segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Opinião do dia – Aécio Neves

Não bastasse a gravíssima crise econômica, não bastasse a crise moral sem precedentes que faz com que a atividade política seja hoje criminalizada, independentemente dos bens ou dos maus poderem neste instante ser separados, a grande crise, a crise real é a crise social.
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Presidente nacional do PSDB, senador

Cortes no Bolsa Família afetariam 2,9 milhões em São Paulo, diz Planalto

• Conforme os critérios definidos pelo governo, cerca de 61% dos quase 5 milhões de beneficiários do programa social no Estado comandado pela oposição à presidente Dilma Rousseff serão afetados caso o relator do Orçamento leve adiante sua proposta de corte

Adriana Fernandes, Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Na tentativa de demover o relator-geral do Orçamento de 2016, deputado Ricardo Barros (PP-PR), de propor um corte de R$ 10 bilhões no Bolsa Família, o governo decidiu partir para uma “batalha de números”. A intenção é mostrar que, neste momento de forte crise econômica, a “tesourada” no principal programa social reduziria em 23 milhões o número de beneficiários do programa (47,8 milhões) e retiraria 250,7 mil crianças e jovens das escolas no próximo ano. Segundo o Planalto, Estados governados pela oposição estariam entre os principais afetados.

Simulações feitas pelo Ministério do Desenvolvimento Social revelaram um número inédito: o Estado de São Paulo, governado por Geraldo Alckmin (PSDB), seria a unidade com a maior evasão, em números absolutos, do Bolsa Família. Pelos cálculos, cerca 61 dos quase 5 milhões de beneficiários do programa em São Paulo teriam de ser desligados, ao todo, 2,9 milhões de pessoas.
O Paraná, Estado do relator e também comandado pelo também tucano Beto Richa, é o que mais perderia beneficiários em termos proporcionais: 75% do 1,4 milhão de pessoas contempladas sairiam do programa social.

A oposição também tem se posicionado contra o corte no programa. No Senado, Ronaldo Caiado (DEM-GO) já manifestou restrições à “tesourada”.

Nas simulações, o critério do ministério para fazer o corte atinge inicialmente as famílias beneficiárias que trabalham e têm maior renda dentro do programa e, depois, aquelas que só contam com o Bolsa Família como fonte de renda. Por essa razão, São Paulo encabeça a lista, seguido por Minas Gerais e Bahia. Por outro lado, Estados mais pobres, como Piauí e Maranhão, teriam o menor corte proporcional, abaixo de 30% do total de beneficiários.

“É um contrassenso”, afirmou o secretário de Renda de Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social, Helmut Schwarzer. “Num momento como este, os beneficiários precisam de políticas que sejam um colchão, que amorteçam o impacto social e não que aprofundem as dificuldades”, disse.
Segundo o secretário responsável por administrar o programa, pelas projeções, 7,9 milhões de pessoas entrariam na pobreza extrema com o corte, das quais 764 mil só em São Paulo. O governo conta com a divulgação dessa “fotografia” do Bolsa Família para convencer os parlamentares a não mexer no programa.

Ensino. A pasta calcula ainda que haveria um aumento da evasão escolar das crianças, uma vez que, hoje, os alunos beneficiados com o programa têm frequência escolar 3,1% maior do que estudantes em condições similares, mas fora do Bolsa Família. Para se habilitar ao benefício ou à complementação de renda programa, a família tem de comprovar renda per capita de até R$ 154,00.

Os números foram encaminhados a Ricardo Barros, vice-líder do governo Dilma na Câmara, como parte da pressão que o Planalto faz para evitar que a proposta vá adiante. Para entregar um orçamento sem déficit, ele pretende cortar cerca de 35% dos 28,8 bilhões da verba prevista para o Bolsa Família em 2016. A diminuição nos repasses do programa atingiria 11,35% da população do País, calculada pelo IBGE em julho passado em 204,4 milhões de brasileiros.

Procurado, o relator reafirmou que vai propor o corte no programa e acredita ter votos para aprovar a proposta na Comissão Mista de Orçamento (CMO). Ele não teme um prejuízo político-eleitoral com a medida impopular. Ao contrário, disse que seus eleitores apoiam a diminuição do Bolsa Família.

“Ninguém concorda em rasgar dinheiro”, disse Barros, ressaltando que auditorias do próprio governo apontam que 29% das famílias beneficiadas não se enquadram nos parâmetros de renda do programa. “Não comungo da visão do relator”, rebateu Helmut Schwarzer, ao destacar que o programa é um dos mais auditados “do mundo”.

Até o momento, além da discussão pública dos números do programa, não há uma estratégia definida na comissão para barrar a iniciativa. Por ora, aliados do governo citam manifestações de Dilma, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e até mesmo de lideranças oposicionistas pela manutenção do programa, assim como o efeito ‘multiplicador” na economia das cidades, para impedir o corte no programa.

“Não trabalhamos com a hipótese de diminuição do programa”, disse o líder do governo na CMO, deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Segundo ele, há tempo para reformar a proposta.

Repasses para gestão do Bolsa Família sofrem atraso

• Governo diz que programa não terá cortes, mas verba para estados e municípios está atrasada desde julho

Renata Mariz - O Globo

-BRASÍLIA- Embora a presidente Dilma Rousseff venha repetindo que o Bolsa Família está a salvo de cortes, diante da necessidade de ajuste fiscal, repasses mensais para custear a gestão do programa estão atrasados. Estados e municípios só receberam os valores referentes ao primeiro semestre do ano. De julho para cá, nenhum centavo do dinheiro destinado a manter o funcionamento do Bolsa Família foi depositado nas contas. Os benefícios, por enquanto, estão sendo pagos em dia.

A falta de pontualidade nos pagamentos já provoca reflexos. Uma das ações prejudicadas é a chamada busca ativa, anunciada como eixo central do Brasil sem Miséria, vitrine do primeiro mandato de Dilma, para incluir brasileiros em extrema miséria ainda não alcançados pelo programa. Outras atividades desempenhadas com o dinheiro, como a fiscalização para evitar fraudes, atualização dos cadastros e checagem das condições exigidas pelo programa, estão ameaçadas.

Problemas já em 2014
Neto Evangelista, secretário de Desenvolvimento Social do Maranhão, um dos estados mais dependentes do Bolsa Família, conta que os atrasos começaram em 2014. Parte das parcelas do ano passado só foi quitada este ano. O atraso continuado criou, segundo ele, dificuldades para gestores municipais.

— Para alguns municípios, esse recurso faz muita diferença. O atraso acaba impactando tanto na gestão do que já existe e também na mobilização de equipes para a busca ativa — diz. — O problema é que, ao longo do tempo, os municípios vão ganhando competências, mas não recebem recursos.

Em 2015, o orçamento previsto no Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) para a gestão descentralizada do Bolsa Família, a ser repassado para estados e municípios, é de R$ 535 milhões. A dois meses do fim do ano, foram efetivamente pagos R$ 263,8 milhões, menos da metade.

A pasta sustenta que, como é preciso avaliar quesitos de gestão para calcular os recursos a serem repassados a cada ente federativo, as transferências são feitas depois do mês de referência. O ministério diz que planeja transferir, em breve, os valores referentes a julho, que somam R$ 43,5 milhões.

Os repasses para administração do Bolsa Família “são feitos por competência”, ou seja, após cálculos do desempenho de estados e municípios no cumprimento das regras de fiscalização e monitoramento do programa, como taxas de atualização cadastral e de acompanhamento das metas de educação e saúde.

Entidade reclama
Presidente da Confederação Nacional de Municípios, Paulo Ziulkoski afirma que os recursos sempre foram repassados com periodicidade. Os atrasos acumulados desde o ano passado, segundo ele, deixam secretários municipais e prefeitos em situação difícil, dada a complexidade da gestão do programa Bolsa Família na ponta.

— A estrutura funcional é enorme. São várias exigências. Tem que cadastrar beneficiários, alimentar o sistema, ver se o menino registrou presença na escola, se a grávida fez o pré-natal — explica Ziulkoski. — Quase seis meses de atraso geram uma quantia considerável, que faz diferença para as prefeituras.

Diferentemente dos recursos para apoiar prefeituras e estados na gestão do Bolsa Família, a renda transferida diretamente aos beneficiários não tem sofrido atrasos ou cortes.

Hoje, cerca de 14 milhões de famílias recebem os recursos do programa federal. O valor médio do repasse é de R$ 164,86 por família, conforme a folha de pagamento de setembro.

Desemprego aumenta, mas gasto com seguro diminui

Por Denise Neumann e Camilla Veras Mota – Valor Econômico

SÃO PAULO - A mudança nas regras de concessão do seguro-desemprego e a decisão das empresas de ajustar seu quadro de pessoal pelo congelamento de novas contratações criaram uma situação aparentemente contraditória. O Brasil ganhou 2,1 milhões de novos desempregados nos últimos 12 meses, mas o número de beneficiários do seguro-desemprego caiu 13% no quadrimestre encerrado em agosto. A queda permitiu, inclusive, uma economia real nos gastos com essa despesa, como previsto nas medidas do ajuste fiscal.

A mudança recente nas regras de acesso ao seguro, que elevou o período mínimo de serviço dos novos requerentes de seis para 12 meses, explica em parte o cenário. Outra explicação está na própria dinâmica da recessão. Nos últimos 12 meses, as empresas fecharam 1,3 milhão de novos postos de trabalho com carteira assinada, mas essa queda ocorreu principalmente pela redução das novas admissões, e não pelo crescimento dos desligamentos. Nos 12 meses encerrados em setembro, as empresas desligaram 900 mil pessoas a menos do que nos 12 meses anteriores, mas deixaram de fazer 2,7 milhões de contratações.

Eduardo Zylberstajn, pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), diz que é típico dos momentos de crise que o ajuste do mercado de trabalho se faça pela não reposição de vagas. Gabriel Ulyssea, da PUC-RJ, acrescenta que a desaceleração da atividade diminui a taxa de rotatividade, o que alivia a pressão sobre as emissões de seguro-desemprego.

As consultorias de recursos humanos identificaram o congelamento de vagas como uma estratégia das empresas nesse momento de crise. Uma pesquisa da consultoria ManpowerGroup Brasil mostrou que apenas 9% dos empregadores, em um universo de 850 executivos de recursos humanos no país, pretendiam fazer contratações no último trimestre deste ano, enquanto 65% declararam que manteriam estável seu quadro de pessoal.

Para os economistas, apesar da perspectiva de aumento da taxa de desemprego - no país todo já são 8,8 milhões de desocupados -, as despesas com o seguro tendem a diminuir ainda mais porque a redução do emprego com carteira assinada diminui o total de trabalhadores que podem ter acesso ao benefício.

Desocupação sobe, mas gasto com seguro-desemprego cai
O Brasil ganhou 2,1 milhões de novos desempregados nos últimos 12 meses, somando, até setembro, 8,8 milhões de trabalhadores nessas condições. Apesar do aumento expressivo, o volume de novos beneficiários do seguro-desemprego encolheu 13% no quadrimestre até agosto e quase 5% no ano - queda suficiente para reduzir em termos reais os gastos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) com o benefício na comparação com 2014. Descontada a inflação, as despesas diminuíram 1,6%, conforme o relatório fiscal do Tesouro referente ao período janeiro-setembro.

A mudança recente nas regras de acesso ao seguro, que elevou o período mínimo de serviço dos novos requerentes de seis para 12 meses, explica em parte o cenário, que também reflete a dinâmica da recessão. Em 2015, o ritmo de demissões está menor e as empresas deixaram parte do ajuste do mercado de trabalho ser feito pelo congelamento das contratações.


Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que a maior contribuição para o fechamento de 1,3 milhão de vagas com carteira assinada nos últimos 12 meses foi a redução das novas admissões, e não o crescimento dos desligamentos. Nos 12 meses encerrados em setembro, as empresas desligaram 900 mil pessoas a menos do que nos 12 meses anteriores e as demissões sem justa causa, as que permitem acesso ao benefício, ficaram estáveis.

O ritmo de admissões, por outro lado, diminuiu muito mais. Entre outubro de 2013 e setembro de 2014, as empresas haviam feito 20,7 milhões de admissões, número que caiu para 18 milhões nos 12 meses seguintes, 2,7 milhões a menos. Essa mudança de comportamento tem implicações para o caixa das empresas, que poupam custos trabalhistas com a rescisão, para o bolso dos trabalhadores, que ficam sem acesso ao seguro, e para as contas públicas, já que gasta-se menos com o benefício.

Eduardo Zylberstajn, pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), diz que é típico dos momentos de crise que o ajuste do mercado de trabalho se faça pela não reposição de vagas. "As companhias deixam a alta rotatividade do mercado de trabalho jogar a seu favor", observa. No Brasil, em setembro do ano passado, 4% das vagas mudaram de "dono", percentual que caiu para 3,3% em setembro deste ano, segundo cálculos do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com base no Caged. A cada ano, 45% a 50% das vagas trocavam de ocupante, percentual que nesse ano caminha para ficar mais próximo a 40%.

Além da não reposição, as empresas estão efetivamente abrindo menos postos de trabalho, observa Rui Rocheta, presidente do Gi Group, empresa de soluções para o mercado de trabalho. "A abertura de vagas recuou 30%", diz ele, ponderando que essa retração está associada ao menor investimento e à queda nas vendas. "Projetos de abertura de novas lojas ou unidades de produção foram postergados e houve menor expansão ou até queda nas vendas. Tudo isso representa menor criação de empregos", avalia, acrescentando que, além do congelamento de contratações, algumas empresas também enxugaram operações, o que provocou aumento das demissões.

As contratações são mais sensíveis aos ciclos econômicos do que os desligamentos, concorda o economista Gabriel Ulyssea, da PUC-RJ. Além de frear a abertura de novas vagas, a desaceleração da atividade também tende a diminuir a taxa de rotatividade, ele acrescenta, e aliviar a pressão sobre as emissões de seguro-desemprego. Entre janeiro e agosto, o MTE habilitou 5,2 milhões de novos beneficiários, 488,5 mil menos do que no mesmo intervalo de 2014, retração de 4,8% - que se deve ainda às mudanças implementadas na legislação neste ano, que endureceram os critérios de elegibilidade.

Assim, mesmo com o aumento do salário mínimo, referência para o valor das parcelas, de R$ 724 para R$ 788 entre 2014 e 2015, os gastos do governo com seguro-desemprego caíram 1,6% em termos reais no acumulado entre janeiro e setembro, segundo dados do Tesouro. Os números do MTE, atualizados até agosto, somam R$ 23,1 bilhões em pagamentos, alta nominal de 6,1% em relação a 2014, bem baixo do IPCA acumulado de 9,5%.

A atual contração do mercado de trabalho terá ainda um efeito de médio prazo sobre as despesas com seguro-desemprego, ressalta Ulyssea, já que a tendência de redução do volume de emprego com carteira assinada diminui o total de trabalhadores que podem ter acesso ao benefício. "Os incentivos à formalização que existiam antes, como as linhas de crédito subsidiadas, diminuíram, ao mesmo tempo em que os custos desse tipo de contratação se mantiveram constantes ou subiram, sem um retorno para as empresas em forma de crescimento. Isso deve gerar um aumento da informalidade".

Uma pesquisa da consultoria ManpowerGroup Brasil mostrou que apenas 9% dos empregadores, em um universo de 850 executivos de recursos humanos no país, pretendiam fazer contratações no último trimestre, menor percentual em toda a série da pesquisa.

Além desse dado, chamou bastante a atenção de Márcia Almström, diretora de RH e marketing da Manpower, que 65% dos entrevistados tenham declarado que pretendem manter estável seu quadro de pessoal. "Esse é um sinal de que as empresas podem estar contando com uma retomada e estão pensando em estratégias para reter talentos", observa a executiva. "O custo da folha é muito alto, mas começar do zero, recontratar e treinar pode ser mais custoso depois", diz ela. O percentual de 65% é idêntico ao registrado em igual período do ano passado, mas como o cenário é mais recessivo, a expectativa era que esse ele estivesse menor.

Do ponto de vista fiscal, Zylberstajn pondera que a contrapartida do menor número de desligados sem justa causa é a redução do número de pessoas que podem se habilitar ao seguro-desemprego, mas não necessariamente isso levará a um gasto menor com o benefício. Se as pessoas ficam mais tempo no emprego, reflexo da queda da rotatividade, quando elas forem demitidas terão direito a receber o seguro por mais tempo, o que acaba elevando as despesas federais com o benefício.

Caminhoneiros prometem parar o país

Caminhoneiros fazem paralisação que pode afetar rodovias em 20 estados. O governo federal monitora a greve por temer bloqueios e desabastecimento.

• Organizadores apontam paralisação em 20 estados. Planalto não espera impacto significativo, mas monitora

Lucianne Carneiro, Martha Beck, Jailton Carvalho de e Jaqueline Falcão - O Globo

-RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO- Caminhoneiros começaram na madrugada de hoje uma greve que deve parar as rodovias de todo o país, segundo seus organizadores, que esperam paralisações em pelo menos 20 estados. A greve está sendo organizada pelo Comando Nacional do Transporte (CNT), movimento que surgiu na internet e que não tem personalidade jurídica nem o apoio dos sindicatos dos caminhoneiros. O Palácio do Planalto passou o fim de semana monitorando as redes sociais para tentar medir o impacto da paralisação sobre as rodovias brasileiras. A avaliação foi que o movimento não será significativo, embora possa causar transtornos em locais isolados. O maior temor é que haja bloqueios em estradas, o que pode provocar desabastecimento.

— Existe uma preocupação, mas a tendência é que o movimento não seja forte — disse um interlocutor do Planalto.

Movimento político
Esta é a segunda greve de caminhoneiros no ano: a primeira ocorreu em fevereiro, sendo que as interdições em rodovias prosseguiram até abril. Esta nova paralisação começou a ser convocada pelo CNT nas redes sociais e por meio do aplicativo de celular WhatsApp em outubro. O grupo é liderado por Ivar Schmidt, de Mossoró, Rio Grande do Norte. A principal reivindicação é a renúncia da presidente Dilma Rousseff.

— A paralisação será por tempo indeterminado, até que haja a renúncia da presidente Dilma. Temos adesões em vários lugares do país, e será uma paralisação grande. A população e o governo vão se surpreender — afirmou Schmidt ontem, por telefone.

Segundo o governo, o teor das mensagens divulgadas pelo CNT nas redes sociais deixa claro que a nova greve é um movimento político que tem como objetivo principal enfraquecer a presidente Dilma. Tanto que um dos objetivos declarados da greve é pressionar pelo impeachment. A pauta de reivindicações inclui ainda a redução do preço do diesel e do frete mínimo, a anulação de multas aplicadas em manifestações anteriores e a liberação de crédito com juros subsidiados.

Na semana passada, a União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam) chegou a divulgar nota afirmando que não apoia a paralisação e defendendo o diálogo para tratar dos interesses da categoria. “O posicionamento aqui expressado vai ao encontro do espírito de pacificação de conflitos, por meio de negociações, que sempre norteou o encaminhamento de questões de tal envergadura, com vistas ao encontro de solução aos problemas inerentes à categoria.”

Já a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) informou considerar imoral e repudiar “qualquer mobilização que se utilize da boa-fé dos caminhoneiros autônomos para promover o caos no país e pressionar o governo em prol de interesses políticos ou particulares, que nada têm a ver com os problemas da categoria”.

Polícia Federal em alerta
O Planalto avalia que o perfil do movimento de agora é bem diferente do de fevereiro, quando houve ação coordenada pelos sindicatos dos caminhoneiros e rodovias foram bloqueadas. Na ocasião, o governo abriu um canal de negociação com os sindicatos para tratar das demandas. Esse processo está em andamento.

Schmidt afirma que não é possível afirmar qual será a dimensão da paralisação que começa hoje, mas informa que existem 64 grupos de WhatsApp, com 6.400 participantes, que vêm convocando os caminhomeiros para a greve.

A direção da Polícia Rodoviária Federal disparou sinal de alerta para eventuais protestos de caminhoneiros no país a partir de hoje. Mas, segundo policiais ouvidos pelo GLOBO, até o momento não há comboios nem indicativo de grandes manifestações da categoria nas rodovias federais. A polícia registrou apenas duas concentrações de caminhoneiros, uma em Vacaria, no Rio Grande do Sul, e outra em Campos Novos, Santa Catarina. A Polícia Rodoviária Estadual de São Paulo informou que oficialmente não tem nada confirmado, porém o comando tem um plano de ação caso ocorra a paralisação.

Segundo policiais, os problemas estão relacionados a questões entre caminhoneiros e empresas e não a uma disputa entre a categoria e o governo. As manifestações não teriam relação direta com os protestos anunciados por sindicalistas nos últimos dias.

Com 36 mil seguidores, a página do CNT teve 12 posts sobre a greve apenas ontem, até as 21h. A cobertura da paralisação por veículos de imprensa estrangeira é destaque: “O mundo já sabe da nossa paralisação, e você?”, afirma um dos posts. Em dias anteriores, há vídeos do próprio Schmidt convocando para a paralisação. No sábado, em post intitulado “Mensagem ao povo brasileiro”, ele convida a população para se juntar aos caminhoneiros nos pontos de paralisação e “expor sua indignação com o que está acontecendo no país”. Schmidt sugere dar “um passo adiante e deixar para trás essa história de pilantragem e falcatruas”.

Schmidt nega que o movimento seja ligado a qualquer partido. Ele reconhece, no entanto, que foi procurado pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que ofereceu ajuda para negociar com o governo e evitar a paralisação. Na última quinta-feira, o senador levou o tema ao plenário do Senado, segundo informações da Rádio Senado, e demonstrou apoio aos caminhoneiros.

Petrobras reuni sindicatos
Depois de oito dias de greve dos funcionários, a Petrobras se reúne hoje com a categoria para tentar negociar o fim da paralisação. Ontem, a empresa confirmou as informações divulgadas na sextafeira, de que foram agendadas reuniões com as entidades sindicais. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) são as principais.

Em nota em seu site, a FUP afirmou que esta “já é considerada a mais importante e emblemática dos últimos 20 anos”. Pelo balanço de ontem, o número de unidades marítimas paralisadas na Bacia de Campos era de 49, ante 46 na sextafeira. A greve também atinge seis plataformas no Ceará, três plataformas no Espírito Santo e os campos de produção terrestre em Bahia, Rio Grande do Norte e Espírito Santo.

Disputa no coração do Planalto

Por Raymundo Costa - Valor Econômico

BRASÍLIA -Passado pouco mais de um mês da reforma ministerial, a nova configuração política do governo ainda não encaixou e nem o Palácio do Planalto tem segurança sobre seus resultados. É certo que o risco de impeachment refluiu à medida que aumentaram os problemas do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas nenhuma medida importante do ajuste fiscal foi votada.

Em um momento de sinceridade, após mais uma tentativa fracassada de votar o projeto da legalização de recursos depositados por brasileiros no exterior, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), reconheceu que a base aliada possui em torno de 200 deputados, o suficiente para barrar o impeachment, mas pouco para assegurar a aprovação de projetos de interesse do governo.

Agora, os problemas da reforma ministerial estão evidentes. Um deles é a disputa de poder entre os ministros encarregados da articulação política: Jaques Wagner, da Casa Civil, e Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, que se sente desprestigiado

Disputa entre ministros trava articulação política no Congresso
Passado pouco mais de um mês da reforma ministerial, a nova configuração política do Palácio do Planalto ainda não encaixou nem o governo tem segurança sobre seu resultado. É certo que o impeachment refluiu na medida em que aumentaram os problemas do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, mas também nenhuma medida importante para o ajuste fiscal foi votada nesse período.

Num lapso de sinceridade, após mais uma tentativa fracassada de votar o projeto da repatriação de recursos depositados em contas no exterior, o líder da presidente na Câmara, José Guimarães (PT-CE), reconheceu que a base do governo na Câmara, no momento, gira em torno dos 200 deputados, o que é suficiente para barrar o impeachment, mas pouco para assegurar a aprovação de projetos do interesse do governo federal.

Nesse ambiente, os problemas básicos da reforma ministerial começam a ficar mais evidentes. Um deles é recorrente: a disputa entre ministros palacianos encarregados da coordenação e articulação política do governo. No caso, Jaques Wagner, da Casa Civil, e Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, que já reclama, aos mais próximos, que sente-se "desprestigiado" no cargo.

Wagner sempre foi o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil. Também é uma das alternativas do PT para a sucessão de 2018, se Lula não for o candidato. A situação se agrava e tem reflexos sobre a coordenação política como um todo, devido a uma inexplicável divisão de trabalho feita entre os dois ministros palacianos.

Por essa partilha, Jaques Wagner trata preferencialmente dos assuntos relativos ao Senado. Foi ele quem na semana passada levou ao presidente da Casa, Renan Calheiros, a defesa da presidente Dilma das pedaladas feitas no exercício de 2014 e condenadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Wagner também foi a estrela do governo de um jantar com senadores de vários partidos, inclusive da oposição, no início da semana.

Já o ministro Berzoini ficou encarregado da articulação com a Câmara dos Deputados, onde no momento são maiores, ou pelo menos mais evidentes, os problemas do governo. Lá estão encalhados o projeto da repatriação e a prorrogação da DRU, considerados fundamentais ao processo de ajuste fiscal, para ficar em apenas dois exemplos, os mais notórios.

A compartimentação da coordenação e articulação política é problemática porque a orientação do governo deve ser única em relação aos conteúdos. Antes da reforma, a coordenação política e a relação com Estados e municípios era encargo da Secretaria de Relações Institucionais.

Extinta a SRI, que controlava também as assessorias parlamentares dos ministérios, suas atribuições, inclusive a articulação com os congressistas, passou para a Secretaria de Governo, substituta da Secretaria Geral da Presidência no novo organograma do Palácio do Planalto.

À Casa Civil, antes como agora, compete definir as prioridades e o conteúdo das matérias. Em resumo, o mérito dos projetos é um só, embora eles trafeguem tanto pelo Senado quanto na Câmara. Os dois ministros precisam manter seus instrumentos afinados pelo mesmo diapasão.

Os líderes aliados também reclamam de falta de cumprimento dos acordos. Por fragilidade do governo ou por ideologia. O PMDB, por exemplo, desconfia de Berzoini, que fez campanha aberta contra o projeto da terceirização.

A fragilidade da base pode dificultar o projeto da repatriação. Neste caso, o Planalto se comprometeu com os senadores a destinar recursos para um fundo de equalização das alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS). Na Câmara, o relator do projeto decidiu dar outro destino ao dinheiro repatriado, os fundos de participação dos Estados e municípios. Ou seja, se o projeto chegar ao Senado sem o que foi acordado com o Palácio do Planalto e o Ministério da Fazenda, nada feito. O governo, aparentemente, perdeu o controle do processo, e a repatriação é uma das medidas consideradas essenciais para completar acertar as combalidas contas do governo federal.

A insatisfação de um ministro da coordenação política palaciana já é um problema de boas proporções para a articulação do governo com o Congresso. Mas nesse pouco mais de mês a Presidência da República voltou a cometer antigos erros que podem comprometer a tentativa de recompor sua base de sustentação política com a reforma ministerial. O principal é a falta de cumprimento de acordos feitos com o aval dos líderes do governo.

No caso da lei com as novas regras da aposentadoria Dilma vetou seis artigos negociados com os partidos da base, inclusive o PT, como a concessão do seguro defeso para as mulheres dos pescadores, e outro que trata do pagamento do seguro desemprego para o trabalhador rural. Aos olhos dos deputados, desautoriza e desmoraliza seus negociadores no Congresso. Os vetos cairam no colo do Ministério da Fazenda, cujo titular, Joaquim Levy, já não conta com as graças do PT.

Pior: os motivos apresentados para alguns vetos deixaram perplexos os deputados governistas. Dilma vetou o parágrafo que obrigava o INSS a fornecer ao segurado "que solicitar a aposentadoria por tempo de contribuição, de maneira clara e em linguagem de fácil compreensão", informações como a data em que ele poderá se aposentar sem a incidência do fator previdenciário. Razões apresentadas para o veto: "O dispositivo obrigaria o INSS a fornecer uma série de estimativas referentes à aposentadoria por tempo de contribuição (...) impondo à autarquia a necessidade de significativa realocação de recursos humanos e materiais". Leitura feita no gabinete de um líder do governo: "Preguiça. Isso só dá mais trabalho para o INSS fazer".

Num governo fraco e incapaz de liderar no Congresso, cada ministro cuida de si. O ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga, trata direto com o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), porque tem pressa para realizar os leilões das hidrelétricas. Já o novo ministro das Comunicações, André Figueiredo, indicado pelo PDT, é o responsável pelos dois jabutis que o Senado retirou da MP 687, semana passada. O governo, aliás, mantinha um dos maiores criadouros de jabutis em medidas provisórias.

A reforma que Dilma fez no ministério para reconquistar a base política e barrar o impeachment levou também a uma reforma administrativa confusa. Ainda hoje não está claro onde ficarão alguns órgãos. A Secretaria de Governo de Berzoini ficou com a cordenação política e a articulação institucional com Estados e municípios. Mas também com os assuntos relativos à microempresas, com a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A Secretaria da Juventude e a coordenação dos movimentos sociais, que integravam a antiga Secretaria Geral da Presidência, foram parar - e ninguém sabe por que - no Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. Ou seja, afinidade zero. As duas secretarias vão agora brigar no Congresso para voltar para o Palácio do Planalto.

As trapalhadas se acumulam. Não é à toa que o governo é acusado de viver atravessando a rua para pisar nas cascas de bananas colocadas na calçada do outro lado. O próprio eSocial, sistema da receita para regularização dos impostos das domésticas, é um caso: o governo acaba de adiar o prazo de sua vigência por portaria, o deveria ter feito por lei (só uma lei pode mudar a outra). O palácio até hoje se lixou para problemas do tipo porque sempre poderia resolver enfiando um "jabuti" numa MP em tramitação. Agora, segundo o Supremo, não pode mais.

Com a insatisfação de ministros, a desmoralização dos líderes e a descoordenação completa dos assuntos de governo com o Legislativo, Dilma chega a 30 dias do recesso parlamentar com a ideia do impeachment em banho-maria, mas com a desconfiança mais forte do que nunca de líderes partidários, inclusive do PT, de que não terminará o mandato. Por absoluta falta de governabilidade.

Por 2016, PMDB quer distância de Dilma

• Congresso do partido, na próxima semana, demarcará diferenças em relação ao governo

Pedro Venceslau, Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

Apesar de ter sido contemplado com sete ministérios na reforma ministerial promovida pela presidente Dilma Rousseff em outubro, o PMDB deflagrou nos últimos dias um movimento de descolamento da atual gestão. O partido, que tem como presidente nacional o vice-presidente Michel Temer, quer se diferenciar da petista na área econômica.

Na estratégia definida pela cúpula peemedebista, o congresso do partido, no próximo dia 17, será o primeiro grande gesto público dessa movimentação, que tem o objetivo de manter a presidente sob pressão.

O PMDB não quer entrar nas eleições municipais do ano que vem com o carimbo de aliado preferencial do PT e sócio da crise econômica e política.

Em caráter reservado, um integrante da cúpula peemedebista que integra o governo definiu dessa forma o objetivo do encontro: “Apresentaremos um programa para disputarmos as eleições de 2016 e 2018. Mas também precisamos ter um programa para o caso de termos que assumir o poder”.

Para evitar retaliações do Palácio do Planalto, representantes da ala governista do PMDB evitam tratar do assunto abertamente e dizem apenas que o congresso não terá a prerrogativa de tomar qualquer decisão sobre a manutenção ou rompimento oficial do partido com a presidente Dilma Rousseff. Essa definição, porém, acontecerá em março, na convenção nacional do partido.

Sem filtro. Os “aliados” do governo esvaziaram as prerrogativas do encontro, mas permitiram que o evento do próximo dia 17 fosse formatado para constranger o governo. Segundo um dirigente do partido que está envolvido na organização do encontro, o microfone estará aberto e todos os presentes poderão votar nas moções que serão apresentadas ao documento-base.

Sem o filtro da escolha dos participantes por meio da eleição de delegados na base, a ala dissidente está livre para mobilizar suas claques. A organização do congresso e a redação do seu texto-base, intitulado “Uma ponte para o futuro”, ficaram a cargo de um ex-ministro peemedebista que hoje é crítico à política econômica do governo: Moreira Franco, presidente da Fundação Ulysses Guimarães. 

“Queremos não só unificar o partido, mas reunificar o País. O compromisso do PMDB não é com A, B ou C (partido ou governo) é com o Brasil. Para reunificar, só com um programa de intervenção na vida econômica e social”, diz ele.

Ainda segundo Moreira Franco, a crise econômica está se tornando “incontrolável” e a situação é “explosiva”. “Temos que ter a dimensão da gravidade.”

O senador Valdir Raupp (RR), vice-presidente do PMDB, diz que alguns pontos divergentes do documento, classificado por ele como “duro” contra o governo, precisam ser reajustados, e que os dissidentes “ainda” não são maioria.

Por outro lado, ele sinaliza claramente o desejo de evitar os efeitos colaterais de ser aliado preferencial de Dilma. “Um partido que sempre defendeu as causas populares não pode enveredar para a direita.” Ainda segundo o senador, o PMDB também está em busca de retomar suas “origens”. “Está na hora de voltar às origens das grandes lutas. Um partido com a idade do PMDB, 50 anos, precisa começar a discutir uma candidatura própria à Presidência em 2018. Esse sentimento é unânime”, afirma Raupp.

O senador Romero Jucá (RR) diz que o encontro vai definir um “roteiro” para o Congresso decisivo do partido em 2016. “Após o encontro de novembro, o documento será debatido nos Estados e municípios até o congresso, que pode ser antecipado para antes de março.” Ainda segundo Jucá, o documento será uma posição “clara” sobre economia e questões sociais. O congresso do PMDB também discutirá mudanças no estatuto do partido e as estratégias para as eleições 2016.

PMDB almeja ser alternativa de poder ao modelo do PT

• Aposta do partido é se descolar da crise e preservar o vice-presidente Michel Temer de desgastes

Alberto Bombig - O Estado de S. Paulo

Com a estratégia de se contrapor a Dilma Rousseff e ao pensamento petista na economia, o PMDB busca se transformar em uma alternativa de poder caso a presidente seja impedida de concluir o atual mandato.

Para os líderes peemedebistas, a crise econômica deverá se agravar neste final de ano, quando grande parte dos brasileiros vai utilizar o décimo terceiro salário para quitar dívidas, e piorar no início de 2016, época de gastos pesados como matrículas escolares e impostos municipais e estaduais.

Um dos formuladores do PMDB para a área econômica avalia que, se até março do ano vem, a economia não der sinais de recuperação, Dilma estará ainda mais fragilizada e vulnerável diante da ameaça de impeachment que ronda o Palácio do Planalto.

Por isso, a aposta dos peemedebistas é se descolar da crise e preservar o vice-presidente Michel Temer de desgastes. Se Dilma for impedida pelo Congresso, é Temer quem assume a Presidência, conforme a Constituição.

Até agora, o PMDB está convencido de que acertou o alvo com o documento divulgado no dia 29, no qual falava em uma “profunda recessão” com impactos no ano que vem. Temer ficou satisfeito com a repercussão do texto entre os chamados “formadores de opinião” da área econômica e vai insistir na estratégia com o congresso da Fundação Ulysses Guimarães, mantida pelo partido.

As críticas ao modelo Dilma Rousseff para a economia serão moduladas entre condenar eventuais aumentos de impostos propostos pela atual gestão e os erros cometidos pela presidente no mandato anterior dela (2011-2014).

Falta ainda se posicionar em relação ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy, alvo preferencial do PT e do ex-presidente Lula. Apesar de avaliar que Levy perde a cada dia a capacidade de controlar a economia, o PMDB ainda não decidiu se irá fritá-lo publicamente.

Moreira Franco: ‘Não temos rumo, estamos à deriva’

• Ex-governador do Rio diz que o programa econômico lançado pelo PMDB é uma nova Carta aos Brasileiros e defende as medidas sugeridas

Paulo Celso Pereira- O Globo

Qual a importância desse programa?

Quando a estabilidade do Plano Real estava ameaçada, você teve a Carta aos Brasileiros (documento que Lula apresentou na campanha de 2002 e acalmou o mercado). Este documento tem o mesmo significado, só que é muito mais importante porque a situação econômica daquela época não chegava perto da gravidade da crise que vivemos hoje. Nós não temos rumo, estamos à deriva, sem saber o que fazer.

Mas há um componente político do programa.

A sociedade brasileira está muito dividida. Há alguns meses o governo introduziu o debate sobre o impeachment da presidente da República. Foi a presidente, na Rússia, que falou pela primeira vez em impeachment. O governo não pode transformar um tema que lhe é hostil no principal tema de ação política. E, evidentemente, ao lado dele, introduziu-se o impeachment do Eduardo Cunha. Então, o dilema em que querem nos aprisionar é saber quem é que tem que cair primeiro. Mas não é a satanização de um ou de outro que vai resolver o problema político, econômico e a desorganização da sociedade.

E qual o caminho para sair da crise?

Esse documento retoma uma série de teses que já fazem parte da agenda, algumas encaminhados pelo PT. Essa trajetória é que nos permitiu em dez anos levar 40 milhões de pessoas ao mercado de consumo. Só se consegue isso quando há estabilidade fiscal; não há hipótese de se conseguir isso na orgia. Os que criticam essas medidas estão querendo negar a aritmética.

O governo falhou na aritmética?

Acho que sim. Você pega um programa extremamente importante como o Fies e em um ano dá um salto de gastos como foi dado. Os cofres públicos não tinham condição de suportar essa mudança, por mais justa que fosse. Agora, os brasileiros, sobretudo os jovens, os negros e as mulheres, os mais beneficiados nesse processo, estão numa situação muito ruim. Há milhões perdendo emprego e renda e que ainda estão devendo.

Mas esse é um programa para o vice-presidente Michel Temer conduzir?

Ele é presidente do PMDB e trouxe esse programa para o partido debater. Ao longo desses 50 anos, o PMDB fez questão de, em momentos críticos, dar o testemunho de compromisso com o país. O impeachment para nós não é trivial. Nós nunca colocamos esse tema em debate. Nós não estamos dizendo com quem nós vamos percorrer. O governo pode achar esse programa maravilhoso e decidir implementar. Se ele não quiser, que apresente o caminho.

O senhor vê possibilidade de a presidente Dilma promover a pacificação que vocês defendem?

Depende do governo. Poder não é mandar, é ser obedecido. Mandar qualquer um pode. Agora, para ser obedecido, você precisa ter razoabilidade, precisa ter bom senso, liderança, precisa ouvir. Podemos chegar a 2018 com a presidente Dilma. Não estamos fazendo campanha do presidente Michel Temer, nem campanha da Dilma. O partido procura um caminho para o país.

O programa defende a desvinculação das aposentadorias do salário-mínimo. É viável um candidato do PMDB à Presidência defender isso?

Claro. Você tem que confiar no povo. A ideologia é um instrumento nocivo à vida das pessoas, e elas sabem disso. Tenho certeza que hoje a compreensão que o brasileiro tem da crise é totalmente diferente da que tinha há dois anos.

O PMDB, que apoiou as duas eleições da presidente, não tem uma parcela de responsabilidade?

Seria um excesso dizer que não. Mas o PMDB nunca foi chamado para participar das decisões de políticas públicas nem de política econômica. Por isso nós não nos sentimos responsáveis.

O partido não tem candidato próprio desde 1994. Em 2018 será diferente?

Não sei. Nós vamos trabalhar para que tenhamos. Candidato é facílimo de ter, já tivemos vários. Candidatura é dificílimo. Para ter uma candidatura você precisa ter uma máquina partidária organizada, disposta, uma mensagem que gere esperança, confiança. Nós queremos uma candidatura.

Como o partido justificaria em uma eleição nacional a presença de figuras como Eduardo Cunha e Renan Calheiros?

O PMDB nesses 50 anos só não aceitou uma única pessoa nos seus quadros: Jânio Quadros. Os demais participantes sempre encontraram as portas abertas. Preferimos acreditar nas instituições do que sermos apressados no julgamento das pessoas.

Ordem de Dilma é de evitar comentar defesa de Cunha

Marina Dias, Aguirre Talento – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Horas depois de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),reconhecer sua ligação com contas na Suíça, a ordem no Palácio do Planalto foi não tratar publicamente do assunto e tentar desvincular a polêmica do governo Dilma Rousseff.

Apesar de, nos bastidores, ministros e assessores da presidente considerarem a versão de Cunha "fantasiosa", oficialmente o tema será tratado como "um problema do Legislativo", frase que deve ser ecoada por Dilma e seus auxiliares nos próximos dias sempre que forem questionados sobre o assunto.

A avaliação do governo é que o tema não pode virar um novo ponto de atrito com Cunha, que tem a prerrogativa de abrir ou não processo de impeachment contra Dilma.

Na sexta (6), mais de um mês após vir à tona que ocultou patrimônio na Suíça, Cunha reconheceu sua ligação com as contas suspeitas de terem sido irrigadas com recursos desviados da Petrobras. Ele disse que o dinheiro tem origem lícita.

Segundo ele, a verba foi fruto de negócios que teria feito antes de entrar na vida pública, como a venda de carne enlatada para o exterior e investimentos em ações.

Desde que assumiu a presidência da Câmara, em fevereiro, o peemedebista ajudou a articular derrotas importantes contra o governo e, em julho, declarou-se oficialmente rompido com o Planalto.

Agora, com as denúncias contra ele e o processo que corre no Conselho de Ética da Câmara e pode terminar com a cassação do mandato do peemedebista, Dilma teme o que chama de "imprevisibilidade" nas ações de Cunha.

Ele já fez chegar à presidente que, caso o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, peça o seu afastamento da presidência da Câmara, ele vai deferir o processo de impedimento de Dilma.

A aliados, a petista se mostrou preocupada porque, segundo ela, não há como ter controle sobre Janot.

Entre os parlamentares, o clima é bem parecido com o dos corredores do Planalto.

Nos bastidores, deputados comentam que a versão de Cunha não os convenceu, mas, publicamente, poucos expressam uma opinião clara sobre o assunto.

A ordem do Planalto e da cúpula do PT aos seus líderes na Câmara é não alvejar Cunha, para não estimular ações contra a presidente.

Entre a oposição, o assunto também é tratado com cautela. O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), por exemplo, afirmou que o assunto cabe ao Conselho de Ética da Câmara.

O PSDB, que na terça reúne sua Executiva Nacional, deve aprovar um pedido de afastamento de Cunha da Presidência da Casa, segundo o secretário-geral da legenda, Silvio Torres (SP).

O líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), autor da representação contra Cunha no Conselho de Ética, classificou as explicações dadas pelo peemedebista como um "conto de realismo fantástico"

PF: Bumlai se reuniu 7 vezes com Marcelo Odebrecht

• Encontros com amigo de Lula foram rastreados pela polícia na agenda do celular do empreiteiro

Renato Onofre - O Globo

-SÃO PAULO- O presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, teve sete encontros reservados com o empresário e pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula. Os encontros foram mapeados pela Polícia Federal na agenda do celular de Marcelo, preso desde junho em Curitiba. É a segunda vez que os investigadores cruzam dados que ligam Bumlai a Marcelo Odebrecht.

Os encontros entre os dois ocorreram entre 2010 e 2013. Segundo a PF, as marcações das reuniões com Bumlai fogem do padrão de detalhes em compromissos marcados na agenda pessoal de Marcelo. 

Privatização de estradas 
Não é a primeira vez que o caminho dos dois se cruza nas investigações da Operação Lava-Jato. Em trocas de e-mails entre Marcelo Odebrecht e executivos de empresas suspeitas de participarem do esquema de corrupção na Petrobras, é possível identificar a atenção dada pelo presidente da Odebrecht a Bumlai.

Em uma viagem do então presidente Lula à Guiné, na África, em 2010, Marcelo orienta Alexandrino Alencar, ex-diretor da Odebrecht solto na última sexta-feira depois de quatro meses de prisão, a “não deixar o pecuarista solto” ao lado de Lula, numa referência a Bumlai.

A PF conseguiu identificar, com o cruzamento de informações apreendidas na LavaJato, um dos assuntos que seriam tratados entre Bumlai e Marcelo Odebrecht: a privatização das estradas brasileiras. Era 28 de outubro de 2013, a secretária de Odebrecht escreveu para o e-mail do empreiteiro com o assunto: “José Carlos Bumlai”. No corpo do email: “Quer agendar uma conversa com o Sr. esta semana”.

Marcelo pergunta à secretária de que assunto Bumlai quer tratar. Ela responde: “Privatizações das BRs”. Assim que a troca de mensagens foi revelada na LavaJato, em outubro, a defesa de Bumlai disse que o empresário não tem e não teve “qualquer negócio no setor de rodovias” e que nunca participou de concessões federais de rodovias.

Bumlai aparece em outras trocas de mensagens de Odebrecht e seus executivos. O empreiteiro e cinco funcionários do grupo foram os alvos principais da Operação Erga Omnes — 14ª fase da Lava-Jato, que mirou a Odebrecht e a Andrade Gutierrez. Presos desde junho, eles se referem a Bumlai como “pecuarista”, registra a PF.

Em nota, a defesa de Marcelo Odebrecht lamenta a exposição considerada desnecessária de dados privados e íntimos, “obviamente sem a mínima relevância para as acusações que pesam contra ele”.

O documento diz ser difícil identificar, agora, os motivos dos encontros. A Odebrecht ressalta que, a pedido da defesa, o juiz Sérgio Moro determinou sigilo sobre o relatório em questão.

'Pedro Paulo é meu candidato até o fim', diz prefeito Eduardo Paes

Italo Nogueira – Folha de S. Paulo

RIO - O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), defendeu na manhã deste domingo (8) a manutenção da pré-candidatura do secretário municipal Pedro Paulo,investigado pela agressão à ex-mulher há cinco anos.

O peemedebista afirmou que o secretário "já fez os "esclarecimentos necessários".

"O secretário Pedro Paulo já fez as explicações de um assunto familiar. Deve ser muito difícil na vida pública ter que fazer explicações familiares, de assuntos de suas relações pessoais de maneira pública. Imagino a dificuldade pessoal dele de lidar com essa questão dessa maneira", afirmou o prefeito, na entrega do prédio do IBC, centro de transmissão das imagens da Olimpíada de 2016.

Pedro Paulo é alvo de um inquérito a ser enviado para a Procuradoria-Geral da República –deputado licenciado, ele tem foro privilegiado.

Setores do PMDB-RJ creem que a candidatura do secretário-executivo de Coordenação de Governo corre risco. Avaliam que o crime pelo qual é investigado é de fácil compreensão do público, num momento de mobilização em torno de causas feministas. Paes não comentou o impacto no eleitorado.

"Não sou analista político. O meu candidato é o Pedro Paulo e vai permanecer até o fim", declarou o prefeito, acompanhado do secretário no evento.

Paes, contudo, afirmou que Pedro Paulo "é o melhor candidato para a cidade". Ele elogiou o trabalho do aliado na Casa Civil municipal, cargo que ocupou nos primeiros anos de governo, e no posto atual.

"Ao longo do nosso governo, [ele] coordenou tudo isso. Se as coisas estão saindo é porque tínhamos na Casa Civil um time de jovens preparados, com a cabeça moderna montando concessões, PPPs que o Brasil ainda não aprendeu a montar. PPP na Prefeitura do Rio sai na urina. Quem fez isso foi o secretário Pedro Paulo", disse Paes.

Braço direito do prefeito, Pedro Paulo sempre ocupou postos-chave ligados aos cargos ocupados por Paes e já foi eleito deputado federal duas vezes.

O secretário é investigado por ter agredido a ex-mulher Alexandra Mendes Marcondes em 2010. Ela confirmou o caso na semana passada ao Ministério Público do Rio, mas disse não ter interesse em representar contra o ex-marido. Especialistas apontam, contudo, que investigações sobre crimes da Lei Maria da Penha podem seguir mesmo sem o interesse da vítima.

Pedro Paulo admitiu em entrevista à Folha as "agressões mútuas", mas disse se tratar de "um episódio superado no âmbito familiar".

Inquérito contra secretário do Rio que agrediu ex-mulher vai para a PGR

• Por ser deputado federal licenciado, Pedro Paulo só pode ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal; caberá à Procuradoria-Geral da República definir se denunciará ou não Pedro Paulo por violência doméstica

Clarissa Thomé - O Estado de S. Paulo

RIO - O procurador-geral de Justiça do Rio, Marfan Martins Vieira, encaminhou na sexta-feira, 6, ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, os autos do inquérito sobre a agressão cometida pelo pré-candidato à prefeitura do Rio pelo PMDB, Pedro Paulo Carvalho, contra Alexandra Mendes Marcondes, sua ex-mulher. Por ser deputado federal licenciado, Pedro Paulo só pode ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Caberá à PGR definir se denunciará ou não Pedro Paulo por violência doméstica.

Na manhã deste domingo, Pedro Paulo, que é secretário-executivo de coordenação de governo da prefeitura, acompanhou Eduardo Paes e o governador Luiz Fernando Pezão, ambos do PMDB, na entrega do Centro de Transmissões das Imagens da Olimpíada de 2016. Sorridente, posou para as fotos segurando a chave que simboliza a conclusão das obras, ao lado de Paes, Pezão e Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos. Ele se recusou a comentar o assunto. Paes saiu em defesa do seu secretário. “Ele é o melhor candidato”, afirmou Paes. “O meu candidato é o Pedro Paulo e vai continuar até o fim”.

O PMDB já havia divulgado nota na sexta-feira, 6, informando que “não cogita outro nome para a sucessão do prefeito Eduardo Paes (PMDB) que não seja o do secretário Pedro Paulo”. Para o comando regional da legenda, “as notícias (sobre as agressões) já foram esclarecidas e não são motivo de preocupação para o PMDB-RJ”.

A discussão entre Pedro Paulo e Alexandra ocorreu em 2010, quando eles ainda eram casados, depois de ela descobrir uma traição. Na quinta-feira, 5, o secretário admitiu as agressões em entrevistas e pediu desculpas públicas pelo episódio. “Não nego o erro que cometi”, afirmou ele, que se referiu ao fato como “um descontrole” do casal.

Na ocasião, Alexandra registrou boletim de ocorrência da agressão e passou por exame de corpo de delito, que atestou hematomas e um dente quebrado. Pedro Paulo também passou pelo exame, que detectou arranhões e marcas vermelhas. Na terça-feira, 3, Alexandra se apresentou espontaneamente no Ministério Público. Não foi divulgado o teor do depoimento. De acordo com Pedro Paulo, ela manifestou o desejo de “que esse episódio seja arquivado como foi arquivado no âmbito da Vara de Família”.

Analistas preveem inflação a 9,99% em 2015 e PIB de -1,90% em 2016

• Pesquisa Focus indica mais uma piora na atividade este ano e alta da Selic no próximo

Por Andrea Freitas – O Globo

RIO - Economistas consultados pelo Banco Central na pesquisa Focus, realizada semanalmente, encostaram a previsão do IPCA deste ano nos 10%, já que a mediana das expectativas indica que a inflação oficial fechará em 9,99%. Na sexta-feira, o IBGE divulgou a taxa de outubro, que ficou em 0,82% no mês, acumulando 9,93% no ano. Para 2016, o índice está em 6,47%, cada vez mais próximo do teto do meta do governo, que é de 6,5%. Já as previsões para o PIB deste ano e do próximo voltaram a piorar e acredita-se que a economia pode encolher quase 2% no ano que vem.

De acordo com o relatório divulgado nesta segunda-feira pelo BC, a expectativa para ainflação deste ano passou de 9,91% na semana passada para 9,99%. Esta foi a oitava elevação consecutiva. Alguns analistas já acreditam que a taxa do ano pode chegar a 11%, caso o governo eleve a Cide — tributo cobrado no preço da gasolina — como forma de compensar a não aprovação da CPMF.

Para o ano que vem, a taxa prevista para o IPCA subiu pela 14ª semana consecutiva e de forma ainda mais expressiva, passando de 6,29% para 6,47%. O economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, é bem mais pessimista que a mediana do Focus e acredita que a taxa pode chegar aos 8% no fim de 2016. A meta oficial de inflação é de 4,5%, podendo variar dois pontos para cima ou para baixo.

A previsão para o desempenho da economia para este ano caiu pela 17ª vez. Os economistas acreditam que haverá um recuo de 3,10%, ante 3,05% da semana passada. Já a perspectiva para 2016 se deteriorou de forma mais intensa e se aproxima de uma contração de 2%. Na quinta revisão para baixo seguida a expectativa passou de -1,51% para -1,90%.

A taxa básica de juros, a Selic, foi mantida nos atuais 14,25% já em vigor pela 15ª semana seguida. Para 2016, porém, os economistas elevaram a previsão de 13% para 13,25%.

Já a cotação do dólar frente ao real foi mantida sem alterações. Para este ano a taxa segue em R$ 4 pela quinta vez consecutiva, enquanto para 2016 está em R$ 4,20 pela segunda semana.

Aécio Neves: Elas

- Folha de S. Paulo

A defesa dos direitos das mulheres mobilizou o país nas últimas semanas. A grave crise econômica e política perdeu espaço para discussões imperativas e para campanhas que denunciam o assédio e condenam machistas, racistas e retrocessos que envergonham a sociedade.

Embora estejam cada vez mais integradas ao mercado de trabalho e ao comando de instituições, as mulheres que devem ser centro das políticas públicas ainda são as principais vítimas de preconceitos, discriminadas até mesmo na remuneração inferior a dos homens. Estão sub-representadas na política e na sociedade, o que precisa ser superado.

Neste momento de defesa e valorização das mulheres, e em meio a uma grave crise social da qual elas são grandes vítimas, é oportuno resgatarmos o legado da professora e antropóloga Ruth Cardoso.

Ela personificou um tipo de ação fundamental no país em que vivemos. Buscava o fortalecimento da iniciativa e da responsabilidade individual e coletiva. Contribuiu para a defesa das minorias e o fortalecimento dos movimentos sociais.

Com o Comunidade Solidária, ouviu a sociedade, os mais pobres. Defendia a autonomia, não a dependência. A superação, não a administração diária da pobreza. Por isso, priorizava a educação, a capacitação e a participação social.

Com uma equipe comprometida, Ruth Cardoso trabalhou movida pela convicção de que os pobres têm o direito fundamental de fazer a travessia a uma inclusão social verdadeira e permanente. Sustentável.

Acima de tudo foi uma entusiasta da parceria entre sociedade e Estado. Suas ideias nunca foram tão atuais em um tempo em que o estatismo social do PT submete as políticas sociais à perversidade da lógica e do calendário políticos.

Essencial na consolidação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, criado em 1985, com seu humanismo, ela estaria hoje condenando com veemência as tentativas de coerção, abuso e violência contra cada brasileira.

Felizmente a sociedade avança pela força e mobilização das mulheres. Assistimos ao Outubro Rosa deste ano se espalhar com delicadeza e firmeza por todo país. A defesa de direitos que antes se traduzia em manifestações segmentadas, hoje une profissionais de todas as áreas e estratos sociais, mães, estudantes, negras, idosas e vítimas generalizadas de preconceitos ainda enraizados em nossa cultura.

Os desafios são enormes, mas os movimentos das últimas semanas em defesa da dignidade nos mostram que as vozes a favor dos direitos das mulheres não devem ter gênero. Precisam ser de toda a sociedade.

É importante estar e lutar ao lado delas. Sem a força, inteligência e sensibiidade femininas não há mundo que resista. Nem que valha a pena.
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Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Aspásia Camargo e Paulo Rabello de Castro*: O PMDB e a reengenharia do Estado

• Não é hora de sonhar pequeno. O Brasil merece redesenho com aspiração de grandeza

- O Estado de S. Paulo

O “estado de desconfiança” da Nação – impasse maior do que mera “crise política” – agrava-se por incapacidade do governo de encarar e dizer toda a verdade. Diante do tamanho dos erros cometidos, são inúteis as medidas aventadas no campo oficial, que mantêm o governo prisioneiro dos mesmos equívocos do passado. O mérito do PMDB, ou de uma liderança que dele se destacou, foi o de se descolar do núcleo baratinado do governo para afirmar uma agenda de efetivas mudanças, enfim Uma Ponte para o Futuro. Um bom começo, quando convoca outras forças políticas e a sociedade a enriquecer o que lá se propõe. Eis aí o verdadeiro PMDB, como partido patriarca da nova democracia brasileira.

Mas é preciso enxergar a ponte para o futuro e atravessá-la até a outra margem. Ao fazermos isso constatamos outra crise, de esclerose múltipla do Estado, enraizada em nossa cultura e na História republicana. Ambas as crises clamam por remédio, por isso o receituário de curto prazo – emergencial, bem coberto pelas medidas no documento peemedebista – precisa estar subordinado a estratégias de longo prazo, aí nem tanto enumeradas, que levarão toda a sociedade a um novo patamar de prosperidade. Esse é o outro lado da ponte... O controle dos orçamentos públicos não deve ser visto apenas como castração ou sacrifício. O que já está paralisando o País é a absoluta falta de um controle inteligente do dispêndio.

São as desordens fiscal e financeira que promovem o desemprego e infelicitam a população. Mas por que tardamos em adotar, por exemplo, um “orçamento em base zero”, como acaba de fazer o México, mesmo sem crise orçamentária? É porque o Orçamento federal brasileiro já está “apropriado” pelos donos do poder, na clássica expressão de Raymundo Faoro. Se assim é, melhor enfrentar o adversário do progresso com a visão histórica de que cumpre afastar esse “Estado demiurgo”, condutor tirano da economia, disfarçado de benfeitor que agracia milhões de brasileiros. No caso, são 60 milhões de cheques, gordos ou magros, distribuídos mês após mês por Brasília. No limite, esse aparelho de bondades se apresenta como um “governo grátis”.

No modo patrimonialista de conduzir a sociedade estão as raízes da crônica ineficiência gerencial do Estado, que se vale da carga abusiva de impostos indiretos para manter um imenso parque de benesses assistenciais, enquanto, em silêncio, desindustrializa nosso parque fabril, tornando o setor privado um toxicômano dependente dos favores oficiais. Aí nascem todas as pedaladas e suas absurdas justificativas.

Essa mesma prática manipuladora é a que cria a maior distorção de todas – o juro de mercado mais alto do mundo – para, em seguida, vir o mesmo governo propor socorro financeiro a segmentos “necessitados” de ajuda direta via subsídios ou desonerações, que se estendem à área social.

Herdamos o Estado concentrador e distribuidor de privilégios, política essa que a Escola de Public Choice definiu comorent seeking – a busca da renda fácil e carimbada, garantida e capturada por meio do governo que as distribui aos amigos do poder.

Tudo isso está, embora telegraficamente, no lúcido documento do PMDB. O que não está é o reconhecimento da origem histórica dessa doença pública do patrimonialismo corporativista. Viria daí, talvez, a omissão à urgência de se buscar novo pacto federativo, a partir do próprio desenho das políticas emergenciais de ajuste. Não se podem dissociar tais desenhos. Os entes federados estão hoje subjugados pela canga de uma dívida estatizada com juros extorsivos, que reduz a “soberania” fiscal dos 27 Estados da Federação a meros apropriadores de fundos federais, como FPE, FPM e Fundeb.

Por sua vez, estes repassam seu próprio tributo, o ICMS, aos municípios, numa rede de dependências recíprocas, encimadas por uma teia de incentivos fiscais concedidos à margem da utópica unanimidade do Confaz.

A nova estrutura tributária, de que pouco fala o documento, deve conceber mecanismo automático de apropriação de receitas fiscais, capaz de assegurar poder financeiro aos Estados para exercerem a condução regional dos seus negócios e investimentos. Valorizar a Federação, com seus 27 governantes, é ampliar, num passo decisivo, a produtividade do capital político do País. Fazer emergir o Brasil federativo talvez seja a joia institucional mais preciosa que esta crise nos esconde.

A par disso, é essencial enunciar as medidas que nos abrirão as janelas de acesso a um novo e fértil sociocapitalismo de massas. Tais medidas tampouco podem esperar, pois serão formadoras de poupanças, de que somos carentes. O Brasil tem de ir além de corrigir a velha Previdência Social. É preciso apresentar a nova maneira de fazer previdência às gerações de jovens adultos que hoje prefeririam ser “esquecidos” de contribuir para a velha. Como atraí-los? Com as contas personalizadas e capitalizadas de Previdência, algo fundamental que passou à margem das medidas apresentadas. Nessa visão mais ampla, será possível engajar literalmente dezenas de milhões de trabalhadores ao mundo do capital, tirando o povo da “mesada” política de cada fim de mês.

A ideia é acordar o “capital morto”, na feliz expressão do peruano Hernando de Soto, seja ele um capitalismo escondido na favela, nos assentamentos rurais, na previdência do INSS, nas escolas ou nos ambulatórios públicos. Pode ser até na defesa integrada do capital ambiental; por que não?

Tais dimensões do capital popular ganham a proporção de uma revolução, uma reengenharia do Estado brasileiro. O mérito da ponte lançada pelo PMDB é ter começado a esclarecer as opções que a população brasileira tem pela frente. Travessia para o futuro é o que move a maioria esmagadora do povo. Por isso, não é hora de sonhar pequeno. O Brasil, como proposta de vivência coletiva, também merece ser redesenhado em “base zero”, com aspiração de grandeza.
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*Diretora da Fundação João Mangabeira e Presidente do Instituto Atlântico

Celso Rocha: O PMDB liberal

- Folha de S. Paulo

Quando você acha que já viu de tudo, eis que aparece o PMDB defendendo ideias. No documento recém-publicado "Uma Ponte para o Futuro", o partido de Temer abraça políticas francamente liberais: defende a abertura da economia, a desregulamentação e reformas que garantam o equilíbrio fiscal.

O texto parece inspirado no documento "O Ajuste Inevitável", de Marcos Lisboa, Samuel Pessôa e Mansueto Almeida. O manifesto tem algumas boas propostas, que merecem inclusive atenção da esquerda.

Mas por que o PMDB, que tanto conseguiu sendo o partido sem programa por excelência, resolveu competir no mercado de manifestos, ainda mais no segmento de manifestos liberais? Não foi por compromisso histórico com o equilíbrio fiscal. O PMDB, afinal, nem sempre foi o melhor amigo dos cofres públicos. E, se quisesse, já teria ajudado Dilma a aprovar as medidas necessárias ao ajuste meses atrás.

Do ponto de vista do PMDB, "Uma Ponte para o Futuro" pode servir para várias coisas. Pode, por exemplo, fazer por ele o que o documento da Fundação Perseu Abramo fracassou em fazer pelo PT: permitir ao partido se distanciar de Dilma no plano das ideias, sem romper ou entregar cargos. Com a vantagem que, se Dilma for bem-sucedida com o programa de Levy, o PMDB ainda poderá reivindicar a paternidade do filho bonito.

Mas o sentido mais óbvio do documento, que não escapou a ninguém, é que Temer tranquiliza a elite econômica: em caso de impeachment, a política econômica será ortodoxa. O documento também serve de aviso ao PSDB e a outros partidos que lutam pelo impeachment: se não quiserem ser meus aliados na hora do ajuste, voltem em 2018.

Sabem jogar, os peemedebistas.

Mas cabe a pergunta: qual a viabilidade do PMDB como partido liberal, candidato a tomar do PSDB a liderança da centro-direita?

Algumas vantagens do PSDB sobre os outros partidos à destra já começam a perder peso. O Plano Real já tem mais de vinte anos. Os intelectuais tucanos não geraram sucessores dentro do PSDB. Os tucanos têm menos quadros envolvidos com corrupção do que os outros partidos de direita, mas isso era mais relevante quando o PT tinha mais moral para denunciar corrupção. Persiste, porém, a grande força eleitoral, em especial em São Paulo.

Mas um dos trunfos do PMDB é a chance de chegar à presidência sem precisar de eleição. Um PMDB liberal pós-impeachment, em tese, não precisaria fazer as concessões social-democratas do PSDB, e poderia praticar um programa liberal puro-sangue. É um cenário plausível?

No fundo, depende do seguinte: se você acha que a esquerda vai demorar muitos anos para voltar a ter capacidade de mobilização (com ou sem o PT), o liberalismo pelo alto de Temer pode funcionar. Se você acha que a esquerda qualquer hora está de volta, é melhor continuar apostando no liberalismo social dos tucanos. Contra uma esquerda forte, um governo Temer, eleito por Eduardo Cunha, tentando fazer o que FHC não fez após duas vitórias em primeiro turno, não duraria quinze minutos no ringue.

De qualquer forma: continuarão sabendo jogar, os peemedebistas.
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Doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, é analista do Banco Central.

Ricardo Noblat: Teatro do absurdo

- O Globo

“Não interessa se vai colar ou não. O que importa é ter algo a dizer.” Um deputado, amigo de Eduardo Cunha

A não ser os muitos ricos ou as almas caridosas, ninguém abre mão do dinheiro que tem. Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, não parece ser muito rico. Nem aquele corpo parece abrigar uma alma caridosa. Mas quer convencer-nos de que, um dia, depois de acumular razoável fortuna, abriu mão dela. Doou-a a um fundo de investimento. E de dono passou à condição de apenas beneficiário.

ISSO SIGNIFICA que Eduardo deixou de ser dono do seu dinheiro? Não. O dinheiro continuou sendo dele. Eduardo limitou-se a renunciar à tarefa de administrá-lo. E por tê-lo feito, pôde dizer, sem mentir à CPI da Petrobras, que não tinha contas bancárias no exterior. Sendo assim, não poderá ser cassado por quebra de decoro parlamentar. Certo? Certo como?

NÃO FOI O Ministério Público da Suíça que informou ao nosso que Eduardo tinha por lá quatro contas bancárias? E que elas haviam sido bloqueadas? Mas como bloqueadas, se ele teima em afirmar que não tinha conta alguma? Bem, se não tinha conta alguma, por que então tentou anular os documentos remetidos pela Suíça para cá?

NÃO FOI A existência das contas a base da denúncia feita contra Eduardo pelo Procurador Geral da República daqui? Falo da segunda denúncia. Porque na primeira, Eduardo foi acusado de receber US$ 5 milhões em propina do esquema de corrupção na Petrobras. Parte da propina teria sido depositada em uma das contas pelo lobista do PMDB João Henriques, preso pela Lava Jato.

DE RESTO, SE fosse mesmo verdade tudo o que Eduardo conta agora na esperança de salvar-se, por que ele não contou há mais tempo? Certamente, não teria sido alvo de tantos ataques como foi. Não teria se desgastado tanto. E, muito menos, responderia a um processo de cassação do mandato como o que acabou instalado no âmbito do Conselho de Ética da Câmara.

EDUARDO SUARÁ para que seu julgamento só ocorra no próximo ano. Mas, de novo, por quê? Uma vez inocente, e amparado por documentos que provam o que diz, por que Eduardo não se oferece para ser julgado logo? Sua agonia seria abreviada. E o país atravessaria em paz os festejos do fim do ano porque o segundo na linha direta de sucessão da presidente é um homem honrado.

ESQUECI-ME DE explicar a história do depósito em conta inexistente de Eduardo na Suíça feito pelo lobista João Henriques. Segundo Eduardo, o ex-deputado mineiro Fernando Diniz lhe devia uma grana. Morreu e não pagou. Um dia, alguém, possivelmente o filho de Diniz, valeu-se do lobista para saldar a dívida. Como o lobista soube que Eduardo tinha uma conta na Suíça, e o número dela?

CHEGA! BASTA de detalhes e de argumentos que de tão sólidos se desmancham no ar. Eduardo precisava construir uma narrativa capaz de servir de pretexto para ser absolvido por 12 dos 21 membros do Conselho de Ética. Acha que construiu a melhor narrativa possível, a que estava ao alcance da sua e da imaginação dos advogados que o cercam. E pronto. É isso aí.

NO PAÍS DOS absurdos, Eduardo aposta que se dará bem. Dilma não espera livrar-se de qualquer castigo por ter gastado além do que podia? Lula não declarou que recebeu só para dar palestras R$ 27 milhões em quatro anos? Com o dólar a R$ 2,20, valor médio do período, ele ganhou o equivalente a US$ 12,271 milhões. Ou US$ 3,6 milhões/ano. Ou US$ 255,61 mil/mês. Ou US$ 8,5mil/dia. Ou US$ 3,5 mil por hora, acordado ou dormindo.

José Roberto de Toledo: Política sem corantes

• Além de ligada, a geração do milênio é mais globalizada. E absorve tendências mais rápido

- O Estado de S. Paulo

De onde vem o sucesso dos inúmeros programas gourmets na TV? Por que tantos master chefs, cozinheiros mirins e até youtubers que ditam receitas sem saber cozinhar são celebridades instantâneas? Pelo mesmo motivo que o McDonalds está em crise, que o consumo de suco industrializado caiu 45% nos EUA e que a visualização de vídeo pela internet ultrapassa a TV a cabo. É, também, a razão pela qual o jeito tradicional de fazer política está caducando.

A geração nascida após 1980 e amadurecida no terceiro milênio está provocando um terremoto nos hábitos de consumo. Os primeiros abalos foram sentidos pelos setores de alimentação e de mídia. Junho de 2013 antecipou que os tremores não param aí.

O movimento, como de hábito, é do centro para a periferia. Desde o fim dos anos 1990, o consumo de refrigerantes calóricos caiu 25% nos EUA. Até os tradicionais cereais açucarados do café da manhã perderam a graça para o público e amargam perda de um quarto das vendas. Como resultado, pela primeira vez em décadas o consumo de calorias per capita dos gringos está em queda, o que fez parar de alargar sua obesidade. A mudança independe de classe social e é mais forte entre as crianças do que entre os adultos.

As pesquisas de opinião explicam o que o mercado está sentindo nas vendas. Em vez de bebidas doces, água; em lugar de “fast food” ou pratos congelados, os filhos do milênio preferem comida fresca – de preferência preparada em casa, com produtos orgânicos entregues por diversos fornecedores locais. É o que mostrou a pesquisa The millennial impact: Food shopping decisions, divulgada em setembro pela Mintel Group. Mas não só.

Para dificultar as coisas para a indústria alimentícia, a sondagem mostra que a nova geração desconfia duas vezes mais das grandes empresas do setor do que os seus pais e avós (42% a 18%). Os “millennials” exigem mais transparência sobre como a comida é produzida e esperam que as marcas se comuniquem diretamente com os consumidores, e sem muito lero-lero.

Gigantes da indústria começaram a se mexer. Como sintetizaram os professores Hans Taparia e Pamela Koch em artigo publicado no The New York Times, estão abandonando corantes, aromatizantes e ingredientes cujos nomes cabem melhor em uma bula de remédio. Também reduziram as doses de antibióticos dados às aves que abatem. E, por via das dúvidas, compraram empresas de produtos orgânicos por até quatro vezes seu valor de mercado.

O jeito de consumir informação dos filhos do milênio também é diferente: nos EUA, 61% dizem que sua principal fonte é o Facebook, contra 39% entre os norte-americanos nascidos no boom demográfico logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Encabeçam a lista de referências informativas da nova geração Google News (33%), Yahoo News (27%), YouTube (23%) e Twitter (14%).

Embora ainda haja na lista dos “millennials” emissoras locais, globais como CNN e nacionais como ABC News e Fox News, o peso da TV no cardápio informativo dos novos consumidores é cadente e bem menor do que para a geração de seus pais. Salvo o New York Times, raros jornais conseguem alimentar suas receitas com eles.

“Ah, mas isso é coisa dos gringos. No Brasil é diferente.” Será? A crise de faturamento publicitário nos meios de comunicação é tão grave aqui quanto lá. Produtos com aparência de mais naturais do que os outros – como sucos detox ou mesmo os de caixinha que se vendem sem conservantes nem adição de açúcar – ampliam sua fatia de mercado. Além de ligada, a geração do milênio é mais globalizada. Absorve tendências mais rápido.

Nas ruas brasileiras, os filhos do milênio estrearam em 2013. O movimento difuso solapou a popularidade de um governo que se sustentava pelo acesso universal ao consumo. Coincidência? Só para quem acredita em política com adição de açúcar.