Em entrevista ao GLOBO, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), elencou entre suas prioridades a desvinculação das receitas engessadas no Orçamento, tema fundamental. O princípio que ele defende é correto. Como disse o próprio Lira, as democracias mais sólidas são aquelas em que o Legislativo mantém controle sobre o que é gasto e onde é gasto. Nosso Congresso, não é novidade, se tornou um mero carimbador de verbas, com quase todo o Orçamento já predeterminado pela legislação.
Mas
a desvinculação orçamentária ampla de que tanto se fala também não passa de
ilusão. Os gastos obrigatórios com salários do funcionalismo, Previdência e
assistência social não poderiam ser “desvinculados” sem uma alteração profunda
dos direitos gravados na Constituição. A proposta encaminhada no texto da PEC
Emergencial, que permite o remanejamento de gastos em saúde e educação em
estados e municípios sem compromisso com o piso mínimo, deverá ter pouco
efeito.
Sem uma reforma administrativa robusta e outras alterações constitucionais, pelo menos 90% do Orçamento continuam carimbados nas rubricas obrigatórias, incluindo aí custos ligados ao funcionalismo na Saúde e na Educação (a lei destina 15% da receita líquida da União à primeira, 18% à segunda). Maior item das despesas públicas primárias depois da Previdência, a folha dos servidores é blindada contra cortes pela estabilidade dos funcionários e ainda cresce vegetativamente pelas promoções automáticas por tempo de serviço e outras benesses.