O Globo
Depuração do Cadastro Único vira uma arma
para fritar Wellington Dias e entregar ministério e a chave do Bolsa Família ao
PP
Voltar atrás de medidas eleitoreiras,
populistas ou excepcionais é um dos principais desafios das democracias nos
tempos de hoje. Lula foi eleito para fazer o contrário do que Jair Bolsonaro
fez. E isso inclui desarmar várias bombas que ele deixou no vale-tudo para se
reeleger.
Mas como fazer isso em casos nos quais
desfazer a arapuca bolsonarista significa exibir números mais modestos que os
do antecessor justamente na área social, carro-chefe das gestões e das
campanhas petistas desde que o partido chegou ao poder, em 2003?
Esse dilema já tinha aparecido na decisão
de voltar atrás no subsídio aos combustíveis que o ex-presidente concedeu no
pacote de desespero de 2022.
Agora, a bem-vinda depuração do Cadastro Único — que veio junto com outra medida acertada, a busca ativa para incluir no programa pessoas e famílias que de fato precisam ter renda, mas estavam alheias ao sistema — vira uma arma para fritar o ministro Wellington Dias e entregar a pasta ao PP, partido que comandava a Casa Civil de Bolsonaro e que é presidido por Ciro Nogueira, justamente quem está fazendo o maior estardalhaço sobre Lula ter minguado o benefício, nas redes sociais. No mínimo irônico, para não dizer nonsense.