segunda-feira, 11 de junho de 2012

OPINIÃO DO DIA – Roberto Freire: agência reguladora Lula

O PT deveria se preocupar em regular o Lula, e não a mídia. Foi ele quem liderou os "dedaços" de Fernando Haddad e Humberto Costa e as intromissões na CPI e no Supremo.

Deputado Roberto Freire, presidente do PPS, sobre novo documento aprovado pelo PT paulistano que defende mais rapidez do governo federal na criação de mecanismos de regulação dos meios de comunicação. Folha de S. Paulo/ Painel, 10/6/2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Cachoeira intermediou venda da casa de Perillo
Rio+20: 75% do texto ainda estão em aberto
Mesmo com socorro, Espanha terá recessão

FOLHA DE S. PAULO
Em 8 anos, Brasil gasta R$2 bi com ação no Haiti
Um milhão de patrões têm dívidas trabalhistas
Imprensa tomou partido no mensalão, diz ex-ministro
Entrevista da 2ª: Marconi Perillo

O ESTADO DE S. PAULO
Resgate evita intervenção na Espanha, mas crise continua
Grampo liga assessor de Agnelo a grupo investigado
Empresas se reúnem para levar propostas à Rio+20

VALOR ECONÔMICO
Investimento público em transportes segue travado
CPI vira arma nas eleições municipais
4G entra em cena antes que padrão atual esteja maduro

CORREIO BRAZILIENSE
Algemado, preso some da Superintendência da PF
Preso desaparece de dentro da sede da PF
Nas asas da galinha
Briga por remédio dá prejuízo de R$ 266 milhões
Semana tensa na CPI do Cachoeira

ESTADO DE MINAS
Eleições: Enfim, PT indica vice para Lacerda
Crack - Um usuário internado à força a cada dois dias

ZERO HORA (RS)
Gestão: Como o governo está recuperando a Cesa
Eleições: PP decide hoje entre Fortunati e Manuela
Qualificação de serviços para a Copa ainda é lenta

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Justiça amplia direito de licença de mães adotivas
Atitude verde já é realidade em muitas empresas

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Intervenção partidária muda o cenário das eleições

PT, PSDB, PMDB e até PSOL interferem nas decisões de suas instâncias municipais e chegam a dissolver diretórios

Silvia Amorim

SÃO PAULO . Em contagem regressiva para definir quem serão os candidatos a prefeito na eleição deste ano, partidos estão promovendo uma onda de intervenções em suas instâncias municipais em nome da defesa de interesses políticos maiores do que os regionais. O PT é protagonista dos casos mais polêmicos. O mais recente deles foi a escolha do candidato a prefeito em Recife, na semana passada. Mas não é o único. PSDB, PMDB e até o PSOL lançaram mão desse instrumento nos últimos meses para interferir em decisões locais. Em maio, pelo menos quatro intervenções ocorreram: Salvador (BA), Mossoró (RN), Uberaba (MG) e Suzano (SP). A de maior repercussão foi a de Recife.

O PT, com aval do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anulou o resultado da prévia entre dois pré-candidatos petistas e decidiu que o senador Humberto Costa disputará a prefeitura.

A decisão foi tomada em reunião na capital paulista na terça-feira passada, quando o prefeito de Recife, João da Costa (PT), vencedor da prévia, deixou o encontro alegando discordar da condução do processo. Costa foi proibido de tentar a reeleição. Aliados dele classificaram a intervenção como "estupro". O PT nacional justificou a ação como necessária para acalmar um "clima de fratricídio" local.

A intervenção, porém, foi motivada por uma questão prática. Em troca do rearranjo em Recife, o PT assegurou o apoio do PSB à campanha de Fernando Haddad em São Paulo, a menina dos olhos de Lula nesta eleição. A própria escolha de Haddad ocorreu após uma intervenção do PT, que conseguiu interromper as prévias em andamento e fazer com que a senadora Marta Suplicy e os outros três candidatos desistissem em prol de Haddad.

No Rio, PT abortou candidatura própria

Na conta do partido, estão ainda intervenções como a do Rio, onde o partido impôs o apoio à reeleição do prefeito Eduardo Paes (PMDB) em detrimento da candidatura própria. Até em Mossoró (RN), os interesses da legenda em âmbito nacional se sobrepuseram. Os petistas abortaram uma candidatura própria para apoiar o PSB.

Para facilitar todas essas ações, o PT editou uma resolução que obriga as coligações em cidades com mais de 200 mil habitantes a passarem pelo crivo da direção nacional.

- As pessoas acham essas intervenções normais. Não são. Vivemos uma mistificação do sistema político democrático. Se você contar o que acontece em um congresso internacional, vão achar que seus dados estão errados porque eles não entendem como alguém ganha prévia e não leva - diz o historiador Marco Antônio Villa.

Maior partido da oposição, o PSDB fez em Aracaju (SE) um movimento parecido ao do PT em Mossoró. Dirigentes na cidade renunciaram após a imposição da direção nacional para que o partido apoiasse o pré-candidato do DEM, João Alves. Para o PSDB, o que estava em jogo era uma troca de apoios com o DEM em outras cidades, entre elas, São Paulo, onde o pré-candidato é o ex-governador José Serra.

Na Região Metropolitana de São Paulo, a autodissolução do diretório do PSDB em Suzano foi parar na Justiça. Uma ala do partido acusa a direção estadual de agir para viabilizar a candidatura de Paulo Tokuzumi, que teria a preferência do governador Geraldo Alckmin. O grupo que perdeu o comando da legenda - e defendia outro candidato - conseguiu uma liminar para retomar o partido. O caso espera uma posição final da Justiça.

- O diretório estadual só fez o que manda o estatuto. Mais da metade da direção renunciou e, nesses casos, cabe ao partido nomear uma diretoria. Sou contra intervenções - afirma o presidente do PSDB em São Paulo, Pedro Tobias.

Sob a batuta do vice-presidente Michel Temer, o PMDB fez em São Paulo a sua intervenção mais rumorosa. Para atender a um pedido do pré-candidato Gabriel Chalita, que queria o controle do partido para disputar a eleição, Temer obrigou a direção local da legenda a renunciar. Os dirigentes resistiam a trabalhar por Chalita. O episódio deixou sequelas, com falta de engajamento de lideranças na campanha.

Até mesmo o PSOL, que prega a liberdade no nome (Partido Socialismo e Liberdade), é acusado de fazer intervenção. Em fevereiro, militantes do partido no Guarujá, litoral de São Paulo, acusaram a legenda estadual de promover um golpe, ao trocar a direção local sem aviso prévio. Dirigentes do PSOL não retornaram os contatos do GLOBO para comentar o caso.

O professor e cientista político da Universidade Federal de Pernambuco Clovis Miyachi faz um alerta para o que considera uma banalização das intervenções:

- A intervenção é um instrumento legítimo, que pode ser bem-vindo para corrigir desvios de conduta ética, por exemplo. O problema é quando vira instrumento para o autoritarismo.

Na maioria dos partidos, a intervenção é prevista em estatuto, entre outras situações, quando não é alcançada votação mínima estipulada pela legenda numa eleição. Divergências eleitorais não são justificativa.

Para Villa, a falta de autonomia das siglas é uma das faces do mau funcionamento delas:

- Todo mundo defende um partido democrático desde que não seja o seu. Só funcionam em época eleitoral, não têm inserção na comunidade, são pouco ideológicos ou quase nada, e a direção é caudilhista. As instâncias partidárias são só para inglês ver porque é o dono do partido quem toma as decisões.

FONTE: O GLOBO

Tucano ataca Paes por fazer defesa da UNE

Confirmado candidato do PSDB à prefeitura do Rio, Otávio Leite diz que prefeito aplaude desvio de dinheiro público

Cassio Bruno

Realizada ontem, na sede do Cordão da Bola Preta, na Lapa, a convenção do PSDB do Rio, que confirmou a candidatura do deputado federal Otávio Leite à prefeitura, foi marcada por ataques a adversários. Os alvos foram o atual prefeito Eduardo Paes (PMDB), pré-candidato à reeleição, o governador Sérgio Cabral (PMDB), o ex-presidente Lula e réus do mensalão.

Leite declarou-se contra a derrubada do Elevado da Perimetral para construir mergulhões, projeto de Paes relacionado à revitalização da Zona Portuária. O deputado ironizou o prefeito, que, sábado, saiu em defesa da União Nacional dos Estudantes (UNE) no 16 Congresso Nacional da União da Juventude Socialista (UJS), realizado na Uerj. A UNE é investigada pelo Ministério Público por supostas irregularidades em convênios com o governo federal.

- A UNE é do país, recebeu R$ 30 milhões (do governo federal) e sequer colocou um tijolo para erguer a sua nova sede administrativa (no Rio). Está toda embolada em prestações de contas, e o prefeito ainda bate palmas para aqueles que estão usando o dinheiro público de forma equivocada - afirmou Leite em seu discurso.

Os tucanos centraram fogo no episódio envolvendo Cabral e alguns secretários, fotografados em Paris, em 2009, em restaurantes de luxo. Em algumas imagens, divulgadas pelo deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ), ex-governador do estado, parte do grupo aparece dançando, com guardanapos amarrados nas cabeças, ao lado do ex-presidente da Delta, Fernando Cavendish. A empreiteira é investigada pela CPMI que apura os negócios do contraventor Carlinhos Cachoeira, preso em Brasília.

- A saúde ética já está no buraco. Mas temos que resolver o drama da população carente que, ao chegar num posto de saúde ou a uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), não encontra médicos - disparou Leite, que ainda não anunciou coligações nem seu vice.

FONTE: O GLOBO

No Rio, tucanos citam mensalão e criticam Lula

Alfredo Junqueira

RIO - Mais que o lançamento da candidatura do deputado federal Otavio Leite (PSDB-RJ) à Prefeitura do Rio, a convenção municipal do PSDB na capital carioca, ontem, serviu para mostrar como os tucanos pretendem usar o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF) nas campanhas eleitorais deste ano.

Em discurso no evento, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), representante da executiva nacional do partido, fez críticas ao PT, chamou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "ex-presidente decadente" e disse que o julgamento vai "colocar na cadeia aqueles que lá devem estar". "A democracia abriga resquícios autoritários sustentados principalmente pelo populismo carismático que quer substituir instituições democráticas. É assim que um ex-presidente tenta fazer o cerco sobre o Supremo Tribunal Federal na esperança de julgar para as calendas o julgamento do mensalão", acusou.

Sem citar o nome de Lula, prosseguiu: "Não é agora que um ex-presidente decadente irá derrotar o Supremo Tribunal Federal, que haverá de realizar um julgamento sério, rigoroso, para colocar na cadeia aqueles que lá devem estar. E não pelas ruas do País pedindo apoio da nossa juventude", disse Dias, referindo-se ao ex-ministro José Dirceu, um dos 38 réus do processo.

"Batalha final". No sábado, ao participar do 16.º Congresso Nacional da União da Juventude Socialista (UJS), na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Dirceu convocou os estudantes a irem às ruas defendê-lo durante o julgamento do mensalão e disse que, a partir de agora, será a "batalha final", segundo reportagem do jornal O Globo.

"Todos sabem que este julgamento é uma batalha política. E essa batalha deve ser travada nas ruas também porque senão a gente só vai ouvir uma voz, a voz pedindo a condenação, mesmo sem provas. Eu preciso do apoio de vocês", discursou Dirceu para cerca de mil estudantes.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Tucano lança candidatura à Prefeitura do Rio

Por Folhapress

RIO - O deputado federal Otávio Leite (PSDB) lançou ontem sua candidatura à Prefeitura do Rio e vai iniciar a campanha acionando a Justiça Eleitoral contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o prefeito Eduardo Paes (PMDB), que tentará a reeleição.

A sigla vai hoje ao Tribunal Regional Eleitoral do Rio questionar suposta campanha antecipada de Lula e Paes durante a inauguração do corredor de ônibus Transoeste, realizada na semana passada. No evento, o ex-presidente disse que vai pedir votos para o pemedebista "em 2012 com muito mais convicção".

"O presidente Lula pode apoiar quem ele bem entender. O que não é justo e democrático é fazê-lo num palanque custeado pelo povo do Rio de Janeiro. Houve ilegalidade porque foi campanha antecipada e ofensa grave à democracia, porque não se pode usar a máquina pública para pedir votos", disse Leite.

Durante a convenção do PSDB, realizada na sede do bloco carnavalesco Cordão do Bola Preta, o deputado centrou críticas ao sistema de saúde da cidade, defendeu a manutenção do viaduto da Perimetral - a Prefeitura planeja demolir a via até 2015 - e políticas voltadas a deficientes físicos.

Sem alianças confirmadas, o tucano ainda não definiu o nome do candidato a vice. Ele afirmou não ser uma grande vantagem o apoio de 19 partidos obtido por Paes: "Não me incomoda na largada se verificar uma estrutura muito maior do outro lado. Acredito na força das ideias e vamos chegar lá com elas."

Ele disse ainda que a campanha contará com a presença de aliados como o senador Aécio Neves (MG) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O senador tucano Alvaro Dias (PR) participou da convenção, onde criticou o ex-presidente Lula.

Leite foi econômico nas críticas ao governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB) - em crise política desde a revelação de fotos ao lado do empreiteiro Fernando Cavendish, da Delta, em Paris -, durante o discurso da convenção. Mas afirmou que o tema será levantado na campanha, em função da aliança com Paes.

"A relação promíscua entre o público e o privado não pode acontecer. É lamentável o que aconteceu no Rio. Esse assunto não pode ficar escondido. Vai ser revelado", disse em entrevista.

O ataque a Cabral ficou por conta dos deputados estaduais Luiz Paulo e Lucinha. O grupo do governador foi chamado de "gangue" e "república dos guardanapos" - em referência às fotos nas quais um grupo dança com guardanapos na cabeça.

Além de Paes, Leite enfrentará o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), o deputado federal Rodrigo Maia (DEM) e a deputada estadual Aspásia Camargo (PV).

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Eleições BH - Enfim, PT indica vice para Lacerda

O deputado federal Miguel Corrêa Jr. é o escolhido do partido para compor a chapa do prefeito socialista nas eleições de outubro. Aliado do ministro Fernando Pimentel, o parlamentar foi um dos principais defensores da aliança formada por PT-PSB-PSDB, que levou Lacerda à prefeitura em 2008. O nome dele será oficializado na convenção, no dia 30, que definirá se haverá coligação na disputa para a Câmara.

Vice é aliado de Pimentel

O deputado federal Miguel Corrêa Jr. foi eleito pelo PT para compor a chapa do prefeito de BH, que tenta a reeleição, em aliança com a presença do PSDB, por 266 votos a 179

Daniel Camargos, Leonardo Augusto e Juliana Cipriani

O deputado federal Miguel Corrêa Jr. foi eleito ontem pelos delegados do PT para ser o candidato a vice na chapa do prefeito Marcio Lacerda (PSB) na disputa pela reeleição em coligação que inclui o PSDB. Em encontro do partido que se arrastou por nove horas, ele venceu no segundo turno o ex-superintendente da Fundação Municipal de Parques e Jardins Luiz Gustavo Fortini por 266 votos a 179. Miguel foi um dos principais defensores da aliança PT-PSB-PSDB em 2008, sustentando a tese do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, ex-prefeito da capital, que se uniu ao senador Aécio Neves (PSDB) para eleger Lacerda. O nome será oficializado dia 30 em convenção do partido que também vai definir se haverá coligação na disputa para a Câmara Muncipal.

Foi a terceira vitória do grupo de Pimentel no PT, já que em 2010 ele também havia vencido o ex-ministro Patrus Ananias na disputa interna, ficando com a vaga de senador na aliança com o PMDB. Patrus foi candidato a vice-governador na chapa encabeçada por Hélio Costa (PMDB) e derrotada por Antonio Anastasia (PSDB).

Dos sete concorrentes do PT à vaga de vice-prefeito, seis chegaram a desistir de competir no início do encontro de ontem, abrindo mão para que Patrus fosse o nome de consenso. A estratégia deu errado depois que Miguel Corrêa Jr. se negou a abandonar a disputa. Diante do impasse, dois retomaram as candidaturas: o ex-secretário municipal de Obras e Infraestrutura Murilo Valadares, apadrinhado pelo ex-deputado Virgílio Guimarães, e Fortini, candidato do vice-prefeito Roberto Carvalho. Quatro nomes que já haviam se retirado em favor de Patrus não retornaram: os deputados estaduais André Quintão e Paulo Lamac, o ex-procurador-geral do Município Marco Antônio de Rezende Teixeira e o ex-secretário municipal de Políticas Sociais Jorge Nahas.

Depois do fracasso das negociações, Juarez Rocha Guimarães, um dos delegados do partido, foi ao microfone sustentar que Patrus Ananias seria o candidato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Depois da vitória, Miguel disse não ter ficado incomodado com as declarações. "Tenho relação especial com o ex-presidente e sempre votei com o que ele determinou no Congresso", afirmou.

Os apoiadores de Miguel chegaram a comemorar a vitória no primeiro turno. Seis minutos antes de o resultado ser anunciado, às 15h35, eles carregaram o deputado nos braços, enquanto outros petistas anunciavam pelo Twitter que ele era o vencedor. Foram interrompidos, porém, pelos gritos dos delegados que votaram em Fortini. No primeiro turno, Miguel teve 228 votos, dois a menos que o necessário, ou seja 50% mais 1 dos 457 delegados que votaram. Fortini recebeu 119 votos e Murilo Valadares 110.

Apoiado pelo vice-prefeito Roberto Carvalho, rompido com Lacerda, Fortini conseguiu levar a votação para o segundo turno, mas sabia que a situação era difícil, pois bastavam dois delegados que votaram em Valadares escolherem Miguel para o deputado federal ser eleito. "O partido esteve rachado e cabe a nós reagrupá-lo" , observou Fortini, que deu as mãos a Miguel e outros líderes ,depois de anunciado o resultado.

O vice-prefeito Roberto Carvalho considerou legítima a vitória de Miguel e lhe telefonou para dizer que só saiu mais cedo para não ser indelicado de ter de dizer que não fará campanha na chapa com a presença dos tucanos. "Foi colocado na primeira resolução do PT que o PSDB não era bem-vindo e acho que fazer campanha com os tucanos é uma descaracterização do PT e um desrespeito com a militância", ressaltou.

FUTURO Não foi a toa que a disputa foi tão acirrada. Lacerda é um provável candidato ao governo de Minas em 2014, e seu vice poderá ter um mandato de dois anos para se qualificar para a reeleição a prefeito. "Eu tenho candidato para o governo em 2014 e é o Fernando Pimentel", avisou Miguel, em uma posição que pode contrariar Lacerda, caso o atual prefeito seja reeleito e tente ser governador. Porém, Miguel diz que não causará problemas a Lacerda. "O Marcio conhece meu perfil. Desde o início, na última eleição, trabalhei pela sua candidatura", recorda o deputado, que reforçou ser necessário buscar "harmonia".

Os dois principais nomes do PT em Minas Gerais, Pimentel e Patrus, não compareceram ao encontro, deixando a articulação a cargo dos aliados. De acordo com Patrus, a postulação de ser vice nunca partiu dele, que apenas atendeu a apelos de líderes do PT para tentar apaziguar a legenda."Reconhecendo as dificuldades do PT de BH, por conta do meu comprometimento e procurado por algumas pessoas, coloquei de uma forma muito tranquila que, embora não estivesse no meu horizonte uma candidatura, se fosse decisão consensual eu assumia a responsabilidade. Como não houve esse acordo tudo bem, a vida continua". De fora da briga, Patrus afirmou que vai acatar a decisão do PT e fazer campanha por Lacerda.

Perfil

Miguel Corrêa Jr. - Deputado federal (PT-MG)

Miguel Corrêa Jr., que completa 34 anos hoje, conhecido como Miguelzinho, destoava da maioria dos petistas ontem no encontro que definiu seu nome como candidato a vice-prefeito de Marcio Lacerda. Longe da imagem de um petista barbudo com blusa vermelha, o deputado misturou a cor com o branco numa camisa de listras, calça e sapatênis de marcas famosas. Ele iniciou a carreira política como vereador, em 2004, quando era filiado ao PPS, partido que atualmente faz oposição ao governo de Dilma Rousseff. Em 2005, se filiou ao PT e foi um dos principais interlocutores do então prefeito Fernando Pimentel (PT) na Câmara Municipal. Com base na populosa Região de Venda Nova, tem como principal palanque a organização não governamental Mudança Já, da qual foi um dos fundadores. Grande parte da claque de Miguel, presente ontem na escola municipal do Bairro Pompeia, onde ocorreu o encontro, ostentava na parte interna do braço uma tatuagem com o símbolo da ONG, que tem como principais atividades os cursos de capacitação profissional e campanhas de arrecadação de doações para famílias carentes. Antes de chegar à Câmara Municipal, Miguel foi presidente do Diretório Acadêmico do Uni-BH, entre 2002 e 2004.

Críticas e surpresas

No Rio de Janeiro, a convenção do PSDB municipal confirmou a candidatura do deputado federal Otávio Leite à prefeitura. Os alvos dos ataques foram o atual prefeito Eduardo Paes (PMDB), pré-candidato à reeleição e ex-tucano, o governador Sérgio Cabral (PMDB), o ex-presidente Lula e réus do mensalão. O evento contou com a presença do senador Alvaro Dias, que se referiu a Lula como "ex-presidente decadente" ao criticá-lo por sua suposta tentativa de adiar o julgamento do mensalão pelo STF. Em João Pessoa, na Paraíba, o congresso do PSB escolheu Estelizabel Bezerra como candidata do partido para disputar o posto de prefeita da capital. Com a decisão do partido, o prefeito de João Pessoa, Luciano Agra, não poderá concorrer à reeleição e falou em deixar a legenda.

FONTE: O ESTADO DE MINAS

Sem Serra e Haddad, Marta reina na Parada Gay em SP

Daniela Lima

Com a ausência de José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT), os dois principais candidatos à sucessão do prefeito Gilberto Kassab, a senadora Marta Suplicy (PT-SP) reinou ontem na 16ª Parada Gay em São Paulo.

Serra, que confirmou presença no evento, acabou esticando sua viagem a Nova York. Haddad teria aproveitado para descansar.

Sem ninguém para dividir o palco, Marta passou quase duas horas em cima de um trio elétrico, trajando uma jaqueta toda trabalhada em paetês prateados. Deixou o evento recebendo elogios e incentivos de participantes. "Força, Marta, você vai ser prefeita", gritavam.

Preterida pelo PT, que escolheu Haddad, ela evitou tratar da eleição, mas enviou recados de forma velada.

Antes do início da festa, houve a leitura do manifesto da Parada, que pedia, entre outras coisas, a retomada do projeto conhecido como "kit gay". A senadora disse que houve um retrocesso na política de combate à homofobia.

Marta atribuiu a dificuldade em avançar a "forças conservadoras organizadas" que usam de "pressão e chantagem" para impedir o debate.

Foi Haddad, quando ministro da Educação, quem tentou emplacar o projeto, mas recuou após reações negativas de parlamentares e grupos evangélicos.

Marta também criticou as gestões de Serra e Kassab. Ela os responsabilizou pelo fim das aulas de educação sexual nas escolas municipais.

"Fui a coordenadora do projeto na gestão da [Luiza] Erundina. E na minha fizemos a mesma coisa. Eu comentava com o prefeito que não existe mais."

Ao fim do evento, questionada sobre a receptividade do público, Marta se derreteu: "Eles me dão força pra continuar". E o que dizer aos que pregam que ela será prefeita? "Só dou um tchau."

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Em fase 'paz e amor', Serra terceiriza ataques

Por orientação da campanha, temas polêmicos da disputa pela Prefeitura e críticas ao PT passaram a ser feitos por líderes e parlamentares tucanos

Julia Duailibi, Felipe Frazão

O pré-candidato tucano à Prefeitura de São Paulo, José Serra, passou a "terceirizar" para o PSDB a exploração de assuntos polêmicos e que não constam da agenda municipal.Para evitar nacionalizar a disputa eleitoral deste ano e se poupar, o líder nas pesquisas de intenção de voto tem se blindado de temas controversos.

A exploração política da greve nas universidades federais, do julgamento do mensalão e da polêmica entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, por exemplo, foi delegada a dirigentes do PSDB e a líderes tucanos no Congresso. Mas o tom dos ataques aos adversários e até as notas divulgadas à imprensa passam pelo crivo da assessoria de comunicação da campanha.

O objetivo é acentuar a relação do tucano com temas municipais, já que sua imagem ainda estaria "contaminada" pela disputa nacional de 2010. Também visa a preservar Serra, que ao deixar de ser o emissário dos ataques passaria, então, a candidato "paz e amor", expressão usada por Lula na campanha de 2002, quando liderava as pesquisas e evitava entrar em confronto com outros candidatos.

Na semana passada, o pré-candidato se manteve longe de polêmicas. Mas em nome dele o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, o líder do partido no Senado, Álvaro Dias (PR), e o vereador paulistano Floriano Pesaro responsabilizaram o pré-candidato Fernando Haddad (PT), ex-ministro da Educação, pela greve das universidades federais, num movimento que teve como origem o QG da campanha serrista. "A gestão dele não o credencia a ser prefeito", chegou a dizer Guerra.

Há dez dias, tucanos organizaram um ato de desagravo a Mendes, depois que o ministro disse ter sido pressionado por Lula para postergar o julgamento do mensalão. O encontro foi esvaziado após a coordenação da campanha avaliar que, mesmo encabeçado por parlamentares, respingaria em Serra. "Qualquer movimento ligando o candidato a tema nacional tira a legitimidade da candidatura a prefeito. Cria uma névoa. E é isso que queremos evitar", disse um tucano.

Nacional. Para Guerra, os temas nacionais não serão o centro da eleição municipal, embora assuntos como o mensalão ajudem a oposição como um todo, "desde que não haja partidarização". "Transformar a discussão sobre o mensalão em campanha não ajuda ninguém", afirmou. Segundo o tucano, a questão perderá importância se o eleitor a interpretar como luta partidária.

Para o PT, a nacionalização do debate por tucanos, em nome de Serra, não atrapalha o petista. "Haddad não tem nada a ver com o mensalão. Sempre esteve distante disso. Não vai afetar em nada", avaliou o coordenador da campanha, Antonio Donato. "Já fizeram isso e não deu certo em 2010. Não vai dar de novo."

Segundo o vereador José Américo (PT), em eleições passadas a sigla encomendou pesquisas que detectaram que a pecha do mensalão não teria influência sobre seus candidatos - em 2010, por exemplo, Dilma Rousseff não foi "contaminada" pelo caso. Na visão do PT, o eleitorado isentaria Lula pelo mensalão.

FONTE O ESTADO DE S. PAULO

Em Porto Alegre, PP decide hoje entre Fortunati e Manuela

Depois de levantamento de ZH mostrar vantagem do prefeito, grupo que apoia candidata comunista pressiona indecisos

O "Dia D" do Partido Progressista (PP) na Capital – que hoje decide seu futuro nas eleições da maior cidade gaúcha – foi precedido por uma "operação de guerra" nos bastidores. Durante todo o fim de semana, a senadora Ana Amélia Lemos comandou pessoalmente a última investida na tentativa de convencer os partidários a apoiarem a deputada federal Manuela D"Ávila (PC do B) na briga pela prefeitura de Porto Alegre. A manobra desagradou aos adversários.

Na última sexta-feira, um levantamento publicado por ZH mostrou que o prefeito e candidato à reeleição José Fortunati (PDT) saiu em vantagem na batalha. Dos 101 membros do diretório municipal do PP, 44 declararam apoio ao pedetista e 20 a Manuela. Trinta e sete integrantes, porém, se disseram indecisos ou não se pronunciaram, abrindo a possibilidade de uma reviravolta.

A menos de 72 horas do pleito, Ana Amélia decidiu liderar a reação para reverter o placar, com foco nos indecisos. A estratégia do "tudo ou nada" começou na manhã de sábado, com reunião de duas horas na sede do partido.

A senadora conseguiu reunir cerca de 20 correligionários, a maioria com voto indefinido, para uma conversa. O resultado do encontro – que teria levado três aliados de Fortunati a mudarem de lado – foi festejado.

– Se todos que nos prometeram votos cumprirem a promessa, vai dar Manuela – comemorou o presidente estadual do PP, Celso Bernardi.

A pedido de Ana Amélia, os participantes do encontro também teriam se comprometido a procurar outros colegas, inclusive aqueles que estão do lado do PDT, para pressioná-los.
– Cada um saiu com a missão de convencer alguém. Não sabemos qual será o resultado, mas tenho certeza de que a disputa será equilibrada – disse Ana Amélia.

Convictos de que a mobilização será fracassada porque o voto é secreto, defensores de Fortunati criticaram a interferência da senadora. Para o vereador João Dib, a decisão já está tomada e não tem volta:

– Quem sabe o que é melhor para Porto Alegre é o diretório metropolitano, que apoia Fortunati. Acho lamentável que tudo isso esteja acontecendo.

FONTE: ZERO HORA (RS)

Em Recife, PSB perde a paciência e prepara candidatura

Insatisfeitos com o impasse criado pelo PT, socialistas decidem amanhã com o governador Eduardo Campos o nome do partido para a disputa pela Prefeitura do Recife

Sheila Borges

O PSB cansou de esperar. Não quer ficar à reboque de uma briga que pode desgastar ainda mais a Frente Popular e não tem data para acabar, colocando em risco o comando da Prefeitura do Recife. Até amanhã, a cúpula socialista se reúne com o governador Eduardo Campos e lança a candidatura própria. Nos bastidores, cresce a preferência pelo deputado federal Danilo Cabral, que até semana passada era secretário de Educação.

Os socialistas avaliam que a briga interna do PT pode chegar até a Justiça, e exatamente no mês das convenções partidárias, época em que as articulações deveriam estar caminhando para o entendimento. O prefeito do Recife, João da Costa, deve recorrer ainda hoje ao diretório nacional do PT contra a decisão da executiva nacional que impôs o nome do senador Humberto Costa como o candidato do partido à prefeitura da capital, desconhecendo o resultado da prévia interna realizada em maio. Nela, Costa venceu o deputado federal Maurício Rands, que é do grupo do senador.

A tese da candidatura própria ganhou tanta força nas conversas que os socialistas mantiveram ao longo do fim de semana que até mesmo o vice-prefeito do Recife, Milton Coelho, sempre discreto, decidiu falar. Ele esteve ao lado de João da Costa durante todo o embate interno do PT. “Se o consenso não aconteceu até agora, dificilmente ocorrerá. Estamos criando uma nova força e apresentando uma nova perspectiva para continuar o que o PT fez de bom”, argumentou, mostrando que o discurso de candidatura própria do PSB já está sendo elaborado. Para ele, o primeiro passo antes de falar em nomes é abrir um debate com as outras legendas da Frente e com entidades da sociedade civil.

“Não podemos colocar mais dúvidas na cabeça do eleitor. Não temos mais razões para esperar. Quando os políticos não se entendem, temos que deixar que o povo tenha o seu entendimento”, disse, lembrando uma frase dita em 2002 pelo ex-governador Miguel Arraes, avô de Eduardo, que faleceu em 2005. Na ocasião, o PSB lançou Dilton da Conti, que perdeu o governo para Jarbas Vasconcelos (PMDB). Hoje, o quadro é mais favorável. O PSB conta com a força política e eleitoral de Eduardo, e Humberto não consegue unir nem o PT nem as siglas da Frente Popular.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Ex-ministro afirma que imprensa 'tomou partido' no mensalão

Advogado de um dos réus do processo, Thomaz Bastos diz que mídia tenta influenciar julgamento no Supremo

Ex-ministro afirma temer que "publicidade opressiva" provoque "justiçamento" como no caso Isabela Nardoni

O ex-ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos afirmou que a imprensa "tomou partido" contra os réus do processo do mensalão e tenta influenciar o resultado do julgamento no Supremo Tribunal Federal fazendo "publicidade opressiva" do caso.

"Ela tomou um pouco de partido nessa questão", disse Bastos na noite de sábado, em entrevista ao programa "Ponto a Ponto", da BandNews, canal pago da TV Bandeirantes. "Elevou a um ponto muito forte o mensalão que vai ser julgado, deixando de lado os outros mensalões."

O STF marcou para agosto o início do julgamento do mensalão, o escândalo que sacudiu o governo Lula em 2005 e atirou no banco dos réus políticos do PT e de outros partidos que ajudaram os petistas a chegar ao poder.

Bastos estava no governo na época em que o escândalo veio à tona e hoje é advogado de um dos réus do processo, o ex-diretor do Banco Rural José Roberto Salgado, acusado de colaborar na montagem do esquema de financiamento político que beneficiou o PT e seus aliados.

Na entrevista, conduzida pela jornalista Mônica Bergamo, colunista da Folha, e pelo sociólogo Antonio Lavareda, o advogado disse ver com preocupação a capacidade da imprensa de influenciar os juízes. "A vigilância da imprensa é fundamental", afirmou. "Mas algumas vezes ela erra."

O ex-ministro citou o caso de Alexandre Nardoni e sua segunda mulher, Anna Carolina Jatobá, condenados em 2010 pela morte da filha dele, Isabela Nardoni, de 5 anos. "É um exemplo típico de um julgamento que não houve", disse. "Foi um justiçamento."

Bastos lembrou que o advogado do casal Nardoni, Roberto Podval, foi agredido na rua durante o julgamento, "de tal maneira aquilo foi insuflado pelos meios de comunicação", e afirmou que "o julgamento se torna uma farsa" em situações como essa.

Questionado se queria dizer que isso também estaria ocorrendo no processo do mensalão, o advogado respondeu: "Não estou querendo dizer, mas tenho medo que ocorra. Será possível fazer um julgamento com uma publicidade opressiva em cima?"

Há duas semanas, o ministro do STF Gilmar Mendes acusou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de pressionar o Supremo para adiar o julgamento do mensalão para depois das eleições municipais deste ano. Lula negou ter tratado do tema com Mendes ou outros ministros.

Bastos, que é amigo do ex-presidente Lula e participou da seleção de 8 dos 11 ministros que integram a corte atualmente, disse acreditar que a pressão da imprensa chegará "muito esbatida [atenuada]" ao Supremo desta vez.

"Os ministros são homens experimentados, preparados, probos e capazes de fazer um julgamento técnico que se aproxime o mais possível da justiça", disse o advogado.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Dirceu diz que julgamento é 'a batalha final'

O ex-ministro José Dirceu pediu sábado, durante encontro da UJS (União da Juventude Socialista), que os estudantes saiam às ruas em manifestações pela absolvição dos réus do mensalão.

Dirceu foi chefe da Casa Civil no início do governo Lula e é um dos 38 réus do processo. Ele é acusado pela Procuradoria-Geral da República de formação de quadrilha e corrupção ativa.

Durante o evento realizado no Rio, segundo o jornal "O Globo", Dirceu chamou o julgamento de "a batalha final" e criticou a imprensa.

Na última semana, o STF (Supremo Tribunal Federal) marcou o início do julgamento para 1º de agosto.

"Todos sabem que este julgamento é uma batalha política", disse Dirceu. "Essa batalha deve ser travada nas ruas também, porque senão a gente só vai ouvir uma voz, a voz pedindo a condenação, mesmo sem provas. É a voz do monopólio da mídia. Eu preciso do apoio de vocês."

O petista, segundo o jornal, pediu aos estudantes que fiquem "vigilantes" e não permitam um julgamento "fora dos autos".

"Me lincharam, me condenaram. Mas agora é a batalha final. Eu quero esse julgamento. Quero olhar nos olhos dos que me acusaram e me lincharam esses anos todos", disse Dirceu, que foi cassado pela Câmara dos Deputados em 2005 por causa de seu envolvimento no escândalo.

Frases
"Ela [a imprensa] tomou um pouco de partido nessa questão. (...) Elevou a um ponto muito forte o mensalão que vai ser julgado, deixando de lado os outros mensalões"

"A vigilância da imprensa é fundamental. Mas algumas vezes ela erra"

"[O caso da morte da menina Isabela Nardoni] é um exemplo típico de um julgamento que não houve"

"Os ministros são homens experimentados, preparados, probos e capazes de fazer um julgamento técnico que se aproxime o mais possível da justiça"

Marcio Thomaz Bastos (advogado e ex-ministro da Justiça)

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Hora de julgar o mensalão

Bastou o Supremo Tribunal Federal fazer o que dele a sociedade brasileira espera para o PT mostrar suas garras. O anúncio da data de julgamento do maior escândalo da história política do país deflagrou os arreganhos autoritários de sempre nos capas-pretas do partido. Como tudo o que cerca o mensalão, os convocados do PT para a "batalha" também têm muito a dever à Justiça.

Em 1° de agosto, desde já uma data histórica para o país, o STF começará a julgar o caso. Com o cronograma previsto, por volta de fins de setembro as sessões do julgamento terão terminado e o Brasil terá, enfim, passado o episódio a limpo, condenando quem merece a pagar pelo que fez e livrando quem nada deve.

Algo simples assim, pelo menos em democracias, está sendo tratado pelo PT quase como um golpe de Estado. É a velha dificuldade que os partidários de Lula, Dilma Rousseff e José Dirceu têm de conviver com o contraditório, dentro dos estritos marcos legais de um Estado democrático de Direito.

O primeiro a espernear foi o secretário de comunicação petista. "Infelizmente, as ações do Supremo não são cercadas da austeridade exigida para uma Corte Suprema", disse o deputado André Vargas na quinta-feira a O Globo.

No sábado, foi a vez do ex-ministro Márcio Thomaz Bastos - o mesmo que, por R$ 15 milhões, defende o contraventor Carlos Cachoeira, envolvido em grosso desvio de dinheiro público no submundo da política. Em entrevista à BandNews, o advogado disseque a imprensa "tomou partido" contra os réus do mensalão.

Mas quem foi mais longe na afronta a um dos poderes da República foi, como sempre, o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu. O chefe da "sofisticada organização criminosa" denunciada pelo Ministério Público Federal conclamou os militantes da UNE a ir para as ruas defendê-lo.

"Todos sabem que este julgamento é uma batalha política. E essa batalha deve ser travada nas ruas também porque se não a gente só vai ouvir uma voz, a voz pedindo a condenação. Eu preciso do apoio de vocês", discursou Dirceu, conforme registrou O Globo Online na noite de sábado.

Dirceu é o mesmo que, nos idos dos anos 1990, incitou grevistas de escolas de São Paulo a fazer os governantes tucanos do estado "apanhar nas ruas e nas urnas". Como se vê, os métodos truculentos continuam os mesmos, só os aliados da hora é que mudaram.

Os domesticados militantes da UNE, outrora protagonista de importantes ações em defesa da democracia e do Estado de Direito no país, agora precisam se ocupar em explicar como gastam em farra e bebedeira dinheiro público repassado para capacitação de estudantes e promoção de eventos culturais e esportivos.

Investigação feita pelo Ministério Público aponta irregularidades em convênios do governo federal com a UNE e a União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES) de São Paulo, que receberam R$ 12 milhões da União entre 2006 e 2010 e usaram notas frias para comprovar os gastos. São aliados desta natureza que Dirceu espera ter na sua "batalha" pela absolvição no Supremo.

"Ao analisar as prestações de contas do convênio do Ministério da Cultura com a UNE para apoio ao projeto Atividades de Cultura e Arte da UNE, o procurador [Marinus] Marsico constatou gastos com a compra de cerveja, vinho, cachaça, uísque e vodca, compra de búzios, velas, celular, freezer, ventilador e tanquinho, pagamento de faturas de energia elétrica, dedetização da sede da entidade, limpeza de cisterna e impressão do jornal da UNE. Além disso, encontrou diversas notas emitidas por bares", mostrou O Globo na sexta-feira.

O escândalo do mensalão foi conhecido há sete anos e há cinco a denúncia foi apresentada ao Supremo. Neste ínterim, o então presidente Lula - que hoje diz que tudo não passa de uma "farsa" - chegou a pedir desculpas pelo malfeito. Já passa da hora de julgar o caso, algo que os ministros têm plena condição de fazer dentro dos estritos cânones do Direito.

O país só tem a perder com maiores delongas. Basta ver o que está acontecendo, novamente, no Banco do Nordeste. Lá, o mesmo grupo de petistas mensaleiros envolvido no folclórico episódio dos dólares escondidos em cueca está de novo enredado em escândalos e desvios de dinheiro público, como mostrou a edição da revista Época desta semana.

A reação irada de gente como José Dirceu à decisão do Supremo - tomada, aliás, por unanimidade pelos ministros da corte - deixa claro o horror que o PT tem do acerto de contas que terá de fazer com a sociedade brasileira por ter alimentado, durante anos, o maior duto de desvio de dinheiro público da história do país e que até hoje serve de inspiração para malfeitores ao redor do Brasil.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

Não enche - Caetano Veloso

O insensato:: Ricardo Noblat

- Não faço nada que não seja de comum acordo e determinado por ele (Lula) (José Dirceu, sobre o mensalão, em 13/6/2005)

Se depender de José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil de parte do primeiro governo Lula, o bicho vai pegar antes, durante e, se necessário, depois do julgamento do processo do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Nunca antes na história recente do país convocou-se o povo para pressionar um tribunal.

Pois bem: Dirceu começou a fazê-lo.

Rapaz ousado! Mais certo seria chamá-lo de temerário, imprudente, perigoso, tresloucado, atrevido, insolente, afoito, demente, precipitado, desaforado, petulante, desajuizado, incauto, arrogante, desvairado, impulsivo, arrebatado, insensato – e mais o quê? Pense.

E acrescente aí.

Quem se diz democrata respeita a independência dos poderes da República. Pode discordar de decisões da Justiça? É claro que sim. E até criticá-las com indignação.

Mas ao fim e ao cabo só lhe resta acatá-las. Diga-me: que democrata de verdade insufla o povo para que constranja a Justiça a decidir como ele deseja? De passagem por Brasília, em conversa com um amigo há um mês, Dirceu pareceu abatido e certo de que será condenado por ter chefiado "uma sofisticada organização criminosa" que tentou se apoderar de uma fatia do aparelho do Estado, segundo denúncia do Procurador Geral da República aceita pelo STF.

Não revelou ao amigo que cogitara exilar-se em Cuba ou na Venezuela. Uma vez condenado, viajaria denunciando a injustiça de que fora vítima. Arquivou a ideia.

Concluiu que seria difícil convencer os ouvintes de que era um perseguido político no país governado por seu próprio partido há quase dez anos.

Mas surpreendeu o amigo ao revelar que os chamados "movimentos sociais" não assistiriam inertes a sua eventual condenação. Dizse informado de que reagiriam por meio de manifestações de rua. Não descartou a hipótese de que tais manifestações acabassem antecipadas.

Tudo dependeria da data do julgamento.

O STF marcou o julgamento para agosto e setembro próximos.

Na tarde do último sábado, Dirceu aproveitou no Rio o 16º Congresso Nacional da União da Juventude Socialista (UJS), ligada ao PCdoB, e pediu aos estudantes que saiam às ruas em sua defesa. "Será a batalha final", proclamou com ar grave.

Todos sabem que este julgamento é uma batalha política. E essa batalha deve ser travada nas ruas também porque senão a gente só vai ouvir uma voz, a voz pedindo a condenação, mesmo sem provas. É a voz do monopólio da mídia.

Eu preciso do apoio de vocês — suplicou A Procuradoria Geral da República considera que há provas suficientes para condenar os 38 réus do mensalão. Com ela concordou o STF ao acolher a denúncia.

São 11 os juízes. Advogados com livre trânsito no STF apostam na condenação de Dirceu por dois a três votos de diferença.

Sabe de quem será um dos votos pela absolvição? Está sentado? Do ministro Gilmar Mendes. Por que tanto espanto? Se fosse menos mal agradecido, o PT reverenciaria Gilmar sempre que ele fosse citado.

E não valorizaria nem um pouco as suas explosões de temperamento.

Quem evitou a inclusão de Gushiken na lista dos mensaleiros? E garantiu a Mercadante o direito de ser candidato ao Senado? E salvou Palocci da acusação de ter quebrado o sigilo bancário de Francenildo dos Santos, testemunha de suas visitas a um reduto de amor e de negócios em Brasília? Gilmar, ora.

Dirceu sabe disso. Como sabe que a força da mídia é declinante, a se acreditar no que apregoa Lula. Como sabe que há provas de que o mensalão existiu. A propósito, uma vez ele observou em entrevista à Folha de S.Paulo: "Eu falei para não fazer".

Falou para quem? Por que não foi atendido?

Não podemos deixar que esse processo se transforme no julgamento da nossa geração. Não permitam julgamentos fora dos autos — apelou Dirceu. Os réus do mensalão são de várias gerações.

Os estudantes que ouviram Dirceu não são da geração dele. Em nada ajudará Dirceu a suspeita de que o STF pode julgar fora dos autos.

FONTE: O GLOBO

Carrossel laranja :: Melchiades Filho

O escândalo ganhou tal dimensão, e em ritmo tão vertiginoso, que chamá-lo de Cachoeiragate já deixou de ser razoável.

As ramificações do esquema criminoso vão muito além das casas clandestinas de jogo do bicheiro.

Não se limitam à rede de arapongas e políticos, estrelada pelo ex-arauto da moralidade Demóstenes Torres e dedicada a zelar pelos interesses de Carlinhos Cachoeira em Brasília. Nem à derrama de subornos para conseguir contratos e cargos nos governos do Centro-Oeste.

Sabe-se agora que o bicheiro era, na verdade, o braço regional de uma quadrilha que atuava em todo o país com o objetivo de fraudar licitações e sugar dinheiro público.

A Delta era a ponta de lança. De sua matriz saíam ordens de pagamento para o propinoduto goiano. Ficou claro, porém, que a empreiteira operava outras filiais. No Rio, suspeita-se da "gangue do guardanapo" e do próprio governador.

Mas a revelação mais elucidativa foi feita na semana passada, sem merecer a atenção devida -o feriado encurtou a semana do Congresso.

Trata-se de relatório do Ministério da Fazenda sobre a movimentação financeira da Delta. Ele aponta cerca de R$ 115 milhões em transações atípicas e, principalmente, dedura um grupo de empresas de fachada. Subcontratadas para tocar as obras, elas aparentemente nada faziam além de emitir notas frias para esquentar os montantes desviados.

Mais 1: a mesma teia de laranjas aparece em projetos do PAC da Copa, do PAC da Mobilidade, do PAC do etc. Mais 2: essas firmas fantasmas foram empregadas também por outras construtoras grandes. Mais 3: seus pagamentos e saques cresceram em períodos eleitorais.

O laranjal é (ou deveria ser) a nova fronteira das investigações. No varejo e no atacado, ele aponta para um amplo esquema multipartidário de corrupção e a sujeição do sistema político ao crime organizado.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Arquivo vivo:: José Roberto de Toledo

O arquivo de um jornal é o registro de várias dimensões da história. Marca não apenas a cronologia dos acontecimentos, mas grava as mudanças da língua, e, por tabela, plasma as transformações dos hábitos e interesses de quem a emprega. O arquivo registra quando uma expressão passa a fazer parte do cotidiano, e, atrás dessa palavra, mostra a evolução das ideias e dos conceitos que ela encerra.

Pesquisando-se o acervo digitalizado do Estado, percebe-se que poucas invenções tiveram impacto tão profundo quanto o advento da internet. Ela entrou para o léxico do jornal em março de 1990, através de reportagem traduzida do The New York Times. O jornalista John Markoff relatava um ataque hacker (também a primeira menção ao termo) que roubara senhas de usuários "das centenas de milhares de computadores" ligados à rede em todo o mundo.

Quatro meses depois, outra reportagem anunciava a futura ligação da Universidade Federal do Rio de Janeiro "à rede de pesquisas internet". Nenhuma palavra sobre o assunto em 1991 e apenas uma citação no ano seguinte. Mas em 1993 começaria a espetacular escalada do uso da palavra "internet" nas páginas do jornal.

Em 14 de fevereiro de 1993, outra reportagem de Markoff falava de uma internet visionária, que transportaria o conteúdo de enciclopédias "em segundos" através de "vidro e luz" (ou seja, de fibra ótica). Em agosto, diante da enxurrada de citações presentes no jornal, uma "Nota da Redação" explicava: "A Internet não tem representante no Brasil, mas pode ser acessada por meio do BBS Canal Vip".

Isso estava para mudar. Em 19 de dezembro de 1994, o caderno de Informática anunciava alto na página: "A Internet comercial chega ao País". Pela primeira vez, o termo foi usado em todos os meses do ano: 156 citações. Em pouco tempo a frequência de menções à internet seria diária. O volume multiplicou-se a cada ano. Foram 778 vezes em 1995, 1.593 no ano seguinte, depois 2.154, 3.910, 4.999 até bater o recorde em 2000:7.715 menções.

Outra revolução das comunicações, a televisão, nunca passou de 2.511 citações ao longo de um ano (no caso, em 2004) nas páginas do Estado. Em 22 anos, o termo "internet" foi usado 84.495 vezes no jornal, mais do que as 80.783 citações a "televisão", que aparece no acervo desde 1922. Se você acha que o Estado deu atenção demais ao assunto, saiba que a palavra "internet" foi empregada 485 mil vezes no The New York Times desde 1982.

Com o estouro da bolha especulativa das empresas ponto.com, as reportagens sobre a rede mundial de computadores se tornaram menos frequentes. No Estado, a internet perdeu a inicial maiúscula em 2003, virou mais um assunto e nunca mais mais teve tantas menções quanto em 2000 - embora ainda seja mais usada do que "democracia", "eleição" e "computador".

Não bastasse o alvoroço que causou e o espaço que ocupou, a internet deu crias lexicográficas. Até o final do século passado, "rede social" era uma forma de proteção comunitária: a rede social que protege os imigrantes de uma determinada região, por exemplo. Nos anos 2000, porém, virou aposto e, depois, sinônimo de Twitter, Facebook e Orkut. Somadas, essas quatro expressões já têm quase 3 mil citações por ano nas páginas do Estado.

E como a frequência do uso das palavras no jornal reflete a política? De maneira surpreendente. De todos os políticos, os mais citados nas páginas do Estado são presidentes, ex-presidentes e alguns candidatos derrotados à Presidência. O ranking presidencial é encabeçado por "Luiz Inácio Lula da Silva". São mais de 24 mil menções ao seu nome completo. Se forem somadas as menções a "Luiz Inácio da Silva", a conta passa de 26 mil.

Dois Josés disputam o segundo lugar de citações: Sarney e Serra. Com quase 18,5 mil aparições, o tucano está formalmente na segunda colocação - mas ele tem muitos homônimos, o que dificulta a contabilidade. Fernando Henrique Cardoso é o quarto colocado, com 16,4 mil citações. A seguir vêm, pela ordem, Paulo Maluf, Jânio Quadros, Dilma Rousseff, Getúlio Vargas, Itamar Franco, Fernando Collor e, bem atrás, os presidentes militares.

Lula aparece pela primeira vez em reportagem sobre o novo sindicalismo do ABC paulista, no final dos anos 70. Fernando Henrique é citado desde 1957, ainda como intelectual. A primeira menção a José Serra foi em 10 de março de 1960, numa propaganda do curso preparatório Anglo Latino. Ele é um dos aprovados no vestibular para a Escola Politécnica (USP): foi o 184.º colocado em 266 vagas.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Receita para um mau prefeito :: Renato Janine Ribeiro

Quase não vejo discussão sobre as eleições deste ano. Fala-se, sim, em coligações, mesmo as mais absurdas, e no tempo de televisão que gerarão para os candidatos - mas do que importa, que é o mérito dos nomes propostos, quase nada. Permito-me assim dar uma sugestão para o eleitor decidir, não em quem vai votar, mas em quem não votar. Pelo menos, deste modo ele pode descartar nomes que não merecem cargo tão destacado. Considero prefeito o cargo mais importante do Brasil, depois de presidente da República. Embora os governadores estejam hierarquicamente acima dos prefeitos, é o município que lida com quase tudo de nossa vida cotidiana. Trânsito, saúde, educação, árvores, calor e frio, até o bem-estar físico e mental e muitos dos prazeres da vida e da alma: tudo isso tem a ver com os prefeitos - e, claro, os vereadores.

Como saber que alguém não presta para prefeito? Receita simples e segura: os assuntos que prioriza na campanha. Se priorizar religião, corrupção ou futebol, podem ter certeza de que será mau prefeito. Nada tenho contra esses temas, apenas observo que, ao dar-lhes prioridade, ele estará fugindo dos assuntos que pode e deve abordar. Não é que não possa ter opinião a respeito. Mas pode fazer pouco de bom sobre religião, futebol e, mesmo, corrupção. (É verdade que pode atacar a corrupção na prefeitura. Mas sua opinião sobre a corrupção fora do município, seja o caso Cachoeira, seja o mensalão, não tem muita importância).

Não estou defendendo políticos de nenhum partido em especial. Um dos maiores prefeitos do Brasil foi Jaime Lerner, que revolucionou Curitiba, transformando a cidade que era alvo das zombarias do jornal "O Pasquim" em exemplo de urbanismo para o Brasil e, não sejamos tímidos, o mundo. Ele, mais um técnico do que um político, pertenceu a partidos de direita, como a Arena e o PFL. Em compensação, uma das cidades que mais melhorou no Brasil foi Porto Alegre - graças a uma sucessão de bons prefeitos do PT. Temos exemplos de bons administradores municipais dos dois lados.

Os assuntos que um candidato decente deve discutir

O que estou defendendo é, simplesmente, que os candidatos digam o que pretendem para suas cidades. Se não disserem nada, é porque não farão nada que preste. Ou não têm ideias para o cargo, ou o querem para algum fim espúrio.

Então, qual uma pequena lista de assuntos municipais decisivos?

Primeiro, a educação. O ensino fundamental é assunto das cidades - e Estados. Uma prefeitura pode investir muito nisso. Pode e deve controlar a qualidade da educação, porque está perto da escola. Pode comparar os resultados de cada uma delas nos exames e, especialmente, na entrada e na saída: pode cotejar o conhecimento do aluno que ingressa no primeiro ano e do que está se formando. Ele melhorou, piorou, e quanto? Provavelmente, uma de classe média formará alunos melhores, no conjunto, mas ela já os recebeu mais qualificados. Se virmos o que cada escola acrescentou, ou agregou, ao seu aluno em termos de qualidade, aí sim teremos uma métrica justa. Promoveremos assim a melhora da educação. Também há que levar em conta os recursos investidos: uma escola com menor orçamento, que consiga bons resultados, tem mérito maior do que outra que teve iguais resultados, mas com mais dinheiro.

Para escolas, existem manuais de boas práticas. Há gente de tudo o que é lado político empenhada nisso. E, se por acaso o município for desses que tem arrecadação enorme, pode levar a escola ao infinito. Em educação, sempre se pode melhorar.

Segundo, a saúde. Ela tem uma vantagem sobre a educação: quem está doente sabe que não está bem de saúde. Já quem é ignorante ignora a própria ignorância. Por isso, nosso povo reivindica mais em termos de saúde que de educação. Ora, a boa saúde é um bem enorme. Reduz gastos sociais. Cada real bem investido nela (ou na educação) leva a economias e mesmo ganhos mais adiante. Por isso muitos afirmam que não se trata exatamente de gasto, mas de investimento. Isso, para não falar no ganho qualitativo, que nem se pode medir, do bem-estar das pessoas.

Terceiro, o saneamento. Vão longe os tempos em que um governador de São Paulo, Paulo Egydio Martins, lamentava que canos não dão votos, porque estão debaixo da terra e ninguém os vê - ao contrário, por exemplo, do asfalto ou do poste, que seriam mais populares. Hoje, ao contrário, as pessoas sabem que água e esgoto trazem saúde. Salvam vidas, sobretudo de recém-nascidos. O que o seu candidato propõe a respeito? Quantos domicílios em sua cidade não têm água tratada, ou esgoto? Ele sabe quantos? Tem propostas a respeito?

Quarto, o trânsito. O trânsito é o problema. O transporte público é a solução. Em várias cidades do Brasil, fazem-se mais viagens por dia de carro do que de ônibus. Isso é absurdo. Andar só de carro é insustentável, do ponto de vista econômico e ecológico. Infelizmente, o Brasil aposta na indústria automobilística para crescer. Será preciso mudar isso. Mas a mudança começa pelo município. Precisamos ter uma rede boa de transporte público para, depois, adotar o pedágio urbano, restringir vias ao tráfego privado, premiar em termos de tempo e tarifa quem usa ônibus, metrô ou bondes (que deveriam voltar, como voltaram à Europa em grande estilo). Isso finalmente exigirá, ou melhor, permitirá que mudemos nossa matriz de produção, comércio e imaginação, em que o carro particular tem há décadas um peso tão significativo.

Este é um rol pequeno de temas, mas todos eles essenciais. Se conseguirmos focar a discussão neles, poderemos ter melhores prefeitos - e vereadores. O ganho social dessa melhora será enorme.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Fonte da saudade histórica:: Wilson Figueiredo

O teor de intimidação implícito em comissões parlamentares de inquérito se firmou com o costume brasileiro de ceder ao seu fascínio no encaminhamento de situações sem saída normal. É a janela por onde a oposição mata saudade do poder. Toda vez que a sombra de um impasse se apresenta, apela-se instintivamente para essa fonte de emoções que envenenam a democracia em eterno recomeço entre nós, brasileiros de nascença e de convicção.

O método se apresentou na campanha presidencial que corria fagueira com o fim da censura em fevereiro de 1945. A guerra chegava ao fim e os brasileiros retomavam o caminho das urnas, mas ainda à sombra dos temores de retrocesso que veio a ser fenômeno cíclico da vida política brasileira. O Estado Novo estava sendo, vá lá, desconstruído ao vento revitalizador que soprava de fora para dentro do país. Os brasileiros vibravam civicamente com a oportunidade de voltar às urnas para eleger presidentes da República. Tinham se passado quinze anos de completa abstenção dessa elementar prática universal, para edificar a democracia sobre o que restasse do Estado Novo, que ruiu por tabela com o fim dos regimes que lhe serviram de inspiração no Velho Mundo. O preço era barato. De ocasião.

Nos últimas semanas da campanha presidencial, o eleitorado se polarizava entre duas candidaturas de procedência militar (não por acaso, mas cautela), um brigadeiro do ar e um general com os pés na terra. O mês de outubro aproximava o momento histórico. As definições estavam feitas, mas havia uma exceção. Enquanto a UDN e o PSD (União Democrática Nacional e Partido Social Democrático) contrastavam, respectivamente, uma exaltação liberal e uma convicção conservadora, a novidade era a expectativa da opção eleitoral dos comunistas entre o brigadeiro Eduardo Gomes e o general Eurico Dutra.

Aí residia a questão: qual dos dois candidatos teria a preferência do voto comunista legalizado e, portanto, com algo a acrescentar ao debate político e à campanha presidencial. O voto dos comunistas estava bem avaliado (ainda não havia pesquisas de opinião). A expectativa crescia por motivos óbvios, mas nenhum dos dois candidatos lançou ofertas em troca de apoio do PCB. Havia um resto de prevenção anti-comunista.

Pela voz do seu secretário-geral, Luiz Carlos Prestes, portador do prestígio da Coluna dos anos 20, o PCB avaliou o próprio peso no comparecimento popular aos comícios que abarrotavam as praças públicas: Rio, São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Recife animavam a presença do eleitor nos comícios. Aproximava-se a data da eleição em dezembro e a demora da definição dos comunistas, mais do que tática, indicava algo que não estava devidamente definido. O PCB, afinal, entre Eduardo Gomes e Eurico Dutra, optou pelo candidato próprio: lançou o engenheiro Yedo Fiúza, ex-prefeito de Petrópolis. Não era nome nacional, nem tinha antecedentes políticos numa ditadura que não se dava ao luxo de eleições. Foi um balde de água fria no eleitorado de esquerda.

Ai entrou em cena, e fez a sua estréia, ninguém menos do que o jornalista Carlos Lacerda, com a série de artigos que, noutras circunstâncias, seria tratada como catilinária, que reuniu nele mesmo tanto Catilina quanto Cícero. Não era em Roma, mas no Brasil. Lacerda carregou na mão pesada: no primeiro artigo (no Correio da Manhã) e situou o candidato comunista como um ilustre desconhecido, sem currículo e sem credenciais. Pior, administrador inescrupuloso. Daí por diante, em longos artigos, chamava-o de “rato Fiúza”. O objetivo político se situava além da eleição, o eleitorado de esquerda arrefeceu, e os próprios comunistas viveram a dificuldade de fazer campanha por um candidato com esse perfil avivado diariamente em exemplos citados com nomes, endereços e valores.

A moral da história veio com o temor de que a denúncia de Lacerda levasse a um processo – por injúria, difamação e calúnia – e prejudicasse, o candidato da UDN. Diz a tradição oral que Prudente de Moraes Neto foi a Lacerda e lhe perguntou se dispunha de provas suficientes para sustentar a denúncia.”Provas? Não tenho nenhuma. Elas vão começar agora a chegar”.
As comissões parlamentares de inquérito se sustentam até hoje com base no mesmo princípio: a denúncia atrai as provas. Lacerda saiu de cena, mas o método ainda mantém alto rendimento político. O resto vai. A atual CPI mista não foi além das premissas e jogou para o futuro o material pesado. Com o tempo, quando for conveniente, as conseqüências se apresentarão.

Wilson Figueiredo é jornalista

FONTE: JORNAL DO BRASIL

Encantou-se :: Vinicius Mota

Fica mais burro o Brasil com a morte repentina de Flávio Pierucci, sociólogo da USP, na sexta passada nesta capital. Citações a seu respeito tratam-no de "especialista em religiões". É pouco.

Nascido em Altinópolis (cidadezinha do norte paulista), Pierucci tornou-se um intérprete das idas e vindas do racionalismo ocidental na periferia do capitalismo. Seja na religião, seja nas preferências do eleitor, seja nos descaminhos da esquerda.

Nos últimos 20 anos, enveredou pela vasta obra de Max Weber (1864-1920). O mergulho nos legou a melhor edição brasileira de "A Ética Protestante e o "Espírito" do Capitalismo" (Companhia das Letras), texto crucial do sociólogo alemão.

Outro excelente produto desses anos de imersão é "O Desencantamento do Mundo" (ed. 34). Com minúcia, Pierucci mostra como Weber enxergava na evolução milenar das religiões ocidentais -em contraste com grandes denominações do Oriente- o enraizamento da racionalidade na vida cotidiana.

Desde os profetas do judaísmo, a divindade veio sendo expulsa do mundo sensível. Os deuses não estão mais entre nós. Tornaram-se, nas configurações mais radicais do protestantismo cristão, uma ideia abstrata, insondável, intangível.

No lugar dos rituais mágicos e místicos para lidar com o divino, instalou-se um metódico regramento da conduta cotidiana -baseado no cálculo, na repressão dos prazeres e na valorização do trabalho e da riqueza. Daí porque, no Ocidente, a religião favoreceu e potencializou o racionalismo e o próprio capitalismo.

Filiado, como Weber, à vertente iluminista, Pierucci fez-se crítico das novas plataformas da esquerda, que valorizam identidades de etnia, gênero e "raça". O pressuposto de que há diferenças culturais irredutíveis entre grupos conflita, na prática, com a ideia de que o ser humano possui um acervo de direitos universais - estes, sim, inegociáveis.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Pela verdade e pela justiça, sempre:: Michel Zaidan Filho

Recebi, com imensa indignação, um comunicado de um membro da Comissão designada para apurar o destino dos desaparecidos políticos em Pernambuco, sobre a fraude de uma carta contendo ameaças e intimidações à família do vereador Marcelo Santa Cruz, subscrita com o meu sobrenome. Gostaria de reafirmar de público o meu grande apreço e respeito pela trajetória de um parlamentar pernambucano, que fez de uma tragédia familiar, uma motivação para lutar pela justiça e pela democracia em Pernambuco.

Conheço Marcelo Santa Cruz, desde os estertores da malfada ditadura militar brasileira. Estivemos juntos em muitas frentes de luta, eventos, mesas, debates etc. Nunca estivemos de lados opostos ou divididos por opiniões ou interesses políticos diversos. Não posso, assim, deixar passar barato uma tentativa infame de me colocar contra uma pessoa, com quem tenho todos os motivos do mundo para apoiar ou concordar. Fique aqui o registro desse depoimento público para os desavisados e os mal-intencionados.

Estamos atravessando um momento difícil. O clima de "caça às bruxas" que se abriu, com uma cruzada pública de moralidade republicana e de denúncias de todas as origens e contra todo mundo, certamente tem contribuído para essa aura de desconfiança generalizada, com falsos paladinos da honra pública, injustiças, calúnias e infâmias cometidas contra tudo e contra todos. Essa estratégia tem um sentido: nivelar a todos, neutralizando o direito de resposta, a denúncia, a resistência e a luta pela reparação de direitos e danos morais, humanos e políticos.

A questão que se coloca diante dessa estranha situação é se as medidas tomadas recentemente pelo governo federal e estadual terão força e legitimidade suficientes para encaminhar a espinhosa (mais inadiável) tarefa de apurar o paradeiro das 123 vítimas da ditatura militar, aqui, em Pernambuco. Após o que, as famílias procurarão necessariamente a responsabilização penal dos autores desses crimes e a justa reparação pelos danos humanos, morais e político- para que possam finalmente dormir em paz. Nesse ponto, é de se arguir pela composição da comissão nomeada pelo atual mandatário estadual para esta difícil missão. Seria desejável que nenhum de seus integrantes tivesse - em algum momento - servido de instrumento para perseguição de opositores políticos a governadores a quem serviram. Ou que nela estivessem pesquisadores e historiadores preocupados, não com os conservadores e liberais de antanho, mas com os torturadores, ditadores e conservadores do presente.

De toda maneira, no Brasil as coisas se dão sempre na base da conciliação. Nunca do enfrentamento direto e radical dos problemas e das questões. Esse é o caminho brasileiro para as mudanças históricas, que faz com que nos tenhamos de conviver, diuturnamente, com aqueles que nos oprimiram um dia. Oxalá, pelo menos os parentes - como Marcelo Santa Cruz - dos nossos desaparecidos políticos possam ter o consolo da verdade e da justiça, com a pressão da sociedade civil, a fiscalização da mídia e do compromisso ético e político dos membros dessa comissão de ir até o fim.

Michel Zaidan Filho, cientista político, professor da UFPE

Na França, partidos de esquerda vencem 1º turno das eleições legislativas

Na França, os partidos da esquerda venceram o primeiro turno das eleições legislativas, com 47,1% dos votos, porcentagem que pode significar de 305 a 353 assentos parlamentares, segundo as primeiras projeções divulgadas às 20h (horário local, 15h em Brasília) pela televisão France2.

O Partido Socialista teve 34,9% dos votos, o que representa entre 270 e 300 assentos parlamentares, a direita teve 35,4% dos votos, entre 227 e 266 assentos, e a extrema direita 13,4% dos votos, entre zero e dois.

Ainda de acordo com a France2, a Frente de Esquerda (Partido Comunista e Partido de Esquerda) obteve 6,9% dos votos, que devem garantir entre 14 e 20 assentos parlamentares. O partido centrista Movimento Democrático (MoDem) contou com 1,5% dos votos, o que lhe conferirá entre zero e três assentos parlamentares.

A estimativa da taxa de abstenção para o pleito foi a maior registrada na França em uma eleição legislativa: 42,9%, contra 39,02% em 2007. O segundo turno das eleições legislativas francesas será no próximo domingo (17). A campanha começa à meia-noite de segunda-feira (11).

FONTE: JORNAL DO BRASIL

Mercado reduz estimativa de avanço do PIB para 2,53%

Segundo boletim Focus, do Banco Central, analistas mantém previsão da Selic em 8%

SÃO PAULO — O mercado voltou a reduzir a previsão do Produto Interno (PIB) em 2012, de 2,72% para 2,53%, e manteve a perspectiva para a Selic neste ano em 8%, diante das dificuldades da economia em deslanchar, do arrefecimento da inflação e de sinais de que o Banco Central deve continuar reduzindo a taxa básica de juros.

De acordo com relatório Focus do BC divulgado nesta segunda-feira, economistas preveem ainda que o PIB em 2013 crescerá 4,3%, ante 4,5% na semana passada. Em relação à Selic para o próximo ano, a previsão é de 9%, após 9,38% na mediana das previsões do relatório anterior.

Após o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC ter reduzido a taxa básica de juros para o menor nível histórico, de 9% para 8,5% ao ano, a ata da reunião divulgada na sexta-feira mostrou que a autoridade monetária voltou a indicar que deve fazer novos cortes na taxa básica de juros do país com “parcimônia”.

A redução da Selic faz parte de uma política mais ampla do governo para estimular a economia brasileira diante dos sinais de que ela deve crescer neste ano perto de 3%, bem abaixo da projeção inicial de 4,5% do governo.

O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, já admitiu que a economia brasileira deve crescer entre 3% e 4% neste ano.

No início do mês, o IBGE divulgou que o PIB cresceu apenas 0,2% no primeiro trimestre deste ano, quando comparado com o quarto trimestre de 2011, abaixo das expectativas.

Além da atividade mais fraca, a inflação também vem dando sinais de arrefecimento. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), por exemplo, desacelerou para uma alta de 0,36% em maio, após subir 0,64% em abril.

No relatório Focus, as estimativas apontam que o IPCA fechará este ano a 5,03%, frente aos 5,15% da semana passada. Para 2013 a expectativa foi mantida em 5,6%. Já a taxa de câmbio prevista pelo mercado, segundo o Focus, para o fim de 2012 é de R$ 1,90 por dólar, inalterado ante a semana passada.

FONTE: O GLOBO

Grampo liga assessor de Agnelo a grupo investigado

A dois dias de depor na CPI do Cachoeira, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), está na mira da Procuradoria-Geral da República, que analisa novas provas do envolvimento dele e de assessores com grupo farmacêutico acusado de irregularidade. A denúncia é da época em que o petista estava na Anvisa. Por meio da assessoria, Agnelo nega ligação com o caso.

Gravações envolvem braço direito de Agnelo a suposto lobby na Anvisa

Fábio Fabrini

BRASÍLIA - Com depoimento à CPI do Cachoeira marcado para quarta-feira, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), está novamente na mira da Procuradoria-Geral da República, que analisa novas provas do envolvimento do petista e de seus assessores com um grupo farmacêutico acusado de sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, formação de cartel e falsificação de medicamentos.

Escutas telefônicas em poder do órgão indicam que o laboratório Hipolabor, com sede em Minas, recorria ao atual secretário de Saúde do Distrito Federal e ex-diretor adjunto de Agnelo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Rafael de Aguiar Barbosa, para acelerar demandas no órgão. Barbosa era braço direito do petista, que dirigiu a agência entre 2007 e 2010, quando deixou o cargo para concorrer ao Palácio do Buriti.

Os grampos foram feitos com autorização judicial na Operação Panaceia, desencadeada em Minas por uma força-tarefa integrada por Ministério Público, Polícia Civil e Receita Estadual, com apoio da Anvisa e do Ministério da Justiça. A procuradoria pediu o compartilhamento das provas e abrirá procedimento administrativo para analisá-las, disse o procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

Como o Estado revelou em 14 de março, uma agenda apreendida durante as operação, com anotações da contabilidade da diretoria do grupo farmacêutico, registra supostos pagamentos ao petista em 2010, ano eleitoral.

Nos grampos feitos naquele ano, um dos diretores do Hipolabor, Renato Alves da Silva - preso em abril de 2011 na operação -, conversa com um representante da empresa na Anvisa, Francisco Borges Filho, ex-chefe de gabinete de Agnelo quando deputado federal, e pede a ele que Barbosa interfira num departamento da agência em favor da empresa.

De acordo com os áudios, a cúpula do laboratório estava entusiasmada com a possibilidade de Agnelo se eleger em 2010 e, assim, emplacar aliados na Anvisa. A intenção, segundo os diálogos, era que o próprio Barbosa chefiasse a agência, o que poderia facilitar demandas do grupo.

Agnelo é chamado de "Magrelo", variação do apelido usado pelo grupo do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, nas interceptações da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal. Nelas, o governador figura como "Magrão".

Agenda. Documentos apreendidos na Panaceia indicam ainda que o deputado Fábio Ramalho (PV-MG) servia de intermediário do laboratório na Anvisa. E-mails mostram que ele próprio marcava reuniões de interesse da empresa na agência.

A agenda com anotações contábeis registra supostos repasses a Ramalho, alguns de R$ 30 mil. Os valores vêm ao lado da anotação "Fabinho", apelido do parlamentar. O nome e o sobrenome do deputado aparecem em documento que relaciona supostos pagamentos de viagens.

A procuradoria já recebeu as provas. Se concluir que há indícios de crime, Gurgel disse que pedirá ao Superior Tribunal de Justiça a abertura de novo inquérito contra Agnelo ou a anexação à investigação já em curso, que apura supostas irregularidades cometidas quando o petista dirigia a Anvisa. "Se as condutas são inter-relacionadas, seria no mesmo inquérito. Se são fatos diversos, seria num outro inquérito."

Pedido. Ex-assessor de Agnelo, Borges atua em Brasília como representante de 20 laboratórios, nas suas palavras. Ouvido pelo Estado, ele confirmou ter pedido a Rafael Barbosa, de quem se diz amigo pessoal, que acelerasse a publicação de certificado de boas práticas na Anvisa. O documento é exigido para o registro de medicamentos e comercialização. Sem ele, não é possível participar de licitações públicas.

"Por que que eu pedi para o Rafael? Trabalhei com o Agnelo na Câmara, fui chefe de gabinete dele. Quando ele (Rafael) foi para lá, fui pedir um favor. Fui pedir um favor para ele agilizar, publicar a certificação do laboratório", afirma, acrescentando que o pleito não foi atendido e que não vê irregularidade na situação. "Sou teu amigo, tu é diretor de um órgão. Eu chego lá e digo: "Verifica a situação de empresa tal, qual é a possibilidade que tem de tu me ajudar. Se tu me disser onde é que está errado isso aí...". Tá errado?"

Em seu mandato na Anvisa, Agnelo assinou ao menos oito resoluções que beneficiaram o Hipolabor e outras duas empresas do grupo: Sanval e Rhamis. Barbosa trabalhou como adjunto do petista de 7 de maio de 2008 a 29 de dezembro de 2010, deixando o cargo para assumir a Secretaria de Saúde. As reuniões de diretores da agência com representantes de laboratórios são, por regra, realizadas na presença de técnicos, com registro em ata. Mas Borges diz que o pedido foi informal. "Nunca pedi nenhuma agulha pro Agnelo e tudo o que eu pedi para o Rafael foi dentro da lei."

Borges diz que o deputado Fábio Ramalho encaminhava demandas para o laboratório na Anvisa e era "quem mais marcava audiências para o Hipolabor", entre elas encontros com o diretor-presidente, Dirceu Brás Aparecido Barbano, e seu antecessor, Dirceu Raposo de Melo. "O Fábio é amigo carne e unha com o dr. Renato Alves da Silva. Ele fez 150 pedidos de audiência para o dr. Dirceu Raposo para resolver um monte de coisas lá para ele."

Segundo Borges, seu trabalho na Anvisa consiste em encaminhar processos, mediante procuração dos laboratórios. "Pode ser classificado como ajuda. Não pode ser tráfico de influência. A burocracia que está matando o sistema".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO