sábado, 12 de julho de 2014

Opinião do dia: Rubens Bueno

"Tem na Câmara vários projetos que o governo não deixa melhorar o que está aí. O que há de atraso no sistema de futebol, no esporte, é ligado ao governo, que não deixa avançar as votações"

Rubens Bueno, deputado federal (PR) e líder do PPS na Câmara. “Oposição critica propostas do governo de renovar futebol”. O Estado de S. Paulo, 12 de julho de 2014.

Abreu e Lima: Empresas suspeitas de pagar propina a Youssef ganharam R$ 1,3 bilhão em aditivos

• Consórcios CNCC e Conest conseguiram aprovação de 84 complementos em contratos firmados com a Petrobras

- O Globo

BRASÍLIA — Os dois consórcios e a empreiteira que aparecem numa planilha de repasses a empresas do doleiro Alberto Youssef conseguiram a aprovação de 84 aditivos em contratos firmados com a Petrobras para as obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Os aditivos elevaram em R$ 1,36 bilhão o valor dessas parcerias. A cada R$ 100 contratados por meio de licitação, mais R$ 16,30 foram acrescidos sem a necessidade de uma nova concorrência, apenas por meio de decisões dos gestores da refinaria.

O GLOBO teve acesso às cópias dos aditivos assinados para as obras de Abreu e Lima, empreendimento que teve um aumento de gastos de US$ 2,3 bilhões (R$ 5 bilhões) para mais de US$ 20 bilhões (R$ 44,2 bilhões). Um levantamento inédito mostra o aumento de 16,3% nos contratos com a Jaraguá Equipamentos e com os consórcios CNCC, formado pela Construtora Camargo Corrêa e pela Cnec, e Conest, constituído pelas empreiteiras Odebrecht e OAS.

Os três grupos aparecem numa planilha apreendida pela Polícia Federal que registrou, segundo as investigações, repasses de R$ 31 milhões a empresas, algumas de fachada, de Youssef. Suspeita-se que o dinheiro foi destinado a pagamento de propina, em troca de contratos para a refinaria.

Os aditivos contratuais, num primeiro momento, ampliaram os prazos para a execução das obras. Depois, permitiram a inclusão de serviços e fornecimentos que não estavam previstos nos contratos originais, o que elevou o valor a ser pago às empreiteiras. Esses instrumentos foram assinados entre 2009 e 2014 pela presidência da refinaria.

Ex-diretor que está preso presidia Conselho
Até abril de 2012, quando exercia o cargo de diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa era o principal responsável pelas obras. Ele presidiu o Conselho de Administração da refinaria, inclusive após abril de 2012, como consta na denúncia do Ministério Público Federal (MPF) referente à Operação Lava-Jato. Contratos e aditivos passavam por deliberação do conselho.

No cargo de conselheiro, Costa “contava com o direcionamento” das licitações, conforme a denúncia do MPF. Após deixar a Petrobras, continuou exercendo influência nas decisões sobre a Abreu e Lima, segundo a denúncia. Outros servidores públicos são investigados. A suspeita é que tenham agido a mando do ex-diretor. Costa está preso no Paraná, sob suspeita de, com com Youssef, ter desviado e lavado dinheiro destinado a Abreu e Lima. O doleiro também cumpre prisão preventiva.

A Jaraguá aparece na planilha apreendida no escritório de Youssef com a indicação de quatro “repasses” e uma “comissão” à GFD Investimentos, pertencente ao doleiro. Em entrevista ao GLOBO, em 11 de abril, o executivo Paulo Roberto Dalmazzo, ex-CEO da Jaraguá, admitiu o pagamento de R$ 1,9 milhão a empresas de Youssef a título de “intermediação” para obtenção de quatro contratos com a Petrobras.

Os documentos obtidos pelo GLOBO mostram que quatro contratos da Jaraguá em Abreu e Lima foram aditivados 30 vezes pela gestão da refinaria, a partir de pedidos do presidente da empreiteira. Quatro desses aditivos ampliaram serviços e preços nos contratos, a partir de julho e agosto de 2013 — um aumento de R$ 50,8 milhões.

O aditivo número 6, por exemplo, elevou os custos com mão de obra em R$ 422,2 mil por conta de “interferências ocasionadas pelas interrupções nas vias de acesso”. As extensões nos prazos, segundo o mesmo aditivo, encareceram em mais de R$ 11 milhões os gastos com “equipamentos, mão de obra indireta e canteiro”.

Os maiores repasses às empresas de Youssef, segundo a planilha apreendida pela PF, foram feitos pelo consórcio CNCC. O documento registra 20 “repasses” e 15 “comissões” à GFD Investimentos e à MO Consultoria, empresa de fachada usada para lavar dinheiro, segundo a PF. Um único contrato do CNCC para obras de Abreu e Lima teve seus valores elevados de R$ 3,4 bilhões para R$ 3,8 bilhões, por meio de oito dos 15 aditivos assinados.

Pagamentos de comissão
Em 15 de março de 2013, um aditivo incluiu no contrato serviços como o fornecimento de válvulas motorizadas, painéis elétricos e bombas centrífugas, entre outros, o que ampliou em R$ 22 milhões os valores a serem pagos ao CNCC. No mesmo dia, segundo a planilha, houve o pagamento de uma “comissão” de R$ 373 mil à GFD Investimentos. Os aditivos foram assinados entre setembro de 2012 e setembro de 2013. O maior, de R$ 212,7 milhões, ampliou serviços de montagem, canteiro de obras e mão de obra indireta.

Formado pelas construtoras Odebrecht e OAS, o consórcio Conest aumentou em 19,4% o valor de dois contratos para as obras da refinaria. Foram R$ 894,5 milhões a mais por meio de 39 aditivos, entre 2009 e 2014 e que elevaram o valor global de R$ 4,607 bilhões para R$ 5,501 bilhões. Na planilha, a empresa aparece como tendo repassado R$ 184 mil em julho de 2012 para a GFD a título de “comissão”. O maior destes contratos,tinha valor inicial de R$ 3,1 bilhões e recebeu 15 aditivos, passando a R$ 3,7 bilhões.

Pesquisas eleitorais deverão trazer o nome de todos os candidatos, diz TSE

• Até o momento, 465 consultas de opinião pública sobre a eleição presidencial já foram inscritas no tribunal

- O Globo

RIO - Desde a última quarta-feira, todas as pequisas eleitorais que apresentarem aos eleitores uma lista de candidatos a serem escolhidos deverão conter o nome de todos os políticos registrados para concorrer àquele cargo.

De acordo com o TSE, até agora 465 pesquisas presidenciais foram registradas no sistema. Esse registro é obrigatório, sendo relativo ao cargo de presidente inscritas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e de governador, senador, deputado federal e estadual nos tribunais regionais eleitorais.

Uma resolução do TSE, aprovada em dezembro de 2013, que regulamenta o uso de pesquisas nas eleições desse ano, impede ainda a realização de enquetes. Segundo a Lei Eleitoral, pesquisas e enquentes são diferenciadas pelo fato de a primeira levar em conta metodologia, segmentação de entrevistados, origem de recursos, entre outros.

O TSE regulamenta ainda a divulgação de pesquisas feitas na véspera da eleição e as de boca de urna, realizadas no dia da disputa. O tribunal permite que as pesquisas feitas na véspera sejam divulgadas a qualquer momento, desde que tenham sido registradas há cinco dias no órgão. Já as de boca de urna só poderão ser publicadas no dia da eleição às 19h, quando o cargo pesquisado for o de presidente, e às 17h para os demais.

A divulgação de pesquisas que não tenham sido registradas poderá ser penalizada com uma multa de R$ 53 mil a R$ 106 mil.

Aécio critica proposta de ministro e diz que país não precisa de uma ‘Futebras’

• Tucano publicou mensagem nas redes sociais para reagir às declarações de Aldo Rebelo

Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, classificou como "oportunista" nesta sexta-feira a proposta para modernização do futebol brasileiro feita pelo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, ontem no Rio. Em uma mensagem publicada nas redes sociais nesta tarde, o tucano disse que o país não precisa de uma "Futebras", numa alusão às estatais brasileiras.

"O futebol brasileiro precisa, é claro, de uma profunda reformulação. Mas não é hora de oportunismo. Principalmente daqueles que estão no governo há 12 anos e nada fizeram para melhorá-lo", escreveu Aécio.

Aldo Rebelo defendeu mudanças na legislação para permitir mais interferência do governo nas decisões sobre o esporte e melhorar a gestão dos clubes de futebol. Ele também cobrou mais transparência e democracia na CBF. Em entrevista à CNN, a presidente Dilma Rousseff pregou o fim da exportação de jogadores.

"E nada pode ser pior do que a intervenção estatal. O país não precisa da criação de uma "futebras". Precisa de profissionalismo, gestão, de uma Lei de Responsabilidade do Esporte. Com foco nos atletas, nos clubes e nos torcedores", postou o tucano.

Governo e oposição têm trocado ataques mais contundentes sobre a Copa do Mundo desde a derrota do Brasil para a Alemanha. A campanha de Aécio acusa Dilma de surfar na popularidade do evento esportivo, até a eliminação brasileira, com interesses eleitorais. Já o PT acusa o tucano de usar a derrota da seleção brasileira para desgastar o governo.


Para Aécio, País não precisa de uma 'Futebras'

Luciana Nunes Leal - Agência Estado

Embora esteja no Rio de Janeiro sem agenda pública nesta sexta-feira, 11, o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, divulgou uma nota em que se manifesta sobre a afirmação do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que defendeu ontem maior participação do poder público na gestão do futebol. "O País não precisa da criação de uma ''Futebras''", disse Aécio, em referência aos nomes de grande parte das estatais brasileiras.

O tucano acusou o governo de "oportunismo" na discussão sobre o futuro do futebol brasileiro. Depois da derrota do Brasil para a Alemanha pelo vergonhoso placar de 7 a 1, a presidente Dilma Rousseff defendeu "renovação" do futebol e criação de barreiras para evitar a "exportação" de jogadores. Logo em seguida, outros integrantes do governo também passaram a pedir mudanças na administração dos clubes.

"O futebol brasileiro precisa, é claro, de uma profunda reformulação. Mas não é hora de oportunismo. Principalmente daqueles que estão no governo há 12 anos e nada fizeram para melhorá-lo. E nada pode ser pior do que a intervenção estatal. O país não precisa da criação de uma "Futebras". Precisa de profissionalismo, gestão, de uma Lei de Responsabilidade do Esporte. Com foco nos atletas, nos clubes e nos torcedores", disse Aécio, na nota divulgada nas redes sociais.


O deputado tucano Otávio Leite (RJ) é relator da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, que propõe o parcelamento das dívidas dos clubes em troca de modernização da gestão e punições para falta de transparência nas contas e atrasos nos pagamentos.

Oposição critica propostas do governo de renovar futebol

Erich Decat - Agência Estado

A "renovação" na gestão do futebol defendida pela presidente Dilma Rousseff e mudanças na legislação demandada pelo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, foram alvo de fortes críticas nesta sexta-feira, 11, por parte de integrantes da oposição e descrença de representante do PT no Congresso. "Qualquer pessoa pode falar, menos ela, que teve todas as oportunidades e nunca tomou atitude nenhuma. Agora, depois de fracasso, ela vir com isso. Com que autoridade?", afirmou o presidente do DEM e coordenador de campanha de Aécio Neves (PSDB), Agripino Maia (RN). "É evidente que é uma iniciativa é oportunista, eleitoreira e demagógica", disparou.

Líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR) também elevou o tom e acusou o governo de nos últimos 12 anos não ter mobilizado a base no Congresso para avançar na discussão de propostas voltadas para o esporte. "Tem na Câmara vários projetos que o governo não deixa melhorar o que está aí. O que há de atraso no sistema de futebol, no esporte, é ligado ao governo, que não deixa avançar as votações", afirmou.

Entre as principais propostas que tramitam na Câmara voltadas para as entidades esportivas está a que cria o Programa de Fortalecimento dos Esportes Olímpicos (Proforte), também chamado de Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte. O projeto foi aprovado em comissão especial da Casa no último dia 7 de maio e desde então aguarda votação no plenário.

Ex-líder do governo e atual vice-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), vê com descrença possíveis avanços na discussão da proposta até o fim do ano. "Temos uma questão concreta. Até o final do mês de outubro vamos estar envolvidos no processo eleitoral, restaria dois meses, se tanto, para discutir o Orçamento da União de 2015 e outras questões relevantes", avaliou o petista. "Acho que existe um furor da sociedade em função do resultado, especialmente com a goleada da Alemanha.

É próprio do parlamento analisar as propostas, mas eu não creio que o parlamento consiga em tão pouco tempo elaborar a melhor proposta", acrescentou.

Apesar de estar na fila de espera de votação no plenário, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), ainda não estabeleceu uma data para a discussão da proposta. "Preciso conhecer o programa, ainda não tenho os detalhes. Em campanha!", afirmou o peemedebista por meio de mensagens. Alves disputa o governo do Estado do Rio Grande do Norte.

O Proforte prevê, entre outros pontos, que a entidade desportiva poderá parcelar em até 300 prestações mensais os débitos, tributários ou não tributários, com a Secretaria da Receita Federal do Brasil, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, o Banco Central do Brasil e o Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS).

Aécio foca início da campanha e esforços no Sudeste

• Estratégia é abrir vantagem, somente em São Paulo, de 3 milhões de votos

Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO - Em sua primeira semana de campanha eleitoral, o candidato à Presidência da República Aécio Neves (PSDB) concentrou as atividades no Sudeste, região considerada coringa para uma vitória do tucano nas urnas. Aécio esteve nos quatro estados da região desde domingo, e os planos é que marque presença semanal nessa área, ao menos, até o início do horário eleitoral, quando a agenda do candidato é menos concorrida.

O PSDB entende que está no Sudeste o maior potencial eleitoral de Aécio e a estratégia é ampliar a votação do PSDB em comparação a 2010 para reduzir, assim, o peso da derrota que esperam no Nordeste. A meta é abrir, somente em São Paulo, uma vantagem de 3 milhões de votos sobre os adversários, o que representa um milhão a mais do que o conquistado por José Serra (PSDB) no segundo turno de 2010. No Rio e em Minas, onde os tucanos perderam para o PT na eleição passada, Aécio tem dito que precisa da vitória. No Espírito Santo, onde esteve ontem, o objetivo é ampliar a pequena vantagem - cerca de 20 mil votos - obtida em 2010.

Embora esteja no Sudeste a principal força do PSDB, Aécio ainda precisa melhorar muito para que seu desempenho na região alcance patamares registrados pelo partido nas eleições passadas. Pesquisa Datafolha divulgada este mês mostrou que Aécio tem 27% das intenções de voto no Sudeste. Nesse mesmo período de 2010, o então candidato tucano José Serra tinha 40%. No país, Serra registrava no início de julho 39%, enquanto Aécio está hoje no patamar de 20%.

Presidente do PSDB em São Paulo, o deputado Duarte Nogueira atribuiu essa diferença a um baixo conhecimento de Aécio pelos eleitores.

- Aqui em São Paulo, ele é conhecido por apenas 50% da população. Isso significa que temos um potencial enorme para ampliar nossa votação.

Integrantes da coordenação da campanha apostam também em alguns palanques estaduais para melhorar o desempenho de Aécio. No Rio, o ex-deputado Marcio Fortes, que participou da primeira reunião da cúpula da campanha em São Paulo nesta semana, tem dito que as chances do PSDB são "infinitamente melhores" do que na eleição passada. Ele refere-se ao amplo arco de partidos aliados que Aécio conseguiu construir, tendo inclusive o palanque do candidato à reeleição Luiz Fernando Pezão. No estado, Dilma venceu o PSDB no primeiro turno por uma diferença de 1,7 milhão de votos.

Alguns palanques no Nordeste também estão sendo considerados fundamentais por Aécio reduzir a vantagem do PT por lá. Bahia e Ceará são os primeiros que entram na contabilidade tucana, já que o presidenciável tem como apoiadores os candidatos ao governo que lideram as pesquisas. No Nordeste, em 2010, Dilma impôs ao PSDB uma derrota por 10 milhões de votos, quase todo o eleitorado do Rio. Nem de longe o PSDB tem planos de vencer na região, mas na avaliação do PSDB, a situação para Dilma será mais difícil este ano do que há quatro anos por dois motivos: a presença de Eduardo Campos (PSB), ex-governador de Pernambuco, na disputa e a baixa aprovação do governo dela.

Os primeiros materiais de campanha de Aécio foram distribuídos anteontem no Espírito Santo. Para São Paulo, a estratégia para essa primeira fase de campanha está montada. O plano é que Aécio marque presença no estado, ao menos, um dia por semana. Para o interior, o foco será levar o candidato para caminhadas e eventos de rua. Na região metropolitana, o PSDB vai investir na tática das entrevistas de Aécio para rádios e TVs.

Para Dilma, 90% dos presentes na abertura da Copa eram da ‘elite branca’

• Em entrevista, presidente discorda do diagnóstico do ministro Gilberto Carvalho sobre público no Itaquerão

- O Globo

BRASÍLIA — Em entrevista à jornalista Renata Lo Prete, da Globonews, exibida na noite de ontem, a presidente Dilma Rousseff discordou do diagnóstico feito pelo ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência da República) de que a insatisfação com o governo, expressa nos xingamentos dirigidos a ela na abertura da Copa, no Itaquerão, atingiu camadas mais pobres da população. A presidente afirmou que quem compareceu nos estádios foi predominantemente "a elite branca" que pôde pagar os preços cobrados pela Fifa.

— O ministro Gilberto (Carvalho) disse que essa questão da chamada elite branca, que não fomos nós que inventamos o nome, ela tinha vazado para alguns segmentos. É opinião dele. Não há porque falar que não, é um absurdo, mas quem compareceu aos estádios, não podemos deixar de considerar, foi predominantemente quem tinha poder aquisitivo para pagar o preço dos ingressos da Fifa, e aí predominantemente uma elite branca. Em alguns casos devia ter 90 (%), em outros 80 (%), 75 (%), mas era dominantemente elite branca — afirmou Dilma.

Em um bate-papo com blogueiros transmitido ao vivo, logo após Dilma ser hostilizada no Itaquerão, Gilberto afirmou que as denúncias feitas pela imprensa sobre aparelhamento do governo e a suposta leniência do PT com casos de corrupção tiveram impacto não só na elite, mas também nas classes mais baixas.

— Não fizemos o debate na mídia para valer. Passamos esse tempo todo com uma pancadaria diária que deu resultado. Essa pancadaria diária é o que resultou no palavrão para a presidente Dilma lá no Itaquerão. E me permitam pessoal! Lá no Itaquerão não tinha só elite branca não! Eu fui para o jogo, não no estádio, fiquei ali pertinho numa escola, para acompanhar os movimentos. Eu fui e voltei de metrô. Não tinha só elite no metrô não! Tinha muito moleque gritando palavrão dentro do metrô que não tinha nada a ver com elite branca — afirmou o ministro.

Na entrevista, ao ser questionada se enfrenta dificuldade em combater a corrupção e de escolher aliados comprometidos com a honestidade, Dilma defendeu o PT, afirmando que seu partido não pode ser tratado como “o que criou a corrupção no Brasil”. A jornalista Renata Lo Prete citou o caso do deputado André Vargas (sem partido-PR), que deixou o PT após ser acusado de viajar em um jatinho pago pelo doleiro Alberto Youssef, investigado pela Polícia Federal. Vargas também é acusado de defender interesses de Youssef no Ministério da Saúde.

— É certo que nenhum partido está acima de qualquer suspeita. O PT contribuiu muito, com muito avanço, para a democracia no Brasil, para a questão da redução da desigualdade e para a redução da pobreza, o Bolsa Família e todas as obras que a gente fez. Agora o PT também tem, você citou um caso (André Vargas), temos que apurar, não podemos compactuar com isso. Isso é uma coisa, mas o que serve para o PT tem que servir par todos os partidos. O que não é possível é só tratar o PT como o que criou a corrupção no Brasil.

A presidente não quis comentar, no entanto, o julgamento do mensalão feita pelo Supremo Tribunal Federal (STF):

— Eu tenho uma situação específica: sou presidente da República. A base da democracia é o respeito entre os Poderes. Jamais irei me manifestar como presidente da República quanto a uma decisão do Judiciário. Como eu acato quando perco uma decisão no Congresso. Posso não gostar, é minha lei que não está sendo aprovada, mas eu não tenho que discutir isso. Como cidadã eu posso ter minha opinião, mas não posso, no exercício da presidência, divergia ou concordar com nenhum ato do Judiciário ou do Legislativo.

Ao defender a realização de uma reforma política, Dilma fez referência, de forma indireta, ao caso do ex-governador José Roberto Arruda (DF). Mesmo condenado em segunda instância, na última quarta-feira, por improbidade administrativa, ele tentará voltar ao governo local nas eleições deste ano. Isso porque a decisão da 2ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal ocorreu depois do registro da candidatura.

— Temos que avançar na ética, no controle do gasto, na responsabilização de pessoas. Não é possível uma situação que uma pessoa que tem ficha limpa ou ficha suja e um dia de diferença permite ou garante que a pessoa concorra.
Questionada se estava se referindo a Arruda, ela disse que esse não é o único caso:

— Eu me refiro a todos os casos de ficha limpa ou de ficha suja, porque o dele não é o único, temos isso em várias instâncias. Temos que mudar radicalmente as condições das práticas eleitorais.

Dilma diz que vaia em estádio veio de elite branca e descarta dar lugar a Lula na eleição

Rafael Moraes Moura - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA – Em entrevista exibida na noite desta sexta-feira, 11, no canal por assinatura GloboNews, a presidente Dilma Rousseff disse que as vaias que recebeu no Itaquerão, na abertura da Copa do Mundo, vieram predominantemente da elite branca. A petista, candidata à reeleição, descartou a possibilidade de ser substituída pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida pelo Palácio do Planalto deste ano e defendeu uma reforma no futebol brasileiro para evitar que alguns estádios se transformem elefante branco.

“Quem compareceu aos estádios, isso não podemos deixar de considerar, foi quem tinha poder aquisitivo pra pagar o preço dos ingressos da Fifa. E aí dominantemente uma elite branca, em alguns casos, 80%, 90%, eram dominantemente elite branca”, afirmou Dilma, ao ser questionada sobre as vaias na abertura da Copa, em São Paulo, no dia 12 de junho.

Apesar do receio de novas vaias, Dilma vai entregar a taça à seleção vencedora da Copa do Mundo neste domingo, 13, no Maracanã.

A presidente voltou a defender uma reforma no futebol brasileiro, destacando que a presença de craques nos gramados deve atrair público pagante às arenas e evitar que alguns estádios se transformem em elefantes brancos. “Temos todos responsabilidade em criar craques, dar oportunidade a jovens, criar o chamado esporte de base, ter em consideração o fato de que temos todas as condições pra encher estádio”, disse.

"Eu acho que tem que fazer o que a Alemanha fez quando perdeu a Eurocopa em 2000 (quando foi eliminada na primeira fase, sem nenhuma vitória). Nós temos de fazer uma reforma no futebol brasileiro", afirmou Dilma, ressaltando a importância de garantir condições de infraestrutura no Brasil similares às verificadas na Europa.

'Volta, Lula'. Questionada sobre a possibilidade de desistir da candidatura pela reeleição para ceder a vaga na chapa a Lula, Dilma respondeu: “Essa possibilidade foi descartada desde sempre.”
Segundo Dilma, os conselhos de Lula “são sempre bem-vindos”. “Ter o presidente Lula ao meu lado é uma vantagem”, comentou, frisando que é “interessante” que pessoas recorram a ele para transmitir algum recado ao Planalto de que estão descontentes.

Dilma evitou opinar sobre o julgamento do mensalão e disse que nenhum partido “está acima de qualquer suspeita”. “Como cidadã, eu posso ter a minha opinião(sobre o julgamento do mensalão), mas não posso no exercício da minha presidência divergir ou concordar com nenhum ato do Judiciário ou do Legislativo”, afirmou. “O que serve pro PT tem de servir pra todos os partidos, o que não é possível é só tratar o PT como sendo o PT que criou a corrupção no Brasil.”

Campos diz que Aécio e Dilma querem 'se candidatar' à CBF

• Candidato do PSB critica posicionamento de rivais sobre o cenário esportivo em meio ao momento eleitoral

Anna Ruth Dantas - O Estado de S. Paulo

NATAL - O candidato a presidente da República pelo PSB, Eduardo Campos, criticou os posicionamentos da presidente Dilma Rousseff e do candidato do PSDB à Presidência Aécio Neves sobre futebol neste momento da campanha eleitoral. O presidenciável, que cumpriu agenda em Natal nesta sexta-feira, 11, analisou que o debate sobre uma lei para o esporte, como defendeu Dilma, precisa ser feito de forma ampla, envolvendo o Congresso Nacional e especialistas. "O debate de conteúdo é que precisa ser feito, um debate do bom senso. Pelo visto estão querendo se candidatar a presidente da CBF a Dilma ou o Aécio", comentou.

Ele disse que o debate adequado sobre a gestão no esporte passa por forma uma comissão no Congresso Nacional. "Precisa do envolvimento e escuta da sociedade sobre uma lei de responsabilidade nos esportes de uma maneira geral, precisa fazer isso sem estar contaminado pelo ambiente eleitoral, tem que fazer com responsabilidade", analisou.

Eduardo Campos disse que a preocupação agora é com os grandes problemas do País. "A hora é de discutir os assuntos que são centrais no Brasil. O País precisa voltar a crescer na economia, conter a inflação, precisa fazer os juros baixar e cuidar do ensino integral", destacou.

Em Natal, Eduardo Campos cumpriu uma agenda intensa, com diversas entrevistas a emissoras de rádio local e ainda uma visita ao principal shopping da cidade, onde foi recebido pelo empresário Nevaldo Rocha, presidente do grupo Riachuelo, proprietário do shopping.

Na tarde desta sexta, o presidenciável foi recebido pelo arcebispo metropolitano de Natal, dom Jaime Vieira Rocha. E, em seguida, fez uma caminhada pelo centro da capital do Estado. Durante toda agenda, o candidato esteve acompanhado da vice-prefeita de Natal Wilma de Faria, presidente estadual do PSB, que será candidata ao Senado.

O ex-governador disse ficar incomodado ao ouvir referência de que a região Nordeste seria um "curral eleitoral". "Nordeste é a região onde nasci. Conheço o jeito da nossa gente, nossos sonhos. Muito me incomoda falar do Nordeste como curral eleitoral ou uma urna. Queremos ser olhados como gente, com potencialidades e enxergando com respeito", disse.

Ao analisar o momento econômico do País, Eduardo Campos disse que o Brasil "vive o pior crescimento da história da República, desde a época do Marechal Deodoro da Fonseca".

O presidenciável, em entrevista coletiva, criticou ainda o marketing feito pela presidente Dilma Rousseff classificando como "vale tudo" e afirmou apostar nas mídias sociais para se tornar mais conhecido no Sul e Sudeste do país, já que ele é do Nordeste e a candidata a vice, Marina Silva, é do Norte. "As mídias sociais têm papel muito importante nas eleições. O povo não agüenta mais o marketing vale-tudo. Aos poucos as pessoas estão se aproximando da política", observou.

Aécio e Campos criticam Dilma e afirmam que mexer no futebol agora é oportunismo

• Tucano diz que governo quer criar ‘Futebrás’ e explora fama da presidente de intervencionista; já candidato do PSB questiona fato de discussão ser colocada durante a campanha eleitoral

Luciana Nunes Leal, Tânia Monteiro e Anna Ruth Dantas – O Estado de S. Paulo

A discussão sobre o futuro do futebol brasileiro após a derrota acachapante para a Alemanha na terça-feira virou tema central não só das mesas-redondas da TV mas também da campanha eleitoral.

Nesta sexta-feira, 10, um dia depois de a presidente Dilma Rousseff propor mudanças estruturais no esporte e seu ministro Aldo Rebelo falar em “intervenção indireta” na organização das competições e na gestão dos clubes, o candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, acusou o governo de querer criar uma “Futebrás”. Já Eduardo Campos, candidato do PSB, sugeriu que os adversários querem ser presidentes da CBF, não do País.

Aécio usou as redes sociais para comentar as propostas de Dilma e seu ministro do Esporte. “O futebol brasileiro precisa, é claro, de uma profunda reformulação. Mas não é hora de oportunismo.

Principalmente daqueles que estão no governo há 12 anos e nada fizeram para melhorá-lo. E nada pode ser pior do que a intervenção estatal. O País não precisa da criação de uma ‘Futebrás’. Precisa de profissionalismo, gestão, de uma Lei de Responsabilidade do Esporte. Com foco nos atletas, nos clubes e nos torcedores”, disse Aécio, tentando explorar a fama de intervencionista do governo federal.

Em agenda de campanha em Natal, no Rio Grande do Norte, Campos também tratou do tema. “O debate de conteúdo é que precisa ser feito, um debate do bom senso. Pelo visto estão querendo se candidatar a presidente da CBF: a Dilma ou o Aécio”, afirmou a jornalistas. “(A reforma no futebol) precisa do envolvimento e escuta da sociedade sobre uma lei de responsabilidade nos esportes de uma maneira geral, precisa fazer isso sem estar contaminado pelo ambiente eleitoral”, disse.

O deputado tucano Otávio Leite (RJ) é relator da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, que propõe o parcelamento das dívidas dos clubes em troca de modernização da gestão e punições para falta de transparência nas contas e atrasos nos pagamentos. Esse é um dos itens da “reforma” que o governo diz querer ver avançar.

Bola levantada. A questão sobre a “reforma” no futebol foi levantada novamente no mesmo dia da goleada sofrida pela seleção pelo ex-jogador Romário, deputado federal e candidato do PSB ao Senado pelo Rio. Na terça-feira, ele escreveu um longo desabafo depois da derrota brasileira, com críticas diretas a Dilma. 

“Estou há quatro anos pregando no deserto sobre os problemas da Confederação Brasileira de Futebol, uma instituição corrupta gerindo um patrimônio de altíssimo valor de mercado, usando nosso hino, nossa bandeira (...), nossos jogadores (...). Nunca tive o apoio da presidenta do País, Dilma Rousseff, ou do ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Que todos saibam: já pedi várias vezes uma intervenção política do governo federal no nosso futebol”, escreveu Romário, lembrando que em 2012 defendeu a instalação de uma CPI da CBF.

Na quinta-feira foi a vez de Dilma tratar do assunto em entrevista à emissora americana CNN. A presidente afirmou que era preciso uma “renovação” na organização do futebol brasileiro, destacando o fato de que muitos jogadores deixam muito cedo o País, fenômeno que reduz o público nos estádios.

Aldo, por sua vez, afirmou que era possível “fazer algo com a CBF”, a poderosa Confederação Brasileira de Futebol. Citou uma “intervenção indireta” na organização do esporte e anunciou as três linhas de atuação do governo: mudar o calendário, tentar criar travas para evitar a fuga de talentos abaixo de 19 anos e condicionar a renegociação das dívidas dos clubes a uma melhor gestão financeira.

Sem atritos. Na sexta, o ministro voltou ao assunto, tentando esclarecer que a “intervenção” a que se referiu no dia anterior não era na CBF. “O governo não vai fazer nenhuma intervenção nas entidades administradoras do esporte”, disse Aldo, tentando desfazer qualquer mal-estar com a CBF. “O governo pretende recuperar a capacidade de fiscalizar o que há de interesse público e de interesse nacional na administração do esporte”, disse ele, após audiência com Dilma e com o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach.

Para CBF, governo deveria dar atenção às escolas públicas

• Presidente eleito da entidade rebate ministro e diz que 'prioridade' do Estado deveria ser o apoio às práticas esportivas na rede de ensino

Jamil Chade - O Estado de S. Paulo

RIO - O presidente eleito da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Marco Polo Del Nero, disse ontem que existem "limites" para eventual participação do Estado na organização do futebol, como havia sugerido na véspera o ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Ao mesmo tempo, Del Nero cobrou "prioridade para o esporte na rede pública".

Anteontem, Aldo chegou a falar em "intervenção indireta" na modalidade, propondo mudanças em "áreas de interesse público". Ontem, o ministro voltou ao assunto e disse que a "intervenção" a que se referiu no dia anterior não era na CBF.

"A participação do Estado é sempre bem-vinda, dentro dos limites do que se pode fazer", disse Del Nero, que vai assumir o comando do futebol nacional em 2015. Segundo ele, o governo federal já engavetou projetos apresentados pela entidade.

A CBF foi sempre refratária a um envolvimento do Estado em suas funções, o que exigiria, de um lado, maior transparência nas contas, mas também a justificativa de resultados.

Os "limites" citados pela CBF se referem justamente à regra da Fifa que impede que governos intervenham nas confederações de futebol. Nesta semana, a entidade suspendeu a Nigéria de participação no futebol internacional depois que o governo em Abuja, a capital do país africano, promoveu uma intervenção na federação local e trocou os cartolas da entidade nacional.

Aldo, apesar de considerar que "o Estado não poderia ser excluído da competência de zelar pelo interesse público dentro do esporte", já havia ponderado que sua proposta de ação não era uma tentativa de o governo influir na escolha de presidentes de clubes ou da CBF. O governo sabe que precisa agir dentro das regras da Fifa.

Del Nero sugeriu que a atuação do Estado no esporte teria de ser outra. Para ele, o governo precisa se ocupar da rede pública de escolas antes de falar em intervenção nos clubes brasileiros. Segundo ele, "a escola é a base de tudo". "Onde está o esporte nas escolas brasileiras?", questionou. "O governo precisa dar maior prioridade para o esporte na rede pública. É dali que sairão os craques", reforçou.

"Os clubes não podem fazer tudo. Parte desse trabalho de base precisa ser construído pelas escolas."
Como exemplo, o presidente eleito da CBF mencionou o desenvolvimento do esporte nos Estados Unidos, baseado sempre na atuação em escolas e universidades.

Futebol feminino. O dirigente ainda observou que propostas para o desenvolvimento do futebol feminino no País, enviadas ao governo pela confederação, estão paradas há anos.

Anteontem, o ministro do Esporte e a Fifa cobraram da CBF medidas para fortalecer o futebol feminino no Brasil e acelerar o seu desenvolvimento. Aldo disse que é o governo federal quem vem estimulando a modalidade, ao apoiar o Campeonato Brasileiro e a Libertadores. Ele indicou que espera iniciativas da CBF em relação ao assunto.

Del Nero, porém, alertou que, quando Orlando Silva era ministro, a CBF encaminhou projeto para o desenvolvimento da modalidade nas universidades. "Os clubes têm dificuldades financeiras para bancar o futebol feminino." Para ele, o modelo deve ser encontrado nas universidades e com o apoio de recursos públicos. Em troca de bolsas de estudos, as mulheres teriam a organização de times e de campeonatos. "Mas o projeto nunca andou depois que Orlando Silva deixou o governo", comentou Del Nero.

Orlando Silva (PC do B), candidato a deputado, deixou o ministério em meio a suspeitas de corrupção e favorecimento de ONGs ligadas ao partido.

Campos volta atrás sobre PMDB, e diz respeitar as convicções do partido

• Um dia antes, presidenciável do PSB havia criticado Dilma e Aécio por aproximação com a sigla de Sarney

Ricardo Araújo - O Globo

NATAL — Após criar uma saia justa entre o PSB e o PMDB no Maranhão, o candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB), voltou atrás e disse respeitar as convicções de uma das maiores legendas brasileira. De passagem por Natal, onde cumpre agenda de campanha desde a manhã desta sexta-feira, o presidenciável fez críticas ao governo da presidente Dilma Rousseff.

No estado governado por Roseana Sarney, Campos disse que só subiria na sua “canoa” aqueles dispostos a mudar o país. O candidato afirmou que era preciso aposentar as “velhas raposas” da política brasileira e, diferente do que afirmou no Maranhão, argumentou que a aliança entre o PSB e o PMDB no Rio Grande do Norte trará benefícios ao estado.

Ao lado de Wilma de Faria, candidata ao Senado pelo PSB no Rio Grande do Norte, Eduardo Campos expôs seus objetivos de campanha e reafirmou que irá concentrar seus esforços, caso eleito presidente, no desenvolvimento da região Nordeste. Em alguns momentos, o discurso de Campos relembrou os do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, ao fazer referência à região mais pobre do país.

— O Nordeste brasileiro foi abandonado pelo governo Dilma Rousseff. A gente que conhece a realidade, sabe o potencial da região. O Nordeste não é problema, é solução — destacou Campos.

O candidato almoçou com empresários potiguares no maior shopping da capital, que pertence ao empresário Nevaldo Rocha, presidente do Grupo Riachuelo. Em seguida, partiu para o bairro de Areia Preta, onde recentemente ocorreu um deslizamento de terra durante uma tempestade que deixou aproximadamente 100 pessoas desabrigadas. Campos, porém, não visitou ou conversou com os desabrigados. O presidenciável também visitou o arcebispo da Arquidiocese de Natal, dom Jaime Vieira Rocha, com quem conversou sobre os problemas socioeconômicos do interior e as ações para contra a seca. Ele seguiu para o apartamento do deputado estadual Tomba, do PSB, para lanchar antes da caminhada pelas ruas do Centro de Natal.

No fim do dia, o candidato recebeu a visita do ministro da Previdência Social e senador pelo PMDB, Garibaldi Alves Filho, mas o encontro ocorreu a portas fechadas. A ex-senadora Marina Silva, candidata à Vice-Presidência em sua chapa, não participou da agenda na capital potiguar.

A estatização do futebol: O Estado de S. Paulo - Editorial

Ficaria melhor na Dilma Bolada - a falsa página da presidente nas redes sociais - do que na CNN, onde apareceu na quinta-feira, o que provavelmente foi o mais tosco chutão da chefe do governo nestes três anos e meio no Planalto. Numa entrevista gravada no dia seguinte à catástrofe do Mineirão, ao defender uma "renovação" do futebol brasileiro, Dilma disse que "o Brasil não pode mais continuar exportando jogador". E, para deixar claro que o "não pode" seria uma proibição pura e simples, ela emendou de bico: "Um país, com essa paixão pelo futebol, tem todo o direito de ter seus jogadores aqui e não tê-los exportados".

Em um surto provocado por uma mistura tóxica de oportunismo - para que o pó da derrota em campo não se deposite sobre o projeto da reeleição - e conhecido vezo autoritário, Dilma falou como quem quer cassar o direito constitucional dos brasileiros de ir e vir, dentro ou para além das fronteiras nacionais, como se o Brasil fosse uma Cuba ou Coreia do Norte. Para justificar a enormidade, deu uma pisada na bola de envergonhar um perna de pau. "Exportar jogador", caraminholou, "significa não ter a maior atração para os estádios ficarem cheios." Revelou involuntariamente, portanto, saber muito bem que boa parte ou o grosso dos US$ 4 bilhões despejados na construção e reforma das arenas da Copa serviu apenas para legar ao País uma manada de elefantes brancos.

Aprisionar os nossos jovens mais promissores - como se isso fosse possível - absolveria, nos descontos, a megalomania dos governos petistas de mostrar ao mundo o que o Brasil, sob a sua iluminada condução, é capaz de fazer. Pura má-fé. O fato singelo é que, no mundo globalizado, assim como profissionais de outras áreas, jogadores migram para países onde o seu trabalho se inscreve em um negócio extraordinariamente bem-sucedido. Ali podem ganhar em um mês o que aqui levariam anos. Isso porque a estrutura do futebol brasileiro é sabidamente arcaica, corrupta e falida. O povo não esperou a seleção ser goleada para desprezar os cartolas que enfeudam clubes, associações e, claro, a CBF.

Faz uma eternidade que essa estrutura precisa ser "renovada", como Dilma parece ter descoberto. Mas não a submetendo à tutela estatal, como prega o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, do PC do B. Invocando nada menos do que o interesse da Pátria, ele defende uma "intervenção indireta" (sic) numa atividade da qual a própria lei (no caso, a Lei Pelé, promulgada em 1998) aparta o poder público. Para começar, como ele deveria saber, a Fifa proíbe a intromissão de governos nas federações nacionais. Agora mesmo a Nigéria foi suspensa por ter o governo removido dirigentes de sua entidade futebolística. De resto, a promiscuidade entre autoridades e cartolas multiplicaria os focos de corrupção, sem modernizar o esporte.

O Estado pode, sim, impor aos clubes uma série de condições para rolar as suas intermináveis dívidas com o erário, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) faz com os governos que lhe pedem socorro. O projeto da Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, pronto para ser votado na Câmara, condiciona o acesso dos clubes ao crédito oficial à arrumação de suas finanças, reforma administrativa e pagamento em dia dos salários de seus contratados. O Estado também pode - e deve - controlar a migração de menores de 18 anos. Embora a Fifa proíba que sejam importados por clubes estrangeiros, estes driblam a barreira contratando formalmente um de seus parentes. Como no gramado, bastam regras e juízes que punam os transgressores.

No mais, que o Brasil aprenda com o que os dirigentes e jogadores alemães fizeram para renovar o futebol nacional depois da sua vexatória eliminação da Eurocopa em 2004. Como relatou o repórter Jamil Chade no Estado de quinta-feira, eles traçaram e foram fiéis a um plano de renovação de quadros, no qual investiriam ao longo do tempo US$ 1 bilhão. Minguaram as contratações de estrangeiros em benefício do talento local. Os ingressos foram congelados. Ainda assim, o campeonato alemão é o mais rentável da Europa. Os clubes são prósperos. O Bayern de Munique tem 11 times completos - fora a equipe principal. E o Estado não teve nada com isso.

Merval Pereira: A força da propaganda

- O Globo

A maior força da campanha de reeleição da presidente Dilma acaba de ser transformada em números pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que definiu o tempo de televisão e rádio na propaganda eleitoral de cada um dos candidatos, baseado nas alianças partidárias e no tamanho de cada bancada no Congresso.

Ela terá não apenas quase o dobro de tempo que a soma dos dois principais candidatos de oposição, Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB, como, nas inserções de 30 segundos somadas, terá nada menos que 123 minutos espalhados pela programação de cada emissora de canal aberto do Brasil nos 45 dias da campanha eleitoral.

O volume de publicidade é equivalente, segundo especialistas, ao lançamento de um modelo novo de carro para consumo popular. Com o aumento da audiência das novas mídias e dos canais fechados de televisão que não passam a campanha eleitoral, os especialistas acreditam que a propaganda nos canais abertos de rádio e televisão tende a ter sua importância relativizada, embora continue exigindo um gasto importante.

O histórico recente mostra que a audiência desses programas é grande no início da campanha, depois decresce e volta a subir na reta final. Nesse ambiente novo, crescem de importância as inserções no meio da programação normal. Para o analista Jairo Nicolau, cientista político especialista em análises eleitorais, um
tempo de televisão básico entre 5 e 8 minutos é suficiente para uma boa campanha eleitoral, e se não for muito bem feito, um tempo excessivo como o da candidata Dilma Rousseff pode se transformar em uma
problema na campanha.

Ele cita o ocorrido com Ulysses Guimarães, que em 1989 tinha “um latifúndio” de tempo de televisão e teve uma votação pífia. Da mesma maneira, na última eleição presidencial a ex-ministra Marina Silva teve pouco mais de 1 minuto e chegou e terceiro lugar com cerca de 20 milhões de votos.

Nicolau considera que o mais prejudicado será o candidato Campos, da Coligação “Unidos pelo Brasil”, que terá apenas 1 minuto e 49 segundos, quase o mesmo tempo que a então candidata do PV à Presidência e hoje sua vice Marina Silva teve em 2010: 1 minuto e 26 segundos. Ela, ressalta Jairo Nicolau, era conhecida do eleitorado, o que não acontece com Campos.

Aécio terá 50 minutos de inserções e Campos terá 22 minutos. Com a divulgação do tempo que corresponderá a cada um dos candidatos à Presidência da República este ano, ficou patenteada, pois, a enorme vantagem que a presidente Dilma terá nos 45 dias de propaganda oficial de rádio e televisão que começam em meados de agosto.

A coligação “Com A Força do Povo”, formada por 8 partidos, terá 11 minutos e 48 segundos, poucos segundos a mais do que teve em 2010, devido à adesão do PSD, terceira maior bancada da Câmara, que contrabalançou com sobras a dissidência do PSB e do PTB que compunham a aliança original.

Já a chapa “Muda Brasil”, de Aécio, ficou com 4 minutos e 31 segundos, bem menos em relação à campanha presidencial de 2010, quando José Serra teve com sete minutos e 18 segundos. Aécio terá também menos inserções do que tiveram Serra e Geraldo Alckmin quando candidatos.

A coligação que apoia o candidato do PSDB perdeu o PPS, que se bandeou para Campos, e sofreu com a redução de suas bancadas, especialmente do DEM, que foi desidratada com a criação do PSD.

O candidato do PSC, Pastor Everaldo, que aparece com 4% nas pesquisas, terá 1 minuto e 8 segundos, o que pode representar, paradoxalmente, um reforço à sua candidatura, já que ele é inteiramente desconhecido do eleitorado fora do círculo da Assembleia de Deus e pode ampliar sua penetração. O cálculo de seus coordenadores é de que ele tem fôlego para chegar a 10% dos votos, o que o tornaria uma peça fundamental para a disputa do segundo turno.

Nessa parte decisiva da campanha eleitoral, portanto, a presidente Dilma sai em vantagem, até ampliando
seu tempo de propaganda eleitoral, enquanto seus adversários têm problemas, notadamente o candidato tucano Aécio, que viu reduzido seu tempo de rádio e televisão, mas, sobretudo, o das inserções publicitárias.

Resta a ele acreditar que as dissidências nos partidos da base aliada compensarão na propaganda paralela a vantagem que a presidente Dilma tem na propaganda oficial.

João Bosco Rabello: A reação populista à derrota

- O Estado de S. Paulo

Não demorou muito, talvez menos do que se podia supor, o recurso do governo ao populismo configurado na proposta de intervenção do Estado no futebol. Depois de flertar com o risco de apostar na seleção, contra todas as evidências a desautorizá-lo, a presidente Dilma Rousseff tenta o discurso mais fácil para se desvincular da derrota estrondosa.

Melhor teria sido não vincular eleição com seleção, o que fez ao comparar seu estilo de governo ao “padrão Felipão”, ainda saboreando a vitória na Copa das Confederações. Na mesma época, a população pedia “padrão Fifa” para os serviços públicos, reconhecendo a eficiência e sofisticação da entidade máxima do futebol mundial.

Mas Dilma preferiu o outro padrão, que levou à vergonha no estádio “mineirão”. O erro foi tentar surfar na onda ufanista da Copa das Confederações, mas a comparação de seu governo com a gestão do técnico brasileiro, estava certa. São mesmo comparáveis em estilo, efeitos e reação aos maus resultados.

Assim como o governo, o técnico brasileiro já enumerou seus bodes expiatórios, não sem resvalar pelo traço de caráter de boa parcela dos dirigentes brasileiros, que jamais assumem os erros de suas escolhas. Já dividiu os erros com a dupla de olheiros que não recomendaram a escalação desastrosa do jogo fatídico e ainda se disse consciente dos limites com o elenco que tinha em mãos.

Como Felipão no futebol, a presidente recusou diagnósticos consensuais sobre a economia, distanciou-se do setor produtivo, insistiu nas próprias convicções, pondo-as acima das evidências, atribuiu à imprensa comportamento impatriótico e elegeu o pessimismo dos empresários como a causa de seus problemas.

Seria o caso, então, de aplicar ao governo a solução aventada para o futebol, não esbarrasse na impossibilidade de se estatizar o Estado. A mesma CBF que o governo hoje execra, foi sua parceira na condução da Copa. Enquanto estava tudo bem, não havia senões, apesar de farta munição contra os desmandos na entidade, desde a cruzada de Romário até o relatório da turma do Bom Senso Futebol Clube.

É certo que a CBF merece investigação, sobretudo por faturar com símbolos nacionais, mas há caminhos mais razoáveis para se alcançar o que prega o deputado e ex-jogador, entre muitos outros críticos consistentes.

O intervencionismo não ameniza, mas agrava o quadro de desvios no esporte brasileiro, que tem entre suas causas principais, a politização do processo de gestão. Presença do Estado se traduz por influência direta de governos, em um cenário no qual o país se ressente de sua ausência onde deveria estar – e não está.

Casos da infraestrutura, segurança, saúde e educação, para os quais se cobra “padrão Fifa” e não “Felipão”. Menos mal que é discurso, mais um determinado pela conveniência da campanha eleitoral, o que torna sua materialização remota.

Mas reafirma o viés intervencionista do governo, já exibido na questão do direito autoral – este mais absurdo ainda, por não envolver vinculação nem simbólica com o país. Trata-se de relação estritamente privada entre autores e associação arrecadadora, onde o governo resolveu entrar.

Tal como no caso do direito autoral, em que uma CPI inidônea, com um terço de parlamentares proprietários de emissoras de rádio e TV, devedores do escritório de arrecadação, deu pretexto à ação estatizante, uma CPI da CBF será conduzida pela chamada “bancada da bola” – aquela formada pelos parlamentares que mantêm interesses na entidade.

O ministro dos Esportes, Aldo Rebelo (PC do B), diga-se em seu favor, defende uma lei de responsabilidade fiscal para os clubes brasileiros bem antes da Copa e, mesmo, antes de ocupar o cargo.

No entanto, o faz para legitimar uma ajuda financeira aos clubes, indefensável diante do fracasso do paternalismo histórico que marca as relações do Estado com esses entes privados. Os clubes brasileiros já foram alvo de benesses de governos sucessivos, se mostrando reincidentes no comportamento marginal.

Por se tratar de dinheiro público, o novo socorro, em forma de isenções e benefícios múltiplos, precisa ser escorado em garantias que o ministro enxerga na proposta de enquadramento fiscal. Há mais que isso na proposta de Aldo, mas o ponto de partida é esse e sem ele não se viabiliza o resto.

O ministro quer alcançar o grau de gestão profissionalizada dos clubes, a exemplo do que ocorre no ambiente europeu, do qual a Alemanha é, hoje, o exemplo mais recente de reforma exitosa, iniciada após os revezes em copas do Mundo.

Talvez seja esse o limite da participação do Estado no processo, o que o torna um condutor das mudanças, porém jamais gestor de um negócio privado, onde proibir a transferência de jogadores para o exterior, surge como blasfêmia.

As condições para a permanência do jogador brasileiro no país devem ser asseguradas pela criação de um ambiente econômico que a viabilize e não por decreto.

Cristovam Buarque: Custo da bagunça

- O Globo

A democracia brasileira é uma bagunça, tanto no funcionamento do aparelho do Estado (relações entre os Três Poderes e pequenas repúblicas cartoriais envolvidas no exercício da atividade administrativa no dia a dia), quanto no processo eleitoral propriamente dito. A última semana desnudou a vergonhosa realidade desta bagunça: alianças feitas sem respeito às identidades ideológicas ou éticas entre os candidatos de uma mesma coligação. Como em toda bagunça, o eleitor fica desconsolado e o aparelho do Estado caótico.

Esta bagunça de casamentos imorais em grupos sem identidade, que foi chamada de “orgia” e “suruba”, respectivamente, pelo prefeito Eduardo Paes e pelo deputado Alfredo Sirkis, tem outro demonstrativo vergonhoso no custo das campanhas. Somente Dilma e Aécio preveem gastar R$ 588 milhões. Somando os demais presidenciáveis, o custo será de R$ 870 milhões.

Em 2010, as eleições a todos os cargos custaram R$ 3,23 bilhões, cerca de 11vezes mais do que os gastos dos presidenciáveis de então. Mantida a mesma proporção, em 2014 os gastos serão de R$ 9,7 bilhões, equivalentes ao pagamento de piso salarial para 100 mil professores ao longo de quatro anos. Nenhum regime pode ser considerado democrático se cada voto custa tão caro, os professores tão pouco, e os candidatos precisam ser ricos ou comprometidos com ricos financiadores de suas campanhas ou as duas coisas.

O maior custo, porém, não é financeiro, é o caos político e administrativo que está esgotando o atual modelo de democracia brasileira, desmoralizando e emperrando o funcionamento do setor público. Apesar disso, ainda não vimos qualquer dos candidatos à presidência propondo reforma eleitoral que reduza este custo.

Com três medidas seria possível fazer a redução dos custos, tanto financeiros quanto políticos.

A proibição de alianças no primeiro turno levaria ao fim do comércio de tempo para os programas eleitorais. Esta medida reduziria o número de partidos e a consequente reorganização deles com base em identidade e substância de ideias e valores morais.

A utilização do horário eleitoral para transmitir debates e falas diretas dos candidatos, sem qualquer manipulação marqueteira que, a custos altíssimos, busca enganar o eleitor e vender o candidato como se fosse mercadoria. Sem caros marketings, o custo seria menor e a qualidade da democracia maior ao colocar os candidatos se enfrentando e olhando nos olhos dos eleitores, sem a parafernália usada para iludir.

Limitar os gastos eleitorais para cada candidato não poder gastar mais do que um determinado pequeno valor proporcional ao número de eleitores de sua circunscrição. Isto seria facilitado pela adoção de um sistema Distrital Misto, em que alguns dos deputados e vereadores representam apenas Distritos e não todo o Estado.

As três medidas, entre outras, não deverão ser adotadas porque os candidatos que buscam a reeleição se beneficiam da bagunça, enquanto outros sonham em entrar nela.

Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF

Fernando Rodrigues: Populismo no futebol

Folha de S. Paulo

Dilma Rousseff quer uma "renovação" do futebol. Seu ministro do Esporte, Aldo Rebelo, falou, depois recuou, sobre "intervenção indireta" na gestão desse esporte. Um site bancado pelo PT afirmou que a CBF é responsável pela "desorganização" do futebol brasileiro.

Os maiores responsáveis pela bagunça do futebol brasileiro são os governantes sucessivos que passam a mão na cabeça de dirigentes de clubes inescrupulosos e incompetentes.

Os cerca de 300 times de futebol no Brasil devem cerca de R$ 4 bilhões. A cifra é de 2012. Pode ser muito maior agora. Um projeto de lei apoiado pelo Planalto pretende dar um desconto e refinanciar esses débitos por um prazo de 25 anos.

A contrapartida seria exigir dos times o pagamento em dia de suas contas, punindo com o rebaixamento os que atrasarem as prestações ou os salários de atletas. Vai funcionar? Difícil. A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) teria de aceitar tal procedimento --retirar pontos de um clube no Campeonato Brasileiro quando ocorrer o calote de dívida.

A Fifa, órgão que comanda o futebol mundial, não aceita a intervenção de governos nas regras de campeonatos organizados por entidades associadas, como a CBF. Ou seja, não tem saída dentro dessa proposta populista agora abraçada pelo Palácio do Planalto. A chance de sair só o perdão das dívidas sem nada em troca é enorme.

A solução real é dolorosa: executar judicialmente essa dívida de R$ 4 bilhões. Muitos clubes vão falir. Grandes da Série A do Campeonato Brasileiro podem fechar as portas. O Brasil ficará melhor. Será pedagógico. Quem sobrar terá de pedir ajuda aos seus sócios. Serão cobrados a ter uma gestão mais profissional. Afinal, trata-se de uma atividade privada.

Falar em renovação do futebol em época de Copa do Mundo e sinalizar com um perdão de dívidas bilionárias é populismo. Esse é o caminho com o qual Dilma está flertando.

Cláudio Couto: Metáfora do País?

- O Estado de S. Paulo

Mal terminava o massacre alemão sobre a seleção brasileira, principiavam os comentários de que as causas da derrota futebolística eram uma metáfora das razões gerais de nosso atraso: improviso, malandragem, falta de trabalho etc. Decerto o futebol não está imune às condições gerais da sociedade em que está imerso e, por décadas, romanticamente se enalteceram como distintivos de nosso futebol traços de outras dimensões da cultura nacional: a ginga, a descontração, o improviso, a malandragem...

Entretanto, ao se estabelecer tal relação de forma direta descartam-se mediações sem as quais se cai em enganosos reducionismos, tal qual a de atribuir tudo o que deu errado numa circunstância específica a mazelas estruturais. Assim, se o time perde de forma vexatória, deve-se buscar as causas disso na má formação das categorias de base, na corrupção da CBF e na lassidão da cultura nacional.

Como se não houvesse decisões tomadas circunstancialmente, por sujeitos específicos, que explicam melhor o desastre. Ou será que decorre da malandragem do brasileiro e da corrupção dos cartolas a decisão de Scolari de não reforçar o meio de campo e insistir com Fred?

Isso não significa que, em última instância (e, sempre, em última instância), não se possa identificar em certos procedimentos costumeiros as causas primevas de problemas circunstanciais. Fôssemos nós, brasileiros, mais afeitos à busca de resultados no longo prazo e resistíssemos à insatisfação gerada pelos percalços do imediato, teríamos insistido com Mano Menezes e, assim, a teimosia de Scolari talvez (apenas talvez) não nos teria levado à hecatombe do Mineirão. Coloco a frase na primeira pessoa do plural porque não apenas a CBF substituiu o treinador, mas a opinião pública (notadamente, o grosso da crônica esportiva) clamava por isto. Como já ocorrera no Corinthians, após a eliminação pelo Tolima na Libertadores, Andrés Sanchez era uma rara voz dissonante - só que, quando da mudança na seleção, já sem poder decisório. Terá o tempo, nos dois casos, provado que tinha razão?

Distinguir o circunstancial do estrutural não significa desconhecer que problemas de fundo existam - no futebol e fora dele. Para além de condições que a própria dinâmica do jogo enseja, desastres circunstanciais talvez apenas sejam possíveis porque, de fato, faltam certas garantias estruturais. Isto vale para o futebol e para o País. Porém, cada circunstância abriga possibilidades imprevisíveis, principalmente porque as reações humanas são repletas de incerteza, já que as emoções não são exatas e erros são cometidos. Isso permite grandes surpresas no futebol e na política - em especial nas eleições. Um passo em falso, uma frase mal posta e se põe tudo a perder, deflagrando dinâmicas não apenas fora de controle, mas que atordoam, levando por isso mesmo a novos erros, que atordoam ainda mais - sobretudo quando o tempo é curto e não possibilita recuperações.

Grandes desastres estimulam correções de rumo e reformas. Contudo, o nexo reverso entre o circunstancial e o estrutural pode caminhar por vias oblíquas. Embora tornada lugar comum, a noção do ideograma chinês, de que crise é a conjunção de perigo e oportunidade, nem por isto deixa de ser verdadeira. Assim, a derrota humilhante cria a oportunidade para reformas profundas no futebol nacional, mas gera o perigo de decisões atabalhoadas ou demagógicas, tomadas no calor das emoções.

Em suma, a transposição da metáfora à realidade política e social é capciosa. Estaria o Brasil fora dos campos comparativamente melhor em 1958, 1962, 1970, 1994 ou 2002 do que está hoje? Para qualquer indicador que tomemos, constataremos exatamente o oposto. Portanto, a politização dos resultados esportivos é traiçoeira em seus dois sentidos - dos campos para a sociedade, e vice-versa.

Bolívar Lamounier: Voto nulo: como, quando, para quê?

- Folha de S. Paulo

Entendamo-nos, primeiro, quanto aos conceitos, uma vez que a pergunta comporta pelo menos duas interpretações bem distintas. No sentido legal e moral, a resposta só pode ser positiva; o voto nulo é tão válido como qualquer outro. O cidadão vota como quer; este é um princípio "sine qua non" da democracia. No regime democrático, por definição, inexistem instâncias com legitimidade para forçá-lo a escolher desta ou daquela forma.

A questão que ora nos ocupa é portanto de ordem prática: qual é, em comparação com outras estratégias de protesto, a eficácia do voto nulo? Em que medida e sob que circunstâncias ele produz realmente o efeito desejado? É claro que em situações falsamente democráticas ou marcadamente ditatoriais o voto de protesto pode valer mais que a escolha substantiva.

No caso brasileiro, o melhor momento para examinarmos os prós e contras do voto nulo são as eleições legislativas de 1970, colhidas em cheio pela chegada dos "anos de chumbo". Naquelas condições, não surpreende que o voto nulo (a soma dos votos em branco e nulos, melhor dizendo) atingisse um índice inusitadamente alto.

Que lição podemos tirar desses números? É preciso admitir que, naquele ano, o voto de protesto produziu um efeito perceptível; sem ela, o MDB teria feito bancadas um pouco maiores, mas ainda pequenas e submetidas de qualquer forma à espada de Dâmocles do AI-5. Há, no entanto, um argumento ponderável no sentido oposto. O "recado" do protesto foi dado, mas seu efeito político foi duvidoso, para dizer o mínimo. Em poucas semanas, ninguém mais se lembrava dele. Alguns deputados a mais em Brasília poderiam ter tido uma vida útil mais longa como oposicionistas.

Que dizer da situação atual? Qual pode ser, nas eleições deste ano, a serventia do voto nulo? Afastemos, desde logo, a suposição de que um alto percentual de votos nulos acarreta a nulidade da própria eleição. Trata-se de uma crença totalmente desprovida de fundamento; a Constituição vigente nada estipula nesse sentido.

A questão a considerar é, pois, o objetivo dos proponentes do voto nulo. Protestar contra o quê, exatamente? Uma razão amiúde invocada para o protesto é o desgaste das instituições, nos três ramos do governo. O desgaste de fato existe e se deve a uma infinidade de razões. O Congresso atual alterna momentos de omissão, de anarquia e de subserviência ao Executivo, desservindo o interesse público nos três casos. Episódios de corrupção multiplicam-se nos três Poderes, numa sucessão interminável. É um estado de coisas lastimável, mas a contribuição do voto nulo à correção dele é rigorosamente zero. Neste caso, nada há na anulação que se possa chamar de público --ou seja, de político, no melhor sentido da palavra. Nas condições do momento, ele apenas exprime um mal-estar subjetivo, difuso, de caráter individual. Qualquer que seja seu peso nos números finais da eleição, ele será apenas uma soma desses mal-estares e da apatia que deles decorre.

Um protesto contra as políticas do governo atual? Realmente, na política econômica, há equívocos de toda ordem; na educação, é até difícil dizer se há alguma política; na área externa, uma descabida simpatia por ditaduras de vários matizes; sem esquecer a incompetência e os abundantes desmandos que se têm verificado em certas empresas públicas, a começar pela Petrobras. Dá-se, no entanto, que tais políticas derivam fielmente da coalizão partidária no poder; motivos para combatê-las não faltam, mas o voto nulo não as combate. Bem ao contrário, ele contribui para a permanência delas, ao facilitar a pretendida reeleição de Dilma Rousseff.

Bolívar Lamounier, cientista político, sócio-diretor da Augurium Consultoria e autor de "Intelectuais e ideologias no século 20"

Rolf Kuntz: Intervenção no futebol é a novidade diante da crise

- O Estado de S. Paulo

Estamos salvos. O México superou o Brasil como maior produtor latino-americano de veículos, no primeiro semestre, a maior parte da indústria continua em crise - e demitindo - e a corrente de comércio encolhe, mas o governo promete consertar o futebol. A ideia é intervir na atividade, impor novos padrões de gestão aos clubes e até impedir a exportação de jovens craques, segundo anunciou na quinta-feira o ministro do Esporte, Aldo Rebelo. "Não podemos continuar exportando jogadores que são a maior atração do futebol brasileiro", disse no mesmo dia a presidente Dilma Rousseff. Para a presidente e sua trupe, a derrota por 7 a 1 deve ser um desastre muito maior que a devastação econômica dos últimos anos - uma mistura de estagnação industrial, inflação elevada, contas públicas em deterioração e contas externas esburacadas. Nos 12 meses até maio, o déficit em conta corrente chegou a US$ 81,85 bilhões, 3,61% do produto interno bruto (PIB) estimado, e as condições de financiamento têm piorado. Podem ficar mais desfavoráveis com o fim dos estímulos monetários americanos, previsto para outubro, mas nada parece tão grave, para o governo, quanto o fracasso no futebol.

Ah, dirão os otimistas, esse comentário é injusto, até porque um novo pacote econômico e financeiro foi lançado na mesma quinta-feira, com a publicação da Medida Provisória (MP) 651. Mas a novidade é pouca, na parte econômica, e as principais medidas já foram testadas nos últimos anos, com escasso resultado.

A desoneração da folha de pessoal, concedida a 56 setores e contrabalançada por outra forma de tributação, pouco afetou os custos. A maior parte das empresas continua com problemas na gestão de pessoal. Sem disposição para reformar de fato o sistema previdenciário, o governo continua adotando remendos. Temporária até agora, a mudança deve tornar-se permanente, mas nem por isso o remendo deixa de ser remendo. Não se resolve o problema das empresas nem se arruma a Previdência.

O Reintegra, agora com alíquotas variáveis de 0,1% a 3%, definíveis a cada ano, permite a recuperação parcial dos impostos pagos na cadeia produtiva. Neste ano, o benefício será de 0,3%. A variação anual prejudicará o planejamento dos exportadores e, no balanço geral, os brasileiros continuarão em desvantagem diante dos estrangeiros. Além disso, a política federal é inócua em relação a um dos principais problemas - a dificuldade de acesso aos créditos do ICMS, o tributo estadual sobre circulação de mercadorias e serviços. Aceito pelos empresários na falta de algo mais sério, o Reintegra também é um remendo.

Em quase 12 anos, a administração petista foi incapaz de formular e de negociar uma revisão ambiciosa e eficaz do sistema tributário. Em vez disso, têm tramitado no Congresso propostas voltadas para o atraso, favoráveis à perpetuação da guerra fiscal e à desmoralização definitiva do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz). Aprovado o fim da unanimidade para aprovação de incentivos, estará preparado o campo para uma guerra mais intensa entre regiões e entre Estados - e para mais distorções, é claro, das decisões sobre investimentos privados.

A mudança do Refis, o programa de parcelamento de débitos fiscais, é mais um mimo aos sonegadores e mais um esforço para juntar migalhas e chegar mais perto da meta de superávit primário. Os pagamentos iniciais de quem entrar no programa serão reduzidos. Por exemplo: para os devedores de até R$ 1 milhão, a prestação inicial cairá de 10% para 5%. Haverá facilidades decrescentes para débitos até R$ 20 milhões.

 Acima desse valor, a entrada será de 20%. Além disso, empresas já inscritas no parcelamento poderão ter descontos se anteciparem a quitação de 30% da dívida restante. Com os novos estímulos, a previsão de receita do Refis para 2014 sobe de R$ 12,5 bilhões para R$ 15 bilhões. Outros R$ 2 bilhões, primeira parcela de um total de R$ 15 bilhões, já estão garantidos: serão pagos pela Petrobrás pela transferência, sem licitação, de quatro áreas do pré-sal. Todo esse dinheiro, somado aos bônus de concessões de infraestrutura e aos dividendos mais gordos extraídos das estatais, tornará mais fácil fechar as contas. Nem pensar em austeridade, especialmente em ano de eleições. Além do mais, é preciso levar em conta o peso de outros mimos tributários, como a prorrogação do desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o setor automobilístico. Também para compensar essa bondade seletiva será preciso juntar trocados aqui e ali.

É difícil dizer se o governo insiste nessas medidas por teimosia, firmeza de princípio ou incapacidade total de perceber os fatos, mesmo retratados em números oficiais - como a estagnação dos três anos anteriores e a perspectiva de crescimento abaixo de 2% em 2014 e de novo fiasco em 2015. Com a indústria incapaz de competir, o Brasil só continuou salvo de um desastre cambial, neste ano, graças ao superávit comercial de US$ 49,11 bilhões acumulado pelo agronegócio entre janeiro e junho - mesmo com preços em queda. Reservas cambiais acima de US$ 370 bilhões dão segurança temporária contra choques externos. Mas segurança de fato no balanço de pagamentos só se alcança por meio de competição nos mercados de bens e serviços. Nesse jogo, só o chamado setor primário tem obtido resultados. Se protecionismo e favores seletivos substituíssem poder de competição, a Argentina jamais teria chegado a um passo de um segundo calote. Afinal, teve 13 anos, desde o fim de 2001, para investir e ganhar eficiência. Mas o governo desperdiçou o tempo com besteiras intermináveis, como barreiras à exportação de alimentos para maquiar a inflação. No Brasil já se cometeu bobagem parecida com o couro, para favorecer a indústria de sapatos. A próxima asneira poderá ser o entrave à exportação de jogadores. Haverá quem aplauda.

* Rolf Kuntz é jornalista

Cacá Diegues: Depois da Copa

• Não fomos vítimas trágicas de deuses cruéis que nem sempre premiam os melhores, mas sim de nossa própria fragilidade

- O Globo

No quinto gol dos alemães, antes que acabasse o primeiro tempo, meu neto de 8 anos caiu em pranto convulsivo. Enquanto seu pai o consolava, vi no dele o meu próprio pranto, há mais de seis décadas, quando mal havia completado dez anos de idade e acabara de ouvir pelo rádio o jogo Brasil e Uruguai. Naquele fim de tarde de 16 de julho de 1950, um trauma mobilizaria não só os 200 mil espectadores no Maracanã, como toda a população do país.

No segundo tempo do jogo contra a Alemanha, meu neto já havia se retirado da sala, fora brincar com seus amigos, disputar partidas virtuais no videogame da Fifa, com o qual, pelos gritos de euforia, devia estar fazendo muitos gols. Isso não impediu que ele voltasse à sala a tempo de ver o tento solitário e patético de Oscar, no finzinho do jogo, e tirasse a camisa amarela para comemorá-lo, como fazem os craques de tantas seleções. Não o tenho visto desde então, mas não creio que ainda esteja se lamentando.

Em 1950, a derrota para o Uruguai foi uma ária trágica de Wagner, uma daquelas de “Tristão e Isolda”, que nunca mais deixam em paz nossa alma e imobilizam nosso corpo com sua densidade de muitos significados. Já em 2014, contra a Alemanha, a derrota foi apenas um coro de ópera-bufa propositadamente desafinado. Não fomos vítimas trágicas de deuses cruéis que nem sempre premiam os melhores, mas sim de nossa própria fragilidade.

Sendo a primeira derrota profunda e cheia de significados, ela nos ajudou a construir o que nos faltara naquela Copa de 1950. Ganhamos uma consciência de que era preciso reinventar o Brasil, para que ele se tornasse mais vigoroso e menos miserável, projetando sobre ele um sonho otimista de futuro.

Conseguimos reformular nosso futebol, reorganizá-lo e fazê-lo novo, desenvolvendo suas características naturais, aliadas a um espirito “científico” que pretendia aproximá-lo da modernidade. E foi assim que, de 1950 a 1970, fomos os primeiros tricampeões mundiais, ganhando três das cinco Copas realizadas nesses vinte anos, encantando o planeta com uma arte que inventamos e tratamos de disciplinar. Nós acreditávamos que o Brasil podia e tinha que colaborar para que a civilização humana fosse melhor, o futebol seria um de nossos instrumentos.

Hoje, a derrota para os alemães é uma patética consequência de nossa insegurança, de nossas dúvidas quanto a nós mesmos, de nosso mergulho no pessimismo sobre o nosso destino. Claro que contribuem para isso a mediocridade de nossos políticos, a corrupção pública e privada, a extinção de critérios de valor, a violência entre nós, nossa desconfiança quanto a nosso futuro, uma incerteza que gera um generalizado “salve-se quem puder”.

Todos esses são fatores que fizeram com que o Brasil deixasse de ser, para os outros, uma ilha utópica num mundo condenado por conflitos insolúveis, e se tornasse exemplo de um modo original de agravá-los. Perdemos a confiança de nossa torcida, ganhamos o desinteresse da dos outros.

O Brasil perdeu porque os alemães foram melhores, desde o início da competição e durante o jogo fatídico. Não sei como será amanhã, nesse Maracanã da Fifa, mas tanto Alemanha quanto Argentina são mesmo, por motivos diferentes, as melhores equipes dessa Copa. Merecem estar na final. Para chegarmos perto deles, tínhamos que ter trocado a ordem unida infantil e o coração frágil demais por trabalho com liberdade e confiança com humildade. Além de uma obssessiva organização democrática e humana.

A culpa não é dos jogadores. Nenhum deles se autoconvocou, todos foram escolhidos pelos responsáveis pela CBF e pela seleção. Eles fizeram o que lhes foi pedido fazer, o que lhes pediam desde que começaram a se educar na base de seus clubes, uma educação que ignora o talento, a originalidade e a coragem de mudar. O “apagão” não foi só deles, mas de todos nós que estávamos conformados com nossa fraqueza. Ao contrário de 1950, desta vez perdemos porque nos subestimamos.

A tragédia brasileira é a de que, cada vez que chegamos perto da vitória, tratamos de provocar a derrota iminente, como se não pudesse ser de outro modo e fosse um alívio apressá-la. Como disse alguém (não me lembro quem), é como se o brasileiro achasse que não tem direito à felicidade. Cada vez que ela chega muito perto, trememos e choramos, entramos em pânico até que a afastamos de nós.

Paulo Perdigão, o maior exegeta da tragédia de 1950, contava que Zizinho, nosso Neymar de então, deixara o Maracanã, depois da derrota para o Uruguai, e fora a pé até sua casa, na distante Niterói ainda sem ponte. Sem conseguir pensar em outra coisa, ele tentava entender o que havia acontecido, concentrado em sua frustração e em seu sentimento de culpa. Agora, os culpados somos nós, cada um em seu universo específico, fazendo parte de um país que não reage às suas misérias. Teoricamente responsáveis pelo país em que nascemos e vivemos, não podemos andar distraídos por aí, como se não tivéssemos nada a ver com tudo isso.

Cacá Diegues é cineasta

Panorama político – Ilimar Franco

- O Globo

A engenharia
Aécio Neves conseguiu dividir a base do governo Dilma em muitos estados. Agora, terá de unir adversários regionais para apoiá-lo. José Agripino, coordenador da campanha, admite o drama mas garante que ele pode ser superado. Cita o Pará, onde o governador Simão Jatene (PSDB) e o vice da chapa adversária, Lira Neto (DEM), vão juntos criar um comitê em apoio a Aécio, em Santana, no populoso sul do estado

Limpeza ética no futebol
O debate que se segue à derrota do Brasil na Copa ganha corpo. O deputado Chico Alencar (PSOL) sugere analisar o fracasso do Timemania, antes de votar a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte. E justifica: “Com direções da CBF, de federações e de clubes que tenham postura mafiosa, uma nova lei será letra morta”. A Justiça e o Ministério Público também se omitem. E lembra: “Sonegar, não pagar dívidas trabalhistas, fazer dívida sem lastro, lavar dinheiro (com compra e venda de 'direitos federativos' de atletas) sempre foi proibido”. Há quem defenda o saneamento, embora avaliem que isso não fará o Brasil vencer. E chamam a atenção: “A situação era assim em 2002, mas isso não impediu a vitória da seleção".
--------------------------------------
“Uma lei que regulasse a relação do Estado com o futebol deveria ter um único artigo: é vedada qualquer interferência do Estado no futebol profissional”
Francisco Dornelles
Senador (RJ) e presidente de honra do PP
------------------------------------------
A tentação não é de agora
Um ministro do governo FH conta que, depois do Brasil perder a Copa de 1998 para a França, foi procurado por integrantes do governo para consultá-lo sobre a possibilidade de intervir na CBF, então presidida por Ricardo Teixeira.

Camaradagem
O ex-presidente do STF Joaquim Barbosa tem telefonado para os outros ministros da Corte pedindo para absorverem em seus gabinetes os funcionários que o serviram durante seu mandato. A presunção é a de que o novo presidente, Ricardo Lewandowski, não vai manter os servidores que trabalharam com ele durante sua gestão na presidência do tribunal.

As eleições, as Copas e a história
Político de oposição dá mais exemplos separando o resultado da Copa do humor do eleitor. E recita: “O Brasil foi campeão em 58 e Jânio, opositor de JK, venceu em 60. A seleção venceu no Chile em 62, mas isso não impediu o golpe militar em 64”.

De afogadilho
O mundo esportivo, abalado com a derrota na Copa, cobra uma cirurgia na CBF, federações e clubes. Exige uma ação externa e o uso de força para atropelar os cartolas. No mundo político há cautela. Existe o temor do precedente. Amanhã, o poderoso de plantão pode querer fazer o mesmo na Firjan, na Fiesp, na Fenaj, na CUT ou na OAB

Padrão Fifa
A equipe que guia as visitações ao Planalto foi reforçada para a Copa. Mesmo treinados, um deles chegou a dizer, para os turistas, que o Rolls Royce, exposto no andar térreo, faz diariamente o percurso entre o Planalto e o Alvorada

Na moita
Desde que foi enviado pelo STF para o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em março, o processo contra o ex-deputado Eduardo Azeredo (PSDB), chamado de mensalão mineiro, não evoluiu.
---------------------
A MINISTRA ELEONORA MENICUCCI (Mulheres) vai receber Rose do Rio, presidente da Liga Brasileira de Futebol Feminino, na próxima quinta-feira.