O Estado de S. Paulo
Orçamento secreto e execução igualitária de emendas quebram o presidencialismo de coalizão
O presidencialismo multipartidário requer
“moedas de troca” entre o Executivo e o Legislativo para alcançar
funcionalidade. Um presidente é incapaz de construir e manter uma coalizão
majoritária sem uma “caixa de ferramentas” sob sua inteira discricionariedade.
A execução de emendas parlamentares é uma das principais ferramentas desse
jogo, já que gera governabilidade com baixa interferência em políticas de
perfil universal.
Esse jogo de trocas estava em equilíbrio
até o governo Dilma. Como consequência da má gerência de suas coalizões e de
sua fragilidade política no processo de impeachment, Dilma preferiu “perder os
anéis para preservar os dedos”, ao aceitar tornar impositivas as emendas
individuais. Já Temer, sob ameaça de dois pedidos de impeachment, permitiu que
as emendas coletivas também se tornassem impositivas.
A obrigatoriedade na execução das emendas individuais e coletivas, em vez de ter sido um avanço nas relações entre Executivo e Legislativo, engessou o jogo e o tornou mais caro. No momento em que os legisladores perceberam que não precisavam mais votar de forma consistente com o Executivo para que suas emendas fossem executadas, o presidente teve de encontrar moedas alternativas de recompensa.