Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
segunda-feira, 21 de novembro de 2022
Paulo Fábio Dantas Neto* - Sentido e limites da transição e da transigência
Miguel de Almeida - Sai, Carcará, sai
O Globo
Derrotados acabam vítimas de suas próprias
armadilhas
Vivandeiras das estradas do meu Brasil, eu
sei o que é a dor. Já senti muita dor. Rompi o tornozelo direito (jogando
tênis), outra vez o esquerdo (no futebol; fui razoável ponta) e meu nariz foi
quebrado, no recreio, por um grandalhão albino. Mas nunca imaginei que
erisipela na perna levasse alguém a calar a boca. Por si só, desde o histórico
30 de outubro, se trata de um fato científico a figurar no decálogo político do
baixo clero dos últimos dias, ao lado da isenção de imposto de importação de
jet skis (planadores também) e do que é visto (à boca pequena!) como o
Capitólio bolsonarista — o ataque cego do navio à ponte Rio-Niterói.
Como poderia dizer Mourão, a erisipela pós-derrota é um case de estudo a ser apresentado no próximo Congresso de Sinapses do Partido Liberal, sob os auspícios de empresários bolsonaristas. Outra comunicação de cunho alquímico talvez seja o pontapé inicial na série sobre a vida na terra (e na Lua) de Damares Alves. Protagonizada por Regina Duarte, com texto anônimo do sertanejo Sérgio Reis, o docudrama se passa em meio ao intenso brainstorm da criação de palavras de ordem dos golpistas estacionados à frente dos quartéis.
Fernando Gabeira - O estranho lugar da Copa
O Globo
Do ponto de vista da tradição do esporte, o
Catar é pouco importante. Sua seleção está fora da lista das cem melhores do
mundo
A Copa do Mundo começou ontem. Já estamos
pintando ruas, discutindo a convocação de Daniel Alves, palpitando sobre a
escalação, debatendo o potencial dos rivais.
De um modo geral, a resposta é não. O
jornal alemão Bild cunhou a a manchete “Catástrofe” para definir a escolha da
Fifa.
Do ponto de vista da tradição do esporte, o
Catar é pouco importante. Sua seleção está fora da lista das cem melhores do
mundo.
O clima do país é bastante duro para a
prática do esporte. No verão, seria impraticável, sobretudo para seleções que
vêm dos países frios: 50 graus. Foi preciso adiar para o inverno para conseguir
uma temperatura menos cruel para os atletas.
Não será uma Copa barata. Os investimentos devem ser superiores a US$ 220 bilhões, mais que R$ 1 trilhão, 20 vezes acima dos gastos da Copa de 2018 na Rússia.
Bruno Carazza* - Lula na mão de Lira
Valor Econômico
PEC da Transição reforça poder do líder do
Centrão
Lula é o personagem central da política
brasileira nas últimas quatro décadas. Desde 1989, esteve presente em seis
eleições presidenciais (tendo vencido três) e foi muito influente nas outras
três, como “padrinho” de Dilma Rousseff em 2010 e 2014 e sendo substituído por
Fernando Haddad em 2018.
O carisma de Lula junto a parcela
importante do eleitorado e sua capacidade de articulação, atraindo apoios que
vão além do PT e da esquerda, levaram o cientista político André Singer a
cunhar a expressão “lulismo”, fenômeno que seria mais forte até do que o
petismo.
Todavia, o poder de Lula, expresso mais uma vez na vitória (ainda que apertada) da última eleição e nos acenos que o ex e futuro presidente tem recebido de lideranças de todo o espectro político, mascara graves erros de estratégia cometidos pelo ícone petista nas últimas décadas.
Alex Ribeiro - Fiscal está no radar do Copom de dezembro
Valor Econômico
Promessa é agir se projeção de inflação
subir ou risco piorar
O presidente do Banco Central, Roberto
Campos Neto, disse em um evento na sexta-feira que a política fiscal do futuro
governo Lula já está no radar da reunião de dezembro do Comitê de Política
Monetária (Copom). O que poderia levar à retomada dos ciclo de alta de juros?
Conforme o próprio Campos Neto explicou, o
aperto adicional aconteceria se, diante dos passos adotados pelo novo
presidente da República, o Copom entender que a convergência da inflação para a
meta não vai acontecer da forma planejada. “Então, nós vamos reagir”, advertiu.
Ele também ressaltou que é cedo para uma
conclusão sobre o assunto porque não se sabe o que o Congresso vai aprovar ou
modificar da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que estoura o teto de
gastos em quase R$ 200 bilhões.
O cenário de convergência da inflação para a meta, em tese, pode ser ameaçado de duas formas pela política fiscal de Lula. Primeiro se, de forma mais direta, levar a um aumento das projeções de inflação do Banco Central - que já vinham sendo colocadas em questão pelos especialistas, porque parecem muito otimistas, quando comparadas com a previsão do mercado. Segundo, se o fiscal voltar a pesar mais forte no chamando balanço de riscos, ou seja, se fizer o Copom achar que as chances de a inflação superar os valores projetados são maiores do que as de ficar abaixo deles.
Celso Rocha de Barros - Governo Lula vai ganhando cara
Folha de S. Paulo
Equipe de transição começa debate
propositivo com bons quadros e desafios após Bolsonaro
Aos poucos, os contornos do terceiro
governo Lula vão ficando mais claros. O clima de frente ampla
do segundo turno parece ter reunido gente bem boa em torno do novo presidente.
Tudo ainda pode dar errado, mas os sinais são bons.
Na COP27, Lula pode ter feito o melhor discurso de sua vida,
o que mais impacto pode ter na vida das gerações futuras. Tudo ali está certo.
Fazer aquilo não vai ser fácil, mas a equipe de transição de meio ambiente se
destacaria em qualquer país do mundo.
A equipe de transição para a educação
também é muito boa. Já passou da hora de alguém generalizar para o Brasil a experiência de sucesso da educação
básica cearense, e a escolha dos nomes até agora dá a impressão de que o
plano é esse.
Isso já poderia ter acontecido: em 2015, Dilma Rousseff nomeou Cid Gomes, ex-prefeito de Sobral, para o MEC. Eduardo Cunha derrubou os dois.
Marcus André Melo* - (In) felicidade Política
Folha de S. Paulo
A formação de coalizões governativas sem
densidade programática gera cinismo cívico
Votar no candidato perdedor diminui a
felicidade das pessoas. Essa é a conclusão do estudo Presidential Elections, Divided Politics and Happiness in the
US (eleições presidenciais, política dividida e felicidade nos EUA), de 2019,
de Sergio Pinto e colegas. O efeito é brutal. Nas eleições presidenciais de
2016, nos EUA, na qual Hillary Clinton foi derrotada, equivalia a ficar
desempregado(a).
A felicidade é medida por métricas que capturam o nível subjetivo de satisfação com a vida e por atitudes que lhes são correlatas. A fonte é a pesquisa diária do Gallup com 11 mil eleitores, de 2012 a 2016.
Felipe Moura Brasil - 2026 já começou
O Estado de S. Paulo
Se houver fibra para ocupar o lugar de Bolsonaro, campo derrotado pode formar novas lideranças
As declarações de Romeu
Zema de que Jair
Bolsonaro perdeu para si mesmo e de Ratinho Jr. de
que uma centro-direita pode ocupar esse espaço, além da resistência de Tarcísio de
Freitas a nomear bolsonaristas, condizem com o comentário que
fiz três semanas antes da eleição: “Até 2026, haverá tempo para formação de
novas lideranças no campo perdedor, se houver fibra para ocupar o lugar do
populista derrotado. A derrota vai abrir a melhor oportunidade de saneamento. A
vitória vai legitimar a pilantragem”.
A promiscuidade entre autoridades públicas
e empresários foi revivida por Lula já na transição, ao voar para o Egito no jatinho do
fundador da Qualicorp e dono da QSaúde, José Seripieri Jr., e almoçar em
Portugal com ele, Fernando
Haddad e Gilmar Mendes,
um dos responsáveis pela impunidade do presidente eleito.
Antes, o ministro do STF havia suspendido a tramitação de um inquérito que apura repasses da Odebrecht à campanha de 2010 de seu amigo Aécio Neves, bem como a operação da Polícia Federal que apurava esquema de corrupção, fraude e lavagem de dinheiro na Fundação Getúlio Vargas, defendida por seu amigo Rodrigo Mudrovitsch.
Denis Lerrer Rosenfield* - O velho PT
O Estado de S. Paulo
Discursos
demagógicos de nada adiantam. O período eleitoral foi encerrado e começa o de
governar, não admitindo teatros e tergiversações
O maior eleitor de Lula foi Jair Bolsonaro. O novo presidente não foi eleito por suas ideias – aliás, inexistentes –, mas por reação ao atual presidente e ao bolsonarismo em geral. Suas propostas se reduziram aos velhos chavões petistas e a uma curiosa seleção de suas administrações passadas, dosadas com cuidado de modo que o governo Dilma desaparecesse dessa sua apresentação. Ele seria, constrói-se a lenda, a “solução” por sua mera presença. Parafraseando Lenin, não se colocou uma questão central: O que fazer?
Luís Eduardo Assis* - O grande chilique e a falsa escolha
O Estado de S. Paulo
Como o próximo governo quer crescimento e preços sob controle, convém moderar a incontinência verbal
O Brasil é mesmo curioso. O maior faniquito
no mercado financeiro com a eleição presidencial de 2022 se deu vários dias
após a proclamação do vencedor. Foi quando o presidente eleito questionou “a
tal da estabilidade fiscal”, em discurso a parlamentares feito em 10 de
novembro.
O abalo sísmico foi grande. E continua
sendo com as notícias da tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
da Transição, que diz muito pouco sobre para onde vamos transitar.
O mercado é assim mesmo. Tratá-lo como se
fosse uma instância que emite opiniões políticas é grande equívoco. Ele não tem
ideologia, mas cultiva um punhado de convicções, em geral corruptelas de
conceitos mais complexos de algum “economista defunto”, como dizia John Maynard
Keynes.
O mercado não julga nem pune, apenas faz preço. Tudo o que se discute no mercado deve ser filtrado, mastigado e resumido para uma decisão que é essencialmente binária: comprar ou vender. Não há espaço para nuances, qualificações ou raciocínios sofisticados. O ambiente é o de um jogo de espelhos.
Ana Cristina Rosa - Tornar-se negro é libertador
Folha de S. Paulo
Neste mês da consciência negra, convido
todos à reflexão sobre o que é ser negro no Brasil contemporâneo
Sempre me surpreendo quando uma pessoa
negra afirma que nunca sofreu preconceito ou discriminação racial no Brasil.
Não foi diferente quando soube do relato de uma mulher preta —a primeira a
ocupar um alto posto numa instituição hierarquizada e historicamente comandada
por homens brancos— que disse nunca ter enfrentado barreiras de raça ou de
gênero para chegar aonde está.
Gostaria de poder acreditar. Mas, por mais
que me esforce para respeitar a perspectiva do outro, esse me parece um feito
impossível.
Especialmente diante das fartas e escandalosas evidências de racismo estrutural, institucional e sistêmico cada vez mais corriqueiras no nosso cotidiano.
José Vicente* - O combate ao racismo no ambiente corporativo
O Estado de S. Paulo
Empresas e presidentes podem moldar e
garantir a equidade racial e ajudar a consolidar um ambiente antirracista
A desigualdade racial no mercado de trabalho e no ambiente corporativo brasileiro tem se constituído num daqueles extraordinários desafios que historicamente limitam o alcance da isonomia entre negros e brancos e impedem a realização da igualdade de oportunidades, sem distinção de cor ou de raça, como preconizado nos mais diversos documentos e tratados internacionais, na Constituição cidadã da nossa República e nos fundamentos que estruturam a modernidade. Sob todos os aspectos, a desigualdade racial e sua causa próxima, o racismo sistêmico que embala as relações sociais e laborais, continuam produzindo distinção e prejuízos incomensuráveis na construção e no alcance de um ambiente social em que tão somente as competências, habilidades e talentos devessem ser definitivamente os grandes medidores e condicionantes do alcance do sucesso e da realização pessoal e profissional dos indivíduos.
Irapuã Santana - Somos diversos
O Globo
Dizer que ‘tá no sangue’ ou que negros são
naturalmente atléticos e vocacionados para as artes é racismo
O Brasil conta com mais ou menos 118
milhões de pessoas negras. Isso quer dizer, na prática, que existe um número
infinito de estilos de vida e modos de enxergar o mundo, o que deveria gerar
algumas reflexões e conclusões.
A primeira delas é que recorrer a estereótipos é também reforçar uma faceta do racismo, que acaba coletivizando algumas características e elimina a ideia de indivíduo. Em outras palavras, dizer que “tá no sangue” ou que negros devem saber jogar bola e sambar é racismo. Afirmar que negros são naturalmente atléticos e vocacionados para as artes, idem. Na verdade, quando se toma esse tipo de entendimento como verdade, vemos a base do trabalho braçal (escravo) para negros e trabalho intelectual para brancos, dividindo a sociedade entre uma comunidade domesticada, útil ao entretenimento e à servidão, e uma outra que gera luz, desenvolvimento e progresso para todos.
Hebe de Bonafini, histórica líder das Mães da Praça de Maio, morre aos 93 anos na Argentina
Associação foi criada na última ditadura militar do país para descobrir o paradeiro de filhos e outras pessoas desaparecidas
Por O Globo, com agências internacionais
BUENOS AIRES - Hebe de Bonafini, a
histórica presidente da associação argentina Mães
da Praça de Maio, criada durante a última ditadura (1976-1983) no país para
descobrir o paradeiro de seus filhos e outras pessoas presas pelo regime
militar e depois desaparecidas, faleceu neste domingo aos 93 anos, confirmou a
vice-presidente Cristina Kirchner. O governo decretou três dias de luto
nacional.
"Queridíssima Hebe, Mãe da Praça de
Maio, símbolo mundial da luta pelos Direitos Humanos, orgulho da Argentina.
Deus te chamou no dia da Soberania Nacional... não deve ser coincidência.
Simplesmente obrigado e até sempre", escreveu Cristina no Twitter.
Bonafini morreu na manhã deste domingo em
um hospital da cidade de La Plata, na província de Buenos Aires, onde estava
internada desde o dia 12. No mês passado, ela ficou internada três dias para
exames, mas teve alta.
Através de um comunicado divulgado nas redes sociais, o governo argentino anunciou que “decreta três dias de luto nacional e presta homenagem a Hebe, à sua memória e à sua luta, que estará sempre presente como guia nos momentos difíceis”. A Secretaria de Direitos Humanos também homenageou a militante de direitos humanos em mensagem no Twitter: "Hebe compartilhou junto com as Mães um destino que as uniu na luta contra a impunidade dos crimes do terrorismo de Estado, resistindo frente ao silêncio e ao esquecimento."
O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões
Pressão de estados por recursos deverá agravar crise fiscal
O Globo
Prejudicados com o corte eleitoreiro do
ICMS sob Bolsonaro, governadores eleitos tentarão ir à forra com Lula
Quando assumir, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva receberá governadores em romaria de pires na mão. Além dos “investimentos sociais” que levam o novo governo a tentar excluir despesas de quase R$ 200 bilhões do teto de gastos, além das promessas de reajuste real do salário mínimo, correção na tabela do Imposto de Renda e tantas outras, haverá pressão por mais despesas estaduais. Os governadores foram vítimas da sanha eleitoreira do presidente Jair Bolsonaro, que cortou para 17% o ICMS cobrado sobre combustíveis, energia elétrica, comunicações e transportes. Com a receita combalida e as finanças em andrajos, eles tentarão ir à forra diante do novo governo.
Música | Va pensiero Nabucco G Verdi version Trio Amadeus
"Va, pensiero", também conhecido como o "Coro dos Escravos Hebreus", é um coro do terceiro ato da ópera Nabucco (1842) de Giuseppe Verdi, com libreto de Temistocle Solera, inspirado no Salmo 137.