- Não é priguiça, é uma dor na
“carcunda”, parpitação, uma cansera que num tem fim. É por esse
caminho que um grande número de candidatos a cargos políticos alimenta a
expectativa de navegar tranquilos pelas eleições, tentando assegurar vagas nos
Governos, e empregos para os aparentados e amigos. Uma nota de R$50,00
aqui, outra de R$100,00 ali, um óculos para o chefe da família, uma dentadura
para a dona de casa e uma distribuição ampla de purgantes.
Esse comportamento anômalo já no início do
século passado não desapareceu ainda. O interior de Minas e de São Paulo está
cheio dos Jeca Tatu e o Nordeste desse tipo de gabiru. Por ali o homem
brasileiro (o eleitor) é visto ainda, pelos políticos, como um caipira,
abandonado, doente, atrasado nos costumes, quase analfabeto e carente.
Se vivesse hoje, Monteiro Lobato
advertiria: O Brasil mudou muito. Responderia: Não na velocidade e
qualidade de vida exigidas pelas atuais gerações. A olhos vistos, agravaram-se
os desequilíbrios sociais e regionais, o que retrata a presença ainda da
batuta de uma variedade de interesses privados e de uma explícita
permanência da troca histórica de favores entre as elites, cada uma, a seu
tempo, alternando-se no Poder do Estado. Embora evite-se discutir a necessidade
da competência da gestão da coisa pública, a omissão tem sido a responsável
pelo sobrevivência regime republicano com essa cara acomodada que o vemos hoje.
Políticos focados ainda no gabiru e no Jeca
Tatu, precisam estar, contudo, atentos à espiral do silêncio,
aquele comportamento inesperado que elegeu Bolsonaro (e outros) Presidente da
República, um capitão, aposentado precocemente por indisciplina das forças
armadas, e que, usa uma linguagem pouco comum para um chefe de Estado,
ofendendo diariamente seus desafetos imaginários, desprezando
correligionários, mentindo numa provocação às desconfianças sobre as
suas condições para dirigir o País. Tudo isso o desqualificaria. Mas a lei
é clara quanto à soberania popular, ao exercício de votar e ser votado
(CEF arts. 1º, parágrafo único, 14, caput), sobre os direitos do cidadão de ser
candidato a qualquer cargo eletivo. E as incompatibilidades?! Cada um
interpreta convenientemente, até no Supremo.