quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Luiz Carlos Azedo: Jair Bolsonaro está em rota de colisão com a Fiesp

Correio Braziliense

Fracassaram os esforços da cúpula da Fiesp, que articula o manifesto dos empresários em defesa da democracia e das urnas eletrônicas, para que todos os candidatos à Presidência assinassem o documento, numa espécie de pacto de respeito mútuo ao resultado das eleições. Ontem, o Palácio do Planalto anunciou que Jair Bolsonaro não subscreverá o documento, assinado por entidades empresariais e federações sindicais de trabalhadores, e cancelou a ida do presidente da República ao lançamento do documento, no dia 11 de agosto, na sede da Fiesp. Também foi cancelado o jantar com empresários que estava programado.

A ida de Bolsonaro à Fiesp fora antecipada para 11 de agosto a pedido do Palácio do Planalto. Para evitar mais constrangimentos, o recolhimento de assinaturas de apoio ao manifesto da federação ficou restrito às entidades empresariais e sindicatos de trabalhadores, para que as assinaturas dos candidatos dos presidentes fossem recolhidas antes de as pessoas físicas aderirem o documento. Ocorre que Bolsonaro não digeriu as manifestações em defesa da urna eletrônica, da Justiça Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal (STF), e torpedeou as iniciativas.

Maria Cristina Fernandes - Baderna à beira-mar

Valor Econômico

Não é coincidência que ameaça bolsonarista convirja com palanque petista em colisão no Rio

No momento em que o presidente Jair Bolsonaro se organiza para uma exibição de baderna no Rio no 7 de setembro, o palanque eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Estado entra em rota de colisão. E nada disso é coincidência.

Em setembro de 2020 apareceram novos trechos da delação do ex-secretário Edmar Santos que levantavam suspeitas sobre a participação do então governador em exercício, Cláudio Castro, do PL, e do presidente da Assembleia Legislativa do Rio, André Ceciliano, do PT, num suposto esquema de propinas na Secretaria de Saúde do Rio.

Ambos negaram a acusação e, como o procurador-geral da República, Augusto Aras, atendeu ao pedido do presidente da República para não colocá-los no mesmo balaio de Wilson Witzel, removido do Palácio da Guanabara, ficou tudo por isso mesmo.

Daí conclui-se que Bolsonaro tem Castro e, consequentemente, sua polícia militar, na mão, circunstância inexistente no 7 de setembro do ano passado, quando a PM de São Paulo foi mantida sob rédea curta.

Se não se promove um golpe de Estado com um desfile militar na Avenida Atlântica, é, sim, possível, quando se tem controle da polícia, orquestrar atentados, ocultar mandantes e provocar um fato político a menos de um mês do primeiro turno. Foi isso que aconteceu em 2018 quando mataram Marielle Franco num Rio sob intervenção militar.

Cristiano Romero - Economia e democracia

Valor Econômico

Economias precisam de regime democrático para florescer

No domingo passado, o empresário Abílio Diniz sofreu a maior dor que pode se abater sobre um pai - a morte, causada por infarto fulminante, de seu filho João Paulo Diniz, aos 58 anos. Atleta como o pai, João Paulo sofria de doença congênita no coração. Pai de seis filhos, Abílio está devastado. A partida de um descendente é antinatural.

Quis o destino, este pregador de peças, que no mesmo domingo, 31 de julho, uma declaração infeliz do empresário fosse veiculada pelo jornalista Lauro Jardim, de “O Globo”. Na contramão de dezenas de seus pares, Abílio não assinar o manifesto em defesa da democracia - batizado de “Carta aos brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito” -, organizado pela Faculdade de Direito da USP e lançado no dia 26 de julho.

O documento recebeu mais de 500 mil assinaturas, entre elas, de lideranças dos trabalhadores e empresariais, de juristas, magistrados, acadêmicos, políticos, advogados, jornalistas, economistas, cientistas e personalidades do mundo cultural e social. No próximo dia 11, data em que se comemora anualmente o aniversário do Centro Acadêmico da tradicional faculdade de Direito da USP, a carta será lida em manifestação que tem tudo para expressar a preocupação, nada frívola, de grande parcela da sociedade brasileira com a interrupção da ordem constitucional.

Mario Mesquita - 2023 e 2022

Valor Econômico

Dados os riscos externos, a probabilidade do PIB brasileiro crescer menos de 0,4%, ou retroceder, em 2023 não é baixa

Na atualização mais recente do seu Panorama Econômico Mundial, o FMI reduziu a projeção para a taxa de crescimento da economia mundial de 3,6% em 2022 e 2023 para 3,2% no ano corrente e 2,9% no próximo - abaixo da taxa média de crescimento do PIB mundial nos últimos 20 anos, 3,6%. As revisões para 2023 foram particularmente intensas no que se refere a algumas economias avançadas: de 2,3% em 2022 para 1% nos EUA, com redução de 2,3%, no mesmo horizonte, para 1,2% na área do Euro.

Não apenas o Fundo reduziu as projeções de crescimento, mas apresentou uma lista de riscos de baixa para a atividade, sem nenhum risco de alta. Vale repassar a lista, bem como possíveis implicações para a economia brasileira. Em linhas gerais nota-se que, segundo as contas dos economistas do Itaú, cada ponto percentual a menos no crescimento global ocasiona uma redução de 0,4 pontos percentuais no crescimento brasileiro.

O primeiro risco apontado pelos economistas de FMI viria de altas adicionais dos preços de energia ocasionados pela guerra na Ucrânia. O foco de preocupação é a potencial redução da transmissão de gás da Rússia para a Europa Central e Ocidental. Uma interrupção total das entregas poderia acarretar forte alta da inflação regional e global.

William Waack - Elites frustradas

O Estado de S. Paulo

O protesto da carta é mais amplo do que a defesa das eleições

Jair Bolsonaro não entendeu a natureza política mais abrangente da carta em defesa da democracia. Assim como não entendeu até hoje a natureza da onda disruptiva que o levou – para própria surpresa – ao Palácio do Planalto.

O PT também não havia entendido a natureza dos movimentos de protesto de 2013, e pagou por isso um preço alto em 2016. Em cada uma dessas ocasiões (2013, 2016 e 2018) o solavanco foi causado por movimentos de elites descontentes talvez consigo mesmas.

É o que está acontecendo agora. A sensação é a de que o Brasil está se desfazendo em pedaços, sem que as eleições sinalizem como juntar os cacos. Ao contrário: elas evidenciam o triunfo do regionalismo. Tanto Bolsonaro como Lula se apresentam como “líderes nacionais”, mas é só no nome.

Os dirigentes do PT, que no momento possuem uma visão mais abrangente do processo político (e seu horizonte está há tempos em 2023), entenderam que os milhares de assinaturas no texto não são endosso automático da candidatura Lula. Bolsonaro, preso à sua extraordinária limitação cognitiva, acha que se trata de evento apenas contra ele.

Adriana Fernandes - A conta já chegou

O Estado de S. Paulo

A redução do ICMS deve se transformar numa nova guerra nos tribunais como foi com a Lei Kandir

As liminares do Supremo Tribunal Federal para que Estados compensem a perda de arrecadação com a redução do ICMS, por meio do abatimento das parcelas de prestações mensais de suas dívidas com a União, colocam antecipadamente na mesa um dos maiores problemas para as contas públicas em 2023.

Os analistas estão mapeando o alcance desse impacto, e já se fala na necessidade de acionar um botão de restart na relação do Tesouro Nacional com os governos regionais.

Um dos pontos da discórdia ainda não veio à tona, mas já é tratado nas conversas de bastidores, segundo apurou a coluna.

Celso Ming - Juros podem ir a 14% em setembro

O Estado de S. Paulo.

Nesta quarta-feira, o Copom aumentou a Selic pela 12ª vez consecutiva, agora em 0,5 ponto porcentual, para 13,75% ao ano (veja o gráfico). E sugeriu que na próxima reunião agendada para setembro voltará a apertar o volume de dinheiro. Pretende subir os juros em mais 0,25 ponto porcentual, para 14,0% ao ano. Diante das múltiplas incertezas pela frente, avisou que agirá com muita cautela.

Não há clareza sobre o calibre da recessão a ser enfrentada pela economia global. Os fluxos de produção e distribuição continuam conturbados pela nova onda de covid na China e a guerra na Ucrânia. Isso vem aumentando as apostas na queda dos preços do petróleo e das matérias-primas. Mas a inflação atingiu, em junho, níveis inimagináveis, de 9,1% em 12 meses nos Estados Unidos e de 8,6% na zona do euro, situação que pode ter dinâmica própria e exigir mais aumento dos juros.

Maria Hermínia Tavares* - O voto dos pobres

Folha de S. Paulo

Lula e Bolsonaro sabem que não se chega ao Planalto sem apoio da maioria dos brasileiros de baixa renda

A dois meses das eleições, só quem gosta de brigar com os fatos pode duvidar que a disputa pelo Palácio do Planalto se dará entre Lula e Bolsonaro. Numa eleição dominada por temas socioeconômicos, eles sabem que não se chega lá sem apoio da maioria dos brasileiros mais pobres.

Hoje, o petista desfruta de robusta vantagem entre os milhões de eleitores de renda irrisória: o dobro das intenções de voto dos 70% da população na faixa de até dois salários mínimos, apurou o Datafolha.

Partidários otimistas do presidente —e analistas afoitos— acreditam na força do Auxílio Brasil, há pouco vitaminado, para apequenar tal diferença. Mas não é bem assim, diz quem entende do riscado.

Bruno Boghossian – Entre Janones e Freixo

Folha de S. Paulo

Acerto com nanicos para favorecer ex-presidente coincide com embate entre petistas e PSB no Rio

A campanha de Lula foi atrás de três conhecidas bancas do feirão partidário para fechar negócio na corrida presidencial. O petista costurou a desistência de Luciano Bivar (União Brasil), fechou uma aliança com a nova direção do Pros e está prestes a confirmar a saída de André Janones (Avante) da disputa.

Lula decidiu fazer um investimento pesado nesse trio de nanicos na reta final do período de definição das candidaturas deste ano. O plano do ex-presidente é tirar de campo nomes que poderiam ser a opção de 2% ou 3% dos eleitores e melhorar os cálculos para ampliar suas chances de vitória no primeiro turno.

Ruy Castro - Bolsonaro prepara a guerra civil

Folha de S. Paulo

Não é exagero; ele não tem mais nada a perder

Abra o olho, porque as coisas vão esquentar. Bolsonaro está a ponto de perpetrar um grande absurdo, maior do que tudo que cometeu até hoje --algo que porá contra ele até setores que ainda o apoiam no Congresso e nas Forças Armadas. Fará isto de caso pensado. A intenção é provocar uma medida, vinda não se sabe de onde, que o impeça de concorrer às eleições. Isso insuflará o seu discurso de que só assim conseguem derrotá-lo e convocará para a briga seus seguidores, que detêm hoje um poder de fogo maior que o dos quartéis.

Conrado Hübner Mendes* - Corrupção bolsonarista, capítulo 8

Folha de S. Paulo

O significado de 'legalização das milícias' e o 'valor' das armas

Sabe-se há 30 anos que não há proposta de Bolsonaro para o Brasil que não namore a morte. Desde "matar uns 30 mil" até autorizar polícia a chacinar pobre sem satisfação nem luto: seu repertório se bastava nisso. Deus e "kit gay" vieram depois, quando atinou virar presidente e abraçou comerciantes da religião. Encontrou um Deus com sanha arrecadatória.

Demos pouca atenção a outra ideia que se deixava ofuscar pelas propostas de morte: a "legalização das milícias". Se procurar texto do cérebro bolsonarista que explique a iniciativa, encontrará falas parlamentares de Jair e Flávio. E muito jornalismo declaratório que citava discursos, mas não indagava sobre o conceito.

Flávio resumiu: "As classes mais altas pagam segurança particular, e o pobre, como faz para ter segurança?" A Constituição promete direito à segurança pública. O bolsonarismo oferece arma e milícia. Se miliciano cobrar "tarifa", o bolsonarismo legaliza o pagamento isento de imposto. A vida miliciana está aberta a empreendedores. Dispensa concurso.

Malu Gaspar - enquadrando o Supremo

O Globo

Nos bastidores, há a expectativa de que ministros usem discussão sobre lei de improbidade para fazer um 'gesto de boa vontade' em relação a determinadas lideranças políticas

Quando o Congresso aprovou a nova Lei de Improbidade Administrativa, em outubro passado, esquerda, direita e Centrão comemoraram em uníssono. Tamanha união demonstrou que, quando se trata de salvar a própria pele, a famigerada polarização ideológica simplesmente desaparece.

Da mesma forma, desapareceram da lei boa parte das condutas antes consideradas ilícitas — do assédio sexual e moral à carteirada, da tortura nas prisões à interferência de governantes nas instituições de Estado. Nos casos que continuaram sendo punidos, como enriquecimento ilícito, tráfico de influência, desvio de recursos públicos, ficou bem mais difícil enquadrar os responsáveis e bem mais fácil a prescrição de casos.

Também passou a ser preciso provar que o acusado agiu com dolo ou má-fé. Agora, se o sujeito disser que “foi sem querer querendo” ou que não sabia das irregularidades, é bem provável que escape da condenação.

Já poderia ser considerado um ótimo negócio para os enrolados com esse tipo de acusação, mas uma característica marcante do político brasileiro é que nunca está satisfeito. A acachapante maioria obtida no Congresso para aprovação da lei deu aos caciques partidários ânimo para ousar mais, e com isso chegamos ao surreal julgamento iniciado ontem no Supremo Tribunal Federal (STF).

Míriam Leitão - Porta entreaberta para alta de juros

O Globo

Se os juros subirem na próxima reunião, será a 11 dias das eleições, mas as incertezas das contas públicas exigem atenção do Banco Central

Os juros subiram para 13,75%, e o recado mais importante foi o de que as taxas ainda podem ter um “aumento residual, de menor magnitude em sua próxima reunião”, segundo o Banco Central. Com isso, os juros talvez terminem esta temporada de altas em 14%. Havia dúvidas sobre se o BC encerraria o ciclo ou deixaria a porta aberta para nova alta. Deixou entreaberta. A próxima reunião será realizada em 20 e 21 de setembro, a onze dias das eleições e após duas deflações. Existem motivos para parar de subir as taxas, porém, há dúvidas sobre a economia global e a brasileira.

Se as dúvidas no Brasil fossem só econômicas, estaria bom. O grande temor que paira sobre o país neste fim de ano é político. Por causa dos ataques sem tréguas do presidente contra a ordem democrática, o país está vivendo uma eleição geral como se fosse um plebiscito terminal sobre a democracia. Um vida ou morte, um tudo ou nada. Nesse clima, olhar os comunicados do Banco Central e tentar achar sentido neles pode parecer uma tarefa fora de propósito. Mas a economia está sempre em diálogo com todo o resto. Por exemplo, para tentar ganhar a eleição, o governo baixou imposto e adotou medidas eleitoreiras. Resultado, os preços administrados terminarão o ano em queda de 1,3%, registra o BC. No ano seguinte, contudo, haverá o efeito rebote e esses preços podem subir 8,4%. Por dever de ofício o Banco Central tem que olhar além do horizonte político.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões

Bolsonaro e Centrão arruínam as instituições

Valor Econômico

Bolsonaro exterminou as pastas da Saúde, Educação e Meio Ambiente e cooptou para a defesa de seus interesses órgãos da República, como a PGR

A degradação institucional promovida pelo presidente da República e pelos líderes do Centrão no Congresso é ampla e profunda. Não terminou ainda e está exclusivamente marcada por interesses eleitorais de Bolsonaro e dos partidos fisiológicos em aumentar suas bancadas para continuar parasitando o Orçamento no próximo governo, seja qual for.

A barreira para impedir o impeachment de Bolsonaro foi erguida ao preço de entregar a PP, PL, Republicanos e outras legendas fisiológicas o controle orçamentário. O resultado foi a criação das emendas do relator, cuja falta de transparência foi condição essencial para a distribuição de dinheiro público a currais eleitorais demarcados pelos caciques dos partidos governistas. Há rastros fortes de corrupção nas obras que financiaram e a Polícia Federal está no encalço de um dos ninhos de propulsão de obras irregulares, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, enquanto que os repasses de grande parte das emendas secretas para a Codevasf aguarda investigações sérias. Ambos são dirigidos por pessoas indicadas pelo PP, do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.

Poesia | Adélia Prado - Terra de Santa Cruz

 

Música | Flavia Dantas - Samba da Legalidade (Zé Keti)