O Globo
A aventada convocação do ministro da
Defesa, general Braga Netto, para depor na CPI da Covid não deveria, mas pode
causar mais atrito entre as Forças Armadas e o Senado. Os militares estão muito
suscetíveis porque militarizaram o Ministério da Saúde, que está tendo problemas
com corrupção. Foi um erro participarem do governo neste nível. Bolsonaro é o
principal incentivador dessa participação e recentemente mudou a legislação
para permitir que militares da ativa possam participar de governos sem limite
de tempo. Antes, o Estatuto dos Militares exigia que fossem para a reserva
depois de dois anos em cargos civis.
Braga Netto, por exemplo, assumiu o cargo
de chefe do Gabinete Civil e participou de negociações políticas nessa
condição, não como ministro da Defesa. Se um general da ativa, como Pazuello,
pode depor na CPI da Covid por ter sido ministro da Saúde, por que Braga Netto
não poderia?
É verdade que, na época, quando Pazuello
foi chamado a depor na CPI sobre sua gestão na Saúde, ele ameaçou comparecer
fardado, numa clara tentativa de constranger seus inquisidores. Não era o
general da ativa que estava sendo convocado, assim como não é o ministro da
Defesa no caso de Braga Netto.
A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que não permite que militares da ativa permaneçam em funções civis sem se afastar de suas atividades militares, ou os obriga a ir para a reserva no caso dos que têm mais de dez anos de serviço — como Pazuello —, foi considerada por ex-ministros da Defesa como um avanço institucional.