quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Vera Magalhães - O Mito nasce e morre pela boca?

O Globo

Eleito em 2018 com um forte aparato de redes sociais, Bolsonaro se vê assombrado pelo tipo de comunicação que o notabilizou

A campanha de Jair Bolsonaro terminou o domingo entre aliviada e exultante. Aliados comemoravam a decisão de Alexandre de Moraes de mandar o PT retirar do ar reproduções do vídeo em que, em entrevista a um podcast na última sexta-feira, o presidente dizia que “pintou um clima” quando visitou uma casa que abrigava refugiadas venezuelanas de 14 e 15 anos. O desempenho do candidato do PL no debate com Lula também era fator de otimismo. Não contavam com a língua de Bolsonaro.

Eleito em 2018 com um forte aparato de redes sociais, consolidado muito à custa de suas “mitadas”, as declarações sem filtro que deu ao longo da vida sobre mulheres, negros, tortura, população LGBTQIA+ e outros alvos, o presidente se vê assombrado, na campanha pela reeleição, justamente pelo tipo de comunicação que o notabilizou.

De duas, uma: ou o Q.G. bolsonarista não fez uma varredura para constatar que Bolsonaro já havia mencionado o caso das meninas venezuelanas pelo menos num evento transmitido pela TV Brasil e a um outro podcast (de um pool evangélico, aliás), ou contou com o amadorismo da campanha de Lula para que a reiteração da insinuação de que as meninas se prostituíam passasse batida. Deu errado.

Bernardo Mello Franco - Vale tudo pela reeleição

O Globo

Governo antecipa pagamentos e anuncia uma benesse por dia para tentar virar a disputa

O governo liberou ontem a quarta parcela do auxílio para motoristas autônomos. O dinheiro pingou na conta de 670 mil taxistas e caminhoneiros. Cada um deles recebeu mais R$ 1.000 antes da data prevista — e a menos de duas semanas do segundo turno.

Jair Bolsonaro anunciou o benefício com a alegação de que o combustível estava caro. O Planalto torrou recursos públicos para reduzir o preço da gasolina e do diesel, mas não se lembrou de suspender a despesa extra. Todo gasto é pouco no esforço pela reeleição.

No início de junho, o pacote de bondades já custava mais de R$ 340 bilhões, incluindo o aumento do Auxílio Brasil, o Auxílio Gás e a antecipação do 13º dos aposentados. Apesar da gastança, Lula ficou a menos de 2 milhões de votos de vencer no primeiro turno.

A paulada das urnas fez o governo raspar ainda mais os cofres públicos. Em uma semana, foram queimados outros R$ 15,7 bilhões em novos benefícios. Agora a ordem é anunciar uma benesse por dia para tentar virar a disputa.

Elio Gaspari - A bola está nos pés de Lula

O Globo

A questão é o que ele vai fazer com ela

Lula já viu isso. Celso Rocha de Barros conta no livro “PT, uma história” que, no primeiro semestre de 1994, ele pediu ao presidente do partido, Rui Falcão, que começasse a sondar nomes para seu governo. Pudera, em fevereiro tinha 30% das intenções de voto, e Fernando Henrique Cardoso, com sua promessa de estabilização da moeda, patinava em 7%. Falcão não gostou da ideia. Achava prematura. Em julho, Lula caiu de 41% para 38%, e FH foi para 21%. Em outubro, deu no que deu.

Sem levar em conta o debate do domingo, o ponteiro da pesquisa do Ipec não se mexeu. No debate, Lula entrou cavalgando o Bolsonaro da pandemia. Estonteou-o. Nos segmentos seguintes, Bolsonaro trouxe-o para a discussão das malfeitorias praticadas durante seus oito anos de governo.

Luiz Carlos Azedo - Estratégia de Lula tipo “bateu, levou” favorece Bolsonaro

Correio Braziliense

Os ataques de Lula não fazem grande efeito, a não ser em casos em que a imagem de Bolsonaro no seu próprio campo pode ser abalada, como a história das meninas venezuelanas, um tiro no próprio pé

O comentário é de quem entende de marketing eleitoral, Luiz Gonzales, veterano de campanhas do PSDB: “Eu acho que a estratégia da campanha Bolsonaro de rolar na lama emparedou a campanha de Lula. Atacada com tantas barbaridades, a campanha de Lula ataca igual. Mas já está tudo na conta. Ninguém subiu. Mas Lula não projeta esperança e, com isso, não captura votos dos eleitores sem preferência partidária e sem rejeição brutal ao Bolsonaro”. O diagnóstico é compartilhado por aliados de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não petistas, apreensivos, principalmente, com a situação eleitoral de São Paulo, onde uma vantagem de 10% dos votos a favor do presidente Jair Bolsonaro pode leva-lo à reeleição.

Segundo esses aliados, Bolsonaro trouxe Lula para um confronto no pântano das fake news e das baixarias eleitorais como uma estratégia de quem não tem mais nada a perder nesse terreno. O problema é que os ataques de Lula não fazem grande efeito, a não ser em alguns casos em que a imagem de Bolsonaro no seu próprio campo poderia ser abalada, como a história das meninas venezuelanas, que Bolsonaro tratou como se fossem prostitutas e teve que ir até elas pedir desculpas, para minimizar o estrago que sofreu.

Fernando Exman - Uma nova arquitetura para o teto de gastos

Valor Econômico

PEC é formatada, enquanto campanha foca outros temas

A despeito da expectativa - ou torcida - de empresários e investidores, a esta altura da campanha eleitoral é possível lamentar que há poucas chances de se ver um debate franco entre os dois postulantes a presidente sobre o futuro do teto de gastos e o arcabouço fiscal que o Brasil terá a partir do ano que vem.

À frente das pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deveria ser mais claro. Seu programa fala da demolição do teto, mas não dá pistas claras do que ele pretende construir no lugar.

Daniel Rittner - O ‘superplano’ de PPPs do novo governo Lula

Valor Econômico

Ideia no PT é usar crédito do BNDES e garantia do Tesouro

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem dito frequentemente que, se eleito, chamará os 27 governadores e os prefeitos das capitais para uma reunião, no começo de janeiro, com o objetivo de definir logo projetos prioritários na área de infraestrutura. Obras como a Fiol, ferrovia que corta a Bahia, e um programa emergencial de recuperação das estradas já são candidatos óbvios para ganhar mais recursos. A obtenção de uma licença temporária para gastar, talvez antes mesmo de mudanças na regra do teto de gastos, deverá ditar o ritmo de investimentos orçamentários nos primeiros meses de um eventual novo governo Lula.

Mas outra iniciativa - esta sim com potencial de “game changer” na infraestrutura do país - vem sendo desenhada por pessoas que recentemente se aproximaram do núcleo de economia do PT. Trata-se de um superplano de PPPs (parcerias público-privadas) para Estados e municípios, que ficarão como responsáveis pela contratação dos projetos, mas com estímulo direto do governo federal para viabilizá-los. Um dos focos será o investimento em mobilidade urbana: metrô, VLTs, BRTs. São obras que exigem investimento bilionário, empregam milhares de trabalhadores na construção e depois melhoram a qualidade de vida de milhões de pessoas.

Mario Mesquita - Uma crise particular?

Valor Econômico

Depois das ondas de endividamento dos últimos anos, o espaço fiscal pode se mostrar bem mais exíguo

Carlos I, da Inglaterra, perdeu uma guerra civil, foi acusado de traição e acabou sendo decapitado. Seu filho, Carlos II, foi convocado pelo Parlamento, que havia condenado o pai, a retomar o trono, começando a longa e exitosa trajetória de monarquia constitucional na Inglaterra, que perdura até hoje. Esperemos que o reinado de Carlos III se pareça muito mais com o do segundo. Mas o fato é que o primeiro evento relevante em seu reinado foi uma crise fiscal e financeira - sobre as quais o monarca não tem nenhuma responsabilidade, claro, o Parlamento continua governando o Reino Unido.

A crise, até o momento, custou o emprego do Chanceler (Ministro da Fazenda), e, a julgar pelos comentaristas políticos, pode determinar o fim bem prematuro do governo de Liz Truss, e, em última instância, contribuir para levar os Trabalhistas de volta ao poder, na próxima eleição.

Vera Rosa - O ‘fogo amigo’ que atinge Haddad

O Estado de S. Paulo

Em grupo, Emídio diz que culpar ex-prefeito por desempenho de Lula em SP é ‘miopia’

Uma bronca dada em dirigentes do PT pelo WhatsApp provocou mal-estar no comitê de Luiz Inácio Lula da Silva. Na mensagem, o deputado Emídio de Souza, coordenador da campanha de Fernando Haddad ao Palácio dos Bandeirantes, definiu a tentativa de culpar o ex-prefeito pelo desempenho de Lula em São Paulo como “miopia pura ou coisa pior”.

Emídio citou “o velho e nefasto ‘fogo amigo’” para pedir que a lavação de roupa suja não fosse feita “no meio da guerra”. O pito de 25 linhas foi enviado há duas semanas no grupo da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), a mesma de Lula e Haddad, majoritária no partido.

Bruno Boghossian – Trabalho de formiguinha

Folha de S. Paulo

Capilaridade criada pela campanha do presidente pode favorecer mobilização de eleitores

Num coquetel na casa de um empresário, a senadora Simone Tebet reúne 650 convidados e defende que eles votem em Lula para preservar a democracia brasileira. Enquanto isso, em milhares de templos evangélicos espalhados pelo país, pastores aterrorizam fiéis com a falsa alegação de que a vitória do atual presidente é a única maneira de evitar que o PT feche igrejas.

A capilaridade é uma das principais armas de Jair Bolsonaro para converter votos no segundo turno. Além de pulverizar um discurso contra Lula nos templos, a campanha do presidente faz uma aproximação em massa com prefeitos e aposta no uso despudorado da máquina do governo para melhorar a imagem do presidente nos municípios.

Mariliz Pereira Jorge - Barbie fascista

Folha de S. Paulo

Não há nada que seja dito sobre Bolsonaro que a tire do transe emburrecedor

Você conhece o meme da Barbie Fascista? A famosa boneca ilustra situações e falas absurdas que ajudam a revelar o perfil canalha de parte da sociedade. Suas principais características são desconexão com a realidade, falta de consciência social, preconceitos dos mais variados, profunda ignorância política.

São pessoas manipuláveis que repetem frases prontas quando confrontadas sobre questões que podem e devem ser debatidas. Mas a Barbie Fascista só consegue repetir "Lula ladrão", "bilhões da Petrobrás", "vai pra Cuba", "tá com saudade da mamata". É a típica boneca que vem de fábrica com repertório limitado. Como Jair Bolsonaro teve mais de 50 milhões de votos? Barbie Fascista explica melhor do que qualquer cientista político. Ela não se preocupa com falência da democracia, teocracia, ditadura — a menos que seja de esquerda, direitos individuais — a não ser para tomar seu MD em Mikonos e para fazer seu aborto numa clínica clandestina bem limpinha, sem contar para ninguém, claro.

Hélio Schwartsman – Conselho cooptado

Folha de S. Paulo

CFM ficou tão bolsonarista que bane maconha, mas legitima a cloroquina

Em janeiro de 2021, quando as principais associações médicas do planeta já haviam concluído que a cloroquina era ineficaz no tratamento da Covid-19, o então presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM) escreveu um artigo na Folha em que dizia que a entidade, por "respeito absoluto à autonomia do médico" para tratar seu paciente, mantinha a possibilidade de os profissionais fazerem o uso "off label" da droga.

Em outubro de 2022, o mesmo CFM (a diretoria mudou, mas os conselheiros são os mesmos) baixou uma resolução que tira dos médicos a possibilidade de prescrever "off label" o canabidiol (CBD), um dos princípios ativos da maconha. A partir de agora, o CBD só pode ser receitado em duas situações muito específicas de epilepsia refratária a outros tratamentos, apesar de a molécula receber cada vez mais atenção da comunidade científica por seus efeitos benéficos em um amplo rol de doenças.

Vinicius Torres Freire - Suspeita de crime na Defesa

Folha de S. Paulo

Fiscalização das urnas por militares e caso das venezuelanas são caso de polícia

O ministério da Defesa tem de entregar ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) o relatório da fiscalização eleitoral ou de seja lá o que fuçaram nas urnas na eleição de 2 de outubro. O prazo acaba na quinta-feira (20), tempo bastante para que se invente alguma desculpa, farsa ou chicana a fim de se burlar a boa-fé.

Para explicar sua decisão, Alexandre de Moraes, ministro do TSE, afirmou também que esse trabalho das Forças Armadas pode ter sido em favor de um candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), o que em tese é desvio de finalidade e abuso de poder.

Ou seja, é suspeita de crime de militares em favor de um presidente-candidato. A gente não liga mais, pois a delinquência oficial foi normalizada, mas isso é muito grave.

Se bolar uma chicana ou entregar um papelucho farsesco, o ministério que administra as Forças Armadas terá procedido outra vez segundo o padrão do bolsonarismo: se flagrado, ainda mais sob risco de cadeia, minta, camufle ou choramingue pedindo desculpas como um covarde cínico.

Câmara aprova urgência para criminaliza pesquisas

Em meio à investida de governistas contra institutos, Arthur Lira (PP-AL) colocou em votação a urgência de projeto que impõe até dez anos de prisão a quem "errar" resultado

Por Natália Portinari / O Globo

BRASÍLIA - A menos de duas semanas para o segundo turno das eleições de 2022, a Câmara dos Deputados aprovou, nesta terça-feira, a urgência para votar projetos de lei que criminalizam a divulgação de pesquisas que não correspondam ao resultado das urnas. Essas propostas serão, agora, priorizadas na fila de proposições que aguardam apreciação da Casa.

Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, colocou em pauta a votação da urgência nesta terça-feira, mas ainda não há data para a votação do mérito, quando o conteúdo da proposta será debatido pelos parlamentares. Na sessão, ele disse que não há um texto definido e que o projeto será discutido entre os líderes, negando se tratar de uma "punição" aos institutos de pesquisa.

— O que está acontecendo hoje no Brasil e nos estados é um absurdo que deve ser combatido — disse o líder do PP, André Fufuca (MA), partido que compõe a base do governo Bolsonaro.

Em reunião de líderes na residência de Lira na tarde desta terça-feira, foram discutidas versões mais "brandas" do projeto. Uma seria a responsabilização cível — obrigando ao pagamento de indenização, por exemplo — de institutos que fizerem sondagens em que o resultado das urnas ficar muito longe da margem de erro. Outra seria a proibição da divulgação de pesquisas 15 dias antes do pleito.

Não se chegou a um acordo entre os líderes e, por isso, foi votada apenas a urgência de projetos já existentes, com o compromisso de debater um novo texto após o segundo turno das eleições.

Base do governo a favor

O que a mídia pensa – Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões

Moro, o inimigo da Lava Jato

O Estado de S. Paulo

Ao apoiar Bolsonaro, a quem acusou de interferir na PF, Moro diz que a lei é só para os inimigos e que, na política, vale tudo. É a antítese perfeita da mensagem renovadora da Lava Jato

A Operação Lava Jato teve dois grandes méritos. Em primeiro lugar, mostrou que a lei vale para todos – ricos e pobres, empresários e políticos, poderosos e anônimos. Todos devem responder por seus atos. Longe de significar uma obviedade, a recordação desse princípio republicano básico – todos são iguais perante a lei – representou uma revolução na percepção sobre a Justiça brasileira, que, até então, quase sempre tinha se mostrado conivente com a impunidade dos poderosos.

O segundo grande mérito da Lava Jato foi mostrar ao País que a política não pode prevalecer sobre a lei. Toda a atuação política deve estar submetida ao império da lei – e isso vale também para as estatais e empresas de capital misto, para as indicações de cargos, para as licitações, para os acordos partidários, para as doações de campanha. Nada está fora do alcance da lei.

Trata-se de dois grandes legados da Operação Lava Jato, que transcendem, em boa medida, os resultados dos próprios processos penais. Seja qual for o encaminhamento que um caso tenha recebido ou venha a receber, é de reconhecer que o País adquiriu, com a Lava Jato, um outro patamar de exigência em relação ao cumprimento da lei.

Poesia | Fernando Pessoa - Mar português

 

Música | Edu Lobo / Orquestra Brasil Jazz Sinfônica - Choro Bandido