segunda-feira, 22 de abril de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Escassez de vacina contra Covid expõe falhas na Saúde

O Globo

Lula e o PT reclamavam com razão do negacionismo de Bolsonaro. Mas não compraram doses necessárias a tempo

Um dos desafios das autoridades de saúde tem sido convencer os brasileiros a se vacinar. Os índices têm ficado abaixo do recomendado, ameaçando a volta de moléstias controladas. Mas, para que a população possa se proteger, é fundamental haver vacina nos postos. Lamentavelmente, o Ministério da Saúde tem falhado nessa tarefa. Enquanto sobra vacina contra a dengue em razão do baixo comparecimento aos postos, estoques contra a Covid-19 estão em falta em vários estados, bem no período em que problemas respiratórios aumentam o fluxo de pacientes às emergências.

Na cidade do Rio, a vacina contra Covid-19 acabou. As últimas 500 doses foram aplicadas no dia 13, durante um mutirão de vacinação contra a gripe e outras doenças. Só restaram as pediátricas. O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, diz aguardar receber novas doses do ministério. Situação semelhante vivem outras capitais, como Curitiba e Vitória. Em São Paulo, as vacinas já começam a desaparecer. Os estados do Rio Grande do Sul e Maranhão também enfrentam escassez. E as doses que existiam, desatualizadas, nem cobriam a variante em circulação.

Fernando Gabeira - A proximidade de uma guerra absurda

O Globo

O grande esforço intelectual do momento é dissecar todos os elementos de conflito no mundo e neutralizá-los

A tensão entre Israel e Irã nos mantém alertas não apenas sobre a possibilidade de um conflito regional, mas de algo muito mais amplo, que envolva toda a humanidade.

Neste momento, considero muito interessante a reflexão do escritor Amin Maalouf no livro recém-lançado no Brasil “O labirinto dos desgarrados, o Ocidente e seus adversários” (Editora Vestígio, 332 páginas). Ele não é cientista político nem estrategista. É um escritor que não só tem coragem de afirmar o absurdo da guerra, como de devolver as qualificações de romântico ou ingênuo atribuídas aos que a consideram inevitável.

Miguel de Almeida – O ‘Homo bolsonarus’

O Globo

O fundamentalismo político, agora sob as redes sociais, tem dinamitado a vida em sociedade

O aiatolá Khomeini impressionou o mundo ao derrubar o xá Reza Pahlavi em 1979. Com seu olhar severo, a partir de Paris, comandou a insurreição contra o monarca iraniano (lá mantido pelos americanos). Ao que eu saiba, foi o primeiro a provocar a queda de um regime usando apenas o telefone.

Pahlavi deu trela. Vendia a imagem de bon-vivant, de um governante moderno e ocidental. Espécie de playboy persa, ao lado de sua bela mulher, a rainha Farah Diba, cuja coroa fora assinada pelos joalheiros Van Cleef & Arpels. Era encenação: por trás da imagem, dava guarida a uma corja corrupta.

Na aparência, Khomeini era seu oposto. Sisudo, barbudo e não afeito a luxos terrenos ou à cultura. Depois de anos de exílio na França, voltava ainda mais fanático. Atrás da estampa, havia um religioso sedento por vingança. Não titubeou em mandar matar vários adversários de sua fé e de sua intransigência política. Pela força, levou a laica sociedade iraniana a retroagir à Idade Média, em crenças e desejos.

Andrea Jubé - Ex-presidente terceiriza críticas e faz subir a pressão sobre Pacheco

Valor Econômico

No ato deste domingo (21) no Rio de Janeiro, o ex-presidente Jair Bolsonaro manteve a estratégia de terceirizar aos aliados os ataques mais incisivos ao Supremo Tribunal Federal (STF), e reiterou argumentos para se defender da investigação de participação na tentativa de golpe de Estado em tramitação na Corte Constitucional.

Mais uma vez, Bolsonaro terceirizou a aliados os ataques diretos ao ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do inquérito sobre a tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Bruno Carazza - Propostas para o sistema político

Valor Econômico

Livro discute problemas e soluções para tornar políticos mais responsivos aos eleitores

Nas eleições de 2010, o economista Marcus Pestana foi eleito deputado federal com 161.892 votos, após longa carreira como professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, vereador (1983-1988), deputado estadual (2007-2010) e duas passagens como secretário estadual no governo de Minas Gerais, comandando Planejamento (1995-1998) e Saúde (2003-2010).

Transcorrido quase um ano de seu primeiro mandato em Brasília, Pestana resolveu contratar uma pesquisa para analisar seu desempenho parlamentar na cidade natal e principal base eleitoral, Juiz de Fora, onde havia recebido o apoio de 19.937 eleitores.

Ao realizar o levantamento, a surpresa veio logo na primeira pergunta. Quando perguntados em quem haviam votado no pleito realizado apenas um ano antes, 74,1% dos entrevistados não conseguiram se recordar da escolha do seu representante para a Câmara dos Deputados.

Alex Ribeiro - Copom ganha flexibilidade para mexer com os juros

Valor Econômico

Comitê vai manter a flexibilidade para, de acordo com a evolução das incertezas e do cenário, tomar a decisão que julgar necessária

Depois de uma maratona de comunicação de política monetária no encontro de primavera do Fundo Monetário (FMI), em Washington, ficou mais claro que os dirigentes do Banco Central procuraram ganhar mais liberdade para avaliar o cenário econômico antes de decidir o que fazer a partir de agora com a Selic, num ambiente de maior incerteza provocado pelo adiamento do corte de juro nos Estados Unidos, conflitos no Oriente Médio e aumento dos riscos fiscais no Brasil.

Num pronunciamento em um evento da XP Investimentos, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, traçou quatro cenários hipotéticos para a evolução dessas incertezas. “Não é um guidance”, esclareceu em outro evento, do Bank of America. Ou seja: não é uma promessa sobre os juros. “Não estamos dizendo que vamos fazer X ou Y.”

Marcus André Melo - O Supremo e a opinião pública

Folha de S. Paulo

A hiperpolitização da opinião pública em torno do STF é inédita e sem paralelos nas democracias

Um terço da população avalia o trabalho do STF como ruim ou péssimo, enquanto outro terço o faz como ótimo ou bom. O índice de aprovação é mais alto entre os que aprovam o desempenho do governo Lula (55%) e, na direção oposta, a taxa de reprovação é mais elevada entre os que o reprovam (63%) (Datafolha março/2024).

O Brasil não é exceção: a avaliação da Suprema Corte americana é a mais baixa em 50 anos e a brecha entre democratas (46%) e republicanos (68%) nunca foi tão alta: 44 pp. Pela primeira vez, mais gente desaprova (54%) do que aprova a instituição.

Diogo Schelp - O STF e o Congresso

O Estado de S. Paulo

A reação dividida em três estágios do Parlamento à Corte começa com as leis e vai até a cassação

Ao longo do governo de Jair Bolsonaro, parte da classe política comemorou e endossou a maneira como o STF serviu de freio aos desmandos do então presidente. Mas isso criou um desafio permanente. Trata-se do fato de que os integrantes da Corte pegaram gosto pelo protagonismo inédito em decisões de impacto para o País, muitas vezes para além das suas atribuições.

Nos últimos meses, o conflito com o Executivo dos tempos de Bolsonaro foi substituído pelo conflito com o Legislativo. Em parte, isso ocorreu porque o campo de atuação do bolsonarismo se deslocou do governo para o Parlamento, onde assumiu o posto de oposição.

Marcelo de Azevedo Granato - Efeitos da desinformação digital vão além da eleição

O Estado de S. Paulo

Uma sociedade em que mal se consegue distinguir imagens ou falas verdadeiras de imagens ou falas falsas (de conteúdo político ou não) tende a ser marcada pela desconfiança

No dia 1.º de março, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publicou uma série de 12 resoluções que definiram quais serão as regras para as eleições municipais deste ano. As resoluções cobriram diferentes temas: calendário eleitoral, pesquisas eleitorais, prestação de contas, registro de candidaturas, propaganda eleitoral, entre outros. A propaganda eleitoral foi objeto da Resolução 23.732/2024, que deu nova redação à Resolução 23.610/2019. Ali, sobressai a preocupação do TSE com o uso da inteligência artificial nas disputas eleitorais. A iniciativa do tribunal é oportuna e remedeia a inação do Congresso Nacional, mas não se pode perder de vista que a desinformação digital pode ter consequências negativas que ultrapassam o pleito eleitoral, marcando a sociedade como um todo.

Na citada Resolução 23.732/2024, o TSE estabelece que a utilização, na propaganda eleitoral, “de conteúdo sintético multimídia gerado por meio de inteligência artificial para criar, substituir, (...) alterar a velocidade ou sobrepor imagens ou sons” impõe ao responsável pela propaganda “o dever de informar, de modo explícito, destacado e acessível que o conteúdo foi fabricado ou manipulado e a tecnologia utilizada”. Além disso, a mesma resolução proíbe o uso “de conteúdo sintético em formato de áudio, vídeo ou combinação de ambos, que tenha sido gerado ou manipulado digitalmente (...) para criar, substituir ou alterar imagem ou voz de pessoa viva, falecida ou fictícia (deep fake)”.

João Pereira Coutinho - Revolução dos Cravos, 50, foi onda democrática que chegou ao Brasil

Folha de S. Paulo

Em 25 de abril de 1974, a Revolução dos Cravos, movimento liderado por militares e apoiado pela maioria da população civil, pôs fim ao Estado Novo em Portugal, regime ditatorial que vigorou por 41 anos. João Pereira Coutinho comenta os contextos sociais e econômicos que levaram à queda da ditadura, o turbulento processo de democratização nos meses seguintes, os impactos da revolução em países que viviam sob governos autoritários, como o Brasil, e como os portugueses avaliam os últimos 50 anos

Foi bonita a festa, pá? Digo que foi, embora não tenha estado presente. Nasci depois de tudo. Esse tudo, aqui, é o 25 de Abril de 1974, a Revolução dos Cravos, 50 anos atrás. Mas, às vezes, nas minhas horas de ociosidade, pergunto o que teria sido de mim se a sorte me tivesse jogado duas ou três gerações antes de eu nascer, no mesmo país, sob o regime ditatorial de António de Oliveira Salazar (1889-1970) e Marcello Caetano (1906-1980).

Dizer que a minha vida teria sido diferente seria um eufemismo: como escrever livremente em um país com censura prévia e polícia política? A cadeia ou o exílio teriam sido opções possíveis. Ou o silêncio, já agora: nunca devemos subestimar o papel da boa e velha covardia.

O que é válido para a loucura da arte é válido para a loucura da guerra —em Angola, Moçambique, Guiné-Bissau— que consumiu as gerações anteriores.

Poesia | Pátria Minha - Vinicius de Moraes

 

Música | Paulinho da Viola - Meu Mundo é Hoje (Wilson Batista / José Batista