- Folha de S. Paulo
Pergunte sobre o futuro do Brasil a Rodrigo Maia e Arminio Fraga
Dizem, há muito tempo, que o futuro a Deus pertence, o que serviria de slogan para os economistas do arrocho por um lado e ganho fácil por outro.
Adeptos de frases feitas, vendem sua “teoria” com adaptações da grande fake news da história nacional: “O Brasil é o país do futuro”. O futuro mesmo, designação do país com que nossos filhos e netos vão lidar, caiu em desuso como cogitação e como palavra. Não convém à sanha imediatista da pequena minoria chamada de “mercado” e assusta mais os que, para maior paz dos outros, não devem pensar nem sobre presente.
Apesar disso, duas notoriedades, Rodrigo Maia e Arminio Fraga, não apenas remeteram atenções ao futuro, como lhe deram peso insuperável. Nem por isso houve sinais de que fossem ouvidos, claro.
Em seu penúltimo artigo na Folha, original na forma e espantoso no conteúdo, Fraga expôs as urgências sociais no que pareceu sua primeira abertura para o tema. Uma transformação extrema. Ex-colaborador de George Soros, o bilionário visto como maior faro mundial para o lucro de especulação, com ele Fraga afinou o olfato e veio a ser, aqui, um expoente na aplicação de capitais. Uma estrela do tal mercado, pois.
Fraga rumou para o futuro em palestra como ex-presidente do Banco Central. Ainda sobre a desigualdade e, agora sem surpreender, o gasto governamental com Previdência e funcionalismo, revelou seu apocalipse particular: “O Brasil precisa mexer nessas contas, ou em cinco ou dez anos teremos uma revolução”.
Palavra perigosa. No meio em que Fraga vive, golpe de Estado, com prisões, cassações, torturas e assassinatos, é chamado de revolução. Golpe elitista e produtor intencional de desigualdade, não seria o tipo de revolução antevisto pelo Fraga contrário à desigualdade. Qual seria?
Rodrigo Maia é o mais bem-sucedido entre os políticos projetados desde a crise do governo Dilma. Visto como fonte de ponderações necessárias, com frequência usa de franquezas inesperadas e, em geral, oportunas. Como complemento à crítica a Abraham Weintraub, ministro da Educação, pelo “prejuízo a muitas gerações”, Maia não se escondeu: “Nosso país não tem futuro, né? Não tem futuro”.