adiante o processo de impeachment, este foi dado ontem. Em várias capitais importantes, um público recorde entre as manifestações anti- Dilma que explodiram há um ano. E São Paulo deu o toque que faltava: nunca a maior cidade brasileira botou tanta gente nas ruas num dia de protesto.

O que interessa a deputados e senadores é exatamente o superlativo. Agora, já dá para os parlamentares repetirem que não há como ignorar números tão eloquentes. Era isso o que diziam em conversas entre eles, na semana passada. As ruas mostrariam o norte. Isso significa que a comissão do impeachment na Câmara, que, tudo indica, será instalada entre quarta-feira e quinta-feira por Eduardo Cunha, terá um caldo de cultura fabuloso para evoluir.

Há uma combinação de três fatores que colaboram para deixar o governo encrencado.
Primeiro, a depressão na economia não dá sinal de reversão. Muito pelo contrário, os agentes econômicos já jogaram a toalha a espera do pós- Dilma. Além disso, as contradições da política econômica ficarão mais agudas daqui para frente — com Nelson Barbosa tentando puxar a economia para um lado e o PT e Lula empurrando para o outro, tendo uma Dilma no meio sem capacidade de arbitrar.

Para piorar, as revelações em cascata que surgem das delações premiadas estão fechando o quebra-cabeça da corrupção e do caixa dois da campanha de 2014. Nas próximas semanas, pelo menos parte dos depoimentos da turma da Andrade Gutierrez e, possivelmente, de João Santana, se tornará pública.

E, finalmente, como se fosse pouco, anteontem o PMDB deu um cartão amarelo ao governo na convenção do partido.

O que se enxerga para os próximos 30 dias é um cenário envenenado para Dilma Rousseff. Desde o início do ano passado, o governo atuou sobretudo com um objetivo: não cair. Agora, a sobrevivência será sua única pauta. Vai se entrincheirar no Palácio do Planalto tentando convencer deputado por deputado a não abandonar o barco. Mais precisamente, o governo necessita de 171 dos 513 deputados. Como é praxe, o toma lá dá cá vai viver momentos de glória.