sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

*Fernando Gabeira: A compulsão de pedalar

- O Estado de S.Paulo

No fundo, PT e PMDB não eram só uma coligação, mas uma equipe de ciclistas

O Brasil tem dois fatos marcados para o início de 2018. Um, com direta repercussão na política, o julgamento de Lula, em 24 de janeiro; e o outro, com impacto na economia, a votação da reforma da Previdência, marcada para 19 de fevereiro.

Em agosto de 2018 o impeachment de Dilma Rousseff completa dois anos, e existe ainda uma discussão aberta sobre se valeu a pena, se foi melhor para o Brasil.

Formalmente, Dilma foi derrubada por causa das pedaladas fiscais, por ter gastado mais do que permitia a lei. Nas comissões e no plenário do Congresso oradores se sucediam para condenar essa prática. Parte do governo de Dilma, o PMDB se voltou contra ela e apoiou o impeachment. Estavam todos horrorizados com as pedaladas fiscais.

Agora, o segundo aniversário do impeachment vem aí e o governo falou em aprovar, antes dele, uma lei que lhe permita pedalar sem ser punido legalmente. Ao que parece, não queria nem pedalar, mas passar da bicicleta comum para uma elétrica, destas que se movem sem o esforço das pernas. Em termos de nossas tradições, nas quais certas leis pegam e outras não, o governo Temer pretendia inovar. Não se trata mais de afirmar que a lei não pegou, e sim de uma lei que tira férias, como, por exemplo, o horário de verão: só vale em certa época do ano. Não há dúvida de que isso desmoralizaria a tese central do impeachment.

José de Souza Martins: Por quê?

- Valor Econômico

Chegamos ao final do ano sem graça de 2017 saturados de informações sobre o Brasil que não deu certo, o Brasil da corrupção, do desemprego alarmante, da pobreza enorme, da violência, da droga e do tráfico, da falta de horizontes. O Brasil do pouco convincente noticiário sobre indícios de recuperação da economia e menos convincente ainda de que com a recuperação econômica tudo o mais se resolve, os problemas sociais, a formação das novas gerações. O noticiário pouco convincente, no entanto, traçou o retrato de um país sem perspectiva.

Desde que o Brasil começou a afundar, quando os episódios iniciais do mensalão ganharam corpo e os podres da República passaram a ocupar o tempo e a paciência dos brasileiros, ficou claro que os mediadores da informação perderam de vista que a informação sobre o país do mal não suprimia o labor do país do bem.

O país das manchetes e chamadas do noticiário desencontrou-se com o país real, o país que sofre sem dúvida, mas também o país que trabalha, que cria, que inventa. A fala informativa foi capturada pela lógica perversa do primado da visibilidade. O Brasil da fala e da escrita não é o Brasil que sussurra, que tem vergonha do que dizem que somos mas teima na busca própria de quem tem responsabilidade e vergonha.

Eliane Cantanhêde: Jogo de gato e rato

- O Estado de S.Paulo

Temer e MDB não estão à caça de candidatos; acham que serão caçados por eles

A pergunta que não quer calar, após o presidente Michel Temer falar ao Estado com simpatia sobre o governador Geraldo Alckmin: é bom ou ruim para um candidato à sucessão ter o apoio explícito do presidente mais impopular desde a redemocratização de 1985? Depende. Exatamente por isso, os presidenciáveis analisam como tirar os bônus sem arcar com o ônus.

O aceno de Temer surpreendeu por causa de toda a mágoa acumulada no Planalto com os tucanos paulistas, que votaram em peso a favor das duas denúncias da PGR contra Temer, no momento mais dramático do governo. Mas o presidente é um pragmático. Olha mais para frente do que para trás.

Se os candidatos fazem cálculos sobre perdas e ganhos com o apoio de Temer, Temer faz justamente o mesmo em relação a eles: quem tem melhores condições de vencer, dar continuidade a seus principais programas e cuidar do seu nome e do seu governo para a história?

Estropiado ou não, pelas denúncias, más companhias, recuos e pesquisas, Temer tem dois poderosos trunfos na eleição de outubro: o peso da máquina do governo e a força do MDB, que ele presidiu durante anos. Forte ou fraco, governo é governo e está em todos os setores, todas as partes, é sempre uma mão na roda em campanhas. E o MDB é o maior partido do País.

Merval Pereira: Temer quer Alckmin

- O Globo

Temer está trabalhando com a ideia de uma grande aliança em torno do tucano. O presidente Michel Temer retomou ontem, na entrevista que deu ao “Estadão”, um projeto político que estava adormecido desde que o PSDB resolveu sair do governo. Deixou claro na entrevista ao “Estadão” que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, é o candidato preferido para a sua sucessão.

Essa avaliação deve necessariamente entrar nas análises tanto do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, quanto do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Os dois acham que podem ser o candidato da base aliada, e entendem que Alckmin não pode, porque o PSDB saiu do governo.

Pode ser até que Temer tenha que dar algumas explicações, e até diga que foi mal entendido, mas a ideia com que está trabalhando é uma grande aliança do PMDB com o DEM, o PSDB e os demais partidos da base. Temer não falou sem querer, nem foi mal interpretado, poderia ter deixado a questão em modo de espera, mas pelo jeito tem pressa. Embora Alckmin não apareça bem nas pesquisas, é o que tem a maior estrutura partidária e de televisão.

Hélio Schwartsman: Entre a moralidade e o caos

- Folha de S. Paulo

Perdoem-me por dizê-lo, mas, se juízes querem agir como revolucionários ou grandes reformadores, escolheram a profissão errada. Deveriam ter abraçado a guerrilha ou, ao menos, a política.

Gostemos ou não, o Judiciário foi concebido para ser o mais conservador dos Poderes da República. Sua missão institucional não é a de promover mudanças sociais, mas sim de dar segurança jurídica, isto é, um horizonte de previsibilidade aos diversos agentes sociais. Juízes mais do que quaisquer outros atores deveriam ter alergia a provocar grandes guinadas. Esse papel, que é importantíssimo, cabe a políticos e a movimentos da própria sociedade.

Até acho que existe espaço para o chamado ativismo judicial, mas ele deve limitar-se à ampliação de direitos individuais já contidos em princípios gerais enunciados na Carta que o Parlamento, por alguma razão, não consegue atualizar. Um bom teste prático é olhar para direitos que já tenham sido consolidados num bom número de democracias mais maduras, como a despenalização do consumo de drogas e do aborto. Em casos assim, creio que as cortes podem "inovar", optando pela autocontenção nas demais situações.

César Felício: O choque é inevitável

- Valor Econômico

Impacto de "fake news" no processo eleitoral será grande

Preparem-se para o impacto. Há pouco a fazer para impedir que notícias falsas tenham papel central no processo eleitoral brasileiro. O embuste e a calúnia sempre tiveram protagonismo aqui e no exterior, mas não havia a internet e aplicativos de mensagens para aumentar a repercussão do jogo sujo.

Já em 1945, no tempo do rádio a válvula, a eleição foi influenciada por uma clássica "fake news": ao contrário do que se tornou lenda, o brigadeiro Eduardo Gomes (UDN) nunca disse que não precisava do voto dos marmiteiros. Fez uma declaração de que não queria os votos "daquela malta", se referindo a apoiadores do marechal Eurico Dutra (PSD). Um apoiador de Dutra, o empresário Hugo Borghi, distorceu a fala do brigadeiro e propagou a calúnia.

No cenário atual, há uma democracia com mais de cem milhões de eleitores que vivenciam um ambiente em que o descrédito das instituições atingiu recordes internacionais. Metade desse contingente se informa preferencialmente por redes sociais e três em cada cinco cidadãos contam com acesso particular à internet.

Os exércitos de seguidores de alguns candidatos no Facebook e Twitter têm algumas divisões compostas por robôs, quando postagens são geradas por algoritmos; ou por ciborgues, quando um operador humano administra diversos perfis falsos. Na eleição de 2014, conforme levantamento feito pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas (Dapp) da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro, robôs chegaram a motivar 11% das discussões no Twitter. Em 2015, com o crescimento do debate sobre o impeachment, 21,4% das intervenções de apoiadores de Dilma Rousseff eram impulsionadas por contas automatizadas. Nas eleições municipais em São Paulo de 2016 os robôs tracionavam 11,25% do debate pró-Doria; 11,54% das interações pró-Haddad e 8,4% do exército pró-Russomanno.

Reinaldo Azevedo: Covardes e 'argumentum ad Lulam'

- Folha de S. Paulo

Dois casos evidenciam que a análise política anda coberta pelo véu nada diáfano da pusilanimidade: o julgamento, pelo TRF-4, do recurso de Luiz Inácio Lula da Silva e a liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes, do STF, disciplinando a condução coercitiva. Conhecíamos o chamado "argumentum ad hominem", que consiste em abandonar o objeto de debate para pôr em descrédito o debatedor. Eis que surge uma novidade no terreno das falácias: o "argumentum ad Lulam".

Nos círculos do inferno deste Dante da periferia, só uma categoria de abjetos disputa com a dos desleais os rigores da danação: a dos covardes. A covardia é um traço de caráter. Está em todos os lugares: no Congresso, na imprensa, nos tribunais...

A conspiração dos fracotes morais é um desastre civilizacional. Se ainda não o fizeram, leiam "O Primo Basílio", de Eça de Queirós. Imaginem um mundo governado por "Criadas Julianas", em que o ressentimento se finge de justiça; a mesquinharia, de remissão; o interesse argentário, de imperativo categórico.

Eis que começam a pulular na imprensa artigos supostamente isentos questionando a legitimidade de uma eleição sem Lula, dado que, nas pesquisas, ele aparece margeando os 40% no primeiro turno, vencendo por boa diferença, no segundo, todos os eventuais adversários. Incomoda-me menos a estupidez da especulação do que a... covardia. Olhem ela aí! Por que isso? Caso o petista se torne inelegível em 2018, será consequência da "Lei da Ficha Limpa".

Aragão diz que o PSDB titubeou

Raymundo Costa | Valor Econômico

Entrevista com o cientista político Murillo Aragão

BRASÍLIA - De um posto privilegiado em Brasília, o consultor e advogado Murillo Aragão faz uma espécie de necropsia do PSDB e prevê dias difíceis para Geraldo Alckmin e os tucanos na campanha presidencial. "Quando o centro precisou, o PSDB titubeou", diz Aragão, e observa que isso abriu uma avenida para novos postulantes como Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Henrique Meirelles (PSD-GO). "A base de apoio no Congresso não julga que deve ser solidária com o PSDB porque a recíproca não é verdadeira".

Todos os eventos políticos recentes foram seguidos "por dentro" pelo advogado, que assentou praça no centro nervoso da política em 1982. Aragão entende que o PT perdeu tempo ao não criar alternativa para Lula, que tem história para contar, mas pode não sair candidato. Ele não se preocupa com a autofagia entre os candidatos governistas e acha até que aumentou a chance de aprovação da reforma da Previdência.

"Quando o centro precisou, o PSDB titubeou"
O ritmo frenético da política congressual voltou a Brasília, após o longo inverno dos governos do PT, que pouco ou quase nenhuma importância davam aos demais partidos, sobretudo àqueles situados do centro para a direita. Desde a reeleição de Dilma Rousseff, em 2014, ocorreu o impedimento da presidente e seu sucessor, o vice Michel Temer conseguiu salvar o pescoço em duas sessões de tirar o fôlego da Câmara dos Deputados, sem falar de episódios com a destituição e cassação do mandato do ex-deputado Eduardo Cunha, as tentativas de "estancar a sangria" da Lava-Jato e a votação e não votação das reformas.

Todos esses eventos foram acompanhados "de dentro" pelo advogado Murillo Aragão, que assentou praça no centro nervoso da política em 1982 e transformou a Arko Advice numa das principais empresas de consultoria do país. Aragão, dono de uma carteira de quase 100 clientes, entre os quais uma dezena que frequenta o topo do PIB, disfarça, mas algumas vezes esteve no centro dos acontecimentos não só como observador, mas também como protagonista. Os principais telefones do Palácio do Planalto estão na sua agenda.

Desse posto privilegiado, Aragão faz a necropsia do PSDB, partido que em princípio deveria liderar o centro político, e prevê dias difíceis para o governador Geraldo Alckmin e os tucanos na campanha, o que abriu uma avenida para novos postulantes como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD-GO). "Quando o centro precisou, o PSDB titubeou", diz. "A base de apoio no Congresso não julga que deve ser solidária com o PSDB porque a recíproca não é verdadeira".

Ao contrário de Jair Bolsonaro, todos os pré-candidatos do centro têm uma narrativa para sustentar suas candidaturas. E Temer não deve ser esquecido. Aragão entende que o PT perdeu tempo ao não criar uma alternativa para Lula, que tem uma história para contar, mas pode não sair candidato. Ele não parece preocupado com a autofagia entre os candidatos governistas e acha até que melhoraram as possibilidades de aprovação da reforma da Previdência, provavelmente em março. "Interessa a todos os presidenciáveis".

Abaixo, trechos da entrevista que Aragão concedeu ao Valor, na tarde de terça-feira:

Valor: O fato de tantos pré-candidatos estarem busca do centro político não é significativo de que o centro não tem candidato nenhum?

Murillo Aragão: Naturalmente, o centro deveria ser liderado pelo presidente da República, que representa a nova maioria que assumiu o governo após o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Essa é uma realidade que decorre de um governo que, ainda que impopular, é politicamente operacional e tem uma base mais majoritária dentro do Congresso. Pode-se questionar, com uma nota de rodapé, se a base é suficiente para aprovar a reforma previdenciária ou não. Mas ela é uma base majoritária.

Valor: Se o presidente não lidera, alguém deveria liderar.

Aragão: Em decorrência dessa situação do presidente, o PSDB, que sempre foi o polo preferencial da disputa contra o PT, nesses últimos anos, teria que ter um entendimento com o presidente com vistas a sucessão. Isso seria o segundo desdobramento. O primeiro desdobramento é que condução do processo é do presidente, porque o presidente tem maioria na Câmara e lidera um governo que está bem posto, ou que está posto. Dois, como tradicional polo de oposição ao PT, o PSDB tem também uma certa primazia, o natural seria que houvesse uma entendimento entre esses dois polos.

'Precisamos de pacto fundado na Carta'

Por Malu Delgado | Valor Econômico

BRASÍLIA - Não há como conversar com Ayres Britto sem ter a Constituição de 1988 como protagonista. O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), cargo que exerceu entre 2012 e 2014, parece saber de cor todos os artigos do texto. Ela é a "mola ejetora" que pode tirar o Brasil do atoleiro, diz o jurista no "À Mesa com o Valor". Sua proposta para a eleição de 2018 é um pacto nacional fundado na Constituição, que completa 30 anos.

Um compromisso político e econômico, respaldado por empresários, dentro da lógica do "capitalismo social", aclamado na Carta. Seria uma saída, o "óbvio ululante", diz, para nos livrarmos do "atoleiro e acertarmos o passo das nossas instituições". O ex-ministro deixa escapar, sutilmente, entusiasmo por uma candidatura do colega Joaquim Barbosa. Sobre sua própria candidatura à Presidência, Britto diz que lhe falta "pulsão" para a empreitada e que seria mais natural um nome surgir da própria esfera política. "Não sou hipócrita. Meu nome tem surgido. Fico feliz, desvanecido, agradecido, honrado etc., mas tenho que dizer o seguinte: para isso é preciso pulsão, vontade", diz. "Eu não tenho essa pulsão. Não me disponho oferecer meu nome."

O pacto do poeta
A causa do atraso explica muito sobre a personalidade de Carlos Ayres Britto. Enquanto é aguardado em um restaurante vegetariano em Brasília, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) telefona avisando que teve um imprevisto, mas logo chegaria ao local. O "imprevisto", descobriria-se algum tempo depois, era um ipê, de floração amarela, há muito residente na casa do ex-ministro na capital federal. Quando finalmente já estávamos almoçando no restaurante Villa Vegana, Ayres Britto, com seu forte sotaque sergipano e uma serenidade ímpar incutida na voz, esclareceu a questão: "Olhe, vou lhe dizer. Teve chuva de raios aqui em Brasília há poucos dias. E afetou muito um ipê nosso, que tombou por cima das grades da entrada da nossa casa. E eu estou tentando salvar o ipê, eu e a minha mulher. Gostamos muito dele, tem ninho de passarinho há muitos anos".

Depois de contar sobre os cuidados especiais com alguns passarinhos que não conseguiram voar e também sobre o casal de corujas que mora em seu quintal, o jurista, cujo nome desponta como uma possibilidade para a eleição presidencial deste ano - mais provavelmente numa composição de chapa, como vice -, comemora: "Pois hoje finalmente encontramos uma saída para o ipê. Vamos replantá-lo lá no quintal da casa. E estou muito feliz. Se eu não salvasse esse ipê, me sentiria cometendo crime de 'ipeculato'", concluiu, dando suaves risadas por causa do providencial neologismo penal.

Ayres Britto sente-se à vontade no local. Ele e sua mulher, Rita, são frequentadores habituais do aprazível restaurante vegetariano, localizado entre árvores, dentro de um clube no Lago Sul, região onde a cúpula do poder costuma viver em Brasília. O gerente avisa que "o ministro" já tem lugar cativo no restaurante, mas para este "À Mesa com o Valor" optamos por outra mesa maior, até porque o convidado trouxe um amigo e ex-juiz como companhia. Vegetariano há três décadas, ele próprio explica o funcionamento do bufê do restaurante. Sugere uma caminhada após almoço para a conversa ser ainda mais agradável, mas a chuva incessante no território candango naquela tarde faz com que o plano seja revisto.

Meirelles mantém ambição por Planalto

‘Não parei ainda para pensar se já sou 70% candidato ou 10%, ou 30%’, diz ministro após Temer afirmar que o prefere à frente da Fazenda

Eduardo Rodrigues / O Estado de S. Paulo.

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou ontem que não parou “para pensar” se será candidato à Presidência. “Não parei ainda para pensar se já sou 70% candidato ou 10%, ou 30%. Tenho que assegurar que a economia continuará crescendo, o resto a realidade dirá. Minha ideia é estar totalmente concentrado no trabalho.”

A declaração foi dada no dia seguinte ao presidente Michel Temer afirmar ao Estado que prefere que Meirelles continue na Fazenda até o fim do governo a disputar a eleição. O ministro vem tentando se viabilizar como candidato de centro apoiado pela maioria dos partidos da base de Temer. Nesse cenário, disputa nos bastidores com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Meirelles insiste que só decidirá sobre a candidatura no início de abril, quando termina o prazo para que ministros que vão concorrer deixem o cargo. “No prazo legal, terei que decidir se continuo onde estou ou se saio”, afirmou pela manhã à Rádio Bandeirantes de São Paulo.

À noite, a agência de classificação de risco S&P Global rebaixou a nota de crédito do Brasil de BB para BB- (três degraus abaixo do grau de investimento). Pesaram na decisão o atraso no avanço das reformas, principalmente a da Previdência, e a incerteza política no País. Meirelles vem atuando no governo como um dos principais articuladores da reforma da Previdência, que teve a votação na Câmara adiada para fevereiro. Maia também tem buscado apoio para tentar aprovar a proposta.

Experiência. Ao tratar das reformas na área econômica, Meirelles disse que é importante que continuem e afirmou que cargos relevantes devem ser ocupados por pessoas com experiência na vida pública. Segundo ele, o processo eleitoral será uma oportunidade para o País amadurecer.

“O crescimento econômico dá oportunidade para a população começar a olhar o País. O povo tem sabedoria e teremos condições para cada vez mais fazer melhores escolhas.” Questionado se seu conhecimento no comando da economia seria suficiente para reverter a falta de popularidade – ele não tem ultrapassado 2% em pesquisas de intenção de votos –, o ministro da Fazenda admitiu que esse será um dos pontos a avaliar.

Mesmo após fala de Temer, DEM vê Maia como alternativa

Em entrevista ao ‘Estado’, presidente afirmou que deputado tende a buscar a reeleição na Câmara e elogiou Geraldo Alckmin

Igor Gadelha, Julia Lindner / O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Líderes do DEM veem a candidatura do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), como uma das principais alternativas do bloco governista. Os dirigentes minimizaram as declarações do presidente Michel Temer, que avaliou que Maia tende a disputar a reeleição à presidência da Câmara e elogiou o governador tucano Geraldo Alckmin.

Para o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), a entrevista de Temer ao Estado “não significa apoio ou não do governo” a uma candidatura Maia, mas um “posicionamento de debate”. “Com a candidatura do Maia se consolidando, ela talvez seja a mais capaz de reunir apoio de legendas que compõem a base do governo”, afirmou o dirigente.

Efraim considerou ainda que o Palácio do Planalto tenta manter Maia e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, focados na agenda econômica para “não antecipar” o debate sobre a eleição, mas que isso será inevitável. “É algo irreversível que esses debates se iniciem na retomada dos trabalhos de 2018. É natural, mas não acredito que ele (Temer) consiga definir o rumo do debate. Cada vez mais a agenda política vai ser protagonista.”

O presidente do DEM, José Agripino (RN), disse que as legendas têm direito de, neste momento, tentar viabilizar candidaturas. “Rodrigo Maia, como está tendo uma exposição bastante marcante, e tem se manifestado com acerto, adquiriu muita visibilidade. Ele não se coloca como candidato, mas, queiram ou não, ele é uma alternativa.” Agripino, no entanto, ponderou que todos os movimentos em torno de uma candidatura do presidente da Câmara ainda “têm que amadurecer”.

Agenda. Maia tem intensificado articulações em busca de apoio de partidos do Centrão para viabilizar uma possível candidatura. Ontem, ele se reuniu com o ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP), que comanda o PR, e almoçou com o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD).

Temer tenta recuperar influência sobre eleição

Marina Dias, Daniel Carvalho, Gustavo Uribe / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Sob risco de ficar isolado na sucessão presidencial, Michel Temer decidiu fazer gestos públicos aos principais atores de seu bloco político para tentar recuperar influência na construção das alianças da próxima eleição.

Nos últimos dias, o Planalto deu sinais de reaproximação com Geraldo Alckmin (PSDB), enquanto apresentou restrições a uma possível candidatura de "[HenriqueMeirelles]":http://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/01/1949636-meirelles-diz-que-vai-avaliar-ate-que-ponto-ha-condicoes-para-candidatura.shtml(PSD) e tentou erguer barreiras às articulações de (DEM).

A ideia original de Temer e seus auxiliares era organizar, em parceria com Maia, uma coalizão única dos partidos governistas. Esse grupo lançaria um candidato para defender a gestão do presidente e disputar com o tucano o eleitorado localizado mais ao centro do espectro político.

Os principais ministros de Temer estavam incomodados, desde o fim do ano passado, com o fato de Alckmin ter acelerado as negociações com parte dessas siglas de maneira isolada, minando a unidade do bloco.

Além disso, os aliados do presidente acreditavam que os movimentos de Maia para tentar viabilizar uma candidatura majoritária reduziriam o protagonismo de Temer como líder dessa aliança.
Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", na quarta-feira (10), Temer tentou recuperar essa posição para as negociações que se darão nos próximos meses.

Ele minimizou a expectativa de seu ministro da Fazenda disputar a Presidência com apoio do bloco governista. "Ele seria um grande presidente, mas, para mim, é claro que é muito melhor que fique na Fazenda", disse.

Huck rejeita candidatura e diz que muita gente 'ouve o que quer'

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Após repercussão política de sua participação no "Domingão do Faustão" (Globo), o empresário e apresentador de TV Luciano Huck afirmou, na quarta (10), que não é "candidato a nada".

No domingo (7), Huck avaliou o momento como de "derretimento da classe política" e que as eleições de 2018 seriam uma oportunidade para "reocupar esse espaço". Também criticou os que defendem um "salvador da pátria" capaz de resolver os problemas do Brasil.

A fala entusiasmou quem já tinha desistido de sua candidatura à Presidência, aventada por partidos como o PPS. No Planalto, a participação no programa dominical foi recebida como um gesto político da emissora. Por fim, na terça (10), o PT acionou o TSE contra a entrevista, argumentando que se tratava de um suposto abuso dos meios de comunicação e de poder econômico.

"Como é um assunto sobre o qual poucas vezes opinei na TV, especulações de todo tipo voltaram a circular em torno do meu nome. Em tempos de terra arrasada na política brasileira, muita gente ouve o que quer, e não o que foi dito", escreveu Huck.

Em seguida, disse reforçar que não é candidato a nada e que continuará "tentando ser uma voz potente apoiando fortemente a tão necessária e esperada renovação politica no Brasil" participando de movimentos cívicos. "Em especial o Movimento Agora e o Renova BR", escreveu.

Maia cerca-se de conselheiros do mercado e academia

Por Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem amigos e consultores no mercado financeiro e na universidade, que ouve sobre assuntos de economia e para embasar suas opiniões sobre projetos em tramitação no Congresso, mas ainda não formou uma "equipe oficial" para redigir uma plataforma de governo, caso decida realmente concorrer à Presidência da República. O mais próximo disso será o novo programa partidário do DEM, focado na retomada do crescimento, empreendedorismo e segurança pública, a ser lançado na convenção do partido no fim de fevereiro.

Maia decidiu, no fim do ano, trabalhar para tentar viabilizar seu nome como candidato de "centro-direita" à Presidência da República com uma agenda de responsabilidade econômica para levar ao desenvolvimento. O demista vê uma "avenida aberta" para alguém que se posicione nesse campo, por enquanto sem um candidato favorito, e passou a admitir a possibilidade de concorrer, embora a decisão só deva ocorrer a partir de abril.

Dois partidos da base governista dizem que Maia deveria se candidatar: PP e Solidariedade. Ele tentar atrair outras legendas e se reuniu ontem com o principal dirigente do PR, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, mas afirma que a pauta foi apenas a reforma da Previdência. O PR, caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja candidato, deve apoiar o petista.

Míriam Leitão: Novo retrocesso

- O Globo

Rebaixamento pega governo e mercado de surpresa. O rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela S&P pegou o governo de surpresa. Na equipe econômica, a expectativa era que não houvesse qualquer decisão da agência este ano, por ser ano eleitoral, e também porque a reforma da Previdência continua em negociação no Congresso. A sequência de 11 altas seguidas na bolsa, há poucos dias, também mostra que no mercado o rebaixamento não era esperado.

No comunicado, a S&P culpou a classe política. Disse que o andamento das reformas está acontecendo em ritmo mais lento do que o previsto e que há baixo apoio para essa agenda no Congresso. Para que o país volte a ter sua nota elevada, diz a agência, será preciso que o novo governo eleito “se articule e implemente uma sólida e sustentável correção fiscal, com apoio do Congresso”. Ou que as reformas microeconômicas aprovadas recentemente deem um forte impulso no PIB que melhore as receitas do governo.

O rebaixamento é uma derrota para a equipe econômica. Recentemente, o próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se reuniu com integrantes da Standard & Poor’s para apresentar os avanços conseguidos pelo governo. A notícia enfraquece o ministro, que se apresentava como uma pessoa com trânsito internacional, e pode dificultar suas aspirações para se candidatar à Presidência. A possível candidatura de Meirelles, na verdade, não ajudou em nada até aqui o andamento das reformas e começou a gerar atritos com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que também se articula como pré-candidato.

Fernando Dantas: O governo é o PIB

- O Estado de S.Paulo

Setor público representa metade ou mais da economia em 20% dos municípios

Um em cada cinco municípios brasileiros tem a administração pública como responsável por metade ou mais do PIB local. Em números precisos, encaixam-se nesse caso 1.146 dos 5.570 municípios do Brasil. Os dados são do IBGE.

O recordista é o município de Uiramutã, em Roraima, com 82% de participação da administração pública no PIB, e que constitui de fato um caso especial. Com apenas 9,3 mil habitantes, Uiramutã fica no extremo Norte do Brasil, dentro da terra indígena Raposa Serra do Sol, e tem um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do País. Nessas condições, é compreensível que não haja muito mais PIB no município do que aquele derivado do setor público.

Mas a quantidade de municípios brasileiros altamente dependentes da administração pública como principal suporte da economia é alarmante.

Vinicius Torres Freire: Nota vermelha para o Brasil quebrado

- Folha de S. Paulo

Um dia depois da festinha da inflação baixa, o governo vai ficar de ressaca por causa de uma bebedeira velha, o monte de dívidas que cresce sem parar.

A S&P, uma dessas firmas que classificam o risco de calote de empresas e países, rebaixou de novo a nota do governo do Brasil pelos motivos de sempre e sabidos. Não se aprovam reformas que equilibrem receita e despesa; mais do que isso, o Congresso não está nem aí para o problema. Além do mais, o Brasil cresce pouco.

Em suma, é como se uma Serasa global dissesse que estamos meio quebrados. Mas, enfim, todo o mundo com mais do que mingau entre as orelhas sabe disso. No ritmo em que vamos, 2019 será o ano do primeiro encontro com o colapso.

Nota de crédito mais baixa implica, em tese, custo mais alto para emprestar dinheiro; em tese, provoca mais reticências em quem tem ou administra dinheiro gordo.

O pesado custo lulopetista: Editorial/O Estado de S. Paulo

Os contribuintes brasileiros pagarão por um belíssimo aeroporto na cidade de Nacala, em Moçambique. O aeroporto opera com 4% de sua capacidade. Em sua pista de 3.100 metros pousam apenas dois jatos de médio porte por semana, transportando menos de uma centena de passageiros cada um. Este é um retrato bem acabado da incúria no manejo dos recursos públicos que marcou a triste passagem de Lula da Silva pela Presidência da República.

O premiado projeto do aeroporto, feito por um escritório de arquitetura paulistano, foi executado pela Odebrecht com recursos financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A obra custou US$ 125 milhões e deste montante o BNDES levou um calote de US$ 22,5 milhões do governo moçambicano, um rombo que será coberto com recursos do Tesouro Nacional.

Trata-se de mais uma conta imposta aos brasileiros pelo chamado capitalismo de compadrio que caracterizou a política econômica dos governos lulopetistas.

As empreiteiras brasileiras que hoje estão no centro da Operação Lava Jato viveram uma época áurea durante os mandatos de Lula da Silva e Dilma Rousseff. Entre outras políticas irresponsáveis e custosas à Nação, os ex-presidentes franquearam o acesso ao cofre do BNDES para que tais empresas expandissem, às expensas do distinto público, sua presença na África e na América Latina e para que os “países amigos” mais amigos ficassem.

É preciso resgatar a Embrapa: Editorial/O Estado de S. Paulo

Não é de hoje que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) sofre com desorientação, tanto do ponto de vista administrativo como estratégico. Uma das únicas empresas estatais que dependem exclusivamente de recursos do Tesouro Nacional para funcionar, a Embrapa vê-se perdida ante uma enorme pulverização de seus projetos de pesquisa – mais de mil ora em desenvolvimento –, estando poucos deles alinhados, de fato, com as novas necessidades dos produtores agropecuários.

Além disso, uma estatal com 10 mil servidores espalhados por 47 unidades, em quase todos os Estados, e com orçamento anual de cerca de R$ 3,5 bilhões deveria zelar melhor pelo emprego de seus recursos, sejam humanos ou financeiros, ao direcionar suas linhas de pesquisa tendo como norte o interesse público.

Anestesiadas por um passado de glórias – justificáveis, é importante frisar –, sucessivas direções da empresa, desde a década de 1990, foram incapazes de reagir à altura dos novos desafios que se lhes impuseram. Com a atual administração não parece ser diferente. A Embrapa, hoje, escora-se em uma suposta preponderância no sucesso do agronegócio brasileiro para se esconder sob o manto da excelência de outrora e pairar acima de qualquer escrutínio público, o que é absurdo, evidentemente.

A responsabilidade por esse estado de coisas recai em grande medida sobre o sr. Lula da Silva, que quando ocupou a Presidência da República aparelhou a estatal – mais uma – a fim de permitir a reorientação de seus projetos de pesquisa pautando-se por objetivos estritamente político-ideológicos, desviando o bom rumo que a empresa vinha trilhando para reposicioná-la na direção do agronegócio familiar.

Não por acaso, nada menos que dois terços do quadro de pesquisadores da Embrapa foram trocados por meio de concursos públicos realizados durante os governos lulopetistas. Cabe indagar que critérios levaram à seleção de novos pesquisadores pouco familiarizados com as reais necessidades da produção agropecuária.

Em um artigo escrito para o Estado (ver Por favor, Embrapa: acorde!, publicado em 5/1/2018), o sociólogo Zander Navarro, que foi um dos mais capacitados pesquisadores da Embrapa, expôs de forma muito consistente as razões que o levam a crer que a estatal está sob sérios dilemas administrativos e, ainda mais preocupantes, morais.

Moralidade deve contar nas nomeações: Editorial/O Globo

Argumenta-se que a Constituição dá prerrogativa ao presidente para nomear ministros, mas a Carta também estabelece a reputação como princípio a ser seguido

A acidentada nomeação para o Ministério do Trabalho da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), apadrinhada pelo pai, Roberto Jefferson, presidente do partido, é bem um retrato das mazelas da política brasileira, em que padrões éticos e morais são deixados em plano abaixo ao de objetivos políticos. No caso, algo até relevante, a reforma da Previdência, sem a qual o sopro de recuperação econômica se extinguirá em não muito tempo, devido ao estrangulamento das contas públicas.

A distorção do fisiologismo tem ficado mais visível com a fragilidade do governo de Michel Temer, que esgotou, ou quase, o estoque de benesses com o dinheiro do contribuinte, para conseguir que a maioria dos deputados barrasse duas denúncias contra ele envolvendo corrupção e encaminhadas ao Supremo pela Procuradoria-Geral da República. Conseguiu, mas perdeu substância política.

Os limites para a expansão da taxa de investimentos: Editorial/Valor Econômico

A reação dos investimentos no segundo semestre do ano passado foi um sopro de otimismo nas previsões para a economia brasileira. Medida pela formação bruta de capital fixo (FBCF), que compreende construção civil, máquinas, equipamentos, inovação e outros ativos fixos, a taxa de investimentos teve aumento modesto, é verdade, de apenas 1,6% no terceiro trimestre sobre o segundo. Mas foi a primeira alta depois de 15 trimestres consecutivos de baixa; e aposta-se que pode ser o ponto de virada, que vai garantir o crescimento sustentável.

Os investimentos começaram a perder força no terceiro trimestre de 2013, antecipando a retração econômica, e acabaram sofrendo um baque maior. Nesses quase quatro anos, a retração acumulada foi de 30%, enquanto o PIB teve recuo calculado em 8%. Somente em 2015, a queda da taxa de investimentos, foi de 13,9%; em 2016, de 10,2%; e a acumulada nos primeiros três trimestres do ano passado, de 3,6%.

Os crescentes déficits fiscais são uma das principais causas da diminuição dos investimentos porque afetam em cheio a capacidade do governo de investir. Os recursos públicos são cada vez mais absorvidos pelas despesas correntes, especialmente com o pagamento de benefícios previdenciários e folha salarial, limitando a capacidade de investimento. O adiamento da reforma da Previdência prolonga a situação, como atestam os últimos Orçamentos com investimentos cada vez mais reduzidos. Houve também reflexo das investigações de corrupção, que atingiram em cheio os projetos de infraestrutura. O clima de insegurança acaba repercutindo também na retração dos investimentos privados.

Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) a taxa de investimento está em 16,1%, o pior nível para um terceiro trimestre desde 1996, início da série história do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desde 2014, a taxa de investimento caiu abaixo do patamar de 20% do PIB, fechando 2015 em 18,1%; e 2016 menor ainda, em 16,4%.

Gravidade: Editorial/Folha de S. Paulo

Quanto vale o apoio do presidente mais rejeitado desde a redemocratização do país? Pois essa parece hoje uma oferta plausível a Geraldo Alckmin, provável candidato do PSDB ao Planalto.

O governador de São Paulo foi alvo de elogios significativos, dadas as circunstâncias, de Michel Temer (MDB) —que, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", também tratou com o devido ceticismo hipotéticas candidaturas de seu quintal brasiliense.

O ministro Henrique Meirelles (PSD), ponderou, tem mais a contribuir no comando da Fazenda; Rodrigo Maia (DEM-RJ) está testando seu potencial, mas há de trabalhar para se manter na presidência da Câmara dos Deputados.

Ou, em português menos sutil, nenhum deles dispõe de intenções de voto ou perspectivas realistas de crescimento nas pesquisas para alimentar tamanha ambição.

À medida que se aproxima o pleito, pretensões pessoais e devaneios partidários naturalmente dão lugar a cálculos mais pragmáticos.

A tese de que o governo terá candidato próprio, cara a Meirelles, perde credibilidade. Ministros e aliados dão a entender que consideram alguma aliança com um postulante disposto a defender a política econômica e as reformas.

Quanto a Alckmin, seu cuidado em manter distância de Temer data de antes do impeachment de Dilma Rousseff (PT). Advogou que o PSDB não participasse da administração; pouco se envolveu com os projetos polêmicos e nada com a defesa do mandato do emedebista.

Cecília Meireles: Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Clara Nunes - Abrigo de vagabundo