sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Fernando Luiz Abrucio* - Cartas para um futuro melhor

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Modelo de documento em defesa do Estado Democrático de Direito precisa ser expandido para outros temas

A organização da sociedade civil brasileira foi fundamental para evitar qualquer tipo de golpe contra as eleições presidenciais de 2022. O primeiro round pela democracia foi vencido, graças à utilização de um modelo de cartas de princípios que firmam compromissos entre os grupos mais diversos, como UNE, Febraban, centrais sindicais, intelectuais, advogados, Fiesp e outros, a fim de definir o que é prioritário para o futuro do país. Esse modelo deve ser expandido para outros temas porque salvar o regime democrático é apenas o ponto inicial a partir do qual juntaremos as peças necessárias ao desenvolvimento do Brasil.

A “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito”, documento-síntese da mobilização contra o golpismo, somou-se à pressão internacional (principalmente dos EUA), permitindo que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, ganhasse o apoio necessário para que a Justiça não ficasse mais sozinha na luta contra os autoritários. Ainda há riscos democráticos caso Bolsonaro vença e tente o plano Orbán de expandir os poderes presidenciais e aumentar o número de ministros do Supremo Tribunal Federal. Será preciso criar instrumentos de monitoramento, com suporte social amplo e diverso, para acompanhar e evitar que a democracia se quebre sem que haja um golpe de Estado clássico.

Mantida a institucionalidade democrático-liberal, serão necessários outros passos para reconstruir políticas públicas destruídas nos últimos anos e colocar o país nos trilhos do século XXI. Esse processo exigirá diagnósticos técnicos sólidos sobre os principais temas nacionais, pois o custo do amadorismo e do negacionismo científico já foi muito alto e tende a se intensificar com a competição internacional e com a complexificação dos problemas em todo o mundo. Nessa linha de solução, documentos vindos de diversas áreas e com grande qualidade apareceram nos últimos meses. Eles deveriam ser lidos e discutidos obrigatoriamente por todos os candidatos e pelas pessoas preocupadas em melhorar o país.

José de Souza Martins* - A perda da capacidade de ser quem somos

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Os pobres mais pobres estão perdendo suas estratégias de sobrevivência

Em entrevista a Marcelo Osakabe, do Valor, Ricardo Paes de Barros, destacado estudioso da pobreza no Brasil, chama atenção para o fato de que os pobres mais pobres estão perdendo suas estratégias de sobrevivência. Isto é, a de busca e uso dos recursos e expedientes de economia marginal que lhes permita sobreviver com as sobras, resíduos e desperdícios do sistema econômico. O mercado marginal da economia dominante e propriamente capitalista.

Nessa importante constatação para compreender a crise econômica e social atual, o economista desenvolve e sugere uma reflexão paralelamente sociológica sobre a economia da pobreza. Perder estratégias de sobrevivência significa que, nos diferentes grupos e categorias sociais, mesmo entre os desvalidos, a sociedade que inventava soluções de emergência para suas adversidades perde sua capacidade de fazê-lo.

Os seres humanos, qualquer que seja sua condição, reinventam a sociedade continuamente, à medida que normas e valores que dão sentido ao seu modo de viver são corroídos e invalidados por transformações econômicas, políticas e sociais que independem de sua vontade.

Vera Magalhães - Debate é dever, não favor

O Globo

Confronto direto é ambiente para desmentir boatos e desmentir estratégias abaixo da linha da cintura

O Brasil regrediu a tal ponto em termos civilizatórios e de maturidade política que a ida de candidatos a presidente da República a debates virou praticamente um favor que esses políticos prestam à imprensa e ao eleitorado. Não é. Trata-se de um dever elementar de quem tem a pretensão de merecer o voto para comandar os destinos de um país da complexidade e do tamanho do Brasil por quatro anos.

É o que dá tratar candidato como pop star e eleição como futebol. Do seu ídolo você não cobra nada, porque você é fã. Você pode até ter raiva momentânea do seu time, mas segue torcendo mesmo na derrota. Transformado em torcedor, o eleitor atura que seu candidato aja com ele com o profundo desdém de imaginar que não precisa explicar o passado, se comprometer com o futuro ou dizer como e com que dinheiro cumprirá suas promessas.

O voto é considerado favas contadas, e é mais seguro, dizem marqueteiros e conselheiros de toda ordem, falar apenas em ambientes controlados, livres do confronto direto com adversários e do escrutínio da imprensa profissional.

A condição apresentada inicialmente para que o ex-presidente Lula participasse de debates no primeiro turno era a realização de pools, arranjos pelos quais vários órgãos de comunicação se unem para a transmissão simultânea. Com isso, a agenda do candidato ficaria livre para outros compromissos.

Flávia Oliveira - Via de mão dupla

O Globo

Os estudos têm confirmado resultados positivos acima do esperado, tanto em desempenho quanto em evasão dos cotistas

 ‘Não pergunte o que seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer por seu país.’ A frase de John Kennedy (1917-1963) aos americanos no discurso de posse, em janeiro de 1961, tornou-se mundialmente famosa, nunca esquecida. Neste domingo, 28 de agosto, a lei federal de cotas completa uma década. O raciocínio plantado pelo então presidente dos EUA se aplica integralmente. Não é o caso de só perguntar o que a Lei 12.711 fez por alunos de escolas públicas, pobres, negros, indígenas, mas de saber o que esses brasileiros fizeram pela educação no país. Entregaram muito, porque nenhuma política pública é via de mão única.

Bruno Boghossian - Uma hesitação de milhões

Folha de S. Paulo

Conselheiros falam em preocupação e mudança de estratégia, mas campanha continua dividida

A falta de uma ação coordenada no eleitorado evangélico pode ter custado ao PT mais de 5 milhões de votos nos últimos meses. Em maio, quando o partido dizia que não era preciso investir numa agenda para o grupo, as pesquisas indicavam uma vantagem de 1,2 milhão de votos de Jair Bolsonaro sobre Lula entre esses fiéis. Agora, o presidente supera o petista por 6,6 milhões de eleitores.

O alerta soou tarde. Integrantes da equipe de Lula acreditavam que o mal-estar econômico manteria parte dos evangélicos afastada de Bolsonaro. Agora, eles reconhecem que o presidente teve sucesso ao intensificar um trabalho dentro dos templos e espalhar a ideia de que um eventual governo do PT pode prejudicar tanto as igrejas como os fiéis.

Hélio Schwartsman - Limites da manipulação

Folha de S. Paulo

Quando a coisa aperta, é à imprensa profissional que a sociedade recorre

Até onde você iria para eleger seu candidato? Sempre polêmico, o filósofo Sam Harris deixou a mídia de direita indignada ao afirmar que a grande imprensa teria agido bem se tivesse escondido podres de Joe Biden para evitar que Donald Trump fosse reeleito.

Embora Harris seja um realista moral, isto é, sustente que existem verdades morais, e eu não vá tão longe, ambos bebemos do consequencialismo, a ideia de que ações devem ser consideradas boas ou más com base em seus resultados, não em princípios deontológicos abstratos.

Assim, concordaria em gênero, número e caso com Harris se julgasse que Trump (ou seu similar brasileiro) representa o mal absoluto (penso que ele é péssimo, mas ainda não o Armagedom) ou se estivéssemos tratando de uma interação única, isto é, se imprensa, eleitorado e candidatos se encontrassem uma só vez para definir um pleito e nunca mais se relacionassem. Nesse caso, o acobertamento midiático teria reduzido o volume de mal no mundo e fim da história.

Reinaldo Azevedo - Cana aos inimigos da sociedade aberta

Folha de S. Paulo

A PGR de Augusto Aras e a de Rodrigo Janot são males distintos e combinados

É constrangedor assistir aos arroubos condoreiros de "principistas", movidos por brios que pretendem libertários, revoltados porque pessoas de quase fino trato foram chamadas a responder por suas maquinações golpistas. Sentem aquela comichão para defender a "liberdade de expressão". E indagam em tom exclamativo: "Quer dizer, então, que não podemos pregar golpe de estado nem num grupo de zap!?" Não podem.

Ou podem. Mas têm de prestar contas à Justiça caso isso venha a público. A propósito: quais outros crimes, além dos tipificados nos Artigos 359-L e 359-M do Código Penal, poderiam se prestar a, digamos, divagações diletantes? Pedofilia? Assalto a banco? Narcotráfico? "Ah, não vamos misturar". Não misturo. Mas quero saber com quais crimes se pode flertar e por quê.

Eliane Cantanhêde - Ordem unida

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro, Braga Netto e Tarcísio puxam o coro e Moraes pode ter dado tiro no pé

Cruzando a entrevista do presidente Jair Bolsonaro ao Jornal Nacional da TV Globo, a do seu candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ao Estadão-FAAP, e as palestras do vice na sua chapa, general Walter Braga Netto, tem-se que a campanha está muito azeitada, unificou a estratégia e o discurso. Os candidatos “pendurados” na reeleição de Bolsonaro defendem o “legado” e falam a mesma língua no País todo.

Ele se recusou a fazer media training (simulação prévia de entrevista) para o Jornal Nacional, alegando que isso é “frescura”, e avisou que seria “do jeito que é, simples, autêntico, falando com o povo”, como disse um assessor próximo. Recebeu, porém, uma série de informações, dados e números detalhados sobre os quase quatro anos de governo. Os mesmos que Tarcísio e Braga Netto replicam.

Pedro Doria - Falar bobagem no Zap

O Globo

Legalmente, Moraes estava dentro de sua autoridade. Parece ter traído, porém, o espírito da Constituição

Nesta eleição, a constante ameaça à democracia expressa pelo bolsonarismo impõe dilemas dificílimos a todos nós. Qual o limite do seu direito de falar bobagem no WhatsApp? A diligência da Polícia Federal, que entrou nas casas e escritórios de empresários bolsonaristas que defenderam um golpe de Estado, é um dilema desses. A PF obedeceu a um mandado de busca e apreensão emitido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e se baseou nas conversas reveladas pelo jornalista Guilherme Amado, do site Metrópoles. Moraes, pelo que se sabe até agora, não teria nenhum elemento novo além das conversas explicitamente golpistas.

Para esses homens, a opinião do eleitorado, a escolha da sociedade brasileira, é menos importante que suas preferências políticas — se o ex-presidente Lula vencer, que venha o golpe. Ocorre que não há lei contra falta de caráter. Não há lei contra desejar um golpe de Estado. Há, isto sim, lei contra trabalhar por um golpe. Estamos perante um problema filosófico que vai no âmago de que democracia temos. E de que democracia queremos.

Luiz Carlos Azedo - Retrato de um homem político na guerra surda dos Poderes

Correio Braziliense

O ministro Alexandre de Moraes está diante de uma situação limite, na queda de braço com o procurador-geral da República, Augusto Aras. Precisa respeitar o devido processo legal

Não, não estou falando do extraordinário personagem da política francesa do final do século XXVIII, biografado pelo escritor austríaco radicado no Brasil Stefan Zweig, no livro Joseph Fouché — Retrato de um homem político (Zahar), lançado em 2015. Foi o políticos mais metamorfose ambulante que a história francesa conheceu, pois passou incólume pela Revolução Francesa e pela Era Napoleônica, derrotando Robespierre e o próprio Bonaparte. Escrito em 1929, o livro foi a antessala de outra notável biografia do mesmo autor, Maria Antonieta — retrato de uma mulher comum (Zahar).

“Os governos, as formas de governo, as opiniões, os homens mudam, tudo cai e desaparece no torvelinho veloz do fim do século, e só um homem fica sempre no mesmo lugar, em todos os postos, com todos os modos de pensar: Joseph Fouché”, resumiu o jornalista brasileiro Alberto Dines, no posfácio do livro, que classificou como uma “psicopatologia do poder”. Ex-seminarista, depois militante anticlerical, Fouché tinha a habilidade de andar pelas sombras, influenciar sem tomar à frente, se posicionar sempre do lado da maioria ou, no caso da Revolução Francesa, do líder do momento, sem nunca se posicionar ou tomar partido aberto até que um vencedor estivesse definido.

César Felício - A polêmica da renda nas pesquisas eleitorais

Valor Econômico

Divergência entre os institutos não muda tendência geral

Na pesquisa mais recente do Ipec, há 47% de eleitores com renda até dois salários mínimos no Estado de São Paulo. No levantamento do Datafolha, são 41% neste recorte. A pesquisa paulista do Ipespe constatou 36% de eleitores na renda mais baixa. A do Ideia, 35%. A da Quaest, 25%, mesmo percentual usado pela AtlasIntel. Quem está certo?

Nenhum segmento medido nas pesquisas de opinião, nem mesmo a autoidentificação de gênero, é esculpido sobre a pedra. Tudo é variável, mas talvez nada seja tão fluido quanto a renda. A renda familiar é afetada com uma separação, a perda de um emprego, o nascimento de um filho.

Dada a diferença de perfil entre os eleitorados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente Jair Bolsonaro, a diferença não é trivial. A base lulista está entre os pobres. A menor quantidade de pobres pode afetar diretamente o seu percentual em pesquisas de intenção de voto.

Francisco Góes - O orçamento secreto e o investimento para Tebet

Valor Econômico

Transparência no orçamento secreto defendida por presidenciável Simone Tebet é importante para investimento em infraestrutura

A candidata do MDB à Presidência, Simone Tebet, disse na sabatina ao Valor, “O Globo” e CBN que, se eleita, vai tornar mais transparente o gasto público no Brasil, o que inclui o chamado “orçamento secreto”. O termo vem sendo usado para designar a distribuição de verbas, pelo relator da lei orçamentária, entre aliados do governo em troca de apoio político. “É possível dar transparência ao orçamento secreto com uma canetada [do presidente]”, disse Tebet.

A transparência passa pelos investimentos do Estado na economia e, em particular, na infraestrutura. Cerca de um terço dos recursos aplicados nesse segmento no país vem do setor público e os outros dois terços da esfera privada. “Quando olha para as emendas do relator [no orçamento] e vê para onde vai o dinheiro, conclui que é investimento em infraestrutura da pior qualidade, para amigos do rei e amigos dos amigos dos amigos”, diz Claudio Frischtak, coordenador do programa de infraestrutura de Tebet.

Bernardo Mello Franco - Cerveja e picanha no JN

O Globo

Ex-presidente veste figurino conciliador, exalta a dobradinha com Alckmin e evita lavar roupa suja com a imprensa

E Lula conseguiu levar a promessa de cerveja e picanha para a bancada do JN. De volta ao telejornal depois de 16 anos, o ex-presidente usou o palanque eletrônico para vender otimismo. Disse que a economia voltará a crescer e que os brasileiros farão muito churrasco se ele retornar ao Planalto.

Depois de um início tenso, em que foi questionado sobre a corrupção na Petrobras, o petista relaxou. Retomou as metáforas futebolísticas e até reeditou o bordão “nunca na história deste país”.

Sem modéstia, Lula citou as pesquisas que o apontaram como o presidente mais popular que o Brasil já teve. “Estou querendo voltar para ser melhor do que eu fui”, emendou, num mote que deve ser repetido à exaustão na propaganda de TV. Ao comentar as tensões no campo, ele recitou outra ideia-chave de sua sexta campanha ao Planalto: “O que nós queremos é pacificar este país”.

Para reforçar o figurino de conciliador, o petista se desmanchou em elogios a Geraldo Alckmin. Exaltou a experiência do vice, seu adversário na campanha de 2006. “Eu estou até com ciúme do Alckmin”, gracejou, ao lembrar que o ex-tucano foi aplaudido de pé num evento do PT.

Malu Gaspar - Lula revelou mais pelas promessas que não fez

O Globo

Num tempo em que as entrevistas do Jornal Nacional com os presidenciáveis são comentadas como final de Copa do Mundo e o que interessa é saber se o candidato ganhou ou perdeu, pode-se dizer que Luiz Inácio Lula da Silva cumpriu alguns dos principais objetivos que traçou antes de chegar ao estúdio da Globo.

O principal era aparecer como um pacificador, alguém que toma cerveja com o adversário, que prefere o amor ao ódio e não coloca "rancor na urna". Completando o contraste com Bolsonaro, outra meta era surgir como um moderado. Não foi por outra razão que seu vice, o ex-tucano Geraldo Alckmin, foi citado tantas vezes nos 40 minutos de debate.

Quando confrontado com o seu velho discurso do "nós contra eles", Lula comparou a guerra política do passado a uma briga de torcidas – e foi em frente.

Ficou claro, também, o esforço de se mostrar como alguém que marqueteiros de várias correntes apontam ser o que o eleitor mais busca nesse pleito: um resolvedor de problemas. Várias vezes ao longo da entrevista, o ex-presidente encaixou um "eu sei resolver" em suas falas.

Carlos Andreazza - Lula e 'a garantia sou eu'

O Globo

Ex-presidente foi bem em entrevista ao Jornal Nacional. Teria ido muito melhor se não confiasse tanto em sua autoridade histórica como fiadora de um futuro

Lula esteve muito à vontade na entrevista ao Jornal Nacional. Falo em termos de tom; de soluções para enfrentar as perguntas. A rigor, é o que interessa em eventos assim. Menos o que se responde, o que se chama de conteúdo, inclusive com propostas; mais a forma como se leva a resposta para um campo confortável. Ele é mestre nisso. Campo confortável, em resumo: fui o melhor presidente da história do Brasil e sei como cuidar do povo.

O senão terá sido o início. Falo de percepção. Pode ser a lista gigantesca que for. Dezenas de benfeitorias a citar. Não fica bem percebido o entrevistado que baixa a cabeça para ler cola. Ficou estranho. Foi o único momento de nervosismo e titubeio. E diga-se que o ex-presidente respondia a uma questão sobre corrupção que lhe fora endereçada praticamente o eximindo de responsabilidade sobre crimes havidos em seu governo. Os adversários dirão que foi bola levantada na ponta. Os fatos confirmam que, não havendo mais condenação pela Justiça, o sujeito é inocente.

Igor Gielow - Lula critica até ditaduras amigas atrás do voto centrista

Folha de S. Paulo

Bem treinado, petista traz Alckmin à linha de frente atrás de voto fora da esquerda

Nada como uma campanha eleitoral. Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente e líder inconteste do PT, parecia o candidato de um partido social-democrata europeu em sua aparição na bancada de entrevista do Jornal Nacional desta quinta-feira (25).

Lula que se postou à frente das câmeras foi capaz de algo até aqui impensável: fez uma crítica às ditaduras da China e de Cuba, ao compará-las de forma negativa a processos democráticos brasileiros. Logo depois, questionado, voltou ao discurso usual de respeito a todos os países e tal, mas o objeto era tirar a pecha de amigão de ditadores.

Difícil na prática, mas sintomático da necessidade de provar-se algo diferente ante o público da maior audiência do telejornalismo, sem os filtros das redes sociais. Lula passou o recibo, enfim, ainda que seja evidentemente algo momentâneo.

Líder da corrida eleitoral, o ex-presidente (2003-10) dobrou William Bonner e Renata Vasconcellos. Diferentemente do que ocorreu com o arestoso Jair Bolsonaro na segunda-feira (22), o ex-presidente impôs seu discurso.

Rafael Cortez* - Lula sugere governo a quatro mãos para buscar voto não petista

O Estado de S. Paulo

Ex-presidente reforça a importância da escolha do vice-presidente na chapa em eventual novo mandato

Uma rápida observação das curvas de intenção de voto do ex-presidente Lula já é suficiente para mostrar a resiliência do apoio ao petista na corrida presidencial. A comparação com o tamanho das primeiras forças em anos anteriores sugere que Lula está muito próximo do teto histórico. O presidente Bolsonaro, por exemplo, teve 46% de votos válidos em 2018.

Assim, o desafio da campanha do petista é basicamente trazer algo novo para o eleitorado. Esse senso de urgência foi reforçado diante das incertezas associadas ao calendário eleitoral, a partir das contestações do presidente em relação a urna eletrônica. A leitura é que eventual vitória em primeiro turno suavizaria potencial transição.

Curiosamente, o ex-presidente fundamentalmente recorre ao passado para trazer o novo. Lula usa sua experiência anterior ao governo como fiadora do seu comportamento futuro, a despeito do antipetismo alimentado justamente pelo histórico do partido no governo e, especialmente, diante das novidades dos desafios conjunturais.

Maria Cristina Fernandes - Petista jogou por empate, mas saiu com saldo

Valor Econômico

Lula ressuscitou até o “nunca na história desse país”

Foi preciso recorrer a uma “colinha” sobre a mesa, mas, no confronto mais temido por sua campanha, o da corrupção, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva deixou de brigar com a pauta. Tampouco apelou à vitimização. Reagiu de maneira mais propositiva do que defensiva. Vendeu seu eventual terceiro mandato como um governo de combate à corrupção ao nominar as medidas que adotou em seu governo: portal da transparência, lei de acesso à informação, lei anticorrupção, lei de lavagem de dinheiro e Coaf.

“Só existe uma possibilidade de alguém não ser investigado no meu governo. É se não cometer erro”, disse à bancada do “Jornal Nacional”. Preparado para uma pergunta que não apareceu, sobre um mea-culpa, o ex-presidente soltou a frase de efeito que parecia talhada para o momento: “Quero ser melhor do que fui”. Junto com a exaustiva exploração do seu vice, Geraldo Alckmin, foi a âncora da entrevista.

Entre as medidas deste enfrentamento, porém, não se comprometeu em manter a escolha do procurador-geral da República a partir do mais votado da lista tríplice a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). “Quero que eles fiquem com a pulga atrás da orelha”, disse. Numa frase que vai fazer a festa dos bolsonaristas nas redes sociais, completou: “Essa coisa de prometer o que se vai fazer antes de ganhar é um erro.”

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões

Só democracia pode resolver conflitos de um país tão diverso

O Globo

Reportagem do GLOBO percorreu o Brasil para jogar luz sobre os cinco grupos que decidirão as eleições

Com a eleição indefinida, estima-se que ainda estejam em disputa perto de 48 milhões dos mais de 156 milhões de eleitores aptos a votar, sejam aqueles que não manifestam preferência nas pesquisas, sejam os que não demonstram convicção na própria escolha. Cinco grupos demográficos chamam a atenção por ser considerados decisivos para o resultado: os nordestinos, os evangélicos, as mulheres, a classe média e quem trabalha na cadeia do agronegócio. É especialmente nesses segmentos demográficos que os candidatos concentram esforços para erodir o apoio aos concorrentes.

De domingo até ontem, O GLOBO publicou uma série de reportagens — acertadamente intitulada Brasil Fora da Bolha — para ajudar a entender o que está em jogo na escolha dos brasileiros. As repórteres viajaram por quatro semanas, percorreram quase 2 mil quilômetros por terra, 16 horas em avião e ouviram 57 pessoas para cumprir a principal missão do jornalismo profissional: fornecer um testemunho fidedigno da realidade.

No Nordeste, a vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o presidente Jair Bolsonaro é explicada pela memória dos seus dois mandatos e de políticas sociais. A reportagem foi à Bahia, onde há o maior número de beneficiários do Auxílio Brasil de Bolsonaro, e verificou por que ele tem surtido efeito eleitoral aquém do desejado pelo governo. “Pedi para minha filha comprar R$ 5 de carne do sertão. Quando olhei o saco, só vi um tequinho deste tamanho”, disse Maria de Fátima, que mora num bairro violento de Salvador. Os mais pobres são os mais afetados pela inflação.

Poesia | Fernando Pessoa - Deitado na realidade

 

Música | Moacyr Luz & Samba do Trabalhador & Rildo - Beija-me