quinta-feira, 17 de março de 2011

Reflexão do dia – Declaração de Março de 1958 - PCB

As forças novas que crescem no seio da sociedade brasileira, principalmente o proletariado e a burguesia, vêm impondo um novo curso ao desenvolvimento político do país, com o declínio da tradicional influência conservadora dos latifundiários. Este novo curso se realiza no sentido da democratização, da extensão dos direitos políticos a camadas cada vez mais amplas.

A democratização do regime Político do país, que tomou impulso com os acontecimentos de 1930, não segue o seu curso em linha reta, mas, enfrentando a oposição das forças reacionárias e pró-imperialistas, sofre, em certos momentos, retrocessos ou brutais interrupções, como sucedeu com o Estado Novo, com a ofensiva reacionária de 1947 ou por ocasião do golpe de 1954. Mas o processo de democratização é uma tendência permanente. Por isto, pode superar quaisquer retrocessos e seguir incoercivelmente para diante. Vem-se firmando, assim, em nosso país, a legalidade democrática, que é defendida por amplas e poderosas forças sociais.

A Constituição promulgada em 1946 encerra traços reacionários que resultaram da correlação de forças existente na época de sua elaboração e expressam aspectos retrógrados da estrutura econômico-social brasileira. Ao mesmo tempo, a Constituição consagra as liberdades democráticas e os direitos sociais das massas alcançados após a derrota mundial no nazi-fascismo e do Estado Novo em nosso país: as liberdades de expressão, inclusive de imprensa, de reunião e de organização, o direito de greve, etc. As massas trabalhadoras das cidades têm obtido vitórias na justa luta pela concretização de seus direitos já consolidados em lei, como a liberdade sindical, a previdência social e outros. A democratização do país também influi, menos acentuadamente, nas zonas rurais, onde o tradicional despotismo dos grandes senhores de terra é obrigado a ceder terreno, conquanto ainda perdure. Os atentados cometidos pelos elementos reacionários do aparelho do Estado encontram a resistência cada vez mais eficiente das massas na defesa das liberdades e dos direitos constitucionais. Tudo isso explica por que, no curso da vida política recente do país, as forças nacionalistas e democráticas se colocaram ao lado da Constituição, como sucedeu a 24 de agosto de 1954 e a 11 de novembro de 1955, ao passo que as forças golpistas pró-imperialistas atentaram contra ela.

PCB. Declaração de Março de 1958 – Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro, março, 1958

A janela de Kassab :: Merval Pereira

Queira ou não o prefeito paulistano, Gilberto Kassab, seu movimento de criação de um novo partido acabou sendo entendido pelos políticos como a concretização de um sonho, a tal "janela" para permitir a mudança de legenda sem que o trânsfuga seja atingido pelas sanções da lei de fidelidade partidária.

No que parecia uma maneira de resolver uma questão paulista - a disputa de espaço para uma candidatura ao governo de São Paulo em 2014 -, o futuro Partido da Democracia Brasileira (PDB) acabou se transformando em um desaguadouro de insatisfações em diversos partidos pelo país: PV, PP, PTB, PR e assim por diante.

Muitos políticos que estão desconfortáveis em seus partidos viram nesse projeto a possibilidade de se organizar. O grande problema é de ordem prática: a indefinição sobre o tempo de propaganda gratuita em rádio e televisão na próxima eleição municipal está contendo o ímpeto inicial de adesões.

A eventual fusão a médio prazo com o Partido Socialista Brasileiro (PSB), que cresceu em 2010, tornou-se uma espécie de sonho de consumo dos que se preparavam para embarcar no projeto de Kassab.

O partido cresceu na sua representação legislativa tanto na Câmara, onde passou de 27 deputados federais para 34, quanto no Senado, onde elegeu três novos senadores.

Mas foi nos governos estaduais que o PSB aumentou mais seu cacife. Depois do PSDB, foi o partido que mais elegeu governadores, seis ao todo, sendo quatro no Nordeste: Ceará, Pernambuco (reeleitos), Paraíba e Piauí, além de Amapá e Espírito Santo, representando quase 15% do eleitorado.

O PSB não é um partido que tenha a cultura de confrontação, e as arrumações partidárias nos estados podem ser feitas sem grandes traumas.

Mas também não quer receber em suas fileiras qualquer um. O governador Eduardo Campos (PE) teve conversas francas com Kassab e com o governador catarinense, Raimundo Colombo, e colocou algumas barreiras de entrada.

O projeto específico de São Paulo pode ser a solução que o partido está procurando desde que tentou algumas opções como a ex-prefeita Luiza Erundina ou mesmo o projeto de Ciro Gomes ser candidato ao governo, que acabou fazendo água.

O fato de Kassab ser um político tradicional, sem ligações históricas com a linha política do PSB, não interferirá na possível união política, questão superada pelo fato de o prefeito ser um político de gestão modernizadora, com méritos na relação com o eleitorado, que reconheceu seu trabalho, e na limpeza da Câmara paulista.

O estranhamento que essa mudança provoca, com o PSB contando em suas fileiras com políticos como Gabriel Chalita, o próprio Kassab, o empresário Paulo Skaf, que foi candidato ao governo paulista, foi discutido abertamente pelo governador Eduardo Campos, provocado pelo próprio governador Colombo (SC), um dos "estranhos no ninho".

Para Eduardo Campos, a tradição do PSB sempre foi a de ter um núcleo que segura o eixo estratégico do seu pensamento, mas ser aberto o suficiente para abrigar parceiros dessa luta.

O PSB foi um partido que sempre defendeu frentes políticas, relembra o governador, que abrigou em determinados momentos pessoas "que não necessariamente eram socialistas, mas eram democratas, liberais, pessoas que abraçavam valores que nos são caros, como a democracia, a liberdade. Esse é um processo que vem de nossa tradição".

Ele admite que muitos se referem ao estatuto de 1947 para renegar essas filiações, mas diz que o estatuto "já não está posto para essa nossa realidade, o mundo mudou, as circunstâncias são outras, a discussão é outra, a forma de trabalho é outra".

Na definição de Campos, o PSB não é de confrontação, mas de acumular forças para melhorar a vida do povo. "Fazer isso se isolando, ficarem cinco intelectuais e meia dúzia de sindicalistas radicais querendo botar o mundo de cabeça para baixo, pode redundar num mandato de vereador, eventualmente numa bancada de deputados, mas, para a sociedade, no que vai resultar?", indaga.

Esse "falso radicalismo" impede avanços, e hoje as alianças têm que ser feitas por dentro dos partidos, por que as coligações tendem a acabar, explica Campos.

Para o governador de Pernambuco, se um partido "pretende expressar a sociedade plural que temos, tem que ter dentro de si essa diversidade".

Ser de esquerda no interior da Amazônia é a mesma coisa que ser de esquerda em Ipanema?, indaga Campos, para exemplificar a diversidade que o PSB quer espelhar.

Mas há limites: "Tem que ter princípios, não pode ser corrupto, patrimonialista. Quem tiver espírito público, que seja democrata, que tenha vinculação com os valores democráticos, será bem aceito", define.

Em 2014, ele garante que o PSB estará na base de sustentação da presidente Dilma, "ajudando a que faça um bom governo para que tenha condições de disputar a reeleição".

Ele diz que já conversou com Lula a respeito, e acha que é bom para o país, é bom para o presidente Lula, que Dilma dispute a reeleição.

Com relação ao futuro, as contradições com o velho PT nos estados podem chegar ao ponto do insuperável, porque o PT não está se renovando, não tem um governo-símbolo de um padrão inovador.

Essa maneira de fazer política, com o aparelhamento do Estado sem levar em conta a boa gestão pública, não resiste ao tempo, na opinião de Campos.

"O mundo real vai se sobrepor ao mundo dessa política partidária menor, e a dinâmica da própria sociedade vai exigir outro comportamento. Essa massa que está sendo incluída é uma faca de dois gumes para esse tipo de prática política", diz ele

Eduardo Campos diz que percebe que "a polaridade (PT-PSDB) que São Paulo exporta está se esgotando no estado e vai se esgotar no Brasil". Ele trabalha o futuro político com parcerias com jovens políticos de sua geração, especialmente o ex-governador de Minas e senador Aécio Neves. Se não estiverem juntos em 2014, em algum momento estarão.

FONTE: O GLOBO

Pela tangente:: Dora Kramer

Os primeiros acordes acerca da reforma política no Senado não recomendam a qualidade da sinfonia. O debate começou com dois bons temas: mudança da data da posse de presidentes, governadores e prefeitos, e alteração nas regras para os suplentes de senador.

A agenda é boa, mas a abordagem deixa a desejar.

Pelo menos quanto ao assunto mais polêmico e, por assim dizer, defeituoso: os suplentes sem voto que em determinada altura da legislatura passada foram quase 20% do Senado. Na ditadura, os senadores biônicos (indicados pelos respectivos partidos) eram um terço da Casa.

A mudança da data da posse, desde a Constituinte de 1988 instituída em 1.º de janeiro por inspiração do então deputado José Serra para que o ano fiscal coincidisse com o início do mandato dos chefes de Poderes Executivos, é um razoável consenso.

Portanto, quando o Senado propõe que a posse dos governadores e prefeitos da próxima eleição em diante seja no dia 10, e a dos presidentes, em 15 de janeiro, atende a uma demanda da realidade.

Já quando aborda a questão dos suplentes o faz à moda e ao molde dos interesses da Casa, produzindo um remendo que não conserta o principal e mantém os senadores sem voto.

A proposta da comissão de reforma política tangencia, mas não resolve o problema. Sugere a extinção do segundo suplente (hoje cada titular tem direito a indicar dois suplentes sem nenhum tipo de restrição) e propõe que o primeiro assuma o mandato apenas até a eleição seguinte.

Qualquer uma, não precisa ser de senador, pois a eleição seria específica para o caso em questão, aproveitando a estrutura da Justiça Eleitoral.

Impõe também a proibição de que os indicados sejam parentes até segundo grau. Hoje há uma profusão de filhos, pais, mulheres e maridos indicados para as suplências.

Nada diz sobre financiadores de campanha que também costumam ocupar essas vagas.

A despeito da existência de propostas sobre o fim puro e simples da suplência tal como é concebida hoje, a comissão preferiu optar por um meio-termo que não extingue o mal maior: o senador sem voto.

Este continuará com assento garantido numa instituição de representação popular, subvertendo completamente o sentido da democracia representativa.

Inclusive porque suas excelências estão prevendo duas categorias de suplente: o que assume temporariamente quando o titular for eleito prefeito, governador ou presidente, e o que substitui da mesma forma como acontece hoje, quando o eleito assumir um cargo por indicação. Ministro ou secretário de Estado, por exemplo.

Nesse diapasão a reforma política caminha para mudar a fim de que tudo continue como está.

Da corte. Por qualquer ângulo que se olhe é inexplicável a cantora Maria Bethânia ter pedido e o Ministério da Cultura ter concedido R$ 1,3 milhão para a criação de um blog.

Que os artistas tenham decidido se afastar da vida política do País entende-se: há receio de patrulha e ninguém é obrigado a se posicionar nem mesmo diante da destruição de valores e, consequentemente da cultura, de uma nação.

Agora, que recorram ao dinheiro público, como essa de Bethânia e tantas outras demonstrações de desfaçatez por parte de diversos artistas que se aboletam nas almofadas do poder, é indefensável e condenável sob todos os aspectos.

Apesar disso, há quem defenda apenas porque supostamente seria o que se espera de quem se alia ao governo. Tipo do alinhamento desprovido de discernimento. Para não dizer burro.

Noves fora. Ao fim e ao cabo é irrelevante o que acha ou deixa de achar o Exército a respeito da criação da Comissão da Verdade, cujo objetivo seria o de recuperar e contar a história real dos anos de regime militar.

Desde a criação da pasta da Defesa para consolidar a supremacia do poder civil sobre as Forças Armadas, o que vale é a posição do ministério. No caso, favorável por obra de um acordo com o Planalto.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

A aposta errada num partido de mentira:: Maria Inês Nassif

Onde foi que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, errou, para saltar praticamente sozinho de um DEM em extinção? O primeiro grande erro talvez tenha sido o de subestimar o fator ideológico, na articulação de uma saída política para si mesmo, mas que pudesse catalisar também parcelas do DEM que tentam sobreviver ao efeito Lula sobre o eleitorado de baixa renda, principalmente nos Estados mais pobres. O segundo, o de superestimar o poder de atração de sua liderança, num partido de cobras criadas, acostumadas a articulações de bastidores e na arte da sobrevivência. Errou também na tática para arregimentação dos desvalidos políticos do seu e de outros partidos, quando passou a publicizar reuniões supostamente secretas com dirigentes de partidos políticos das mais variadas colorações, e das quais "vazava" acirrado interesse pela sua adesão. Os balões de ensaio afunilaram na opção PSB, pela via de um Partido Democrático Brasileiro (PDB), também publicizado como uma legenda de ocasião, capaz de levar o grupo à adesão ao partido socialista sem o risco de incorrer nos rigores da lei de fidelidade partidária.

O caminho de Kassab seria lógico se não existisse uma hegemonia do grupo do governador Geraldo Alckmin no PSDB paulista, e se o ex-governador José Serra não tivesse sofrido tamanho desgaste interno com a segunda derrota numa disputa pelas eleições presidenciais. Kassab é Serra, simplesmente isso. A complicação que se armou a partir disso foi dada pelas urnas e pelos conflitos que Serra provocou, ou não soube evitar, durante a campanha eleitoral, com integrantes de seu partido e com os aliados do DEM. O caminho do Kassab em direção ao PSDB, no entanto, foi obstruído por uma contingência regional - a hegemonia de Alckmin em São Paulo - que afeta o prefeito diretamente, e uma contingência nacional - a inegável conquista de espaço pelo senador Aécio Neves, talvez não ainda por mérito próprio, mas pelos conflitos internos irrompidos durante a campanha de Serra. Um Kassab cujo destino político naturalmente tenderia a uma incorporação ao PSDB, que teria resistências muito menores por parte do DEM nacional, acabou envolvido numa missão política de afastar o DEM "aecista" de um PSDB nacional cada vez mais "aecista", e de um PSDB paulista "alckmista" e, em consequência, também "aecista". Pode ter conseguido exatamente o contrário: aproximar ainda mais as lideranças demistas do PSDB de Aécio Neves. Se houver uma incorporação do DEM ao PSDB, agora, será um movimento em torno da liderança do ex-governador mineiro.

A ginástica feita por Kassab para viabilizar-se na política produziu tantos efeitos colaterais que dificilmente o favorecerão, nacionalmente ou regionalmente. Kassab prosperou junto ao eleitorado conservador, aliado a um PSDB que conquistava cada vez mais essa faixa do eleitorado. Venceu as eleições para a prefeitura no auge de popularidade de Serra, a quem sucedeu, como vice, na prefeitura, e de quem teve o apoio, como governador, quando disputou a reeleição para a prefeitura, em 2008. Funcionou, todavia, como uma "sublegenda" serrista do PSDB, mais do que como uma liderança do DEM. O DEM paulista tem dificuldade de existir sem o PSDB, porque o partido de Alckmin é hegemônico no Estado e conta com a lealdade dos setores de classe média mais conservadores, com peso eleitoral importante. Serra, todavia, parece ter sido rapidamente varrido do mapa partidário do Estado após a sua derrota nas eleições presidenciais e a vitória de Alckmin para o governo do Estado. Alckmin, que tinha a maioria dos diretórios do interior, mas não desfrutava nem de maioria, nem de prestígio, no diretório da capital, conseguiu movimentar-se rapidamente e hoje domina o partido em todo o Estado. Numa convenção nacional para escolher um candidato tucano para presidente, em 2014, seria voto certo para Aécio. Kassab, sem o padrinho Serra, perde o poder de rachar o PSDB paulistano, façanha que conseguiu em 2008, e não tem nenhum poder de negociação com o PSDB paulista, onde Alckmin reina sem concorrentes.

A "guinada" à esquerda, tentada na negociação de adesão ao PSB, com uma baldeação pelo PDB, é uma tentativa de conquistar outro eleitorado, na impossibilidade de concorrer com o PSDB pelos votos conservadores de São Paulo. Mas, nacionalmente, afugentou os integrantes de um partido que, embora tradicional, tem um conteúdo ideológico já solidificado e nenhuma vergonha de ser de direita. Em vez de ver o PDB como uma opção à extinção, os políticos demistas que poderiam fechar com Kassab passaram a vê-lo como um risco maior. A senadora Kátia Abreu (TO), por exemplo, embora tenha sérios problemas políticos no seu Estado, é uma liderança conservadora importante, o que atraiu eleitorado correspondente. Uma pessoa com a biografia do ex-senador Marco Maciel (PE) também ficaria incomodado com o futuro anunciado para o PDB, o PSB, até porque é adversário local do presidente do partido socialista, o governador Eduardo Campos. Uma opção de adesão ao governo, ou ao socialismo, também não atrai um político com o passado do ex-senador Jorge Bornhausen (SC).

Pode parecer meio esquisito, mas é por estar na órbita de influência de Serra que Kassab achou que o caminho mais fácil era aderir a um partido da base governista, e de esquerda. Pensou paulista, quando o DEM apostava que despontaria como uma liderança nacional.

O perito federal agrário Elias Vieira de Menezes, em e-mail, registrou que, na coluna da semana passada, a observação de que mudanças na estrutura do Incra podem "encontrar resistências corporativas de funcionários do instituto, que atuam na ponta burocrática" pode induzir o leitor a generalizar que todos os servidores do Incra são burocráticos e contra mudanças. Não foi essa a intenção. O corpo técnico do Incra é que tem salvado o instituto do desastre do reparte partidário das superintendências estaduais. E, como registra o leitor, ganhando os piores salários do governo federal.

Maria Inês Nassif é repórter especial de Política.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Para que servem as democracias?:: Clóvis Rossi

O Ocidente sempre fez sermões ao mundo a respeito da necessidade de democracia, em especial no mundo árabe/muçulmano, em que ela não existe em parte alguma ou foi esporádica.

De repente, pipocam rebeliões pró-democracia um pouco em toda a parte desse mundo fechado, inclusive na Líbia, governada com mão de ferro por Muammar Gaddafi faz 42 anos.

Gaddafi reage da única maneira que sabe fazer: matando. Aí, as potências ocidentais ficam fazendo uma advertência atrás da outra a Gaddafi, que nem dá bola.

A reação das democracias é patética: ficam discutindo eternamente se é ou não o caso de fechar os céus da Líbia aos aviões que bombardeiam os rebeldes, se é ou não o caso de armá-los ou, enfim, se há alguma outra coisa a fazer, além de ameaças puramente verbais, para evitar a vitória de Gaddafi, cada vez mais iminente.

De repente, enquanto as democracias falam, a Arábia Saudita manda tropas para sustentar outra autocracia, a do Bahrein, igualmente sitiada por protestos. Não pede autorização para ninguém, não discute se é ou não necessária uma decisão do Conselho de Segurança da ONU, nada. Age, simplesmente.

É verdade que teve o respaldo do Conselho de Cooperação do Golfo, mas é uma coleção de autocracias.

O contraste é avassalador. Se Gaddafi vencer, a democracia ficará desmoralizada e o sinal enviado ao mundo árabe será demolidor. Ficará claro que as democracias só são solidárias de boca com quem diz lutar por ela. Já as ditaduras, essas sim, respaldam sem qualquer escrúpulo os ditadores vizinhos.

Se e quando os rebeldes de hoje decidirem que o melhor a fazer é buscar a solidariedade dos fundamentalistas islâmicos, já que não conseguem outra, o Ocidente não terá o direito de vir com a ladainha de que os árabes não têm mesmo vocação democrática.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Clima de surpresa:: Eliane Cantanhêde

No Egito, Barack Obama produziu manchetes mundo afora acenando com um novo patamar nas relações dos EUA com o mundo árabe. Na Índia, anunciando apoio à inclusão do país como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. E no Brasil?

A dois dias da chegada do presidente norte-americano a Brasília e a três de seu discurso à la Evita na Cinelândia, no Rio, o que se vê é uma disputa de versões elegantes e tangenciais pela imprensa.

Na versão brasileira, o Planalto sonha com medidas para reverter a balança comercial, que já foi favorável ao Brasil em quase US$ 10 bi em 2006, deu uma cambalhota e chegou a um deficit beirando US$ 8 bi em 2010. Na americana, a intenção de Obama é aprofundar as exportações para o Brasil, que geram 250 mil empregos em solo gringo.

Na versão brasileira, a questão da cadeira permanente no Conselho da ONU só vai receber uma referência indireta e burocrática no Comunicado Conjunto. Na americana, pode haver surpresas, e o presidente anunciar algo mais consistente para afagar o ego brasileiro.

Na versão brasileira, o Comunicado Final vai fazer referência ao "interesse comum" e à "parceria" dos dois países na área de energia -petróleo, gás e biocombustíveis. Na americana, é algo bem mais concreto, que envolve muitas verdinhas nos próximos anos: a compra antecipada de petróleo do pré-sal. Ou seja, uma espécie de garantia de preferência, como a China já obteve em outras épocas.

As versões do Brasil e dos EUA só coincidem numa coisa: Obama está louco para gostar de Dilma, Dilma está louca para gostar de Obama, e assim começarem novos tempos nas relações entre Brasil e EUA, superando as dificuldades de quando o presidente aqui era "o cara".

Ao mostrar que quer novos tempos com o Brasil, Obama estará sinalizando ao mundo o que quer com toda a América Latina. Se isso é só da boca para fora, o tempo dirá.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Sol levante :: Míriam Leitão

A tragédia humana é sempre maior, mais importante e dolorosa do que qualquer efeito econômico. Com esta noção e respeito é que trato neste espaço das consequências na economia do triplo inesperado japonês: terremoto-tsunami-acidente nuclear. É difícil medir o efeito porque ele se espalha de forma sistêmica, mas já se sabe que as perdas são gigantes e sequenciais.

Há a perda inicial da devastação da infraestrutura de produção de energia, de empresas e instalações industriais, de portos e estradas. Há uma perda da paralisia da produção de inúmeras empresas que estão na cadeia produtiva mundial, com a globalização. O Japão, por ter se especializado em equipamentos de alta tecnologia, é a peça-chave em inúmeros novos produtos, como o iPad 2, e a interrupção da produção e do escoamento atingiu mesmo áreas não afetadas pelos sinistros. Há a perda do racionamento de energia. Há o custo direto e indireto. Por ser país desenvolvido com um alto índice de bens assegurados, qualquer evento no Japão afeta diretamente a indústria de seguros, que terá, pelo que se calcula até agora, um dos maiores custos da História.

A economia japonesa está há décadas com baixo crescimento, mas isso não a faz menos importante. Só com a China, seu comércio é de US$300 bilhões. Isso é 10% do comércio chinês, mas é mais importante para o Japão do que para a China. Porém o problema novamente é a cadeia de suprimentos: do Japão, a China compra inúmeros produtos que compõem sua produção para a exportação, principalmente de eletroeletrônicos. Na área siderúrgica, estima-se que 20% da capacidade produtiva japonesa esteja comprometida. O país é importador de petróleo, mas é exportador de derivados. Sua capacidade de refino foi afetada, e os preços da gasolina no mercado asiático já estão com tendência de alta.

O professor Alexandre Uehara, das Faculdades Integradas Rio Branco, explica que a diferença da tragédia atual de outros eventos envolvendo terremotos é o impacto energético. Cerca de 30% da produção de energia elétrica do Japão tem como origem a fonte nuclear, e até mesmo usinas termelétricas foram afetadas. O impacto econômico é grande e o Banco Central japonês já indica que o país passará por dois trimestres consecutivos de retração econômica.

- O Japão está sofrendo uma crise energética. Temos um efeito cascata, com outras usinas nucleares paralisadas. Montadoras foram obrigadas a interromper a produção e não há perspectiva de se normalizar o fornecimento de energia. O BC japonês fala de recuperação a partir do quarto trimestre. Isso, levando em conta o cenário de o país voltar à normalidade e de não haver problemas grandes de radiação - afirmou.

Uehara explica que somado ao problema energético acontece o gargalo logístico. Com uma economia totalmente integrada, a cadeia produtiva japonesa se especializou em fornecimentos imediatos, sem a prática de formação de estoques. Com o terremoto, toda essa logística foi afetada e isso quer dizer que as empresas do Sul do país podem sofrer de falta de produtos, mesmo que não tenham sido atingidas diretamente. Outro problema é o alto endividamento do governo, que passa de 220% do PIB. Isso pode dificultar a reconstrução.

- Com o terremoto, mesmo quem quer trabalhar pode não conseguir. O Sul do país, mais industrializado, tem dependência do Norte por matérias-primas. A dívida pública também é entrave à reconstrução. O ponto positivo é que ela é doméstica, feita pelo governo com os próprios bancos japoneses - explicou.

Rodrigo Maciel, da Strategus Consultoria, estima que haverá efeitos sobre a economia chinesa porque o Japão é um dos principais parceiros comerciais da China. O risco é de um aumento de custos na produção, por falta de insumos e componentes para as indústrias chinesas.

- O Japão, ao lado de outros vizinhos asiáticos como Coreia do Sul e Taiwan, é um importante fornecedor de componentes e insumos eletrônicos para a linha de montagem chinesa, que, depois, exporta o produto final para o resto do mundo. O custo de produção na China, que vem sofrendo com os aumentos da energia e dos preços das commodities, poderá subir ainda mais para esses setores - afirmou.

O Itaú Unibanco acha que a economia mundial pode ser afetada pela crise japonesa por diversos canais: menor crescimento japonês; diminuição do comércio global; queda nas bolsas; aumento de custos com energia, principalmente por causa do petróleo, promovendo inflação. O resultado pode ser um PIB mundial mais fraco este ano.

O mercado "precifica" esses riscos, como se diz na linguagem das instituições financeiras, e por isso as bolsas estão em queda. Ontem, a Bolsa de Tóquio subiu, mas o índice americano S&P500 caiu e zerou os ganhos que tinha no ano. O efeito de um evento dessa envergadura, e ainda em curso, é difícil de quantificar. Após as três tragédias japonesas, a economia continuará nos próximos dias fazendo as contas do estrago em perda de investimento, paralisação da produção e do comércio, aumento do grau de incerteza. Só uma certeza se tem nestes primeiros dias de angústia: o mundo pode contar com a extraordinária capacidade de superação do povo japonês.

Como sempre, o sol se levantará no extremo oriente.

FONTE: O GLOBO

Mudar o paradigma?:: Celso Ming

Sempre que acontece um desastre como o de Fukushima, brotam em todo o mundo advertências de que os recursos do planeta Terra são finitos e que é preciso mudar drasticamente os padrões de consumo sob pena de colapso da economia mundial.

Antes mesmo do primeiro grave acidente nuclear, em Three Mile Island, em 1979, nos Estados Unidos, a obra Limites do Crescimento, publicada originalmente em 1972 por Dennis L. Meadows - histórico membro do Clube de Roma (fundado em 1968 pelo italiano Aurelio Peccei) - advertia para o esgotamento iminente do suprimento das matérias-primas e das fontes de energia. Não foi iminente, ainda não houve esgotamento e talvez nem haja. De lá para cá, muita coisa adiou esse apocalipse. Mais reservas foram encontradas, materiais escassos foram substituídos e a reciclagem cumpre o seu papel.

Em todo o caso, a advertência não foi esquecida. Como também não consegue ser inteiramente arquivada outra advertência, a do biólogo americano Edward Osborne Wilson, feita no início deste século: "Precisaríamos de mais quatro planetas Terra se for para sustentar toda a população do mundo aos padrões de consumo dos Estados Unidos". Esses e outros são os alarmes que ressurgem de tempos em tempos, quando algo sério acontece e chama à atenção para a finitude dos recursos dispostos ao predador humano.

Desde a Revolução Industrial do século 18, o consumo de energia no mundo passou a ser intensivo e vai crescendo a uma proporção superior a 2% ao ano.

Apesar da pregação intensa dos conservacionistas, a economia global não quer saber de mudanças de paradigma nos atuais padrões de consumo e, tampouco, de energia. Todos querem mais acesso à renda e à riqueza. Os dirigentes do mundo não falam em outra coisa senão em crescimento econômico e de emprego.

Até mesmo as lideranças das antigas esquerdas insistem em que mais gente tem de ser resgatada do submundo da pobreza e da exclusão. E isso, em princípio, requer mais e mais energia. Seria preciso que algo de muito grave acontecesse para que o mundo se dispusesse a viver em condições mais sustentáveis.

De todo modo, a partir desse acidente, cuja gravidade e desdobramentos ainda não são conhecidos, é de esperar agora que muita coisa mude.

Como os especialistas já vêm afirmando nas primeiras análises depois do que começou a acontecer em Fukushima, as atuais plantas nucleares em operação no mundo terão de ser revistas e novos projetos serão reforçados. Está ficando claro, também, que não vai dar para substituir na velocidade esperada a produção de energia elétrica por queima de fontes fósseis (petróleo, carvão e gás natural), hoje responsável por 71% da matriz energética global. No mínimo, a energia ficará crescentemente mais cara. No início de março, o ministro para o Desenvolvimento Internacional da Inglaterra, Alan Duncan, antevia o petróleo a US$ 200 por barril apenas com o agravamento da crise da comunidade islâmica. Se estiver certo, a economia mundial terá também de enfrentar um novo surto de inflação.

Outro projeto global que pode ficar ameaçado é o do carro elétrico. De que adiantará eliminar a produção de gases poluentes pelo escapamento dos carros se a produção de energia elétrica a ser consumida nos motores emitir os mesmos gases pelas chaminés das termoelétricas a carvão ou a óleo combustível?

CONFIRA

Só no mês que vem

No Centro-Sul, a safra da cana-de-açúcar só começa em fins de abril. Até lá, é baixa a probabilidade de que os preços do álcool se reduzam naturalmente para o consumidor.

Retificação

O frigorífico Mafrig não recebeu R$ 232 bilhões em financiamentos do BNDES, como saiu na Coluna de ontem. Recebeu R$ 232 milhões.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Kassab. Governismo depois de ambigüidade levou-o ao isolamento na convenção do DEM :: Jarbas de Holanda

A progressão dos passos de Gilberto Kassab, da fase de disputa do comando DEM (tendo em vista vinculá-lo a uma nova candidatura presidencial de José Serra e, no plano estadual paulista, ao lançamento de seu nome para a eleição de governador em 2014, com apoio do PSDB serrista ou contraposto ao de uma campanha reeleitoral de Geraldo Alckmin, como terceira via entre tucanos e petistas) para os desdobramentos da busca de espaço no PMDB, tentando substituir a liderança regional independente que era exercida por Orestes Quércia, e na sequência, para a associação do projeto pessoal ao deslocamento de seu grupo em direção à base governista federal, tal progressão terminou por privá-lo do respaldo que, pela importante condição de prefeito da principal metrópole do país, ele tinha de várias lideranças demistas, nacionais, de São Paulo e de outros estados, bem como do apoio que Serra lhe dava inicialmente. O isolamento se confirmou na convenção do partido ontem em Brasília, por meio da escolha unitária dos dirigentes – do senador José Agripino, para a presidência, da presença de Jorge Bornhausen e Marco Maciel, no conselho político, da permanência na legenda do governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, da senadora de Tocantins, Kátia Abreu, e da prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy Vera, e com o desligamento de apenas um dos mais de dez deputados federais que Kassab esperava já decidiriam acompanhá-lo na fundação do PDB, o partido-janela ou partido-ponte para novo alinhamento político, que está construindo.

Mas o grande interesse manifestado por quadros de vários partidos pelas articulações de Kassab evidenciou, não obstante o eficiente bloqueio que elas sofreram, a fragilidade política da oposição, sobretudo do DEM, de par com as limitações, para muitos desses quadros, representadas pelo peso do condomínio PT-PMDB no plano nacional e pela polarização PSDB-PT nas eleições presidenciais e em grande número de estados. Limitações que Kassab identificou bem e propõe-se explorar, para seu projeto paulista, através de uma composição com o expressivo
PSB nordestino de Eduardo Campos. Numa perspectiva que o orienta a deslocar-se para o campo de apoio ao governo Dilma Rousseff. No qual espera poder afirmar-se como opção mais competitiva que a de um candidato petista para o enfrentamento dos tucanos. E onde, obviamente, terá de sacrificar sua relação especial com o serrismo. Perspectiva de cenário oposta a de um revigoramento da oposição – com possível fusão do DEM e do PPS ao PSDB – em torno da candidatura presidencial de Aécio Neves, articulada com a de Geraldo Alckmin para o governo paulista.

Dilma/Obama. Em vez do ideologismo, boas relações do Brasil com os EUA

A importância conferida pelo governo de Dilma Rousseff à visita do presidente Barack Obama, que chegará sábado à Brasília, deverá confirmar e ampliar a reorientação de nossa política externa – do ideologismo esquerdista (inspirado no velho anti imperialismo), predominante no segundo mandato de Lula, para uma postura realista de defesa prioritária dos interesses econômicos do país, combinada com a de resgate de posições históricas do Itamaraty de conteúdo democrático, incluídas as de respeito aos direitos humanos. Entre os vários efeitos econômicos negativos de tal ideologismo, o Brasil perdeu expressivo espaço no grande mercado consumidor norte-americano, o que se reflete agora em déficit bilionário em nossa balança comercial. E, no plano diplomático, o radicalismo terceiro-mundista em nada contribuiu para o projeto da conquista de um lugar no Conselho Permanente da ONU, trabalhado obsessivamente pelo governo anterior. Trechos da reportagem do Valor, de ontem, intitulada “Com visita de Obama, país quer se tornar ator global”: “A confirmação do Brasil como 'ator global', parceiro dos Estados Unidos e em nível de igualdade com outros países desenvolvidos, é o principal resultado esperado pelo governo brasileiro da visita de Obama. Brasil e EUA discutem ainda os quase 20 acordos e memorandos a serem assinados durante a visita...". "Energia e infraestrutura terão lugar importante no comunicado conjunto a ser divulgado pelos dois presidentes, que também dedicarão espaço generoso à defesa dos direitos humanos - tema que deve inspirar outro acordo, para troca de informações na elaboração de resoluções nessa área."

Jarbas de Holanda é jornalista

Os intelectuais e o poder:: Lúcio Flávio Pinto

O peruano Mário Vargas Llosa é um dos maiores escritores de todos os tempos na América do Sul e um dos mais importantes em atividade no mundo. Seu prêmio Nobel de Literatura foi justo e merecido. Escreveu muito, sempre em alto nível de qualidade e com muita diversidade. Desde Conversa na Catedral a Pantaleão e as Visitadoras, Batismo de Fogo (na tradução da 1ª edição em português) até A Guerra no Fim-do-Mundo, que muito crítico desdenhou, mas está à altura do seu principal personagem, Euclides da Cunha. Isto em ficção. Em ensaios não desce um patamar sequer, ainda quando emite opiniões controversas ou duvidosas. Sabe escrever como poucos e dar grandeza aos temas que aborda. Como a maravilhosa crônica sobre um aristocrata peruano decadente que freqüenta livrarias em Paris. Uma elegia ao livro e àqueles que o cultivam.

Nada mais natural do que Llosa ter sido convidado para a abertura da Feira Internacional do Livro de Buenos Aires, que será realizada no próximo mês. Sua presença dignificaria a promoção. Feito o anúncio, porém, começaram a agir os censores ex-officio de esquerda. Llosa deveria ser “desconvidado” porque não é adepto da “corrente que abriga a sociedade argentina”, por ser messiânico, antiperonista e crítico da dinastia Kirchner no poder. Além disso, é um fracassado: foi derrotado na eleição para presidente do Peru, em 1990.

Santa derrota. Talvez Vargas Llosa não viesse a ser um bom presidente. Mas um excelente escritor ele continuou a ser depois do “fracasso”. Seu mais recente livro de ensaios, Sabres e Utopias, é um primor. Aprende-se até discordando frontalmente dele, por sua inteligência, seu conhecimento e seu estilo.

O “desconvite” foi feito por ninguém menos do que o presidente da Biblioteca Nacional da Argentina, que devia ter discernimento sobre o significado do livro. Felizmente para a tradição intelectual argentina, a presidente Cristina Kirchner teve um gesto de grandeza: cancelou a mesquinha e burra iniciativa do presidente da Biblioteca, fazendo-o desfazer o ato iníquo. Kirchner ia se juntar aos militares da ditadura, que em 1970 censuraram os livros de Llosa.

A principal função do intelectual – hoje e sempre – é estar longe do poder e o mais próximo dos seres humanos, dos cidadãos comuns, seus clientes e patrões. Da humanidade, em sentido genérico, para não condicionar sua criação às expectativas de consumo e aceitação. O grande desafio para o intelectual é justamente a postura em relação ao poder, quando o lugar é ocupado por companheiros de viagem. Há a tendência a se satisfazer com a realização dos sonhos de chegar ao topo do processo decisório, ensarilhar as armas (sempre configuradas em idéias) e se entregar ao usufruto.

Foi o que aconteceu com os intelectuais de esquerda a partir da chegada de Lula ao poder. Vários deles, alertas para o olho clínico do tempo, quiseram manter estandartes e fantasias de independentes e críticos, mas com um bastão de comando nas mãos ou uma sinecura no bolso. Para manter os críticos verdadeiros e os cobradores de posições à distância, usam os antigos conceitos morais da esquerda, monopolista do direito de uso das bandeiras éticas, como metralhadora giratória. Procuram atingir quem estiver do outro lado, mas no raio de ação dos seus conceitos.

É o que faz o sociólogo Emir Sader. Ídolo de certa faixa da esquerda e de uma ala do PT, ele se considera um ícone da verdade. Antes de assumir a presidência da Casa de Rui Barbosa, depois de não ter conseguido ser ministro da cultura, criticou sua chefa, colocada no cargo pela turma de Dilma Rousseff (e não pelos remanescentes de Lula), Ana Buarque de Holanda, cujo maior atributo é ser irmã de Chico, aquele um. Crítica ferina, deselegante e aética. De tão imóvel, a ministra seria “quase autista”, sentenciou Emir.

Não havia outro caminho que não o do “desconvite”. Ao contrário da grosseria praticada contra Llosa por arbítrio de um Torquemada portenho, no caso brasileiro era a única providência a adotar. Se aceitasse a afronta, a ministra encolheria e o seu agressor cresceria a tal ponto que podia até cometer a inconseqüência de mudar a razão de ser da Casa de Rui Barbosa, há mais de 80 anos centro de acumulação e processamento de documentação, de acervos e coleções, orientados para uma pesquisa especializada de profundidade e amplitude, para o direito público e a literatura.

Sader queria transformar a Casa de Rui numa versão refinada do Teatro Casa Grande. Garante ele que foi num debate que coordenou no ano passado no Casa Grande, no Rio de Janeiro, que a campanha em favor de Dilma Rousseff deslanchou de vez, graças ao apoio de artistas e intelectuais que ali compareceram. Além de um atestado de egocentrismo sem fundamento, é uma afronta aos fatos. Quem elegeu Dilma foi Lula. A conta da vitória já foi jogada sobre os peitos da presidente – e ela está podendo avaliar agora como essa conta pesa. Não tem nada a ver com intelectuais e artistas.

Se estivesse com bons propósitos e de boa fé, Emir Sader teria procedido de outra forma. Talvez ele tenha pretendido mesmo é abrilhantar seu luzidio currículo, não enfrentar o trabalho que ia lhe ser entregue se fosse empossado, se credenciar à reparação da agressão e continuar na posição iconoclasta bem arrimada(e arrumada). No poder, é claro. Quanto mais próximo está do poder, menos intelectual o intelectual é. Os dois casos comprovam.

Lúcio Flávio Pinto é o editor do Jornal Pessoal, de Belém, e autor, entre outros, de O jornalismo na linha de tiro (2006), Contra o poder. 20 anos de Jornal Pessoal: uma paixão amazônica (2007), Memória do cotidiano (2008) e A agressão (imprensa e violência na Amazônia) (2008).

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
Clique o link abaixo
http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Ato contra Obama opõe PT a Dilma

A presidente Dilma não gostou da participação de setores do PT na organização de protestos contra Obama. O Planalto mandou que o partido enquadre descontentes e evite constrangimentos. Na Cinelândia, domingo, Obama falará de democracia e inclusão social. O discurso mais político será no Chile.

Protesto de petistas contra Obama irrita Planalto

Luiz Sérgio diz que debate sobre visita do presidente americano não tem autorização do PT; ordem é abafar mobilização

Gerson Camarotti e Dandara Tinoco

BRASÍLIA E RIO. O Palácio do Planalto não gostou da mobilização de setores do PT contra a visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e determinou que o partido enquadre os descontentes. A ordem foi abafar ações como a do secretário de Movimentos Populares do PT do Rio, Indalécio Wanderley Silva, que anunciou uma manifestação contra Obama num comunicado ao partido.

A ideia é evitar mobilizações que possam causar constrangimentos tanto em Brasília como no Rio, as duas cidades que serão visitadas por Obama.

- O PT não tem posição e nem discutiu esse assunto da visita do presidente Obama. Por isso, um debate como esse só com autorização do partido - desautorizou o ministro de Relações Institucionais, Luiz Sérgio.

No núcleo do governo, há sinais de descontentamento de petistas mais ligados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a grande mobilização em torno da visita de Obama. Nesses setores, ainda que discretamente, há queixas ao fato de Obama não ter vindo ao Brasil na gestão do ex-presidente Lula.

A avaliação é que de fato há uma mudança significativa na política externa do governo Dilma, conduzida pelo chanceler Antonio Patriota, em relação à gestão anterior do ex-ministro Celso Amorim. Mas existe o cuidado no Planalto para evitar qualquer tipo de gesto que possa ampliar esse descontentamento de setores petistas mais próximos de Lula.

- Obama será recebido com honras de chefe de Estado. Agora, não haverá medidas como fechar o espaço aéreo brasileiro. Não se fecha o espaço aéreo americano para receber um presidente do Brasil. Ou seja, será uma visita na medida certa, sem exageros - disse o líder do PT, Paulo Teixeira (SP), dando o tom do partido em relação à passagem de Obama.

Ataques considerados exagerados, como a tentativa do secretário de Movimentos Populares do PT do Rio, Indalécio Wanderley Silva, de tratar Obama como "persona non grata", foram duramente criticados pelo partido.

- Acho que ele (Indalécio) esqueceu que nós somos governo e que temos interesse em fazer negócio com Obama. A nossa política externa não é só com a Venezuela - ressaltou o secretário de Comunicação do PT, deputado André Vargas (PR).

Protestos no Rio começarão na sexta

Cerca de 150 sindicalistas e representantes de movimentos sociais se reuniram ontem à noite na sede do Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio (Sindipetro-RJ) para programar protestos durante a visita de Obama à cidade. A reunião, no entanto, foi marcada por divergências e terminou com um único consenso: as manifestações começarão amanhã à tarde, no Centro do Rio. Entre os organizadores dos protestos estão filiados ao PT e ao PDT.

A participação de petistas e pedetistas nas manifestações irritou o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), que está à frente da convocação da população para o evento de domingo na Cinelândia, onde Obama discursará. Tanto PT quanto PDT mantém cargos no governo do peemedebista. O governador recorreu a aliados no PT e no PDT para que convençam os mais radicais do partido a abandonarem a ideia de protestos. Cabral também acionou sua base de apoio na Assembleia Legislativa (Alerj) e prefeitos para que organizem caravanas do interior e da região metropolitana, reforçando o público que assistirá ao discurso de Obama.

Indalécio defendeu ontem na reunião protestos contra Obama. Ele disse que participava do evento como membro da CUT e não do partido. Anteontem, porém, a CUT informou que não está à frente dos protestos.

- Além de ser dirigente do PT, sou da CUT. É certa a intervenção dos Estados Unidos no Brasil durante a ditadura? O PT não é dono dos movimentos sociais, os movimentos sociais são do povo - disse ele.

Colaborou: Marcelo Remígio

FONTE O GLOBO

Na praça, defesa da democracia

Na Cinelândia, Obama dirá que Brasil e EUA partilham ideais democráticos e inclusão social

Fernando Eichenberg

Em seu discurso no Rio, no próximo domingo, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, destacará valores comuns aos dois países, como a busca por inclusão social e a democracia. Segundo assessores da Casa Branca, será um pronunciamento diretamente dirigido aos brasileiros. O principal discurso, com teor político, detalhando sua visão de governo para a América Latina, está reservado para sua visita ao Chile, para onde Obama viajará após sua passagem pelo Brasil.

- Temos muitos valores em comum com os brasileiros. Eles são uma democracia; um país diversificado; um país que busca a inclusão social. Muitos dos valores especialmente acolhidos pelos americanos são partilhados pelos brasileiros, e, por isso, acreditamos na possibilidade de ter uma parceria forte com o Brasil. O discurso do presidente será focado nisso - disse o assessor adjunto do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Ben Rhodes.

Em Santiago do Chile, ao lado do presidente Sebastián Piñera, as palavras de Obama terão um tom diferente, de acordo com a simbologia com que a Casa Branca adota nesta sua primeira visita à América do Sul, como "a viagem sinalizadora da política latino-americana de seu mandato".

- Nesse discurso, o presidente terá a oportunidade de falar para a região e expor o que estamos fazendo em um número de áreas-chave, como cooperação energética, segurança dos cidadãos, desenvolvimento e crescimento econômico, e democracia e direitos humanos - acrescentou Rhodes.

Relação bilateral será reforçada

No campo político, o assessor presidencial revelou que também estará no cardápio das conversas de Obama com os presidentes de Brasil e Chile a importância das transições "bem-sucedidas" de governos autoritários para regimes democráticos nos dois países, no contexto das atuais turbulências no mundo árabe, caso do Egito ou Tunísia:

- A presidente Rousseff representa, em muitos aspectos, o sucesso dessa transição. Penso que é algo sobre o que ele vai falar - revelou Rhodes.

Para o conselheiro sênior da Casa Branca para assuntos da América Latina, Dan Restrepo, a viagem servirá para recuperar a influência dos EUA na região, e continuar com a redução do sentimento antiamericano, "em constante queda nos últimos dois anos".

- O presidente Obama está determinado a agir de forma construtiva com líderes da região com focos similares nos desafios contemporâneos, e não em argumentos e debates ideológicos ultrapassados - disse Restrepo, numa clara referência ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, desafeto americano.

Restrepo salientou que Obama pretende fortalecer com a presidente Dilma Rousseff não apenas a relação bilateral, mas a possibilidade de estabelecer negociações trilaterais, na parceria de EUA-Brasil com outros países. Em temas mais delicados, os principais assessores da Casa Branca mantiveram a postura de uma abordagem genérica. Foi o caso da expectativa brasileira por um apoio explícito de Washington a um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

- O presidente Obama e a presidente Rousseff vão, indubitavelmente, discutir sobre a reforma das Nações Unidas e o papel atual do Brasil no Conselho de Segurança. E eles vão, indubitavelmente, discutir isso num contexto mais amplo, de uma abrangência de arquitetura global que reflita as realidades mundiais - disse Restrepo.

FONTE: O GLOBO

A petista, o tucano e a ''nova'' gerência

Julia Duailibi

Depois de uma relação conturbada com o inquilino anterior do Palácio do Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), deu indícios ontem de que pretende ter convivência administrativa mais próxima com Dilma Rousseff.

Após encontro com a presidente no Palácio do Planalto, Alckmin seguiu para um almoço com oito deputados da bancada paulista do PSDB, em um clube de golfe, durante o qual afirmou ter ficado bem impressionado com Dilma. De acordo com relato dos presentes, o governador teria sido surpreendido pelo cardápio colocado pela presidente: concessões, parcerias público-privadas, choque de gestão e outros assuntos que fazem parte da pauta tucana.

No encontro, Dilma disse que, se não investisse nada neste ano, já gastaria um orçamento inteiro somente com os restos a pagar de 2010. Defendeu concessões nos aeroportos e o papel das parcerias público-privadas como forma de aumentar os investimentos em infraestrutura. Falou ainda sobre a renovação dos contratos de concessão de energia e gás, de modo que haja uma queda na tarifa para os consumidores.

Alckmin destacou que a reunião durou uma hora a mais do que o previsto. Após o encontro, o governador concluiu que Dilma tem uma dinâmica de trabalho bem diferente da do ex-presidente. Para ele, a petista opera mais como uma "gerente", característica que, curiosamente, atribuiu a si mesmo durante a campanha presidencial de 2006, quando enfrentou Lula.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Índice do BC aumenta temor de inflação

O índice de Atividade Econômica do Banco Central acelerou em janeiro: alta de 0,71% em relação a dezembro. O resultado aumenta o temor do mercado com a inflação.

Índice do BC surpreende e indica aceleração da economia em janeiro

IBC-Br aponta alta de 0,71% em relação a dezembro; média de crescimento dos últimos 3 meses é de 1,10% ante 1,06% no período anterior

Fabio Graner

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), um termômetro mensal do ritmo da economia, acelerou em janeiro, registrando alta de 0,71% em comparação com dezembro.

O resultado surpreendeu o mercado e renovou as preocupações sobre o ritmo da economia e seu impacto na taxa de inflação, bem como as dúvidas sobre os impactos das medidas de aperto no crédito no controle do nível de atividade.

Em dezembro, o IBC-Br havia crescido apenas 0,10% em relação ao mês anterior.

Como os dados mensais oscilam muito, mesmo já se fazendo os ajustes sazonais (que excluem fatores típicos de cada período), um bom termômetro para se analisar o indicador do Banco Central é olhar a média de crescimento no trimestre encerrado em janeiro. Nesse caso, o IBC-Br subiu 1,1% ante os três meses anteriores (agosto a outubro), mostrando uma ligeira aceleração ante a taxa de 1,06% verificada no trimestre encerrado em dezembro.

Dentro do potencial. O ritmo do trimestre representa uma taxa anualizada em torno de 4,5% - desempenho que, em geral, o mercado e o BC consideram dentro do potencial do País. De qualquer forma, o índice reforçou os questionamentos dos analistas financeiros sobre as estratégias usadas para conter a economia e combater a inflação.

"Ao contrário do que o BC gostaria de testemunhar, o seu índice de atividade econômica aponta para a extensão de um ritmo robusto em 2011", afirmou o economista-chefe do BES Investimento, Jankiel Santos.

"O número de janeiro foi forte, especialmente diante do fato que a indústria andou de lado naquele mês", salientou. Para ele, o número mostra que é difícil dizer se as medidas adotadas pelo BC vão surtir efeito no controle da atividade econômica ou se apenas estão impactando o crédito sem alterar a dinâmica de crescimento do País.

Cuidado. Em relatório para clientes, o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, afirmou que o dado de janeiro mostrou alta maior que prevista pelo mercado. Mas, para ele, a crise japonesa deverá contribuir para o cenário do BC de desaceleração nos próximos trimestres e convergência dos preços.

"Essa parece ser a leitura refletida no mercado futuro de juros, que relativizou o crescimento das vendas do varejo acima do esperado, um mercado de trabalho ainda aquecido no curto prazo e o resultado do IBC-Br", diz Eduardo Velho.

Segundo uma fonte da área econômica, o dado do BC tem que ser lido com cuidado porque também é sujeito a erros. A fonte lembra que o indicador apontava um crescimento de 7,8% para o PIB no ano passado e o número correto foi menor, de 7,5%.

Para esse integrante do governo, as medidas macroprudenciais, de contenção de crédito, e a alta dos juros ainda não surtiram efeito, mas serão eficientes para conter a atividade. "É preciso distinguir crescimento de aquecimento econômico. Não há aquecimento", disse a fonte.

Outro integrante da equipe econômica disse que os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que economia cresceu abaixo do potencial nos últimos dois trimestres de 2010, desmontando a tese de risco de sobreaquecimento.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

CNI/Ibope: 72% são contra a volta da CPMF

Para população, recursos para a saúde pública são suficientes; hospitais têm os piores serviços

BRASÍLIA. A saúde pública vai muito mal no Brasil, mas não se deve criar novos impostos para melhorar esses serviços, porque o governo já dispõe de recursos suficientes. O problema é de gestão. As afirmações foram colhidas em pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em dezembro e divulgada ontem. Para 81% dos entrevistados pelo Ibope, a baixa qualidade dos serviços de saúde é resultado da má utilização dos recursos públicos. E 72% foram categóricos: são contra a recriação da CPMF.

"A maioria dos brasileiros acredita que o governo já arrecada muito e não precisa aumentar os impostos para melhorar os serviços públicos", diz o estudo sobre a pesquisa "Retratos da sociedade brasileira: qualidade dos serviços públicos e tributação".

No início do governo Dilma Rousseff, voltou a ser alimentada no meio político a ideia de ressuscitar a CPMF. Não como iniciativa do governo, porque a presidente não está disposta a assumir esse desgaste. A proposta seria lançada por governadores aliados. Alguns, como o de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), defenderam publicamente a volta da CPMF. Mas o debate não prosperou.

Conforme a pesquisa, 82% dos entrevistados consideram que a arrecadação tributária é suficiente para a melhoria dos serviços públicos. E 87% concordam que a carga tributária - atualmente o total de impostos arrecadados corresponde a cerca de 35% do PIB - é alta ou muito alta. Essa opinião é mais frequente quanto maior o nível de renda familiar do entrevistado.

Ao avaliar a satisfação dos brasileiros com 12 tipos de serviços públicos, a pesquisa conclui que apenas quatro tiveram mais de 50% de aprovação. O serviço com a pior avaliação foi o de postos de saúde e hospitais, reprovado por 81% dos entrevistados. Em seguida, a segurança pública, que é considerada de baixa ou muito baixa qualidade por 72% da população.

A pesquisa realizada pela CNI em parceria com o Ibope foi feita entre 4 e 7 de dezembro de 2010 com 2.002 pessoas em 140 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais e o grau de confiança de 95%.

FONTE: O GLOBO

Quebra-quebra na usina de Jirau

Operários de uma das maiores obras do PAC se revoltam

Cássia Almeida

PORTO VELHO. Dezenas de ônibus incendiados. Toda a área de lazer, uma lavanderia e três caixas eletrônicos destruídos. Mais de 20 detidos e uma multidão de trabalhadores com malas nas costas, abandonando seus empregos. Esse foi o cenário visto ontem no canteiro de obras de uma das maiores construções em andamento no país, a usina hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira, em Porto Velho.

- Nunca tive tanto medo na minha vida. Como faço para sair desse inferno? - perguntava um dos 20 mil operários contratados para tocar uma das principais obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

De acordo com trabalhadores, a destruição começou no tarde de anteontem, depois que um operário foi agredido pelo motorista de um dos 400 ônibus usados para transporte de pessoal na área da usina. Operários reclamam da truculência de seguranças e motoristas e da falta de uma ouvidoria e de meios de transporte para Porto Velho nos fins de semana.

Em comunicado, a Camargo Corrêa e o Consórcio Energia Sustentável do Brasil disseram que 45 carros e ônibus foram destruídos e que houve um "ato de vandalismo isolado, sem qualquer relação com as empresas".

FONTE: O GLOBO

PT decide romper aliança com PSDB de MG em 2012

Partido quer lançar candidato próprio para a Prefeitura de Belo Horizonte

Em 2008, petistas e tucanos se uniram para apoiar a candidatura do PSB; Anastasia estreita laço com sigla socialista


Raphael Veleda

BELO HORIZONTE - O PT de Minas descarta a renovação da aliança com o PSDB em Belo Horizonte em torno do atual prefeito da capital, Marcio Lacerda (PSB).

Desde a eleição de 2008, os três partidos formam uma coalizão no município -o vice-prefeito, Roberto Carvalho, é petista.

Na época, a aproximação de petistas e tucanos teve entre seus articuladores o então prefeito Fernando Pimentel (PT) e o então governador Aécio Neves (PSDB). Foi uma rara aliança entre os dois partidos no país.

Na campanha municipal do próximo ano, porém, o PT deve lançar um candidato próprio contra Lacerda.

Os petistas tentam reerguer o partido no Estado após a eleição de 2010, quando apoiaram a derrotada candidatura do peemedebista Hélio Costa ao governo.

O vice-prefeito, que preside o diretório do PT em Belo Horizonte, tem uma relação distante com Lacerda e já chegou a criticar a administração do município.

Mas diz que o PT não irá para a oposição neste mandato. "Respeitamos as decisões do Marcio. Mas, se ele decidir ficar com o PSDB, teremos candidato próprio."
Carvalho e o deputado federal Miguel Corrêa Júnior são as principais opções do partido para o próximo ano.

"Vamos unir o partido em torno de um nome para lançar um candidato sem precisar nem mesmo de prévias", afirmou o vice.

O PMDB, que tem a segunda maior bancada da Câmara Municipal atrás do próprio PT, deve se unir aos petistas.

AÉCIO

O senador Aécio Neves, possível candidato à Presidência em 2014 pelo PSDB, quer ampliar a aliança entre os tucanos e o PSB em Minas. Ele foi um dos articuladores da aliança em 2008.

No governo mineiro, o PSB é da base aliada tucana e tem duas secretarias importantes no governo de Antonio Anastasia: Desenvolvimento Social e Educação.

Nas últimas semanas, Anastasia tem elogiado a gestão de Lacerda, a quem chama de parceiro.

"O prefeito Marcio Lacerda faz uma excelente administração, aliás, opinião partilhada pelos belo-horizontinos e pelas pesquisas de opinião. Então, naturalmente, esse é um dado da realidade, que vai ser considerado no momento oportuno", disse o governador.

O deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG) disse que Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente do partido, tem muito em comum com Aécio.

"Se o candidato for o Aécio, eu acho possível um alinhamento. Com outro [candidato], não."

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Telefonema de Kadafi com o Brasil




Maria Rita - Trajetória

Congresso Internacional do Medo :: Carlos Drumonnd de Andrade

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.