Após demonstrar que todos
são filósofos, ainda que a seu modo, inconscientemente — já que, até mesmo na
mais simples manifestação de uma atividade intelectual qualquer, na
“linguagem”, está contida uma determinada concepção do mundo — , passa-se ao
segundo momento, ao momento da crítica e da consciência, ou seja, ao seguinte
problema: é preferível “pensar” sem disto ter consciência crítica, de uma
maneira desagregada e ocasional, isto é, “participar” de uma concepção do mundo
“imposta” mecanicamente pelo ambiente exterior, ou seja, por um dos muitos
grupos sociais nos quais todos estão automaticamente envolvidos desde sua
entrada no mundo consciente (e que pode ser a própria aldeia ou a província,
pode se originar na paróquia e na “atividade intelectual” do vigário ou do
velho patriarca, cuja “sabedoria” dita leis, na mulher que herdou a sabedoria
das bruxas ou no pequeno intelectual avinagrado pela própria estupidez e pela
impotência para a ação), ou é preferível elaborar a própria concepção do mundo
de uma maneira consciente e crítica e, portanto, em ligação com este trabalho
do próprio cérebro, escolher a própria esfera de atividade, participar
ativamente na produção da história do mundo, ser o guia de si mesmo e não mais
aceitar do exterior, passiva e servilmente, a marca da própria personalidade?”
*Antonio Gramsci(1891-1937),
“Cadernos do Cárcere, v.1, p.93-4, 4ª Edição. Civilização Brasileira, 2006.