Alta na percepção de corrupção traz custo ao Brasil
O Globo
Recuo do país em ranking global expõe
enfraquecimento de instituições de controle depois da Lava-Jato
O Judiciário — em especial os tribunais
superiores — deveria dar atenção à última lista de percepção da corrupção
global preparada pela Transparência Internacional. A sensação de um ambiente
contaminado por negociatas tem custo enorme para a reputação brasileira e
afasta empresas e investidores sérios do país.
Numa escala em que zero é o cenário menos e
cem o mais corrupto, o Brasil ficou com 36 pontos. Caiu dez
posições, para o 104º lugar entre 180 países. Merece reflexão o
histórico dos últimos dez anos. Em 2014, início da Operação Lava-Jato, eram 43
pontos. De lá para cá, a trajetória, com altos e baixos, foi descendente. Os
piores resultados aconteceram em 2018 e 2019, quando a pontuação foi 35,
patamar equivalente ao atual.
Medir corrupção é das tarefas mais difíceis. Negociatas são feitas nas sombras justamente para ficarem longe do escrutínio público. Paradoxalmente, um aumento no combate à corrupção pode, com a revelação dos esquemas, contribuir para a percepção de que houve aumento na roubalheira. Um ranking que apenas somasse os valores descobertos em operações ilegais penalizaria os países dispostos a coibi-las. Por isso a análise baseada em percepção, de preferência com prazo mais alongado, é medida mais precisa.