O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, afirma que é “arrogante” a tese de que o centro só vencerá a eleição presidencial se tiver apenas um nome na disputa. Pela primeira vez, ele não descarta concorrer ao Planalto caso consiga formar uma ampla aliança de partidos.
O presidente da Câmara dos Deputados considera que o centro pode ter mais de um candidato nas eleições presidenciais e, pela primeira vez, não descarta o seu próprio nome como uma das opções para a disputa em outubro. No Rio de Janeiro, Maia também sugere seu pai como a melhor alternativa para suceder Luiz Fernando Pezão no Palácio Guanabara
Entrevista Rodrigo Maia: ‘Sou cogitado porque há uma avenida aberta
Maiá Menezes, Thiago Prado e Jeferson Ribeiro / O Globo
• O senhor acha que o centro deveria ter apenas um candidato para enfrentar Lula e Bolsonaro?
Acho arrogante a tese de que só um pode ser candidato no nosso campo. Serão construídas as candidaturas que tiverem êxito em viabilizar seus projetos. Como há muitos partidos hoje no Brasil, uma sigla pode construir apoios com três alianças e outra, com quatro. Ir para a eleição de primeiro turno com a preocupação de que vai dividir muito um campo ou outro, que vai inviabilizar A, B ou C acho um erro. Considero importante que se construa de forma natural uma ou duas alianças. Ou três. O que for melhor. O que não pode é a imposição ao outro de uma aliança. Se, por exemplo, o (Geraldo) Alckmin se viabilizar por um lado e o (Henrique) Meirelles se viabilizar por outro, por que um tem que abrir mão para o outro?
• Estamos em janeiro e outros précandidatos do centro não conseguiram emplacar. Por quê?
É mais fácil um discurso populista sobreviver em um país com tanta desigualdade como o nosso. É mais fácil, e aí é competência do (Jair) Bolsonaro, que tem um discurso mais radicalizado na questão dos valores e da segurança. A agenda mais racional, que é a que defendemos, demora mais para entrar na agenda no cidadão. E será mais difícil ainda crescer num cenário onde não haverá inserções partidárias no primeiro semestre. Aquele que disputar a eleição com esse perfil, não sonhe com indicadores de intenção de voto muito promissores nos primeiros meses do ano. Vai ser eleição de chegada.
• É neste contexto que o senhor acha que o seu nome começou a ser especulado para o Planalto?
Acho que é por termos um cenário de deserto na política. Se olhar o que aconteceu comigo, de julho de 2016 até agora, faço uma analogia com a revolução tecnológica. Eu saí do mundo analógico e fui para o mundo digital. Quando terminou a eleição 2014 disse que, se não me reinventasse, não teria mais de onde tirar voto. De fato, há partidos e pessoas de vários segmentos falando nessa possibilidade (candidatura Maia). Mas isso aí não significa intenção de voto. Significa que tem falta de alternativas. A posição de presidência da Câmara me dá muita exposição. Mas eu tenho dito a todos que tenho certeza que não é hora de decidir. E, segundo, não abro mão da agenda que eu acredito. Não abro mão de defender a Reforma da Previdência. De mostrar para a sociedade que não há outra solução no Brasil que não seja cortando gastos. A gente vai ter que cortar 3%, 4% do PIB nas despesas. É uma agenda polêmica, eu sei. Portanto, não é hora de decidir candidatura e, segundo, não posso criar um projeto personalista. No nosso campo hoje, infelizmente, não há ninguém com essa liderança. Portanto, esta decisão não pode ser tomada isoladamente, precisa ser construída com vários partidos.
• Mas o senhor teria coragem de se candidatar à Presidência e correr o risco de ficar sem mandato em 2019?
Uma coisa é risco e outra coisa é aventura. Eu não tenho problema de correr risco, mas não estou disposto a participar de uma aventura. Não vejo problema em discutir o assunto. Há partidos achando que eu devo avaliar. Agora, admito que o salto que preciso dar para ser candidato a algo que não seja deputado federal é muito grande. Sou deputado, nunca fui majoritário. Sei que esta seria uma construção que seria feita num ambiente em que a possibilidade de crescer nas pesquisas não é grande. Mas, se estou sendo cogitado como uma alternativa, é porque há uma avenida aberta. E quem vai dirigir por essa avenida? Quem não antecipar o processo, tiver uma base política importante e segmentos da sociedade que possa representar para largada.
• Como convencer que o centro é melhor que a polarização?
O centro não é um ponto entre direita e esquerda, ou seja, um meio do caminho entre o Bolsonaro e o Lula. O centro tem que representar um ponto em que se tenha um espaço de diálogo com todas as correntes e que represente essa capacidade de transformação que o Brasil precisa. Centro não é não querer estado máximo ou mínimo. Centro é campo político onde vai se dialogar com a sociedade.