quarta-feira, 4 de maio de 2011

Reflexão do dia - Zygmunt Bauman

Cada nova estrutura com a qual substituímos uma anterior, declarada obsoleta, prefiguramos um arranjo admitidamente temporário, "até nova ordem". Então, a modernidade muda suas formas como o lendário Proteu... O que tempos atrás era apelidado erroneamente de "pós-modernidade", e que prefiro chamar "modernidade líquida", traduz-se na crescente convicção de que a mudança é a nossa única permanência. E a incerteza, a nossa única certeza.

BAUMAN, Zygmunt, sociólogo polonês (19/11/1925). Entrevista: “A face humana da sociologia”. Sabático/O Estado de S. Paulo, 30/4/2011.


Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO

Até EUA pressionam Obama a mostrar Bin Laden morto

FOLHA DE S. PAULO

Bin Laden não estava armado ao ser morto

O ESTADO DE S. PAULO

Dilma quer tirar 16 milhões da miséria

CORREIO BRAZILIENSE

Casa de Bin Laden põe guerra sob suspeita

ESTADO DE MINAS

Aumenta a pressão...

ZERO HORA (RS)

Operação surpreendeu Bin Laden desarmado

JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Drama se repete

VALOR ECONÔMICO

Inflação e mão de obra preocupam executivos

BRASIL ECONÔMICO

R$ 2 bilhões somem todo ano das contas do governo federal

Miseráveis somam 16,2 milhões no país

O Ministério do Desenvolvimento Social informou que o Brasil tem 16,2 milhões de miseráveis (8,5% da população). São pessoas obrigadas a sobreviver com renda familiar per capita de até R$ 70 por mês. O número de miseráveis, obtido a partir da versão preliminar do Censo de 2010, surpreendeu por ser bem maior que o estimado até hoje, com base na Pnad: 10 milhões de pessoas (5% da população). Com isso, ficará ainda mais difícil para a presidente Dilma Rousseff cumprir a promessa de erradicar a pobreza extrema em quatro anos. Ela lançará o Plano Brasil sem Miséria.

O tamanho da miséria extrema

Governo define linha e chega a 16,2 milhões de pessoas, mais do que previa a Pnad

Demétrio Weber

Ao anunciar ontem a linha de pobreza extrema que adotará como critério para delimitar o universo de miseráveis no Brasil - renda familiar de R$70 mensais por pessoa -, o Ministério do Desenvolvimento Social divulgou um dado surpreendente: o número de brasileiros miseráveis chega a 16,2 milhões, de acordo com a versão preliminar do censo do IBGE, de 2010. Nada menos do que 8,5% da população. A surpresa está no fato de que, em 2009, o número estimado era bem menor, na faixa de 10 milhões de pessoas ou cerca de 5% da população, conforme a Pnad, do próprio IBGE.

Se os dados preliminares do Censo estiverem corretos, a promessa da presidente Dilma Rousseff de erradicar a pobreza extrema em quatro anos será uma tarefa mais difícil que o previsto. O Censo aumenta os miseráveis em 60%, sugerindo ainda que o número de extremamente pobres aumentou em 2010, último ano do governo Lula.

A definição de uma linha oficial de pobreza extrema faz parte do Plano Brasil sem Miséria, que será lançado por Dilma nas próximas semanas. O objetivo é deixar claro o tamanho do público-alvo do plano de erradicação e permitir a fixação de metas. O governo não disse ontem como pretende agir para combater a miséria. Apesar de Dilma já ter admitido que será muito difícil cumprir a promessa de eliminar a pobreza extrema, a ministra Tereza Campello disse ontem que a miséria será debelada até 2014:

- De fato, será possível erradicar a extrema pobreza no mandato da presidente Dilma.

A secretária extraordinária de Erradicação da Pobreza, Ana Fonseca, no entanto, enfatizou que isso não significará zerar o número de extremamente pobres. Ela argumentou que isso não ocorre em nenhuma área, citando o exemplo da estatística de pleno emprego no Brasil, onde é tolerável o índice de até 6% de desempregados. Raciocínio semelhante vale para a universalização do ensino na faixa de 6 a 14 anos, considerada uma conquista da sociedade brasileira, apesar de 2% das crianças estarem fora da escola.

- Vamos tirar (o povo da miséria) não só com a ampliação da renda, mas com acesso a serviços públicos - disse Ana. O governo ainda não definiu o percentual de pobreza extrema que será considerado aceitável.

Mais pobres nas áreas urbanas

O Nordeste concentra a maioria dos miseráveis: 9,6 milhões, o equivalente a 18,1% dos nordestinos. Embora só 15,6% da população vivam no campo, quase metade dos miseráveis é de áreas rurais: 46,7%. A Bahia tem mais pobres extremos - 2,4 milhões -, seguida por Maranhão, com 1,6 milhão. O Rio, em 12º lugar, tem 586,5 mil. Os extremamente miseráveis estão mais concentrados nas áreas urbanas que nas rurais.

Em nota, o ministério diz que não se pode comparar Censo com Pnad. "A Pnad é uma pesquisa por amostragem, realizada em 820 municípios (quase 1/7 do total). O Censo é realizado em 100% dos domicílios brasileiros. Os formulários do Censo e da Pnad também são diferentes. Logo, produzem dados distintos", diz o texto. Os dados preliminares do Censo indicam queda da pobreza na década. Em 2000, 41,3% dos lares tinham renda por pessoa até meio salário mínimo. Esse índice caiu para 32%, em 2010.

A linha de pobreza extrema valerá apenas para o plano de erradicação. Assim, não haverá mudança de critérios nos programas do governo. A escolha do teto de R$70 mensais por pessoa seguiu o parâmetro do Bolsa Família. Hoje, quem está nessa faixa de renda é classificado como extremamente pobre e recebe o benefício básico. O valor de R$70 é próximo também da linha de miséria adotada pelo Banco Mundial e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), de US$1,25 por dia.

FONTE: O GLOBO

Em 2012, a inflação deve continuar alta

Com pressões de salário mínimo e alta de produtos básicos, o mercado aposta que a inflação deve ficar entre 5% e 5,5%.

2012, o ano que já começou

Inflação do ano que vem já parte de 6,6%, ameaçando meta. Salário mínimo tem forte impacto

Vivian Oswald

A divulgação dos índices desta semana confirma que a escalada corrente dos preços ainda não deu trégua. Mas o que os indicadores não mostram é o risco para a inflação de 2012, quando o Banco Central (BC) promete levá-la ao centro da meta de 4,5%. A principal ameaça é o reajuste de dois dígitos do salário mínimo - estimado entre 13% e 14% pelo mercado. O impacto deve ser de R$22,8 bilhões só de gastos adicionais nas contas federais, segundo a consultoria Tendências. Isso é o que o governo vai desembolsar com previdência, seguro-desemprego e Lei Orgânica de Assistência Social (Loas). O efeito potencial do aumento é de uma alta de 0,8 ponto percentual no IPCA ou mais de 20% do alvo para o ano.

Para 2013, o custo será de R$16,5 bilhões e, para 2014, de R$17,5 bilhões. Segundo o economista da Tendências Thiago Curado, a inflação de 2012 já começa alta, partindo de 6,6%, e não há muito o que se possa fazer para combater os principais fatores que estarão por trás dela: expectativas, inércia (um patamar alto de inflação começa a funcionar como piso para variações dos preços) e indexação.

- O que o salário mínimo faz sobre a inflação é injeção de demanda. Quando já tem inflação por descompasso entre oferta e demanda (como é o caso atual), é complicado. O trabalhador pode adiantar o consumo hoje com o ganho de renda que terá amanhã - diz Curado.

Para o economista do banco ABC Brasil, Luis Otavio Leal, o salário mínimo é apenas a "cereja do bolo" na questão salarial do país. A partir de setembro deste ano começam as negociações dos dissídios das chamadas "categorias-farol": petroleiros, metalúrgicos e bancários. O resultado obtido por estes grupos deve ser usado como referência para outras categorias menos organizadas, segundo ele.

O mercado de trabalho foi um dos fatores de risco apontados pelo BC no primeiro relatório de inflação do presidente Alexandre Tombini, divulgado em março. "Um aspecto crucial em ciclos como o atual é a possibilidade de que o aquecimento no mercado de trabalho eleve a concessão de aumentos nominais dos salários em níveis não compatíveis com o crescimento da produtividade, o que de fato tem ocorrido", dizia o documento.

- Em agosto, a inflação deve atingir seu pico e chegar a algo próximo de 7,5% em 12 meses, e essa será a referência deles. Trata-se de um fator importante de pressão sobre os serviços (nos meses seguintes), que já vêm se mantendo em um patamar elevado de 8,5% - disse Leal, lembrando que o mínimo também é base de cálculo para profissionais como cabeleireiros e manicures.

Serviços respondem por metade da meta

Se os serviços se mantiverem no atual patamar, segundo Leal, já carregam 2,25 pontos percentuais para a inflação de 2012, ou seja, a metade da meta central para o período. Mas os efeitos negativos do aumento do mínimo não param aí. Segundo o economista, o novo piso vai pesar nas despesas de estados e municípios, que vêm demonstrando dificuldades em manter suas contas no azul.

- O salário mínimo é crucial, uma bomba-relógio. O governo vai ter que estar preparado para lidar com seu impacto - alertou Leal.

Os economistas são unânimes ao reconhecer que os preços das commodities continuam sendo fator de incerteza para 2012 e podem não arrefecer como esperado, criando uma situação ainda mais complicada para trazer o IPCA para o centro da meta. Mais de 70% dos preços de commodities subiram desde o segundo semestre do ano passado.

- Isso exerce pressão não só sobre a economia como um todo, mas também sobre os aluguéis, corrigidos pelo IGP-M, que carrega em boa medida os efeitos dos preços das commodities - destaca Leal.

Outro ponto que preocupa os analistas é a chamada inércia da inflação.

- Afinal, depois de dois anos com inflação muito pressionada, ela acaba ganhando vida própria - disse o economista-chefe da Maxima Corretora, Elson Teles, que concorda com risco do salário mínimo para 2012 e a possíveis surpresas nas commodities.

Pela estimativa do BC no último relatório de inflação, de março, o IPCA poderia fechar o ano entre 4,8% e 6,3%. A projeção central era de 5,6%. Para 2012, a expectativa era de 4,6%, podendo oscilar em cenários mais extremos de 3,1% a 6%. Depois de rever sucessivas vezes suas projeções para a inflação este ano, o mercado já não acredita em nada abaixo de 6%. Apesar das pressões, a Tendências espera que a inflação feche 2012 em 5,2%, se não houver novos choques inesperados. E há quem trabalhe com 5,5%:

- É muito difícil fazer convergir mais depressa para 2012 pelo fato de a inflação ter passado muito da margem este ano - afirmou Elson Teles.

Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, assegurou ontem que a inflação ficará dentro da meta fixada para 2011. Segundo ele, o IPCA pode até encostar no teto da meta, de 6,5%, mas não fechará o ano acima dele.

- Posso garantir que a inflação ficará dentro dos parâmetros - disse Mantega, ao participar de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal.

O ministro defendeu a estratégia do governo de combinar política monetária com política fiscal na hora de combater pressões sobre os preços:

- É uma forma de debelar a inflação sem derrubar o crescimento. A arte da coisa é equilibrar as medidas e estamos tomando cada uma delas na gradação certa.

Mantega disse aos senadores que não está preocupado com o impacto que o reajuste do salário mínimo deve exercer sobre a economia no ano que vem. Enquanto o mínimo deste ano teve apenas a reposição inflacionária, o do ano que vem será corrigido pelo IPCA e pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2010, de 7,5%. Ele também reconheceu que a economia brasileira é fortemente indexada, o que contribui para deixar a inflação mais alta. Segundo ele, 3% do índice de inflação são resultado apenas da indexação.

FONTE: O GLOBO

Inflação e mão de obra preocupam executivos

Dois focos de pressão sobre os custos das companhias preocupam os principais dirigentes de empresas do país, conforme manifestaram ontem durante a cerimônia de entrega do prêmio Executivo de Valor. Para eles, as maiores dificuldades enfrentadas hoje por seus grupos são os aumentos das matérias-primas e a falta de mão de obra qualificada. Em alguns já é clara a desaceleração da atividade, mas de qualquer maneira o Brasil deverá crescer cerca de 4% este ano.

O presidente da Whirlpool, José Drummond Jr., disse que o aumento das matérias-primas vem sendo equacionado, por meio de negociações com os fornecedores e repasse de preços ao consumidor, realizado neste mês. Para o presidente da CPFL, Wilson Ferreira Jr., a inflação ainda não preocupa a ponto de prejudicar a indústria de energia. Segundo ele, o problema mais grave é a falta de mão de obra qualificada.

Inflação volta à agenda das empresas

São Paulo - A inflação voltou à agenda dos executivos, que intensificaram as negociações com os fornecedores de insumos, matérias-primas e serviços em uma tentativa de minimizar o repasse do aumento de custos para o preço final, segundo relato, ao Valor, dos dirigentes de grandes empresas brasileiras presentes à cerimônia de entrega do prêmio Executivo de Valor, ontem em São Paulo. Os repasses, contudo, estão sendo feitos.

As pressões de custos aumentaram, segundo os empresários, justamente no momento em que alguns setores começam a sentir os primeiros sinais de desaceleração do nível de atividade. Eles ainda são tímidos, mas já apareceram tanto no setor financeiro, como para os fabricantes de bens de consumo duráveis, embora ainda estejam fora do cenário da indústria de alimentos ou de bens semiduráveis. Enquanto voltam a lidar com a inflação, a falta de mão de obra qualificada é outro item de preocupação, até porque a necessidade de manter os atuais funcionários tem exigido a concessão de maiores aumentos salariais.

Para conter a pressão inflacionária e não aumentar os preços dos ingressos, a rede Cinemark intensificou as negociações com seus fornecedores, diz seu presidente, Marcelo Bertini. "Por enquanto estamos sendo bem-sucedidos nessa estratégia. Mas não sei mais quanto tempo conseguimos segurar." As negociações salariais em alguns Estados, diz, causaram aumentos mais altos que os previstos inicialmente, o que resultou no aumento dos ingressos. "O problema é que eles estão superando o aumento da produtividade", diz.

Problema para alguns setores, a queda do dólar tem sido um alento para a Positivo Informática. Como a maioria dos componentes usados pela companhia para montar seus computadores é cotado em dólar, o real valorizado acaba compensando a pressão inflacionária que surge com o aumento nos preços das commodities, explica Hélio Rotenberg, presidente da empresa. Com relação ao custo da mão-de-obra, ele diz que a empresa vem tomando medidas para aumentar a produtividade de seus funcionários e também tem se movimentado para garantir que não faltem profissionais preparados.

Na Ambev, as pressões inflacionárias das commodities estão tendo um impacto significativo nos negócios porque os custos estão sendo afetados por insumos como malte, açúcar, alumínio e importação de latas, diz o presidente João Castro Neves. "Isso já nos levou a reajustar nossos preços, percentual que repassamos sempre em linha com a inflação. Mesmo assim, temos conseguido bons resultados por nos mantermos focados em produtividade e inovação, além de um controle rigoroso de gastos", afirma Castro Neves.

O segmento de bebidas já sentiu a retração na demanda. "Desde o fim do ano passado o nosso setor vem apresentando sinais de desaquecimento causados por uma desaceleração no aumento de renda disponível, aumento de preços, além da influência do clima", diz.

André Esteves, presidente do banco BTG Pactual, também já sentiu alguma desaceleração no ritmo das atividades no primeiro trimestre deste ano. "Já deu para perceber que o PIB [Produto Interno Bruto] deste ano não repetirá os 7,5% de 2010. Ficará dentro dos 4%", diz.

Nas operações da varejista Lojas Renner, o impacto veio principalmente do preço do algodão. Segundo o presidente da companhia, José Galló, a alta chega a 160% desde o início do ano passado e trouxe um aumento de custos para a rede de 10% a 12%. "Mas temos conseguido repassar esses reajustes para os preços dos produtos", afirma Galló. Para reduzir custos, a empresa também usou mais materiais sintéticos. Na Hering, o aumento do preço do algodão e da pressão inflacionária levou a empresa a reajustar os preços em média 10% no primeiro trimestre. Fábio Hering, presidente da empresa, acredita que a estratégia do governo de usar a importação como plataforma de controle da inflação pode desestimular o avanço da indústria nacional.

A Renner, informa Galló, ainda não registrou queda de demanda, mesmo com o aumento da taxa básica de juros, ao contrário do que a Whirlpool já percebe. José Drummond Júnior, presidente da empresa, explica que ela já vive um momento de desaceleração. "Continuamos em um ritmo positivo: estamos crescendo menos, mas sobre uma base alta."

Na empresa, a solução encontrada para o aumento dos preços de matérias-primas foi a negociação com os fornecedores e o repasse de preços ao consumidor, realizado este mês. "Essas medidas recompuseram os preços, fazendo frente aos impactos que já aconteceram", informou Drummond. Ele ressaltou ainda que a alta dos salários já vem sendo sentida pela Whirlpool nos últimos três anos.

A inflação ainda não afetou os negócios das operadoras de serviços CPFL e Nextel. O presidente da CPFL, Wilson Ferreira Jr., diz que o custo que mais preocupa o setor hoje é o da mão de obra mais qualificada. Ele afirma, no entanto, que a empresa está conseguindo treinar os profissionais que necessita. "Não colocamos um eletricista na rua sem dar dois a três meses de capacitação." Sérgio Chaia, presidente da Nextel, concorda. Para ele, o maior desafio hoje é trazer mais pessoas qualificadas para a empresa. A Nextel contratou no ano passado cerca de mil funcionários e planeja contratar o mesmo este ano. "Enfrentamos o apagão da mão de obra, e nossa preocupação é remunerar bem nossos funcionário. Não é o custo que nos preocupa e sim a oferta de profissionais", diz ele.

A alternativa apresentada pelo presidente da Azul, Pedro Janot, para conter os efeitos da escalada do petróleo e da inflação das commodities no setor aéreo é investir em produtividade, tecnologia e revisão de processos. "Temos de continuar a ganhar dinheiro", diz.

Desaceleração não é a palavra do cotidiano das empresas ligadas ao agronegócio. No setor sucroalcooleiro, que ainda vive um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de seus dois principais derivados - etanol e açúcar - os preços têm subido devido ao fato de a demanda crescer em um ritmo mais acelerado que a oferta, diz José Carlos Grubisich, presidente da ETH. Já a gigante JBS encara a valorização de sua matéria-prima (boi gordo) como um fator que reflete diretamente no maior faturamento da empresa. "Nosso custo fixo diminui uma vez que o preço médio do produto que vendemos aumenta. No mercado de commodities não é possível não repassar os preços", diz Joesley Batista, presidente do conselho da JBS.

Para driblar as pressões inflacionárias e reduzir os custos na compra de matérias-primas a Natura adotou um programa de atualização da plataforma de fornecedores, em que está renegociando os contratos e ampliando a base de oferta. "Estamos buscando novos fornecedores, que serão selecionados a partir de indicadores socioambientais", diz Alessandro Carlucci, presidente da empresa.

Como toda a indústria, as pressões inflacionárias provenientes das matérias-primas e do aumento dos salários têm influenciado os negócios da Suzano e da WEG. Para a Suzano, os custos que mais pesam são os do petróleo (atrapalham a logística) e dos insumos químicos, como a soda cáustica.

Harry Schmelzer Jr., presidente da WEG, por sua vez, tenta diversificar seus investimentos, para se ajustar ao aumento nos custos das matérias-primas e da contratação de pessoal. "Estamos investindo no Brasil, mas também estamos colocando mais velocidade para aumentar nossos investimentos produtivos no México, Índia e China. Nós precisamos ter um hedge natural das nossas operações internacionais", explica.

VALOR ECONÔMICO

O fator humano Merval Pereira

O seminário promovido pela Unesco para comemorar o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa teve uma intensa programação baseada nas novas mídias, mas, ao final de vários debates, inclusive o do qual fui mediador, ficou a sensação de que é impossível abrir-se mão da mídia tradicional como uma fonte fundamental para a divulgação de informações, assim como da capacidade de seus profissionais para apurar e checar notícias, dentro de padrões técnicos e éticos largamente testados pelos anos, o que dá credibilidade às notícias divulgadas.

O painel do qual participei tratava da integração das diversas mídias para fazer com que as empresas de mídia tradicional continuem sendo atores centrais na produção de informações nesse novo mundo tecnológico.

Por isso destaquei uma informação publicada recentemente pelo jornalista Tom Rosestiel, um dos teóricos mais importantes do jornalismo, no "Washington Post", segundo a qual, entre os 20 blogs mais acessados dos Estados Unidos, nada menos que 18 fazem parte da mídia tradicional ou estão ligados a ela de alguma maneira.

Mas, como ressaltou Katherine Zaleski, produtora executiva para novos produtos digitais do mesmo "Washington Post", que está comandando o processo de integração na nova redação do jornal, a capacidade de apuração proporcionada pelas novas mídias, colocando o relato de diversos novos atores à disposição do público, não permite mais que os jornais se portem como na guerra do Iraque, quando assumiram como verdadeiras as versões oficiais, e só anos depois refizeram seus relatos revelando que não havia armas de destruição em massa em poder do ditador Saddam Hussein e as manipulações que o governo Bush usou para justificar a invasão daquele país. Por isso o noticiário sobre a morte de Bin Laden está sendo tão detalhado e tão crítico.

Em outro painel, em que ativistas de diversos grupos da mídia digital mostravam suas atuações através da divulgação de filmes no YouTube ou informações contra governos autoritários através de internet, Twitter ou de meios de relacionamento social como o Facebook, um jornalista africano chamou atenção para o fato de que, por melhores que sejam suas motivações, os ativistas não estavam fazendo jornalismo.

Gregory Shvedov, editor do blog "Caucasian Knot", da Rússia, admitiu que seu trabalho fosse político, mas defendeu a existência de um jornalismo ativista.

Outros participantes admitiram que, com o correr dos anos, estão mais empenhados em checar as informações antes de divulgá-las, mesmo porque vários governo autoritários forjavam denúncias falsas para depois acusar os ativistas.

Larri Kilman, diretor da Associação Mundial de Jornais (WAN/IFRA) mostrou com números que a questão dos jornais não é de falta de audiência, mas de modelo de negócios que está se deteriorando.

Segundo ele, os jornais ainda atingem 37% da população adulta do mundo, cerca de 1,7 bilhão de pessoas diariamente, comparado com apenas 25% da população mundial que tem acesso à internet.

Combinados os jornais impressos com suas versões on-line, nunca os jornais tiveram tanta audiência quanto hoje.

Ele ressaltou, porém, que é caro manter um time de repórteres nos jornais, e a democracia será afetada sem eles.

A questão é que os jornais estão perdendo para as mídias digitais verba de publicidade, que em certos países já ultrapassa a dos impressos.

Os jornais estão tentando buscar alternativas a essa perda, e muitos já estariam conseguindo novos caminhos. Por isso, também alguns, como o "The New York Times", começaram a cobrar pelo acesso a suas edições digitais.

Mas quem melhor se colocou na discussão entre as novas mídias e a tradicional foi o jornalista Bob Woodward, famoso pela reportagem no "Washington Post", junto com Carl Bernstein, que derrubou o presidente Nixon no que ficou conhecido como o escândalo de Watergate.

Ele começou sua palestra discordando do resumo feito para a apresentação do seminário, que dizia: "os novos instrumentos da mídia digital mudaram fundamentalmente a natureza da reportagem e o sentido da transparência".

Woodward declarou-se em discordância "firme" com essa afirmação. Para ele, os novos meios apenas suplementaram de maneira significativa a maneira de fazer jornalismo.

Ele também discordou da afirmação de que os cidadãos agora têm acesso instantâneo às fontes que os repórteres usaram nas suas reportagens.

Para Woodward, que disse que adora a internet, há de fato mais dados para a apuração, mas nada mudou fundamentalmente na maneira como um bom jornalista trabalha.

Ele se referiu às notícias baseadas no Wikileaks que o "The New York Times" publicou, dizendo que o fazia porque "os telegramas contam a história crua de como os governos tomam suas decisões que custam ao país pesadamente em vidas e dinheiro".

Embora admita que publicar telegramas do Wikileaks acrescente informação para o leitor, Woodward diz que a versão dos embaixadores dificilmente chega à Casa Branca, que tem seus próprios meios de investigar e produzir relatórios.

Na definição de Bob Woodward, não vivemos uma revolução no jornalismo, que ainda depende das revelações de fontes humanas, que viveram os acontecimentos diretamente e relatam suas histórias aos bons jornalistas.

Mas é preciso também saber pesar as informações e descontar as fraquezas humanas na hora dos relatos, adverte.

Ele contou uma história definitiva sobre a tendência de as pessoas refazerem suas versões de maneira a ficarem em situação melhor.

Disse Woodward que ele e sua mulher estavam certa vez em um seminário sobre envelhecimento (ele tem 78 anos e diz que se interessa muito pelo assunto) e deram para os assistentes questionários sobre hábitos de vida.

Na contagem final de pontos, a pessoa saberia quantos anos de vida teria. Na sua frente estava Henry Kissinger, que ficou curioso sobre o seu resultado.

Constatou então que Kissinger refez o questionário, alterando respostas, até que o resultado desse a ele mais anos de vida que o primeiro, segundo o qual já teria morrido devido a seus hábitos sedentários e ingestão de carne vermelha.

"As pessoas vivem refazendo suas versões sobre os fatos", advertiu Bob Woodward.

FONTE: O GLOBO

Capitalismo à brasileira:: Fernando Rodrigues

A franqueza do ministro da Fazenda, Guido Mantega, ajudou ontem a ilustrar o estágio mesozoico em que se encontra o regime de livre mercado no Brasil.
Convidado pelo Senado para falar sobre a economia e a influência do governo na Vale, Mantega explicou que o ex-presidente Lula irritou-se com a mineradora no ano passado por dois motivos.

Primeiro, porque a Vale "tinha prometido fazer projetos siderúrgicos no Pará, e não fez" -no período pós-crise econômica mundial. Outra razão foram as mais de 1.000 demissões na empresa. Aí, o ministro Mantega rasgou a fantasia:

"O presidente Lula, com justa razão, se manifestou democraticamente. Veja, ele não tomou nenhuma atitude. Poderia ter retaliado a Vale. A Vale é uma concessão, né? Poderia ter aumentado impostos. Não fez nada disso. Apenas ele utilizou o chamado "jus esperniandi" (...) Não vejo uma situação mais democrática do que essa".

Como assim Lula "poderia ter retaliado"? Como assim "poderia ter aumentado impostos"? Na cabeça de Mantega, o presidente da República tem a incumbência e o encargo para tomar tais atitudes ao se irritar com uma empresa.

O "sincerocídio" do ministro chegou ao grau máximo quando decidiu elucubrar sobre o controle acionário da mineradora: "Não vejo nenhuma interferência na Vale. Agora, não nos esqueçamos que a Vale tem 60% de Previ e BNDES, que participam da administração".

Para o ministro da Fazenda, o fundo de pensão Previ é uma extensão do governo. Mas não é ou não deveria ser. Pertence aos funcionários do Banco do Brasil.

Por que Mantega foi tão franco ao revelar seu pendor estatizante e intervencionista? Porque o ambiente no governo enseja esse capitalismo à brasileira. E se o ministro está assim, à vontade, é lícito supor que a presidente concorda com tudo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Desafinados:: Dora Kramer

A sequência dos fatos por si só evidencia o problema.

Na sexta-feira, 29 de abril, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, divulgou nota para negar a existência de retaliações a adversários na seção paulista do partido e bateu forte no PSD de Gilberto Kassab: “A ética discutível está na formação de partidos que reúnem adesismo, conveniências em torno de projetos pessoais e mudanças de lado”.

No domingo, 1.º de maio, o senador Aécio Neves criticou os críticos de Kassab durante as comemorações do Dia do Tra¬¬balho patrocinado pelas centrais sindicais e na segunda-feira, 2, era esperado em um jantar em Uberaba (MG) para próceres do PSD, entre os quais Jorge Bornhausen.

No dia seguinte, terça-feira, 3, o ex-senador e ex-presidente do PSDB Tasso Jereissati apareceu nos jornais sendo ainda mais explícito que Sérgio Guerra. Chamou o PSD de “balcão de negócios”.

Na véspera, ao fim de uma palestra sobre reforma política, em São Paulo, o ex-governador José Serra, anunciou que continuará calado, pois não tem nada a dizer sobre uma crise que considera inexistente no PSDB.

Isso poucos dias, sete é a conta exata, depois de o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ter feito um apelo público em prol da unidade e do fim da crise no partido.

Crise esta que, na visão do governador Geraldo Alckmin, não passa de um “lusco-fusco” com excelente potencial de fator de “fortalecimento” do PSDB. Logo ele, que enfrenta defecções na sua base e divide o governo com um vice agora hostil, Guilherme Afif Domingos, um dos artífices do “balcão de negócios”.

Uma versão otimista, e falsa, daria a esse mosaico incongruente de posições o nome de democracia interna, convivência pacífica de divergências ou qualquer coisa parecida.

Uma tradução metafórica enxergaria nisso um conjunto sem maestro nem partitura tocando com instrumentos desafinados.

Qualquer pessoa com algum senso de observação, capacidade auditiva razoável e zero compromisso com a manutenção das aparências, percebe que o PSDB está conflagrado e prisioneiro das próprias contradições.

Na impossibilidade de produzir um entendimento produtivo, as lideranças resolveram negar a crise. Nenhuma delas se arrisca a uma análise franca da situação, porque são tantas e tão profundas as escaramuças, que abrir o jogo para tentar arrumar a casa pode significar a deflagração de uma guerra interna por hegemonia, que ninguém ali tem coragem de bancar.

Uma espécie de tentativa de que as circunstâncias e o tempo se encarreguem da omelete sem que em momento algum se quebrem os necessários ovos.

E assim segue o partido refém do autoengano, acreditando na ilusória realidade que construiu para si de que não é necessário correr riscos, ultrapassar obstáculos nem imprimir esforços, pois a sorte lhe será madrinha e sozinha vai se encarregar dos fatos.

Autoritariamente

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem uma visão peculiar do que seja democracia. Convidado a falar sobre a ingerência do governo na demissão de Roger Agnelli da Vale, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o ministro considerou que o então presidente Lula agiu “democraticamente” ao trabalhar pela saída do executivo.

Mantega justificou que Agnelli desagradou à Presidência ao demitir 1.200 funcionários e tocar a política de investimentos que achava a mais correta para a empresa.

“O presidente poderia ter retaliado a Vale, mas preferiu reclamar publicamente. Não vejo situação mais democrática do que essa”, disse.

Além de revelar que o governo considera a retaliação uma possibilidade real, o ministro da Fazenda confirma a interferência por motivo torpe e admite o ato de vingança pessoal contra um presidente de empresa privada que ousou desagradar ao governo. Menos democrático impossível.

E por isso mesmo preocupante, já que pelas declarações do ministro fica posto que as empresas cujas diretrizes operacionais desagradarem ao governo podem ser objetos de ações intervencionistas.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Descombinada com o tempo:: Rosângela Bittar

Candidata derrotada na disputa presidencial de 2010, Marina Silva (PV), ícone do ambientalismo nacional e internacional, obteve uma votação que surpreendeu - quase 20 milhões de eleitores marcaram seu número na urna - apenas os que não acompanharam a construção de sua candidatura. Levantamentos preliminares encomendados pelo PV mostravam que tal candidata poderia mesmo atingir os patamares de aceitação que acabou conquistando de verdade. Por três ou quatro razões principais.

Uma, seus méritos, seu nome e a carreira que construiu no rastro do tema de preservação do Meio Ambiente e salvação do Planeta, com uma ligação estreita a ONGs internacionais que acabaram consolidando sua imagem no exterior. Um fenômeno de fora para dentro que, apesar de tudo, e curiosamente, não chegou a atingir seu Estado natal, o Acre, onde ficou em último lugar entre os principais candidatos a presidente em 2010.

Esses votos de Marina, definidos como os votos verdes, contudo, renderam-lhe uma base de apoio cativa, financiamento de campanha, temática sólida, mas não a levariam, sozinhos, ao pedestal de fenômeno que acabou galgando. Igualmente importante, ou até mais, foi a exposição nos meios de comunicação de massa, os principais telejornais da TV aberta do Brasil.

Há uma terceira razão muito forte que pode até ser a preponderante: Marina Silva representou a terceira via. Entre PT e PSDB, uma parte consistente do eleitorado, notadamente das camadas de nível mais elevado de instrução e renda, preferiu Marina, como em outras disputas preferira Ciro Gomes e outros tertius, por exemplo, evitando os polos das últimas disputas eleitorais no país.

A ex-senadora, ex-ministra e ex-candidata a presidente, que saiu da campanha eleitoral em excelsa glória, perdeu o prumo, o rumo e o ritmo nos últimos seis meses pós disputa presidencial. Não está sabendo o que fazer com tão extraordinário desempenho e queima sem parar seu capital.

A empreitada mais relevante que contratou, única na qual se destacou nesse período, foi uma querela interna no Partido Verde, onde embarcou numa divisão entre os grupos do Rio e de São Paulo, engalfinhando-se desnecessariamente com o secular dirigente partidário do PV, José Luiz Penna. Marina chegou a inclinar-se por uma facção do partido, a Transição Democrática, a ponto de seu público atribuir a ela o desejo de, tal qual os políticos velhos de guerra, sair para criar seu próprio partido se não conseguisse o poder de mando entre os verdes. Mais mofado em matéria de política partidária, impossível.

Sua ficha de filiação é nova em folha, mas o exercício dos piores e tradicionais hábitos políticos é irresistível. Marina Silva ficou longe dos temas importantes, inclusive aqueles de seu domínio histórico, e não foi capaz sequer de aceitar críticas que lhe apontavam o seu desvio do caminho principal.

Reagiu com arrogância aos comentários de que, enquanto travava uma luta com Penna em torno do domínio do PV, o Código Florestal, ouro puro do ambientalismo mundial em discussão, seguia seu curso congressual sem a contribuição de tão ilustre especialista.

A resposta de Marina Silva foi dizer que, como não tem mandato, trava o diálogo com a sociedade e não com o Congresso. E criticou parlamentares do seu partido por terem permitido o avanço da negociação do Código. Recebeu, de volta, o desdém, por seu alheamento e desinformação.

Ora, é no Congresso que o Código está tramitando e sendo votado, deve entrar em pauta esta semana, depois de anos de negociação com a sociedade.

Em 2008 um esboço do Código ficou pronto, em 2009 chegou à Comissão especial e começou a ser trabalhado pelo relator, deputado Aldo Rebelo (PCdoB), que executou um detalhado e estratégico projeto de discussão e negociação das mudanças em todo o país, com os mais diferentes auditórios e grupos de interessados, os cidadãos aos quais as normas atingem diretamente. Foram 70 reuniões em 22 Estados, algumas com 5 mil, 6 mil pessoas.

Essa mega negociação, inclusive mais recentemente envolvendo as conflitantes autoridades do governo que conseguiram chegar a um consenso mínimo, e com as bancadas de ruralistas e ambientalistas - PV incluído - resultou em duas ou três versões do Código com alterações acatadas pelo relator.

Pronto o trabalho para ir a voto, a ex-candidata a presidente, instigada pelas críticas, resolveu, ontem, insurgir-se. Participou de reunião da bancada do Partido Verde e liderou uma marcha ao chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci, para propor adiamento da votação do projeto, prevista para hoje. E o fez, novamente, com falta de senso de realidade: "Espero que o bom senso sinalize no sentido do adiamento, é impossível elucidar esse texto de hoje para amanhã, é uma irresponsabilidade de quem disser isso".

A ordem de zerar tudo é uma tardia estridência da ex-senadora contra um espetáculo que está há quatro anos em cartaz com encerramento já agendado. Dificilmente os atores concordarão em voltar tanto no tempo. A conferir se as ONGs internacionais que apoiam a ex-senadora terão força para sustar, neste momento, a tramitação do projeto.

Está claro que Marina Silva precisa e merece um bom aconselhamento, daqueles que lhe apontem caminhos que possam manter acesa a sua chama política até a próxima disputa eleitoral. É preciso ver, porém, se ela quer, ou se a falta de eixo desses meses pós-campanha tem um significado mais radical, porém oculto.

Ecumênica também na sua insatisfação, a presidente Dilma Rousseff tem avaliação negativa do desempenho dos mais importantes ministros do PT e do PMDB, os dois pilares de sustentação do seu governo.

Do PT, sobram críticas, especialmente, ao ministro da Educação, Fernando Haddad, embora o da Saúde, Alexandre Padilha, ainda não tenha dado motivos de regozijo à nova gestão. Os dois petistas de altíssima cotação partidária ainda não aconteceram no governo.

Do PMDB, o desânimo é com o representante principal, o ministro Edison Lobão, das Minas e Energia.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Mirando a meta :: Míriam Leitão

A inflação vai superar o teto da meta nos próximos meses. Quem diz é o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Ele garante que o BC está enfrentando o problema e que vai levar a taxa para o centro da meta no final de 2012. Perguntei: E se alguém disser que os juros não podem subir, por razões políticas? Ele respondeu: "Não fará diferença. O BC tem autonomia."

Na primeira entrevista exclusiva concedida pelo presidente do Banco Central, ele me disse ontem - num programa da Globonews - que o país vai continuar acumulando reservas cambiais, apesar de já ter mais de US$320 bilhões, e analisou a questão internacional. O problema que dominou a conversa foi, claro, a inflação. Ele disse seis vezes que o BC levará a inflação para o centro da meta em 2012. E explicou por que prorrogou o prazo dessa convergência:

- Em nenhum momento o Banco Central desistiu. Por causa de uma série de choques externos, como o de preços de commodities e de energia, e mais o crescimento da demanda interna, a inflação acumulou 2,44% nos primeiros três meses do ano. Para levar para o centro da meta este ano, teria que haver 2% de inflação em nove meses. Mas estamos tomando medidas que atuarão com a defasagem conhecida. Hoje, o Banco Central do Brasil é o mais ativo no combate à inflação em comparação com os seus pares.

Tombini nega que tenha oscilado entre os instrumentos de controle de crédito (macroprudenciais) e as políticas convencionais de política monetária:

- O Banco Central não mudou. Essa administração elevou em 125 pontos bases (os juros). As medidas convencionais estão sendo utilizadas de forma clara e convincente. Políticas financeiras não são decididas pelo Copom, mas pelo Banco Central, mas são levadas em consideração. O instrumento que vai nos levar à meta de 4,5% é o instrumento convencional. Foi usado e continuará sendo usado no tempo necessário.

Entre os vários desafios que existem no cenário da inflação nos próximos meses está o fato de que as negociações salariais das categorias mais fortes ocorrerão exatamente quando a taxa em 12 meses tiver ultrapassado o teto da meta no terceiro trimestre:

- É importante o BC e o governo demonstrarem no momento da negociação salarial que a inflação está convergindo para a meta de 4,5% e que as categorias precisam olhar para o cenário internacional de inflação elevada. É preciso demonstrar que a taxa está na trajetória para que os agentes econômicos nas suas definições de preços e salários olhem para a frente, do contrário, teremos problemas de competitividade internacional.

Mas mesmo que este teste das negociações salariais de metalúrgicos, bancários e petroleiros seja superado, virá outro desafio no começo do ano que vem que será um aumento de pelo menos 14% para o salário mínimo, que terá um impacto nas contas públicas e preços:

- Todas as políticas que estão sendo tomadas agora estarão tendo impacto mais forte no último trimestre deste ano e começo do ano que vem. Nas nossas decisões, temos que levar em consideração tudo o que já sabemos de antemão, como a regra de aumento do salário mínimo.

Tombini disse que a partir de maio a inflação mensal vai cair e estará em termos anualizados dentro da meta, mas admite que a inflação em 12 meses estará subindo e deve ultrapassar o teto. Ele acha que o choque das commodities deve ceder agora, pelo menos na área agrícola. Neste contexto é que ele disse esperar a queda do etanol para breve.

Ele explicou sua ideia de que o fluxo de capitais é inflacionário, quando se sabe que o primeiro efeito é derrubar o dólar, o que tem puxado a inflação para baixo:

- O Brasil recebeu US$35 bi em três meses, um volume inédito. Isso dá uma velocidade à expansão do crédito além do adequado, e produz uma demanda por ativos como terra, imóveis. Estamos trabalhando com os ministérios (da Fazenda e do Desenvolvimento) para minimizar esses riscos. Tenho duas preocupações com esse excesso de fluxo de capitais. Nós apertamos o requerimento de capital, colocamos tributação em cima de crédito e essa entrada excessiva de dólar desfaz esse trabalho, porque as empresas vão lá fora tomar empréstimos, achando que não há risco cambial. Essa é a segunda preocupação, o de evitar que as empresas assumam esse risco. Outros países estão com políticas monetárias muito expansionistas.

Sua avaliação é a de que os mercados financeiros continuam bem, apesar "dessa coleção extraordinária de eventos" na conjuntura internacional, porque há esse excesso de liquidez, mas por outro lado o país tem que estar preparado para uma reversão do quadro, evitando riscos.

Quando perguntei a Tombini o que aconteceria se alguém dissesse que ele não pode subir juros por razões políticas, ele respondeu:

- O Banco Central tem autonomia. Não só eu, como os diretores. Eles definem os seus votos. Se alguém disser isso, não fará diferença porque a nossa decisão será com base nas nossas avaliações, com os subsídios do corpo técnico. Funciona como sempre funcionou nestes 12 anos de metas de inflação.

FONTE: O GLOBO

Indexar o mínimo gera perda, não ganho :: José Milton Dallari

Nos últimos 16 anos, graças ao Plano Real, o brasileiro conviveu com uma economia estável. Aprendeu a fazer planos de longo prazo, como programar a compra da casa própria ou a viagem de férias. Também deixou de encher o carrinho no supermercado, todos os dias, para escapar do aumento desenfreado dos preços, que corroía os salários. Mas a luta pelo controle não acabou.

Economistas de bancos e institutos que se debruçam em números para estudar a evolução dos preços preveem que, este ano, a meta de inflação de 4,5% estabelecida pelo governo será superada. Já se fala em 6% ou 6,5%. O próprio Banco Central, em seu último relatório trimestral, já admitiu que o centro da meta de inflação só deve ser alcançado em 2012. O que está acontecendo? A resposta é simples: o Brasil voltou a ser ameaçado pelo fantasma da indexação dos preços.

O mecanismo de correção automática dos preços pela inflação passada continua presente em vários setores da economia, formal ou informalmente. O valor dos aluguéis é reajustado oficialmente pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Como sofre influência de preços do atacado (IPA), o IGP-M repassa impactos de altas de preços de diversas matérias-primas para todo o sistema. Tarifas de energia, telefone e água são reajustadas por contratos a cada 12 meses, também pelo IGP-M. E a família que tem filhos na escola particular sabe que todo fim de ano a mensalidade aumenta. E a gasolina pode aumentar com os preços do barril do petróleo nas alturas no mercado internacional. Sem falar nos preços de outras commodities, que oscilam no mercado externo sem que se possa evitar.

Um cálculo do Conselho Regional de Economia mostra que a indexação atualmente é responsável por 15% da inflação dos últimos meses. O horizonte próximo preocupa ainda mais. Em fevereiro passado, o governo publicou no Diário Oficial da União a Lei n.º 12.382/2011, que estabelece a política de reajuste do salário mínimo entre 2012 e 2015. De acordo com essa lei, o salário mínimo terá reajuste pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e acumulado nos 12 meses anteriores ao mês do reajuste. Também será aplicado um reajuste equivalente à taxa de crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB).

Para o aumento do mínimo de 2012 será utilizado o crescimento do PIB no ano de 2010. Por esse mecanismo, considerando a inflação projetada para 2011 de 6% e um crescimento do PIB em 2010 de 7,5%, o aumento do salário mínimo será de 14% em 1.º de janeiro de 2012.

Na prática, o governo indexou o salário mínimo por decreto. E, com isso, ameaça disparar o gatilho dos preços em diversos setores da economia. Basta lembrar que, País afora, folhas de pagamento e preços oscilam com base justamente no salário mínimo.

Ao criar a lei, o governo não levou em conta que o aumento real dos salários deve ser obtido com ganhos de produtividade. E corre o risco de transformar em perda para toda a sociedade aquilo que, à primeira vista, pode parecer um ganho. Quanto mais se avança na indexação, mais difícil fica desarmar a armadilha do aumento dos preços.

No Plano Real, foi preciso sentar à mesa com representantes de cada uma das cadeias produtivas para negociar a estabilidade. Naquela época, o trunfo era alcançar a estabilidade. E agora? O governo ficou devendo a sua parte, que é a reforma fiscal e o controle dos próprios gastos. O Estado segue ineficiente e custoso. Portanto, não é hora de brincar com o controle da inflação.

Ex-secretário de acompanhamento econômico do ministério da Fazenda, integrante da equipe que implantou o Plano Real

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Em defesa dos Estados :: Luiz Henrique da Silveira

Não há nenhum brasileiro de bom senso que não esteja assustado com a perda de competitividade de vários setores da indústria nacional. Não há nenhum brasileiro dotado do mínimo de patriotismo que não esteja preocupado com os fortes indícios de desindustrialização, seja pela opção de comprar produtos no estrangeiro, em vez de produzi-los aqui; seja pela decisão de construir novas fábricas no exterior. Nos dois casos, estamos gerando empregos lá fora.

Estão atribuindo aos Estados essa queda da competitividade nacional. Logo eles, que, juntamente com os municípios, são o elo mais fraco. Não são eles que regulam o câmbio nem as taxas de juros sufocantes que desfavorecem as exportações. Não são eles os responsáveis pela mais alta carga fiscal dentre os países emergentes, que inibe as vendas ao exterior. Não são eles os responsáveis pelos inadiáveis investimentos na infraestrutura dos portos, aeroportos, energia, ferrovias, hidrovias e rodovias federais.

Por outro lado, muitos Estados vêm investindo fortemente na geração do conhecimento, disseminando centros de pesquisa e incubadoras de empresas tecnológicas, conscientes de que a inovação é o fator fundamental para que o sistema produtivo brasileiro tenha uma relação competitiva no comércio multilateral.

Hoje, Brasília concentra dois terços de tudo o que é arrecadado no País, enquanto os Estados e municípios ficam com apenas um terço e sem espaço de manobra. Já os países que invadem o nosso mercado têm, ao contrário, uma estrutura de gestão descentralizada, que lhes permite o dinamismo das forças locais. Não têm os braços e as pernas amarrados, como nós.

Com a criação de impostos mascarados de contribuições, do tipo PIS, Cofins, etc., a União deixou de compartilhar esses tributos com Estados e municípios. Assim, caiu de 71% para 45% a participação desses entes federados no bolo dos impostos federais.

Na verdade, os Estados estão oprimidos por uma dívida com a União que lhes exaure a capacidade de custeio e investimentos. Vou citar o caso de Santa Catarina, que é semelhante aos demais. Em 2000, quando foi negociada a dívida, o Estado devia R$ 4,2 bilhões. Pagou R$ 6 bilhões e ainda está devendo R$ 10,2 bilhões! Qualquer semelhança com o fracassado sistema do antigo Banco Nacional da Habitação (BNH) não é mera coincidência...

Fazendo cortesia com o chapéu alheio, o governo federal, no período autoritário de 1964, isentou as exportações do ICMS. Reinstaurada a democracia, foi criada a compensação da chamada Lei Kandir. Era para devolver aos Estados metade dos valores que foram sonegados. Mas, em média, os Estados não têm recebido por volta de 10%.

A União criou, corretamente, a Lei de Responsabilidade Fiscal para Estados e municípios. Essa lei tem sido a grande responsável pelo controle das contas públicas estaduais e municipais. Mas, infelizmente, não controla os gastos federais, nos quais estão dois terços das despesas e está - exatamente por isso - a causa maior da sufocante taxa de juros e da carga fiscal.

Na busca por conter a invasão de produtos estrangeiros, o governo federal, por intermédio de seu líder, senador Romero Jucá, quer zerar o ICMS (que é a tábua de salvação dos Estados) nas transações interestaduais de produtos importados não industrializados.

O governo central acerta na decisão de conter a enxurrada de produtos supérfluos e outros que a cadeia nacional é capaz de produzir aqui. Mas erra no alvo, pois pode fazê-lo aumentando a alíquota de seus tributos sobre a importação, ou impondo barreiras, como o fazem os nossos competidores.

Os incentivos concedidos pelos Estados, de forma descentralizada e autônoma, buscam o desenvolvimento regional, com o mesmo espírito das políticas federais adotadas para o desenvolvimento do Norte, do Centro-Oeste e do Nordeste, desde a criação do BNDES e da Sudene (ave, Rômulo de Almeida e Celso Furtado!). Ou da isenção concedida a São Paulo para a indústria automobilística.

Dessa política estadual se vem beneficiando o País como um todo, pois todos os Estados que a adotaram têm vivido surtos de crescimento. E não é simplesmente por causa dessas vantagens fiscais (menores, já que Estados e municípios, como eu já disse, ficam com apenas um terço do que é arrecadado no País) que esses entes federados atraíram novas empresas. Para se instalarem em algum lugar elas o fazem muito mais pela lógica das forças locacionais: portos, corredores de transportes, energia, mão de obra, mercado, etc.

Alguns dizem, equivocadamente, que políticas estaduais de competitividade - o que, pejorativamente, se chama de "guerra fiscal" - têm reduzido o crescimento dos Estados que as praticam. Não conheço nenhum caso em que, ao contrário, não tenham contribuído decisivamente para aumentar a dinâmica das economias locais.

Vejamos o quadro de Santa Catarina: em apenas oito anos a economia dobrou! De um PIB de R$ 55 bilhões, em 2002, avançamos para R$ 120 bilhões, em 2010! Nesse mesmo período, a arrecadação catarinense deu um pulo: de R$ 4,76 bilhões, em 2002, para R$ 13,32 bilhões, em 2010! De uma exportação de US$ 4 bilhões, em 2002, saltamos para US$ 7 bilhões, em 2010!

A busca dos Estados por alternativas de desenvolvimento não é contrária aos interesses nacionais, nem mesmo que as olhemos isoladamente. Ao contrário, os Estados estão dando o melhor exemplo do que o Brasil precisa: redução de impostos e mais investimento. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), para cada real de toda renúncia fiscal são gerados, no médio prazo, outros cinco para dentro da economia!

É preciso aprofundar esse debate, sem parcialismo nem interesses localizados. Façamo-lo na defesa do supremo interesse nacional!

Senador (PMDB-SC)

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Família Lula não devolve passaportes

Prazo para devolução de documentos diplomáticos irregulares terminou dia 30

BRASÍLIA. Os sete parentes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que receberam passaportes diplomáticos durante o governo dele ainda estão com os documentos em mãos. A informação foi dada pelo Itamaraty ao Ministério Público, que havia questionado se os passaportes haviam sido devolvidos ou confiscados depois que o caso veio à tona. No ofício em que fez a pergunta, o Ministério Público havia prometido entrar com uma ação na Justiça pedindo os documentos de volta. Ontem, por meio da assessoria de imprensa, o órgão ainda não tinha decidido como proceder no caso.

No mês passado, após analisar 328 passaportes diplomáticos emitidos pelo Itamaraty em caráter excepcional, o Ministério Público chegou à conclusão de que apenas sete foram concedidos de forma irregular - justamente os documentos dados a quatro filhos e a três netos menores de idade do ex-presidente. Um dos filhos de Lula chegou a anunciar que devolveria o documento.

Em março, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, encaminhou ao ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, ofício perguntando se os sete documentos tinham sido devolvidos ou recolhidos. Se os passaportes ainda estivessem com os parentes de Lula, Gurgel pedia a devolução em 30 dias - prazo já finalizado -, sob a ameaça de cobrar a medida na justiça.

Segundo procuradores da República no Distrito Federal, não havia justificativa pertinente para a emissão dos passaportes. Viajantes com passaporte diplomático conseguem vistos de entrada em outros países com maior facilidade e são dispensados das filas de alfândega nos aeroportos, por exemplo.

O Decreto 5.798, de 2006, permite a concessão de passaportes diplomáticos a quem exerce função essencial ao Estado. Há três exceções: cônjuge, companheiro ou companheira e dependentes; funcionários públicos em missão permanente no exterior; e por "interesse do país". Os parentes de Lula foram enquadrados no último quesito.

Itamaraty muda regras para concessão de passaporte

Após a divulgação de que parentes de Lula receberam o passaporte especial, o Itamaraty mudou as regras para a concessão do documento em caráter excepcional. Agora, pessoas que tenham o documento "por interesse do país" só poderão usá-lo durante uma missão diplomática específica.

FONTE: O GLOBO

Vice-presidente da CUT ganha lugar no Planalto

Feijóo vira assessor de Gilberto Carvalho

BRASÍLIA. A CUT ganhou um representante na sede do governo federal. O vice-presidente da maior central sindical do país, José Lopes Feijóo, foi nomeado anteontem assessor do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. A nomeação ocorre em meio a negociações do governo com as centrais sindicais e é uma forma de o Palácio do Planalto sinalizar que pretende valorizar as conversas com os sindicalistas. Amanhã, as centrais voltam a se reunir com Carvalho para discutir o fator previdenciário.

Feijóo foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC entre 2005 e 2008. A indicação dele para o cargo partiu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem é amigo. Para exercer a função no governo, ele deverá se licenciar da vice-presidência da CUT. Sua função será ajudar Gilberto Carvalho nas negociações com as centrais sindicais.

Depois de um início de governo turbulento com os sindicalistas, sobretudo por conta da queda de braço para aprovação do salário mínimo de R$545 - as centrais insistiam em R$560 -, a presidente Dilma Rousseff ganhou o apoio deles ao recebê-los em audiência no Palácio do Planalto e ao convidá-los para o almoço oferecido em homenagem ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em março.

Depois que Dilma afagou as centrais, elas tornaram-se mais palatáveis para o governo, que prometeu fazer reuniões periódicas para discutir uma pauta de reivindicações.

FONTE: O GLOBO

Chefe da segurança da ANP consta da agenda de Rosário

Capitão da reserva tem telefone citado na lista de contatos de sargento morto em atentado no Riocentro, 30 anos atrás

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. O nome e um dos telefones do capitão da reserva do Exército Wilson Monteiro Pino constam da agenda do sargento Guilherme Pereira Rosário, morto na explosão de uma bomba no fracassado atentado ao Riocentro, em 30 de abril de 1981. Pino é hoje o chefe da Segurança na Agência Nacional de Petróleo (ANP). O atentado pretendia forçar um retrocesso na abertura política do país.

O nome do capitão aparece na agenda do sargento Rosário escrito à mão ao lado do número 350.2043. O nome do capitão também está nos autos do inquérito aberto para apurar a responsabilidade pelo atentado. Ele está na lista de pessoas que seriam chamadas para depor. Mas, a exemplo de outras, Pino não prestou depoimento. Segundo o ministro Júlio de Sá Bierrenbach, primeiro relator do caso, as investigações foram manipuladas para proteger a cúpula militar.

Segundo um dos agentes que atuaram na repressão política, Pino era conhecido como "tenente Emerson", um dos mais influentes agentes do DOI (Destacamento de Operações de Informações), do I Exército, no Rio. Em 1982, ele foi agraciado com a Medalha do Pacificador pelo então ministro do Exército, general Walter Pires, por atos de bravura de 1974 a 1976 e em 1979.

O codinome tenente Emerson aparece num depoimento de Suely, viúva do sargento Rosário. Segundo ela, foi o tenente quem devolveu a ela as chaves do carro do colega morto pela explosão. Em abril de 1985, Pino foi chamado para o Gabinete do ministro do Exército, general Leônidas Pires Gonçalves. Seis anos depois, foi alçado para o Gabinete Militar da Presidência da República. Em 2004, se tornou chefe da Segurança da ANP. Procurado pelo GLOBO, Pino disse que não vê problema que seu nome apareça na agenda.

- Ele me conhecia. Qual o problema?

O capitão disse que os dois teriam se conhecido no Exército, mas negou que tivessem trabalhado juntos. Pino nega o planejamento do atentado e o codinome tenente Emerson.

- Não tenho que dar satisfação a ninguém.

Em reportagem da segunda-feira da semana passada, O GLOBO publicou erradamente que o nome citado na agenda de Rosário era Wilson Pina, em vez de Wilson Pino, que é o nome verdadeiro que consta do documento.

FONTE: O GLOBO

Lula ganhará US$ 500 mil da LG para dar palestra na Coreia

Catia Seabra e Bernardo Mello Franco

BRASÍLIA - O ex-presidente Lula disse a aliados que aceitou uma oferta de US$ 500 mil (cerca de R$ 790 mil) para fazer palestra na Coreia do Sul, a convite da multinacional LG.

Se confirmar a presença, ele ultrapassará o primeiro milhão de dólares em quatro meses fora do governo, segundo cálculos de petistas.

Os convites de bancos e grandes empresas têm impulsionado a agenda internacional do ex-presidente.

Recordista de viagens internacionais no governo, ele visitou quatro países entre janeiro e abril de 2003, primeiro ano de sua gestão. Neste ano, esteve em dez países no período -aumento de 150%.

O ex-ministro Luiz Dulci confirmou o convite da LG, mas não comentou o cachê de R$ 500 mil.

A assessoria de Lula não informa o valor das palestras. "É segredo de Estado", disse Paulo Okamoto, sócio do petista na empresa LILS.

Procurada desde 20 de abril, a direção da LG disse que não poderia confirmar o evento na Coreia do Sul.

Segundo petistas, Lula já acumulou US$ 700 mil nas primeiras três palestras remuneradas no exterior. O cachê mais alto foi o da Telefonica (cerca de US$ 300 mil) por palestra em Londres. Também foi a Washington, a convite da Microsoft, e a Acapulco, a convite da Associação dos Bancos do México.

Com o evento na Coreia, ainda sem data, sua receita em moeda estrangeira chegaria a US$ 1,2 milhão.

A LG foi a primeira a contratá-lo para uma palestra no Brasil, em março, com cachê de R$ 200 mil. Hoje Lula falará a investidores convidados do Bank of America Merril Lynch, em São Paulo.

Nos eventos, Lula costuma citar feitos de seu governo e o aumento da presença brasileira no cenário mundial.

FOLHA DE S. PAULO

Leve queda na fidelidade da base

Denise Rothenburg

O governo Dilma Rousseff tem razão quando avalia que é bom evitar uma grande dependência das votações de projetos de lei no Congresso. É que, nesses três meses de funcionamento do Legislativo, já foi possível detectar uma queda no apoio da base governista aos projetos de interesse dos inquilinos do Palácio do Planalto.

Em abril, a média de apoio ao governo na Câmara ficou em 50,03%, enquanto em fevereiro a média foi de 63,84%, considerando todos os partidos. A legenda mais fiel nas duas oportunidades foi o PRB, do falecido ex-vice-presidente José Alencar. Nos dois meses pesquisados pela consultoria Arko Advice, o índice de fidelidade do PRB ficou em torno de 73%.

O segundo partido mais fiel foi o PT, com apoio de 71,30%. O PMDB, que, em fevereiro, deu 100% dos votos à proposta do governo para reajustar o salário mínimo, terminou aquele mês com índice de fidelidade de quase 79%. Em abril, o percentual ficou em 59,46% (veja quadro). No caso da Câmara, o levantamento da Arko tomou por base as 13 votações nominais e abertas ocorridas em abril.

No Senado, a situação não foi muito diferente. Nas três votações nominais e abertas que ocorreram em abril, o índice de fidelidade caiu. Os 67,58% registrados em fevereiro chegaram agora a 51,76%. O mais infiel foi o PMDB. O partido, que em fevereiro registrou de 69,64% de adesão aos interesses de Dilma, caiu para 49% em abril.

Média

A Arko calcula esse índice tomando por base o comportamento dos partidos em cada votação e depois tira a média. “A expressiva adesão no primeiro mês de atividade legislativa pode ser explicada pela intensa mobilização do governo em torno do salário mínimo. Já ao longo de abril, não foram colocados em pauta temas que merecessem atenção especial do Executivo”, explica o cientista político Murilo Aragão.

Em abril, os projetos que mais chamaram a atenção do foram a MP 511, que tratou do financiamento do trem bala Rio-Campinas, e o projeto de decreto legislativo que reajusta os valores pagos pelo Brasil ao Paraguai pelo uso da energia de Itaipu, esse sim de grande interesse do governo federal. O texto ainda será votado no Senado.

Embora a Arko explique o resultado de seu levantamento por conta dos temas em pauta, o índice de fidelidade também sinaliza uma possível insatisfação da base com o tratamento que vem recebendo do Planalto. O sentimento geral dos congressistas é de que o governo não libera as emendas que eles fizeram ao Orçamento e, para completar, não ouve os partidos na hora de nomear cargos de segundo escalão.

No caso do PMDB, há insatisfação com as nomeações das agências reguladoras e com os indicados para os tribunais superiores. Mas, enquanto o governo estiver bem diante da opinião pública, a avaliação dos partidos é de que o índice de fidelidade ao Planalto não será tão baixo a ponto de impor grandes derrotas ao Executivo.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Planalto estuda troca na Cultura

Cresce a possibilidade de a presidente Dilma Rousseff trocar a chefia do Ministério da Cultura. Após cinco meses à frente da pasta, a ministra Ana de Hollanda dá sinais de esgotamento e isolamento.

Fontes do governo dizem que a presidente está incomodada com a “paralisia” no setor cultural. No Congresso, os deputados da base de apoio ao governo já pressionam fortemente para que seja tomada uma decisão que destrave o MinC – falando abertamente na demissão da ministra.

– Uma pessoa não pode continuar no Ministério da Cultura para barrar uma política que já foi aprovada nas urnas. É isso que está em jogo – disse o deputado José Fonteles (PT-PI).

Fonteles assinou o manifesto que circula na internet, subscrito até hoje por mais de 2 mil pessoas, e que pede mudança urgente nos rumos do MinC.

FONTE: ZERO HORA (RS)

Canto Triste - Por Mônica Salmaso

No meio do caminho::Carlos Drumonnd de Andrade

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.


Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.