quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Opinião do dia – esquerda democrática

Somos democratas. Intelectuais, profissionais de diferentes áreas, cidadãos de esquerda, ativistas de causas e ideias variadas. Alguns de nós estão ou estiveram vinculados a partidos. Outros jamais tiveram qualquer ligação deste tipo. Nossas posições independem de orientação partidária. Integramos o amplo e diversificado universo de homens e mulheres que defendem a democracia política, o pluralismo e a justiça social como base para uma sociedade mais igualitária, fraterna.

Como democratas, votaremos neste segundo turno em Aécio Neves e na aliança que se forma em torno de sua candidatura. Conclamamos eleitores e políticos dos diferentes partidos a nos acompanharem nesta opção. Ela se mostra hoje o melhor caminho para a reforma da política, a recuperação das boas práticas de governo e a preservação das conquistas sociais tão duramente alcançadas nas últimas décadas

Do Manifesto dos intelectuais da esquerda democrática em apoio da candidatura de Aécio Neveshttp://esquerdademocratica.com.br/

Aécio promete 'libertar o Brasil' da 'infâmia'

• Candidato do PSDB à Presidência da República relembra avô, que fez discurso na mesma praça em campanha para as diretas

Leonencio Nossa - O Estado de S. Paulo

GOIÂNIA - Em tom quase messiânico, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, disse na noite de ontem, na Praça Cívica, no centro de Goiânia, que pretende "libertar" o País do "tempo da infâmia e da mentira". Ele acusou o governo de Dilma Rousseff, adversária do PT que disputa a reeleição, de autoritarismo. "Nestes cinco dias que nos separam da grande libertação, sejam a minha voz rouca, sejam a minha coragem, para que possamos mudar de verdade o Brasil", afirmou.

O comício durou apenas meia hora, incluindo a execução do hino nacional. O evento, que contou com cascata de fogos e chuva de papéis picados, foi filmado para os últimos momentos do programa gratuito na TV. No discurso, Aécio lembrou o avô, Tancredo Neves, eleito indiretamente para a Presidência, em 1985, que fez comício na mesma praça na campanha por eleições diretas. "Assim como há 30 anos Tancredo convocava de Goiás todos os brasileiros para deixar o regime autoritário, quero convocar os brasileiros a deixar para trás o tempo da corrupção, do desgoverno, da irresponsabilidade, da infâmia e da mentira", afirmou. "Vamos construir um Brasil novo, onde todos têm oportunidade de construir o seu destino."

O governador goiano e candidato à reeleição, Marconi Perillo, presente no comício, voltou a demonstrar mágoa do PT. Ele disse que Aécio vai "moralizar" o Brasil. Em pesquisa IBOPE, divulgada horas antes, Perillo aparece com 60% dos votos válidos, contra 40% de Iris Rezende, do PMDB.

Aécio retribuiu às palavras de Perillo. "No dia 1º de janeiro, com fé em Deus, estarei subindo a rampa do Palácio do Planalto ao lado de cada um de vocês, subirei essa rampa de mãos dadas com Marconi para iniciamos o grande trabalho de transformação e desenvolvimento do seu Estado". Na semana passada, em Porto Alegre, ele também prometeu subir a rampa de "mãos dadas" com José Ivo Sartori, candidato do PMDB ao governo gaúcho.

Debate na TV. Pouco antes do comício na Praça Cívica, em rápida entrevista, Aécio Neves adiantou que manterá, nos últimos dias de campanha, especialmente no debate da TV Globo, na sexta-feira, a estratégia de ataques e contraataques duros. Ele reclamou que Dilma não economizou até agora em "ofensas" pessoais. "Não deixarei nenhum ataque sem resposta", afirmou. "Eu me preparei 30 anos para viver este momento. Por isso, vou responder com o mesmo tom."

Com a voz rouca, ele admitiu que a campanha é de "baixo nível", mas pôs a culpa apenas na candidatura do PT. "Essa campanha vai passar para a historia como a de mais baixo nível que assistimos por ação do governo", disse. "Das 22 inserções e comerciais da minha adversária no segundo turno, 19 eram para me atacar", completou. "Isso não foi um desrespeito apenas contra mim e minha família, mas aos brasileiros que deixaram de ver propostas."

Ao lado do governador de Goiás e candidato à reeleição, o tucano Marconi Perillo, Aécio disse que pretende surpreender nas urnas. "Estou animado e convencido que a onda de mudança que foi vitoriosa no primeiro turno, haverá de ser vitoriosa também no segundo turno", afirmou. "A cada mentira e a cada ataque responderei com a verdade. Eu não sou o candidato de um partido ou de uma coligação, m as o candidato da mudança, daqueles que se indignam com denúncias de corrupção", ressaltou. "O Brasil merece um governo decente e qualificado."

Ele disse estar otimista. "A nossa campanha é vencedora. Quero afirmar aqui em Goiás que eu vou vencer as eleições para dar um basta ao governo do PT. A passagem de Aécio Neves por Goiânia foi marcada pela truculência de sua segurança, que atacou militantes que queriam se aproximar do candidato e jornalistas.

Para Aécio, PT jogou campanha 'na lama'

José Roberto Castro, Lilian Venturini, Pedro Venceslau, Ricardo Galhardo, Luciana Nunes Leal e Leonencio Nossa – O Estado de S. Paulo

O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, usou nesta terça-feira, 21, o programa eleitoral na TV para acusar o PT de levar a "campanha para a lama" por veicular, segundo ele, "mentira anônima". Após o debate promovido pelo SBT na semana passada, marcado pelos ataques pessoais entre os candidatos, a campanha da presidente Dilma Rousseff (PT) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passaram a associar o tucano à ideia de agressividade com as mulheres.

A coligação do candidato do PSDB entrou com uma ação na Procuradoria-Geral Eleitoral contra a campanha petista, alegando que a propaganda adversária é caluniosa e difamatória. "Não tenho o menor problema em aceitar críticas, faz parte do jogo político. Mas quando a crítica se transforma em ataque e quando esse ataque se transforma em mentira e, mais grave ainda, quando a mentira é anônima, aí a campanha vai para a lama", afirmou Aécio na propaganda eleitoral, sem especificar a que ataques ou informações fazia referência.

Ontem, ruas do centro de Belo Horizonte amanheceram repletas de grandes cartazes anônimos com os dizeres em letras amarelas em um fundo negro: "Você vota em candidato que agride mulher?". O material podia ser visto em vários locais da área central da cidade, inclusive em frente ao comitê central de Dilma Rousseff (PT), na Avenida Afonso Pena.

Procurada pela reportagem, a assessoria da campanha petista em Minas Gerais afirmou que desconhece o autor do material, lamentou o ocorrido e creditou a ação a grupos isolados.
Cartazes apócrifos atacando Dilma também apareceram colados ontem em postes e muros de Belo Horizonte. Feitos em letras garrafais amarelas em um fundo negro, o material tinha os dizeres: "Dilma, onde estão os R$ 10 bilhões da Petrobras?".

Assim como nos cartazes petistas, não há o nome da coligação nem o CNPJ da campanha, como exige o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Procurada, a assessoria da campanha de Aécio não respondeu até a conclusão desta edição.

Inserções
Em pesquisas qualitativas e levantamentos internos, os chamados "trackings", o PT detectou que o movimento de acusar Aécio de ter sido agressivo com as candidatas mulheres nos debates foi decisivo para a melhora de Dilma nas pesquisas. Em uma das inserções, o candidato do PSDB aparece chamando a presidente de leviana e com o dedo em riste diante da então candidata Luciana Genro (PSOL) no 1.º turno.

No levantamento do Datafolha divulgado anteontem, a presidente subiu de 42% para 46% das intenções de voto entre as mulheres. Para reforçar essa tática, a campanha de Dilma estuda divulgar o resumo de seu programa para as mulheres.

No horário eleitoral, a petista prometeu criar a Casa da Mulher Brasileira, um local que dará assistência a mulheres vítimas de violência doméstica. Ela lembrou ainda a sanção da lei Maria da Penha pelo ex-presidente Lula e a regulamentação do trabalho de doméstica, ações que foram apresentadas como avanços.

Atos
Nesta quarta-feira a presidente fará uma caminhada com mulheres no centro de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, em ato que marca o fim da campanha da petista no Rio de Janeiro. A agenda original de Dilma previa três atividades no Estado, inclusive um comício na Cinelândia, na capital, mas somente a marcha "Mulheres de Coração Valente" foi mantida.

Segundo o prefeito Alexandre Cardoso (sem partido), a caminhada vai tratar da "defesa das garantias sociais e do combate à violência contra mulheres". Coordenador da campanha de Dilma no Rio, o vice-prefeito da capital fluminense, Adilson Pires (PT), afirma que há mais de um mês estava decidido que a presidente teria uma agenda com mulheres.

Apoiadores de Aécio também preparam eventos com o tema mulher. A campanha tucana convocou para hoje o ato "Todas com Aécio", anunciado como uma mobilização voluntária, "em âmbito nacional", de todos os partidos que apoiam o candidato do PSDB.

Segundo os organizadores, as participantes sairão às ruas vestindo as cores da bandeira nacional e colhendo sugestões para a campanha. A previsão é de que o evento ocorra em 20 cidades de São Paulo.

'Sou o próximo presidente se a diferença for essa', diz Aécio

• Tucano minimiza resultado de pesquisa e lembra "erros grosseiros" de institutos

Silvia Amorim – O Globo

CAMPO GRANDE - O candidato à Presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves, questionou ontem o grau de confiança das pesquisas eleitorais, após levantamento do Instituto Datafolha ter mostrado o tucano, pela primeira vez no segundo turno, atrás da presidente Dilma Rousseff (PT). Aécio disse não acreditar nos números apresentados porque os institutos cometeram "erros grosseiros" nesta eleição.

A perda da liderança na disputa, embora ambos ainda estejam empatados tecnicamente - a pesquisa Datafolha de anteontem mostrou Dilma com 46% das intenções de voto e Aécio com 43% - pautou a visita do tucano a Campo Grande (MS). Aécio chegou a ironizar o resultado em entrevista.

- Pelo que vimos no primeiro turno, essa pesquisa do Datafolha já está me dando como eleito. Sou o próximo presidente da República se a diferença (entre ele e Dilma) for essa - afirmou.

Aécio se amparou na diferença verificada no primeiro turno, quando a última sondagem, feita na véspera da votação, indicava que ele tinha 26%, enquanto ele chegou ao primeiro turno com 33,55%.
Apesar do assédio da imprensa, o candidato disse que não vai se abalar com levantamentos divulgados na reta final e falou em "erros grosseiros" dos institutos de pesquisa.

- Em todas as nossas pesquisas, estamos com margem enorme e muito maior do que essa sobre a candidata. Se eu me abalasse com pesquisas, certamente não teria tido o resultado que tive no primeiro turno. Os institutos estão devendo explicações aos brasileiros desde o primeiro turno. Cometeram erros grosseiros.

Aécio voltou a ser questionado sobre denúncias de envolvimento de outros correligionários do PSDB no escândalo da Petrobras.

- Eu já disse que tudo tem que ser investigado. Se cometeu ilicitude, tem que pagar por ela - disse ele, acusando ainda o PT de "impedir as investigações e transformar culpados em heróis".

Em discurso para lideranças políticas na capital sul-mato-grossense, onde PT e PSDB disputam o segundo turno para o governo local, o presidenciável voltou a acusar o partido de promover "baixarias" e disse não ter "medo":

- Comigo, não. Não tenho medo do PT.

Foi a terceira vez nesta eleição que Aécio esteve em Mato Grosso do Sul. No Centro-Oeste, o Datafolha apontou uma queda de nove pontos nas intenções de voto do tucano nos últimos quatro dias (de 57% para 48%). A região era onde Aécio tinha sua melhor performance no país. Ele continua na liderança, mas a vantagem em relação a Dilma caiu de 24 para nove pontos.

A equipe de estratégia da campanha tucana recebeu a pesquisa como um sinal de alerta, mas ainda bastante cética em relação à queda de Aécio. A perda de espaço entre os eleitores da classe C (com renda de dois a cinco salários mínimos) levou a coordenação a avaliar a necessidade de reforçar o discurso com esse segmento. Por enquanto, pouco muda no tom adotado nos últimos dias no horário eleitoral.

Dinheiro público - Evento de Dilma tem reforço de ONGs parceiras

• Articulação Semiárido Brasileiro levou a Pernambuco caravanas de três estados e reuniu 30 mil pessoas

Letícia Lins e Cristina Laura - O Globo

PETROLINA, GOIANA e RECIFE - A presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, reuniu ontem, sob o sol quente de Petrolina (PE), cerca de 30 mil pessoas e realizou um dos principais comícios de sua campanha. O evento contou com forte mobilização da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), rede de organizações sociais que levou 99 ônibus ao centro da cidade pernambucana como parte de caravanas vindas de Minas Gerais, Bahia e Paraíba, entre outros estados do país.

Na última quinta-feira, os dirigentes da ONG participaram de evento com os ministros Tereza Campello (Desenvolvimento Social e Combate à Fome) e Laudemir Muller (Desenvolvimento Agrário). No encontro, realizado em Caruaru (PE), eles avaliaram as políticas públicas destinadas pelo governo federal à região. Era a "8º Rodada de Avaliação - Termo de Parceria para Ações de Convivência com o Semiárido".

No ato, diante de muitas pessoas vestidas de vermelho, Dilma agradeceu a mobilização e alfinetou os tucanos:

- Essa é uma das mais importantes regiões do país apesar do que acham os tucanos. Eles falaram que os votos que eu recebi no semiárido, no Nordeste, eram de pessoas ignorantes. Nós somos ignorantes porque ignoramos os tucanos.

E Dilma prosseguiu com os ataques aos adversários:

- Os tucanos têm uma visão ultrapassada do Brasil. Não sabem que o Brasil e esta região estão mudando pelo braço, garra, esforço de seu próprio povo e pelas oportunidades que os governos de Lula e o meu governo fizeram aqui.

Enquanto a presidente discursava, um bilhete escrito pela mãe de uma estudante chegou a suas mãos, e ela leu para todos:

- Eu agradeço ao projeto Ciência Sem Fronteiras porque a minha filha está na Austrália, na cidade de New Castel, fazendo curso de Agricultura - dizia o texto, segundo Dilma.

A partir daí, a candidata enalteceu programas como o Minha Casa Minha Vida e o Pronatec.

Bancos públicos e água
Em seguida, mantendo seu périplo por Pernambuco - estado em que Marina Silva (PSB) teve maior votação, no primeiro turno -, Dilma foi ao município de Goiana. Lá, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, visitou uma fábrica da Fiat.

A princípio, a agenda seria de presidente, mas se transformou num palanque em defesa dos bancos públicos e de ataque ao economista Arminio Fraga, possível ministro da Fazenda num eventual governo do PSDB.

- o candidato a ministro da Fazenda do meu adversário vem dizendo que vai fazer auditoria nos bancos públicos. Acho que ele desconhece que bancos públicos são objeto de regulação do Banco Central e que sofrem auditoria interna e externa. Se pegarmos os três mais importantes bancos públicos do país, veremos que a inadimplência é menor do que a dos bancos privados - disse Dilma, informando que as taxas de inadimplência chegam a 2% no Banco do Brasil, 2,28% na Caixa Econômica e 0,27% no BNDES.

Depois de discursar, a presidente participou de um comício no centro de Goiana e pediu o voto dos presentes, advertindo os moradores do município sobre o risco de um eventual governo do PSDB levar o país para "trás" e criar oportunidades "só para eles".

Nesse momento, Lula saiu em defesa de Dilma. Lembrou obras como a rodovia Transnordestina, a transposição do rio São Francisco, a duplicação da BR 101 e as adutoras do sertão. Em seguida, atacou o governo de Geraldo Alckmin (PSDB):

- Qual a diferença (entre o PT e o PSDB)? - perguntou o ex-presidente. - Enquanto a senhora (Dilma) traz água para o Nordeste, o governo de São Paulo, que é tucano, está deixando faltar água de beber em SP.

No fim da noite, Dilma e Lula ainda passariam por Recife. Durante o dia, foram acompanhados pelos governadores da Bahia, Jacques Wagner (PT), e da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB).

Agência Moody's rebaixa nota da Petrobras

• Motivo foi alto endividamento, agravado pela queda no preço do petróleo; classificação serve de baliza para investidores

• Nota da Petrobras está ainda a dois degraus de perder o grau de investimento, selo de bom pagador da dívida

Toni Sciarretta, Samantha Lima - Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, RIO A cinco dias da eleição presidencial, a agência de classificação de risco Moody's decidiu reduzir a avaliação da Petrobras, a maior estatal brasileira. A nota mede a capacidade de uma empresa pagar suas dívidas e serve de baliza para os investidores.

Embora as agências de classificação tenham cometido erros de avaliação na crise global de 2008, notas menores atribuídas por ela tendem a afastar investidores e a derrubar o preço das ações.

Em nota, a Petrobras ressaltou que foi mantido o grau de investimento --espécie de selo de bom pagador-- da estatal. A Moody's rebaixou a nota da Petrobras de Baa1 para Baa2, considerada mediana, e colocou a avaliação em perspectiva negativa (pode ocorrer novo rebaixamento).

Para perder o grau de investimento, a avaliação precisa cair ainda mais dois degraus: Baa2 e Baa3.

O motivo para o rebaixamento foi o alto endividamento da estatal, que se torna mais difícil de administrar com a queda nos preços do petróleo. Para a agência, a capacidade da Petrobras de honrar sua dívida piorou nas últimas semanas, após o petróleo descer ao menor valor em quatro anos.

O rebaixamento da Petrobras foi comunicado após o fechamento da Bolsa e só deve ter impacto nesta quarta (22) nos mercados.

Nesta terça (21), as ações preferenciais (sem voto) recuaram 6,92%, para R$ 16,68. Os papéis ordinários (com voto) caíram 5,43%, para R$ 16,19. A baixa foi atribuída à vantagem numérica da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas (leia ao lado).

A Moody's afirmou que só "bem depois" de 2016 a Petrobras conseguirá reduzir seu endividamento, o que contraria as expectativas originais da agência.

"Enquanto a Petrobras tem sido relativamente bem-sucedida na execução do seu programa de capitais ambicioso e cumpriu metas de produção agressivas, a alavancagem continuou a crescer em 2014, dada principalmente a sua incapacidade de repassar os custos relacionados com derivados de petróleo importados, além da desvalorização da moeda local", disse Nymia Almeida, responsável pela avaliação na Moody's.

A dívida líquida da Petrobras está em R$ 241,3 bilhões --cresceu R$ 20 bilhões em três meses. A empresa tem uma alavancagem estimada em 40% --ou seja, usa 40% de capital de terceiros em relação ao seu patrimônio líquido, o capital próprio. O recomendável para grau de investimento é de 35%.

A relação entre dívida e Ebitda, importante medida de dívida (demonstra quantos anos a empresa precisa trabalhar para gerar caixa para cobrir sua dívida), aumentou de 3,52 para 3,94 em apenas seis meses. A meta era baixar para 2,5 até 2015.

As maiores dificuldades para reduzir a dívida são o enorme plano de investimento (US$ 44 bilhões por ano) e a defasagem no repasse de preços, que agora não existe mais. A defasagem custou R$ 59,3 bilhões nos últimos três anos, de acordo com a corretora Gradual.
Nesta terça (21), o petróleo do tipo Brent fechou a US$ 86,23 o barril, com alta de 0,97%. No ano, porém, a queda é de 22,5%. O real também se desvalorizou 4,7% no ano, até agora.

No Brasil, diz-se que a exploração do pré-sal se torna inviável com o petróleo cotado entre US$ 50 e US$ 60.

Conta de luz terá reajuste médio de mais de 17% na tarifa

• Aumento autorizado pela Aneel atingirá 68,7 milhões de unidades consumidoras em todo o País; alta superou projeção do BC

Anne Warth - O Estado de S. Paulo

A nova rodada de reajustes obrigatórios da conta de luz, autorizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), elevou a 17,63% o aumento médio da tarifa de energia de 68,7 milhões de unidades consumidoras em todo o País neste ano. Os chamados grandes consumidores, como indústrias, tiveram suas tarifas reajustadas em 18,20% na média. Nas residências, a conta de luz subiu 17,41% na média deste ano.

A alta média ordinária aprovada pela Aneel superou a projeção do Banco Central, que estima aumento de 16,8% nas tarifas de energia neste ano. O resultado final pode ser ainda maior, já que o cálculo considera os reajustes autorizados pela Aneel para 56 distribuidoras de energia elétrica em todo o País, desde o início do ano.

Até dezembro, outras oito distribuidoras ainda terão analisado o processo de reajuste tarifário pela Aneel. A principal delas é a Light, que atende cerca de 4 milhões de unidades consumidoras no Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense.

Também terão suas tarifas reajustadas as distribuidoras Boa Vista Energia, Amazonas Energia, Companhia Energética de Roraima (CERR), Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), Centrais Elétricas de Rondônia (Ceron), Companhia de Eletricidade do Acre (Eletroacre) e Companhia Sul Sergipana de Eletricidade (Sulgipe).

A Aneel aprovou reajustes para três distribuidoras. As tarifas da CPFL Piratininga terão aumento médio de 22,43%. Para grandes consumidores, o reajuste será de 24,35%. Nas residências, serão 20,98%. A companhia atende 1,6 milhão de unidades consumidoras em Santos, Sorocaba, Jundiaí e outros 24 municípios do litoral e do interior de São Paulo.

Com 1,7 milhão de unidades consumidoras, a Bandeirante Energia terá suas tarifas elevadas em 21,93%, em média. Para grandes consumidores, o reajuste será de 23,78% e para residenciais, 20,6%. A empresa atende 28 municípios de São Paulo nas regiões do Alto do Tietê e Vale do Paraíba.

Para os 70 mil clientes da DME Distribuição, de Poços de Caldas (MG), o aumento médio de 13,69%. Grandes consumidores terão alta de 15,44%, e residenciais, de 12,28%.

Banco Central. No último Relatório Trimestral de Inflação, divulgado em setembro, o BC projetava elevação de 16,8% nas tarifas de energia elétrica neste ano. Foi a quarta revisão do BC. No fim do ano passado, a autoridade monetária projetava alta de 7,5%. Em abril, a previsão passou a 9,5%. Em seguida, subiu a 11,5% em maio e a 14% em julho.

Questionado sobre a projeção, o BC informou que suas previsões estão ancoradas não apenas nos reajustes tarifários, mas também em fatores sazonais, como o clima. Além disso, a autoridade monetária considera a inflação de preços livres e a alta de preços medida pelo Índice Geral de Preços (IGP). Pelo IPCA, índice oficial, a inflação da energia residencial acumula 13,19% até setembro.

A equipe econômica tem usado os reajustes concedidos pela Aneel para combater o discurso de que o governo controla a inflação segurando os chamados preços administrados, como gasolina e energia elétrica.

O aumento do custo da energia foi a principal causa dos elevados reajustes concedidos para as distribuidoras neste ano. Com a seca, o governo decidiu poupar água dos reservatórios das usinas hidrelétricas e acionar as térmicas, que geram energia mais cara. Praticamente, todo o parque de termelétricas está em funcionamento desde outubro de 2012.

Até agora, o maior reajuste autorizado pela Aneel foi o da Elektro. O aumento médio foi de 37,78%. As tarifas dos grandes consumidores subiram 40,79%, e a dos residenciais foram elevadas em 35,97%. A companhia atende 2,4 milhões de unidades consumidoras em 223 cidades de São Paulo e cinco de Mato Grosso do Sul.

Inflação supera o limite máximo

• Com pressão de alimentos, prévia da inflação acelera para 0,48%

• Em 12 meses, IPCA-15 acumula alta de 6,62%, acima do teto da meta

Marcello Corrêa – O Globo

Pressionado pela alta dos preços de alimentos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), prévia da inflação oficial, acelerou e subiu 0,48% em outubro, informou ontem o IBGE. É a maior taxa desde maio, quando ficou em 0,58%. Mas o resultado ficou abaixo das expectativas de analistas, que projetavam avanço de 0,51%. Em setembro, o IPCA-15 foi de 0,39%. Com isso, a inflação acumulada no ano é de 5,23%, acima dos 4,46% registrados em igual período do ano passado. Nos últimos 12 meses, o IPCA-15 ficou em 6,62%, mesmo patamar em relação ao ano anterior e acima do teto da meta oficial do governo, de 6,5%.

Segundo o IBGE, cinco dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados mostraram aceleração na taxa de setembro para outubro. Uma das maiores altas foi registrada pelo grupo alimentação e bebidas: 0,69%, contra 0,28% no mês anterior. Pesou no indicador o aumento de carnes (2,38%), cerveja (3,52%), frango (1,75%) e arroz (1,35%).

Para o economista Fabio Romão, analista da LCA Consultores, a pressão dos alimentos deve continuar nos próximos meses. Ele projeta que a inflação do grupo alimentação e bebidas feche outubro em 0,79%, acima da prévia divulgada ontem.

- O conjunto de alimentos In natura caiu só 0,1% no IPCA-15 de outubro, depois de recuar 2,5% na prévia de setembro. No fechamento de outubro, a previsão é de alta de 2,2%, tendo como carro-chefe o tomate. Também preocupa o item cereais, leguminosas e oleaginosas (arroz e feijão) - diz Romão, que projeta o IPCA fechado do mês em 0,49%.

Expectativa com as chuvas
Para as próximas semanas, a expectativa é de alívio, segundo Hélio Sirimarco, diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), devido à expectativa de que chova:

- No momento que a chuva voltar e adequar a oferta, volta ao normal. Mas quando há estiagem pesada, você não tem oferta para atender à demanda.

Alexandre de Ázara, economista-chefe do Banco Modal, ressalta ainda o item serviços, que acumula avanço de 7,42% entre janeiro e setembro. Ele projetava um IPCA-15 de 0,53% este mês. Analistas destacaram ainda as altas no grupo habitação, cuja variação passou de 0,72% em setembro para 0,80% este mês. Neste grupo pesaram as altas de energia elétrica (1,28%) e gás de cozinha (2,52%).

Com relação aos índices regionais, a maior variação foi registrada em Brasília, com 0,73%. A menor foi a de Belém, que registrou queda de 0,04%. No Rio, a alta foi de 0,34%.

Analistas estimam alta no desemprego

Tainara Machado - Valor Econômico

SÃO PAULO - A estagnação da geração de novas vagas e o baixo dinamismo da população economicamente ativa (PEA), características que marcaram o desempenho do mercado de trabalho ao longo de 2014, seguiram presentes em setembro, quando a taxa de desemprego deve ter registrado pequeno aumento em relação a agosto, na avaliação de economistas ouvidos peloValor.

A média de 20 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data indica que a desocupação nas seis principais regiões metropolitanas subiu de 5,0% em agosto para 5,1% no mês passado. Se confirmadas as estimativas, o percentual de desempregados em relação à PEA será menor do que em igual período de 2013, quando ficou em 5,4%. As projeções para a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), a ser divulgada amanhã pelo IBGE, vão de 4,9% a 5,3%.

Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria Integrada, projeta taxa de desemprego de 5,3% em setembro, avanço um pouco maior do que o esperado pela média dos analistas consultados pelo Valor Data. O economista afirma que sua projeção inclui uma pequena queda da população economicamente ativa, de 0,1%, na comparação com setembro do ano passado, quando a desocupação foi de 5,4%, o que explica a leve redução da taxa em relação a igual mês do ano passado.

Na comparação mensal, porém, Bacciotti espera alta do desemprego, de 5% para 5,3%, por causa da expectativa de aumento do número de pessoas em idade ativa que voltaram a procurar emprego. Em sua avaliação, entre agosto e setembro, a população economicamente ativa aumentou 0,2%, dando continuidade ao movimento já observado no mês anterior, quando subiu 0,8% em relação a julho.

Segundo Bacciotti, está começando a haver um retorno da busca por emprego por aqueles que estavam fora do mercado de trabalho. Para ele, as pessoas estão encontrando dificuldade em achar uma ocupação em função da confiança em queda e do baixo dinamismo da atividade doméstica. "A geração de vagas tem sido afetada de maneira disseminada, ainda que mais concentrada na indústria", diz, o que acaba resultado em pequeno aumento do desemprego.

De acordo com ajuste sazonal realizado pela Tendências, desde abril há uma leve tendência de deterioração do mercado de trabalho. Naquele mês, o desemprego era de 4,6%, taxa que subiu para 5% em agosto e deve ficar em 5,2% em setembro, permanecendo nesse patamar até o fim do ano.

Para Mariana Hauer, economista do Banco ABC Brasil, o mercado de trabalho está estagnado, mas ainda não dá sinais mais concretos de deterioração. A taxa de desemprego deve seguir em 5% em setembro, repetindo a desocupação observada em agosto. Na série com ajuste sazonal do banco, o desemprego também deve ter se mantido em 5% nesta comparação.

"A economia está estagnada e, com o cenário de incerteza que tem predominado, as empresas parecem estar evitando demitir e contratar", afirma Mariana. Para a economista, é possível que a partir da definição do cenário eleitoral, a atividade tenha alguma recuperação um pouco mais acentuada, mas apenas a partir de 2015 as empresas devem decidir se alteram ou não sua folha de pagamentos, a partir das definições para o próximo mandato presidencial.

A economista do ABC Brasil projeta que, na média, a taxa de desocupação fique em 4,9% em 2014, o que representa queda de 0,5 ponto percentual em relação a 2013, quando o desemprego foi de 5,4%.

Tesoureiro do PT também é acusado de operar em Itaipu

• Tesoureiro do PT é acusado de cobrar propina em negócios com fundos de pensão para rechear caixa dois de campanhas

Cleide Carvalho – O Globo

SÃO PAULO - O doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa não foram os primeiros a utilizar a delação premiada para acusar o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, de arrecadar propina para o partido. Identificado como um dos operadores do mensalão e apontado como doleiro pela Procuradoria Geral da República, o operador financeiro Lúcio Bolonha Funaro acusou Vaccari de cobrar propina em operações com fundos de pensão em pelo menos duas ocasiões, na CPI dos Correios (2006) e das ONGs (2010). Em depoimento ao MPF, afirmou que o tesoureiro do PT chegava a cobrar propina de 12% em negócios que serviam para rechear o caixa dois de campanhas políticas.

Em depoimento à CPI das ONGs, em 2010, o operador financeiro Lúcio Funaro sugeriu que fossem investigados negócios da Itaipu Binacional e do fundo de pensão da empresa, o Fibra, que poderiam estar relacionados ao tesoureiro do PT. Ele assumiu o conselho da empresa em 2003. Na época, Funaro afirmou que Vaccari tinha relacionamento "umbilical" com o grupo Schahin, que mantém mais de US$ 10 bilhões em contratos com a Petrobras.

O Grupo Schahin também tem negócios em Foz do Iguaçu. A Itaipu Binacional cedeu terreno e projetos (arquitetônico e estrutural) para que fosse erguida a Universidade Latino Americana. A obra atrasou, e o consórcio Mendes Junior/Schahin paralisou as atividades e informou que o contrato tem desequilíbrio financeiro. O contrato foi fechado por R$ 241 milhões e recebeu aditivos de R$ 13,9 milhões. O TCU chegou à conclusão que a falha estava no projeto feito por Itaipu.

Segundo Paulo Roberto Costa, Vaccari é o operador do esquema de propinas na diretoria de Serviços da Petrobras, com comissão de 3%. Para o MPF, apenas as informações de Youssef, que distribuía o dinheiro, podem esclarecer quem recebia e como ia para o caixa dois do PT. Funaro afirmou que Vaccari operava com dinheiro vivo, o que torna mais difícil a investigação.

CPMI investiga ligação do tesoureiro com grupo Schahin

• Requerimentos estão parados por falta de acordo entre oposição e base aliada

- O Globo

SÃO PAULO - A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga os negócios da Petrobras tenta retomar uma das denúncias de Lúcio Bolonha Funaro, a partir das investigações da Operação Lava-Jato, e descobrir a ligação de Vaccari com o Grupo Schahin, que tem contratos superiores a US$ 10 bilhões com a Petrobras.

Em um dos pedidos de investigação, do deputado Rubens Bueno (PPS-PR), são citados pagamentos do Grupo Schahin a empresas de fachada de Youssef. Em outra ação judicial na Justiça do Paraná, do caso Copel, há registros de pagamentos feitos pelo doleiro a Kenji Otsuki, executivo do grupo. Além de pedir quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico de Otsuki, o deputado João Magalhães (PMDB_MG) lembrou que Otsuki preside a offshore Turasoria, que arrenda o navio-sonda LC Lancer para a Petrobras, e da offshore Quibdo, ao lado de Milton Taufic Schahin e Salim Taufic Schahin. Lembrou que a Quibdo, "coincidentemente", foi registrada no Panamá pelo mesmo escritório usado para abrir offshores para Costa.

107 offshores
A maioria dos contratos da Schahin com a Petrobras são firmados por offshores - de acordo com denúncia de Funaro, seriam 107 offshores. Procurado, o Grupo Schahin não quis se pronunciar. Magalhães afirmou que os requerimentos estão parados porque não houve acordo entre oposição e a base aliada do governo para convocar e investigar as empresas citadas na Lava-Jato.

Perguntado se era Vaccari o contato com o Grupo Schahin, Funaro sugeriu que procurassem Kenji Otsuki, a quem chamou de "o homem da propina do Banco Schahin". Carlos Eduardo Schahin, que era presidente do banco, foi condenado em julho último pela Justiça Federal a quatro anos de prisão por manter depósitos não declarados em nome de uma offshore. A pena foi convertida em prestação de serviços à comunidade e multa. Na época das primeiras denúncias, Vaccari havia declarado ter se encontrado apenas uma vez com Funaro.

Procurados, João Vaccari, o Grupo Schahin e a Petrobras não se manifestaram.

Aécio garante fortalecimento de estatais e cobra Dilma por omissão em casos de corrupção

 Site Aécio45

O candidato também cobrou explicações da candidata petista pela propagação de terrorismo eleitoral e de mentiras sobre o futuro das empresas públicas

O candidato à Presidência da República pela Coligação Muda Brasil, Aécio Neves, reiterou, neste domingo , em debate promovido pela Rede Record, o compromisso com o fortalecimento dos bancos públicos, a profissionalização da Petrobras e a retomada do crescimento econômico com controle da inflação.

A maneira assertiva e propositiva como Aécio comandou o debate deixou sua adversária, a presidente e candidata à reeleição pelo PT, Dilma Rousseff, sem resposta para questões cruciais como corrupção, desvio de dinheiro público e má gestão do governo federal.

O candidato também cobrou explicações da candidata petista pela propagação de terrorismo eleitoral e de mentiras sobre o futuro das empresas públicas, que hoje ocupam mais espaço no noticiário policial do que nas páginas econômicas dos jornais.

Durante o debate, Aécio lembrou que a Petrobras perdeu aproximadamente metade do valor de mercado durante o governo Dilma Rousseff. O candidato se comprometeu com a retomada da eficiência da estatal.

“O trabalhador que investiu na Petrobras perdeu dinheiro. Vou investir na profissionalização da Petrobras, valorizar os funcionários de carreira, retomar o orgulho nacional que ela deixou de ser”, afirmou, acrescentando que o pré-sal é um patrimônio da sociedade brasileira que será gerido com profissionalismo e eficiência. “E não como foi gerido até agora”, disse.

Aécio afirmou que vai estimular a melhoria da governança das estatais. Para isso, vai indicar profissionais de carreira com experiência, e não indicações políticas. “Precisamos profissionalizar as empresas, tirá-las da agenda política. As pessoas estão sendo nomeadas para prestar serviço para o partido da presidente ou da base política”, disse, lembrando as denúncias feitas pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Sem resposta
Costa afirmou que um percentual dos contratos assinados pela estatal era repassado para o atual tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Aécio questionou Dilma sobre o fato de Vaccari, mesmo diante das denúncias, permanecer como tesoureiro do partido e conselheiro de Itaipu Binacional. Dilma não respondeu.

Aécio também lembrou que, segundo Paulo Roberto Costa, propinas da Petrobras abasteceram a campanha de Gleisi Hoffmann, ex-ministra da Casa Civil. Dilma também não respondeu a esse questionamento.

Bancos públicos e inflação
Com a profissionalização das empresas públicas, Aécio comprometeu-se com o fortalecimento dos principais bancos públicos: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O candidato afirmou que essas instituições são essenciais para o crescimento da economia e a melhoria dos indicadores sociais. Ele também lembrou que hoje a Caixa e o BB estão em situação problemática por conta de dívidas acumuladas pelo Tesouro Nacional.

As instituições financeiras fortalecidas fazem parte da estratégia de aumentar a transparência da economia brasileira, com solidez fiscal e combate à alta desenfreada dos preços. Aécio afirmou que Dilma nega os fatos ao dizer que a inflação não está descontrolada.

“As pessoas estão apavoradas, as pessoas estão indo ao supermercado fazer compra de mês, coisa que não acontecia há 15 anos, a inflação está aí. Para a presidente da República não existe a inflação”, disse o candidato.

E o fortalecimento da economia passa também pela retomada dos empregos de qualidade, que o Brasil deixou de gerar, porque, entre outros motivos, a indústria do país está sucateada. “Tivemos, recentemente, os piores meses da década em termos de geração de emprego e de demissões”, constatou Aécio.

No mês passado, o Brasil registrou a pior abertura de empregos formais para meses de setembro em 13 anos. Nos primeiros nove meses do ano, a geração de emprego com carteira assinada caiu quase 30%, para 730.124 vagas, na comparação com o igual período de 2013.

Sartori encerra campanha com 'adeus, PT'

Lisandra Paraguassu – O Estado de S. Paulo

A nota enviada anteriormente contém uma incorreção. O candidato a governador do Rio Grande do Sul José Ivo Sartori (PMDB) tem 59% e o governador Tarso Genro (PT), candidato à reeleição, 41% dos votos válidos, de acordo com pesquisa do Ibope divulgada nesta terça-feira, e não 51% e 49%. Segue texto corrigido.

Aos gritos de "adeus, PT", o PMDB fez nesta terça-feira, 21, o último grande ato da campanha de seu candidato, José Ivo Sartori, ao governo do Rio Grande do Sul. Mais de 2 mil pessoas fizeram uma caminhada no centro de Porto Alegre, terminando com um rápido comício no largo Glênio Peres, onde receberam a notícia: pesquisa a Ibope encomendada pelo Grupo RBS confirmou a liderança do peemedebista com 53% dos votos e 37% do governador Tarso Genro, candidato do PT à reeleição. 

Em comparação com a última verificação, Sartori subiu um ponto e Tarso, três. Nos votos válidos, Sartori tem 59% e Tarso, 41%.

Ao lado do senador tucano eleito por São Paulo, José Serra, Sartori comemorou a notícia e aproveitou para alfinetar o PT. Afirmou que não vai ceder à "intriga" e a "baixaria". "Vamos mostrar nas urnas a dignidade do povo do Rio Grande", discursou.

O ex-prefeito de Caxias do Sul, que foi a grande surpresa do primeiro turno, terminando a frente de Tarso Genro, está sob ataque nos últimos dias por ter feito uma piada sobre o piso nacional dos professores, até hoje e não pago no Rio Grande do Sul. Em entrevista a um portal de notícias, Sartori disse que os docentes podiam procurar piso em uma conhecida loja de materiais de construção gaúcha.

Hoje, antes da caminhada começar, produtores do programa eleitoral do candidato peemedebista procuravam professores para gravar o mensagens de apoio ao candidato.

Juntaram um grupo que então gravou um coro de "Sartori, nós professores estamos contigo".

José Serra, que passou a tarde no Estado concedendo dando entrevistas em defesa da candidatura de Aécio Neves, fez um breve discurso que terminou com uma promessa importante para os gaúchos. Afirmou que, caso Aécio seja eleito, ele, como senador, ajudará a renegociar a dívida dos Estados "até março ou abril". "Não tem tanto mistério assim", garantiu.

O Rio Grande do Sul é o Estado com maior endividamento do País, seguido por Minas Gerais.

Amanhã, os dois candidatos ao governo gaúcho terão dois debates. Sartori não terá agenda externa. Já Tarso fará uma caminhada no centro de Porto Alegre com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Aécio reforça atos de aliados nos estados

• Presidenciável tucano optou por percorrer locais em que correligionários disputam o segundo turno contra candidatos apoiados pela presidenta Dilma Rousseff (PT)

Leonardo Fuhrmann – Brasil Econômico

De olho em uma campanha conjunta com aliados que também estão nesta fase da disputa, o presidenciável Aécio Neves (PSDB) esteve ontem no Mato Grosso do Sul e Goiás — na noite de anteontem,já havia visitado o Pará. Foram três visitas rápidas, para atos conjuntos. No Mato Grosso do Sul, o tucano Reinaldo Azambuja enfrenta o petista Delcídio Amaral. O presidenciável também foi recebido pelo prefeito Gilmar Olarte (PP) e pelo ex-prefeito Nelsinho Trad (PMDB). A disputa entre tucanos e petistas pelo governo do Estado está apertada, segundo as pesquisas de intenção de voto. Em entrevista, Aécio ironizou o resultado da pesquisa do Datafolha, que apontou pela primeira vez no segundo turno a presidenta Dilma em vantagem numérica em relação a ele. "Pelo que vimos da pesquisa do primeiro turno, o Datafolha está me dando como eleito", atacou.

Segundo ele, os institutos de pesquisa "devem explicação aos brasileiros" pelos "erros grosseiros" que vêm cometendo — numa referência ao primeiro turno, quando as pesquisas o apontavam em uma disputa acirrada coma ex-ministra Marina Silva (PSB); nas urnas, ele acabou vencendo com grande folga. No segundo turno, sua assessoria tem destacado os resultados mais positivos apontados por institutos de menor expressão, como o Veritá, o Paraná Pesquisas e o Sensus. Em Goiás, o governador Marconi Perillo (PSDB) programou, para a noite de ontem, o maior evento de sua campanha. Na disputa pela reeleição, ele enfrenta o ex-governador Íris Rezende (PMDB), que conta com o apoio do PT. As pesquisas apontam boa vantagem para o tucano. Coincidentemente, o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, também esteve ontem em Goiás, para inaugurar três obras e fazer reuniões com empresários locais.

Acompanhado pelo ex-jogador Ronaldo Nazário e pela cantora Fafá de Belém, Aécio esteve na noite de anteontem em Belém (PA), para apoiar a reeleição do governador Simão Jatene (PSDB).Também participaram do ato o prefeito Zenaldo Coutinho e os senadores Flexa Ribeiro e Mário Couto, todos do PSDB. No segundo turno, Jatene enfrenta Helder Barbalho (PMDB), filho do senador Jader e da deputada federal Elcione. Com apoio do PT desde o primeiro turno, Helder leva pequena vantagem sobre o governador, segundo as pesquisas mais recentes. No palanque, Fafá recordou sua participação nos comícios das Diretas Já, nos anos 80, ao lado de Tancredo Neves, avô de Aécio. Ronaldo falou da sua amizade com o presidenciável e que o considera "honrado e preparado para mudar o Brasil".
O presidenciável conclamou "os homens e mulheres de bem" a tirar o PT do governo. A tentativa de "encarnar o desejo de mudança" também esteve no programa de TV do candidato. Ele citou Marina, que agora o apoia, para reforçar a imagem de união de diferentes projetos. Em disputa acirrada pelos eleitores, o PT e o PSDB lutam também pelo apoio de quem sequer vota no Brasil. Ontem, a modelo inglesa Naomi Campbell e a atriz hollywoodiana Lindsay Lohan publicaram no twitter o apoio ao candidato tucano. Lindsay deletou a mensagem horas depois. A citação de ambas a um canal de TV recém-inaugurado no país deu margem a comentários de que a ação era uma propaganda da empresa. A campanha do tucano não foi oficialmente informada do apoio de ambas e a informação causou piadas nas redes sociais, principalmente em razão das polêmicas em que ambas estiveram envolvidas ao longo da carreira.

Na semana passada, Dilma recebera o apoio do ator americano Danny Glover, conhecido também por sua militância política e humanitária. Defensores da campanha de Dilma também se apressaram ontem a divulgar outros simpatizantes, como os escritores Eduardo Galeano, uruguaio, e Mempo Giardinelli, argentino; o compositor cubano Silvio Rodríguez; e o jornalista francês Ignácio Ramonet, criador do jornal "Le Monde Diplomatique". No primeiro turno, o ator americano Mark Ruffalo também se envolveu em polêmica. Ele gravou um depoimento favorável a Marina Silva, mas depois voltou atrás ao saber que ela tinha uma posição contrária ao casamento homossexual e aos direitos reprodutivos da mulher. Ruffalo é um ativista das causas ambientais e humanitárias nos Estados Unidos.

Aécio contesta pesquisa do Datafolha

• Tucano diz que institutos devem explicação aos brasileiros pelos "erros grosseiros" cometidos

- Folha de S. Paulo

CAMPO GRANDE e BRASÍLIA - Um dia após o Datafolha apontar Dilma Rousseff (PT) numericamente à frente de Aécio Neves (PSDB), o candidato e o instituto de estudos ligado ao partido rebateram nesta terça-feira (21) os dados da pesquisa.

O tucano afirmou que os institutos "devem uma explicação aos brasileiros" por "erros grosseiros" cometidos.

De acordo com a pesquisa do Datafolha divulgada na segunda, Dilma tinha 52% das intenções de votos válidos (que excluem nulos e brancos) contra 48% do tucano. O resultado apontava empate técnico no limite da margem de erro.

"Se eu me abalasse por pesquisas, não teria tido o resultado que tive no primeiro turno", afirmou Aécio, em entrevista em Campo Grande.

O tucano disse que tem pesquisas internas que o colocam "com um margem enorme" à frente de Dilma Rousseff (PT). "Pelo que nós vimos da pesquisa do primeiro turno, o Datafolha está me dando como eleito", ironizou.

O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, afirmou que "as pesquisas divulgadas nesta semana pelo Datafolha mantêm as mesmas bases amostrais das que foram divulgadas na semana passada, que mostravam Aécio Neves numericamente à frente de Dilma Rousseff."

E completa: "Até então, não havia nenhuma contestação."

Órgão de estudos e formação política do PSDB, o Instituto Teotônio Vilela também questionou nesta terça a pesquisa do Datafolha de segunda. De acordo com texto do instituto tucano, o resultado "serve como luva à estratégia petista de tentar esfriar os ânimos dos eleitores de Aécio Neves". Em sua análise, a disputa está "cabeça a cabeça", na pior das hipóteses.

Para o instituto, há erros de metodologia na pesquisa. Entre outros pontos, diz que a abstenção é desconsiderada. "Ela tende a ser maior no Nordeste, onde o governo costuma ser mais forte."

Paulino afirmou que o Datafolha considera a abstenção, não havendo efeito algum sobre os resultados.

Os institutos sofreram críticas após a divulgação dos resultados do primeiro turno devido à diferença entre os números de pesquisas concluídas na véspera da eleição e os apurados nas urnas.

Aécio, por exemplo, aparecia com 26% no Datafolha encerrado no sábado e com 27% no Ibope. O tucano ficou com 34% dos votos válidos.

O petista Alexandre Padilha, candidato derrotado ao governo de São Paulo, foi um dos que criticaram os institutos. Os levantamentos concluídos pelo Datafolha e Ibope na véspera apontavam que ele teria no máximo 16% dos votos válidos. Padilha terminou a disputa com 18%.

Abstenção deverá bater recorde no 2º turno

César Felício - Valor Econômico

SÃO PAULO - O Brasil poderá ter um nível de abstenção recorde no segundo turno da eleição presidencial no próximo domingo. Historicamente, o percentual de eleitores que não comparece para votar cresceu em todas as eleições presidenciais com dois turnos disputadas desde 1989. Na votação do último dia 5, o patamar dos que não votaram já foi elevado: 19,39% dos eleitores ficaram de fora do pleito, o que significou o segundo maior índice desde a redemocratização, atrás apenas dos 21,5% que deixaram de votar na eleição presidencial de 1998.

A tendência é a inversa em relação aos votos em branco e nulos, que costumam cair nos segundos turnos. A única exceção foi na presidencial de 2002, em que o total de votos em branco subiu de 3% para 4,7% entre uma rodada e outra da eleição. No dia 5, o total de votos em branco ficou em 3,8% e o de nulos em 5,8%.

A abstenção não é levada em conta pelos institutos de pesquisa quando fazem levantamentos de intenção de voto. De acordo com Marcia Cavallari, diretora do Ibope Inteligência, boa parte da abstenção se explica pela desatualização do cadastro, que não é limpo de eleitores que já morreram ou não estão mais em seus domicílios eleitorais. Prova disso seria o comparecimento maior às urnas no Distrito Federal, Sergipe, Amapá e Alagoas, únicos Estados onde o recadastramento biométrico foi de virtualmente 100%. Nestes Estados, a abstenção caiu em relação a 2010. O Amapá registrou o nível mais baixo, com 10,4%.

Mas a explicação não é considerada suficiente por especialistas no tema. "Como a multa para o não comparecimento é baixa, o voto no Brasil acaba ganhando um caráter semi-obrigatório e a abstenção ganha um componente político, demonstrando insatisfação com o processo eleitoral, tanto que sobe entre o primeiro e o segundo turno", disse o professor de ciência política Homero Costa, da UFRN.

O Rio Grande do Norte registrou a maior soma de votos em branco, nulos e de abstenções nas eleições para governador. A quantidade de votos que não foram para candidato algum atingiu 40% no Estado. Para presidente, esta soma caiu para 30,8%, o que indica, de acordo com Costa, que havia uma insatisfação maior do eleitor com a disputa para governador do que no nível nacional. No Rio Grande do Norte, o recadastramento foi de 48%. "Não se pode atribuir os votos em branco e nulos apenas ao desconhecimento do eleitor em relação ao processo de votação", disse. A maior alienação eleitoral no Brasil na eleição presidencial aconteceu na Bahia, em que 33,8% do eleitorado não votou em candidatos. A porcentagem de eleitores que se recadastrou na Bahia foi insignificante, abaixo de 5%.

A realização do recadastramento biométrico apenas em alguns Estados e não em outros e a insatisfação com o processo eleitoral fizeram com que se alterasse o padrão da alienação eleitoral no Brasil. Normalmente, o percentual de eleitores que invalidam o voto ou não comparecem para votar era mais alto no Norte e no Nordeste. Mas desta vez a abstenção foi expressiva no Sudeste.

Em São Paulo, o percentual que não compareceu às urnas foi de 19,5%, ante 16% na eleição passada. No Rio de Janeiro e em Minas Gerais, o percentual foi de 20%. No Ceará, onde o recadastramento também foi baixo, a abstenção ficou em 20,1%.

A abstenção eleitoral sobe também no segundo turno pela característica das eleições. Sem a presença de candidatos proporcionais, diminui a ocorrência de fenômenos como o transporte de eleitores, que, embora ilegal, é prática generalizada. Em 2010, a abstenção no Acre no primeiro turno foi de 22,7%. No segundo, alcançou 28,5%. Em Tocantins, passou de 18,5% para 26,5%.

O aumento da abstenção tende a prejudicar a presidente Dilma Rousseff (PT), porque é mais expressivo em pequenas cidades, de forte vocação governista. Em Presidente Jânio Quadros, no interior da Bahia, a abstenção este ano ficou em 39,5% no primeiro turno. Lá, Dilma teve 79,2% dos votos. Em Salvador, onde a abstenção foi de 20,2%, abaixo da média da Bahia, Dilma conseguiu 49%.

Mas a queda de votos em branco e nulos joga a favor da petista. Ela não é um fenômeno difuso e se manifesta com maior intensidade nos colégios eleitorais propensos ao governismo. Na capital do Estado de São Paulo, onde Dilma perdeu a eleição presidencial passada, a quantidade de votos em branco e nulos caiu de 6,3% para 6,1% entre um turno e outro de 2010. Em Caxias (MA), onde Dilma teve 74% dos votos no primeiro turno e 83% no segundo, o percentual de votos em branco e nulos caiu de 8,3% para 3,4%.

Governos mudam data do feriado dos servidores públicos

• Em cinco estados, comemoração foi adiada de terça para sexta-feira; objetivo é diminuir abstenção

Cibelle Brito – O Globo

Na mais acirrada disputa presidencial nos últimos 25 anos, alguns estados com expressivos colégios eleitorais (São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Bahia) adiaram a comemoração do Dia do Servidor Público, celebrado normalmente dia 28, uma terça-feira, dois dias após o segundo turno, domingo, 26. Nesses cinco estados, o feriado passou para 31 de outubro, sexta-feira. A medida, publicada nos diários oficiais regionais na última semana, poderá ajudar a diminuir a abstenção de eleitores, que viajariam para aproveitar o feriado prolongado.

A exceção foram Ceará e a cidade do Rio de Janeiro. A capital fluminense anunciou que manterá o feriado dia 28 - no entanto, a segunda-feira, 27, foi mantida como dia útil pelo prefeito Eduardo Paes, sem ponto facultativo. O governo do estado, administrado pelo candidato à reeleição Luiz Fernando Pezão (PMDB), ainda não divulgou sua decisão. Nos bastidores, a informação é que o feriado seria adiantado para segunda-feira, 27.

No Ceará, feriado antecipado
No Ceará, onde a disputa estadual será entre Camilo Santana (PT) e Eunício Oliveira (PMDB), o feriado foi antecipado para segunda-feira, dia 27. O governador Cid Gomes (PSOL) oficialmente apoia a candidatura do petista.

O caso mais emblemático foi na Bahia. Governado pelo petista Jaques Vagner, que será sucedido pelo também petista Rui Costa, o governo baiano noticiara que anteciparia o feriado para o dia 27. Porém, o portal do servidor público baiano publicou ontem a mudança da data para o dia 31. O decreto foi publicado ontem no Diário Oficial do Estado. Além da alteração, o portal ainda informou a antecipação do salário para o dia 27.

Para o professor de Direito constitucional da FGV-SP, Oscar Vilhena, adiar a data é a atitude mais sensata:

- Se um feriado pode fazer com que muitos eleitores se abstenham de votar, esse feriado deve ser trocado. Do princípio constitucional, é a atitude mais prudente - analisa.

PT perde para PSDB posto de partido com maior votação na legenda para Câmara

• Petistas receberam 1,75 milhão de votos na legenda (21,6% dos votos válidos) e tucanos, 1,92 milhão (23,8%) para Câmara Federal

Beatriz Bulla e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O PT perdeu nas eleições deste ano o posto de partido com maior voto na legenda para a Câmara dos Deputados. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, desde a eleição de 1990, a sigla concentrava o maior número de eleitores que preferem depositar o voto no partido e não em um candidato específico. Mas o quadro mudou em 2014. Da legislatura passada para a atual, a queda do total de votos dados ao partido chegou a quase 25%. Não bastasse, é a primeira vez na história recente que o partido ficou atrás do PSDB no total de votos em legenda recebidos.

Pela legislação, os eleitores que votam na legenda para cargos de deputados federal, estadual (ou distrital) e ainda vereador declaram uma espécie de "voto sem cabeça". Esse tipo de voto tem o mesmo peso para o chamado quociente eleitoral daqueles que são dados pelos eleitores aos candidatos. O quociente eleitoral, por sua vez, é o número mínimo de votos que cada partido ou coligação partidária precisa ter para eleger um representante no Legislativo. Ou seja: quanto maior os votos nos candidatos e os votos na legenda, maiores as chances de eleição.

Na eleição deste ano, os petistas receberam 1,75 milhão de votos de legenda para a Câmara dos Deputados (o que representa 21,6% do total de votos válidos). Foram ultrapassados pelos tucanos, que amealharam 1,92 milhão de votos por esse formato (23,8%). A título de comparação, em 1990, o PT conquistou 1,790 milhão de votos (24,1%) e o PSDB apenas 340 mil votos (4,6%). Nesse período, os votos válidos para deputados federais pularam de 40,5 milhões para 96,8 milhões de eleitores, um aumento de 139%.

Em termos absolutos, o partido alcançou o recorde de votações na legenda para deputado federal na primeira eleição de Lula, em 2002. Naquela ocasião, o PT conquistou 2,35 milhões de votos nessa modalidade (27,13% dos votos válidos), o que fez o partido eleger 91 deputados, conquistar a maior bancada da Câmara e, de quebra, eleger o presidente da Casa. Em termos proporcionais, o maior desempenho do partido foi em 1994, quando ficou com 50,63% dos votos válidos (2.007.076 votos na legenda).

Contudo, os votos nos partidos políticos para a Câmara tiveram uma diminuição de 914 mil entre a eleição passada e a atual, de 9 milhões para 8,1 milhões no período. PSDB e PMDB também reduziram esse tipo de votação de 2010 a 2014, mas somente o PT foi responsável por uma queda de 60% dos "votos sem cabeça" em todo o País.

Histórico. Historicamente, o PT sempre defendeu o fortalecimento do partido com a votação dos eleitores na legenda. Na atual eleição, por exemplo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal líder político do partido, gravou vídeo conclamando o eleitor a votar "13" no pleito deste ano.

O secretário de Organização do PT, Florisvaldo Souza, credita a perda de apoio de simpatizantes do partido à "campanha de ódio contra o PT" feita neste ano. "Enfrentamos uma campanha que foi das mais difíceis de nossa história", disse Souza. "É uma disputa permanente. Tem momentos em que se sofre algum revés", admitiu o secretário.

Além dos ataques ao PT, Souza cita a redução dos partidos grandes com a entrada de novas legendas no debate político e o esgotamento do modelo atual de campanha eleitoral, além das dificuldades de arrecadação em 2014.

A proporção de votos válidos recebida para a Câmara dos Deputados, tanto em legenda como em candidatos, também foi reduzida. De 2010 para 2011, o total de votos recebidos pelo partido caiu de 16,8% para 14%, mesmo com maior número de candidatos lançados. O TSE contabilizou 361 candidatos aptos a disputar uma vaga na Câmara dos Deputados neste ano pelo PT. Em 2010, foram 340 nomes nesta situação. Com 70 deputados eleitos, o partido ficou com a pior bancada eleita em números desde a eleição de Lula.

A crise de representação sofrida pelos partidos políticos afeta aqueles com mais tradição, explica o cientista político e professor do Insper Carlos Mello. "Quem mais perde é quem mais tem", resume. "Some-se a esse processo, que é mundial, o desgaste natural de 12 anos de governo do PT, com os escândalos, e pode-se explicar a queda nos votos em legenda", acredita o professor.

A professora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), Argelina Cheiub Figueiredo, vê no PT, ao fim do período de governo, perda de eleitores da própria esquerda: "O PT enfrentou resistências de vários lados. É normal para um partido de esquerda que assume o poder perder eleitores da própria esquerda. E, com todas as denúncias, o partido ficou rotulado como corrupto, é uma classificação que tem impacto sobre aqueles que vão votar na legenda".

Merval Pereira - Margem de erro

- O Globo

Tudo indica que a margem de erro das pesquisas vai perseguir os cidadãos até o dia da eleição, domingo que vem. Nada está definido, a tendência de alta de Dilma ainda tem de ser confirmada por novas pesquisas que serão feitas diariamente até sábado, o último dia possível de publicá-las (hoje, aliás, deve estar saindo uma nova do Datafolha), e os candidatos estão lutando por territórios, especialmente Rio e MG.

A Região Sudeste, a de maior eleitorado, é onde Dilma cresce, mesmo que Aécio continue na frente . Mas os 5 pontos que a candidata do PT cresceu foram suficientes para fazê-la ultrapassar seu concorrente no cômputo geral, na explicação do diretor -geral do Datafolha, Mauro Paulino. Aécio já super ou Dilma em MG, mas não conseguiu ainda abrir frente suficientemente ampla para compensar perdas em outros locais. A previsão é que tire cerca de 1,8 milhão de votos de dianteira, bem menos que os 3 milhões a 4 milhões previstos inicialmente . No Rio, Aécio andou empatado tecnicamente com Dilma, mas agora já foi superado por boa margem (48% a 37%). Aqui no Rio, vigora situação exemplar de como a base aliada do governo é tão ampla e heterogênea: ela apoia os dois candidatos que se digladiam pelo governo do estado, um atacando o outro impiedosamente.

E os outros dois derrotados também a apoiam. São máquinas poderosas trabalhando a favor da reeleição, e a dissidência do PMDB — o Aezão, mistura de Aécio com Pezão — não parece ser forte o suficiente para manter votação capaz de competir com a da presidente, embora desta vez a diferença a favor de Dilma seja bem menor do que da vez anterior, em que ela abriu mais de 1,5 milhão de votos de frente no estado. Além do mais, há uma máquina oficial em favor de Pezão, que trabalha também a favor de Dilma — a quem o governador que tenta a reeleição se refere sempre como "presidenta", o que demonstra uma proximidade que se choca com o movimento dissidente que ele também alimenta. Coisas do modelo de coalizão presidencial mais apropriadamente chamado de "modelo de cooptação".

Vamos ver esta disputa voto a voto provavelmente até o final desta semana, com Aécio tentando ampliar sua votação em Minas, o que seria mais natural se não tivesse cometido um dos poucos erros de sua campanha ao abandonar seu estado no 1º turno , como se os votos a seu favor caíssem por gravidade no seu colo . Quando se deu conta do prejuízo, Aécio dedicou-se a Minas como deveria ter feito desde o início e conseguiu reverter a situação no 2º turno, depois de o PSDB ter perdido a eleição para o governo do estado. Outra preocupação, esta nova, é não perder votos em SP, onde a situação de crise do abastecimento de água pode estar afetando a imagem dos tucanos, a grande máquina do PSDB que reelegeu Alckmin no 1º turno e deu a Aécio cerca de 45% dos votos .

Neste 2º turno, o candidato do PSDB à Presidência já estava chegando a uma votação correspondente a 60% dos votos, mesma margem por que foi eleito José Serra senador. A piora da situação hídrica do estado, no entanto, pode estar afetando a votação de Aécio, assim como afetaria a de Alckmin caso tivesse havido 2º turno em SP. A recente pesquisa do Datafolha mostra que hoje haveria segundo turno para governador, reflexo da piora da situação de escassez de água que está sendo muito explorada pela campanha de Dilma Rousseff. Nesta reta final, as campanhas deverão ser mais propositivas, ficando, de parte do PT, o papel sujo a cargo do ex-presidente Lula, que está se excedendo no cumprimento da função. O debate da TV Globo sexta-feira ganhou relevo especial com a disputa apertada, e os indecisos, que participarão com perguntas aos candidatos , podem ser decisivos na definição do vencedor .

Irresponsável
"Daqui para frente, é a Míriam Leitão falando mal da Dilma na televisão, e a gente falando bem dela (Dilma) na periferia. É o (William) Bonner falando mal dela no "Jornal Nacional", e a gente falando bem dela em casa. Agora somos nós contra eles [...]". Essa fala irresponsável é do ex-presidente Lula no seu papel de língua de trapo da campanha petista. O PT deu agora para nomear seus "inimigos", incentivando assim ações radicais contra jornalistas que consideram adversários do "projeto popular". Recentemente, um dirigente do partido havia nomeado sete jornalistas numa espécie de "lista negra". É uma típica ação fascista, que está sendo usada já há algum tempo na Argentina de Cristina Kirchner. É neste caminho que vamos, caso Dilma se reeleja.

Dora Kramer - O herói sem caráter

• Lula tenta vender a tese de que alternância de poder faz mal à democracia brasileira

- O Estado de S. Paulo

Remexendo na gaveta de recortes de jornais - valorosos e não raro mais úteis que o Google - encontro um texto escrito em 7 de setembro de 2010. Apenas coincidência a data da independência. O título, Macunaíma. O herói sem nenhum caráter de Mário de Andrade.

Faltava pouco menos de um mês para o primeiro turno da eleição em que o então presidente Luiz Inácio da Silva fazia o "diabo" e conseguiria na etapa final realizada em 31 de outubro eleger uma incógnita como sua sucessora.

Deu todas as garantias de que a chefe de sua Casa Civil, Dilma Rousseff, seria uma administradora de escol para o Brasil. Não foi, conforme comprovam os indicadores de um governo que se sustenta no índice positivo do emprego formal, cuja durabilidade depende do rumo da economia.

Como ex-presidente, Lula agora pede que se renove a aposta. Sem uma justa causa, apenas baseado na ficção por ele criada de que a alternância de poder faz mal à democracia brasileira. A propósito de reflexão a respeito da nossa história recente, convido a prezada leitora e o caro leitor ao reexame daquele texto.

"Só porque é popular uma pessoa pode escarnecer de todos, ignorar a lei, zombar da Justiça, enaltecer notórios ditadores, tomar para si a realização alheia, mentir e nunca dar um passo que não seja em proveito próprio?

Um artista não poderia fazer, sequer ousaria fazer isso, pois a condenação da sociedade seria o começo do seu fim. Um político tampouco ousaria abrir tanto a guarda. A menos que tivesse respaldo, que só revelasse sua verdadeira face lentamente e ao mesmo tempo cooptasse os que poderiam repreendê-lo tornando-os dependentes de seus projetos dos quais aos poucos se alijariam os críticos por intimidação ou cansaço.

A base de tudo seria a condescendência dos setores pensantes e falantes; oponentes tíbios, erráticos, excessivamente confiantes diante do adversário atrevido, eivado por ambições pessoais e sem direito a contar com aquele consenso benevolente que é de uso exclusivo dos representantes dos fracos, oprimidos e assim nominados ignorantes.

O ambiente em que o presidente Luiz Inácio da Silva criou o personagem sem freios que faz o que bem entende e a quem tudo é permitido - abusar do poder, usar indevidamente a máquina pública, insultar, desmoralizar - sem que ninguém consiga lhe impor paradeiro, não foi criado da noite para o dia. Não é fruto de ato discricionário, não nasceu por geração espontânea nem se desenvolveu por obra da fragilidade da oposição.

Esse ambiente é fruto de uma criação coletiva. Produto da tolerância dos informados que puseram seus atributos e respectivos instrumentos à disposição do deslumbramento, da bajulação e da opção pela indulgência. Gente que tem vergonha de tudo, até de exigir que o presidente da República fale direito o idioma do País, mas não parece se importar de lidar com quem não tem pudor algum.

Da esperteza dos arautos do atraso e dos trapaceiros da política que viram nessa aliança uma janela de oportunidade. A salvação que os tiraria do aperto em que estavam já caminhando para o ostracismo. Foram ressuscitados e por isso estão gratos.

Da ambição dos que vendem suas convicções (quando as têm) em troca de verbas do Estado.

Da covardia dos que se calam com medo das patrulhas.

Do despeito dos ressentidos.

Do complexo de culpa dos mal resolvidos.

Da torpeza dos oportunistas.

Da superioridade dos cínicos.

Da falsa isenção dos preguiçosos.

Da preguiça dos irresponsáveis.

Lula não teria ido tão longe com a construção desse personagem que hoje assombra e indigna muitos dos que lhe faziam a corte não fosse a permissividade geral. Se não conseguir eleger a sucessora não deixará o próximo governo governar. Importante pontuar que só fará isso se o País deixar que faça; assim como deixou que se tornasse esse ser que extrapola".

Luiz Carlos Azedo - Vale tudo na reta final

• O marketing dos programas governamentais está funcionando mais do que as críticas feitas pela oposição, que caiu na armadilha petista: o confronto de imagens pessoais

- Correio Braziliense

Como aconteceu no primeiro turno das eleições, a reta final da campanha eleitoral revela grande volatilidade no posicionamento dos eleitores. Uma parcela da população identificada como a nova classe média, principalmente nos grandes centros urbanos, estaria indecisa em relação aos candidatos a presidente da República e isso se refletiria nas pesquisas.

Mais oito pesquisas serão divulgadas nos próximos quatro dias, sendo três do Datafolha, duas do Ibope e do Sensus e uma do MDA. Ou seja, há sondagens para todos os gostos. A grande incógnita é saber se teremos uma “montanha russa” até domingo ou a chamada “boca de jacaré” se abrindo. De qualquer forma, há que se considerar que as pesquisas não estão batendo, dentro da margem de erro, com os resultados eleitorais verdadeiros. Foi o que ocorreu no primeiro turno.

Segundo o Datafolha de segunda-feira, Dilma tinha 43% dos votos e passou para 46%; Aécio, caiu de 45% para 43%. Os votos brancos e nulos baixaram de 6% para 5%, e os indecisos continuam sendo 6%. Aécio venceria no Sudeste (49% a 40%), no Sul (51% a 33%) e no Centro-Oeste (48% a 39%); Dilma, no Nordeste (64% a 27%) e no Norte (55% a 39%). Nos votos válidos, Dilma tem 52% e Aécio, 48%. É um empate técnico no limite máximo da margem de erro, de dois pontos para mais ou para menos. Nas duas rodadas anteriores, Aécio esteve à frente, com 51% a 49%.

Como explicar esse resultado, uma vez que as três regiões onde Aécio é vencedor têm um contingente eleitoral maior do que a controlada por Dilma Rousseff? Muito simples: a vantagem de Aécio caiu no Sudeste, no Sul e no Centro-Oeste, e a de Dilma aumentou no Norte e Nordeste. O que garante a petista nessas regiões não é o Bolsa Família, é o apoio das velhas oligarquias nas regiões mais atrasadas do país.

A desconstrução
O último Datafolha mostrou mais uma vez que a estratégia de “desconstrução” da imagem dos adversários adotada pelo marqueteiro do PT, João Santana, pode funcionar contra Aécio Neves. Foi bem-sucedida no primeiro turno, quando desidratou Marina Silva. O tucano vem resistindo aos ataques, mas enfrenta um verdadeiro Sujismundo — aquele personagem criado pelo publicitário Ruy Perotti durante o regime militar, na campanha “Povo desenvolvido é povo limpo”, que pegou como apelido do sujeito que gosta de imundície.

Houve de tudo na campanha eleitoral, principalmente nas redes sociais, mas também nos comícios, em alguns momentos protagonizados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos grotões e nas periferias do país, o PT espalha que Aécio Neves acabará com o Bolsa Família; nas cidades, que vai arrochar os salários dos trabalhadores. Nos bancos oficiais — que têm grande capilaridade por todo o país —, que privatizará a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Banco do Brasil (BB). Na Petrobras, esse discurso não cola mais por causa dos escândalos.

A campanha de “desconstrução” foi tão suja que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) baixou novas normas em plena campanha e passou a punir com a perda do tempo de televisão e rádio candidatos que usam o horário eleitoral para fazer ataques aos adversários em vez de apresentar propostas. O ministro Admar Gonzaga, em decisão tardia e salomônica, deu uma no cravo e outra na ferradura: Dilma perdeu quatro minutos de suas inserções na tevê e 72 segundos no programa de rádio. Aécio foi penalizado com a perda de dois minutos e meio de suas inserções televisivas.

Mas não foi só isso o que mexeu com as tendências nas pesquisas. Melhorou a da avaliação do governo, já que 42% julgam a gestão de Dilma Rousseff ótima ou boa. Esse é o melhor patamar desde junho de 2013, mês dos grandes protestos de rua. Ou seja, o marketing dos programas governamentais está funcionando mais do que as críticas feitas pela oposição, que caiu na armadilha petista: o confronto de imagens pessoais fez subir a rejeição de Aécio.

Nas redes sociais, porém, petistas e tucanos se digladiam sem regras definidas. O Facebook tem 96 milhões de usuários no Brasil, dos quais 47% estão concentrados em São Paulo, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Aécio tem 3,02 milhões de fãs; Dilma, 1,6 milhão. O Twitter tem 22 milhões de usuários no Brasil. Dilma tem 2,9 milhões de seguidores; Aécio, 185,4 mil. Nesse ambiente virtual, vale tudo, desde morder a orelha até enfiar o dedo no olho do adversário.

Fernando Rodrigues - O PT, 25 anos depois

- Folha de S. Paulo

A única certeza sobre a atual corrida presidencial é a volatilidade nesta reta final entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). Estará dando apenas uma opinião pessoal quem disser ter certeza sobre qual dos dois candidatos sairá vencedor no domingo, dia 26.

Mas, no meio de tanta incerteza, há um dado cristalizado a respeito do maior partido de esquerda do Brasil, o PT. Basta comparar as pesquisas Datafolha de hoje, a poucos dias do segundo turno, com o que se passou nesta mesma época em 1989.

Assim como agora, o candidato a presidente pelo PT há 25 anos, Luiz Inácio Lula da Silva, estava colado ao seu adversário, Fernando Collor de Mello (então no PRN; hoje no PTB). Havia muitas dúvidas sobre quem poderia vencer aquela disputa.

A diferença entre 2014 e 1989 é que um quarto de século atrás quase todos os descolados votavam no PT. Só que esse eleitorado era muito concentrado. Lula estava à frente de Collor com folga apenas em uma região, o Sudeste. O PT perdia feio no Nordeste. Hoje, essa situação se inverteu de forma radical.

Há outro fator curioso instalado na política nacional. Em São Paulo, em 1989, havia um certo orgulho petista ao declarar voto. Era "cool". Agora, para alguns, é algo quase secreto. Diferentemente do Nordeste, região na qual o petismo adquiriu status próximo ao de uma religião.

Depois de ter governado o país 12 anos, as políticas sociais do PT são ao mesmo tempo o seu maior sucesso e o maior fracasso. É uma vitória porque a sigla chegou ao governo e implantou parte das propostas que defendia desde sempre --de buscar formas de reduzir a assimetria existente entre ricos e pobres no Brasil. Mas trata-se de uma derrota por ter resultado também numa divisão política perversa num país ainda tão longe do desenvolvimento sustentável.

Ganhe quem for, o próximo presidente terá a duríssima missão de unificar um pouco mais a nação.

Rosângela Bittar - De Lula para Dilma

Palocci e Meirelles teriam condições de enfrentar a crise

- Valor Econômico

A presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff detesta, com todas as suas forças, que digam, que pensem, que falem da influência do ex-presidente e seu criador Lula nos seus destinos e nos destinos do governo. Aliás, abomina igualmente essa história de criador e criatura; por sinal, um símbolo dessa aversão foi o conteúdo e o tom da propaganda de Chico Buarque para a sua campanha, em que o compositor, orientado, se atira de cabeça no contencioso Dilma-Lula, relegando-o a um apadrinhamento longínquo, de quatro anos atrás, enquanto teria agora optado por ela por causa dela mesma, em pessoa, como criatura autônoma.

Porém, há um fato cuja evidência torna a antipatia apenas algo de foro íntimo: Dilma chegou aos 50% do eleitorado com o socorro de Lula. E, se vencer no domingo, deverá o feito aos métodos, ao envolvimento, à bandeira, à campanha do PT. E de Lula.

Assim, não poderá tomar a distância do partido que desejava, ou se prenunciava, e que, em vários momentos dos últimos quatro meses de campanha integral e ininterrupta, levou-a a dar um chega prá lá no ex-presidente. Nesta semana final do processo, porém, a candidata parou de reagir, em público, pelo menos, para dar os braços a Lula de quem precisou como nunca para tentar superar o adversário.

Quem faz bem a cara de pau dessa campanha sem propostas, sem programa, sem anúncio de equipes ou de mudanças, com base no ataque pessoal, é ele. Ou uma voz em off da equipe de João Santana. Na boca de Dilma, tudo parece ventriloquismo de marqueteiro. Até isso deverá ao comandante petista.

Que parou de se fazer emburrado e falsamente discreto, para não só participar de tudo como, ao seu estilo e ao estilo PT, ser o porta-voz das maiores barbaridades sem freios nem pejo, nem mesmo o obstáculo da verdade, para dar conselhos à candidata.

Dilma terá o que se convencionou chamar de seu PT ao seu lado, no Palácio, e afirma-se que não fez compromissos em manter ninguém no cargo por não ter disputado eleições este ano. O núcleo político no qual confia já matriculou pelo menos quatro integrantes: Jaques Wagner, Miguel Rossetto, Aloizio Mercadante e Giles Azevedo. Mas há o problema grave da crise econômica que vai atingir todo o país, especialmente os mais pobres e o emprego da classe média, e nesse ponto está o primeiro conselho de Lula.

Ele já conversou com ela sobre uma saída para enfrentar a crise. O ex-presidente continua achando que, na economia, a presidente deveria reunir novamente Antonio Palocci e Henrique Meirelles, cuja parceria é considerada bem sucedida no Ministério da Fazenda e no Banco Central, respectivamente, no seu governo. A ressalva é que convieram no governo de um conciliador, Lula, e seria difícil repetir a dose em um governo Dilma.

Obviamente o PT conta com reações generalizadas a Palocci, tendo em vista as razões pelas quais saiu do governo Dilma, mas acredita que já se passou muito tempo e sua atuação, se tiver resultados, fará passar a onda de protestos. É um petista, manteria a área sob o comando do partido, e Meirelles, sendo do mercado, promoveria uma aproximação da presidente com esse setor.

Nos conselhos do presidente Lula há um denominador comum: Dilma deve mudar o governo, fazer nova equipe, rever seu comportamento na relação com todos. Se for impossível mudar o temperamento, que mude o comportamento. As duas novas palavras são distensão e diálogo, o que demonstraria que compreendeu a gravidade do momento.

Há um decálogo de sugestões, sendo a volta de Palocci e Meirelles o mandamento hors concours. Recomenda, também:

- Fazer algo imediatamente para acalmar a metade do país que, se ela for eleita, não terá votado no PT.

- Aproveitar que não tem compromisso com ninguém e trocar a máquina velha por uma máquina nova.

- Ter humildade para reconhecer que o governo tanto não deu certo que a propaganda que Lula protagoniza promete um segundo governo melhor que o primeiro e apresentar finalmente seu plano.

- Em vez de rachar o PT, pode trabalhar com os seus petistas mas também com os do ex-presidente.

- Dilma deveria reconhecer dificuldades e aceitar ajuda.

- Estabelecer o diálogo com a direita, esquerda, brancos, pretos, pobres, ricos, políticos, apolíticos. Tratar bem a todos.

- Abrir a Presidência aos empresários.

- Formar uma base parlamentar sólida.

- Não errar na política. Deixar Jaques Wagner trabalhar com o Congresso, é conciliador, tem bom trânsito com os partidos.

- Transpor com competência o obstáculo da presidência da Câmara, que o PMDB vai querer para Eduardo Cunha, e o PT quer ter direito por ser a maior bancada na Casa.

Sobre tudo isso Lula já conversou com Dilma, mais detalhadamente, há poucos dias. Talvez não tenha falado ainda que não definiu se será candidato em 2018, apesar dos reiterados anúncios feitos pelo presidente do PT, talvez para manter a tropa unida.

A presidente tem sido alertada, também, que se vier a ser eleita enfrentará uma oposição renovada, que se aglutinou nesta campanha tão violenta quanto sem volta. Com discurso, com rosto definido e com destemor de enfrentar popularidade e mito, haverá uma oposição ao segundo governo Dilma, se vier a ser eleita, que o país ainda não conhece. Bem como será bestial a oposição a ser feita pelo PT caso seja seu adversário, Aécio Neves, o eleito.

O cientista político Antonio Lavareda citou, em palestra na Associação Comercial de São Paulo, segunda-feira, as influências que definem o resultado de uma campanha de reeleição com o presidente no cargo: popularidade do governo, situação da economia, tempo no poder e a campanha propriamente dita. Essa, na definição do especialista, no caso de Dilma, é de uma superioridade (sem entrar no mérito) gritante.

A campanha de João Santana pode estar dando o banho anotado pelo analista, e a popularidade do governo, as pesquisas notam, vem melhorando desde que, nos últimos quatro meses, o governo parou completamente, com a presidente, o vice, e ministros fora dos cargos, em campanha. Quanto à economia vai mal, e o tempo no poder, já vai longo e desgastante, exigindo o bombardeio da propaganda para manter a todos de pé. Dois a dois é empate.