terça-feira, 23 de novembro de 2010

Reflexão do dia – Antonio Gramsci

Conexão entre o senso comum, a religião e a filosofia. A filosofia é uma ordem intelectual, o que nem a religião nem o senso comum podem ser. Ver como na realidade, tampouco coincidem religião e senso comum, mas a religião é um elemento do senso comum desagregado. Ademais, “senso comum” é um nome coletivo, como “religião”: não existe um único senso comum, pois também ele é um produto e um devir histórico. A filosofia é a crítica e superação da religião e do senso comum e, nesse sentido, coincide com o “bom senso”, que se contrapõe ao senso comum.


(Antonio Gramsci, Cadernos do Cárcere, pag. 96 – volume I, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2006)

Principado novo e bola de cristal:: Luiz Werneck Vianna

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Para onde vamos depois que se findar esse longo entreato entre as eleições e a posse da candidata eleita, quando inauguramos principado novo? Por ora, de ciência certa, somente sabemos que o mar não vai virar sertão e nem o sertão vai virar mar. Dantes, em igual circunstância, os futuros presidentes programavam longas viagens, sob os mais variados pretextos, a fim de que, distantes de pressões, pudessem montar sua equipe de governo e definir os rumos estratégicos e as medidas de impacto com que imporiam suas marcas no exercício da Presidência.

Menos afortunada que eles, a presidente eleita não deve contar com esse trunfo antes de ser entregue à voragem dos acontecimentos que estão destinados a surpreendê-la nos quatro anos do seu mandato, que já nascem sob o signo de uma dúvida letal: programa-se para um mandato ou para dois? Trata-se de um governo tampão, sob a guarda de uma criatura que apenas ocupa por um tempo determinado um lugar reservado ao seu criador, aplicada à leitura, mesmo que criativa, de uma pauta já conhecida, ou de uma presidente que vai se aventurar nos mistérios da composição de uma peça nova? Mais que inédita na moderna república brasileira, essa má disposição dos fatos impõe à dramaturgia que ora entra em cena com o mandato de Dilma Rousseff um elemento estranho ao especificamente político em razão das conotações pessoais envolvidas, e que podem interferir no curso de suas ações.

De outro lado, já se pode saber que a parte dura do núcleo governamental será constituída por quadros formados na administração do mundo sistêmico, nele consagrados por seus desempenhos na condução das finanças, da indústria, dos serviços e do agronegócio, com os quais vai se dar sequência ao atual movimento de expansão e aprofundamento capitalista do país e da sua inserção no sistema mundial. Nesse núcleo não deverá haver lugar privilegiado para operadores especializados na leitura do fato político, como foram José Dirceu e Franklin Martins, aplicados monotematicamente a questões relativas à conservação e à reprodução do poder. Se tal linha de interpretação estiver correta, o perfil do próximo governo acabará confirmando o que foi o tom predominante na campanha eleitoral: mais próximo da agenda da administração do que da política.

Nesse sentido, as políticas públicas orientadas para o social deverão ser objeto de uma forte racionalização, o que deve importar uma maior autonomia na sua implementação diante dos partidos que compõem a ampla base aliada de sustentação congressual do governo. Tanto o cenário interno como o externo, sobretudo este, apontam para essa mesma direção, em que deveremos ter um governo de economistas, a começar pela própria presidente, em que os temas da macroeconomia devem sair dos gabinetes dos doutos para se tornarem linguagem corrente entre os partidos e os políticos. A oposição será obrigada a criar um sucedâneo de um gabinete das "sombras", apto a desafiar, no mesmo idioma, os rumos governamentais.

Pois, de fato, a economia-mundo, na rica expressão do sociólogo Immanuel Wallerstein, entrou em crise sistêmica com a assim chamada guerra cambial, parecendo nos querer devolver a uma cena internacional de marcação hobbesiana. Ressurge, ao menos no plano da retórica, o primado do princípio da soberania nas relações entre as nações sobre as concepções e práticas, como as do Direito Internacional e de suas instituições, que, nessas últimas quatro décadas, visaram moderar a sua influência nas relações entre Estados. Os mercados nacionais, em um tempo de globalização, ameaçam regredir a práticas abertas ou veladas de protecionismo, sob o risco de converter uma crise cambial em uma guerra comercial efetiva.

Os resultados da última reunião do G-20 deixaram patente a afirmação do princípio da soberania sobre as considerações assentadas em princípios de cooperação internacional. A política impõe-se à economia, com os países que lideram o mercado mundial instituindo, como recursos estratégicos para a defesa de suas hegemonias, políticas monetárias de desvalorização de suas moedas nacionais. Nesse cenário, não há lugar para a livre movimentação de capitais, especialmente, como anota Paulo Nogueira Batista Jr, quando "o principal emissor de moeda internacional [os EUA] adota políticas monetárias ultraexpansivas" ("O Globo", 13/11/10).

Será sob os auspícios dessa crise, que Dilma entrará em cena, tendo que fazer várias escolhas de Sofia, uma vez que não terá como contemplar a todos, marca política do governo a que sucede, inclusive por que os constrangimentos sistêmicos a que o país está exposto lhes chegam, em grande parte, do novo estado de coisas reinantes no mundo e que imperativamente exigem respostas adequadas. Nesse contexto, inevitável as pressões por algum nível de ajuste fiscal e pela reforma trabalhista e tributária - essa última já anunciada pela notícia de que o governo Dilma se vai empenhar em medidas de desoneração da folha salarial -, contrapondo interesses que, sob os mandatos de Lula, coexistiram em boa paz.

Assim, a espécie de concordata entre o mundo sistêmico e a política, sempre sob a arbitragem de Lula, que bafejou o governo que ora se conclui, deve encontrar seus limites. As políticas de defesa da atividade industrial e do agronegócio, de difícil composição diante da crise cambial, consistirão, entre outras agendas conflitivas pesadas, em um duro teste para ela. A previsão faz parte da análise política, e, no caso, parece razoável supor que a liberação de tantas tensões represadas no interior do Estado, que agora tendem a se desviar para o terreno livre da sociedade civil, venha a ativar os movimentos sociais e a animar em um impulso de baixo para cima os partidos, principalmente os de esquerda.


Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iesp-Uerj. Ex-presidente da Anpocs, integra seu comitê institucional. Escreve às segundas-feiras

O futuro de Lula:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O presidente Lula dá a cada dia mais sinais de que não convive bem com a idéia de largar o poder, a começar pela explícita interferência na montagem do primeiro ministério da presidente eleita Dilma Rousseff, sua criatura eleitoral que vai dando também demonstrações de uma insuspeitada habilidade para lidar com os constrangimentos que a sede de poder de Lula lhe causa publicamente.

Lula, apesar de toda popularidade, já está sentindo o gostinho ruim do poder que se esvai. Na recente reunião do G-20, não apenas não lhe prestaram as homenagens que provavelmente aguardava, por ser aquela a sua última participação no fórum hoje mais importante dos chefes de Estado do mundo, como teve que ver Dilma ser mais assediada do que ele pelos jornalistas, e não apenas do Brasil.

O sinal de que a realidade do “rei morto, rei posto” é mais dura do que sua simples enunciação da boca para fora, foi dado pelo magnata Ruppert Murdoch, que cancelou um pedido de audiência para esperar a posse de Dilma.

O fato de que a família Lula da Silva vai se mudar de São Bernardo do Campo para a capital paulista já é um indicativo de que a nova dimensão política de Lula não cabe na cidade que o viu crescer para as homenagens internacionais, mas até agora Lula tergiversa quanto ao que vai fazer no futuro.

O Brasil oficializou sua decisão de disputar a direção-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), mas não antecipou o nome de seu candidato, procedimento inusual.

Atribuiu-se esse ineditismo à possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vir a concorrer ao posto, que sem dúvida tem tudo a ver com sua disposição de se dedicar ao combate à fome no mundo depois de deixar o governo, através da criação de uma ONG.

Mas é improvável que Lula tente uma carreira em organismos internacionais, embora seja certo que será a mais nova estrela do circuito internacional de palestras, o que já faz com que assessores e amigos lhe sugiram que para cada palestra milionária – dizem que pode ganhar mais de U$ 100 mil por palestra no primeiro depois de deixar o cargo – faça duas de graça para movimentos sociais e ONGs.

Há também diversos títulos de doutor honoris-causa de universidades de todas as partes do mundo, que Lula deve receber assim que deixar o Palácio do Planalto.

Mas, para futuro desespero de Dilma, o interesse de Lula parece continuar sendo a política interna.

Lula já disse que pretende se empenhar para organizar a esquerda brasileira, apesar de já ter dito em diversas ocasiões que não é de esquerda.

Quer também ajudar a debater, dentro do PT, uma reforma política, para depois convencer os outros partidos.

Lula já deixou claro que não pretende se aposentar da política, mas é contraditório com relação a sua relação com o PT:

“Estou muito otimista. Eu tenho convicção de que nunca haverá tempo para uma pessoa que construiu a relação que eu construí, seja política, seja sindical, seja com o movimento social, seja com empresários, de ficar parado. Ou seja, eu vou ter muita tarefa. Agora, a única coisa que eu não quero é ter tarefa dentro do governo e também não dentro do partido que eu não quero voltar para dentro do partido".

De outra feita, Lula revelou que pretende voltar a viajar pelo Brasil. “Eu quero voltar a viajar o Brasil, porque tem muita coisa que a gente começou, tem muita coisa que foi concluída, muita coisa que não foi concluída, e eu não tenho como desaparecer da minha relação com a sociedade de uma hora para outra”, comentou.

Lula mesmo tem dúvidas se está preparado para ser um ex-presidente: “Eu espero que eu esteja preparado para o dia dois. Você levantar de manhã, não ter ninguém para eu xingar, tem só a Marisa, com muito mais poder do que eu”.

Numa sexta-feira, 29 de Outubro, na comemoração de seu último aniversário como presidente, pelo menos nos próximos quatro anos, Lula ficou com a voz embargada e desistiu de falar, deixando claro que ainda não está lidando bem com o fato de seu mandato estar terminando.

- Com toda a sinceridade, eu preferia que este dia nunca tivesse chegado - disse Lula, referindo-se ao último aniversário como presidente.

Antes, em várias ocasiões Lula havia feito referência ao fato de que não pode se candidatar a um terceiro mandato consecutivo.

Certa ocasião, em uma solenidade no Palácio do Planalto, brincou com o vice-presidente José de Alencar dizendo que por ele continuaria mais tempo na Presidência “mas o pessoal não quer, não é Zé, e democracia é isso mesmo, temos que respeitar”.

Outra dessas vezes foi em agosto, quando ele lamentou ironicamente não ter mandado ao Congresso uma emenda à Constituição que lhe permitisse aumentar o seu mandato na Presidência da República.

"Está certo que está no final do mandato, mas junto com esta lei complementar podia ter mandado uma emendinha para mais alguns anos de mandato", disse ele, ao sancionar alterações na Lei Complementar 97, que amplia os poderes do Ministro da Defesa.

Ele já havia explicitado essa dificuldade em meio à campanha eleitoral, quando ressaltou que essa seria a primeira eleição, “desde que voltou (sic) as eleições diretas para presidente, que o meu nome não vai estar na cédula. Vai haver um vazio naquela cédula”, disse Lula, que desde 1989 foi candidato à presidência da República.

Em novembro, Lula disse em Moçambique, com sinceridade, que vai sentir “falta dos microfones” quando deixar o poder, em janeiro do ano que vem.

Ou não.

Inteligência de Estado:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Nenhum Estado pode prescindir de um setor de inteligência, reza o bom senso. O presidente Luiz Inácio da Silva, no entanto, não parece compartilhar dessa constatação, já que deixou o Gabinete de Segurança Institucional se esvaziar ao ponto de ser hoje uma estrutura inerte. Não obstante, ampla.

Ligado diretamente à Presidência da República, o GSI tem entre suas atribuições a assistência ao presidente, a prevenção e articulação de crises, cuida da segurança pessoal do presidente, do vice-presidente, das famílias e respectivas moradias. Além disso, deve coordenar atividades federais de segurança e informação.

No quesito assessoramento presidencial, a medida da serventia do gabinete atualmente é dada pelo grau de relacionamento entre Lula e o general Jorge Félix: nenhum. Segundo relatos de um interlocutor frequente do presidente, ele sequer conversa com o chefe do Gabinete de Segurança Institucional.

Não porque tenha qualquer restrição a ele, mas porque não confere importância à função do general. Desde a crise dos grampos telefônicos clandestinos que resultou na transferência do então chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin, que está sob o comando do GSI), Paulo Lacerda, para Portugal, Lula desdenha dos alertas sobre a necessidade de remontagem do setor.

Corre como piada no ambiente do poder, a lembrança de que o gabinete não conseguiu prever a vaia a Lula durante a abertura dos Jogos Pan-americanos no Rio, em 2007, que antes circulava na internet.

Deveria ser da Abin também a função de esmiuçar vidas pregressas e acompanhar as atividades de ocupantes do governo para prevenir escândalos.

Mas, se Lula não quer contar com uma estrutura organizada e atuante de inteligência, Dilma Rousseff tem sido aconselhada a incluir o setor de segurança institucional entre suas prioridades de governo.

@realporquinhos. Os "três porquinhos" de Dilma Rousseff, Antonio Palocci, José Eduardo Dutra e José Eduardo Cardoso, receberam o apelido pela óbvia associação aos inseparáveis alvos da cobiça do lobo mau da história infantil.

Já Edison Lobão, Marcondes Gadelha e Hugo Napoleão, em 1989 ficaram conhecidos pelo mesmo nome por causa das articulações heterodoxas para lançamento da candidatura presidencial de Silvio Santos 40 dias antes das eleições. Candidatura esta barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Posto avançado. Os tucanos de São Paulo acham ótimo que o prefeito Gilberto Kassab vá para o PMDB. Preferem ver o partido nas mãos de Kassab que sob a influência do PT.

Eles acreditam que assim o PMDB pode funcionar como uma espécie de anexo, junto com o DEM que seria comandado por Guilherme Afif Domingos, vice do governador eleito Geraldo Alckmin.

Mas há um "porém" que pode desvanecer o entusiasmo do tucanato: a disposição implícita na mudança de Kassab e a intenção explícita do PT paulista de formarem aliança futura.

Para dar combate ao grupo de Alckmin.

Maiores e menores. A distribuição de gabinetes do Senado, quando não obedece à regra do pistolão, é feita mediante um "ranking" de merecimento de conforto por ordem hierárquica.

Ex-presidentes da República têm direito aos melhores. Em seguida vêm os que já foram governadores, os que já presidiram a Casa, os que foram senadores e agora voltam, os com maior número de mandatos e por último os novatos.

Isso numa instituição de representação democrática, onde o critério mais justo seria o do sorteio.

Budapeste. José Serra voltou de viagem ainda sem saber o que fará da vida política. Está, digamos, na fase das "oitivas".

Instalado no antigo escritório, Serra anda fascinado por dois assuntos: a crise monetária internacional e a Hungria, onde esteve recentemente.

O ponto de mutação :: Raymundo Costa

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Começou mal a formação do governo Dilma Rousseff. A presidente eleita tem um ministro da Fazenda, Guido Mantega, cujo nome não anunciou, vazou para a imprensa, e um presidente de Banco Central, Henrique Meirelles, que ainda não foi convidado, nem sequer falou com Dilma, mas teria imposto condições para aceitar o cargo. Tudo leva a crer que Meirelles pisou numa casca de banana, só não está claro quem a jogou em seu caminho.

Composições governamentais são momentos de tensão, assim como as reformas ministeriais, mas é muito alta a voltagem em Brasília nestes dias que antecedem a posse de Dilma Rousseff. A presidente eleita tem emitido sinais ambíguos no que se refere à constituição da equipe econômica.

Nos bastidores há uma queda-de-braço entre grupos diversos que deve se estender e pode comprometer o mandato de Dilma Vanna Rousseff. De uma composição equilibrada dependerá o sucesso do governo da primeira mulher presidente.

Há notícias de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou aborrecido por Meirelles ter vazado à imprensa que impusera a independência do BC como condição par permanecer no cargo. "Faca no pescoço", teria sido a expressão usada pelo presidente da República.

Ao que se sabe, Meirelles limitou-se a confirmar que está marcada para esta semana uma conversa sua com Dilma. O noticiário "off the record", evidentemente, pode ter origem no próprio Meirelles, que como ninguém sabe se movimentar no serpentário brasiliense. Mas pode também ter sido no Palácio do Planalto, na Fazenda ou na equipe de transição, locais onde não faltam adversários do modo do de ver a política monetária do presidente do BC.

Antes do incidente, o que Lula e Dilma discutiam - a equipe de transição, talvez com a exceção de Antonio Palocci, pouco ou quase nada interfere nesta discussão - era se Meirelles seria convidado a ficar por algum tempo, por dois anos ou por todo o mandato da presidente eleita.

Neste jogo de pressões e contrapressões, nem sempre hoje é carta fora do baralho o que ontem estava descartado. Mas no fim de semana passado o figurino que emergiu da reunião do Diretório Nacional do PT, a qual Dilma compareceu, tem mais o perfil da presidente eleita e do ministro Mantega que o de Meirelles: o economista Luciano Coutinho, presidente do BNDES.

É mais um nome, como outros que estão na praça. Tem a vantagem de ser mais afinado com a presidente eleita e com o ministro da Fazenda de Lula - e de Dilma, a partir de janeiro -, Guido Mantega. E ainda de abrir a vaga no BNDES para o deputado Ciro Gomes, o que pode resolver a equação PSB, partido que cresceu na eleição de outubro e deve manter o Ministério da Ciência e Tecnologia, a Secretaria dos Portos e algo mais que reflita seu novo status partidário.

Mas se traduz essas vantagens, o nome de Coutinho, à esta altura, também tem a desvantagem de levar desconfiança no mercado em relação à efetiva autonomia do Banco Central. Em resumo, se foi Meirelles quem vazou a suposta imposição de independência, prestou um desserviço ao país; se a origem é o Planalto, a equipe de transição de governo ou o Ministério da Fazenda, foi um tiro no pé. Não seria a primeira vez. O PT é um especialista na matéria.

Os governos Lula tiveram altos e baixos em suas diversas formações, nos dois mandatos. O final de governo é tranquilo, com a popularidade do presidente nas alturas, mas nem sempre foi assim.

A primeira formação ministerial de Lula concentrou o poder nas mãos do PT e tinha dois superministros, Antonio Palocci, na Fazenda, e José Dirceu, na Casa Civil da Presidência da República. Estrutura que desmoronou no mensalão, ainda no primeiro semestre de 2005, e foi reerguida tendo o PMDB como um dos pilares.

O PT deve ter o maior número de ministros, mas dificilmente voltará à situação anterior à de 2005. O partido saiu com fraturas das eleições, tem divisões em relação à composição de governo e não há espaço, na Esplanada dos Ministérios, para acomodar todos os interesses.

Exemplo pedagógico é o do deputado Antonio Palocci, um dos "três porquinhos" referidos por Dilma em sua passagem pela reunião do Diretório Nacional. Palocci consolidou posição na campanha de Dilma e atualmente é considerado um nome certo no governo, mas sofre cerrada oposição em setores do PT, e não só aqueles ligados ao ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel. Oposição não a que Palocci ocupe um ministério, mas que ocupe um ministério no Palácio do Planalto, tão próximo da presidente eleita a ponto de influir no dia a dia das políticas de governo. Dependendo do nome que Dilma anunciar para a presidência do BC, sem dúvida pode vir a ser um elemento de tensão com a equipe econômica.

A Agência Nacional de Saúde está com apenas três dirigentes e duas vagas. A ANS tem sido campo de batalha permanente entre os planos de saúde e os chamados "sanitaristas", defensores de maior participação do Estado. No momento, o placar está 2 a 1 para os planos, que já indicaram dois nomes, enquanto os "sanitaristas", com forte apoio no PT, querem outros dois. O governo já teve mais pressa para decidir, mas o assunto entrou em banho-maria. A presidente eleita, Dilma Rousseff, e o próximo ministro é que escolherão os nomes. O motivo provável seria a saída de José Gomes Temporão, historicamente ligado aos "sanitaristas", e isso facilitaria uma vitória dupla dos planos de saúde.

Dilma deve cumprir a promessa de tratar da reforma política logo no início de seu mandato. Mas ela não deve enviar projetos de lei ao Congresso. Inicialmente, será aberta uma espécie de audiência pública. Só por volta de junho os temas seriam transformados em projetos.


Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

Assista a entrevista de Roberto Freire no Roda Viva

DEU NO PORTAL DO PPS

Por: Da Redação

O presidente nacional do PPS e deputado federal eleito por São Paulo, Roberto Freire, foi o entrevistado do programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite de segunda-feira (22).

Na entrevista, Freire falou sobre os rumos da oposição, fez um balanço do governo Lula, deu sua opinião sobre o bolsa família e discutiu os rumos da esquerda no Brasil.

Com apresentação de Marília Gabriela, o programa também contou com a participação dos jornalistas Augusto Nunes, Paulo Moreira Leite, Ricardo Noblat e Silvio Navarro.

Assista: Clique o link abaixo:

http://www.tvcultura.com.br/rodaviva

SP:Sindicalistas sugerem nomes para secretaria

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, recebeu ontem da União Geral dos Trabalhadores (UGT) duas sugestões de nomes para ocupar a Secretaria do Emprego e das Relações de Trabalho - os do deputado estadual Davi Zaia (PPS) e do sindicalista Chico Pereira.

"O governador recebeu bem as sugestões, mas não mostrou pressa nem deu sinais de qual será sua decisão", disse Ricardo Patah, presidente da UGT. Segundo ele, Alckmin teria reconhecido, durante a campanha, que o PSDB está muito distante dos movimentos sociais. "Ele prometeu se aproximar e nada melhor que alguém que tenha a sensibilidade e a cabeça do trabalhador para a secretaria do Trabalho", defendeu Patah.

Miguel Torres, da Força Sindical, que também participou do encontro com Alckmin, disse que os sindicalistas ainda precisam chegar a um nome de consenso para a secretaria.

Na campanha, Alckmin foi apoiado por parte da UGT e da Força Sindical.

Serra deve presidir instituto tucano

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Christiane Samarco

Nem aposentadoria, nem a presidência do partido: PSDB quer colocar o ex-presidenciável à frente de centro de estudos e pesquisas
O PSDB já tem a fórmula para não entregar a presidência nacional do partido ao candidato derrotado José Serra, nem tampouco forçar a aposentadoria do expoente tucano, deixando-o sem tribuna. Para preservar aquele que arrebanhou 43,7 milhões de votos e valorizar o "racha" do eleitorado pela oposição, Serra deverá assumir a presidência do Instituto Teotônio Vilela (ITV) de estudos e pesquisas do PSDB.

Esta é a alternativa que os tucanos vislumbram para reservar a Serra um espaço confortável na estrutura partidária, que lhe permita agir como oposição tucana e não afronte as resistências à ideia de abrigá-lo na presidência da legenda, como ocorreu depois da eleição de 2002.

O tucanato avalia que a saída tem múltiplas vantagens, a começar por livrar Serra do título de "candidato derrotado", conferindo-lhe um posto de "presidente" sem aprofundar o racha entre paulistas e mineiros ligados ao senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG).

Além de ser um instituto que fica acima da legenda, o ITV tem a vantagem de ser a única estrutura que tem recursos próprios, pois conta com os repasses legais e obrigatórios do partido. No cargo de presidente, Serra vai gerir um orçamento que este ano beirou os R$ 4 milhões, suficientes para contratar uma pequena equipe de assessores.

Mais que isso: no ITV, Serra terá mobilidade para viajar pelo País e comandar a tal "refundação do PSDB" sugerida por Aécio, tarefa que também poderá ocupar o presidente de honra Fernando Henrique Cardoso e o ex-presidente da legenda Tasso Jereissati, que não conseguiu se reeleger senador pelo Ceará.

Visibilidade. Parece muito pouco para o presidenciável que sete meses atrás governava o Estado mais rico e mais populoso do Brasil, mas o partido entende que o posto pode dar visibilidade a Serra no momento em que, oito anos de governo Lula depois, os tucanos se propõem a defender a gestão FHC (1995-2002) e o trabalho dos seus governadores e prefeitos em Estados e cidades importantes do País.

Como atualmente o ITV é presidido pelo deputado serrista Luiz Paulo Vellozo Lucas, que também foi derrotado na briga pelo governo do Espírito Santo, os tucanos não veem dificuldade na substituição.

O deputado é economista de carreira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e já comentou com correligionários que quer voltar à instituição porque lhe faltam apenas mais quatro anos - período em que ficará sem mandato eletivo - para se aposentar.

Os estudos, pesquisas e análises de conjuntura semanais que o instituto produziu nos últimos quatro anos foram de pouca utilidade e praticamente nenhuma divulgação. Não interessava ao partido liderar um debate de conteúdo com Serra estando à frente nas pesquisas de intenção de voto. O PSDB preferiu focar no projeto eleitoral e o debate de conteúdo na oposição ao governo e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou interditado.

Os tucanos admitem que no debate do petróleo do pré-sal, por exemplo, o PSDB se manteve escondido. O deputado Luiz Paulo ficou sozinho no discurso em defesa do modelo de exploração herdado do governo Fernando Henrique Cardoso. Agora, no entanto, os dirigentes nacionais da legenda avaliam que foi um erro que não deve ser repetido, sob pena de, mais uma vez, comprometer a candidatura presidencial tucana em 2014.

O INSTITUTO

Órgão de estudos e formação política ligado ao PSDB com sede em Brasília, o Instituto Teotônio Vilela (ITV) foi criado em 1995 e atua em 26 Estados. Responsável pelo aperfeiçoamento e divulgação da doutrina social-democrata no País, promove seminários, debates e palestras sobre a realidade nacional e dispõe de um variado acervo bibliográfico para uso de acadêmicos, pesquisadores, cientistas sociais e estudantes. Conta com 28 intelectuais e políticos em seu Conselho Deliberativo

O que ela diz o PT não pensa :: Editorial – O Estado de S. Paulo

Espera-se que, com o tempo, arrefeça o interesse da imprensa pelo "lado humano" da presidente eleita, Dilma Rousseff, e cresça, na mesma proporção, o interesse pela substância de seus atos e manifestações de ideias. A curiosidade em torno da sua figura é compreensível. Não só é a primeira mulher chefe de Estado nos 112 anos da República brasileira, como ainda era uma ilustre desconhecida, no sentido literal do termo, para a imensa maioria da população, antes de ser pinçada pelo presidente Lula para disputar a sucessão em seu nome.

Além disso, ela chegou ao proscênio portando uma imagem carrancuda e cercada de histórias de rispidez ou severidade, como se queira, no relacionamento com os seus interlocutores, primeiro no Ministério de Minas e Energia, depois na Casa Civil. O seu estilo cortante no trato com os jornalistas nas preliminares da campanha apenas deu motivo adicional para que a considerassem uma versão nativa da Dama de Ferro, a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher.

Daí por que uma tirada de humor ou um brotar de lágrimas em público chamam a atenção da mídia tanto ou mais do que as palavras da presidente eleita sobre as suas eventuais inclinações em matéria de conduta política. Foi o caso dos relatos de sua participação no primeiro encontro de congraçamento com o diretório nacional do PT depois das eleições, no último fim de semana.

Dela ficaram, sobretudo, a sua referência aos "três porquinhos" - apelido dado aos coordenadores de sua campanha, o presidente da sigla, José Eduardo Dutra, o ex-ministro Antonio Palocci e o deputado José Eduardo Martins Cardozo - a quem Dilma elogiou como "companheiros de todas as horas", e o seu choro ao mencionar a "imensa solidariedade" dos militantes. A mesma emoção ela expressou na noite da vitória, ao saudar o seu patrono Lula.

Daquela vez, no que pareceu um condensado da Carta ao Povo Brasileiro do então candidato em 2002, Dilma reafirmou os seus compromissos com a estabilidade macroeconômica e o respeito aos contratos. Já diante da cúpula petista, reiterou a sua profissão de fé democrática, compondo os seus argumentos aos companheiros de forma tal a lhes dar um sabor de advertência ou, quem sabe, de chamada à ordem - o que não foi suficientemente destacado no noticiário.

Não foi, evidentemente, para afagar a audiência pela vitoriosa trajetória petista que ela comparou o passado da legenda com as circunstâncias do presente. A "oposição fazendo oposição com propostas às vezes imaturas, dada a inexperiência", lembrou, "foi depurando progressivamente as propostas, aprendendo e sendo capaz de mudar". Uma parte da alocução se destinou a consumo imediato - a partilha, em curso, do poder federal. Foi quando louvou o partido por perceber, presumivelmente, "que tinha que construir uma aliança para governar, tinha que se coligar e estabelecer regras de convivência política, de multiplicidade e diversidade".
Nisso, a rigor, ela repetiu o que o seu mentor pregava no esboço do quadro eleitoral para 2010. Era imperioso, dizia, que o PT desistisse de sair com candidatos próprios nos Estados em que os de outras siglas, notadamente do PMDB, despontavam com chances reais de êxito, em nome do seu engajamento na candidatura Dilma. Agora, para um partido instalado em 17 dos 37 Ministérios - e que quer mais - a menção à convivência política e à diversidade se explica por si só. Numa coisa, pelo menos, ela não apenas se distinguiu de Lula, como ainda manifestou uma intenção flagrantemente oposta à sua retórica divisionista.

O presidente, de fato, não perdia ocasião de separar a população em ricos e pobres, nortistas e sulistas, "nós e eles", pouco lhe importando se a prática fomentaria antagonismos entre os brasileiros. Já a presidente eleita declarou estar imbuída da compreensão de que "temos de governar para aqueles que nos apoiaram e que não apoiaram". Mas o que Dilma diz não é propriamente o que pensam os seus companheiros. Depois que ela deixou o recinto, os hierarcas do PT aprovaram uma resolução que prega a "democratização da comunicação" e um debate sobre "o conservadorismo que se incrustou em setores da sociedade".

Equívocos no tema da regulação da mídia:: Editorial – O Globo

Pela programação do governo que se encontra em contagem regressiva, será deixado para a presidente Dilma Rousseff, segundo o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, um projeto de nova regulamentação para os meios eletrônicos de comunicação. Ela decidirá se o envia ao Congresso, e em que condições, ou se o engaveta.

Faz sentido atualizar regras numa atividade em constante mudança, devido ao vertiginoso aperfeiçoamento tecnológico no campo das comunicações. Mas não é o que acontece, e o culpado por isso é o governo Lula. O debate sobre a reciclagem de uma legislação de 1962, quando internet, videoconferência e outros recursos hoje usuais eram coisa de ficção científica, poderia tramitar sem desconfianças e choques se o Planalto houvesse impedido a manipulação dessa questão por grupos incrustados no governo, com a intenção de tolher a imprensa independente e profissional. Infelizmente, importantes aspectos do entrelaçamento das diversas plataformas digitais de difusão de informações foram intoxicados pela esperteza de alguns de tentar usar o tema como Cavalo de Troia para contrabandear dispositivos de controle do conteúdo jornalístico. Tentativa ingênua, pois se trata de iniciativa barrada pela Constituição, pela qual o direito às liberdades de imprensa e expressão não pode ser relativizado.

O governo Lula perdeu a credibilidade para propor uma discussão séria sobre qualquer regulação da mídia ao ser leniente com investidas contra a liberdade de imprensa. No primeiro mandato, foram as propostas da Ancinav e do Conselho Federal de Jornalismo, as quais jamais deveriam ter sido formuladas. No segundo, a risível terceira versão do "Programa Nacional de Direitos Humanos", utilizada para justificar o controle do conteúdo da imprensa - eufemismo de censura -, espírito idêntico ao da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), iniciativa do Planalto, fonte inspiradora da criação, em diversos estados, de conselhos de "controle social" de grupos independentes de comunicação. Como se faltassem regras e instrumentos de fiscalização sobre, principalmente, a mídia eletrônica e a produção audiovisual.

A falsidade da tese do suposto excesso de liberalismo no trato de TVs, rádios e cinema foi demonstrada por reportagem do GLOBO de domingo, em que estão relacionados dispositivos legais e órgãos responsáveis por intervenções no meio, algumas draconianas e inconstitucionais. Tramita, por exemplo, no Supremo Tribunal Federal uma ação de declaração de inconstitucionalidade de dispositivo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) pelo qual, em nome da defesa do menor, procuradores e promotores tentam agir como censores. Ainda não foi julgada a reclamação.

A pauta do debate proposto pelo governo sobre a regulação da mídia eletrônica fica, portanto, desfocada quando abre brechas para o controle de conteúdo. Ora, não só o controle já existe, como, em alguns casos, é inconstitucional. E, ao se misturar questões técnicas com o viés político autoritário de quem deseja tolher grupos de comunicação, interdita-se o debate que se deveria travar sobre como atender a um mercado cada vez mais ávido de informações e entretenimento, sem deixar de se defender os interesses nacionais.

O Tombini de Meirelles

DEU EM O GLOBO

Continuidade, mas sem Meirelles

Gerson Camarotti e Patrícia Duarte

A presidente eleita, Dilma Rousseff, caminha para a definição da equipe econômica. Ela decidiu descartar a permanência de Henrique Meirelles à frente do BC. O nome mais forte agora é o do atual diretor de Normas do banco, Alexandre Tombini, que não despertaria temor no mercado. Miriam Belchior deve ir para o Planejamento.

A presidente eleita deve nomear Alexandre Tombini para a Presidência do BC

Para o Ministério do Planejamento já está praticamente definida a ideia de escolher a gerente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Miriam Belchior, com quem Dilma trabalhou na Casa Civil. Outra tendência é manter no cargo o atual presidente do BNDES, Luciano Coutinho. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi o primeiro a ser convidado para permanecer no cargo.

Neste cenário, Nelson Barbosa passa a figurar como um curinga na equipe econômica. Ele poderia ser deslocado para algum ministério técnico como Desenvolvimento ou Previdência, dependendo da necessidade. Ainda que em uma função menos nobre que a que ocupa hoje, Nelson Barbosa será um dos técnicos mais próximos a Dilma, tem dito a própria. Ontem, Nelson Barbosa e Miriam Belchior foram recebidos por Dilma na Granja do Torto, oficialmente para discutir o andamento do PAC e do Minha Casa, Minha Vida. Logo após a saída de Barbosa, foi a vez do ministro da Fazenda, Guido Mantega, se reunir com Dilma.

Escolhas mostram influência de Lula

Com a definição próxima da equipe econômica, fica cada vez mais evidente a influência do presidente Lula na composição dos principais cargos do governo Dilma. Ela ainda terá mais uma conversa com Lula para bater o martelo, provavelmente na viagem que fará com ele à Guiana para participar da reunião de líderes da União de Nações Sul-Americanas, quinta-feira.

O quebra-cabeça da equipe econômica começou a ser resolvido depois da notícia de que Meirelles condicionou sua permanência no governo Dilma à manutenção da autonomia do Banco Central. Dilma ficou contrariada com a informação e isso foi o que acabou inviabilizando a possibilidade de mantê-lo. Dilma quer deixar evidente que, independentemente do nome escolhido, o BC terá autonomia.

Dilma ainda não conversou com Tombini, mas segundo um integrante da equipe de transição, ele teria carta branca até mesmo para aumentar os juros para evitar uma ameaça inflacionária. Mesmo assim, Dilma vai exigir da autoridade monetária ousadia para que seja cumprida a meta de redução da taxa de juros a médio prazo. Ela já apontou como parâmetro ideal uma taxa real de 2% ao ano em 2014.

Há pelo menos um ano Alexandre Tombini vem sendo preparado para assumir o comando da autoridade monetária. No início de 2010, quando Henrique Meirelles cogitava sair do cargo para disputar as eleições, Tombini já era citado como seu sucessor. O diretor tem um perfil mais desenvolvimentista do que seu chefe, o que agrada a presidente eleita, mas equilíbrio para não tomar decisões mais bruscas, o que agrada o mercado financeiro. Trocar Meirelles por Tombini não traria ruídos e a percepção de que o próximo governo manteria o principal tripé econômico: metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário.

Tombini é gaúcho, funcionário de carreira do BC e já trabalhou no Fundo Monetário Internacional, entre 2001 e 2005, quando voltou para o Brasil para assumir como diretor do BC.

Discurso em tom de despedida

DEU EM O GLOBO

Lino Rodrigues

Reunião com Dilma deve descartar permanência de Meirelles no BC

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ontem que a conversa que terá com a presidente eleita, Dilma Rousseff, para decidir se deixa ou cargo ou se continua, será anunciada na "hora certa". A reunião com Dilma, marcada para esta semana, deve descartar de vez a permanência de Meirelles à frente do BC. Em discurso ontem à noite na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), depois receber o prêmio Responsabilidade Pública 2010, concedido pela Sinaprocim, entidade que reúne as empresas fabricantes de produtos de cimento, Meirelles fez elogios à atuação do BC e à atual situação econômica do país que "saiu da crise mais forte que entrou". Mas, em tom de despedida, disse que está concluindo o trabalho do BC de zelar pela estabilidade macroeconômica, juntamente com o presidente Luiz Inácio Lula da SIlva.

- Muitos me perguntam o que espero do futuro, da vida pública? Eu tenho respondido que espero terminar, de fato, este mandato, juntamente como presidente Lula, concluindo este tipo de trabalho de responsabilidade do Banco Central, que é zelar pela estabilidade macroeconômica do país e, portanto, provendo as condições básicas para o crescimento sustentável. É um momento de grande gratificação para quem participou desse processo. Tenho grande satisfação de ter participado disso - disse Meirelles.

Na saída do evento, ainda no elevador da sede da Fiesp, questionado se o discurso teria sido uma despedida, Meirelles disse que não, que era "um momento de celebração". Os termos celebração e gratificação, aliás, foram usados várias vezes durante o discurso ontem à noite, depois que fontes de Brasília davam como certa sua substituição no cargo de presidente do BC.

- Gratificação para a construção civil e para aqueles que fornecem insumos para a construção civil (caso da platéia de empresários presente à sua palestra) e gratificação para quem participou intensamente deste processo (de crescimento econômico). É um momento de fato de celebração da economia brasileira - elogiou, lembrando que o setor de insumos para a construção civil cresceu, em média, 3,8% ao ano desde 2003.

FHC refuta tese de que PSDB reproduz 'Avenida Paulista'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ex-presidente comenta propostas de Aécio e diz que partido não precisa de uma refundação, mas de uma renovação

Eduardo Kattah

BELO HORIZONTE - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso refutou ontem a ideia de que o PSDB seja um partido predominado por lideranças paulistas, o que chamou de um "slogan da oposição". Ele também classificou como "uma expressão muito forte" a tese de refundação do partido proposta pelo ex-governador mineiro e senador eleito, Aécio Neves.

Questionado se o PSDB não seria "muito Avenida Paulista", ele lembrou que o partido saiu vitorioso em oito Estados. "Isso é slogan que a oposição coloca para marcar. O PSDB teve 44% da população, você acha que isso é Avenida Paulista? Não é verdade. Isso é simplesmente uma repetição de política eleitoreira. Se fosse assim, eu não teria sido eleito presidente", reagiu FHC, que esteve em Belo Horizonte para dar uma palestra.

O ex-presidente distribuiu elogios tanto para José Serra quanto para Aécio, destacando que "não adianta ficar revolvendo o passado" sobre quem seria o melhor presidenciável tucano. "Aécio tem uma capacidade política extraordinária. Ele vai mostrar agora no Senado essa imensa capacidade política que ele tem. E o Serra mostrou que tem uma energia fantástica também", ressaltou. "Tem condições ainda. É muito cedo para pensar o que vai acontecer daqui a quatro anos."

Depois de minimizar o fato de não ter aparecido nos programas eleitorais, FHC fez questão de dizer que assistiu no domingo ao show de Paul McCartney ao lado de Serra.

Sobre a possibilidade de uma nova hegemonia no partido, o ex-presidente disse que está "fora de cena há muito tempo" e que Aécio e o governador eleito do Paraná, Beto Richa, representam sim a nova geração tucana. Mas salientou que não pretende "sair de cena das ideias".

Para FHC, ao invés de refundação, o termo mais adequado seria renovação. Segundo ele, o PSDB precisa aprender a fazer política no dia a dia e não somente no período eleitoral. "E se articular com a sociedade. Agora, refundação é forte. Todos os partidos, num certo sentido, estão todo o tempo se renovando. É preciso mesmo que se renovem. Mas refundação acho que é uma expressão muito forte."

FHC em defesa do seu legado

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Isabella Souto

Ex-presidente rebate declaração de Dilma de que, diferentemente de Lula, ela herdará um país promissor e fala sobre o futuro do PSDB

Belo Horizonte — O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (FHC) rebateu ontem declarações da presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), de que receberá uma “herança bendita” a partir de 1º de janeiro de 2011 em razão dos avanços sociais do país nos últimos oito anos. Para o tucano, ela estaria usando de “espertezinha política” e dizendo algo que “ninguém acredita”. As palavras da petista durante o encontro nacional do PT, na sexta-feira passada, foram uma brincadeira com o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante encontro da Cúpula do G20 na Coreia do Sul, quando ele afirmou que recebeu uma “herança maldita” de FHC, pois o país estaria andando para trás.

“O que foi maldito no último ano do meu governo foi o Lula, que assustou o mercado financeiro. A Dilma sabe disso, ela usa isso por espertezinha política. Minha herança não foi ruim, nem a atual foi ruim. O Brasil está crescendo muito”, afirmou FHC, que esteve ontem em Belo Horizonte para participar da 1ª edição do Fórum da Liberdade de Minas Gerais, evento promovido pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE). O tucano afirmou ainda que não é o momento de o PSDB fazer comentários sobre o governo, mas de esperar quais medidas serão adotadas pela presidente eleita. “Temos uma crise séria no final para enfrentar, decisões importantes sobre a questão do petróleo. Temos que saber se seremos capazes de fazer tantas obras grandiosas. Quem tem de falar é o governo. Depois nós vamos falar”, completou.

Ao comentar a defesa de alguns setores do PSDB de que o partido precisa ser refundado após três derrotas consecutivas para o PT nas eleições presidenciais, FHC disse que seria necessário que o partido conversasse com a sociedade, apresentasse mensagens e valores, além de afirmar com mais convicção tudo o que fez durante os oito anos de gestão no Palácio do Planalto e o que ainda poderá fazer pelo Brasil. “É no dia a dia. Ninguém faz política só no dia da eleição”, argumentou. O presidente da legenda em Minas Gerais, deputado Nárcio Rodrigues, defendeu que é necessário reavaliar a conduta futura para evitar que ocorra uma quarta derrota nas eleições de 2014. A ideia é uma nacionalização do partido, adotando um discurso que englobe todas as regiões do país, além da inclusão de outros nomes da legenda nas decisões partidárias.

Embora FHC também tenha defendido uma renovação entre os tucanos, ele ressaltou que o partido precisa das ideias dos mais velhos. “Tem muita gente jovem que não tem ideia. Eu sou velhinho e ainda tenho algumas ideias”, brincou. Questionado sobre as críticas de que o PSDB se limita à Avenida Paulista — uma alusão à força da legenda em São Paulo —, o tucano afirmou que a declaração é um slogan da oposição e uma “repetição de política eleitoreira”. Lembrou também que o partido elegeu oito governadores de estados, entre eles Minas Gerais, Roraima, Alagoas, Goiás e Tocantins.

Especulação sobre equipe de Dilma gera 'mal-estar' entre investidores, diz 'FT'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Para jornal, manutenção de Mantega e dispensa de Meirelles pode indicar apoio por linha menos ortodoxa.

Para jornal, Guido Mantega tem uma linha mais 'desenvolvimentista'

As especulações sobre a formação da equipe econômica da presidente eleita, Dilma Rousseff, vêm provocando um "mal-estar" entre os investidores, segundo afirma reportagem publicada nesta terça-feira pelo diário econômico britânico Financial Times.

O jornal observa que a permanência do atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, é dada como praticamente certa, mas que crescem os rumores de que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não deverá ser mantido no cargo por Dilma.

"Os investidores estão ansiosos para saber quem ela (Dilma) escolherá para os principais postos ministeriais para ter uma indicação de como ela pretende lidar com várias questões econômicas urgentes, incluindo uma moeda sobrevalorizada, uma inflação em alta e a piora das contas públicas", afirma o texto.

Segundo o jornal, Dilma "já deixou claro que ela decidirá as políticas, não seus ministros", mas as recentes especulações na mídia sobre o futuro de Meirelles "vêm alimentando uma crescente sensação de mal-estar sobre a direção da política econômica".

'Desenvolvimentista'

O FT comenta que durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a ortodoxia de Meirelles compensava a ala mais "desenvolvimentista" do governo representada por Mantega.

"Ao nomear Mantega primeiro, dizem os analistas, Rousseff sinalizaria um apoio à ala menos ortodoxa do atual governo", diz o jornal.

A reportagem afirma que, segundo os analistas, mesmo se permanecer no cargo, Meirelles não teria a mesma autonomia da qual gozou nos últimos oito anos e que desde que condicionou sua permanência à manutenção da independência do Banco Central, começaram os rumores sobre sua saída.

O diário comenta que um possível nome para substituir Meirelles seria o do diretor do BC Alexandre Tombini, que teria aceitação entre os investidores, mas um perfil menos ortodoxo que o do atual presidente do banco.

O FT observa ainda que Dilma já afirmou que não fará mudanças nos três pilares da recente prosperidade brasileira: "um regime de câmbio flutuante, metas de inflação e constantes reduções na dívida pública".

"Mas investidores têm ficado agitados pelos eventos recentes, incluindo a intenção declarada por Rousseff de reduzir as taxas de juros do Brasil a 2% ao ano após a inflação, do atual nível de cerca de 5,7%", diz o jornal.

Beth Carvalho::As rosas não falam- Cartola

Filhos:: Ferreira Gullar

(A meu filho Marcos)

Daqui escutei
quando eles
chegaram rindo
e correndo
entraram
na sala
e logo
invadiram também
o escritório
(onde eu trabalhava)
num alvoroço
e rindo e correndo
se foram
com sua alegria
se foram
Só então
me perguntei
por que
não lhes dera
maior
atenção
se há tantos
e tantos
anos
não os via crianças
já que
agora
estão os três
com mais
de trinta anos.